Buscar

Const-9ed-AtualizaInternet-def

Prévia do material em texto

Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
Nota à 9.ª Edição 
Nesta edição, incorporamos ao texto as inovações trazidas pelas Emendas 
Constitucionais 69 e 70, de 29.03.2012, quais sejam: a transferência da União 
para o Distrito Federal das atribuições de organizar e manter a Defensoria Pública 
do Distrito Federal e a fixação de critérios para o cálculo e a correção dos 
proventos da aposentadoria por invalidez dos servidores públicos que ingressaram 
no serviço público até a data da publicação Emenda Constitucional 41, de 
19.12.2003. 
Acrescentamos, também, recentes decisões do Supremo Tribunal Federal sobre 
relevantes matérias, dentre as quais merecem destaque as que declararam a 
constitucionalidade da “Lei Maria da Penha”, da “Lei da Ficha Limpa” e das 
políticas de ação afirmativa para acesso a cursos universitários (“cotas raciais”), 
bem como a decisão de que a antecipação do parto nos casos de anencefalia não 
configura crime. 
Os Autores 
 
 
PONTOS DO LIVRO “DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO” QUE 
FORAM MODIFICADOS NA 9ª EDIÇÃO DA OBRA, EM COMPARAÇÃO COM A 
8ª EDIÇÃO. 
OS TEXTOS EM VERMELHO REPRESENTAM SUPRESSÕES E OS TEXTOS 
EM AZUL CORRESPONDEM A INCLUSÕES. OS TEXTOS EM FONTE PRETA 
NÃO SOFRERAM ALTERAÇÃO E SERVEM APENAS PARA FACILITAR A 
LOCALIZAÇÃO DOS TRECHOS MODIFICADOS, ACRESCENTADOS OU 
SUPRIMIDOS. 
 
 
CAPÍTULO 3 
 
1) No item 4.1, foi feito o acréscimo abaixo indicado: 
4.1. Direito à vida 
................... 
Portanto, o direito individual fundamental à vida possui duplo aspecto: sob o prisma 
biológico traduz o direito à integridade física e psíquica (desdobrando-se no direito à 
saúde, na vedação à pena de morte, na proibição do aborto etc.); em sentido mais amplo, 
significa o direito a condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma 
existência condigna à natureza humana. 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
 
É importante registrar que o Supremo Tribunal Federal, em julgamento de grande 
repercussão na sociedade, decidiu que não constitui crime a interrupção da gravidez 
(“antecipação terapêutica do parto”) na hipótese de gravidez de feto anencéfalo.1 
Ocorre anencefalia quando um defeito no fechamento do tubo neural durante o 
desenvolvimento embrionário resulta na ausência parcial do encéfalo e do crânio; trata-se 
de doença congênita sempre letal, porquanto não há possibilidade de desenvolvimento de 
massa encefálica em momento posterior, e aquela que o nascido anencéfalo apresenta 
não é capaz de sustentar as suas funções vitais. Prevaleceu entre os ministros de nossa 
Corte Excelsa (a decisão foi por maioria) o entendimento de que, na ponderação entre os 
direitos da mulher gestante – sobretudo o direito à dignidade e à saúde (incluída a 
integridade psíquica) – e a proteção à vida intrauterina, aqueles, nesse caso, deveriam 
prevalecer. Embora ressaltando a indefinição existente acerca dos conceitos, médico e 
jurídico, de vida e de morte, levou-se em conta, entre outros aspectos, o fato de a 
anencefalia mostrar-se sempre incompatível com a vida extrauterina, não se equiparando, 
portanto, a nenhuma outra espécie de deficiência. Vale frisar este ponto: a decisão de 
nosso Tribunal Maior aplica-se exclusivamente à interrupção da gestação de feto 
portador de anencefalia, não se estendendo a nenhuma outra deficiência ou má-
formação. 
Por fim, é oportuno destacar que o Supremo Tribunal Federal decidiu pela 
legitimidade da realização de pesquisas com a utilização de células-tronco embrionárias 
obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no 
respectivo procedimento, atendidas as condições estipuladas no art. 5.º da Lei 
11.105/2005. Entendeu a Corte Suprema que essas pesquisas não ofendem o direito à 
vida, tampouco violam a dignidade humana constitucionalmente assegurada.2 
 
2) No item 4.3, foram feitos a substituição e o acréscimo abaixo indicados: 
 
4.3. Princípio da igualdade (art. 5.º, caput, e inciso I) 
..................... 
O princípio constitucional da igualdade não veda que a lei estabeleça tratamento 
diferenciado entre pessoas que guardem distinções de grupo social, de sexo, de 
profissão, de condição econômica ou de idade, entre outras; o que não se admite é que o 
parâmetro diferenciador seja arbitrário, desprovido de razoabilidade, ou deixe de atender 
a alguma relevante razão de interesse público. Em suma, o princípio da igualdade não 
veda o tratamento discriminatório entre indivíduos, quando há razoabilidade para a 
discriminação. 
Assim, exemplificando, o princípio da igualdade não impede tratamento discriminatório 
em concurso público, desde que haja razoabilidade para a discriminação, em razão das 
exigências do cargo. Restrições como estabelecimento de idade mínima e máxima e de 
altura mínima (concurso para agente de polícia, por exemplo), previsão de vagas 
exclusivamente para determinado sexo (concurso para o cargo de agente penitenciário 
restrito às mulheres, numa prisão feminina, por exemplo) e outras podem ser previstas em 
 
