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ENSINO A DISTÂNCIA JOGOS E BRINCADEIRAS Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca do Centro Universitário Avantis - UNIAVAN Maria Helena Mafioletti Sampaio CRB 14 – 276 CDD 21ª ed. 790.1 - Jogos e brincadeiras – Educação física. Flores, Zilá Gomes de Moraes. F634j Jogos e brincadeiras. /EAD/ [Caderno pedagógico]. Zilá Gomes de Moraes Flores. Balneário Camboriú: Faculdade Avantis, 2019. 110p. il. Inclui Índice ISBN: 978-85-5456-227-4 ISBNe: 978-85-5456-226-7 1. Educação física – Jogos e brincadeiras. 2. Jogos educativos - Aprendizagem. 3. Atividades recreativas – Educação física. 4. Educação física – Ensino a Distância. I. Centro Universitário Avantis - UNIAVAN. II. Título. PLANO DE ESTUDOS EMENTA Os significados da brincadeira, do jogo e do brinquedo na cultura infantil, ao longo da história. O conceito de jogo, Brinquedos e brincadeiras. Estudo das diferentes concepções metodológicas dos jogos e brincadeiras. O Brincar na perspectiva da aprendizagem da criança. O professor como mediador do brincar infantil.Possibilidades para a aplicação prática de jogos e brincadeiras da cultura brasileira no ambiente escolar. Organização de ambientes de ludicidade - brinquedoteca. As intervenções pedagógicas com jogos e brincadeiras para o desenvolvimento integral das crianças. OBJETIVOS DA DISCIPLINA • Compreender a importância dos jogos, brinquedos e brincadeiras na aprendizagem para a Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental. • Identificar o conteúdo à temática considerando os tempos e espaços dialógicos em construção. • Reconhecer as diferenças aplicações dos jogos e das brincadeiras na aprendizagem infantil. O PAPEL DA DISCIPLINA PARA A FORMAÇÃO DO ESTUDANTE Receber o convite para a escrita deste Caderno Pedagógico foi como um retorno à minhas origens. O brincar sempre atravessou, no sentido benjaminiano, minha constituição como professora, sabemos muito bem que nos fortalecemos com a troca de saberes, pois estabelecemos um vínculo que nos permite ir além do que conhecemos e nos instiga a buscar sempre um pouco mais a cada dia. O brincar permite isso, faz com que o sujeito infantil sempre almeje mais, e como é gratificante quando ouvimos “profe, conta mais uma vez! Vamos brincar de novo!” é este movimento que ele causa de sucessivamente brincar a mesma brincadeira, mas de diferentes maneiras que a magia estabelecida quando a criança brinca propicia, pois devido a sua dinâmica desafia a criança a todo o momento. Lembrem que para a criança o brincar é a essência do aprender, é pelo brincar que ela conhece o mundo a sua volta e o refaz. Desejo a cada um de vocês que tenham sucesso em suas escolhas neste caminho profissional, que apresentem esse toque de mágica que o brincar proporciona, nos momentos em que estiverem com seus alunos possibilitando que aprendam se divertindo ou vice versa! . Abraço e ótima leitura! PROFESSORA APRESENTAÇÃO DO AUTOR Sou Zilá Gomes de Moraes Flores, Licenciada Plena em Educação Física pela Universidade de Passo Fundo/ RS - UPF, Especialista em Psicopedagogia pela UFRJ, e em Docência em Ensino Superior pela Faculdade Avantis, Mestre em Educação nas Ciências - área de concentração Educação Física pela UNIJUÍ/RS. Em minha trajetória profissional atuei como professora de Educação Física nos níveis de ensino básico, na Educação de Jovens e Adultos; e como gestora escolar em instituições públicas e particulares. Atualmente, leciono em cursos de graduação; pós-graduação, bem como em programas de formação continuada. SUMÁRIO UNIDADE 1 - O JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA .......................................................................9 1. O JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA ......................................................................................................... 10 1.1 UM POUCO DE HISTÓRIA: O BRINCAR ATRAVÉS DOS TEMPOS .....................................................11 1.2 O BRINCAR DAS CRIANÇAS NO BRASIL ..................................................................................................22 1.3 O QUE SIGNIFICAM O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA? ............................................. 30 1.3.1 Jogo ........................................................................................................................................................................................... 31 1.3.2 Brincadeira .......................................................................................................................................................................34 1.3.3. Brinquedo ......................................................................................................................................................................... 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................................... 40 ATIVIDADE ........................................................................................................................................................................41 UNIDADE 2 - O JOGO, A BRINCADEIRA E O BRINQUEDO E SUAS RELAÇÕES COM A CULTURA ............................................................................................................43 2. O JOGO, A BRINCADEIRA E O BRINQUEDO E SUAS RELAÇÕES COM A CULTURA ............ 44 2.1 O BRINCAR E A CULTURA INFANTIL ......................................................................................................... 45 2.2 JOGOS TRADICIONAIS INFANTIS ............................................................................................................. 53 2.3 O BRINCAR INFANTIL E AS INFLUENCIAS DA CULTURA MIDIÁTICA .......................................... 57 ATIVIDADE ...................................................................................................................................................................... 64 UNIDADE 3 - A ARTE DE BRINCAR PARA APRENDER ..............................................................67 3 A ARTE DE BRINCAR PARA APRENDER .................................................................................................... 68 3.1 O BRINCAR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA ........................................................................................................... 71 3.1.1 Fröbel ...................................................................................................................................................................................... 73 3.1.2 Piaget. .................................................................................................................................................................................81 3.1.3 Wallon ...................................................................................................................................................................................86 3.1.4 Vygotsky ..............................................................................................................................................................................90 3.2 O PAPEL DO PROFESSOR NO BRINCAR INFANTIL: OS JOGOS E BRINCADEIRAS COMO POSSIBILIDADES FORMATIVAS E LÚDICAS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL .......................97 ATIVIDADES ..................................................................................................................................................................103 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................................103 1 unidade O JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA 10 JOGOS E BRINCADEIRAS Meninos e piões, Candido Portinari (óleo sobre madeira, 1959, coleção Fundação Maria Luísa e Oscar Americano) Fonte: SANTA ROSA, N.S. Brinquedos e Brincadeiras. São Paulo: Moderna, 2001. 1. O JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA A obra de arte de Cândido Portinari (1903 -1962) pintor brasileiro, traduz as relações que o brincar possibilita, como podemos ver na imagem “Meninos e piões”, apresentada na abertura desse capítulo, pois retrata uma cena comum em nossa sociedade, crianças brincando, ele como artista retratou o povo brasileiro em diferentes pontos de vista e um deles foi o universo da criança, que é permeado de subsídios da ludicidade, como os 11 JOGOS E BRINCADEIRAS brinquedos, as brincadeiras e os jogos. Assim, com esta obra que registra um pouco do mundo infantil, começaremos o primeiro capítulo desse caderno pedagógico apresentando um pouco da história do brincar, os significados de jogo, brinquedo e brincadeira. Deste modo os convido, para que me acompanhe em uma viajem no tempo. 