Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Síndrome da Abstinência Alcoólica Discente: Ana Clara Guimarães Venturi Docente: Prof. Esp. Pedro Marques Ferreira Internato em Clínica Médica SAA é o conjunto de sinais e sintomas específicos causados pela suspensão abrupta do consumo de álcool em pacientes usuários crônicos. Transtornos relacionados ao consumo de álcool consistem na repetição de problemas decorrentes do uso do álcool que levam a prejuízos e/ou sofrimento clinicamente significativo, definidos e classificados conforme o DSM-5. DEFINIÇÃO Intoxicação Abstinência Dependência 1. 2. 3. (VELASCO, 2020) TABELA 01: Critérios para transtornos relacionados ao uso de álcool. Fonte: DSM-5, 2014) TABELA 02: Questionário CAGE para avaliar dependência do uso de álcool. Fonte: PAZ FILHO, 2001 2 ou + respostas afirmativas = Indicação positiiva para dependência de álcool O álcool é responsável por: 6% DAS MORTES NO BRASIL Mais comum em homens (8% entre os homens e 3,1% entre as mulheres). 50 a 85% dos homicídios. 60% das agressões sexuais. 57% das agressões familiares. 64% dos incêndios e queimaduras. 30 a 50% das mortes no trânsito. 39% das ocorrências policiais. 20 a 30% dos suicídios. (VELASCO, 2020) Ativação dos receptores inibitórios GABA tipo A Liberação de opióides endógenos Inibição dos receptores excitatórios glutamato FISIOPATOLOGIA Consumo agudo de álcool Euforia Sedação Intoxicação Distúrbios cognitivos Efeitos sedativos e ansiolíticos Alteração da coordenação + (VELASCO, 2020) Uso crônico de álcool Adaptação de oposição GABA Glutamato Efeitos depressores do álcool GABA Glutamato Tolerância ao álcool "Down/Up regulation" Interrupção de consumo de álcool Hiperreatividade de receptotes de glutamato Liberação de catecolaminas (noradrenalina e dopamina) e cortisol Síndrome de Abstinência Alcoólica HIPÓTESE DE HIMELSBACH DE NEUROADAPTAÇÃO(VELASCO, 2020) Relação da fisiopatologia com as principais manifetações clínicas da SAA: FISIOPATOLOGIA Hiperatividade GLUTAMAtérgica: Hipoatividade GABAérgica: Hipoatividade DOPAminérgica Hiperatividade NORAdrenérgica: Confusão mental, alucinações, convulsões Ansiedade, convulsões, hiperestimulação glutaminérgica Aumento da densidade de canais de cálcio tipo L (VELASCO, 2020) Alguns fatores predispõem a ocorrência de Síndrome de Abstinência Alcóolica, como: Uso sustentado de álcool História prévia de delirium tremens ou de internação prévia por síndrome de abstinência Idade maior que 30 anos Presença de doença precipitante Alcoolemia elevada (raramente disponível no Brasil) Tempo de última dose de álcool maior que 2 dias Escore CIW-A > 15 na admissão Uso prévio de benzodiazepínico Sexo masculino 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. FATORES DE RISCO (VELASCO, 2020) CLÍNICA Como a SAA se manifesta?? Agitação psicomotora Essencialmente CLÍNICO!! História de interrupção da ingestão ou redução do consumo de álcool + Pelo menos mais 2 sintomas (que causem prejuízo funcional, social ou laboral): Hiperatividade autonômica (evidenciada por taquicardia com frequência cardíaca [FC] > 100 bpm ou sudorese; hipertensão pode ocorrer, mas não é critério). Tremores de mão. Insônia. Náuseas e vômitos. Alucinações visuais, táteis ou auditivas. Ansiedade. Agitação. Crises convulsivas (tônico-clônicas generalizadas). 1. 