Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
0 OBJETIVO 1. DESCREVER AS FASES DO PROCESSO DE DIVISÃO CELULAR POR MITOSE, IDENTIFICANDO OS PONTOS E MECANISMOS DE REGULAÇÃO, ALÉM DOS FATORES QUE INTERFEREM NA REGULAÇÃO DA DIVISÃO CELULAR. Os eventos celulares e bioquímicos responsáveis pela geração de duas células filhas, a partir de uma célula-mãe, são conhecidos como ciclo celular. A divisão celular e a geração de novas células são fundamentais para diversos processos celulares, tais como: o desenvolvimento embrionário; o crescimento do organismo; a regeneração ou a renovação tecidual; a reprodução assexuada, e a formação de gametas. O ciclo celular da maioria das células eucarióticas passa por uma sequência comum de eventos: crescimento celular; replicação do material genético (DNA); distribuição do material genético para as células filhas (cromossomos); e divisão celular (citocinese). O ciclo celular é dividido em duas fases distintas: interfase e mitose. Cada uma destas fases apresenta características morfológicas e bioquímicas típicas. Tanto a interfase quanto a mitose são divididas em subfases: A interfase é dividida em três subfases: G1, S e G2. A mitose é dividida em prófase, pró- metáfase, metáfase, anáfase e telófase (figura 8.1). O estado quiescente, no qual uma célula não está em processo de divisão celular, é denominado G0. Uma célula ao completar a passagem por todas as etapas que constituem o ciclo celular irá ter gerado uma nova célula. Com o término de G2, a interfase finaliza e inicia-se a mitose propriamente dita. Na mitose é gerada uma cópia idêntica à célula mãe, tanto estruturalmente, quanto geneticamente e funcionalmente. A mitose é a fase que compreende a divisão do núcleo celular e do citoplasma (Citocinese). Em comparação com a interfase, a fase M é extremamente curta, com duração aproximada de uma hora; entretanto, diversas modificações e acontecimentos importantes são representados em suas subfases. PRÓFASE A entrada na mitose é marcada pelo início da condensação da cromatina e pela degradação do envoltório nuclear, da carioteca, e do nucléolo. Além disso, ocorre a migração dos centríolos para polos opostos da célula e irradiação dos microtubulos de tubulina que se fixam nos cromossomos e os direcionam para a placa equatorial. PRÓMETAFSE A prometáfase é uma etapa que não é um consenso entre os autores então pode não aparecer sempre. Para os que consideram a SP1 “Eu sempre fui só de você...” prometáfase, ela representa o fim da prófase e o início da metáfase. Nessa etapa é vista a chegada dos centrossomos nos polos opostos da célula e a desintegração completa da membrana nuclear. A desintegração da carioteca acontece em decorrência da fosforilação de proteínas que compõem a membrana e dos poros nucleares. Todas essas fosforilações desestabilizam a estrutura do núcleo e esse se fragmenta em vesículas. Com a desintegração da membrana do núcleo não há mais a separação entre o núcleo e o citoplasma e assim os microtúbulos que estão sendo polimerizados e estão formando o fuso mitótico no citosol, podem se ligar aos cromossomos. No entanto, os cromossomos não ficam aguardando essa nucleação dos microtúbulos de forma passiva, eles também promovem essa nucleação ao redor deles ao levar a ativação de proteínas da família RAN GTPase, uma vez que na própria cromatina há um fator de troca do nucleotídeo guanina (GEF) que vão promover nessas proteínas a troca de GDP por GTP. Uma vez ativadas, as proteínas RAN GTPases liberam proteínas estabilizadoras de microtúbulos de complexos proteicos no citosol. Com todos esses estímulos, os microtúbulos se conectam aos cromossomos na região do cinetócoro, presente em cada uma das cromátides-irmãs. A prometáfase então é finalizada com os cromossomos sendo conectados ao fuso mitótico. METÁFASE Na metáfase, o evento marcante é o alinhamento de todos os cromossomos que já se encontram conectados ao fuso na região equatorial da célula, formando a placa metafásica. Nesse momento, é possível visualizar a importância da ação do cinetocoro (região vermelha na figura a seguir) sobre a conexão dos microtúbulos aos cromossomos. A placa só é formada depois que todos os cromossomos estão corretamente ligados ao fuso mitótico. A conexão correta se dá pela ligação dos microtúbulos polimerizados por cada um dos centrossomos às cromátides-irmãs mais próximas de cada polo. Dessa forma, cada cromátide-irmã, de todos os cromossomos duplicados, se conecta a um dos polos. O cinetocoro consegue detectar se a conexão foi realizada corretamente através do reconhecimento da tensão equilibrada que é gerada por essa conexão. Caso uma das cromátides seja ligada aos dois polos ao mesmo tempo, ou somente uma cromátide seja conectada ou ainda as duas cromátides-irmãs sejam ligadas ao mesmo polo do fuso, a tensão gerada no cinetocoro não é bidirecional e equilibrada e ao ser detectada essa falha, o cinetocoro estimula a despolimerização desses microtúbulos e assim a polimerização pode ser refeita e corrigida. Quando a conexão é feita de forma correta entre o fuso e o cinetócoro há a intensificação dessa polimerização dos microtúbulos afim de reforçar essa ligação e preparar essa estrutura para a separação que está por vir na próxima fase. Cabe destacar que o fuso mitótico é formado por 3 tipos de microtúbulos: Interpolares, Astrais e do cinetocoro. Os microtúbulos astrais são responsáveis pelo ancoramento e estabilização da estrutura do fuso, através da conexão ao córtex celular. Os interpolares são aqueles que vão manter o formato do fuso e a união dos dois polos; os microtúbulos do cinetocoro irão ser os O cinetocoro é um grande complexo de proteínas que não só são sítios de ligação desses microtúbulos como vão determinar a ligação correta desses microtúbulos aos cromossomos responsáveis por conectar o fuso aos cromossomos. A metáfase a é o último ponto de regulagem do ciclo celular, conhecido como ponto de checagem M. Deste modo, caso os cromossomos não apresentem compactação completa, não se localizem na placa equatorial ou mesmo se as fibras do fuso não estiverem aderidas aos respectivos centrômeros, o ciclo celular é interrompido até que haja a correção do problema, o que permite assegurar que as novas células tenham a mesma quantidade de cromossomos. ANÁFASE A anáfase tem seu início com a segregação das cromátides irmãs e migração das organelas para polos opostos. Caso as cromátides irmãs estejam devidamente alinhadas no plano equatorial da célula, um complexo proteico, denominado Complexo Promotor da Anáfase, será ativado. Este complexo é responsável pela degradação das coesinas, e consequente separação das cromátides irmãs, além de induzir a degradação proteolítica da ciclina B, dando início ao processo de inativação do complexo ciclina B/cdk1. A partir dessa separação começa a movimentação em todo o fuso mitótico para permitir que essas cromátides cheguem aos polos opostos do fuso. Mas além disso é observado o encurtamento dos microtúbulos do cinetocoro através da despolimerização de tubulinas e consequentemente os cromossomos são “puxados” para os centrossomos nos polos aos quais estavam conectados na metáfase. Assim, no final da anáfase, os cromossomos duplicados na fase S estão dispostos nos polos opostos da célula. Cada extremidade celular, contém, assim, uma cópia idêntica do material genético da célula mãe. TELÓFASE Durante a telófase, o envelope nuclear é reorganizado, o fuso mitótico é desfeito e os cromossomos são descondensados a partir da inativação das condensinas e, por fim, o nucléolo é reorganizado, restabelecendo as feiçõesoriginais do núcleo interfásico. A divisão celular termina, no entanto, com a divisão do citoplasma em um processo conhecido como citocinese. A citocinese tem início na anáfase, terminando na telófase. Em células animais, um anel contráctil formado por filamentos de actina e miosina é responsável pela compressão da membrana plasmática de forma a gerar as duas células filhas. O padrão de citocinese nas células animais é chamado de centrípeta, pois ocorre de fora para dentro da célula. Inicialmente, vesículas oriundas do complexo golgiense se alinham no meio da célula formando uma estrutura denominada placa celular, que com o auxílio do fragmoplasto se projeta em direção à superfície celular, levando à divisão da célula e à formação das duas células filhas. Não é necessário que ocorra citocinese, a duplicação da célula já ocorreu e caso não ocorra a citocinese a consequência é somente que a célula será multinucleada, como é observado em algumas células, como nos megacariócitos. Sistema de Controle A progressão através do