1.1 UM POUCO DE HISTÓRIA: O BRINCAR ATRAVÉS DOS TEMPOS A partir da história da humanidade, tem se percebido o valor do brincar para o desenvolvimento dos sujeitos. Este brincar sempre permeado pelo lúdico e pelo imaginário, aqui apresento-lhes brevemente a história do brincar (jogo, brincadeiras e brinquedos) para tanto o suporte teórico será em especial a partir dos autores Kishimoto (2010, 2011, 2012) Huizinga, (2010), Brougère (2010), Ariès (2006) e Del Priori (2010). Antes de iniciarmos nossa retomada histórica, acredito ser necessário definir a palavra lúdico, já que este está presente nas ações de brincar. Huizinga (2010) nos diz que a palavra lúdico está associada a ilusão ou a simulação, por este fato que dizemos que a criança está simulando o seu mundo, no qual irá repetir ações do mundo adulto, quando adulto a ludicidade continua presente mas de maneira diferente, como o autor afirma: Regra geral o elemento lúdico vai gradualmente passando para o segundo plano, sendo sua maior parte absorvida pela esfera do sagrado. O restante cristaliza-se sob a forma de saber: folclore, poesia, filosofia. E as diversas formas da vida jurídica e política, fica assim completamente oculto por detrás dos fenômenos culturais o elemento lúdico original (HUIZINGA, 2010, p. 54). Nas comunidades primitivas as atividades eram voltadas para a sobrevivência dos sujeitos, dirigiam-se em especial conservação da vida, sendo assim as crianças da pré história, brincavam quando acompanhavam os adultos para caçar por exemplo, essa ação era ao mesmo tempo lúdica e de preparo para a sobrevivência, conforme aponta Huizinga, (2010, p.7) afirma que nesses grupos sociais “as atividades que buscavam satisfazer as necessidades vitais, as atividades de sobrevivência, como a caça, assumiam muitas vezes a forma lúdica”. As brincadeiras e os jogos têm sido notados por muitos adultos como coisas de 12 JOGOS E BRINCADEIRAS criança, criancices, mas sabemos que nem sempre foi assim! Jogos tradicionais do universo infantil iniciaram como brincadeiras de adultos. Nos registros históricos sobre o brincar, observa-se que na antiguidade, os momentos que referentes à ludicidade, não eram vinculados unicamente aos infantes, mas sim a todas as pessoas da sociedade em questão, como encontrado nos registros de Platão e Aristóteles. Platão percebia o jogo como uma possibilidade de ensinar brincando a partir dos problemas concretos do cotidiano, e desaprovava os jogos que incentivavam exageradamente a competição, nos quais qualquer coisa seria feita para ganhar, fazia sua defesa ao jogar com prazer, em que o aprender seria divertido e, assim sendo apresentaria significação, defendia que as crianças podem aprender os conteúdos através das brincadeiras e jogos, utilizando-se da ludicidade que contém para que os mais novos aprendessem, trazia o exemplo que poderiam introduzir o ensino da matemática, para os pequenos desenvolvendo os princípios matemáticos básicos. (BROUGÈRE, 2010). Aristóteles defendia o jogo para o lazer das pessoas, uma forma de relaxar o corpo e a mente, divertir-se, restabelecer as energias para o trabalho sério, Brougère (2010, p. 28), apresenta a concepção de jogo para este filósofo grego, que asseverava que o jogo era “[meio de] divertimento, descanso e resgate de energias para as atividades humanas sérias. Apesar de o trabalho ser considerado a atividade mais importante, o jogo era um meio de recuperação para as atividades produtivas”. Na Grécia antiga, os filósofos refletiam em seus debates sobre a sociedade e as situações que viviam, o jogo e o brincar no processo de educar foram tema de reflexão, pois unificavam as ações para a construção do conhecimento ao prazer das atividades recreativas, os mesmos eram utilizados para o aprendizado da escrita e da matemática em particular, podemos observar pelas imagens abaixo que os brinquedos infantis da Grécia antiga perduram até os dias de hoje: 13 JOGOS E BRINCADEIRAS Cavalo de brinquedo da Grécia Antiga, em cerâmi- ca, imagem disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Brinquedo Menino jogando io-io, 400 a. C.Cílice de Figura Vermelha, Ática. Museu Altes. Berlim. Disponível em: https://peregrinacultural.wordpress.com/ tag/brinquedos/ A figura apresenta jovens adolescentes gregos, jogando boladistraíam-se lan- çando uma bola cheia de ar na parede, construída de bexiga de animais, co- berta por uma capa de couro. Disponí- vel em: http://brincarebomenecessario. weebly.com/brincadeiras-que-atraves- sam-geraccedilotildees.html Brougère (2010, p. 36) aponta que os romanos, com a influência dos etruscos, entendiam o jogo como uma “atividade carregada de sentidos; transformavam-no, por um lado, num espetáculo, numa simulação do real, que arrebatava multidões” ao mesmo tempo em que era tido como um exercício de aplicação das habilidades motoras e do conhecimento constituído pelas pessoas envolvidas nele, pois para jogar precisavam raciocinar e elaborar estratégias de ação, e não simplesmente reproduzir uma ação motora, pois através do brincar, não seriam submetidas a uma situação real, não colocavam em risco suas vidas. Portanto na antiguidade clássica, o jogo era utilizado como uma forma de treinamento, através dele os romanos se exercitavam e melhoravam seu preparo físico, sejam nas https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Little_horse_on_wheels_(Ancient_greek_child's_Toy).jpg https://peregrinacultural.files.wordpress.com/2013/10/boy-playing-yo-yo-tondo-of-an-attic-red-figure-kylix-ca-440-bc.jpg https://pt.wikipedia.org/wiki/Brinquedo https://peregrinacultural.wordpress.com/tag/brinquedos/ https://peregrinacultural.wordpress.com/tag/brinquedos/ http://brincarebomenecessario.weebly.com/brincadeiras-que-atravessam-geraccedilotildees.html http://brincarebomenecessario.weebly.com/brincadeiras-que-atravessam-geraccedilotildees.html http://brincarebomenecessario.weebly.com/brincadeiras-que-atravessam-geraccedilotildees.html 14 JOGOS E BRINCADEIRAS corridas de bigas, ou nas lutas dos gladiadores romanos, que poderiam ser reais ou uma encenação, era tido como um ato de oferendas e de reverenciar aos Deuses, tanto para os adultos como para as crianças, existem registros de Horácio e Quintiliano de doces feitos em formatos de letras para que as crianças além de se divertirem também aprenderem (KISHIMOTO, 2010). Crianças brincando com bola. Este relevo romano do século II, está exposto no Museu do Louvre. Disponível em: http://www.wikiwand.com/pt/Imp%C3%A9rio_Romano Jogo da bugalha (bola de gude, bolica, bolita) é um do jogo muito antigo. Jogado em todo o mundo, na Roma antiga era praticado pelas mulheres e pelas crianças. Disponível em: http://www.wikiwand.com/ pt/Imp%C3%A9rio_Romano http://www.wikiwand.com/pt/Imp%C3%A9rio_Romano http://www.wikiwand.com/pt/Imp%C3%A9rio_Romano http://www.wikiwand.com/pt/Imp%C3%A9rio_Romano 15 JOGOS E BRINCADEIRAS O período do cristianismo excluiu os jogos e brincadeiras dos espaços da sociedade, pois o caráter religioso que este períodopossuiu era fortemente vinculado à disciplina dos pequenos, deixando de lado essa oportunidade de aprendizado com prazer, tanto que passaram a ser consideradas como pecado, pois segundo os religiosos levavam as crianças ao sexo e ao álcool, pregavam que para aprender seria necessário apenas ter a capacidade de memorizar e é claro disciplina. (KISHIMOTO, 2011). Na idade média (séculos V à XV) jogos, brinquedos e brincadeiras como ‘esconde- esconde, cavalinho de pau, jogos com bola, argolas’, entre outros permeavam o mundo adulto em seus festivais e comemorações que aconteciam para o divertimento das pessoas nos povoados, cidades e na corte, assim estreitavam os laços de amizade. O jogo e a brincadeira não tinham valor educativo, somente recreativo. (ARIÈS, 2006). Mas conforme o autor assinala aconteciam ao mesmo tempo duas maneiras contraditórias de perceber os jogos e brincadeiras nesse período histórico: a primeira se refere à função de exercer a disciplina sobre os corpos, este domínio do corpo censurava essas atividades que traziam certa ‘liberação’ do corpo, assim essas atividades lúdicas eram consideradas como deflagradoras de delitos como bebedeiras e promiscuidade. A segunda, admitida pelo discurso social que idealizava os jogos e brincadeiras como atividades culturais, já que possibilitava o convívio e o intercâmbio entre as pessoas da sociedade, independente da classe. E assim crianças e adultos se envolviam no deleite dos jogos, independentemente se fossem jogos de azar ou para puro divertimento, pois não existia a separação entre ser criança e ser adulto, como já foi apontado. Sabendo que a maior fonte de renda dessa época provinha das terras, nas estações do ano que não havia ciclo de plantação, o tempo era dedicado em especial ao ócio e não ao trabalho, deste modo entre viagens e brincadeiras as pessoas nas diferentes sociedades passavam o seu tempo. (ARIÈS, 2006). A pintura de Pieter Bruegel denominada de “Jogos de Crianças” está exposta no Museu de História da Arte de Viena, retrata isso muito bem: 16 JOGOS E BRINCADEIRAS Children’s Games, Pieter Bruegel, 1560, 118 cm x 161 cm, Óleo sobre tela. Kunsthistorisches Museun, Viena. Fonte: SANTA ROSA, N. S. Brinquedos e Brincadeiras. São Paulo: Moderna, 2001. FIQUE DE OLHO! Observe a obra de arte, e veja a quantidade retratada de jogos e brincadeiras do universo infantil. Faça o exercício e tente imaginar alunos nos dias de hoje no pátio da escola e perceba quantas brincadeiras seria possível identificar. A sociedade medieval entendia que a criança precisava se desenvolver com rapidez, deveria, assim que pudesse participar do trabalho e se inserir no universo dos adultos, preconizavam que por volta dos sete anos de idade todos deveriam aprender um ofício, seja de qual classe social fossem eram inseridas em outros grupos familiares para aprenderem ofícios e o trabalho doméstico, e amadurecerem, quanto a isso Ariès (2006, p 156) afirma que “era através doserviço que o mestre transmitia a uma criança não a seu filho, mas ao filho de outrohomem, a bagagem de conhecimentos, a experiência prática e o valor humano quepudesse possuir”. 