1 ADPF 54/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 12.04.2012 (Informativo 661 do STF). 
2 ADI 3.510/DF, rel. Min. Carlos Britto, 29.05.2008. 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
 
concursos públicos, desde que as peculiaridades das atribuições do cargo justifiquem. É 
ilustrativo o teor da Súmula 683 do STF: 
O princípio constitucional da igualdade não veda que a lei estabeleça tratamento 
diferenciado entre pessoas que guardem distinções de grupo social, de sexo, de 
profissão, de condição econômica ou de idade, entre outras; o que não se admite é que o 
parâmetro diferenciador seja arbitrário, desprovido de razoabilidade, ou deixe de atender 
a alguma relevante razão de interesse público. Em suma, o princípio da igualdade não 
veda o tratamento discriminatório entre indivíduos, quando há razoabilidade para a 
discriminação. 
Exemplo de tratamento discriminatório entre homens e mulheres, criado por lei, 
temos nas disposições da denominada Lei Maria da Penha, que estabelece mecanismos 
para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, já reconhecida 
como constitucional pelo STF, por se coadunar com o princípio da igualdade. 
Ao reconhecer a constitucionalidade da Lei Maria da Penha, o STF deixou assente 
que, ao criar mecanismos específicos para coibir e prevenir a violência doméstica contra a 
mulher e estabelecer medidas especiais de proteção, assistência e punição, tomando 
como base o gênero da vítima, o legislador teria utilizado meio adequado e necessário 
para fomentar a finalidade traçada pelo art. 226, § 8º, da Constituição Federal. 
Destacando a incidência do princípio da proibição de proteção insuficiente dos 
direitos fundamentais, aduziu o Tribunal Excelso, ainda, não ser desproporcional ou 
ilegítimo o uso do sexo como critério de diferenciação, visto que a mulher seria 
eminentemente vulnerável no tocante a constrangimentos físicos, morais e psicológicos 
sofridos em âmbito privado.3 
Na mesma linha, o STF também firmou o entendimento de que não compete aos 
Juizados Especiais julgar os crimes abrangidos pela Lei Maria da Penha, bem como 
o de que nos crimes de lesão corporal praticados contra a mulher no ambiente doméstico, 
mesmo de caráter leve, a ação penal épública incondicionada, vale dizer, o Ministério 
Público dará início à ação penal relativa aos crimes cometidos no âmbito da Lei 
Maria da Penha sem necessidade de representação da vítima.4 
O princípio da igualdade não impede, ainda, tratamento discriminatório em concurso 
público, desde que haja razoabilidade para a discriminação, em razão das exigências do 
cargo. Restrições como a fixação de idade mínima e máxima e de altura mínima 
(concurso para agente de polícia, por exemplo), previsão de vagas exclusivamente para 
determinado sexo (concurso para o cargo de agente penitenciário restrito às mulheres, 
numa prisão feminina, por exemplo) e outras podem ser previstas em concursos públicos, 
desde que as peculiaridades das atribuições do cargo justifiquem. É ilustrativo o teor da 
Súmula 683 do STF: 
 
683 – O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em 
face do art. 7.º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela 
 
3 ADC 19/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 09.02.2012. 
 
4 ADI 4.424/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 09.02.2012. 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
 
natureza das atribuições do cargo a ser preenchido. 
........................... 
Assim, não poderá o Poder Judiciário, por exemplo, sob o fundamento de conferir 
tratamento isonômico, estender aos servidores públicos da categoria “A” vantagem 
concedida pela lei apenas à categoria “B”, ainda que tais categorias se encontrem em 
situação de plena igualdade jurídica. 
Uma discussão relevante diz respeito à compatibilidade, ou não, com nosso 
ordenamento jurídico da implementação das assim chamadas “políticas de ação 
afirmativa”. Genericamente consideradas, traduzem-se estas em políticas públicas que 
implicam tratamento diferenciado em favor de minorias, sempre com o objetivo de 
compensar desvantagens que os integrantes de tais grupos enfrentam – pela sua maior 
vulnerabilidade, decorrente de preconceito e discriminação de que eles são vítimas – nas 
relações sociais em variadas áreas. 
Os defensores da existência de base constitucional para a adoção de políticas de 
ação afirmativa argumentam que elas são um meio eficaz para que se possa reduzir, em 
nossa sociedade, a desigualdade material entre os indivíduos – redução almejada pelo 
constituinte originário –, em vez de nos limitarmos a garantir uma igualdade meramente 
formal (configuração original do princípio da igualdade, da época do surgimento do 
liberalismo e dos correspondentes direitos fundamentais de índole negativa, 
abstencionista). 
De um modo geral, os críticos dessas medidas de ação afirmativa alertam que elas 
têm o potencial de aumentar a discriminação odiosa, gerando uma sociedade 
estratificada, algo semelhante, no limite, a uma sociedade de castas, com diversos grupos 
minoritários marcados (estigmatizados) mediante características estereotipadas, aos 
quais são atribuídos específicos direitos e regras de acesso favorecido a utilidades e 
benefícios, diferentes dos aplicáveis à população em geral. 
Pois bem, em julgamento histórico, o Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, 
apreciando atos da Universidade de Brasília que instituíram sistema de reserva de 20% 
de vagas no processo de seleção para ingresso de estudantes, com base em critério 
étnico-racial (vulgarmente chamadas “cotas raciais” de acesso ao ensino superior), 
decidiu que tal política de ação afirmativa é constitucional, representando meio 
apto a efetivar a igualdade material e permitir a suplantação de desigualdades 
ocasionadas por situações históricas particulares.5 
Por fim, cabe-nos destacar que, em respeito à não discriminação das pessoas em 
razão de sua opção sexual – e considerando o postulado da dignidade da pessoa humana 
e o objetivo constitucional de promover o bem de todos –, o Supremo Tribunal Federal 
firmou entendimento de que a Constituição de 1988 não interdita a formação de família 
 
5 ADPF 186/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 26.04.2012 (Informativo 663 do STF). Seguindo a mesma linha de 
fundamentação, a Corte Suprema proferiu decisão, em 09.05.2012, com repercussão geral, no RE 597.285/RS, rel. Min. 
Ricardo Lewandowski, afirmando a constitucionalidade do programa de ação afirmativa estabelecido pela Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que instituiu sistema de cotas – reserva de vagas a candidatos egressos de 
escolas públicas, a negros que também tenham estudado em escolas públicas e a indígenas – para ingresso em seus 
cursos de nível superior (vide Informativo 665 do STF). Merece citação, também, pela similaridade dos fundamentos 
aduzidos, o julgamento da ADI 3.330/DF, rel. Min. Ayres Britto, ocorrido em 03.05.2012, no qual se declarou constitucional o 
Programa Universidade para Todos (Prouni), disciplinado na Lei 11.096/2005 – em linhas gerais, por meio do Prouni são 
concedidas bolsas de estudos em universidades privadas a alunos com baixa renda familiar que tenham cursado o ensino 
médio completo em escolas públicas, ou como bolsistas integrais em escolas particulares, havendo cotas para negros, 
pardos, indígenas e pessoas com necessidades especiais (vide Informativo 664 do STF). 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
 
por pessoas do mesmo sexo.6 Para o Tribunal Maior, o avanço da Constituição Federal 
de 1988 no plano dos costumes impõe a interpretação de que o seu art. 226, ao empregar 
em seu texto a expressão “família”, não limita a formação desta a casais heteroafetivos, 
nem a formalidade cartorária, celebração civil ou liturgia religiosa. 
........................... 
 