ciclo é um processo que apresenta um sistema de controle robusto e redundante para garantir que todo esse processo ocorra corretamente. Dessa forma ele garante que o DNA só seja duplicado uma vez, que uma etapa só inicie quando os processos que a antecedem tenham ocorrido, e que a célula só entre no ciclo celular quando houver sinalização adequada para estimular sua divisão. Portanto, esse sistema ocorre ao longo de todo o percurso e é exercido através da ação de diversas proteínas, mas alguns complexos proteicos vão atuar como centrais nesse controle. Esse protagonismo é dividido principalmente entre os complexos formados pelas cinases dependentes de ciclina (CDKs) e suas ciclinas e o complexo promotor da anáfase ou ciclossomo (APC/C). Esses complexos atuam de forma similares, mas não iguais, os complexos de ciclinas-CDK irão atuar através da fosforilação de proteínas alvo resultando na ativação delas, enquanto o APC/C, irá atuar sobre seus substratos proteicos através da ubiquitinação, e com isso os leva a degradação no proteossomo. Na maior parte das células eucariotas, esses complexos vão apresentar controle da progressão do ciclo em três momentos, os quais são chamados de checkpoints, também conhecido por ponto de restrição ou ponto de checagem. Ao longo do ciclo ocorrem três checkpoints (os dois primeiros na interfase). O terceiro e último checkpoint ocorre no meio da fase M (entre metáfase e anáfase), a célula se certifica de que todos os cromossomos que foram duplicados estão corretamente ligados ao fuso mitótico. Não havendo erros, a célula progride pelo ciclo; caso algo de errado seja detectado, a célula pode ter o ciclo interrompido. Outro ponto importante para garantia do sucesso da duplicação da célula é que ela consiga reconhecer danos no seu DNA e não permita que esses sejam passados para geração futura. Danos podem ocorrer por reações químicas espontâneas na molécula de DNA, como resultado de agentes físicos ou até por erro no processo de replicação. Independente de qual seja a origem do erro, esse irá ativar cinases (ATM e ATR) que vão disparar uma via de sinalização que resulta na estabilização da p53, promovendo a expressão a p21. A proteína p21 que é uma inibidora (CKI) dos complexos G/S-CDK e S-CDK irá interromper a replicação desse DNA que apresenta erro e dar tempo para que a célula repare esse dano. Mas, se o dano for muito extenso e não seja possível repará-lo, a p53 irá direcionar a célula para morte por apoptose. A p53 trabalha em vários níveis para garantir que as células não transmitam seu DNA danificado através da divisão celular. Primeiro, ela para o ciclo celular no ponto de checagem G desencadeando a produção de proteínas inibidoras de Cdk (CKI). As proteínas CKI se ligam aos complexos Cdk- ciclinas e bloqueiam sua atividade (ver diagrama abaixo), ganhando tempo para o reparo do DNA. A segunda função da p53 é ativar as enzimas de reparo do DNA. Se o dano ao DNA não é reparável, a p53 vai desempenhar sua terceira e última função: ativar a morte celular programada para que o DNA danificado não seja transmitido. Há ainda um controle do número de vezes que uma célula irá se dividir ao longo da vida. Ao atingir esse número a célula para de se dividir de forma permanente e entra no estado chamado de senescência celular replicativa. Tala fato está relacionado aos telômeros que são sequências de DNA repetitivos encontrados na extremidade dos cromossomos. Quando uma célula duplica seu DNA, o telômero não é duplicado da mesma forma. Eles são duplicados pela ação da enzima telomerase, a qual também é responsável pela produção de uma capa proteica protetora dos telômeros. Sendo assim, à medida que a célula se divide o telômero é encurtado e em um determinado momento essa porção exposta e encurtada do DNA é reconhecida pela maquinaria de dano do DNA e o ciclo celular é bloqueado, pela via da p53. Os fatores que interferem na regulagem da divisão celular. Perceba que o ciclo celular é perfeitamente regulado, está sob controle de diversos genes e o resultado é a produção e diferenciação das células componentes dos diferentes tecidos do organismo. Os pontos de checagem correspondem, assim, a mecanismos que impedem a formação de células anômalas. A origem das células cancerosas está associada a anomalias na regulação do ciclo celular e à perda de controle da mitose. Alterações do funcionamento de genes controladores do ciclo celular, em decorrência de mutações, são relacionados ao surgimento de um câncer. Duas classes de genes, os proto-onco-genes e os genes supressores de tumor são os mais diretamente relacionados à regulação do ciclo celular. Os proto- oncogenes são responsáveis pela produção de proteínas que atuam na estimulação do ciclo celular, enquanto os genes supressores de tumor são responsáveis pela produção de proteínas que atuam inibindo o ciclo celular. Ao garantir que as células não se dividam quando há dano em seu DNA, a proteína p53 previne que mutações (mudanças no DNA) sejam passadas às células filhas. Quando a p53 está defeituosa ou faltando, as mutações podem se acumular rapidamente, potencialmente levando ao câncer. Na verdade, de todo o genoma humano, p53 é o gene mutado com maior frequência em cânceres. Mutações em p53 constituem o tipo de alteração genética mais frequente no desenvolvimento do fenótipo tumoral, sendo encontrada em mais de 50% de todos os tipos de tumores humanos. Os outros 50%, sofrem alterações que afetam a atividade de p53 através de mecanismos indiretos que levam a destabilização de p53 e aumentam a probabilidade de formação de tumores Os componentes centrais do sistema de controle do ciclo celular são membros de uma família de cinases conhecidas como cinases dependentes de ciclinas (Cdks; do inglês, cyclin-dependent kinases). As atividades dessas cinases aumentam e diminuem à medida que a célula avança no ciclo, levando a mudanças cíclicas na fosforilação de proteínas intracelulares que iniciam ou regulam os principais eventos do ciclo celula OBJETIVO 2. COMPREENDER A DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA DE NEOPLASIA, RELACIONANDO-A À PERDA DO CONTROLE DA MULTIPLICAÇÃO CELULAR, ALÉM DE DIFERENCIÁ-LA DE DISPLASIA. Neoplasia Neoplasia literalmente significa “novo crescimento”. Diz-se que células neoplásicas são transformadas porque continuam a se replicar, aparentemente “desatentas” às influências regulatórias que controlam o crescimento celular normal. As neoplasias, portanto, desfrutam de certo grau de autonomia e tendem a aumentar de tamanho independentemente de seu ambiente local. Sua autonomia,porém, não é absolutamente completa. Algumas neoplasias requerem suporte endócrino, e tais dependências algumas vezes podem ser exploradas terapeuticamente. Todas as neoplasias dependem do hospedeiro para sua nutrição e suprimento sanguíneo. No uso médico comum, geralmente uma neoplasia é referida como tumor, e o estudo dos tumores é chamado de oncologia (de oncos, “tumor”, e logos, “estudo de”). Entre os tumores, a divisão de neoplasias em categorias benigna e maligna baseia-se no julgamento do comportamento clínico potencial de um tumor. Diz-se que um tumor é benigno quando suas características micro e macroscópicas são consideradas relativamente inocentes, indicando que permanecerá localizado, e é tratável com a remoção cirúrgica; geralmente o paciente sobrevive. Note-se, porém, que os tumores benignos podem produzir mais do que massas localizadas e, algumas vezes, são responsáveis por doença grave. Os tumores malignos são coletivamente referidos como cânceres, termo derivado da palavra em latim “caranguejo” — ou seja, eles aderem a qualquer parte onde se agarram e de maneira obstinada, semelhante ao comportamento do caranguejo. O termo maligno aplica-se a uma neoplasia indicando que a lesão pode invadir e destruir estruturas adjacentes e disseminar-se para locais distantes (metástases) para causar morte. Nem todos os cânceres prosseguem em um curso tão mortal. Os mais agressivos também são alguns dos mais curáveis, mas a designação maligno constitui uma bandeira vermelha. Todos os tumores, benignos e malignos, têm dois componentes básicos: (1) o parênquima, constituído por células neoplásicas ou transformadas, e (2) o estroma, constituído por tecido conectivo, vasos sanguíneos e células inflamatórias derivadas do hospedeiro. O parênquima da neoplasia determina principalmente o seu comportamento biológico, e é desse componente que deriva o seu nome. O estroma é crucial para o crescimento da neoplasia, uma vez que contém o suprimento sanguíneo e dá suporte ao crescimento das células parenquimatosas. Embora o comportamento