17 JOGOS E BRINCADEIRAS Ariès (2006) também assevera que com o surgimento do “sentimento de infância” entre os séculos XV e XVII, os jogos, brinquedos e brincadeiras passam a ser apenas do universo infantil, sendo desvinculados do caráter religioso. Comenta que o paradigma renascentista - antropocêntrico, teve forte influência no resgate do jogo, sendo gradualmente reinserido na escola e na sociedade, tirando-o da condição de pecado imposta anteriormente. Assim verificamos que até mesmo nas escolas religiosas como as da ordem Jesuíta, que foram fundadas por Inácio de Loyola inseriram aos poucos o jogo e a atividade física no trabalho escolar com seus alunos. A criança a partir desse século passa da paparicação para a educação, ou seja, com o sentimento da infância as sociedades vão ao extremo, de um adulto em miniatura a criança passa a ser vista como um bibelô, cheio de vontades, são extremamente mimadas e acabam mal educadas. Com isso a escola recebe essas crianças para educá-las dentro dos padrões de rigidez, a educação em casa, com grande parte prática, passa a ser teórica no ambiente escolar, a família “de vigiar seus filhos mais de perto e de não abandoná-los mais, mesmo temporariamente, aos cuidados de uma outra família” (ARIÈS, 2006,p.159). Portanto as crianças dividiam o seu tempo entre estudar e brincar, como podemos observar em algumas das de 23 placas de xilogravuras do conjunto do ano de 1657, do pintor francês Jacques Stella, expostas na Biblioteca Municipal de Lyon, denominadas de “Les Jeux et Plaisirs de l’Enfance” (Os jogos e os prazeres da infância): Disponível em: http://semema.com/brincadeiras-e-jogos-infantis-do-seculo-xvii/nggallery/thumbnails. http://semema.com/brincadeiras-e-jogos-infantis-do-seculo-xvii/nggallery/thumbnails 18 JOGOS E BRINCADEIRAS Disponível em: http://semema.com/brincadeiras-e-jogos-infantis-do-seculo-xvii/nggallery/thumbnails. Huizinga (2010), também averiguou que no século XVIII apesar de estar em plena ‘florescência do renascimento’, aconteceu o declínio do jogo, a revolução industrial alavanca o processo de produção em massa, no qual todos trabalhavam, diminuindo assim o tempo para o lazer, o princípio do utilitarismo vigora, acarretando as mudanças de concepções da sociedade em relação à vida, ao lazer e bem estar, pois a fonte de renda agora se centrava nas fábricas, e não somente nas terras, comenta que o componente lúdico do jogo e da brincadeira, antes domínio dos adultos, vai se esvaindo entre as jornadas de trabalho, macacões e uniformes das fábricas, afirma ele que: Trabalho e produção passam a ser o ideal da época, e logo depois o seu ídolo. Toda a Europa vestiu roupa de trabalho. Assim, as dominantes da civilização passaram a ser a consciência social, as aspirações educacionais e o critério científico. [ nos dias atuais não é diferente] mesmo onde ele parece ainda estar presente trata-se de um falso jogo, de modo tal que se torna cada vez mais difícil dizer onde acaba o jogo e começa o não-jogo. (HUIZINGA, 2010, p. 212-229). O sujeito, em todos os ciclos de vida, busca descobrir o mundo, ter novas experiências e vivências através das trocas pelos contatos que estabelece com seus semelhantes e com o meio em que vive a este processo chamamos de Educação. Ela não existe por si só, é uma ação conjunta entre pessoas que colaboram, comunicam-se e compartilham diferente saberes. http://semema.com/brincadeiras-e-jogos-infantis-do-seculo-xvii/nggallery/thumbnails 19 JOGOS E BRINCADEIRAS A presença do jogo no processo pedagógico da escola, como um recurso a ser utilizado, está inscrita nas ações do cotidiano escolar desde a idade moderna. A recreação é um desses recursos, e a sua utilização como tempo para o descanso e relaxamento leva o jogo a assumir a concepção utilitarista, ou seja, como momento no tempo escolar que não se faz educação, mas sim o repouso para daí vir o trabalho sério em sala de aula. Assim reduzido, o caráter do jogo e da brincadeira torna-se individualista, afasta mais do que une. Por muito tempo esta concepção perpassou a sociedade, e influenciou a cultura lúdica da criança, marcada pela oposição entre o brincar e a seriedade. (BROUGÈRE, 2010). Na concepção moderna, o jogo é definido como um suporte para envolver e seduzir a criança, esta será enganada/ludibriada, como afirma Erasmo (apud BROUGÈRE, 2010, p. 55.) ao referir-se ao jogo: Esta maneira doce de transmitir as informações às crianças fará com que se assemelham a um jogo e não a um trabalho, pois nessa idade, é necessário enganá-las com chamarizes sedutores, já que ainda não podem compreender todo o fruto, todo o prestígio, todo o prazer que os estudos devem lhes proporcionar no futuro. A estreita ligaçãodo jogo com a criança e com a infância, é que leva o professor a se interessar por ele, a criança será considerada, nesta concepção, pelo o que ela é, um jogador. O trabalho em sala de aula poderá ter semelhanças ao jogo, mas não será um jogo, pois lhe faltará o componente principal que é a possibilidade imaginativa da criança. Esse fato irá reforçar o papel do professor de excluir a imaginação do cotidiano no espaço escolar, pois o paradigma vigente considerava que, quando o jogo é levado a sério pela criança sem o controle do adulto poderia acarretar na indução desta aos jogos de azar (por dinheiro), tornando-se um risco para o futuro desta criança. Essas colocações remetem a pensar que o brincar não é educativo e pedagógico em si mesmo, mas sim, próprio da natureza infantil sendo utilizado como um instrumento para melhorar ou aperfeiçoar a técnica pedagógica do professor. Este paradigma, no qual está posto o jogo e a educação ou a relação entre eles, mostra duas possibilidades, a recreação e o artifício pedagógico, marcando o lugar do jogo como algo fútil, visto que a educação tinha como função primordial a preparação do Homem que ativamente produz aquele que transforma o mundo para conhecê-lo, não sendo aqui considerado, nem levado em conta os interesses da criança, a pedagogia era a da vigilância, educar era romper com o mundo e com as manifestações espontâneas da infância. A visão que se tinha da criança ‘de um adulto em miniatura’, que apresentava fragilidade, alguém que pode ser moldado, como afirma Ariès, (2006) era tida como um 20 JOGOS E BRINCADEIRAS anjo, tanto que o exercício de miniaturização, de tudo que a criança terá contato foi a base para desenvolvimento de uma nova forma de perceber a infância. Este contexto da educação, permeado pela razão instrumental, só desvaloriza a criança, no qual a visão de infância do ser humano, como primeiros anos de sua vida, era terrível e dolorosa, devido à demonstração de ‘fragilidade’ deste período. É nesta oposição que se encontra marcada a dualidade entre o corpo e o espírito. Assim caberia ao professor considerar a criança como um problema a resolver, ou seja, aquietar, domesticarocorpo para assim ensinar o espírito, Descartes (apud BROUGÈRE, 2010, p 60) aponta que: [...] como fomos crianças antes de sermos adultos, e julgamos ora bem, ora mal coisas que se apresentaram a nossos sentidos, vários julgamentos assim precipitados nos impedem de chegar ao conhecimento da verdade. Com o início do século XVIII, esta concepção começa a mudar. A criança passa a ser vista, com os olhos do mito do bom selvagem, conforme Snyders (apud BROUGÈRE, 2010) nos fala que o selvagem e a criança se igualam devido a sua simplicidade, agem muitas vezes por instinto, são pueris, possuem a espontaneidade nata, que não foi ainda reformada pela civilização, por isso que nos lembramos de nossa infância com carinho. Segundo Kishimoto (2011) neste século (XVIII) acontece o desenvolvimento científico em todas as áreas, assim os jogos e brincadeiras que a sociedade dispunha até então, também passam por processos de mudanças em sua estrutura, sendo inovados para que se aproximem desse novo tempo, tornam-se populares e ao alcance de todas as classes sociais. Ariès (2006) explica que a inquietação que existia na sociedade da modernidade em relação às crianças acarretou em certa aflição em torno da educação das mesmas. Os historiadores têm registrado que o entendimento do processo educativo do fim do século XVIII e começo do século XIX incluía em suas muitas preocupações a preparação do sujeito infantil para a vida adulta, utilizando-se da rigidez, da disciplina em constante supervisão, que por sua vez era obtida prontamente nas instituições de ensino, já que seria feita ao mesmo tempo em grupo. Os jogos e as brincadeiras entravam como uma possibilidade de adestrar os corpos das crianças, gastando as energias, que quando em excesso poderiam ser utilizadas em atitudes inapropriadas. Com estas mudanças, e a retomada do Homem em seu estado natural leva a educação tomar outros rumos, iniciando a revolução romântica, considerando em parte a criança ao referendar como positiva a natureza infantil, permitindo que esta despertasse. Como um dos principais teóricos está Jean Jacques Rousseau, que por sua vez influenciou outros educadores como Pestalozzi, Herbart e Fröbel. 