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Júlia Camargos FACULDADE DE MEDICINA DE BARBACENA CLÍNICA MÉDICA I - ENDOCRINOLOGIA AULA 10 - HIPERTIREOIDISMO DEFINIÇÃO: ● Hipertireoidismo não é diagnóstico → condição clínica ● Quadro clínico resultante do excesso de produção de hormônios tireoidianos. Esse excesso provoca alteração generalizada no metabolismo, uma vez que os hormônios tireoidianos regulam efetivamente o nível metabólico no organismo ● Hipertireoidismo: Hiperfunção da glândula tireóide (aumento da produção e liberação de HT) ● Tireotoxicose: Síndrome clínica resultante da exposição dos tecidos orgânicos ao excesso de HT (Tireotoxicose factícia, tireoidites) No hipertireoidismo ocorre um hiperfunção da glândula → excesso de hormônio tireoidiano na glândula → hipófise diminui o TSH (tentando estimular menos a função tireoidiana) INTRODUÇÃO: ● A Doença de Graves é a causa mais comum de hipertireoidismo (80% dos casos) ● Outras causas: bócio multinodular tóxico, adenoma tóxico, tireoidite subaguda indolor, tireoidite subaguda dolorosa de DeQuervain, secreção ectópica de hormônio tireoidiano ● Quadro típico: exoftalmopatia, bócio e hiperfunção tireoidiana → praticamente já diagnostica como doença de graves (quase que patognomônico) ○ se não tiver exoftalmopatia e bócio não quer dizer que não tenha doença de graves (mas diminui a chance). DOENÇA DE GRAVES: ● Origem auto imune ● Prevalência incerta mas estima-se que afete 0,4% a 1% da população ● 5 a 10 vezes mais comum em mulheres do que em homens ● Pico de incidência se dá entre a segunda e quarta década ● Menos comum em negros 1 Júlia Camargos ● Pode vir associada a outros distúrbios autoimunes endócrinos (DM1, doença de Addison, ooforite auto-imune, deficiência isolada de ACTH) e não endócrinas (miastenia gravis, LES, AR, anemia perniciosa, hepatite crônica ativa, vitiligo, etc...) ● Até 30% apresentam remissão espontânea mesmo na ausência de qualquer tratamento → não esperamos para ver se isso vai acontecer Etiopatogenia da Doença de Graves: ● Na DG, o hipertireoidismo resulta da produção de imunoglobulinas pelos linfócitos B, algumas das quais se ligam ao receptor tireoidiano de TSH e ao ativam, e estimulam tanto o crescimento da tireóide como a secreção excessiva de hormônios ● TRAb: anticorpo contra o receptor do TSH ● Doença autoimune da tireoide → destruição glandular → paciente pode ter todos os marcadores de de autoimunidade positivo ○ não faz sentido sair pedindo dosagem de todos ○ se o quadro é de hipotireoidismo e a suspeita é de Hashimoto: pedir antiTPO ○ se o quadro é de hipertireoidismo e a suspeita é de graves: pedir TRAb Fatores predisponentes para DG: ● Susceptibilidade determinada por fatores genéticos, ambientais e endógenos, responsáveis pelo surgimento da auto-reatividade das células T e B para o receptor de TSH ● Fatores ambientais e endógenos: gravidez, ingestão excessiva de iodo, infecções virais ou bacterianas, suspensão de corticóides, stress, terapia anti HIV, lítio e esclerose múltipla. ○ Gravidez: processo benéfico para a doença autoimune (pode ter um controle melhor). Paciente também pode ter uma alteração tireoidiana ou um hipertireoidismo da gravidez → o beta HCG faz um efeito parecido com o TSH estimulando o receptor da tireoide → hipertireoidismo benigno (geralmente não precisa tratar) ■ Observar (às vezes não precisa tratar) pois é passageiro ■ Na gravidez não precisamos controlar totalmente os hormônios tireoidianos: um hipertireoidismo discreto é aceitável e preferível ■ Se for tartar devemos começar com doses muito pequena ■ não existe um protocolo 100% definido para o tratamento de hipertireoidismo na gravidez Diagnóstico da Doença de Graves: ● Diagnóstico clínico: hipertireoidismo + bócio (aumento da glândula tireoidiana) + oftalmopatia ● Dermopatia infiltrativa (na face anterior da perna): mixedema pré-tibial (não é tão frequente) ● Unhas de plummer: descolamento das unhas