biológico dos tumores reflita principalmente o comportamento das células parenquimatosas, existe uma percepção crescente de que as células estromais e as neoplásicas mantêm uma “conversação” em mão dupla que influencia o crescimento do tumor. Tumores Benignos Em geral, a designação dos tumores benignos é feita acrescentando-se o sufixo -oma ao tipo celular do qual eles surgem. Um tumor benigno que surge em tecido fibroso é um fibroma; um tumor benigno cartilaginoso é um condroma. A nomenclatura dos tumores epiteliais benignos é mais complexa. Eles são classificados, algumas vezes, com base em seu padrão microscópico e, em outras ocasiões, com base em seu padrão macroscópico. Outros são classificados por suas células de origem. Por exemplo, o termo adenoma é aplicado geralmente a neoplasias benignas epiteliais, que produzem padrões glandulares, e a neoplasias derivadas de glândulas, mas que não mostram necessariamente padrões glandulares. Uma neoplasia epitelial benigna que surge das células tubulares renais e cresce em padrões do tipo glandular é denominada adenoma, como também é uma massa de células epiteliais benignas que não produz padrões glandulares, mas tem sua origem no córtex suprarrenal. Os papilomas são neoplasias epiteliais benignas, que crescem em qualquer superfície, produzem frondes micro ou macroscópicas semelhantes a dedos. Um pólipo é uma massa que se projeta acima de uma superfície mucosa, como no intestino, para formar uma estrutura macroscopicamente visível. Embora seja um termo usado com frequência para tumores benignos, alguns tumores malignos também podem crescer como pólipos, enquanto outros pólipos (como os pólipos nasais) não são neoplásicos, mas têm origem inflamatória. Cistadenomas são massas císticas ocas que surgem tipicamente no ovário. Tumores malignos A nomenclatura dos tumores malignos segue essencialmente a dos tumores benignos, com certos acréscimos e exceções. • Neoplasias malignas que surgem em tecidos mesenquimais “sólidos” ou seus derivados são chamadas de sarcomas, enquanto aquelas surgidas de células mesenquimais sanguíneas são chamadas de leucemias ou linfomas. Os sarcomas são designados pelo tipo celular de que são compostos, que é resumivelmente sua célula de origem. Assim, um câncer com origem no tecido fibroso é um fibrossarcoma, enquanto uma neoplasia maligna composta por condrócitos é um condrossarcoma. Embora os epitélios do corpo derivem das três camadas germinativas, as neoplasias malignas das células epiteliais são chamadas de carcinomas, independentemente do tecido de origem. Assim, uma neoplasia maligna que surge no epitélio tubular renal (mesoderma) é um carcinoma, como o são os cânceres que surgem na pele (ectoderma) e no epitélio do revestimento intestinal (endoderma). Além disso, o mesoderma pode dar origem a carcinomas (epiteliais), sarcomas (mesenquimais) e tumores hematolinfoides (leucemias e linfomas). Os carcinomas são ainda mais subdivididos. Os carcinomas que crescem em padrão glandular são chamados de adenocarcinomas, enquanto aqueles que produzem células escamosas são chamados de carcinomas de células escamosas. Algumas vezes, pode-se identificar o tecido ou órgão de origem, como na designação adenocarcinoma de células renais. Outras vezes, o tumor mostra pouca ou nenhuma diferenciação e deve ser chamado de carcinoma mal diferenciado ou indiferenciado. Tumores mistos As células transformadas em uma neoplasia, seja benigna ou maligna, quase sempre são assemelhadas, como se todas tivessem derivado de uma única progenitora, compatível com a origem monoclonal dos tumores. Em alguns casos incomuns, porém, as células tumorais sofrem diferenciação divergente, criando os chamados tumores mistos. O melhor exemplo é o tumor misto de glândula salivar. Esses tumores têm componentes epiteliais óbvios dispersos pelo estroma fibromixoide, algumas vezes ancorando ilhas de cartilagem ou osso. Acredita-se que todos esses elementos diversos derivem de células epiteliais ou mioepiteliais, ou de ambas, e a designação preferida para essas neoplasias é adenoma pleomórfico. O fibroadenoma da mama feminina é outro tumor misto comum. Esse tumor benigno contém uma mistura de elementos ductais proliferativos (adenoma) incrustados em um tecido fibroso frouxo (fibroma). Embora somente o componente fibroso seja neoplásico, o termo fibroadenoma continua em uso comum. Teratoma é um tipo especial de tumor misto que contém células maduras ou imaturas reconhecíveis ou tecidos representativos de mais de uma camada de células germinativas e, algumas vezes, de três. Os teratomas originam-se de células germinativas totipotentes, como aquelas anormalmente presentes em restos embrionários sequestrados da linha média. As células germinativas têm capacidade de se diferenciar em quaisquer tipos celulares no corpo adulto; portanto, não surpreende que possam dar origem a neoplasias que simulam, de maneira confusa, porções de osso, epitélio, músculo, gordura, nervo e outros tecidos. Principais diferenças Resumo e exceções à regra Baseia-se na origem (epitelial, mesenquimal ou embrionária), no comportamento (benigno ou maligno) e na morfologia da neoplasia. Assim, uma neoplasia epitelial ou mesenquimal (não epitelial) benigna é denominada utilizando-se um termo designativo do órgão ou tecido afetado acrescido do sufixo "oma". Exceções: Em medicina, é comum utilizar os termos "Hepatoma", "Linfoma" e "Melanoma" como designações correntes para neoplasias malignas, ainda que pelo sufixo empregado possa parecerse tratar de neoplasias benignas. Quando a neoplasia epitelial for maligna, utiliza-se o sufixo "Carcinoma". Se a neoplasia maligna for de origem mesenquimal utiliza-se o sufixo "Sarcoma". Quando a neoplasia apresenta componentes epiteliais e mesenquimais igualmente neoplásicos, recebe a denominação "Tumor misto". As neoplasias de origem embrionária podem ser classificadas em "Teratomas" (ou "Embriomas" ou ainda "Tridermomas"),"Mixomas" (ou "Meristomas") e blastomas (nefroblastoma, retinoblastoma, etc.). Os Teratomas são neoplasias compostas de tecidos oriundos dos três folhetos embrionários (endo, meso e ectoderma). Compõem-se de vários tecidos diferentes, estranhos ao local (mistura de dente, cabelo, glândulas, músculos, etc.), sendo mais freqüentes nas gônadas ou em tecidos próximos à linha mediana. Os Mixomas são neoplasias oriundas de tecido mixomatoso (totalmente indiferenciados, comparáveis ao tecido germinativo embrionário). De acordo com o seu grau de diferenciação, a neoplasia pode receber a adjetivação de "Bem diferenciado" ou "Indiferenciado" ou "Anaplásico". Conforme a sua localização, a neoplasia pode ser superficial (vegetantes, ulceradas, ou úlcero-vegetantes) ou parenquimatosa. Pode ainda receber as designações intramural, submucosa ou subserosa. Segundo suas características morfológicas, a neoplasia pode receber uma série de adjetivações (cístico, papilar, sólido, cirroso, ductular, bem diferenciado ou indiferenciado/anaplásico.). Exceções às regras: É comum também encontrar neoplasias denominadas utilizando-se o nome do autor que as estudaram pela primeira vez: Exemplos: "Tumor de Brenner" (ovário / benigno); "Tumor de Wilms" (rim / maligno); "Tumor de Codmam" (osso / benigno); "Tumor de Grawitz" (rim / maligno); "Tumor de Krukemberg" (metastático ovariano); "Linfoma de Burkitt" (linfócitos / maligno) ; "Doença de Hodgkin" (linfócitos / maligno); "Sarcoma de Ewing" (osso / maligno); "Sarcoma de Kaposi" (pele / maligno / imunodeprimidos); "Tumor de Sticker" (tumor venéreo transmissível / genitália externa / cães). "Hamartomas" são erros locais do crescimento no qual um tecido se desenvolve mais que o devido, com células maduras e normais, mas com arquitetura tissular anormal (gr. "amartao"= faltar). A diferenciação com as neoplasias benignas é muito difícil e envolve controvérsias (para muitos autores os Hemangiomas, os linfangiomas, os rabdomiomas cardíacos, os adenomas hepáticos e os nevos pigmentados não são verdadeiras neoplasias e sim hamartomas). "Coristomas" são erros locais congênitos do desenvolvimento no qual um tecido aparentemente normal se desenvolve heterotopicamente (gr. "coristo"= dividir). São freqüentemente confundidos também com neoplasias benignas. Exemplos: Fragmentos de pâncreas nas paredes gástricas, de córtex de adrenal nos rins, nos pulmões, nos ovários, e de ovário no útero. Freqüentemente se atrofiam, mas podem originar verdadeiras neoplasias, de maneira bem curiosa e paradoxal como Carcinomas de adrenal no ovário. Perda de controle da multiplicação celular As células normais que formam os tecidos do corpo humano são capazes de