21 JOGOS E BRINCADEIRAS No Romantismo as ideias de Rousseau (apud, KISHIMOTO, 2011) em especial as registradas em sua obra Émile ou De l’Education” determinam o modelo da criança moderna, aquela que seria educada, imprimindo um novo entendimento de infância. Esta obra possui em detalhes todas as ações de disciplina e normas a serem realizadas com a criança na escola para cada faixa etária, são registradas observando a criança e suas necessidades, estabelece dentro da rotina de conteúdos um momento para o movimento, no qual a criança poderia brincar e se exercitar. Para este estudioso os jogos e brincadeiras tinham o seu valor para a aprendizagem e a educação, portanto deveriam ser utilizados, pois a sensação de liberdade que eles proporcionam para a criança era uma possibilidade para aprender. Ariès (2006), Brougère (2010) e Kishimoto (2011) apontam que este período ajudou em muito a reinserção dos jogos e brincadeiras na escola como uma possibilidade de aprender, pois auxiliavam a educação espírito e do corpo, surgem assim os jogos educativos. No final do século XVIII, na Revolução Industrial, constitui-se o embasamento dos preceitos da sociedade da era da indústria, e com eles a burguesia. O brincar era domínio de todas as classes sociais, as crianças e o povo em geral se divertiam. Importante ressaltar que diferente dos tempos históricos anteriores as crianças na idade moderna, tem vidas separadas dos adultos, portanto existem ‘coisas de crianças’ e ‘coisas de adultos’, isso acontece com o universo de jogos e brincadeiras, alguns permaneceram para as crianças outros foram adaptados, pensando na preservação e integridade do sujeito infantil. Huizinga (2010) e Ariès (2006) concordam que a sociedade industrial implantou a fragmentação do tempo das pessoas em trabalho, estudo e jogo, não na mesma proporção, pois, a valorização demasiada do trabalho, colocou em segundo plano as demais atividades de igual significação para o desenvolvimento das pessoas. Com o advento da contemporaneidade existe um consenso que tanto os jogos quanto as brincadeiras e seus brinquedos auxiliam no processo de aprender, mesmo quando a criança estiver brincando livremente, pois essa ação dirigida ou não possibilita a exploração e a imaginação. Mesmo os brinquedos, como objetos por si só não fazem o processo educativo, quem faz é a criança com sua imaginação, a partir da sua interação com estes objetos, desencadeia o processo criativo. (KISHIMOTO, 2011). Para tanto as diferentes áreas do saber se utilizam dos jogos e das brincadeiras como uma das possibilidades para aprender, considerando que as crianças se encontram em diferentes contextos educacionais, sejam na Educação Infantil ou no Ensino fundamental, as crianças precisam de espaços para brincar nas escolas. Brougère (2010) se posiciona favorável ao jogo utilizado no processo educativo, esta aliança é válida desde que se respeitem as particularidades dos jogos e brincadeiras, a natureza espontânea do brincar infantil. 22 JOGOS E BRINCADEIRAS SUGESTÃO! Lembrem-se quem lê amplia O seu conhecimento sobre os assuntos, assim a dica de leitura é! O livro “O brincar e suas teorias” de Tizuco Morchida Kishimoto, da editora Cengage Learning. 1.2 O BRINCAR DAS CRIANÇAS NO BRASIL Os registros históricos sobre o brincar no Brasil, também estão vinculados com o aprender, nos anos iniciais do processo de colonização, com a chegada dos Jesuítas em 1549, liderados pelo Padre Manoel da Nóbrega, 6 religiosos e comisso a organização da doutrinação das crianças pelo Irmão Vicente, e ao mesmo tempo ensinar a leitura e a escrita, e para isso, em certas ocasiões recorriam as brincadeiras. E a partir desse momento foram organizando colégios por todo o país para educar moços na escrita, na leitura e nos valores. A Companhia de Jesus se utilizava da Ratio Studiorum (aprovado em 1599) como documento orientador das ações pedagógicas dos Jesuítas em todo o território brasileiro, nele estavam as condutas que seriam seguidas pelos professores quanto aos conteúdos para ensinar, a disciplina e com isso as penalidades e sanções. (DEL PRIORI, 2010). SÓ PARA LEMBRAR! Com o tempo a Companhia de Jesus propõe a Ratio Studiorum (Ordem dos Estudos), plano de estudos escrito por Inácio de Loyola que articulava um curso básico de humanidades com um curso de filosofia, seguido por um curso de teologia. Deixando para a família o ensino das primeiras letras. As- sim surgiram os preceptores que ensinavam as crianças pequenas a ler, escrever, e calcular. Fundaram muitos colégios religiosos, pois acreditavam que deveriam manter uma boa relação entre o “Dono das Terras e o Dono das Almas.” Disponível em: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/1_Jesuitico/ ratio%20studiorum.htm http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/1_Jesuitico/ratio studiorum.htm http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/1_Jesuitico/ratio studiorum.htm http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/fontes_escritas/1_Jesuitico/ratio studiorum.htm 23 JOGOS E BRINCADEIRAS O cotidiano vivido pelas crianças indígenas era perpassado pelas brincadeiras, com música, dramatizações e danças, para aproximar-se dos pequenos os Jesuítas se uti- lizaram desses como artifícios para a doutrinação cristã, como afirma a autora “Nos ensinamentos era predominante o ensino de cantar e tocar instrumentos como forma de aprender a doutrina e os bons costumes para atrair as crianças com seus cantares” (DEL PRIORE, 2010, p. 63), assim implantavam a rotina jesuítica para as crianças, que tinham seus tempos regidos pelos padres com horário para estudar, para as tarefas e para brincar. O lúdico era marcante na cultura indígena, e os padres se utilizam desse elemento como forma de aproximação, para que acontecesse a doutrinação, mas apesar da rotina rígida que tinham as crianças sempre encontravam tempo para brincar como queriam, com seus brinquedos em miniatura: “[...] arcos e flechas” ou com “instrumentos para a pesca”, o “jogo do beliscão”, [...] o “jogo do peia-queimada”, além de “ritmos, cantos e mímicas” feito de trechos declamados, “piões”, “papagaios de papel”, “animais”, “gente e mobiliários” (DEL PRIORE, 2010, p. 98) estes brinquedos eram feitos em materiais como pano, madeira ou barro. Kishimoto (2012) comenta que os lusitanos, tinham experiência na colonização, considerando suas ‘conquistas’ na África e na índia, aos poucos foram se miscigenando, com a união entre homens brancos portugueses e mulheres indígenas e negras, foi-se compondo a nação brasileira, e isso continuou ao longo da história com a imigração dos alemães, italianos, e tantos outros que buscaram no Brasil um ‘novo começo’, logo após a abolição da escravatura. Com essa mistura é difícil de precisar em períodos anteriores ao século XIX, os jogos e brincadeiras infantis, já que elementos de todas essas culturas foram se fundindo em uma só, mesmo sabendo que objetos do universo do brincar que encontramos em diferentes culturas, sendo utilizados por todas as crianças, independentemente de sua raça, sexo, ou classe social, afirma a autora: [objetos] como as bolas, as pequenas armas para simular caçadas e pescarias, ossos imitando animais, danças de roda, criação de animais e aves, insetos amarrados obrigados a locomover-se, corridas, lutas de corpo, saltos de altura, distância, e outros, os quais parecem estar presentes desde tempos imemoriais em todos os países. (KISHIMOTO, 2012, p. 28). Pela tradição oral, as crianças que chegavam dividiam as brincadeiras que conheciam com as demais, influenciando o brincar das crianças que aqui viviam, assim como as histórias tradicionais nos outros países, que contadas por adultos que trabalhavam no 24 JOGOS E BRINCADEIRAS cuidado da casa ou das crianças brasileiras, a partir de contos e lendas, pequenas canções, foram sendo moldadas, a nova realidade, a influencia africana, indígena e europeia são marcantes na cultura do Brasil, como por exemplo no Brasil colônia e império, os animais entalhados em madeira ou barro dos indígenas ou então a boneca de pano dos africanos para seus filhos. Os folguedos populares se misturam, se multiplicam, e mantem-se até os dias de hoje como: São João, Natal, Páscoa, [...] mesclando fogueira de São João, pau de sebo, as festas do sairé, o cateretê, a dança da Santa Cruz, o cururu, festas regionais que se conservam até hoje. A língua é enriquecida por palavras do tupi: arapuca, pereba, embatucar, tabaréu, pipoca, teteia, caipira [...] em vez de papão surgem o boitatá, os negros velhos, a cuca, as almas penadas, a mula sem cabeça, o saci Pererê, o caipora, o bicho papão, o zumbi, o papa figo, o lobisomem e outras tantas lendas, histórias das diferentes regiões do país. (DEL PRIORE, 2010, p. 242-249). Vários registros pictográficos são encontrados de crianças brancas brincando com seus brinquedos, utilizando-se do imaginário, onde galhos de árvores se transformam em cavalos, chapéus de papel em chapéus de soldados, panos em bandeiras, e possíveis cornetas, brincadeiras, nas quais o sinhozinho comandava seus escravos para uma guerra imaginária: “Meninos brincando de soldados ou O primeiro ímpeto da virtude Guerreira”. Obras de Jean-Baptiste Debret, aquarela sobre papel, obra do museu da Chácara do Céu, RJ, 1827. Fonte: SANTA ROSA, N. S. Brinquedos e Brincadeiras. São Paulo: Moderna, 2001. 25 JOGOS E BRINCADEIRAS VOCÊ SABIA!! No Brasil, na sociedade escravocra- ta, os negros eram tidos como proprie- dades serviam para além do trabalho, entre outras coisas, muitos eram utilizados como brinquedos, como podemos observar na imagem ao lado em que a Babá negra está cuidando de uma criança branca, a babá está sendo o cavalinho da criança, cenas comuns no século XIX. Disponível em: http://profean- dersonhistoria.blogspot.com.br/2013/11/as-desigual- dades-sociais-brasileira-do.htm Apesar de que no período imperial sobrava pouco tempo para as brincadeiras, na elite a rotina infantil era extenuante, sendo inspiradas no mundo adulto, entre estudos e aulas de piano, as crianças apreciavam a criação de aves de pequeno porte em gaiolas; sempre acompanhados por suas mães, alguns brinquedos industrializados vindos da Europa, serviam mais como enfeite do que brinquedo. Reproduziam o mundo adulto em suas brincadeiras em especial com os ‘negrinhos’, muitas vezes com a mesma violência, reforçando o lugar do branco na sociedade como senhor do engenho. (DEL PRIORE, 2010). Freyre, (2006, p.113), afirma que as crianças escravas, “seu companheiro de brinquedos e expressivamente chamado ‘leva-pancadas‘, o escravo púbere escolhido para companheiro do menino aristocrata: espécie de vítima, ao mesmo tempo camarada de brinquedos” dominavam os pátios da casa grande, e entre as meninas predominavam as bonecas de louça simulavam os costumes dominantes, estes brinquedos eram ocupados somente dentro de casa, raramente saiam, mas quando isso acontecia, as bonecas de pano que eram utilizadas para brincar nos pátios. Nessa época devido à condição precária da saúde pública, sem um programa de vacinação, a falta de higiene, a proliferação de insetos, do limitado conhecimento sobre doenças contagiosas e das