3) No item 4.40, foi feita a substituição abaixo indicada: 
 
4.40. Assistência jurídica gratuita (art. 5.º, LXXIV) 
..................... 
Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e 
dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados (CF, art. 
134, parágrafo único). 
Compete ao Congresso Nacional, por meio de lei complementar, organizar a 
Defensoria Pública da União e dos Territórios, bem como prescrever normas gerais para 
sua organização nos estados e no Distrito Federal (CF, art. 134, § 1º). Com observância 
dessas normas gerais fixadas pela União, caberá a cada estado e ao Distrito Federal 
organizar a sua própria Defensoria Pública.7 
.......................... 
 
 
4) No item 5.2, foi feito o acréscimo abaixo indicado: 
 
5.2. Enumeração constitucional dos direitos sociais individuais dos 
trabalhadores (art. 7.º) 
........................ 
Se o trabalho é prestado em turnos ininterruptos de revezamento, caracterizado pela 
realização, de forma alternada, de atividades nos períodos diurno e noturno, com 
frequência diária, semanal, quinzenal ou mensal, a jornada será de seis horas diárias; 
mas essa jornada poderá ser alterada (para mais ou para menos), mediante negociação 
coletiva (CF, art. 7.º, XIV). Nos termos da Súmula 423 do Tribunal Superior do Trabalho, 
no caso de ser a jornada aumentada, até o máximo de oito horas, mediante negociação 
coletiva, o empregado não fará jus ao pagamento da 7..ª e 8..ª horas com o adicional de 
serviço extraordinário (de, no mínimo, 50%). Segundo o STF, os intervalos fixados para 
descanso e alimentação durante a jornada de seis horas não descaracterizam o sistema 
 
6 ADI 4.277/DF, rel. Min. Ayres Britto, 05.05.2011. 
 
7 A EC 69/2012 transferiu da União para o Distrito Federal as atribuiçõesde organizar e manter a Defensoria Pública do 
Distrito Federal. Vale registrar que a EC 69/2012 foi publicada no Diário Oficial da União em 30 de março de 2012, mas o 
seu art. 4º estabelece que somente após decorridos cento e vinte dias da publicação tem início a produção de efeitos da 
mencionada transferência de atribuições. 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
de turnos ininterruptos de revezamento para o efeito de incidência do art. 7.º, XIV, da 
Constituição (Súmula 675). 
O inciso XXI do art. 7º do Texto Magno assegura aviso prévio proporcional ao tempo 
de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei. Observe-se que esse 
dispositivo constitucional evidencia duas regras distintas a respeito da duração do aviso 
prévio: a proporcionalidade do aviso prévio ao tempo de serviço do empregado e a 
duração mínima do aviso prévio, que é fixada em trinta dias, independentemente do 
tempo de serviço do empregado. 
A duração mínima do aviso prévio é regra constitucional de eficácia plena, de 
imediata aplicação aos contratos de trabalho firmados a partir da promulgação da Carta 
Política, e também àqueles em curso na data de sua promulgação. Enfim, desde a 
promulgação da Constituição Federal, nenhum aviso prévio pôde mais ser concedido com 
duração inferior a trinta dias. 
A proporcionalidade da duração do aviso prévio ao tempo de serviço do 
empregado, porém, não foi prevista em regra constitucional de eficácia plena. Trata-se 
de norma de eficácia limitada, dependente de regulamentação pelo legislador 
ordinário. 
Pois bem, somente 23 anos após a promulgação da Constituição Federal a 
proporcionalidade do aviso prévio foi, enfim, estabelecida pelo legislador ordinário, por 
meio da Lei 12.506, de 11 de outubro de 2011! 
 De acordo com a lei, o empregado com até um ano de serviço na mesma 
empresa terá direito a trinta dias de aviso prévio. Para os empregados com mais tempo 
de serviço na mesma empresa, serão acrescidos três dias por ano de serviço prestado, 
até o máximo de sessenta dias, perfazendo, portanto, um limite máximo de noventa 
dias. 
Desse modo, além dos trinta dias mínimos assegurados pela Constituição 
Federal, o empregado fará jus a outros três dias por ano de serviço prestado na mesma 
empresa, isto é: dois anos de serviço geram direito a 33 dias de aviso prévio; três anos 
de serviço dão direito a 36 dias de aviso prévio – e assim sucessivamente, até atingir a 
duração máxima de noventa dias (aos 21 anos de serviço). Atingida a duração máxima 
de noventa dias, o aviso prévio será, daí por diante, invariavelmente, de noventa dias. 
A prescrição quanto a créditos resultantes das relações de trabalho é a mesma para 
os trabalhadores urbanos e rurais: cinco anos durante o contrato de trabalho, até o limite 
de dois anos após a extinção do contrato (CF, art. 7.º, XXIX). 
.............................. 
 