se multiplicar por meio de um processo contínuo que é natural. A maioria das células normais cresce, multiplica-se e morre de maneira ordenada, porém, nem todas as células normais são iguais: algumas nunca se dividem, como os neurônios; outras – as células do tecido epitelial – dividem-se de forma rápida e contínua. Dessa forma, a proliferação celular não implica necessariamente presença de malignidade, podendo simplesmente responder a necessidades específicas do corpo. O crescimento das células cancerosas é diferente do crescimento das células normais. As células cancerosas, em vez de morrerem, continuam crescendo incontrolavelmente, formando outras novas células anormais. Diversos organismos vivos podem apresentar, em algum momento da vida, anormalidade no crescimento celular – as células se dividem de forma rápida, agressiva e incontrolável, espalhando-se para outras regiões do corpo – acarretando transtornos funcionais. O câncer é um desses transtornos. A proliferação celular pode ser controlada ou não controlada. No crescimento controlado, tem-se um aumento localizado e autolimitado do número de células de tecidos normais que formam o organismo, causado por estímulos fisiológicos ou patológicos. Nele, as células são normais ou com pequenas alterações na sua forma e função, podendo ser iguais ou diferentes do tecido onde se instalam. O efeito é reversível após o término dos estímulos que o provocaram. A hiperplasia, a metaplasia e a displasia são exemplos desse tipo de crescimento celular. No crescimento não controlado, tem-se uma massa anormal de tecido, cujo crescimento é quase autônomo, persistindo dessa maneira excessiva após o término dos estímulos que o provocaram. As neoplasias (câncer in situ e câncer invasivo) correspondem a essa forma não controlada de crescimento celular e, na prática, são denominadas tumores. Oncogênese- RESUMIDAMENTE O processo de formação do câncer é chamado de carcinogênese ou oncogênese e, em geral, acontece lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa se prolifere e dê origem a um tumor visível. Os efeitos cumulativos de diferentes agentes cancerígenos ou carcinógenos são os responsáveis pelo início, promoção, progressão e inibição do tumor. A carcinogênese é determinada pela exposição a esses agentes, em uma dada frequência e período de tempo, e pela interação entre eles. Devem ser consideradas, no entanto, as características individuais, que facilitam ou dificultam a instalação do dano celular. Esse processo é composto por três estágios: • Estágio de iniciação, no qual os genes sofrem ação dos agentes cancerígenos. • Estágio de promoção, no qual os agentes oncopromotores atuam na célula já alterada. • Estágio de progressão, caracterizado pela multiplicação descontrolada e irreversível da célula OBJETIVO 3. DESCREVER A FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO, PREVENÇÃO, DETECÇÃO PRECOCE, FATORES DE RISCO E TRATAMENTO DO CÂNCER DE COLO UTERINO. (ACHADOS HISTOPATOLÓGICOS) Fisiopatologia Lesões pré-cancerígenas do colo do útero As células na zona de transição não se transformam repentinamente em câncer. Primeiramente, as células normais do colo do útero sofrem gradualmente alterações anormais chamadas de lesões pré-cancerígenas. Os médicos usam vários termos para descrever essas alterações pré-cancerígenas, incluindo neoplasia intraepitelial de colo do útero (NIC), lesão intraepitelial espinocelular e displasia. Neoplasia intraepitelial do colo do útero O câncer do colo do útero resulta da neoplasia intraepitelial cervical (NIC), que parece ser causada pela infecção por HPV (human papillomavirus) tipos 16, 18, 31, 33, 35, or 39. Quando os pré-cânceres são identificados em laboratório, são classificados em uma escala que varia de 1 a 3, com base na quantidade de tecido anormal encontrado: NIC1 (displasia leve ou SIL de baixo grau), pouco tecido parece anormal e é considerado a lesão pré-cancerígena menos grave do colo do útero. NIC2 ou NIC3 (displasia moderada/grave ou lesão intraepitelial espinocelular de alto grau), mais tecido aparece anormal; lesão intraepitelial espinocelular de alto grau é a lesão pré- cancerígena mais grave. A NIC 3 tem baixa probabilidade de regredir espontaneamente; se não tratada, com o passar de meses ou anos, as células neoplásicas podem penetrar a membrana basal, tornando-se um carcinoma invasivo. Embora o câncer de colo do útero se origina nas célulascom alterações pré-cancerígenas, apenas algumas mulheres com câncer de colo do útero desenvolverão a doença. Para a maioria das mulheres, as células pré-cancerígenas desaparecem sem nenhum tratamento. Mas, em algumas mulheres, os pré-cânceres se tornam invasivos. O tratamento de lesões pré- cancerígenas pode prevenir quase todos os cânceres de colo do útero. As lesões pré-cancerígenas podem ser diagnosticadas realizando o exame de Papanicolaou e posteriormente tratadas para impedir o desenvolvimento de um câncer. Tipos de câncer de colo do útero Os principais tipos de câncer de colo do útero são o carcinoma espinocelular e o adenocarcinoma. 90% dos cânceres de colo do útero são de carcinomas espinocelulares. Esses cânceres se desenvolvem a partir de células do exocervice e as células cancerígenas têm características de células escamosas sob o microscópio. A maioria dos outros tipos de câncer colo do útero são adenocarcinomas. São tumores que se desenvolvem a partir de células das glândulas. O adenocarcinoma de colo do útero se desenvolve a partir das células glandulares produtoras de muco do endocervice. Com menos frequência estão os cânceres do colo do útero que têm características comuns aos carcinomas espinocelulares e adenocarcinomas, são os denominados carcinomas adenoescamosos ou carcinomas mistos. Embora quase todos os cânceres de colo do útero sejam ou carcinomas espinocelulares ou adenocarcinomas, outros tipos de câncer também pode se desenvolver no colo do útero. Por exemplo, melanoma, sarcoma e linfoma, que ocorrem mais frequentemente em outras partes do organismo. Cerca de 80 a 85% de todos os cânceres cervicais são carcinomas de células escamosas; a maior parte do restante é de adenocarcinomas. Os sarcomas e os tumores neuroendócrinos de pequenas células são raros. O câncer do colo do útero invasivo geralmente se dissemina por extensão direta para os tecidos circundantes ou por via linfonodal para os linfonodos pélvicos e para-aórticos. A disseminação por via hematogênica é rara. Se o câncer do colo cervical se disseminar para os linfonodos pélvicos ou para-aórticos, o prognóstico é pior, e a localização e o tamanho do campo da radioterapia são afetados. Epidemiologia A evolução do câncer do colo do útero, na maioria dos casos, se dá de forma lenta, passando por fases pré-clínicas detectáveis e curáveis. Dentre todos os tipos de câncer, é o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura. Seu pico de incidência situa-se entre mulheres de 40 a https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/doen%C3%A7as-sexualmente-transmiss%C3%ADveis/infec%C3%A7%C3%A3o-por-papilomav%C3%ADrus-humano-hpv https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/doen%C3%A7as-sexualmente-transmiss%C3%ADveis/infec%C3%A7%C3%A3o-por-papilomav%C3%ADrus-humano-hpv 60 anos de idade, e apenas uma pequena porcentagem, naquelas com menos de 30 anos. Uma marcante característica do câncer do colo do útero é a sua consistente associação, em todas as regiões do mundo, com o baixo nível socioeconômico, ou seja, com os grupos que têm maior vulnerabilidade social. São nesses grupos que se concentram as maiores barreiras de acesso à rede de serviços para detecção e tratamento precoce da doença e de suas lesões precursoras, advindas de dificuldades econômicas e geográficas, insuficiência de serviços e questões culturais, como medo e preconceito dos companheiros. De forma geral, o câncer do colo do útero corresponde a cerca de 15% de todos os tipos de cânceres femininos, sendo o segundo tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo. Em alguns países em desenvolvimento, é o tipo mais comum de câncer feminino, enquanto que em países desenvolvidos chega a ocupar a sexta posição. Na América Latina e no Sudeste Asiático, as taxas de incidência são geralmente altas, enquanto na América do Norte, Austrália, Norte e Oeste Europeu, são consideradas baixas. As taxas de mortalidade por câncer do colo do útero continuam elevadas no Brasil e, do ponto de vista temporal, vem aumentando: em 1979, a taxa era de 3,44/100.000, enquanto em 1998 era de 4,45/100.000, correspondendo a uma variação percentual relativa de 29%. Os números de óbitos e casos novos esperados para