HIPERTIREOIDISMO Doença secundária ao aumento de hormônio tireoidiano no corpo. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O CONCEITOS FUNDAMENTAIS • Tireotoxicose: Excesso de hormônio tireoidiano, proveniente de qualquer tecido. • Hipertireoidismo: Excesso de hormônio tireoidia- no proveniente da tireoide. • Crise tireotóxica: Síndrome clínica caracterizada por hormônio tireoidiano em excesso. CLASSIFICAÇÃO ETIOLÓGICA *A doença de Graves é a principal causa de hipertireoidismo em nosso meio (60-90%)! DOENÇA DE GRAVES DEFINIÇÃO: A doença de Graves (ou Basedow-Graves ou Bócio Difuso Tóxico) é uma desordem autoimune, de etiologia desconhecida, que apresenta como marco a síntese e secreção excessiva de hormônios tireoidianos. INTRODUÇÃO • Prevalência nos EUA: 1,2%! (0,5% clínico e 0,7 sub) • Mais comum no sexo feminino: 5 a 10 vezes, na faixa etária média dos 20 aos 40 anos. • Forte predisposição familiar • Fatores ambientais: Tabagismo, estresse podem influenciar negativamente na doença. PATOGÊNESE • Linfócitos B sintetizam autoanticorpos “contra” receptores de TSH na superfície da membrana folicular da tireoide: Chamamos esse anticorpo de anticorpo antirreceptor de TSH estimulante (TRAb) • O anticorpo se conecta no receptor, estimulando sua função e aumentando o volume: Justificando o hipertireoidismo. • Anti-TPO: Presente em 80% dos casos, é uma espécie de marcador da doença tireoidiana auto- imune, presente em 95% dos casos de tireoidite de Hashimoto. PATOLOGIA • Glândula tireoidiana simetricamente aumentada • Superpopulação de células foliculares: Que fazem uma protusão em forma de papila para o lúmen do folículo. • Aumento significativo de tecido linfoide no estro- ma interfolicular FATORES DE RISCO • Genética: Subtipos de HLA, gene CTLA-4 e tirosino fosfatase dos linfócitos. • Infecção: Aquele mesmo mecanismo de infecção que produz anticorpos e depois esses anticorpos reagem com moléculas do indivíduo. • Estresse: Surge ou se torna evidente após episódi- os de estresse agudo. As teorias sugerem que o estresse leva a um quadro de imunodepressão, e aí dá abertura para a manifestação da doença. • Gênero feminino: 7-10 mulheres para 1 homem. • Gravidez: É incomum, pois a doença está associada à redução da fertilidade, mas quando ocorre há maior risco de aborto e complicações. Como a gestação leva a uma “imunodepressão”, o paciente geralmente melhora do quadro e piora pós-parto. • Iodo e medicamentos: O uso de medicamentos baseados em iodo pode lesar as células tireoidia- nas, que liberam antígenos que favorecem a formação de anticorpos. QUADRO CLÍNICO TIREOTOXICOSE EM GERAL • História de longa data de sintomas decorrentes do aumento do metabolismo (T3 e T4) e β-recepto- res: CRISE ADRENÉRGICA → “LUTA E FUGA” o Insônia, agitação psicomotora o Cansaço extremo o Incapacidade de concentração o Nervosismo o Dificuldade em controlar emoções, agressividade com a família e amigos o Sudorese excessiva, intolerância ao calor o Amenorreia ou oligomenorreia o Perda ponderal o Hiperdefecação: Aumento no número de evacuações diárias • Ao exame físico: o Pele quente e úmida o Tremor fino e sustentado o Queda capilar o Oftalmológicos: Retração palpebral, olhar fixo e brilhante e piscar frequente. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O o Cardiovascular: Hipertensão sistólica, pressão de pulso alargada (PA divergente) e taquicardia sinusal. *Hipertireoidismo apatético: Tireotoxicose em alguns idosos, as manifestações adrenérgicas (agitação, nervosismo) estão ausentes, o paciente refere astenia, fraqueza muscular intensa e depressão grave. O surgimento de outras alterações cardiovasculares (como FA e ICC refratária) pode acontecer. QUADRO CLÍNICO ESPECÍFICO: DOENÇA DE GRAVES • Bócio: Difuso e simétrico à palpação, presente em 97% dos casos (ausente em até 20% dos idosos). Podemos observar, em alguns, sopro e frêmito sobre a glândula, devido ao aumento da vasculari- zação local. Fáscies Basedowiana • Oftalmopatia de Graves (Infiltrativa): 20-40% dos casos, com curso clínico independente do hiperti- reoidismo. Se manifesta por exoftalmia ou propto- se bilateral, olhar fixo, retração palpebral (levando à exposição da esclera acima da margem superior do limbo), edema e hiperemia conjuntival. o O tabagismo é um fator clássico de piora da oftalmopatia o Pode ocorrer em indivíduos sem hiperti- reoidismo o Se for unilateral, tem que pedir TC: Descartar outras causas para o quadro. TIPOS DE OFTALMOPATIA DE GRAVES • Tipo 1: Mulheres jovens, proptose simétrica, limi- tação mínima da motilidade ocular, sem inflama- ção e TC revelando aumento da gordura orbitária. • Tipo 2: Também mulheres, miopatia restritiva com diplopia e proptose assimétrica, a TC revela alarga- mento dos músculos extraoculares sem alteração da gordura orbitária. ESCALA DE GRAVIDADE DA OFTALMOPATIA • Grau 0: Sem sinais ou sintomas. • Grau 1: Somente sinais, sem sintomas. (Sinais: retração palpebral superior, olhar fixo, lid lag e proptose de até 22 mm) • Grau 2: Edema periorbitário (sinais e sintomas). • Grau 3: Proptose ou exoftalmia > 22 mm • Grau 4: Diplopia. • Grau 5: Lesão de córnea. • Grau 6: Perda da acuidade visual (comprometi- mento do nervo óptico). EXAMES DE IMAGEM • USG de órbita: Útil, de baixo custo, pode mostrar espessamento, porém é operador-dependente. • TC de órbitas: Importante no diagnóstico diferen- cial de outras causas de proptose, além de permi- tir avaliação do espessamento muscular, volume da gordura orbitária, mas libera radiação, sendo um fator de risco para catarata. • RM: Completo, igual a TC, com o acréscimo de conseguir diferenciar fase ativa/inativa da dç. OUTROS SINTOMAS DE GRAVES • Dermopatia: Menos de 5% dos pacientes, o paciente cursa com um mixedema pré-tibial com espessamento de pele. • Acropatia: Muito raro! Menos de 1% dos casos cursa com baqueteamento digital. V I N I C I U S D A S I L V A S A N T O S - M E D I C I N A - U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E P E R N A M B U C O ALTERAÇÕES DA FUNÇÃO TIREOIDIANA • TSH suprimido ou < 0,1: Normal 0,5-5. Se o TSH estiver suprimido, chamamos de hipertireoidismo subclínico. • Elevação de T3, T4, T3 livre e T4 livre • Para o diagnóstico → TSH suprimido + T4 Livre aumentado ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS E BIOQUÍMICAS • Leucopenia: Achado comum! • Hipercalciúria e hipercalcemia: Ocasionais! • Hiperbilirrubinemia: Casos mais graves. AUTO ANTICORPOS • Anti-TPO: Elevado em 80% dos casos! • TRAb: Antirreceptor do TSH, característico da Doença de Graves! • Quando solicitar pesquisa de anticorpos? *Nódulo tireoidiano na Doença de Graves? Se o paciente apresentar um nódulo, ele não está associado com a doença, e deve ser interpretado como um nódulo isolado a esclarecer. DIAGNÓSTICO: CLÍNICA + LABORATÓRIO + IMAGEM • Clínica: O clássico é a tireotoxicose + bócio +/- oftalmopatia. o Se dúvida → TRAb: Positivo = Graves. • Laboratório: TSH + T4L +/- T3 total. SEMPRE TEM QUE TER TSH SUPRIMIDO PARA SER GRAVES! o TSH e T4L alto: Hipertireoidismo clássico! o TSH , T4Ln e T3 alto: T3toxicose, pode ser uma fase inicial da doença de Graves. o TSH , T4L e T3 normais: Hipertireoidismo subclínico. • Imagem: USG de tireoide! Importante para afastar a causa neoplásica. o Sem nódulos: Doença de Graves clássica. o Com nódulo: Pode ser BMT, doença de Plummer, Adenoma. ▪ Se nódulo → RAIU/Cintilografia: São duas etapas do mesmo exame. RAIU: Entrega o percentual de iodo absorvido pela glândula