 
5) No item 7.6.2.4, foi feito, ao final, o acréscimo abaixo indicado: 
 
7.6.2.4. Previsões em lei complementar 
............. 
Para que sejam estabelecidas novas hipóteses de inelegibilidade relativa, portanto, é 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
exigida a edição, pelo Congresso Nacional, de lei complementar (emenda à Constituição 
Federal também poderia fazê-lo); caso se pretenda estabelecer outras hipóteses de 
inelegibilidade relativa por qualquer outro meio (lei ordinária federal, leis estaduais, 
distritais ou municipais, Constituições estaduais, ou leis orgânicas de municípios ou do 
Distrito Federal), haverá flagrante inconstitucionalidade. 
Com fundamento nesse dispositivo constitucional, a Lei Complementar 
64/1990 estabeleceu casos de inelegibilidade. Posteriormente, novas hipóteses de 
inelegibilidade foram acrescentadas pela Lei Complementar 135/2010, norma que 
restou nacionalmente conhecida como Lei da Ficha Limpa. 
Em síntese, a Lei da Ficha Limpa estabelece cinco grupos de 
inelegibilidades, a saber: (1) condenações judiciais (eleitorais, criminais ou por 
improbidade administrativa) proferidas por órgão colegiado; (2) rejeição de contas 
relativas ao exercício do cargo ou função pública; (3) perda de cargo (eletivo ou de 
provimento efetivo), incluindo-se as aposentadorias compulsórias de magistrados 
e membros do Ministério Público e, para os militares, a indignidade ou 
incompatibilidade com o oficialato; (4) renúncia a cargo político eletivo diante da 
iminência da instauração de processo capaz de ocasionar a perda do cargo; e (5) 
exclusão do exercício de profissão regulamentada, por decisão do órgão 
profissional respectivo, por violação de dever ético-profissional. 
A Lei da Ficha Limpa foi objeto de relevante controvérsia jurídica, por 
entenderem alguns que parte de seus comandos violaria princípios 
constitucionais, tais como o da presunção da inocência (ao considerar inelegíveis 
aqueles que tenham sido condenados em decisão proferida por órgão judicial 
colegiado, independentemente do trânsito em julgado) e o da irretroatividade da lei 
(por alcançar condutas praticadas em data anterior à sua vigência). Entretanto, em 
julgamento histórico, o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que a 
Lei da Ficha Limpa é compatível com a Constituição e pode ser aplicada a 
atos e fatos ocorridos anteriormente ao início de sua vigência.8 
 
 
CAPÍTULO 4 
 
1) No item 6.4, foi feita a substituição abaixo indicada: 
 
6.4. Distrito Federal 
.............. 
 
8 ADC 29/DF, rel. Min. Luiz Fux, 09.11.2011; ADC 30/DF, rel. Min. Luiz Fux, 09.11.2011; ADI 4578/DF, rel. Min. Luiz Fux, 
09.11.2011. 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
O Distrito Federal não pode ser dividido em municípios (art. 32). Em respeito a essa 
vedação constitucional, o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade de 
lei distrital (Lei 1.713/1997) que facultava a administração das quadras residenciais do 
Plano Piloto, em Brasília, por prefeituras comunitárias ou associações de moradores. 
Entendeu a Corte Suprema que tal lei promovia, em afronta à Constituição Federal, uma 
subdivisão do território do Distrito Federal em entidades relativamente autônomas.9 
O Distrito Federal não é um estado, nem um município. Em regra, em razão da 
vedação à sua divisão em municípios, foram-lhe atribuídas as competências legislativas e 
tributárias reservadas aos estados e municípios (CF, arts. 32, § 1.º, e 147). Porém, não se 
pode afirmar que o Distrito Federal tenha sido, em tudo, equiparado aos estados-
membros, pois nem todas as competências legislativas estaduais foram a ele estendidas. 
Com efeito, compete privativamente à União legislar sobre organização judiciária, do 
Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal, bem como organização 
administrativa destes (CF, art. 22, XVII). 
Ademais, ao contrário dos estados-membros, o Distrito Federal não dispõe de 
competência para organizar e manter, no seu âmbito, o Ministério Público, o Poder 
Judiciário, a Defensoria Pública, a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros 
militar. É da União a competência para a organização e manutenção desses órgãos no 
Distrito Federal (CF, art. 21, XIII e XIV). 
O Distrito Federal não é um estado, nem um município. Em regra, em razão da 
vedação à sua divisão em municípios, foram-lhe atribuídasas competências legislativas e 
tributárias reservadas aos estados e aos municípios (CF, arts. 32, § 1.º, e 147). Porém, 
não se pode afirmar que o Distrito Federal tenha sido, em tudo, equiparado aos estados-
membros, pois nem todas as competências legislativas estaduais foram a ele estendidas. 
Com efeito, compete privativamente à União legislar sobre organização judiciária e do 
Ministério Público do Distrito Federal, bem como sobre organização administrativa destes 
(CF, art. 22, XVII). 
Ademais, ao contrário dos estados-membros, o Distrito Federal não dispõe de 
competência para organizar e manter, no seu âmbito, o Ministério Público, o Poder 
Judiciário, a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar. É da União a 
competência para organizar e manter esses órgãos no Distrito Federal (CF, art. 21, XIII e 
XIV). 
Ao contrário do que ocorre com os demais entes federados, não há previsão 
constitucional para alteração dos limites territoriais do Distrito Federal (CF, art. 18, §§ 3.º e 
4.º). 
.................. 
 
 
CAPÍTULO 5 
 
 
9 ADI 1.706/DF, rel. Min. Eros Grau, 09.04.2008. 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
1) No item 2, foram feitas as substituições abaixo indicadas: 
 
2. COMPETÊNCIAS DA UNIÃO 
.................. 
O art. 21 da Constituição Federal estabelece a denominada competência exclusiva da 
União, ao dispor que compete à União: 
 
................................. 
XIII – organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria 
Pública do Distrito Federal e dos Territórios; 
XIII – organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito 
Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; 
........................ 
O art. 22 da Constituição Federal estabelece a competência privativa da União, ao 
dispor que compete privativamente à União legislar sobre: 
 
........................... 
XVII – organização judiciária, do Ministério Público e da Defensoria Pública do 
Distrito Federal e dos Territórios, bem como organização administrativa destes; 
XVII – organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos 
Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização 
administrativa destes; 
................... 
 