o ano de 2001 em todo o país são, respectivamente, 3.725 e 16.270. Quanto ao estágio do tumor no momento do diagnóstico, observados em hospitais que têm Registro Hospitalar de Câncer, mais de 70% das pacientes, entre aquelas cujos prontuários registram o estágio, apresentam-se em fase avançada da doença, o que limita, em muito, a possibilidade de cura. O principal fator de risco para o carcinoma do colo do útero é a infecção por HPV de alto risco oncogênico (IARC, 2012). A maioria das infecções por HPV, 70% a 90%, não causará nenhum sintoma e regredirá espontaneamente em 18 a 24 meses. Entretanto, infecções persistentes por HPV de alto risco oncogênico poderão causar lesões precursoras e câncer, não só do colo do útero, mas também de vulva, vagina, pênis e ânus, assim como alguns cânceres de cabeça e pescoço. A prevalência global de infecção por HPV é estimada em 11,7%. Ao redor do mundo, a maior prevalência é observada em mulheres com idade inferior a 25 anos e posteriormente apresenta um declínio em idades mais avançadas. Uma das principais razões desse panorama no Brasil resulta do fato que, durante muitos anos, a realização do exame preventivo (Papanicolaou), método de rastreamento sensível, seguro e de baixo custo que torna possível a detecção de lesões precursoras e de formas iniciais da doença, ocorreu fora do contexto de um programa organizado. Na rede de saúde, a maioria dos exames citopatológicos são realizados em mulheres com menos de 35 anos, provavelmente naquelas que comparecem aos postos para cuidados relativos à natalidade. Isto leva a subaproveitar-se a rede, uma vez que não estão sendo atingidas as mulheres da faixa etária de maior risco. Esse fato provavelmente tem contribuído para não se ter alcançado, nos últimos 15 anos, um impacto significativo sobre a mortalidade por esse tipo de câncer. Quadro clínico Durante todo o processo de neoplasia pré- invasiva, que dura vários anos, e mesmo nas etapas iniciais da doença invasiva, o câncer do colo do útero cursa de forma assintomática. As primeiras manifestações clínicas costumam ser o sangramento durante as relações sexuais. Posteriormente, o sangramento torna-se mais frequente e imotivado. Os tumores avançados sofrem necrose e em consequência disso surge corrimento sero- sanguinolento de odor fétido. Quando o tumor progride para os paramétrios, costuma acometer os ureteres, bexiga e reto, resultando em hidronefrose, anúria e uremia. Fístulas vesico- vaginais e reto- -vaginais são frequentes nos casos muito avançados. O câncer do colo uterino deve ser sempre considerado em pacientes com sangramento vaginal. Sangramentos irregulares de qualquer natureza estão presentes em 5,9% das mulheres. O sangramento durante as relações sexuais são os que mais se relacionam com câncer do colo do útero. O tumor de colo uterino se apresenta na sua fase inicial de uma forma assintomática ou pouco sintomática, fazendo com que muitas pacientes não procurem ajuda no início da doença. O câncer de colo uterino cresce localmente atingindo vagina, tecidos paracervicais e paramétrios, com isso, podendo comprometer bexiga, ureteres e reto. A disseminação à distância ocorre principalmente por via linfática, envolvendo inicialmente os linfonodos pélvicos, e, após, os para-aórticos. A apresentação clínica depende principalmente da localização e extensão da doença. A paciente pode referir secreção vaginal amareladafétida e até sanguinolenta, ciclos menstruais irregulares, spotting intermenstrual, sangramento pós-coital e dor no baixo ventre. Nos estádios mais avançados, a paciente pode referir dor no baixo ventre mais importante, anemia, pelo sangramento, dor lombar, pelo comprometimento ureteral, hematúria, alterações miccionais, pela invasão da bexiga, e alterações do hábito intestinal, pela invasão do reto. As pacientes podem sentir dores na coluna lombar e bacia pélvica, pelo comprometimento, às vezes, da parede pélvica. Tratamento O tratamento das lesões precursoras do câncer do colo do útero é individualizado para cada caso. Varia desde o simples acompanhamento cuidadoso, a diversas técnicas, incluindo a crioterapia e a biópsia com laser, a histerectomia e, também, a radioterapia. CLÍNICO Dependendo do resultado do exame citopatológico, diversas condutas são possíveis, desde a simples repetição citopatológica em 6 meses (as lesões de baixo grau - HPV e NIC I - regridem espontaneamente em cerca de 80% das vezes) até um tratamento cirúrgico, passando pela possibilidade de resolução por meio de um tratamento clínico. O tratamento clínico pode ser realizado através da destruição da lesão por meios físicos ou químicos. É claro que esses tipos de tratamentos apresentam a limitação de não fornecer material para estudo histopatológico, impedindo o diagnóstico definitivo. Só devem ser indicados nos casos em que houver a concordância entre a citopatologia, biópsia incisional e colposcopia e não houver a possibilidade do tratamento por cirurgia de alta freqüência. A escolha de qual o tipo de método a ser realizado também irá depender da localização das lesões, seu crescimento e gravidade, penetração no canal cervical, gravidez e condições clínicas da paciente. A podofilina a 25% em solução alcoólica é um método tradicional, mas associado a um pequeno percentual de cura e a um grande índice de complicações, tais como neurotoxicidade, fístulas, ulcerações vaginais, mielotoxicidade e teratogenicidade, quando usada na gravidez. O ácido tricloroacético a 70% pode ser utilizado em aplicações semanais em consultório para destruição de lesões de vulva ou do fundo do saco vaginal, sendo indicada na gravidez ou no tratamento de lesões exofíticas. Entre os meios físicos, temos a crioterapia que destrói as camadas superficiais do epitélio cervical no colo do útero pela cristalização da água intracelular, que leva à rotura da célula e de suas organelas e a distúrbios bioquímicos. Deve-se observar a profundidade adequada de congelamento tecidual, senão falhas terapêuticas poderão ser produzidas pela falta de destruição das criptas glandulares. O laser de dióxido de carbono pode ser utilizado para vaporizar o tecido ou para corte, mas o equipamento é extremamente caro e tecnicamente complexo, o que limitou sua expansão. A eletrocauterização consiste no tratamento do colo com a extremidade quente de um cautério, mas hoje em dia é uma técnica em desuso, pela necessidade de repetidas aplicações para destruição de toda zona de transformação. CIRÚRGICO O objetivo do tratamento cirúrgico é promover o controle local, a mutilação mínima e a obtenção de informações a respeito da biologia do tumor e de seu prognóstico, modulando assim o tratamento adjuvante. Atualmente, a cirurgia de alta freqüência (CAF) é considerada um bom método para o tratamento das lesões precursoras do câncer cervical. Os aparelhos de CAF geram um tipo de onda que produz simultaneamente corte e hemostasia e substituem o tratamento por meio da cauterização ou de substâncias corrosivas, com a vantagem de obter fragmento para estudo histopatológico. Além disto, possibilita o tratamento das lesões precursoras do câncer com cirurgia conservadora da fertilidade, não mutilante em nível ambulatorial, permitindo inclusive a opção de diagnóstico e tratamento na mesma consulta, ao que chamamos método Ver e Tratar. Após o procedimento, é importante se ter noção que uma descarga serossangüinolenta pode ocorrer durante as duas primeiras semanas após a cirurgia. Recomenda-se à cliente evitar o uso de tampões vaginais, duchas e relações sexuais por 4 semanas. A mulher retorna em 4 semanas para revisão, e o controle citopatológico e colposcópico dependerá do resultado do exame histopatológico, como mostramos anteriormente. As mulheres devem ser orientadas a procurarem uma unidade hospitalar em casos de complicações agudas (como por exemplo hemorragias). A infecção cervical e a estenose cervical são achados raros após o procedimento da CAF. Cone a frio - Método clássico indicado tanto para o diagnóstico quanto para a terapêutica de lesões precursoras de alto grau do câncer de colo uterino (NIC II e III). A grande desvantagem deste método reside no fato da paciente necessitar ser internada para a realização do procedimento. A complicação mais freqüente é o sangramento e a estenose cervical. Histerectomia abdominal ou vaginal - É o tratamento de escolha para as pacientes com prole definida e com carcinoma do colo do útero no estádio IA1 (microinvasor). É necessária a realização de um cone a frio ou por alça para a confirmação do diagnóstico de microinvasão, antes da indicação da histerectomia. Apesar da histerectomia ser o tratamento