do leito ungueal (não é tão frequente) 2 Júlia Camargos → o aumento de volume tireoidiano cervical não fecha o diagnóstico: pode ser um nódulo (adenoma tóxico causando hipertireoidismo) → exoftalmopatia em atividade: ocorre prejuízo do globo ocular (hiperemia da mucosa conjuntival, lacrimejamento e ulceração da córnea) HIPERTIREOIDISMO APÁTICO: A suspeita desse quadro geralmente é por eliminação (idoso com doença cardiológica que nao compensa) ● Idoso ● Prostração, Depressão ● Bócio pequeno ● Manifestações cardiovasculares refratárias ao tratamento (FA, IC) BÓCIO: ● Caracteristicamente difuso, presente em 97% dos casos ● Pode ser assimétrico ou lobular, com volume variável ● Em alguns pacientes, há frêmito e sobre a glândula, produzidos por aumento do fluxo sanguíneo, sendo esse achado exclusivo da doença ● Qualquer paciente com bócio difuso e hipertireoidismo tem Doença de Graves até que se prove ao contrário → comprovar pedindo o marcador de autoimunidade OFTALMOPATIA INFILTRATIVA: ● Tem a mesma etiopatogenia auto-imune do hipertireoidismo da DG ● Os anticorpos reagem provocando auto-agressão intraorbitária ● Pode preceder (20%), suceder (40%) ou surgir concomitantemente (40%) com o hipertireoidismo 3 Júlia Camargos ● Clinicamente evidente em 50% dos casos ● Aumento do volume do tecido retro-bulbar (manifestações clínicas) ● Se essa condição clínica está presente o tratamento do hipertireoidismo de graves pode piorar a exoftalmopatia ● Acompanhamento com oftalmologista Clínica: ● Irritação, dor e ardor nos olhos, lacrimejamento, sensação de areia nos olhos, retração e atraso palpebral (lid-lag). ● Edema e inflamação Peri orbitária, exoftalmo (proptose 1/3 dos casos) ● Diplopia 5 a 10% dos casos, perda visual por compressão do nervo óptico (rara) MIXEDEMA PRÉ-TIBIAL: ● Acomete 5 a 10% dos casos ● Quase sempre associada a oftalmopatia infiltrativa e a títulos elevados de TRAb ● Espessamento da pele, particularmente na área pré-tibial, devido ao acúmulo de glicosaminoglicanas ● Lesões em placas espessas, com aspecto casca de laranja e coloração violácea DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: ● O paciente pode ter clinica ou não ● Função tireoidiana: TSH baixo, associado a elevação do T3 total e T4 livre, ocasionalmente apenas o T3T estar elevado (mais comum na fase inicial da doença). Se T3T e T4L normais, caracteriza o hipertireoidismo subclínico ● Anticorpos antitireoidianos: anti Tg e anti TPO presentes mas em títulos mais baixos que na tireoidite de Hashimoto; anti TRAb é específica indicando doença ativa e presente de 70 a 100% dos casos ● Captação de Iodo Radioativo nas 24hs: elevada em 100% dos casos de DG e é utilizado para diferenciar casos de tireotoxicose secundária a tireoidite subaguda linfocítica e tireoidite pós-parto ○ diferença entre uma doença autoimune que está causando uma hiperfunção da glândula OU uma inflamação da glândula que está causando destruição do tecido glandular ○ Consegue diferenciar a doença de graves da tireoidite: 4 Júlia Camargos ■ Doença de graves (autoimune) → anticorpo estimulando receptor de TSH → faz a tireoide trabalhar mais → alta captação de iodo radioativo ■ Tireoidite → hipertireoidismo: excesso de hormônio tireoidiano devido a destruição do tecido tireoidiano → baixa captação de iodo (praticamente zero) ● Alterações hematológicas e bioquímicas: leucopenia (comum), hipercalciúria e hipercalcemia, hiperbilirrubinemia, redução do colesterol total e das frações ● Cintilografia tireoidiana: identifica nódulos quentes ou frios ● Biópsia de aspiração com agulha fina: indicada para nódulos hipocaptantes à cintilografia TRATAMENTO DA DOENÇA DE GRAVES/HIPERTIREOIDISMO: ● Opções terapêuticas disponíveis: Drogas anti-tireoidianas, Iodo radioativo (glândula vai absorver e vai matar a tireoide) ou cirurgia (tireoidectomia parcial ou total) ● Escolhas das modalidades terapêuticas: ○ Idade do paciente; ○ Severidade do hipertireoidismo; ○ Presença de comorbidades; ○ Situações especiais (Gravidez, experiência médica, escolha do paciente) ■ Iodo radioativo é contraindicado emgestantes Tratamento da Doença de Graves: No Brasil: tratamento clínico com drogas antitireoidianas, depois o iodo e depois a cirurgia ● Drogas anti-tiroidianas: Drogas que inibem a organificação do Iodo e o Acoplamento das Iodotirosinas (Tionamidas) ○ Propiltiouracil (PTU) ○ Metimazol (Tapazol): o mais usado ○ Carbimazol: nao tem no Brasil TIONAMINAS: ● São as drogas de primeira linha para o tratamento clínico do hipertireoidismo ● Inibem a síntese dos HT, por interferirem na utilização do iodeto intra-tiroidiano (organificação) e na reação de acoplamento das iodotirosinas, ambas catalisadas pela peroxidase tiroidiana ● Bloqueia a transformação do T4 em T3 (PTU) ● Efeitos imunossupressivos e diminuição da infiltração linfocítica tireoidiana ● Contra indicação: Hemograma com < 500 neutrófilos e/ou transaminases > 5 x o Limite Superior da Normalidade ○ Pacientes em uso de tionaminas podem cursar com granulocitose ou com hepatotoxicidade 5 Júlia Camargos → Gravidez: primeiro trimestre usar Propilitouracil. Depois do 1º trimestre Tapazol (Metimazol) → Tapazol tem disponível em dose única (comodidade). Propiltiouracil comprimidos de 100mg até 3x ao dia (dar fracionado) Efeitos colaterais das tionamidas: ● Comuns: Manifestação cutânea (rush, prurido, urticária); Granulocitopenia transitória; Perda de cabelos ○ Orientar o paciente: se ele tiver dor de garganta, febre e icterícia → interromper o tratamento e voltar no consultório ■ Sinais de granulocitose ou hepatotoxicidade ● Menos comuns: Febre, Artralgias ● Raros: Manifestações gastrintestinais; Perda da sensação do gosto e anosmia; Sialadenite; Poliartrite Severa; Agranulocitose ● Muito raros: Anemia Aplástica, Trombocitopenia, Hepatite tóxica (PTU), Hepatite Colestática ( MMI), Vasculites, LES – like, Hipoprotrombinemia (PTU), Hipoglicemia (devida a anticorpo antiinsulina – MMI) Indicações: ● Terapia primária do hipertireoidismo com objetivo de controlar sintomas até que ocorra remissão da doença ● Controle do hipertireoidismo anterior ao tratamento ablativo com cirurgia ou radioiodo (deve ser descontinuado o uso de 7 a 14 dias antes do radioiodo, podendo ser reintroduzido após 7 dias se necessário) ● Tratamento primário em crianças, adolescente e adulto jovem com bócio pequeno e hipertireoidismo leve Esquema de Tratamento com Tionamidas: ● Tireotoxicose leve – moderada: MMI 20 – 30mg/dia dose única ou PTU 100mg 3x ao dia (300mg/dia) ● Avaliação da função tiroidiana: 4 a 6 semanas (6 meses) ● Eutiroidismo alcançado até 6 a 12 semanas de tratamento e manter por 1 ano ou 1 ano e meio → ir tirando a medicação para verificar se o paciente curou da doença de graves (mantém o eutiroidismo) ○ se o paciente tiver vários episódios de descompensação (hipertireoidismo): iodoterapia → paciente desenvolve hipotireodismo ● TSH não utilizado na avaliação inicial do eutiroidismo 6 Júlia Camargos ● Redução da dose da Tionamida a metade após atingir eutiroidismo (evitar hipotireoidismo) ● Na tireotoxicose com predominância de T3 (T4 normal baixa a dose de Tionamida deve ser dobrada até atingir o eutiroidismo) ● A descontinuação do tratamento é feita após 1 ou 2 anos de terapia, com redução gradual e monitoração mensal da função tiroidiana até a retirada da droga ● Após suspensão da droga a função tiroidiana deve ser monitorada de 4 – 6 semanas nos primeiros 6 meses. Após de 2 – 3 meses e posteriormente a cada 6 meses ● Recidiva geralmente nos primeiros 6 meses ● Remissão: 1 ano em eutiroidismo após a retirada da droga (50% dos casos). A taxa de remissão aumenta para 70 – 90% se bócio pequeno e tireotoxicose leve ● Baixa taxa de remissão: 1) Bócio grande; 2) Tireotoxicose severa (T3 > 900 ng/dl); 3) Tireotoxicose por T3 durante o tratamento; 4) Relação T3/T4 > 20 (T3 ng/dl > T4 mcg/dl) ● Hipotireoidismo: 20% dos casos (destruição auto-imune da tireóide ou presença de anticorpos bloqueadores do receptor da tireóide) Drogas que inibem os efeitos dos HT nos tecidos periféricos: → precisamos fazer o tratamento da sintomatologia do paciente também: ● Antagonistas beta-adrenérgicos (Propranolol, Atenolol, Metoprolol, Nadolol):melhora a taquicardia, agitação do paciente e diminui a produção dos hormônios tireoidianos ● Antagonistas dos canais de cálcio ( Verapamil e Diltiazem): em pacientes que nao podem fazer uso de beta bloquador ● Alívio dos sintomas enquanto se esperam os efeitos das drogas anti-tiroidianas ou os resultados da terapia ablativa com iodo radioativo, e no preparo dos pacientes para cirurgia ● Agem diminuindo os sintomas de tremor palpitação, ansiedade e intolerância ao calor ● Doses: Propranolol: 80 – 160 mg/dia dividido de 6/6 horas; Atenolol: 50 – 200mg/dia; Nadolol: 40 – 80mg/dia TRATAMENTO COM IODO RADIOATIVO: ● A destruição dos folículos causa liberação de grandes quantidades de HT armazenados no colóide para circulação sanguínea podendo causar exacerbação da tireotoxicose ● Indicações da Iodoterapia ○ Idosos com Doença de Graves. ○ Tratamento de primeira linha em adultos com Doença de Graves no USA. ○ Recidivas dos pacientes tratados anteriormente com Tionamidas. ○ Efeitos colaterais graves ao uso das Tionamidas. ○ Recidivas após tratamento cirúrgico. ● Contra-indicação da Iodoterapia: Gravidez Doses Terapêuticas ● DOSE = PESO (g) X 150 – 200 mCi / Captação tiroidiana de 24 h (%) ● DOSE = 10 – 30 mCi baseado no tamanho da tireóide ● Após 6 – 8 semanas 50 – 75% dos pacientes tem função tiroidiana normal 7 Júlia Camargos ● 80 – 90% tornam-se eutiroidianos com uma única dose de iodo ● 10 – 20% requerem segunda dose de iodo. No intervalo entre doses é de 6 – 12 meses ● Obs-1: Idosos com co-morbidades, tirotoxicose severa, bócio grande (>100g) devem fazer 3 meses de tratamento com MMI para alcançar eutiroidismo ● Obs-2: Na oftalmopatia de Graves severa deve ser ministrado prednisona 40 – 60 mg, 1 mês antes da iodoterapia, e continuação com a mesma dose por 1 mês após iodoterapia, com retirada progressiva nos próximos 2 meses Complicações da Iodoterapia: ● Hipotireoidismo: 20% dos casos após 1 ano de tratamento. Daí em diante taxa de 2 – 3% ao ano ● Câncer (controverso) risco muito baixo ● Exacerbação da oftalmopatia de Graves (forma severa). Usar corticóide profilático TRATAMENTO CIRÚRGICO: ● Tireoidectomia Subtotal (remoção de mais da metade de cada lobo da tireóide + istmo). Remanescente de 2–3g ● Tireoidectomia Quase total (remoção de um lobo da tireóide + istmo e parte do outro lobo da tireóide, deixando de menos de 10% do lado lateroposterior Indicações: ● Tratamento definitivo de paciente com bócios grandes, de difícil remissão, sem doença grave associada (ICC, doença coronariana, pneumopatia grave, IRC) e com sintomas compressivos ● Paciente com doença de Graves com nódulo suspeito de malignidade na PAAF ● Pacientes que necessitam de tratamento definitivo após crise tirotóxica, os quais, durante o tratamento de crise tirotóxica, receberam terapia com contraste iodados ● Pacientes que queiram Conduta Pré-operatória: ● Terapia com Tionamida: 1 - 3 meses (eutiroidismo) ● Terapia com Iodo inorgânico ( ↓ vascularidade, glândula firme) + Tionamidas até o dia da cirurgia. Complicações: ● Transitórias (Intra e Pós-operatório imediato) ○ Hemorragia (hematoma) ○ Hipocalcemia: Lesão traumática ou isquêmica das paratireoides e “síndrome do osso faminto” da osteodistrofia tireotóxica. ● Permanentes: ○ Hipotireoidismo (mais comum): 12 - 80% dos pacientes no 1º ano, posteriormente, 1 - 3% por ano ○ Obs: 5-15% dos casos permanece com hipertireoidismo; Recidiva do hipertireoidismo de 5 -10% após 5 anos e 40% após 30 ano ○ Hipoparatireoidismo permanente: 1 - 2% dos pacientes operados ○ Lesão do nervo laríngeo recorrente ○ Formação de quelóide 8
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