2) No item 6, foi feita a substituição abaixo indicada: 
 
6. COMPETÊNCIAS DO DISTRITO FEDERAL 
.................. 
Entretanto, nem todas as competências dos estados foram outorgadas ao Distrito 
Federal. Com efeito, no âmbito do Distrito Federal, compete à União organizar e manter o 
Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública, bem como a polícia civil, a 
polícia militar e o corpo de bombeiros militar (CF, art. 21, XIII e XIV). 
Entretanto, nem todas as competências dos estados foram outorgadas ao Distrito 
Federal. Com efeito, no âmbito do Distrito Federal, compete à União organizar e manter o 
Poder Judiciário, o Ministério Público, a polícia civil, a polícia militar e o corpo de 
bombeiros militar (CF, art. 21, XIII e XIV). 
...................... 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
 
CAPÍTULO 6 
 
1) No item 5.9, foram feitas as substituições abaixo indicadas: 
 
5.9. Regime de previdência dos servidores públicos 
...................... 
O regime de previdência próprio dos servidores estatutários efetivos já foi 
profundamente alterado, por duas vezes, desde a promulgação da Carta de 1988, 
mediante emendas constitucionais que ficaram conhecidas como “reformas” da 
previdência social. A primeira dessas “reformas” operou-se por meio da EC 20/1998, a 
qual modificou significativamente não só o regime próprio, mas também o regime geral de 
previdência social (RGPS). A segunda “reforma”, cujo instrumento foi a EC 41/2003, 
concentrou-se quase exclusivamente no regime próprio dos servidores públicos 
estatutários (RPPS). 
Pequenas modificações foram novamente introduzidas em 2005, por meio da EC 
47/2005 – resultante da aprovação parcial de uma proposta de emenda constitucional 
(PEC) conhecida como “PEC Paralela” –, que atenuou algumas das perdas de direitos 
previdenciários que os servidores públicos tiveram com a EC 41/2003. 
O regime de previdência próprio dos servidores estatutários efetivos já foi 
profundamente alterado, por duas vezes, desde a promulgação da Carta de 1988, 
mediante emendas constitucionais que ficaram conhecidas como “reformas” da 
previdência social. A primeira dessas “reformas” operou-se por meio da EC 20, de 
15/12/1998, a qual modificou significativamente não só o regime próprio, mas também o 
regime geral de previdência social (RGPS). A segunda “reforma”, cujo instrumento foi a 
EC 41, de 19/12/2003, concentrou-se quase exclusivamente no regime próprio dos 
servidores estatutários efetivos (RPPS). 
Pequenas modificações foram novamente introduzidas com a EC 47, de 05/07/2005, 
que atenuou algumas das perdas de direitos previdenciários que os servidores públicos 
tiveram com a EC 41/2003. Ainda, a EC 70, de 29/03/2012, introduziu uma regra no texto 
da EC 41/2003, cuja finalidade foi corrigir uma distorção que prejudicava sobremaneira, 
no caso de aposentadoria por invalidez permanente, os servidores que ingressaram no 
serviço público antes da EC 41/2003. 
................................ 
O § 15 complementa essa regra, ao estabelecer que o regime de previdência 
complementar aludido será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo. A 
instituição do regime de previdência complementar, portanto, consoante a redação dada 
ao texto constitucional, é de instituição obrigatória para a pessoa política que pretenda 
estabelecer como teto dos proventos por ela pagos o limite de benefícios do RGPS, e 
será feita por meio de lei ordinária de iniciativa do Presidente da República, do 
governador de estado ou do DF, ou do prefeito, conforme o caso. 
O § 15 complementa essa regra, ao estabelecer que o regime de previdência 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
complementar aludido será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo. A 
instituição do regime de previdência complementar, portanto, é obrigatória para a pessoa 
política que pretenda estabelecer como teto dos proventos por ela pagos o limite de 
benefícios do RGPS, e será feita por meio de lei ordinária de iniciativa do Presidente da 
República, do Governador de estado ou do DF, ou do Prefeito municipal, conforme o 
caso.10 
 
 
CAPÍTULO 7 
 
 
1) No item 6.1, foi feita a substituição abaixo indicada: 
 
6.1. Atribuições do Congresso Nacional 
................. 
Dito isso, o legislador constituinte arrolou, em caráter meramente exemplificativo, as 
atribuições do Congresso Nacional, nos incisos dos arts. 48 e 49 da Constituição, nos 
termos seguintes: 
 
Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da 
República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor 
sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre: 
................... 
IX – organização administrativa, judiciária, do Ministério Público e da 
Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização judiciária, do 
Ministério Público e da Defensoria Pública do Distrito Federal; 
IX – organizaçãoadministrativa, judiciária, do Ministério Público e da 
Defensoria Pública da União e dos Territórios e organização judiciária e do 
Ministério Público do Distrito Federal; 
....................... 
 
 
 
 
10 Na esfera federal, a Lei 12.618, de 30/04/2012, instituiu o regime de previdência complementar para os servidores 
públicos federais titulares de cargo efetivo da União, suas autarquias e fundações, inclusive para os membros do Poder 
Judiciário, do Ministério Público da União e do Tribunal de Contas da União, autorizando a criação de três entidades 
fechadas de previdência complementar, denominadas Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público 
Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe), Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do 
Poder Legislativo (Funpresp-Leg) e Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder 
Judiciário (Funpresp-Jud). 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
2) No item 7.1.1, foi feito, ao final, o acréscimo abaixo indicado: 
 
7.1.1. Imunidade material 
.................... 
A imunidade não alcança, ainda, as investigações instauradas pela Justiça Eleitoral 
com o objetivo de constatar a prática de alegado abuso de poder econômico na 
campanha, haja vista que tais investigações eleitorais têm natureza extrapenal, cuja 
finalidade restringe-se à imposição de sanções típicas de direito eleitoral.11 
 
 
CAPÍTULO 8 
 
1) No item 7.2.3, foram feitos a substituição e o acréscimo abaixo indicados: 
 
7.2.3. Procedimento legislativo 
Em caso de urgência e relevância, adotada a medida provisória pelo Presidente da 
República, esta deve ser submetida, de imediato, ao Congresso Nacional, que terá o 
prazo de sessenta dias (prorrogável por mais sessenta dias) para apreciá-la, não 
correndo esses prazos durante os períodos de recesso do Congresso Nacional. 
No Congresso Nacional, as medidas provisórias serão apreciadas por uma comissão 
mista (composta de senadores e deputados), que apresentará um parecer favorável ou 
desfavorável à sua conversão em lei. O parecer da comissão mista, meramente opinativo, 
servirá de subsídio para que o Plenário das duas Casas do Congresso Nacional aprecie a 
medida provisória. A votação da medida provisória será iniciada, obrigatoriamente, pela 
Câmara dos Deputados (Casa iniciadora obrigatória). 
No Congresso Nacional, as medidas provisórias serão apreciadas por uma 
comissão mista (composta de senadores e deputados), que apresentará um 
parecer favorável ou desfavorável à sua conversão em lei (CF, art. 62, § 5º). O 
parecer prévio da comissão mista é meramente opinativo, mas essa fase – 
emissão do parecer por comissão mista de deputados e senadores antes do 
exame, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas do Congresso 
Nacional – é de observância obrigatória no processo constitucional de 
conversão de medida provisória em lei ordinária. Assim, a substituição do exame 
 