de NIC com a menor taxa de recidiva, deve-se ter em mente que existem, hoje em dia, intervenções menos mórbidas (tais como a CAF), menos custosas e que não levam a mutilações nas mulheres, tendo taxas de cura bastante aceitáveis, sendo recomendadas pela experiência internacional, e que devemos ter sempre como a primeira opção. RADIOTERAPIA E QUIMIOTERAPIA A radioterapia é um recurso terapêutico largamente utilizado no câncer do colo do útero e que se beneficia da capacidade de penetração da radiação criada pelo bombardeamento de eletrons acelerados, ou raios gama, emitidos pelo radium ou outro material radioativo, em um alvo, reduzindo e, por vezes, eliminando o tumor. Nos estágios iniciais, I e II A, os resultados da cirurgia e da radioterapia são os mesmos em relação à sobrevida; sendo que a cirurgia é mais vantajosa na possibilidade de manutenção da função ovariana e em relação à qualidade da atividade sexual, por manter a vagina elástica. A partir do estádio II B, a radioterapia oferece maior sobrevida do que a cirurgia (70% contra 59%). A radioterapia é um recurso terapêutico largamente utilizado no câncer do colo do útero, sendo indicada como terapia exclusiva nos estádios II B, III A e III B, ou nos estágios iniciais, quando a paciente apresenta contra-indicações para o tratamento cirúrgico. Nos estágios IV A e IV B também pode estar indicada. Como recurso a ser usado após a cirurgia, está indicada quando houver invasão profunda do estroma, linfonodos acometidos ou se houver recorrência pélvica do tumor. Como recurso pré-operatório, está indicada nos adenocarcinomas de grande volume e nos tumores barrel-shaped (tipo especial). A quimioterapia não é o tratamento de escolha para o carcinoma escamoso, mas vários protocolos atuais têm recomendado o uso concomitante com a radioterapia, aumentando a resposta individual à terapêutica. Quando usada como recurso que antecede a radioterapia, pode induzir seleção de células resistentes à radioterapia, piorando os resultados finais. Quando utilizada antes da cirurgia, pode melhorar o resultado final por redução volumétrica da massa a ser operada. Pode ser utilizada como recurso nos casos de doença recorrente após a cirurgia ou radioterapia, mas os resultados são precários. OBJETIVO 4. ENTENDER A FISIOPATOLOGIA - MECANISMO DE INFECÇÃO PELO HPV - , QUADRO CLÍNICO, EPIDEMIOLOGIA, DIAGNÓSTICO, PREVENÇÃO,FATORES DE RISCO E TRATAMENTO DO HPV, RELACIONANDO AO DESENVOLVIMENTO DE LESÕES NEOPLÁSICAS DO COLO DO ÚTERO. A carcinogênese é um processso de múltiplas etapas que envolve tanto mudanças genéticas quanto epigenéticas, culminando na ativação de proto-oncogenes e/ou inativação dos genes supressores de tumor. A passagem da célula pelas diversas fases do ciclo celular é realizada de forma rígida por genes controladores do ciclo. Uma célula maligna difere de uma célula normal principalmente pela sua independência desse controle, sendo necessário um acúmulo de mutações nos cromossomos para tal transformação. Alguns tipos de Papilomavírus Humano (HPV), nos últimos anos, têm sido responsabilizados pelo desenvolvimento de malignidade nas regiões que comumente infectam, compreendendo, na mulher, o períneo, vulva, vagina, colo do útero e região anal; no homem, infectam pênis, uretra, saco escrotal e região anal. Além das áreas comumente descritas na literatura, o desenvolvimento de pesquisas vem demonstrando a presença de HPV de alto risco oncogênico e sua possível associação com o desenvolvimento de malignidade na região de orofaringe e cordas vocais. Estudos recentes, usando testes meticulosos pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) de uma grande coleção de espécimes internacionais de câncer cervical, demonstraram a presença do DNA do HPV em mais de 99,7% dos casos. Atualmente está bem estabelecido que a infecção pelo HPV é o fator central e causal do câncer do colo de útero. A infecção pelo papilomavírus humano (HPV) é considerada a infecção sexualmente transmissível de maior incidência no mundo. Estima-se que haja cerca de 600 milhões de pessoas infectadas pelo HPV no mundo e que 80% da população sexualmente ativa já tenha entrado em contato com o vírus em algum momento da vida. O primeiro pico de incidência ocorre por volta da segunda década de vida e o segundo pico está entre a quinta e sexta década de vida. Enquanto o primeiro pico está relacionado ao início da atividade sexual, o segundo pode ser explicado por nova exposição ou perda de imunidade prévia, contudo o fenômeno de imunossenescência também é uma explicação plausível. A imunidade da mulher climatérica é fragilizada por vários fatores relacionados à idade, entre eles a deficiência hormonal sistêmica e local. A relevância do HPV foi consolidada quando se descobriu sua associação com o câncer do colo de útero, sendo considerado atualmente como o causador de virtualmente 100% dos casos. Encontrou-se a presença do DNA desse vírus em 99,7% dos casos de câncer de colo uterino, a maior relação de causa e efeito entre um agente e câncer em humanos. O HPV é um vírus DNA, circular, com genes que expressam proteínas precoces (early – E1 a E7) e tardias (late – L1 e L2). Esse vírus afeta pele e mucosas, causando verrugas genitais, lesões precursoras e câncer, predominando os de colo de útero e do trato anogenital. Há mais de 200 tipos do vírus e os mais frequentes em câncer são os tipos HPV-16 e HPV-18. Os tipos HPV-6 e HPV-11 estão associados a 90% dos condilomas acuminados e papilomatose recorrente juvenil. Já os tipos 16 e 18 estão presentes em 70% dos cânceres de colo de útero e são os mais frequentes também em cânceres relacionados ao HPV de outros sítios, como em vagina, vulva, ânus, orofaringe e pênis. Há descrição de estimativa crescente da incidência e com elevada carga de câncer de colo do útero no mundo, com cerca de 529 mil novos casos e 275 mil mortes anuais, estimadas para os últimos anos. No Brasil, a estimativa do INCA (Instituto Nacional de Câncer) para o ano de 2016 foi de 16.340 novos casos. Os tipos histológicos mais frequentes são o carcinoma espinocelular (80% dos casos) e o adenocarcinoma/carcinoma adenoescamoso (cerca de 20%). História natural da infecção A transmissão viral se faz por meio do contato sexual pele a pele ou pele-mucosa. No primeiro contato sexual, uma em cada dez mulheres é contaminada e, após três anos com o mesmo parceiro, 46% delas já terão adquirido o vírus. O HPV penetra no epitélio através de microfissuras ou no colo uterino pelas células metaplásicas e atinge as células das camadas profundas, infectando-as. Esse vírus tende a escapar da resposta imune do hospedeiro e pode permanecer latente por tempo indeterminado, ou ascender às camadas superficiais do epitélio, utilizando a maturação e diferenciação das sucessivas camadas epiteliais. E pode se propagar para as células vizinhas. Ele assume duas formas de atuação na célula: a forma epissomal, que corresponde ao mecanismo utilizado para produzir cópias virais; ou a forma integrada ao DNA do hospedeiro e, neste caso, na presença de outros cofatores, pode ser iniciado o processo de oncogênese. Com a ação viral, surgem as lesões intraepiteliais escamosas (SIL) e estas, quando na forma de lesão de alto grau (HSIL) ou neoplasia intraepitelial de alto grau (NIC 2 e 3), são consideradas as lesões precursoras “verdadeiras” do câncer do colo de útero. As lesões HPV-induzidas têm altas taxas de remissão espontânea em até dois anos, especialmente naquelas de baixo grau e em mulheres jovens. A infecção natural não cursa com viremia e, consequentemente, não estimula a produção de anticorpos suficientes para proteção de nova infecção. Em estudo realizado na Costa Rica, que avaliou 10.049 mulheres, observou-se que a incidência de infecção pelo HPV em mulheres já soropositivas para o HPV (com anticorpos) após infecção natural é similar à de mulheres soronegativas, indicando a ineficiência da imunidade adquirida naturalmente na proteção de reinfecção ou recidiva da doença. O PAPILOMAVÍRUS HUMANO - INFECÇÃO Apresentam tropismo celular, devido à presença de receptores específicos, cuja replicação é limitada a células de tecidos em diferenciação. A infecção se inicia na camada basal da epiderme, em decorrência da abrasão e micro lesões da pele ou mucosa. Na camada proliferativa o vírus pode se replicar e expressar suas proteínas precoces. No entanto, a replicação vegetativa do DNA, ou seja, a síntese de proteínas do capsídeo e a montagem de partículas virais, só têm lugar nas células mais diferenciadas. Todos os tipos de HPVs são replicados exclusivamente no núcleo da célula hospedeira. Em lesões de pele benignas, associadas ao HPV, o genoma viral encontra-se separado do DNA celular e surge como um plasmídeo extra cromossômico (corpo epissomal). Nas lesões malignas, que não fazem parte da história natural do HPV, o DNA viral se integra aos cromossomos hospedeiros. Para integrar-se ao DNA celular, é necessário que haja uma quebra no genoma viral. Esta separação não ocorre de forma aleatória, pois a maioria ocorre nas regiões E1 e E2 do vírus. O resultado dessa quebra é uma perda de função desses dois genes, acompanhada de uma desregulação dos genes E6 e E7, resultando em transformação da célula hospedeira. Existe uma série de proteínas que regulam e controlam o ciclo celular. O gene supressor de tumor p53 codifica uma proteína que é essencial para o controle do ciclo celular. A proteína p53 atua no ciclo celular nos pontos de controle G1/S e G2/M, levando a uma parada nesses pontos e permitindo o reparo de possíveis danos no DNA. Dessa forma, é evitada a replicação de DNA contendo alterações genéticas. A parada no ciclo celular em G1, após a ativação da p53, envolve a transcrição do gene codificante da proteína p21/WAF inibidora de quinases dependentes de ciclinas (CDKs). Outro gene supressor de tumor é o pRb. Várias proteínas inibidoras auxiliam no controle do ciclo celular. Entre elas a p15 e p16, que atuam bloqueando componentesessenciais para progressão do ciclo celular, como CDK e ciclinas, impedindo o avanço do ciclo da fase G1 para S. As CDKs fosforilam a proteína Rb, provocando uma alteração estrutural que leva à liberação da Rb do complexo E2F. Outros inibidores são p21, associado ao proto-oncogene ras, e p53, que monitoram a saúde celular, a integridade de seus cromossomos e a execução correta das diferentes fases do ciclo. A oncoproteína E7 é uma pequena fosfoproteína nuclear constituída por três regiões conservadas (CR1, CR2 e CR3). O gene do retinoblastoma é um importante gene supressor tumoral que está deletado ou mutado em muitas linhagens celulares tumorais. A pRb que normalmente previne a célula da entrada no ciclo celular e regula a transição G1/S, quando ligada à E7, deixa a proteína E2F livre para comandar a divisão celular. Esta proteína pertence a uma importante família de fatores de transcrição, permitindo a ativação de complexos ciclina-CDK que levam à progressão irrestrita da fase G1 para S do ciclo celular, resultando em proliferação celular anormal. A atividade supressora tumoral de p53, que normalmente levaria a célula alterada à apoptose, é perdida quando há a ligação da oncoproteína E6. Esta proteína forma um complexo com a proteína E6-AP (E6 associated protein ligase), um membro da família E3 de ubiquitinas ligases, que somente liga-se à p53 quando esta está associada à E6. O complexo E6/E6-AP leva p53 à degradação proteolítica através da via da ubiquitina, diminuindo os níveis de p53 nas células infectadas. A E6 induz também, de forma independente, a atividade da telomerase, ativando o promotor da telomerase transcriptase reversa. A imortalização das células, que ocorre quando existe a ativação da telomerase, é mais um importante fator no desenvolvimento de tumores malignos, incluindo o câncer cervical. O modo de ação de pRb e p53 na regulação do ciclo celular sugere que a inativação ou modulação da atividade destas duas proteínas podem resultar na proliferação celular das células basais, alterando a sua diferenciação, permitindo então a expansão de um pool e células epiteliais para a replicação de partículas virais. Os mecanismos de defesa envolvidos na regressão da infecção pelo HPV envolvem a resposta imune mediada por células, sendo necessária uma apresentação adequada aos linfócitos, mediada pelas proteínas HLA (Human Leukocytes Antigens). Falhas nesse processo podem ser responsáveis pela susceptibilidade às doenças. Diversos estudos demonstraram associações entre os alelos ou haplótipos HLA e a infecção pelo HPV. As moléculas HLA de classe II têm um importante papel na resposta imune. Associações entre HLA e câncer cervical ou infecção por HPV têm sido demonstradas em diferentes populações. TRANSMISSÃO E AQUISIÇÃO A aquisição da infecção cervical pelo HPV é o principal precursor de uma série de eventos que leva ao câncer cervical e tem sido exaustivamente documentado por estudos epidemiológicos e experimentais durante os últimos 15 anos. Apenas a infecção pelo HPV não é capaz de levar a uma transformação maligna, sendo que a história natural das mulheres com diagnóstico de lesões precursoras de baixo grau é caracterizada por regressão espontânea, e apenas pequena percentagem persiste e evolui para câncer. Estudos epidemiológicos indicam consistentemente que o risco da aquisição é fortemente influenciado por número de parceiros sexuais, idade em que ocorre a primeira relação sexual e comportamento sexual dos parceiros masculinos. O HPV pode ser transmitido por contato direto dos órgãos genitais durante a prática sexual, por relações anais que podem resultar em infecções virais e neoplasias anais e, ocasionalmente, pelo sexo oral. PROGRESSÃO PARA CÂNCER CERVICAL Mulheres com lesões intra-epiteliais escamosas de alto grau e câncer cervical geralmente possuem infecção por HPVs oncogênicos. Aproximadamente 70% dos cânceres cervicais são causados pelo HPV16 ou 18 17 e 90% das verrugas vulvares são causadas pelos HPVs tipo 6 ou 11. Num estudo em que foram arroladas 20.810 mulheres, foram calculadas as taxas de incidência cumulativa no intervalo de 122 meses para o risco de NIC III ou mais, concluindo-se que a distinção entre HPV16 e 18 de outros tipos poderia identificar as mulheres com alto risco para desenvolver lesões de alto grau ou câncer. A regressão da NIC I é de 60%, e a sua progresssão para câncer invasor é baixa (1%), enquanto que a NIC II e NIC III tem um risco de 5% e 12%, respectivamente, de evoluir para carcinoma invasor. OBJETIVO 5. COMPREENDER AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE SAÚDE DE TRATAMENTO E PREVENÇÃO DO COLO DE ÚTERO NO SUS. A prevenção pode ser feita de duas formas: por meio da vacina contra o HPV, recomendada pelo Ministério da Saúde (MS), e pela forma tradicional, que consiste na detecção precoce. Esta consiste no rastreamento do câncer inicial e de suas lesões precursoras, prática que reduziu substancialmente a incidência do câncer de colo do útero em vários países desenvolvidos. Segundo Fábio Russomano, o método de rastreamento do câncer do colo do útero no Brasil é o exame citopatológico (exame de Papanicolau). Mais recentemente, estratégias de rastreamento com testes de detecção de HPV em mulheres com 30 anos ou mais vem sendo testadas e implementadas em alguns países, seguidas ou não do exame de Papanicolau. É importante frisar que esse tipo de câncer tem desenvolvimento muito lento, de até 20 anos, e apenas aproximadamente 1% das mulheres terá uma lesão precursora que, se não for tratada, pode evoluir para o câncer, são chamadas de lesões intraepiteliais de alto grau. O câncer do colo do útero não costuma apresentar manifestações em sua fase inicial, porém, quando aparecem, a mais comum é o sangramento após relações sexuais. O exame Papanicolau Nesse exame, também chamado de "preventivo" ou "exame de lâmina", um profissional de saúde coleta material do colo do útero e coloca numa lâmina de vidro que, posteriormente, será enviada para um laboratório. Na hipótese de a análise indicar células anormais ao microscópio, dentre elas e as mais importantes, as relacionadas às lesões precursoras do câncer do colo do útero, a paciente é encaminhada para confirmação diagnóstica e tratamento. “Detectada a possibilidade de presença de uma lesão precursora, a mulher deve ser encaminhada para colposcopia, exame ginecológico no qual um médico observará o colo do útero através de uma lente de aumento e em seguida, aplicará substâncias que irão ressaltar as alterações de superfície do colo do útero. Dependendo do grau de alteração, de sua localização e da presença de lesão de alto grau no exame Papanicolau, esta lesão poderá ser retirada durante o primeiro exame, numa prática denominada ‘Ver e Tratar’. Em outras situações poderá ser necessária uma biópsia ou coleta de novo material para exame citopatológico ou uma pequena cirurgia para retirar uma parte maior do colo do útero, realizada pela vagina e em centro cirúrgico. São técnicas bastante conservadoras, que não implicam, geralmente, em prejuízos para a fertilidade e impedem que as lesões progridam para o câncer do colo do útero”, resume o especialista. Todos os procedimentos são oferecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O exame de Papanicolau deve ser realizado a cada três anos após dois exames normais com intervalo de um ano e entre os 25 e 64 anos. O exame deve ser evitado antes dos 25 anos, pois, mais frequentemente, podem ser detectadas várias alterações reversíveis que poderiam implicar em exames e procedimentos cirúrgicos desnecessários com prejuízos para a saúde dessas jovens. Imunização O Ministério da Saúde implementou no calendáriovacinal, a vacina tetravalente contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos de idade. Esta vacina protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV. Os dois últimos são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero. Atualmente houve uma atualização no público alvo da vacina, a partir de agora, ela passa a ser ofertada para meninos de 11 até 15 anos incompletos (14 anos, 11 meses e 29 dias). A ampliação da faixa etária tem como objetivo aumentar a cobertura vacinal nos adolescentes do sexo masculino. Com a inclusão desse público, a meta para 2017 é vacinar 80% dos 7,1 milhões de meninos de 11 a 15 anos e 4,3 milhões de meninas de 9 a 15 anos. Também terão direito à vacina, homens e mulheres transplantados e oncológicos em uso de quimioterapia e radioterapia. Além disso, cerca 200 mil crianças e jovens, de ambos os sexos, de 9 a 26 anos vivendo com HIV/Aids, também podem se vacinar contra HPV. O médico ressalta que como há outros tipos envolvidos no desenvolvimento do câncer do colo do útero, meninas e mulheres vacinadas deverão manter a prática do exame de Papanicolau para identificar alguma lesão precursora relacionada a tipos menos frequentes de HPV inexistentes nas vacinas atualmente disponíveis no Brasil. “Já está disponível em outros países uma vacina com nove tipos, que promete uma proteção de mais de 95% dos casos. No entanto, o mais importante é a cobertura vacinal, ou seja, atingir o maior número possível de meninas e isso tem sido um desafio para os envolvidos nessa ação. As vacinas contra HPV são seguras e eficazes, representando uma importante estratégia de prevenção”, finaliza Fábio Russomano. O Ministério da Saúde em parceria com o Inca e sob a coordenação do IFF, lançaram, em 2016, a segunda edição das Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero, visando auxiliar o processo de identificação de pessoas aparentemente saudáveis que podem estar sob maior risco de doença. Políticas Públicas Na detecção do câncer, o Programa Viva Mulher, abrange o controle do câncer do colo do útero e do câncer de mama e tem como objetivo a organização de uma prestação de serviços para atender à demanda de mulheres que desejem se submeter aos exames e tratamentos indicados. Lançado em 1996, o Programa de Controle do Câncer do Colo Uterino entrou, em 1999, em sua fase de intensificação, após a campanha de 1998. A introdução do Viva Mulher foi um avanço para o controle do câncer ginecológico, já que durante muitos anos a realização do exame citopatológico, no Brasil, ocorreu fora do contexto de um programa organizado, não havendo qualquer mecanismo que estimulasse a procura e garantisse o acesso das mulheres aos serviços de saúde, especialmente aquelas que se encontravam sob maior risco de desenvolver o câncer do colo do útero. Muitos programas apresentavam falhas e seu impacto não se refletia sobre a mortalidade, em face da falta de organização e continuidade, bem como pela não garantia de tratamento adequado dos casos diagnosticados, tampouco contavam com uma avaliação adequada das suas várias etapas e dos resultados finais. Fazia-se necessário a criação de um programa estruturado de métodos e medidas contínuas capazes de controlar a doença. Foi, sobretudo, a partir da IV Conferência Mundial Sobre a Mulher, realizada na China, em 1995, que o Governo Brasileiro passou a investir esforços na organização de uma rede nacional de detecção precoce do câncer do colo do útero. Em 1997 e 1998, o Instituto Nacional do Câncer, com o projeto “Viva Mulher”, ainda em fase de teste, em cinco municípios e no estado do Sergipe, tinha o objetivo de fazer uma avaliação geral das estratégias até então utilizadas no Brasil e testar a viabilidade da execução de um programa organizado, considerando-se as diferenças socioeconômicas e epidemiológicas regionais. Para subsidiar um programa deste porte, foram realizados inúmeros estudos sobre a capacidade laboratorial instalada no país, o número e a disponibilidade de pessoal e equipamentos nas unidades de atenção primária, secundária e terciária em alguns municípios amostrais. Outros dados também foram considerados, como a atitude das mulheres brasileiras em relação à prevenção e razões pelas quais elas não atendem aos programas de rastreamento. O Programa foi estruturado em cinco etapas: o recrutamento da população, a coleta do material para o exame de Papanicolau, o processamento desse material no laboratório de citopatologia, o tratamento dos casos diagnosticados e a avaliação. A experiência obtida com o Viva Mulher permitiu que, em agosto de 1998, fosse dado o primeiro passo para a expansão nacional do Programa de Controle do Câncer do Colo do Útero. Essa fase representou uma intensificação das ações de prevenção e ocorreu no período de 48 dias, tendo como grupo alvo mulheres de 35 a 49 anos de idade. Em virtude da grande mobilização nacional gerada, a população foi ampliada para outras faixas etárias. Desde esse período, as diretrizes e estratégias elaboradas para o programa contemplam a formação de uma rede nacional integrada, com base em núcleo geopolítico gerencial, sediado no município, que permitirá ampliar o acesso da mulher aos serviços de saúde. Com relação ao controle do câncer do colo do útero, as ações contemplam a detecção precoce por meio do exame citopatológico; a garantia do tratamento adequado da doença e de suas lesões precursoras em 100% dos casos; e o monitoramento da qualidade do atendimento à mulher, nas diferentes etapas do programa. O programa tem como população-alvo a mulher que tem ou teve vida sexual ativa que deseje submeter-se ao exame citopatológico. Contudo, sem deixar de garantir o acesso ao exame a todas as mulheres, o Programa orienta que os esforços das ações de comunicação social para capacitação e motivação das mulheres sejam dirigidas às faixas etárias de maior risco (de 35 a 49 anos), especialmente aquelas que nunca se submeteram ao exame citopatológico. A programação da ação de controle do câncer do colo do útero e sua ratificação nos seus respectivos Conselhos de Saúde tem como base a construção de redes regionais que permitam a operacionalização com custos racionalizados. A tarefa de harmonização, integração e modernização dos sistemas municipais de saúde, buscando a sua adaptação aos requisitos básicos da implementação da ação, compete ao Poder Público Estadual, cabendo ao Federal promovê-las entre as Unidades da Federação. O sistema de atendimento necessário para a execução da ação se estrutura na forma de uma rede que opera em níveis de atendimento que possibilitam a integração e racionalização dos serviços, conferindo-lhe maior presteza e eficiência. Os níveis, de acordo com O Programa de Controle do Câncer do Colo do Útero, são estruturados da seguinte forma. No nível Primário deve ser realizado o exame clínico ginecológico e a coleta de material para o exame citopatológico. Nesta ocasião, serão prestadas informações sobre promoção de saúde, prevenção de doenças e diagnóstico precoce, na perspectiva multidisciplinar. Para a realização desta etapa, é necessário pessoal de nível médio ou técnico, envolvido em qualquer atividade de saúde pública ou comunitária, um ginecologista ou clínico geral, podendo, na falta deste, utilizar-se um enfermeiro. No nível secundário é possível realizar o diagnóstico e/ou tratamento de uma lesão detectada por meio da colposcopia e da Cirurgia de Alta Frequência (CAF), quando indicada. Os recursos necessários à implementação dessa etapa abrangem um profissional de nível superior, com especialização em ginecologia, com treinamento em colposcopia e CAF. No nível terciário/quaternário é realizado o tratamento delesões cirúrgicas que não podem ser tratadas no nível secundário. Para a sua realização é necessário uma equipe multiprofissional, habilitada para a execução de exame do colo e diagnóstico clínico de mamas e colo uterino, colposcopia, diagnóstico patológico e estadiamento; biópsia, cirurgia, radioterapia, quimioterapia, seguimento dos casos de lesões malignas, orientação e reencaminhamento da volta das pacientes ao nível secundário ou primário, bem como a reabilitação física, psicológica e a reintegração da paciente nos seus ambientes familiar, social e ocupacional.
Compartilhar