péssimas condições de higiene as pessoas adoeciam com facilidade, ao que Del Priori (2010), afirma que já existiam algumas orientações médicas registradasnos anos finais do século XVIII, nas quais orientavam que as crianças deveriam ser amamentadas para que tivessem um desenvolvimento saudável, a atividade física realizada ao ar livre, portanto as crianças deveriam brincar, e cuidados básicos de http://profeandersonhistoria.blogspot.com.br/2013/11/as-desigualdades-sociais-brasileira-do.htm http://profeandersonhistoria.blogspot.com.br/2013/11/as-desigualdades-sociais-brasileira-do.htm http://profeandersonhistoria.blogspot.com.br/2013/11/as-desigualdades-sociais-brasileira-do.htm http://3.bp.blogspot.com/-VBaqqPzgH_o/UoopEgrl_OI/AAAAAAAAAME/aAyuU0amCw4/s1600/Henschel+bab%C3%A1+e+menino+branco.jpg 26 JOGOS E BRINCADEIRAS higiene, estas orientações perpassaram todo o século XIX. Com o início dos Jardins de infância no Brasil em 1875, com a concepção de Froebel, abrem-se muitas possibilidades da utilização dos jogos e brincadeiras para o desenvolvimento das crianças, considerando que toda a teoria pedagógica Froebeliana centrava-se nisso. VOCÊ SABIA!! Colégio Menezes Vieira (1875-1887) foi o primeiro em solo brasileiro a oferecer o Jardim de infância, no ano de 1875, tendo como suporte a filosofia do pedagogo Froebel, localizava-se no Centro da cidade do Rio de Janeiro, na Rua dos Inválidos, 26 (foto). Disponível em: http://bioli- cenciatura2016.blogspot.com.br/2013/07/o-primeiro-jardim-de-infancia-no-brasil.html Os jogos e as brincadeiras se modificam, à medida que as crianças vão crescendo, assim como as sociedades vão mudando, e se adaptando, mas são tidos como a manifestação de um povo, Kishimoto (2012), nos assinala que a história do brincar e da criança caminham juntas, pois as brincadeiras perpassam as diferentes gerações, marcando cada uma. Com a virada do século, no então século XX, em suas primeiras décadas as crianças conservaram a rotina, entre estudos e brincar em todas as camadas sociais, independente da condição financeira, pois esse grupo em especial se relacionava com todos que tivessem os mesmos interesses. As brincadeiras e jogos segundo Kishimoto (2012) estavam nas ações cotidianas de diferentes grupos infantis, as crianças de poder aquisitivo maior, brincavam em grupos http://biolicenciatura2016.blogspot.com.br/2013/07/o-primeiro-jardim-de-infancia-no-brasil.html http://biolicenciatura2016.blogspot.com.br/2013/07/o-primeiro-jardim-de-infancia-no-brasil.html 27 JOGOS E BRINCADEIRAS nos quintais das casas com brinquedos industrializados ou artesanais, as meninas não tinham autorização de brincarem na rua, já nas classes menos abastadas as crianças brincavam na rua, e seus brinquedos eram confeccionados por eles mesmos, com materiais obtidos na natureza. Os filhos das classes operárias e imigrantes brincavam livremente nas ruas da cidade, como um dos espaços de convivência entre os moradores, através dos jogos e brincadeiras, nas atividades de descanso, “Esconde-esconde, acusado, pula-sela, jogo de bola na mão, bolinhas de gude, futebol, varinha-tangendo-rodas, pipas, cantigas de roda, bonecas” (KISHIMOTO, 2011, p. 81) e tantas outras que ainda preenchem o universo infantil. Florestan Fernandes (2004, p. 207), em sua pesquisa sobre o brincar entre os anos de 1940 e 1950, já observava que as trocinhas formadas por meninas “agrupam-se por habilidades femininas, brincando de ‘mamãe’, de fazer ‘comidinhas’, fazem ‘roupinhas’ para bonecas [...]” este autor explica que trocinhas são grupos de crianças, uma espécie de sociedade infantil organizada, nas quais os sujeitos contribuem cada qual com um papel, nela existe a rivalidade pela qual eles concorrem e debatem entre si, na tentativa de resolver as situações da tanto da coletividade quanto pessoais. O brincar acontecia conforme a rotina da classe social das crianças, a rua era um local seguro, no qual as relações entre elas aconteciam, bem como o espaço utilizado para a sociedade nas festas. Com as muitas atividades que aconteciam nas ruas e praças, diferentes tipos e personagens que transitavam, as crianças aprendiam nesses espaços públicos, através de suas trocas. Apesar de toda essa agitação, de um país em pleno desenvolvimento, a vida se mantinha em um ritmo tranquilo, com tempos e espaços para o lazer, em especial para as brincadeiras tradicionais. O brincar esteva vinculado às crianças e sua possível ação educativa, no século XX, não seria diferente, a possibilidade de aprender brincando tanto nos espaços escolares como não escolares estava presente. No início do século XX nas escolas religiosas ou criadas por pessoas da sociedade, muitas vezes com a intenção de realizarem filantropia, para cuidar dos desfavorecidos e abandonados, como afirma Kishimoto (2012), p. 88) estes espaços denominados de asilos eram “dotados de grandes e tristes dormitórios, refeitórios frios, pátio cercados de altos paredões que isolam os internados do resto do mundo” neles devido ao caráter assistencial reduziu em muito o espaço dos jogos e das brincadeiras. Com o início dos Jardins de Infância no Brasil, no final do século XIX, estes foram se expandindo, apesar de lentamente, no século XX, mas infelizmente foram elitizados, deixando de receber as crianças das classes mais pobres, estas deveriam frequentar as creches ou maternais em tempo integral, pois ali receberiam o atendimento de assistência, e a pedagogia do jogo não lhes pertencia, mesmo que no período da República, em que se observava um movimento político que valorizava a educação. 28 JOGOS E BRINCADEIRAS Com o tempo as brincadeiras e os jogos foram aproveitados nas aulas das crianças pequenas, utilizando-se dos jogos simbólicos, de imitação, de casinha para as meninas e para os meninos centravam-se em montar estradas, carros, bolas, aviões, tudo que possibilitava o espírito aventureiro. As atividades recreativas que as crianças realizavam com liberdade nos parques e nas ruas, aos poucos são incorporadas na escola, mais precisamente a partir da década de 30, orientadas pelos professores de Educação Física. Portanto entre as teorias pedagógicas, se misturavam as brincadeiras e jogos, Kishimoto (2012 p.115) registra que além do material específico do método, mobiliário de tamanho apropriado para brincar de casinha, bonecos, velocípedes, balcões para brincar de vendinha, talheres e pratos para as refeições, materiais de música e outros. Assim, criavam em conjunto atividades lúdicas, organizavam jogos, competições, faziam teatro com seus textos inventados e os menores eram protegidos pelos maiores, num faz de conta muito próximo da vida real. Dessa forma, desenvolviam a sociabilidade em ambiente quanto possível ao ar livre, através de exercícios para o desenvolvimento. Milton Dacosta (1942, apud SANTA ROSA, 2001) em sua obra de arte, representou um desses momentos de liberdade. Um grupo de meninas brincando de roda, utilizando-se dos espaços públicos para seu lazer e divertimento, momentos de socialização: Obra de Milton Dacosta, intitulada ‘Roda’, 1942, óleo sobre tela, coleção Gilberto Chateaobriand, Mu- seu de Arte Moderna Rio de Janeiro. Fonte: SANTA ROSA, N. S. Brinquedos e Brincadeiras. São Paulo: Moderna, 2001 29 JOGOS E BRINCADEIRAS As brincadeiras tradicionais continuam nas escolas nos dias de hoje, mesmo que em projetos pedagógicos ocasionais ou por estímulo dos educadores, considerando que o brincar é natural na criança, com a espontaneidade presente na infância, são estimuladas e voltadas para o aprendizado. As brincadeiras tradicionais estão presentes nos ambientes escolares, observamos isso nos recreios, onde os alunos organizam-se para brincar. As brincadeiras escolares estão relacionadas com os conteúdos escolares, assim são tematizadas tanto pelos professores quanto pelos alunos, em que “os materiais para brincar, as oportunidades para interações sociais e o tempo disponível são todos fatores que dependem basicamente do currículo proposto pela escola.”(KISHIMOTO, 2011, p. 44). Nos séculos XX e início do XXI, podemos observar que várias linhas pedagógicas tiveram influência no brincar infantil com olhar educativo, mas percebemos também que as crianças vão adaptando o seu brincar, mesmo quando ele é dirigido, sempre encontra uma forma de romper com o que está posto. SUGESTÃO DE FILME Assista ao documentário “Território do brincar” lançado em 2015. Entre os anos de 2012 e 2013 Renata Meirelles e David Reeks, com os seus filhos, viajaram pelo país, passando por diversas comunidades (rurais, indígenas, quilombolas) do sertão ao litoral brasileiro, apresentam nosso país pelos olhos das crianças, como está re- gistrado na página do projeto: “Em cada encontro surgiam intensas trocas e diálogos, por meio de gestos, expressões e saberes que foram cuidadosamente registrados em filmes, fotos, textos e áudios. Um intercâmbio onde pesquisadores e crianças se encontraram no fazer e no brincar, sempre aprendendo um com o outro. Este intenso trabalho de pesquisa foi sistematizado, dando origem a diversas produções culturais: um filme de longa metragem, dois livros e duas séries infantis para TV, filmes de curta metragem, artigos, além de uma exposiçãoitinerante que, entre 2014 e 2015, percorreu o Brasil para levar um pouquinho do Território do Brincar para escolas, festivais, praças, etc.” (http://territoriodobrincar.com.br/o-projeto/). Para saber mais acesse a página do projeto por este link e veja! http://territoriodobrincar.com.br/o-projeto/ 30 JOGOS E BRINCADEIRAS 1.3 O QUE SIGNIFICAM O JOGO, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA? Agora que já tivemos um pouco da história do brincar da criança no mundo e no Brasil, precisamos ter claras as definições de jogo, brincadeira e brinquedo. Quando brincam as