11 RCL 13.286/RN, rel. Min. Celso de Mello (DJE-42, de 28.02.2012). 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
da comissão mista por mero parecer do relator implica flagrante 
inconstitucionalidade formal.12 
A votação da medida provisória será iniciada, obrigatoriamente, pela Câmara dos 
Deputados (Casa iniciadora obrigatória). 
Emitido o parecer, o plenário das Casas Legislativas, iniciando-se pela Câmara dos 
Deputados, examinará a medida provisória e: 
............................. 
 
 
 
CAPÍTULO 11 
 
1) No item 6, ao final, foi feito o acréscimo abaixo indicado: 
 
6. GARANTIAS AOS MAGISTRADOS 
........................ 
É de notar, também, que os magistrados dispõem de foro especial por 
prerrogativa de função, sendo julgados, originariamente, por tribunais indicados 
na Constituição Federal, de acordo com a tabela a seguir: 
 
Autoridade Infração Órgão Julgador 
Juízes estaduais e do Distrito 
Federal 
comum / responsabilidade TJ (art. 96, III) 
Juízes federais, incluídos os da 
Justiça Militar e da Justiça do 
Trabalho 
comum / responsabilidade TRF (art. 108, I, “a”) 
Membros dos TJ, TRF, TRE e 
TRT 
comum / responsabilidade STJ (art. 105, I, “a”) 
Membros dos Tribunais 
Superiores (STJ, TST, TSE e 
STM) 
comum / responsabilidade STF (art. 102, I, “c”) 
Ministros do STF comum STF (art. 102, I, “b”) 
 
12 ADI 4.029/DF, rel. Min. Luiz Fux, 07.03.2012. 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
responsabilidade Senado Federal (art. 52, II) 
Deve-se ressaltar, porém, que o foro especial por prerrogativa de função de 
que dispõem os magistrados não se estende aos juízes aposentados. Como o 
cargo de magistrado é vitalício (CF, art. 95, I), defenderam alguns a tese de que a 
vitaliciedade seria mantida após a aposentadoria, e isso teria como consequência 
continuar o magistrado, mesmo depois da jubilação, a fazer jus à prerrogativa de 
foro no julgamento de infrações ocorridas no exercício da função. O STF, porém, 
decidiu em sentido contrário, negando o direito ao foro especial aos juízes 
aposentados.13 
 
2) No item 9, foram feitos a substituição e os acréscimos abaixo indicados: 
 
9. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA 
........................... 
Ademais, o Supremo Tribunal Federal tem deixado assente que a atuação do CNJ – 
ainda que no desempenho de sua competência constitucional para instaurar ou avocar 
procedimentos administrativo-disciplinares – deve observar o princípio da 
subsidiariedade, isto é, o CNJ deve ter um papel subsidiário e complementar em relação 
aos tribunais, atuando somente quando constatada a ineficácia dos mecanismos 
ordinários de administração e repressão do Poder Judiciário local. 
Conforme lição do Ministro Celso de Mello, 
 
O desempenho da atividade fiscalizadora (e eventualmente punitiva) do CNJ 
deveria ocorrer somente nos casos em que os Tribunais – havendo tido a 
possibilidade de exercerem, eles próprios, a competência disciplinar e 
correicional de que se acham ordinariamente investidos – deixassem de fazê-lo 
(inércia) ou pretextassem fazê-lo (simulação) ou demonstrassem incapacidade 
de fazê-lo (falta de independência) ou, ainda, dentre outros comportamentos 
evasivos, protelassem, sem justa causa, o seu exercício (procrastinação 
indevida).14 
Ademais, o Supremo Tribunal Federal firmou o relevante entendimento de que o 
CNJ dispõe de competência originária e concorrente com os tribunais de todo o País 
para instaurar processos administrativo-disciplinares contra magistrados.15 Significa dizer 
que a atuação do CNJ não está condicionada à prévia atuação das corregedorias dos 
tribunais (não se trata de atuação subsidiária); pode o CNJ agir independentemente da 
atuação destas. 
 
13 RE 549.560/CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 22.03.2012. 
 
14 MS 28.799, rel. Min. Celso de Mello, 02.08.2010. 
 
15 ADI 4.638/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 08.02.2012. 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
Portanto, o CNJ podeatuar de modo originário (na ausência de investigação 
pelas corregedorias dos tribunais) ou concomitante com as corregedorias (na hipótese 
de elas já terem instaurado processo). Ademais, para a instauração desses processos 
administrativo-disciplinares – originários ou concomitantes –, o CNJ não precisa motivar 
a sua decisão, isto é, não precisa explicitar as razões que o levaram a iniciar as 
investigações. 
No mesmo julgamento, o STF examinou a constitucionalidade de diversos 
dispositivos da Resolução 135/2011 do CNJ. Devido à importância da matéria, 
apresentamos, abaixo, os dispositivos que tiveram a sua constitucionalidade questionada 
e as respectivas decisões firmadas pela nossa Corte Maior. 
 
