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Júlia Camargos FACULDADE DE MEDICINA DE BARBACENA CLÍNICA MÉDICA I - ENDOCRINOLOGIA AULA 4 - 12/05/2021 COMPLICAÇÕES MACRO E MICROVASCULARES NO PACIENTE DIABÉTICO Complicações crônicas do DM - micro e macrovasculares: ● Essas complicações que matam o paciente, tiram a qualidade de vida. Acontecem em todos os pacientes diabéticos, independente se está controlado ou não. ● As complicações agudas, que dependem de um fator precipitante (quadro infeccioso, por ex), não são tão frequentes. ● O paciente não vai morrer por hipo ou hiperglicemia. Ele morre por complicações macrovasculares: infarto, AVC… ● Alterações micro: perde qualidade de vida ● Devemos avaliar a progressão dessas alterações. O objetivo é detectar precocemente para diminuir a velocidade da progressão. Regredir o que já começou é praticamente impossível. ● DM2: às vezes descobrimos a doença quando o paciente já está com complicações ● DM1: quadro mais agudo, ao descobrir a doença ainda não deu tempo do paciente complicar. Só fazemos rastreamento das complicações depois de 5 anos de doença. Complicações: ● Complicações microvasculares: Retinopatia diabética, nefropatia, neuropatia ● Complicações macrovasculares: Processo aterosclerótico → Doença arterial periférica do diabetes, IAM, AVC Risco de mortalidade de acordo com a presença de DM ● 1,8x para morte por qualquer causa ● 1,25 x para morte por câncer ● 2,32 x para morte por causa vascular INTRODUÇÃO: ● As complicações micro e macrovasculares decorrentes do DM compreende a alteração do metabolismo da glicose que ocorre pela deficiência absoluta da produção de insulina do DM1 e pela resistência insulínica a sua ação e/ou deficiência da secreção do DM2 = HIPERGLICEMIA = EFEITOS DELETÉRIOS SOBRE A FUNÇÃO ENDOTELIAL VASCULAR. ● Além da hiperglicemia, exemplos como a síndrome metabólica contribuem para o dano vascular pela existência de um micro ambiente de toxicidade metabólica e inflamatória. ● Estudos DCCT (DM1) e UKPDS (DM2): estudos mostraram que quanto mais o paciente for controlado, menos complicações ele vai ter → menos agressão ao micro e macro endotélio 1 Júlia Camargos Ex.: Paciente diabética, demorou a procurar endocrinologista (apenas o cardiologista cuidava) → fazia tratamento duvidoso que já não vinha dando certo. Procurou o endocrinologista muito tempo depois devido a uma disfunção nefrológica. Paciente relata que estava muito bem mas que esse ano, após realizar exames o médico assustou com a função renal. A paciente já estava com uma disfunção renal muito importante desde o ano passado mas, o cardiologista não se atentou a isso. Já era para ter feito uma mudança no tratamento desde essa época, com possível reemissão dessa disfunção nefrológica mas, agora ela já está com um disfunção pré dialítica → evolução é muito rápida! *Importância do endocrinologista* Papel da hiperglicemia no dano vascular: ● A hiperglicemia crônica é o maior desencadeador das complicações microvasculares do diabetes e também contribui efetivamente nas complicações macrovasculares. ● São exacerbados quanto maior a duração e a severidade da hiperglicemia. ● Patogênese = injúria metabólica direta, mudanças na reatividade vascular e acúmulo de substâncias no endotélio ● Alguns tecidos são mais sensíveis à hiperglicemia e vai depender da expressão diferencial de GLUTs entre os tecidos. ● O influxo excedente de glicose satura a cadeia mitocondrial de transporte de elétrons, o que resulta na geração de espécies reativas de oxigênio (ROS). Produtos Finais da Glicação Avançada (AGE): ● Grande problema da complicação do diabetes. Isso seria um “lixo metabólico” (produtos finais) produzido pela ferrugem gerada pela glicose no endotélio do paciente. ● Pode ser micro ou macrovascular ● Esse processo é cíclico: quanto mais tempo e quanto mais alto for a glicose do paciente → mais estresse oxidativo, mais produtos finais da glicação avançada produzidos ● O maior problema é o tempo que o paciente ficou exposto a esse ciclo → mesmo o paciente controlado depois de algum tempo ele vai começar a ter complicações microvasculares (diminuição da acuidade visual, alteração do RFG, queixa parestésica). PATOGÊNESE: Existem 4 vias fisiopatológicas que explicam o dano vascular: ● Alto nível glicêmico → acúmulo de sorbitol → estresse osmótico dos tecidos → diminuição da atividade da bomba Na/K → diminuição dos antioxidantes naturais → redução da produção de óxido nítrico (antioxidante, relaxador vascular, alteração da complacência) 2 Júlia Camargos ● Alto nível glicêmico → Aumento da produção de AGEs → Alterações celulares em sua matriz ou na função das moléculas glicadas → Ex.: Alteração do colágeno reduz a elasticidade dos vasos e aumento da permeabilidade da membrana basal a albumina = Nefropatia ● Alto nível glicêmico → Aumento da ativação da proteína quinase C por produtos da hiperglicemia → Aumento da permeabilidade vascular, prejuízo a ação do óxido nítrico, favorecimento da adesão plaquetária e alteração do fluxo sanguíneo → Acúmulo de matriz proteica intracelular pelo TGF-B, fibronectina e colágeno do tipo VI em células mesangiais por exemplo. ● Alto nível glicêmico → aumento de fluxo pela via hexosamina, que desvia a frutose-6-fosfato da via glicolítica comum para a formação de UDP-n → Mudanças nas expressão gênica e na função das proteínas → Glicação de fatores de transcrição, genes específicos pró-inflamatórios são transcritos exacerbadamente e contribuem para a patogênese das complicações diabéticas COMPLICAÇOES MICROVASCULARES: Hiperglicemia crônica → Aumento da permeabilidade vascular, ampliação da matriz celular com espessamento da membrana basal, hipertrofia e hiperplasia endotelial e aumento da coagulabilidade sanguínea → Estreitamento progressivo e eventual oclusão do lúmen vascular → prejuízo da perfusão, com isquemia e disfunção dos tecidos ● Dano a microcirculação renal → NEFROPATIA DIABÉTICA ● Dano a microcirculação retiniana → RETINOPATIA DIABÉTICA ● Dano a vasa nervorum (circulação do nervo) → NEUROPATIA DIABÉTICA Nefropatia: DCCT: estudo que prova que o tratamento adequado e intensivo do paciente dibático diminuiria suas complicações. Uma Redução de 2% na A1C (hemoglobina glicada) leva à: Incidência 76% menor de retinopatia; Incidência 54% menor de nefropatia e Incidência 60% menor de neuropatia. ● Depois do IAM, a IRC é a maior causa de morte no diabetes ● Principal causa de doença renal crônica ● Preditor independente de doença cardiovascular em pacientes DM ● As primeiras e principais alterações encontradas no paciente diabético são a expansão do mesângio renal, a ampliação da superfície filtrante glomerular e o acúmulo de AGEs que modificam a matriz extracelular resultando no aumento da taxa de filtração glomerular seguido da taxa de excreção da albumina (microalbuminúria inicial evoluindo tardiamente para proteinúria). ● Devemos avaliar o ritmo de filtração glomerular ou pede para o laboratório ou calculamos) → Normal > 90. Valores muito altos (acima de 100, 120) já indicam uma disfunção renal. ○ paciente com ritmo de TFG normal → começa a subir → depois cai ● O declínio tardio da TFG está associado à oclusão dos glomérulos pela proliferação mesangial (dano vascular), com diminuição da área de superfície filtrante ● Avaliação pela TFG e pela microalbuminúria → indica lesão renal. Risco cardiovascular. 3 Júlia Camargos ● Todo paciente diabético em uso de metformina que apresentar um RFG < 30, a metformina tem que ser suspensa! Esse medicamento pode ajudar a deteriorar ainda mais a função renal ● Valores 30-60: diminuir a dose de metformina ● Em quem devemos fazer essa avaliação? ○ DM1 com duração > 5 anos ○ Todos DM2 logo após fazer diagnóstico Nefropatia Diabética - Tratamento: ● Controle glicêmico intensificado UKPDS: redução de 25% nos desfechos microvasculares com o tratamento intensificado ACCORD / ADVANCE / VADT: não demonstraram benefício na TFG ou na evolução a insuficiência renal ● Cuidado com a Metformina se TFG < 30 ● Controleda PA: Bloqueio do sistema renina-angiotensina –aldosterona (BRA) e IECA tem proteção renal e reversão da disfunção renal quando usados de forma adequada (mesmo quando utilizados em paciente que não são hipertensos) → medicamentos nefroprotetores ● Alguns medicamentos utilizados para tratar a diabetes também protegem o rim ISGLT2 e IDPT4 ● Intervenção dietética, Tratamento da dislipidemia, Reposição Vitamina D e otimização da função tireoidiana. Retinopatia: ● Difícil avaliar a retinopatia para quem não é oftalmologista, precisa de um equipamento (fundoscópico - faz fundoscopia sem precisar dilatar a pupila) → permite rastrear alterações mais grosseiras → *oftalmologista é essencial*. 4 Júlia Camargos ● Todo paciente diabético precisa ter o fundo de olho anual realizado pelo oftalmologista ● Tratamento: controlar a glicose do paciente + usar um fibrato ○ Fibrato: classe de medicamento usado exclusivamente para baixar triglicerídeos) → protegem a retina do paciente e diminuem a progressão para tratamentos invasivos ● Fatores de risco reconhecidos e estabelecidos: duração do DM, controle glicêmico, hipertensão, dislipidemia, nefropatia e gestação. ● Fatores de risco influenciáveis: idade, obesidade, DCV, etnia, genética, fatores oculares e tabagismo, apnéia do sono, esteatose hepática, níveis de prolactina, adiponectina e de homocisteína ● Uma das maiores causas de cegueira adquirida entre 20 e 74 anos. ● Após 20 anos de doença 90% dos pacientes com DM1 e 60% dos DM2 apresentarão algum tipo de retinopatia. ● Efeito deletério da hiperglicemia sobre o cristalino e a íris podendo levar a catarata e ao glaucoma → oftalmopatia ● A principal causa de baixa acuidade visual é o edema macular. ○ Hiperglicemia causa turvação visual e baixa acuidade visual independente dele lesar a retina (edema macular). Quando a glicose abaixa, essa turvação melhora mas, se diminuir demais vai piorar. ● Casos de retinopatia inicial até a evolução para doença proliferativa grave que por sua vez se relaciona com perda visual grave (50% em 5 anos) devido a eventos oculares potencialmente causadores de cegueira como isquemia retiniana difusa, incluindo a macular e o descolamento tracional da retina. ● Exame de fundo de olho: exsudato (manchas brancas) + microvasculatura + microhemorragias ● O tempo de duração e a controle glicêmico do diabetes são os 2 fatores mais importantes relacionados ao desenvolvimento e à gravidade da retinopatia ● DCCT - redução de 76% no risco de desenvolvimento de retinopatia e redução de 54% no risco de progressão em quem já tinha algum grau de retinopatia; a cada redução de 10% na A1C ocorria a redução de 37% no aparecimento e 39% na progressão da retinopatia. ● UKPDS – controle da HAS reduziu em 47% a progressão da retinopatia ● Tratamento: fotocoagulação com laser ● O risco de cegueira pode ser reduzido a menos de 5% quando o diagnóstico é realizado em tempo adequado e o tratamento realizado corretamente Neuropatia: ● Achado histológico predominante: neuropatia axonal crônica. ● Patogênese mista: metabólica e/ou microvascular ● As arteríolas endoneurais (vasa nervorum) mostram espessamento, hialinização de suas paredes e reduplicação de sua membrana basal, com perda relativa de pequenas fibras e mielinizadas e amielinizadas, fibras grandes também são afetadas. 5 Júlia Camargos ● Quadro clínico variável podendo ser assintomático até com manifestações pouco específicas, somáticas e/ou autonômicas. ● Apresenta-se de duas formas principais: ○ Rapidamente reversíveis (da hiperglicemia e do pré DM) ○ Polineuropatia sensoriomotora simétrica ○ Neuropatia Autonômica (Cardiovascular, Respiratória, Digestiva e Geniturinária) ○ Neuropatia diabética não é o paciente que pisa em um prego e não sente (isso seria um estado muito grave) → lembrar do paciente que fica incomodado com o lençol tocando nos seus pés (hiperestesia), não percebe que o chinelo saiu do pé, hipotensão postural, diarreia, → pode ter qualquer grau de disfunção sensitiva ● Menos frequentemente: Mononeuropatia focal, Neuropatia multifocal radicular, Neuropatia multifocal multiplexos ● Ausência de sinais ou sintomas de parestesia não excluem a neuropatia. 6 Júlia Camargos ● Tratamento: Controle metabólico com ácido alfalipóico, ácido tióctico ou benfotiamina; controle das queixas sensoriomotoras com antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes, capsaicina, duloxetina, gabapentina e outros; e controle das queixas autonômicas ○ Tratamento na fisiopatologia direta (agressão direta): tratamento com derivados de vitamina do complexo B (Ácido Tióctico) ○ Tratamento da queixa: antidepressivos, opióides e etc Testes neurológicos básicos: ● Avaliação da sensibilidade dolorosa (palito ou agulha), tátil (algodão ou monofilamento 10g), térmica, e vibratória. ○ Se o paciente não sente o toque (exame alterado), não quer dizer que ele tem neuropatia diabética → ele tem uma alteração na sensibilidade protetora plantar ○ Neuropatia diabática: queixas + alteraçoes no exame físico ● Pesquisa de reflexos tendinosos (aquileu, patelar e tricipital). ● Medida da PA em posição deitada e ortostática ● Frequência cardíaca em repouso COMPLICAÇOES MACROVASCULARES: ● A doença macrovascular (macroangiopatia diabética) no paciente diabético é a própria doença aterosclerótica que incide em uma população não diabética só que mais precoce, mais frequente e mais grave ● Clinicamente observa-se 3 manifestações mais frequentes: ○ DOENÇA CORONARIANA ○ DOENÇA CÉREBRO-VASCULAR ○ DOENÇA VASCULAR PERIFÉRICA ● Mais comum em DM2, onde vários fatores contribuem para a aterosclerose ● Resistência insulínica também é risco! O principal a se fazer é a prevenção! ● Além da própria alteração vascular pela hiperglicemia os pacientes diabéticos também tem crescimento vascular prejudicados após eventos isquêmicos 7 Júlia Camargos ● Se o paciente já tem uma alteração microvascular, ele com certeza já tem alteração macrovascular IAM: ● Uma das principais causa de morte em paciente diabéticos ● Risco de IAM em mulheres é 150% maior em mulheres diabéticas do que nas não diabéticas, enquanto apenas 50% maior em homens diabéticos do que nos não diabéticos ● UKPDS risck engine: ferramenta para mostrar o risco cardiovascular AVC/AVE: ● DM é fator de risco independente, associado a outros fatores de risco ● Mais comum o isquêmico, hemorragia cerebral é menos frequente. ● Em estudo dinamarques, 20% dos pacientes com AVE agudo eram diabéticos, 85% com DM2 ● Mortalidade cerebrovascular 2-3x maior em homens diabéticos do que não diabético DAP - Doença arterial periférica: ● Encaminhar para o angiologista para que ele avalie corretamente ● Se caracteriza por doença aterosclerótica oclusiva de membros inferiores. ● Marcador de comprometimento aterotrombótico em outros leitos vasculares. ● 20% dos paciente com DAP tem DM (Framingham Heart Study) ● Maioria é assintomática ou apresenta sintomas atípicos, 1/3 tem claudicação intermitente e os demais tem quadro mais grave com isquemia crítica ● Cada 1% de aumento na A1C , aumento no risco de DAP em 28% , a cada 10 mmHg de elevação na pressão sistólica havia aumento de 25% no risco de DAP ● Avaliação do paciente no consultório: Doppler - medir PA no braço e na perna → avalia a pressão sistólica do braço e da perna do mesmo lado. ○ Índice tornozelo braquial: PAs perna / PAs braço → ideal > 0,91 ■ se for abaixo: acometimento aterosclerótico dos mmii Fisiopatologia: ● Formação de radicais livres no diabetes induz a formação de peróxidos lipídicos e a oxidação de lipoproteínas as tornam mais aterogênicas (aumento do VLDL e diminuição do HDL) ● Citocinas geradas pelos AGEs ● Disfunção endotelial e resistência insulínica ● Processo inflamatório crônico Teoria da memória metabólica: mesmo o paciente bem controlado pode ter todas essas complicações → importância de fazer o rastreio 8 Júlia Camargos Prevenção primária da doença macrovascular: ● Prevenção do próprio DM ● Prevenção da DCV no diabetes:controle agressivo do HAS e da dislipidemia, obesidade, tabagismo e sedentarismo ● Tratamento e controle da DM para evitar a hiperglicemia e os eventos cardiovasculares ● Paciente diabético com fator de risco cardiovascular, que já infartou → meta de LDL < 55 → praticamente impossível Prevenção secundária da doença macrovascular: ● Tratamento e controle da DM para evitar a hiperglicemia e os eventos cardiovasculares → diminui a chance de progressão 9
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