crianças ampliam o conhecimento sobre si mesmas, convivem com os amigos, utilizando- se das diferentes formas de expressão, descobrem outros elementos e maneiras de brincar, refazem o seu pensamento, e comunicam-se com o mundo em que vivem, ou seja elas aprendem! Silva e Gonçalves (2010) comentam que já faz tempo que a temática dos jogos e brincadeiras tem sido estudada por várias áreas do conhecimento como a Pedagogia, Educação Física, a Filosofia, a Psicologia, entre outras. Conforme aponta Kishimoto (2011, p. 17) “Uma mesma conduta no brincar pode ser jogo ou não jogo em diferentes culturas, dependendo do significado a ela atribuído.” Existem muitas definições tanto para um quanto para outro, assim faremos algumas opções por autores que os aproximam da aprendizagem. O jogo, brinquedo, brincadeira, permeados pela ludicidade, nos diferentes grupos sociais tem tido a mesma significação, ou seja, são empregados para traduzirem o universo da distração e lazer. SUGESTÃO! A dica é: de realizar um passeio, mesmo que virtual no museu do brincar que fica na cidade de Vagos em Portugal: Acesse o site: http://www.museudobrincar. com/ e pegue carona nesse registro histórico e cultural da Humanidade! Aproveite! http://www.museudobrincar.com/ http://www.museudobrincar.com/ 31 JOGOS E BRINCADEIRAS 1.3.1 Jogo O jogo infantil não pode ser considerado na mesma acepção do jogo adulto. Os adultos quando jogam se afastam da realidade em que vivem, mas a criança, em suas brincadeiras e jogos, amadurece e prospera em direção às novas fases para conhecer e adaptar-se ao mundo que convive. (TEIXEIRA, 2010). Huizinga (2010) assinala que a ludicidade é uma das principais características da espécie humana, em vista disso, este autor propôs inclusive que depois do homo sapiens e do homo faber, fôssemos chamados de homo ludens. Destaca que o jogo é fator cultural, que não remete apenas a espécie humana, e transcende o fator biológico, desde os animais em suas brincadeiras, em que se simulam brigar, e existem regras para não extrapolar a brincadeira, podemos verificar que essa interação se dá em todas as espécies. Afirma o autor que A existência do jogo não está ligada a qualquer grau determinado de civilização ou a qualquer concepção do universo [...] é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana. (HUIZINGA, 2008, p. 32- 33). Brougère (2010) percebe o jogo infantil como se fosse um evento social, pois considera que antes mesmo de nascer à criança já está inserida em um grupo social, que terá influência em suas escolhas, costumes e comportamentos, considerando a cultura desse grupo. FIQUE DE OLHO! Um dos primeiros jogos de tabuleiro, que se encontram registros é o “Senet”, um jogo egípcio, segundo matéria publicada por Anna Anjos na revista eletrônica OBVIUS, “Os primeiros jogos teriam surgido há cerca de 5.000 anos a.C., em regiões da Mesopotâmia e Egito. Tanto o Senet quanto o Jogo Real de Ur (os mais antigos jogos de tabuleiros) eram cha- 32 JOGOS E BRINCADEIRAS mados de “jogo de passagem da alma”. Os jogos eram itens indispensáveis após a morte, pois os povos daquele período acreditavam que o ato de jogar poderia ser uma forma de diversão eterna. Assim, segundo a tradição mesopotâmica, os jogos pertencentes aos falecidos eram enterrados juntamente com seus bens pessoais, salvando-lhes do tédio infinito.” Jogo SENET Rainha Nefertari ou Nefertite e o jogo SENET, registrados em sua tumba. Podemos afirmar que este foi um dos primeiros jogos com regras que se tem registro. Para saciar sua curiosidade sugiro que acesse o site: http://www.jogos.antigos.nom.br/senat.asp nele encontrará as regras do jogo e outras informações relevantes. ANJOS, A. Os primeiros Jogos de Tabuleiro da História. OBVIUS © . Acesso 02 Dez. 2016. Dispo- nível em: http://lounge.obviousmag.org/anna_anjos/2013/01/a-origem-dos-jogos-de-tabuleiro. html#ixzz4Rm61FXmR http://www.jogos.antigos.nom.br/senat.asp http://lounge.obviousmag.org/anna_anjos/2013/01/a-origem-dos-jogos-de-tabuleiro.html#ixzz4Rm61FXmR http://lounge.obviousmag.org/anna_anjos/2013/01/a-origem-dos-jogos-de-tabuleiro.html#ixzz4Rm61FXmR 33 JOGOS E BRINCADEIRAS A palavra jogo remete imediatamente ao leitor a um conjunto de regras, ou seja, uma composição formal e organizada de determinada modalidade, o que permite a diferenciação de cada um deles em diferentes sociedades. Kishimoto, (2011, p. 17) aponta que no Brasil estes termos jogo, brinquedo e brincadeira ainda são empregados de forma indistinta, demonstrando um nível baixo de conceituação deste campo. Enfim, cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida, que se expressa por meio da linguagem. [...] Diferindo do jogo, o brinquedo supõe uma relação íntima com a criança e uma indeterminação quanto ao uso, ou seja, a ausência de um sistema de regras que organizam sua utilização. Kishimoto (2011) ainda assinala que o jogo pode ser percebido em três níveis distintos: pode ser aceito como decorrência da sociedade e seu sistema linguístico; ou como um grupo de regras organizadas; ou até mesmo como um objeto. No que diz respeito ao primeiro nível, afirma que existem na organização de diferentes grupos sociais uma linguagem própria, que determina a situação do jogo, que usados rotineiramente possibilitam diferentes interpretações permeadas pela cultura local, ou regional, possibilita uma inserção do jogo nos valores, religiosidade, padrões morais, ou seja, as formas de viver das pessoas dessa sociedade. No segundo nível, como se refere às regras do jogo, possibilita a identificação de como está composto esse jogo, sua formação e disposição, o é permitido ou não realizar, assim diferenciam um jogo do outro. São as regras do jogo que o distinguem dos demais, por exemplo, o jogo de damas, o xadrez ou a trilha, todos são de tabuleiro, mas possuemregras diferentes, por mais que os tabuleiros se pareçam, até mesmo se igualem não são o mesmo, pois “As regras permitem diferenciar cada jogo, permitindo superposição com a situação lúdica, ou seja, quando alguém joga, está executando as regras do jogo e, ao mesmo tempo, desenvolvendo uma atividade lúdica.” (KISHIMOTO, 2011, p.18). Podemos citar como exemplo o jogo de Damas e o Xadrez, diferenciamos um do outro apesar de possuírem características semelhantes, o tabuleiro é o mesmo o que mudam são os formatos das peças e as regras do jogo. O terceiro nível, que trata do artefato o jogo, o jogo de damas, por exemplo, quando pensamos nele logo imaginamos um tabuleiro com 64 casas intercaladas com cores claras e escuras, 24 peças redondas e achatadas sendo 12 brancas e 12 pretas, e dois jogadores envolvidos. Ou seja, percebemos o que está convencionado pela tradição que o jogo possui, sua estrutura e os objetos físicos que o compõe, não pensamos logo nas 34 JOGOS E BRINCADEIRAS estratégias que usamos para jogá-lo, mas sim na sua apresentação, como observamos na figura: Jogo de damas. Disponível em: http://www.xadrezgigante.com.br/?product=jogo-de-damas Já Fernandes (1997) comenta que é através das tentativas que realiza no momento de jogar, brincar e recrear-se que o sujeito infantil irá se organizar para a vida, neles ela se desenvolve e se adapta a sociedade, aprende a colaborar, respeitar as regras, a disputar com seus iguais, para atuar nessa sociedade em que vive, respeitando as normas e condutas. Portanto para estes autores que abordam o jogo, este vocábulo já implica nas regras, ainda que simples e próprias do jogo ou refeitas pelas crianças, elas estarão definindo o jogo. 1.3.2 Brincadeira A definição do termo brincadeira, não é fácil, uma vez que o seu conceito se dá a partir da subjetividade de cada um, assim podemos compreendê-la de forma diferente das outras pessoas. Prefiro ponderar o tempo para a brincadeira como um momento em nossa história, uma criação na qual nos envolvemos com o meio em que vivemos, pois a partir dessa implicação que concretizamos as trocas sociais e portanto aprendemos. As brincadeiras possibilitam o bem estar, o prazer de brincar possibilita à criança novas descobertas, torna-a inventiva e crítica, construindo sua identidade e subjetividade. O http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjei_W88dLQAhXDGJAKHV_EAi0QjRwIBw&url=http://www.xadrezgigante.com.br/?product=jogo-de-damas&bvm=bv.139782543,d.Y2I&psig=AFQjCNGgCj3lwiTimRPNOPqguuNQSvsYSg&ust=1480677973760976 http://www.xadrezgigante.com.br/?product=jogo-de-damas 35 JOGOS E BRINCADEIRAS autor Brougère (2010, p. 32), assinala que: A brincadeira é um processo de relações interindividuais, portanto, de cultura. É preciso partir dos elementos que ela vai encontrar em seu ambiente imediato, em parte estruturado por seu meio, para adaptar as suas capacidades. A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social. Aprende-se a brincar. As crianças experimentam pelas brincadeiras diferentes situações, usam sua criatividade com imaginação, utilizando-se de objetos ou não para tal, elas concebem a imaginação que será materializada na ação de brincar, partilham as vivências e experiências individuais ou em grupos, conseguem assim transpor o imaginário para a lógica do real. Kishimoto, (2011), comenta que a brincadeira é um ato que os sujeitos infantis realizam quando materializam as ‘normas’ do jogo, para isso se envolvem na ludicidade, tão presente nessa etapa de vida, ou seja, a ludicidade torna-se a ação da brincadeira. Muitas brincadeiras são consideradas produções culturais da humanidade, pois resistiram ao tempo, mesmo em período das guerras as crianças não deixaram de brincar, sendo elas passadas pela tradição oral, e também registradas em obras de diferentes artistas em diferentes tempos históricos, pintadas em tela como por exemplo as brincadeiras da “Cabra-cega”, de roda, peão, entre outras. VOCÊ SABIA!! Francisco de Goya, La gallina ciegaÓleo sobre lienzo, 41 x 44 cm. (1788, Museu do Prado, Madrid). http://3.bp.blogspot.com/-kL63LKUeGJI/TV2ThIWTKKI/AAAAAAAAEw4/PO0prpMLXNY/s1600/cabracega-goya-prado.jpg http://www.museodelprado.es/coleccion/galeria-on-line/galeria-on-line/obra/la-gallina-ciega/ 36 JOGOS E BRINCADEIRAS Cabra-cega, 1978, Pintor Otaciano Arantes (Brasil, RS, 1931) óleo sobre tela, 22×33 cm. Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/37618484@N07/sets/72157625217446072/detail/?page=4>. Acesso em: 10 out. 2016. A brincadeira cabra cega é um exemplo vivo da história do brincar, ela iniciou com adultos brincando, como já foi comentado neste capítulo, o autor Ariès (1981, p. 92), afirma que “graças principalmente ao testemunho de uma abundante iconografia [...] tornou-se comum representar cenas de jogos da Idade Média até do século XVIII [...] inversamente, os adultos participavam de jogos e brincadeiras que hoje reservamos às criança” comenta que nos registros pictográficos ainda no século XVII retratam adultos e crianças brincando de cabra cega. Segundo Santa Rosa (2001, p. 23) aqui no Brasil esta brincadeira é muito popular já que “A cabra é um animal popular da zona rural do Brasil, sendo muito comum encontrá-la nos lares nordestinos. Talvez por sua popularidade, logo a cabra se tornou motivo para brincadeira.” A brincadeira de cabra cega comprova a conservação e a cultura desse brincar da criança. Como podemos verificar nas obras apresentadas de Francisco Goya e de Otaciano Arantes (1978), esta brincadeira está presente ainda hoje nas famílias ou espaços escolares. A brincadeira assim como o jogo, pode estar organizada com o estabelecimento de regras, mais simples que os jogos, mas percebemos certa organização na brincadeira, como observamos quando as crianças estão organizando a brincadeira de casinha, que pode seja individual ou em grupo, quando sozinha a criança estrutura sua brincadeira http://peregrinacultural.files.wordpress.com/2011/10/otacianoarantesmorrinhosgo1931cabra-cego1978ost22x335cmmalagolipoa.jpg 37 JOGOS E BRINCADEIRAS coloca suas bonecas e pelúcias desempenhando os papéis da brincadeira, como irmãos, amigos, colegas, e quando brincam em grupo, cada um desempenha um dos papéis. As regras não impedem que a criança brinque com liberdade, modificando-as sempre que necessário. 1.3.3. Brinquedo O brinquedo nada mais é que um objeto que dará apoio para a brincadeira, que será utilizado no momento de divertimento, inicialmente os brinquedos não eram do domínio infantil, e sim do adulto, como por exemplo, as bonecas, que surgiram como objetos religiosos, utilizados em rituais, ao segundo Ariès (2006, p.89-90) afirma que: Alguns brinquedos nasceram do espírito de emulação das crianças, que as leva a imitar as atitudes dos adultos, reduzindo-os à sua escala: foi o caso do cavalo de pau, numa época em que o cavalo era o principal meio de transporte e de tração. Da mesma forma, as pás que giravam na ponta de uma vareta só podiam ser a imitação feita pelas crianças de uma técnica que, contrariamente ao cavalo, não era antiga: a técnica dos moinhos de vento, introduzida na Idade Média. Mas, enquanto os moinhos de vento há muito desapareceram de nossos campos, os cata-ventos continuam a serem vendidos nas lojas de brinquedos, nos quiosques dos jardins públicos ou nas feiras. [...] sempre tiveram muita dificuldade em distinguir a boneca, brinquedo de criança, de todas as outras imagens e estatuetas que as escavações nos restituem em quantidades semi-industriais e que sempre tinham uma significação religiosa: objetos de culto doméstico ou funerário, ex-votos dos devotos de uma peregrinação, etc. Com o passar dos tempos esses objetos ficaram apenas no universo da criança, sendo utilizados para além do brincar também aprender. Kishimoto (2011, p. 18) aponta que “Podemos dizerque é um dos objetivos do brinquedo dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los”. Assim, estão longe do risco de acidentes, assim os meninos são presenteá-los carros, aviões, kits de construção e consertos, e as meninas brinquedos que imitam o cotidiano de cuidar da casa, “brincam de casinha” utilizando-se de bonecas e utensílios em miniatura. 38 JOGOS E BRINCADEIRAS VOCÊ SABIA! Vários brinquedos que imitavam o universo adulto eram produzidos em miniaturas e funcionavam mes- mo! Pelo menos era oque prometia a propaganda da ATMA Disponível em: http://anacaldatto.blogspot. com.br/2012/04/brinquedo-antigo-mini-forninho-atma.html Os brinquedos perpassam pela cultura e são transmitidos por ela, assim sofrem a influência da cultura dos povos que colonizaram o espaço local e regional, para Kishimoto (2011, p. 38) http://3.bp.blogspot.com/-TElmVjTqGK4/UQVJB0myJJI/AAAAAAAApMA/2RIK7tM0R7o/s1600/1-028.jpg http://anacaldatto.blogspot.com.br/2012/04/brinquedo-antigo-mini-forninho-atma.html http://anacaldatto.blogspot.com.br/2012/04/brinquedo-antigo-mini-forninho-atma.html 39 JOGOS E BRINCADEIRAS A tradicionalidade e a universalidade das brincadeiras assentam-se no fato de que os povos distintos e antigos, como os da Grécia e do Oriente, brincaram de amarelinha, empinaram papagaios, jogaram pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma. Os brinquedos segundo Kishimoto (2011) podem ser considerados em dois grupos distintos: estruturados e não estruturados. Os estruturados são adquiridos, as crianças os recebem prontos (bonecas, objetos de cozinha em escalas menores, cozinhas, carros, trens, bolas, entre outros) que dependendo o modelo brinca sozinho. Os não estruturados serão elaborados ou (re)significados pelas crianças, objetos simples, como por exemplo, o cabo de vassoura que ora vira espada, ora vira um cavalo, pedacinhos de papel que viram refeições completas, lençóis que viram cabanas, são transformados nas mãos das crianças pelo seu imaginário. Francesco Tonucci, sociólogo italiano, pesquisador da criança e da infância, registra seus desenhos como uma forma de registro, para confirmar a seriedade do tempo para a imaginação e fantasia da criança, no cartum “Os verdadeiros brinquedos”, Tonucci (1997, p.63), aponta justamente isso, em diferentes momentos a criança está em ação de pensamento para a elaboração do brincar com um brinquedo não estruturado e o adulto vem e intervém nessa ação substituindo por um brinquedo estruturado: TONUCCI, F. Com olhos de criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p.63. 40 JOGOS E BRINCADEIRAS Precisamos observar na ação de brincar da criança seus objetivos, independente da origem ou da incidência dela sobre o objeto brinquedo, pois a criança mantém uma relação de aprendizagem com o brinquedo. Este objeto desde o início de sua existência prende a atenção das pessoas, sejam adultos ou crianças. A diferença do significado para um e para outro é que o adulto organiza sua coleção, e a criança institui uma afinidade, uma relação de intimidade com o brinquedo, o explora independente das regras que ele possui muitas vezes o destrói para conhecê-lo, desmonta e constrói novamente para entendê-lo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste capítulo fizemos uma retomada histórica do brincar, e ao mesmo tempo, também retomamos um pouco dessa condição do ser criança. Vimos que o brincar não foi desde o seu início do domínio da criança, esteve por muito tempo vinculado aos adultos, e por não existir a diferença entre ser criança e ser adulto, todos brincavam indiscriminadamente. Vimos brinquedos de crianças e crianças de brinquedo, quando adentramos a história do brincar em nosso país. E percebemos que o brinquedo ao longo dos tempos também saiu do lugar de objeto religioso, passa pelo domínio do adulto e somente depois do surgimento do sentimento de infância passa a ser do domínio infantil. Entendemos que as brincadeiras, jogos e brinquedos infantis perpassam a formação integral da criança. Conhecemos alguns dos autores que falam sobre esse brincar e sua importância, bem como pintores de obras de arte que retratam essa essência. E por estes entendemos que estes formas de brincar da criança iniciam muito antes do “ser criança” existir. Ao entender que jogos, brinquedos e brincadeiras são meios de produzir cultura, nos possibilita entender o próximo capítulo. 41 JOGOS E BRINCADEIRAS ATIVIDADE Considerando toda a trajetória histórica do brincar infantil, nesse momento a atividade a ser produzida deve partir da poesia de Roseana Murray, é autora de livros de poesia e contos, muitos deles para as crianças. Portanto leia o poema a seguir. Sua atividade consiste em escrever suscintamente em no máximo 6 laudas sobre o seu brincar, sim isso mesmo! Escreva como era o seu tempo de brincar, fale dos brinquedos e brincadeiras de sua infância. 42 JOGOS E BRINCADEIRAS 43 JOGOS E BRINCADEIRAS 2 unidade O JOGO, A BRINCADEIRA E O BRINQUEDO E SUAS RELAÇÕES COM A CULTURA 44 JOGOS E BRINCADEIRAS Pintor Ivan Cruz, obra “Várias Brincadeiras 2006” – técnica A. S. T. Acervo particular. Disponível em: http://www.brincadeirasdecrianca.com.br/quadros.htm. 2. O JOGO, A BRINCADEIRA E O BRINQUEDO E SUAS RELAÇÕES COM A CULTURA O brincar está vinculado à infância, por isso deixa suas marcas nas crianças de diferentes grupos sociais, compondo a sua cultura. Deste modo a função social que desempenha, é fundamental para disseminar a cultura infantil, sendo que é pelo brincar que a criança imagina e reorganiza o meio em que vive, estabelece sua identidade como sujeito social, conforme conceitua Hall (2006), é imprescindível entender a cultura na sociedade pós moderna, para percebermos as mudanças que tem ocorrido. O pintor brasileiro Ivan Cruz, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 1947, tem inúmeras obras que retratam o universo do brincar infantil, nessa obra em especial “Várias Brincadeiras 2006” retoma um pouco dos jogos, brinquedos e brincadeiras de http://www.brincadeirasdecrianca.com.br/quadros.htm 45 JOGOS E BRINCADEIRAS sua infância no subúrbio do Rio de Janeiro. É com ela que iniciamos o segundo capítulo desse caderno, justamente para reforçar a criança, o brincar e a cultura. FIQUE DE OLHO! EM: IVAN CRUZ Para acompanhar a obra desse pintor brasileiro da atualidade, acesse o site: http://www.brincadeirasde- crianca.com.br , aqui vocês encontraram o acervo com todas as obras que vão de quadros, esculturas e roupas, bem como conhecer o projeto “brincadeiras de crian- ças” . São em torno de 600 obras que retratam 100 brincadeiras e jogos infantis, e este artista tem o objetivo de divulgar ao máximo a ludicidade infantil, como se fossem um lembrete para reforçar a importância que têm para as crianças, como Ivan mesmo afirma em seu site: “A crian- ça que não brinca não é feliz, ao adulto que quando criança não brincou, falta-lhe um pedaço no coração” (CRUZ, I. Disponível em: http://www.brincadeirasdecrianca.com.br) 2.1 O BRINCAR E A CULTURA INFANTIL Os jogos, brinquedos e brincadeiras transcorrem os momentos da história dos povos, marcam e vão sendo marcados pela cultura, que está em constante transformação. Por isso que eles além de serem repetidos pelas crianças, mas sim, recriados, sendo incluídos novos elementos culturais, quando estabelecem suas relações de brincar nos grupos infantis e com os adultos com que convivem, como Borba (2006, p. 39) afirma que como um fenômeno da cultura, uma vez que se configura como um conjunto de práticas, conhecimentos e artefatos construídos e acumulados pelos sujeitos nos contextos históricos e sociais em que se inserem. Representa, dessa forma, um acervo comum sobre o qual os sujeitos desenvolvem atividades conjuntas. Por outro lado, o brincar é um dos http://www.brincadeirasdecrianca.com.br http://www.brincadeirasdecrianca.com.br http://www.brincadeirasdecrianca.com.brhttp://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjJ3t_ZitjQAhUBGJAKHWDpDaMQjRwIBw&url=http://www.meucastelinho.com.br/oficina-de-artes-visuais-ivan-cruz/&bvm=bv.139782543,d.Y2I&psig=AFQjCNGyPqWMIIH7-EIQXwt871dSaf2XoA&ust=1480856522860152 46 JOGOS E BRINCADEIRAS pilares da constituição de culturas da infância, compreendidas como significações e formas de ação social específicas que estruturam as relações das crianças entre si, bem como os modos pelos quais interpretam, representam e agem sobre o mundo. Ao falar das crianças precisamos percebê-las como sujeitos da cultura, e como tal a transformam em suas ações, por ela concretizam os seus significados, diferentes do mundo adulto, pois além de brincar concebem e representam o mundo. As brincadeiras e os jogos registram a história das sociedades, que culturalmente se constituem em marcas pelas quais é registrada a história individual das pessoas. Huizinga (2010, p. 3) aponta que o jogo é anterior a própria humanidade, como um elemento humano, constituidor, pois “é no jogo e pelo jogo que a civilização surge e se desenvolve”. Em diferentes culturas, percebemos o jogo e a brincadeira transcorrendo nas relações dos grupos em diferentes ciclos de vida, mas em especial na infância, tanto que a ação do brincar pode ser registrada como um produto da cultura da criança. (BRASIL, 2009) Como exemplo disso podemos descrever cenas de crianças em ambientes como restaurantes, ou em momentos de lazer se relacionando pelo brincar, elas não se conhecem mas conseguem estabelecer um diálogo pelo seu brincar. Assim o sujeito infantil quando brinca, vai de encontro ao seu cotidiano, sai da lógica do fazer sucessivamente igual, pois com sua imaginação, refaz a ordem instituída pelas ações rotineiras, e assim assume o papel de agente da sua cultura. Brougère (2010, p.56), afirma que A cultura lúdica está imersa na cultura geral à qual a criança pertence. Ela retira elementos do repertório de imagens que representa a sociedade no seu conjunto; é preciso que se pense na importância da imitação na brincadeira. A cultura lúdica incorpora, também, elementos presentes na televisão, fornecedora generosa de imagens variadas. [...] a televisão não se opõe à brincadeira, mas alimenta-a, influencia-a, estrutura-a na medida em que a brincadeira não nasceu do nada, mas sim daquilo com o que a criança é confrontada. Reciprocamente, a brincadeira permite à criança apropriar-se de certos conteúdos da televisão. Macedo (2005) afirma que a ação de brincar é imprescindível para o ser humano se desenvolver, sendo esta fundamentalmente uma importante atividade infantil, pois além de envolver, possibilita a experiência e a vivência para a criança, proporcionando- lhe prazer. Como podemos observar no exemplo que a personagem Mafalda (LAVADO, 1993) do 47 JOGOS E BRINCADEIRAS cartunista Quino nos aponta: VALE PENA A personagem Mafalda criada pelo cartunista argentino Joaquín Salvador Lavado mais conhecido pelo seu pseudônimo ‘Quino’ ultrapassou as fronteiras de seu país e ganhou o mun- do inteiro, suas tirinhas foram publicadas, inicialmente em jornais entre as décadas de 64 e 73 do século XX e depois organizadas em livros, que foram traduzi- dos para diversos países, ficando famosas e adoradas até os dias de hoje, pois possuem uma linguagem divertida e crítica ao mesmo tempo. Mafalda como personagem central das tirinhas traz narrações irônicas de acontecimentos do cotidiano. Esta e tantas outras tiras se encontram registradas na obra “Toda Mafalda” e tem sido utilizadas por professores no trabalho em sala de aula, as crianças de todas as idades adoram! LAVADO, J. S. (Quino). Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1993. Lembrando que vimos as definições de Brinquedo, brincadeira e jogo no capítulo 1 bem como entendemos que o brincar é a ação da criança, assim caso precise retome os conceitos. Klisys (2010) coloca que a partir do momento que a criança tem o monopólio sobre um brinquedo, se coloca em uma brincadeira ou de um jogo, se apropriar de toda a história e cultura produzida por diferentes gerações, quando entendemos que ela brincará como se fosse a primeira vez em todas as vezes que brinca, com um olhar mais apurado observamos que tomamos posse de diversos subsídios que foram estabelecidos pelos http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwj90IbyhNjQAhXFFJAKHcuXD-YQjRwIBw&url=http://clubedamafalda.blogspot.com/2006_10_01_archive.html&bvm=bv.139782543,d.Y2I&psig=AFQjCNHlMJWlaz3LrpEkNbLpMnc4hGrgvw&ust=1480854508249267 http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjd47rFidjQAhWFgpAKHZW6DxcQjRwIBw&url=http://itideias.com.br/mafalda/&psig=AFQjCNFZd5trjAjoLT8lTW5dgEFXZVNhGg&ust=1480856237419854 48 JOGOS E BRINCADEIRAS antecessores, sejam pelos códigos e ou pelas tradições, mas que, quando reorganizados no tempo atual, recebem um novo formato, O jogo é um elemento da cultura que contribui para o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo dos sujeitos, se constituindo assim, em uma atividade universal, com características singulares que permitem a ressignificação de diferentes conceitos. (ALVES, 2007, p. 63). Considerando as colocações de Alves (2007) os jogos e as brincadeiras estão presentes desde o princípio da vida das crianças, no qual é próprio dos sujeitos infantis serem investigativos, explorarem tanto o ambiente como seus brinquedos, brincadeiras e jogos, em que um auxilia o outro para que aconteçam. Por isso que Huizinga, (2010) afirma ser pelo jogo que os humanos se desenvolvem e continuarão a se desenvolverem, sendo o jogo, e a brincadeira peças fundamentais para esse desenvolvimento, e a ampliação cultural resultante, levando em consideração que está em formação terá contato com padrões e regras estabelecidas nesses momentos de convivência. Quando as crianças brincam acontece a constituição de sua identidade, assim verificamos a formação dos grupos de brincadeiras já assinalado por Fernandes (2004) no capítulo 1, elas se reconhecem no brincar, pois possuem objetivos comuns, estabelecem uma sociedade lúdica como coloca Huizinga, (2010). Deste modo ponderamos que o jogo e a brincadeira podem aproximar grupos sociais que estão longe um do outro, considerando o conjunto de situações que surgem para a criança brincar em seu cotidiano. EXERCITE SEU CÉREBRO: Vamos fazer o exercício de lembrar uma brincadeira simples como soltar Pipas (arraia, papagaios ou pandorga) pintores tem retratado essa ação de brincar em diferentes países e culturas, veja algumas dessas obras e observe as semelhanças e diferenças. Busque modelos diferentes e registre na atividade final desse capítulo. Todas as obras estão disponíveis em: http://deniseludwig.blogspot.com.br/2014/10/pinturas- -de-criancas-soltando-pipas.html 49 JOGOS E BRINCADEIRAS John Philip Falter Pintor norte americano (1910-1982) Ignacio Pinazo Carmalench Pintor espanhol (1849-1916) http://3.bp.blogspot.com/-N1NeuMbzdjc/U0YEYw1NeEI/AAAAAAAAVFQ/NQVi3Q8vzd0/s1600/John+Philip+Falter+(1910+%E2%80%93+1982.jpg http://1.bp.blogspot.com/-TCiN-65iHNE/VBTn1YzmK_I/AAAAAAAAaA0/-6mBX74zyIU/s1600/red_kite.jpg 50 JOGOS E BRINCADEIRAS Cândido Portinari Pintor brasileiro (1903-1962) Pintor brasileiro (1903-1962) Laura Knight Pintora inglesa (1877-1970) http://2.bp.blogspot.com/-piWxpDh3xrc/U0YElk-ju8I/AAAAAAAAVI8/5_EAFhUN4Bs/s1600/portinari-BRODOWSKI,+1942.jpg http://1.bp.blogspot.com/-Iad8h0mYTmw/U0YEdihoFZI/AAAAAAAAVHA/tNL-Tg_340k/s1600/kites_by_pixx.jpg 51 JOGOS E BRINCADEIRAS Com estas imagens verificamos que em distintos momentos históricos e espaços o brinquedo assume sua função de divertimento, são nestes objetos que os sujeitos infantis registram as marcas culturais próprias de sua idade, alguns com o passar do tempo e as alterações que a
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