Dispositivo da Resolução 135/2011 Decisão do STF 
Competência originária e concorrente do CNJ com os 
Tribunais de todo o país para instaurar processos 
administrativo-disciplinares contra magistrados, sem 
necessidade de motivar a decisão que decide pela instauração 
(art. 12)... 
É constitucional 
Competência do CNJ para regulamentar a instauração e 
instrução de processo disciplinar contra juízes (art. 14, §§ 3º, 
7º, 8º e 9º; art. 17, caput, IV e V; e art. 20, § 3º)... 
É constitucional 
Aplicação das penas previstas na Lei de Abuso de Autoridade 
aos magistrados (art. 3º, § 1º)... 
É inconstitucional 
Aplicação da pena disciplinar de aposentadoria compulsória 
aos magistrados (art. 3º, V)... 
É constitucional 
Aplicação da pena de advertência, censura ou pena mais 
grave, se a infração justificar, ao magistrado negligente (art. 
4º)... 
É constitucional 
Afastamento cautelar do magistrado do cargo mesmo antes 
de instaurado o processo administrativo disciplinar contra ele 
(art. 15, § 1º)... 
É inconstitucional 
Previsão de que o julgamento de processo administrativo 
disciplinar contra magistrados ocorra em sessão pública (art. 
20)... 
É constitucional 
Poder de cada tribunal (e não do CNJ) para definir o órgão 
competente para apurar eventuais irregularidades cometidas 
por magistrados (arts. 8º e 9º, §§ 2º e 3º)... 
É constitucional 
Direito de os interessados – o autor da representação ou o 
magistrado acusado – recorrer de decisões (art. 10)... 
É constitucional 
Quando houver divergência do tribunal em relação à pena a ser 
aplicada ao magistrado, cada sugestão de pena deverá ser 
É constitucional 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
votada separadamente para que seja aplicada somente aquela 
que alcançar quórum de maioria absoluta na deliberação (art. 
21, parágrafo único)... 
 
É oportuno destacar, ainda, que o Conselho Nacional de Justiça não tem nenhuma 
competência sobre o STF e seus ministros, sendo este o órgão máximo do Poder 
Judiciário nacional, a que aquele está sujeito. Com efeito, segundo entendimento firmado 
pelo STF, a competência do CNJ é relativa apenas ao controle da atividade 
administrativa, financeira e disciplinar dos órgãos e juízes situados, hierarquicamente, 
abaixo do STF, haja vista a preeminência deste, como órgão máximo do Poder Judiciário, 
sobre o Conselho, cujos atos e decisões estão sujeitos a seu controle jurisdicional.16 
........................... 
 
3) No item 22.5, foi feita a substituição abaixo indicada: 
 
22.5. Decretação de intervenção 
........................... 
Entretanto, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de 
que a desobediência judicial a pagamento de precatório que autoriza a intervenção é 
somente a dolosa, intencional, sem justificativa razoável. Por outras palavras, em razão 
das inúmeras prestações sociais que a Constituição impõe aos diversos entes federados, 
muitos deles, sobretudo os estados-membros, enfrentam efetiva falta de recursos para 
atender a todas elas, honrar seus outros compromissos financeiros (folha de pagamento 
de pessoal, gastos com previdência de seus servidores inativos, investimentos em 
infraestrutura etc.) e, ainda, efetuar o pagamento das dívidas judiciais constantes de 
precatórios. Assim, se um estado-membro deixa de pagar os precatórios inscritos para 
não deixar de prestar serviços públicos essenciais à população, a ele impostos pelo 
ordenamento jurídico, não se pode dizer que haja uma desobediência deliberada, 
intencional, dolosa. Nesses casos, em que há uma justificativa razoável para o não 
pagamento dos precatórios, não se caracteriza a desobediência, tornando incabível 
cogitar intervenção federal no ente federado. 
Entretanto, o Supremo Tribunal Federal entende que a desobediência a pagamento 
de precatório judicial que autoriza a intervenção é somente a dolosa, intencional, sem 
justificativa razoável, vale dizer, constitui pressuposto indispensável para a decretação da 
intervenção a atuação estatal voluntária cujo objetivo seja descumprir deliberadamente 
decisão judicial transitada em julgado.17 Subjacente a essa orientação está a ideia de que, 
em razão das inúmeras prestações sociais que a Constituição impõe aos diversos entes 
federados, muitos deles, sobretudo os estados-membros, enfrentam efetiva falta de 
recursos para atender a todas elas, honrar seus outros compromissos financeiros (folha 
de pagamento de pessoal, gastos com previdência de seus servidores inativos, 
 
16 ADI 3.367/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 13.04.2005. 
 
17 IF 5.101/RS, 5.106/RS e 5.114/RS, rel. Min. Cezar Peluso, 28.03.2012. 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
investimentos em infraestrutura etc.) e, ainda, efetuar o pagamento das dívidas judiciais 
constantes de precatórios. Assim, se um estado-membro deixar de pagar os precatórios 
inscritos para, com isso, poder cumprir sua obrigação de prestar serviços públicos 
essenciais – a ele imposta pelo ordenamento jurídico –, não se pode dizer que haja uma 
desobediência deliberada, intencional, dolosa. Nesses casos, em que há uma justificativa 
razoável para o não pagamento dos precatórios, não se caracteriza a desobediência a 
ordem judicial, tornando incabível cogitar intervenção federal no ente federado. 
.............................. 
 
 
 
CAPÍTULO 12 
 
1) O item 5 passou a ter a redação abaixo (reprodução integral do item): 
 
5. DEFENSORIA PÚBLICA 
A Constituição consagra, como direito individual, a prestação estatal de assistência 
jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos (art. 5.º, 
LXXIV). 
Complementando esse dispositivo, determina o art. 134 da Constituição que a 
defensoria pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe 
a orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma do art. 
5.º, LXXIV. 
Com essas disposições, pretende o legislador constituinte conferir maior efetividade 
ao princípio da igualdade das condições de acesso à Justiça, assegurando aos 
necessitados o exercício dos direitos de ação e de defesa protegidos na Constituição. 
Em respeito a essa relevante atribuição constitucional – assistência, em todos os 
graus, aos que comprovarem insuficiência de recursos –, o Supremo Tribunal Federal 
firmou entendimento de que não pode ser outorgada às defensorias públicas a atribuição 
de prestar assistência judicial a servidores públicos, quando processados por ato 
praticado em razão do exercício de suas atribuições funcionais. Entendeu a Corte Excelsa 
que conferir tal atribuição às defensorias públicas acabaria comprometendo a sua 
finalidade constitucional (artigo 134, caput), que é a de darorientação jurídica e defesa, 
em todos os graus, aos necessitados.18 
A Defensoria Pública é criação da “Constituição Cidadã” – não existia tal órgão em 
nosso país quando foi promulgada a Carta de 1988. O texto constitucional originário 
determinava que o Congresso Nacional editasse uma lei complementar para organizar a 
Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e, também, para 
 