2. DIAGNÓSTICO � O aparecimento dos sintomas ocorre usualmente após 6 a 24horas da última ingesta de álcool. (VELASCO, 2020) QUADRO CLÍNICO Pacientes que entram em SAA com frequência apresentam outras condições associadas, responsáveis pela interrupção do seu consumo habitual de álcool. Essas condições podem incluir: Trauma craniano Alterações metabólicas: DM, Hipomagnesemia, Hipoglicemia Hipopotassemia, Cetoacidose, etc. Quadros infecciosos gastrointestinais Quadros cardiovasculares (miocardiopatia alcóolica, arritmias, etc). Hepatite alcoólica Pancreatite aguda Encefalopatia de Wernicke-Korsakoff 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. (VELASCO, 2020) Grau I Sintomas leves como tremores, irritabilidade, ansiedade, inquietação e insônia. Grau III Grau II + Convulsões (tônico clônicas generalizadas) Grau II Grau I + Alucinações (animais asquerosos, aranhas, cobras que sobem nas pernas ou pela parede) Grau IV (Delirium Tremens) Quadro confusional agudo e flutuante, desorientação têmporo-espacial, prejuízo da memória de fixação, desagregação do pensamento, alucinações. Leve Mode rado Grave (VELASCO, 2020) EMERGÊNCIA MÉDICA!! - UTI Forma mais grave da abstinência (SAA, benzodiazepínicos, fenobarbital, etc) Pode levar ao óbito (mortalidade de 20%) - disf respiratória e arritmias cardíacas. 1/3 dos pacientes com SAA evolui para DT 5% tem convulsões SINTOMAS: Confusão + alteração de nível de consciência + alucinações (zoopsias) + sintomas autonômicos. DELIRIUM TREMENS Início: 48-96hrs após a ingesta de álcool.Pico: 1 a 4 dias (VELASCO, 2020) O risco para o desenvolvimento do delirium tremens pode ser previsto através do escore CIWA-Ar>15 associado a PAS>150 mmHg ou FC> 100 bpm. Pacientes podem ficar agressivos ou manifestar tendências suicidas. Idosos: curso mais prolongado; maior risco de mortalidade; maior número de complicações; mais freqüentemente a recuperação não é total. Complicado por acidose, alcalose ou distúrbios hidroeletrolíticos (desidratação, hipocalemia, hipomagnesemia e hipofosfatemia). Sempre necessário investigar doenças clínicas relevantes (ex: Ins. Hepatica, Pneumonia, Sangramento intestinal, TCE, Hipoglicemia) Prevenção: Tratamento precoce DELIRIUM TREMENS (VELASCO, 2020) TABELA 02: Manifestações da SAA. Fonte: VELASCO, 2020 IMAGEM 01: Relação temporal e manifestações da síndrome de abstinência (SAA). Fonte: VELASCO, 2020 Após abstinência aguda, podeocorrer ansiedadde, insônia edisfunção autonômica quepodem persistir por até 6meses em menor intensidade Delirium Precipitado por infecções e alterações metabólicas. Início agudo, curso flutuante, déficit de atenção, pensamento desorganizado e alteração do nível de consciência Quadros Psiquiátricos Esquizofrenia e transtornos de humor também podem cursar com agitação psicomotora, alucionações, pensamento desorganizado, etc. Intoxicação por outras substâncias O uso de drogas estimulantes geram quadros muito semelhantes à SAA devido à agitação psicomotora. Hipoglicemia Também cursa com alteração no nível de consciência. Epilepsia Possibilidade de ocorrência de convulsões tônico-clônico- generalizadas. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS (VELASCO, 2020) DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS SÍNDROME DE WERNICKE-KORSAKOFF Associada à deficiência de Tiamina Pode estar associada à SAA ou não. Muito subdiagnosticado Principais causas: etilismo crônico, diálise, vômito grave, inanição, cirurgia de bypass gástrico, câncer e AIDS. Encefaloptia de Wernicke: Oftalmoplegia/Nistagmo, Ataxia e Confusão mental. Síndrome de Korsakoff: Amnésia retrógrada e anterógrada e desorientação Imagem 01: Oftamoplegia Fonte: SERRA, 2012 (SECHI, 2007) DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS TABELA 02: Critérios de Caine para encefalopatia de Wernicke. Fonte: VELASCO, 2020 Hemograma. Glicemia. Ureia, creatinina Eletrólitos: sódio, potássio, magnésio, fosfato, cálcio. TGO, TGP GGT Tempo de protrombina. Amilase e lipase. Eletrocardiograma. Radiografia de tórax. Urina tipo 1. Beta-HCG para mulheres em idade fértil 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. EXAMES COMPLEMENTARES (VELASCO, 2020) Hemograma. Glicemia. Ureia, creatinina Sódio, potássio, magnésio, cálcio. TGO, TGP GGT Tempo de protrombina. Amilase e lipase. Eletrocardiograma. Radiografia de tórax. Urina tipo 1. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. EXAMES COMPLEMENTARES GT Melhor marcador para verificar consumo agudo de álcool. Dosagem da concentração sérica de álcool (pouco disponível e raramente necessária). Gasometria arterial (em casos moderados a graves). Creatinofosfoquinase (CPK) (em casos moderados a graves). Tomografia computadorizada de crânio (se história de trauma cranioencefálico(TCE), déficit neurológico focal no exame físico ou primeiro episódio convulsivo). Culturas (conforme indicação clínica se suspeita de infecção associada). EXAMES COMPLEMENTARES (VELASCO, 2020) CIWA-Ar (Revised Clinical Institute Withdrawal Assessment for Alcohol scale) Escala objetiva desenvolvida para avaliar e monitorar a terapêutica dirigida por sintomas nesses pacientes. Duração da aplicação: 2-5min Composta por 10 itens que englobam os sintomas: Enjoo; Tremor; Sudorese; Coceiras e sensações no corpo; Som e alucinações auditivas; Luzes e alucinações visuais; Nervosismo e ansiedade; Tonturas e cefaleia; Agitação; Orientação CLASSIFICAÇÃO DE GRAVIDADE DA SAA (VELASCO, 2020) A aplicação da escala de CIWA-Ar orienta sobre o manejo adequado do paciente que deve ser realizada a cada hora até índices de menor gravidade quando podemos espaçar as avaliações. (MENZ,2016) Quais pacientes necessitam de internação em ambiente hospitalar? QUEM INTERNAR? Delirium tremens (UTI) Pacientes com SAA com escore CIWA > 20 pontos CIWA-Ar entre 16 e 20 pontos + indicação de internação hospitalar individualizada (MENZ,2016) Abordagem inicial ABORDAGEM TERAPÊUTICA Alocar paciente em local tranquilo e com pouco barulho + Orientação constante pela equipe Contenção Mecânica Sempre fazer antes da contenção química devido ao risco para o profissional de saúde) Hidratação vigorosa 1-2L/dia de SF (necessidade pode chegar até 5L/dia) Tiamina e correção de distúrbios hidroeletrolítocos 100-200 mg IM 1 a 2 vezes ao dia OU 100 a 300 mg oral ao dia Benzodiazepínicos Sempre fazer antes da contenção química devido ao risco para o profissional de saúde) (MENZ,2016) ABORDAGEM INICIAL Retirada de objetos ou aparelhos que possam ser quebrados ou mesmo usados como armas; Fácil acesso à porta tanto para a equipe como para o paciente A exposição a estímulos ambientais deve ser reduzida ao máximo e pessoas desestabilizadoras para o paciente Apresentação do profissional e estabelecimento de vínculo com o paciente. Evitar movimentos bruscos e olhar diretamente para o paciente; Manter alguma distância e evitar fazer anotações; Assegurar ao paciente que você pretende ajuda-lo a controlar seus impulsos. Organização do espaço físico: Manejo comportamental (VELASCO, 2020) ABORDAGEM INICIAL Imobilização do paciente por várias pessoas da equipe que o seguram firmemente no solo. Contenção física Uso de faixas de couro ou tecido, em quatro ou cinco pontos, que fixam o paciente ao leito Contenção mecânica: (BRITO, 2018) (BRITO, 2018) (BRITO, 2018) (CIDRÃO, 2020) BENZODIAZEPÍNICOS Diazepam 5 a 10mg VO a cada 6/6 ou 8/8 h. Benzodiazepínico pode ser prescrito por poucos dias As doses são rapidamente diminuídas (5 mg ao dia) nos próximos dias até descontinuação. 1. TRATAMENTO Diazepam 5 a 10 mg IV lentamente Lorazepam 2-4 mg IV ou IM Dependendo da resposta, pode-se repetir várias vezes, a cada 15/15 minutos ou 30/30 minutos. Se capazes de ingerir por VO: iniciar com lorazepam (1 a 4 mg) ou diazepam (5 a 10 mg) de 1/1 hora e espaçamento progressivo das doses, de acordo com as reavaliações. 1. 2. ABSTINÊNCIA LEVE/MODERADA ABSTINÊNCIA GRAVE Hepatopata =Lorazepam 4mg/dia Diazepam 10-20mg VO EV (se convulsão) durante 4min Midazolam IV con tínuo, com dose inicial de 5 mg em bolus e depois 2 mg por hora com adequação da dose. Pode ser necessário associar midazolam nesses casos, por isso é ne cessária a monitorização respiratória intensiva. Se hepatopata: Lorazepam 12mg/dia Se distonia: Biperideno 2mg/dia (UTI) 1. 2. TRATAMENTO Olanzapina 10 mg Haloperidol 5 mg IM Os neurolépticos, apesar de diminuírem o limiar convulsivo, podem ser usados em associação com os BZD em pacientes extremamente agitados e com muitas alucinações, especialmente após as primeiras 24 a 48 horas da abstinência, quando diminuem as chances de convulsão. Fenotiazidas devem ser evitadas 1. 2. DELIRIUM TREMENS AGITAÇÃO EXTREMA E PERSISTENTE +ALUCINAÇÕES Terapia guiada por sintoma: Reavaliar a cada hora e administrar um Diazepam até melhora clínica/Leve sedação OU CIWA-Ar < 8. Fazer isso nas primeiras 24hrs. Soma a quantidade e deixa 50% dela em dose fixa posteriormente. Dose máxima de Diazepam na bula = 100-120mg (na prática, usar guiado p/ sintomas) BENZODIAZEPÍNICOS TIAMINA Usar nos primeiros 7 dias p/ evitar Sd. de Wernicke- Korsakoff. Álcool e glicose depletam tiamina, por isso ela deve ser administrada pelo menos 30min antes do soro glicosado ou alimentação VO. Porcentagem de tiamina no complexo B é muito baixa. Mg é um cofator para a absorção de tiamina (checar hipomagnesemia) SOLICITAR EXAMES E TRATAR CONDIÇÕES ASSOCIADAS HMG, Ureia, creatinina, eletrólitos, TGO, TGP, GamaGT, fosfatase alcalina, Bilirrubina total e frações, Glicose, triagem infecciosa (PCR, VHS, sorologias), Glicose. ENCAMINHAR PARA ACOMPANHAMENTO PSIQUIÁTRICO Paciente que possui dependência. Indicar terapia ou CAPS-AD, grupos de mútua ajuda (AA). Medicações: Naltrexona, Dissufiram, Acamprosato, Topiramato? O QUE NÃO FAZER!!! Oferecer álcool: Além de não ser opção terapêutica ainda pode levar o paciente e familiares a crer que álcool é remédio; Hidratar indiscriminadamente: atenção aos pacientes cardiopatas que podem descompensar; Utilizar diazepam endovenoso sem suporte ventilatório; Aplicar glicose sem a utilização prévia de Tiamina. 1. 2. 3. 4. IMAGEM 02: Fluxograma de abordagem da SAA.). Fonte: VELASCO, 2020 BRITO, MF, et al. Protocolo de Contenção Física e Mecânica. Divisão de Enfermagem/ DASP/ Saude Mental. USP Ribeirão Preto. 2018. CIDRÃO, A.A. de L. Protocolo clínico de contenção mecânica. Hospital Regional do Sertão Central. Ceará. 2020 Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. Paz Filho, G.J. da et al. Emprego do questionário CAGE para detecção de transtornos de uso de álcool em pronto-socorro. Revista da Associação Médica Brasileira [online]. 2001. SECHI, GeanPietro, SERRA, Alessandro. Wernicke's encephalopathy: new clinical setting and recent advances in diagnosis and management. The Lancet Neurology, Volume 6, Issue 5, 2007. Velasco, I. T. Medicina de emergência: abordagem prática 14a ed.. São Paulo: Editora Manole, 2020. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Quaisquer dúvidas estou à disposição... OBRIGADA PELA ATENÇÃO!!
Compartilhar