18 ADI 3.022, rel. Min. Joaquim Barbosa, 02.08.2004. 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
prescrever normas gerais para sua organização nos estados (art. 134, § 1.º). 
Posteriormente, a EC 69/2012 transferiu da União para o Distrito Federal as 
atribuições de organizar e manter a Defensoria Pública do Distrito Federal. Com 
isso, hoje, compete ao Congresso Nacional, mediante lei complementar, organizar a 
Defensoria Pública da União e dos Territórios, bem como prescrever normas gerais para 
organização da Defensoria Pública nos estados e no Distrito Federal. 
As Defensorias Públicas serão organizadas em cargos de carreira, providos, na 
classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus 
integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das 
atribuições institucionais (CF, art. 134, § 1.º). 
A EC 45/2004 trouxe regra de fortalecimento da autonomia das defensorias públicas 
estaduais, assegurando-lhes autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de 
sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes 
orçamentárias.19 A EC 69/2012, ao transferir da União para o Distrito Federal as 
atribuições de organizar e manter a Defensoria Pública do Distrito Federal, dispôs que se 
aplicam a esta os mesmos princípios e regras constitucionais que regem as defensorias 
públicas dos estados (art. 2º). Com isso, a autonomia funcional e administrativa e a 
iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de 
diretrizes orçamentárias, asseguradas às defensorias públicas dos estados, foram 
também estendidas à Defensoria Pública do Distrito Federal. Essa ampliação da 
autonomia administrativa e orçamentária, porém, só foi conferida às defensorias públicas 
estaduais e do Distrito Federal, não alcançando a Defensoria Pública da União e dos 
Territórios. 
Por fim, determina a Constituição Federal que, assim como os servidores integrantes 
da carreira da advocacia pública (isto é, integrantes da Advocacia-Geral da União e dos 
órgãos a ela vinculados), os servidores das defensorias públicas devem ser remunerados 
na forma de subsídio (art. 135). 
 
 
 
CAPÍTULO 13 
 
1) No item 12.5.3, foi feito o acréscimo abaixo indicado: 
 
12.5.3. Objeto da ADPF e conteúdo do pedido 
............................ 
Ainda sobre o assunto, o Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que os 
enunciados das súmulas do STF não podem ser concebidos como atos do Poder Público 
 
19 CF, art. 134, § 2.º, introduzido pela EC 45/2004. 
 
                                    Direito Constitucional Descomplicado 
 Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino 
 8.ª para 9.ª edição 
 
 
lesivos a preceito fundamental.20 O Tribunal deixou assente que os enunciados das 
súmulas são apenas expressões sintetizadas de orientações reiteradamente assentadas 
pela Corte, cuja revisão deve ocorrer de forma paulatina, e que, por isso, não se 
enquadram como atos do Poder Público lesivos a preceito fundamental, atacáveis na via 
da ADPF. 
Em atenção ao art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal – “a lei não prejudicará o 
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada” –, corolário do sobreprincípio da 
segurança jurídica, firmou-se a jurisprudência do STF pela impossibilidade de 
processamento de ADPF que tenha por objeto, exclusivamente, decisão judicial transitada 
em julgado.21 
Como acima aludido, o novo instituto poderá ser utilizado, também, para controle da 
omissão inconstitucional, porquanto a lesão a preceito fundamental poderá advir da 
inércia do legislador em regulamentar direito previsto na Constituição Federal. Embora a 
ADPF seja regida pelo princípio da subsidiariedade – que impede o seu conhecimento 
sempre que exista outro meio juridicamente apto a sanar, com efetividade real, a lesão ou 
ameaça de lesão decorrente do ato impugnado –, o STF já firmou posição acerca do seu 
cabimento em face de omissão do Poder Público. Entendeu a Corte Suprema que o outro 
meio processual existente em nosso ordenamento – a ação direta de 
inconstitucionalidade por omissão – não se enquadra como medida verdadeiramente 
eficaz contra a lesão, em razão dos efeitos da decisão nela proferida.22 
................................ 
 
FIM 
 
 
20 ADPF AgR 80/DF, rel. Min. Eros Grau, 12.06.2006. 
 
21 ADPF 105/AL, rel. Min. Gilmar Mendes, 14.03.2012. 
22 ADPF 4/DF, rel. Min. Octavio Gallotti, 17.04.2002. 
 
	Nota à 9.ª Edição
	Nesta edição, incorporamos ao texto as inovações trazidas pelas Emendas Constitucionais 69 e 70, de 29.03.2012, quais sejam: a transferência da União para o Distrito Federal das atribuições de organizar e manter a Defensoria Pública do Distrito Federal e a fixação de critérios para o cálculo e a correção dos proventos da aposentadoria por invalidez dos servidores públicos que ingressaram no serviço público até a data da publicação Emenda Constitucional 41, de 19.12.2003.
	Acrescentamos, também, recentes decisões do Supremo Tribunal Federal sobre relevantes matérias, dentre as quais merecem destaque as que declararam a constitucionalidade da “Lei Maria da Penha”, da “Lei da Ficha Limpa” e das políticas de ação afirmativa para acesso a cursos universitários (“cotas raciais”), bem como a decisão de que a antecipação do parto nos casos de anencefalia não configura crime.
	Os Autores
	PONTOS DO LIVRO “DIREITO CONSTITUCIONAL DESCOMPLICADO” QUE FORAM MODIFICADOS NA 9ª EDIÇÃO DA OBRA, EM COMPARAÇÃO COM A 8ª EDIÇÃO. 
	OS TEXTOS EM VERMELHO REPRESENTAM SUPRESSÕES E OS TEXTOS EM AZUL CORRESPONDEM A INCLUSÕES. OS TEXTOS EM FONTE PRETA NÃO SOFRERAM ALTERAÇÃO E SERVEM APENAS PARA FACILITAR A LOCALIZAÇÃO DOS TRECHOS MODIFICADOS, ACRESCENTADOS OU SUPRIMIDOS.
	CAPÍTULO 3
	FIM

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes