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CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 11 AULA 10 DIREITO DAS COISAS = PRIMEIRA PARTE = POSSE E PROPRIEDADE INTRODUÇÃO Meus Amigos e Alunos. Iniciamos hoje uma nova etapa em nossos estudos. Até agora estávamos falando sobre o Direito das Obrigações. Hoje vamos ingressar no Direito das Coisas. Este tema também é muito extenso. Por isso vamos desmembrá-lo em duas aulas. Hoje veremos somente a Posse e a Propriedade. Na próxima aula estudaremos os Direitos Reais sobre coisa alheia. Vamos iniciar a aula de hoje fazendo uma breve introdução Na verdade existe uma grande dualidade no Direito Civil. A divisão do Direito em: Obrigacionais (ou Pessoais) e Reais (chamado agora de Direito das Coisas). Assim, para o atual Código Civil: A) DIREITO PESSOAL (ou obrigacional) ⎯ relação entre pessoas, abrangendo tanto o sujeito ativo como o passivo e a prestação que o segundo deve ao primeiro (o exemplo clássico é o contrato). B) DIREITO DAS COISAS ⎯ relação entre o homem e a coisa que se estabelece diretamente (o exemplo clássico é a propriedade), contendo três elementos: a) sujeito ativo; b) coisa; c) relação (ou poder) do sujeito ativo sobre a coisa (domínio). Costumo dar em aula o seguinte “quadrinho” para distinguir bem essa divisão do Direito. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 22 DIREITO PESSOAL DIREITO DAS COISAS 1. Dualidade de Sujeitos: a) Ativo (credor) b) Passivo (devedor) 2. Objeto → sempre uma prestação do devedor. 1. Violados os direitos pessoais, pode a parte ingressar com uma ação, mas somente contra a outra parte. Exemplo: um contrato qualquer. 1. Apenas um Sujeito: a) Ativo 2. Objeto → sempre uma coisa (corpórea ou incorpórea). 3. Violados os direitos reais, pode a parte ingressar com ação contra quem detiver a coisa, indistintamente. Exemplo: a propriedade Desta forma, podemos conceituar o Direito das Coisas como sendo um conjunto de normas que regem as relações jurídicas concernentes aos bens materiais ou imateriais suscetíveis de apropriação pelo homem. Prevê a aquisição, o exercício, a conservação e a perda de poder dos homens sobre os bens suscetíveis de apropriação, sejam eles corpóreos ou incorpóreos (entre os bens incorpóreos ou imateriais incluem-se os direitos autorais e a propriedade industrial → marcas e patentes). O Direito das Coisas é um vínculo que liga uma coisa a uma pessoa. É um direito absoluto por ser oponível a todos (erga omnes). O titular do direito real tem o poder de reivindicar a coisa onde quer que ela se encontre. Feita esta introdução, vamos apresentar uma Classificação Geral do Direito das Coisas para situar bem todos os pontos que veremos nesta e na próxima aula. CLASSIFICAÇÃO Anteriormente Direito das Coisas e Direitos Reais eram expressões tratadas como sinônimas (até porque real vem de res; e res em latim significa coisa). Em face do novo Código Civil houve uma alteração. Atualmente, o Direito das Coisas passou a designar o gênero e Direitos Reais a espécie, conforme veremos logo a seguir. Confiram então como ficou o quadro completo do Direito das Coisas segundo o atual Código Civil e a doutrina mais moderna sobre o assunto. Lembrando que vamos fornecer abaixo esse quadro de maneira genérica. A seguir vamos analisar item por item deste quadro como sempre temos feito durante nosso curso. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 33 DIREITO DAS COISAS I) POSSE II) DIREITOS REAIS A) Sobre Coisa Própria → Propriedade B) Sobre Coisa Alheia 1. DE GOZO (ou fruição) a) Enfiteuse b) Superfície c) Servidão Predial d) Usufruto (englobando o Uso e a Habitação) 2. DE GARANTIA a) Penhor b) Hipoteca c) Anticrese d) Alienação Fiduciária 3. AQUISIÇÃO ⎯ Promessa irrevogável (ou irretratável) de compra e venda Observação – Notem que a posse também está classificada como direito das coisas, por ser um vínculo que liga uma coisa a uma pessoa e pela sua oponibilidade a terceiros. Ela se encaixa no conceito de Direito das Coisas que falamos acima. Aplica-se a regra de que o acessório (posse) segue o principal (propriedade). No entanto há quem entenda posse como um direito obrigacional especial. E outros autores a reputam, não como um direito, mas como um fato. Lembrando que esta é apenas uma visão doutrinária. Para efeito de concurso (que é o que nos interessa), a posse faz parte do Direito das Coisas (mas, observem bem no quadro acima, que ela não é um Direito Real). OBRIGAÇÕES REAIS PROPTER REM Outra observação importante diz respeito às obrigações propter rem (ou obrigações reais, ou seja, em razão da coisa). Situam-se em uma zona intermediária entre o direito real e o direito obrigacional. Surgem como obrigações pessoais de um devedor, mas por ser ele titular de um direito real. Elas acabam aderindo mais à coisa do que ao seu eventual titular. Em outras palavras: elas recaem sobre uma pessoa (daí direito pessoal), mas por força de um direito real (como por exemplo, a propriedade). Exemplos: obrigação de um proprietário de não prejudicar a segurança, sossego e saúde dos vizinhos; a do condômino de contribuir para a conservação da coisa comum ou de não alterar a fachada externa do edifício; adquirente de imóvel hipotecado de pagar o débito que o onera, dívida por imposto predial, despesas de condomínio, hipoteca, etc. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 44 Melhor exemplificando: a obrigação de pagar o IPTU é pessoal; mas ela só existe por causa do direito de propriedade. Uma pessoa está devendo 03 anos de IPTU e vende seu imóvel. Quem a Prefeitura irá acionar? A pessoa que realmente deve? Ou seja, a pessoa que era a proprietária do imóvel e não pagou o imposto? Ou o novo proprietário? Resposta: A Prefeitura irá acionar o atual proprietário! É evidente que este poderá acionar o anterior de forma regressiva. Mas a Prefeitura aciona o atual proprietário, pois quando ele comprou o bem, assumiu as suas dívidas, inclusive as anteriores (art. 1.345 CC). Portanto, costumamos dizer que as obrigações propter rem são híbridas: parte de direito obrigacional, parte de direito real. Como dissemos anteriormente, vamos analisar item por item do quadro geral apresentado. E vamos fazer isso com calma, em duas aulas. Hoje veremos a Posse e a Propriedade. Iniciemos pela Posse. DA POSSE (arts. 1.196/1.227 CC) CONCEITOS Existem duas grandes escolas que procuram delimitar o conceito de posse. Lógico que isto é teoria pura. Se o aluno não entender perfeitamente o alcance de cada teoria não há muita importância. Lembre-se estamos fazendo um curso dirigido para Concurso Público e não um curso para Mestre ou Doutor em Direito. Portanto o que o aluno precisa saber é que existem duas teorias sobre o tema. E que o Brasil adotou uma dessas teorias, que nós veremos adiante. I - Teoria Subjetiva (Friedrich Karl von Savigny) Poder direto ou imediato que tem a pessoa de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e de defendê-lo com a intervenção ou agressão de quem quer que seja. Esta teoria possui dois elementos: 1) Corpus ⎯ elemento material ⎯ poder físico ou de disponibilidade sobre a coisa. 2) Animus domini ⎯ intenção de ter a coisa para si; de exercer sobre ela o direito de propriedade. Observação – Para essa teoria, o locatário, o comodatário, o depositário não seriam possuidores, pois não poderiam ter “a intenção de ter a coisa para si”. Portanto, não gozariam de proteção direta, não podendo ingressar com as chamadas ações possessórias. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULARPROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 55 II - Teoria Objetiva (Rudolf von Ihering) Para constituir a posse basta dispor fisicamente da coisa ou mera possibilidade de exercer esse contato. Dispensa-se a intenção de ser dono da coisa. Possui então apenas um elemento: Corpus ⎯ trata-se do elemento material; único elemento visível e suscetível de comprovação; é a atitude externa do possuidor em relação à coisa, agindo como se ele fosse dono desta coisa. TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL Nosso Código Civil adotou a Teoria Objetiva de Ihering. Desta forma o locatário e o comodatário, para o nosso direito, são possuidores e como tais podem utilizar as ações possessórias, até mesmo contra o próprio proprietário em determinadas situações. O art. 1.196 do CC define a posse como sendo o exercício pleno ou não de alguns dos poderes inerentes à propriedade. Portanto posse não depende necessariamente de propriedade. Uma pessoa pode ter a posse sem ser proprietário!! Ser proprietário é ter o "domínio" da coisa. Guardem essa palavra: domínio. Vamos falar muito sobre ela durante esta fase de nosso curso. Lembrem-se que ela estará sempre ligada à propriedade. Já ter a posse de algo é apenas ter a disposição da coisa, utilizando-se dela e tirando-lhe os frutos. Atualmente a doutrina vem trazendo novas teorias que dão ênfase ao caráter econômico e à função social da posse. Vamos falar sobre isso mais adiante, posto que é uma tendência do direito moderno. FÂMULO DE POSSE ⎯ DETENÇÃO (art. 1.198 CC) Fâmulo é o servidor, é o empregado. Não deve ser confundido com o possuidor. Como não é uma expressão usada no dia-a-dia, tem muita incidência nos Concursos. O fâmulo de posse detém a coisa apenas em virtude de uma situação de dependência econômica ou de um vínculo de subordinação. A lei ressalva não ser possuidor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens e instruções suas. O exemplo clássico que costuma cair nas provas é o do “caseiro” de um sítio. Tecnicamente o caseiro não é possuidor. Ele detém a coisa em virtude de um contrato de trabalho, de uma relação de dependência ou subordinação para com o proprietário do sítio. Na verdade ele é o detentor da coisa; em outras palavras: é o fâmulo de posse. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 66 O detentor exerce sobre o bem, não uma posse própria, mas uma posse de outrem, em nome de outrem. Como não tem posse, não lhe assiste o direito de invocar, em nome próprio, as ações possessórias. Nem o eventual direito de usucapião. Vou dar agora um exemplo completo: Eu sou dono de um automóvel (sou o proprietário). Eu empresto esse veículo a meu amigo (ele tem a posse; é o possuidor). Meu amigo vai almoçar com o carro e o deixa em um estacionamento; o manobrista deste estacionamento não tem posse; ele é apenas o detentor do veículo (ou seja, é o fâmulo de posse). Outros exemplos: o zelador de um prédio que pode morar um uma edícula do próprio edifício, a bibliotecária, os funcionários públicos e os empregados de uma foram geral que zelam a propriedade em nome do dono, são todos detentores. CONCLUINDO – para o Direito Civil, deter não é o mesmo que possuir. O art. 1.208, 1ª parte do CC acrescenta que não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância. Estes representam uma indulgência pela prática do ato, mas não cedem direito algum. Apenas retiram eventual ilicitude da conduta de terceiro. Assim, a simples tolerância do proprietário não gera posse, porém o ato do terceiro, por si só (ex: acampar em um sítio, devidamente autorizado) não pode ser considerado como ilícito. Elementos da Posse Para se adquirir a posse, exigem-se os elementos necessários para os atos jurídicos em geral, quais sejam: • Sujeito capaz (pessoa natural ou jurídica) • Objeto lícito e possível (no caso uma coisa corpórea ou incorpórea) • Forma ⎯ neste caso a forma é livre • Relação dominante entre o sujeito e o objeto Objeto da Posse Podem ser objeto de posse todas as coisas que puderem ser objeto de propriedade. Incluem-se os bens, entre outros: corpóreos e incorpóreos; móveis e imóveis; principais e acessórios, etc. Classificação A posse pode ser classificada em: • Direta (ou imediata) ⎯ quando é exercida por quem detém materialmente a coisa; trata-se do poder físico imediato. Exemplos: posse exercida pelo próprio proprietário, posse exercida pelo locatário (neste caso há uma concessão do locador), pelo comodatário, etc. Quando a posse direta é exercida pelo proprietário fala-se em jus possidendi; quando é exercida por outra pessoa fala-se em jus possessionis. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 77 • Indireta (ou mediata) ⎯ quando a posse é exercida através de outra pessoa. Exemplo: proprietário que tem a posse através do inquilino; nesse caso há duas posses paralelas e reais: a do possuidor indireto (que é o proprietário; o que cede o uso do bem) e a do possuidor direto (do locatário, inquilino, que o recebe, em virtude do contrato). Desta forma o locatário tem a posse direta e o locador a posse indireta; o depositário tem a posse direta e o depositante a posse indireta; o usufrutuário tem a posse direta e o nu proprietário tem a posse indireta, etc. Tanto o possuidor direto quanto o indireto podem invocar a proteção possessória contra terceiros (ações possessórias). Como regra o possuidor direto (locatário, depositário, etc.) não podem adquirir a propriedade por usucapião. • Justa ⎯ é a que não é violenta, clandestina ou precária; ela é adquirida de forma legítima, sem vício jurídico externo. • Injusta ⎯ é a posse adquirida com vícios, por meio de violência, clandestinidade ou precariedade. São assim suas espécies: a) Violenta ⎯ é a obtida através de esbulho, for força física ou violência moral. b) Clandestina ⎯ é a obtida sub-repticiamente, às escondidas, às ocultas. c) Precária ⎯ é a obtida com abuso de confiança, não restituindo a coisa ao final do contrato (ex: locatário que, alugando um carro, não o devolve ao final do contrato). Observações a) A posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por ações, não contra aquele de quem se tirou, mas contra terceiros. b) Na Posse injusta presume-se (presunção juris tantum – relativa – que admite prova em contrário) continuar com os mesmos vícios nas mãos dos sucessores do adquirente. • De boa-fé ⎯ quando o possuidor ignora os vícios ou os obstáculos que lhe impedem a aquisição da coisa ou do direito possuído. A pessoa tem a convicção de estar agindo de acordo com a lei. Os vícios são: a violência, a clandestinidade e a precariedade. Neste caso o possuidor tem a convicção de que a coisa lhe pertence; é um critério subjetivo. Ocorre em geral com quem tem justo título, isto é, um documento referente ao objeto possuído. Exemplo: contrato de compra e venda, locação, comodato doação, etc. O justo título pode ser até um compromisso de compra e CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 88 venda não registrado. Nosso direito estabelece presunção (relativa) de boa- fé em favor de quem tenha justo título. • De má-fé ⎯ quando a posse é viciada porque foi obtida através de violência, clandestinidade ou precariedade. O possuidor tem ciência do vício. Neste caso, o possuidor não tem o justo título (um documento). No entanto, ainda que de má-fé o possuidor não perde o direito de ajuizar a ação possessória competente para proteger-se de um ataque a sua posse de terceiros. • Posse nova ⎯ é a que conta com menos de ano e dia. É importante, em termos processuais (direito processual), pois se uma invasão ocorreu há menos de um ano e um dia poderá o prejudicadoingressar com a ação de reintegração de posse pelo rito especial, pleiteando liminar para desocupação. • Posse velha ⎯ é a que conta com mais de ano e dia. Esse prazo é importante porque, se a pessoa estiver a mais de um ano e dia na posse, pode obter liminar contra quem o estiver incomodando, tendo o direito de ser mantido sumariamente na posse. • Posse ad interdicta ⎯ é a que pode ser defendida pelas ações possessórias, mas impede a aquisição da propriedade por usucapião. O locatário pode defender a posse de uma turbação ou esbulho, mas não tem direito de usucapião contra o proprietário. Ele pode ser inquilino durante 10, 20, 30, 50 anos. Mas não terá direito a usucapião, por causa do contrato firmado. O mesmo ocorre no comodato (empréstimo gratuito de bem infungível). Por isso é importante firmar um contrato escrito: uma das razões é que ele prova que realmente existe o contrato e impede eventual usucapião. • Posse ad usucapionem ⎯ é a que se prolonga por determinado lapso temporal previsto na lei, admitindo-se a aquisição do domínio pela usucapião, desde que obedecidos os requisitos legais. Aquisição da Posse Pelo artigo 1.204 do CC adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. A posse pode ser adquirida de forma: a) originária – apresenta- se sem os vícios que a maculavam em mãos do antecessor; b) derivada – recebe com os mesmos vícios anteriores. 1 – Aquisição Originária CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 99 a) Apreensão da coisa ⎯ apreensão significa apossamento, pelo deslocamento da coisa para o domínio do possuidor, ou pelo uso da coisa se esta for imóvel. Consiste na apropriação unilateral da coisa. Aplica-se: - nas coisas de ninguém (res nullius) e nas coisas abandonadas (res derelictae). - nos bens retirados de outrem sem a sua permissão. Mesmo havendo violência ou clandestinidade, é posse (embora injusta). Isso porque se o primitivo possuidor omitir-se, não reagindo em defesa da posse ou não a defendendo por meio das ações, os vícios que a comprometiam acabam desaparecendo com o tempo. b) Exercício de direito ⎯ significa estar se utilizando o direito, usufruindo dele. Exemplo: quem possui uma linha telefônica em sua residência, tem, na verdade, um "direito de uso" da mesma. Outro exemplo é o da servidão de aqueduto passada por terreno alheio adquire o agente a sua posse se o dono do prédio serviente permanece inerte (veremos isso na aula seguinte). 2 – Aquisição Derivada a) Tradição ⎯ entende-se por tradição a entrega da coisa, pressupondo um acordo de vontades. Basta que haja a intenção do tradens (o que opera a tradição; entrega a coisa) e do accipiens (o que recebe a coisa). A tradição pode ser real (entrega efetiva e material da coisa), simbólica (representada por ato que traduz a alienação – ex: entrega das chaves do carro, do apartamento, etc.) e ficta (constituto possessório – veremos isso abaixo). b) Constituto Possessório ou cláusula constituti (art. 1.267, parágrafo único do CC) ⎯ é o ato pelo qual aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome de outrem. Exemplos: A, proprietário, aliena o seu imóvel, mas continua residindo nele como inquilino (ou como comodatário); Z titular de uma linha telefônica, a aliena, mas continua usando-a por locação. Pelo constituto possessório a posse se desdobra em duas faces: o possuidor antigo, que tinha a posse plena como proprietário, se converte em possuidor direto, enquanto o novo proprietário se investe na posse indireta, em virtude do contrato. A cláusula constituti não se presume, deve estar expressa no contrato. Aplica-se tanto aos bens móveis quanto aos imóveis. c) Acessão Temporal ⎯ a posse pode ser continuada pela soma do tempo do atual possuidor com o de seus antecessores. O adquirente da posse de uma coisa pode somar a posse anterior visando, por exemplo, a usucapião. Pessoas que podem adquirir a posse A posse pode ser adquirida (art. 1.205 CC): CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1100 a) pela própria pessoa que pretende, desde que capaz; se ela não tiver capacidade deverá ser representada ou assistida. b) por seu representante ou procurador (mandatário), com poderes especiais. c) por terceiro, sem mandato, dependendo de ratificação (gestor de negócios). EFEITOS DA POSSE Os efeitos da posse são as conseqüências jurídicas por ela produzidas, em virtude de lei ou de norma jurídica. A posse possui diversos efeitos. Embora haja certa discrepância entre os autores apontamos como efeitos de ser possuidor de um bem: A) FACULDADE DE INVOCAR OS INTERDITOS ⎯ interditos são as ações possessórias. O possuidor tem a faculdade de propor ações possessórias objetivando mantê-lo na posse ou ser-lhe restituída a posse. Permite-se que o possuidor possa demandar proteção possessória e, cumulativamente, pleitear a condenação do réu em perdas e danos. Pode-se requerer a cominação de pena para o caso de nova turbação ou esbulho. Se ocorreu o perecimento (deterioração, destruição, perda, etc.) do bem, somente resta ao possuidor o caminho da indenização. Mas se o réu se sentir ofendido em sua posse, pode formular, na própria contestação os pedidos que tiver contra o autor. As três primeiras ações que falaremos a seguir (Interdito Proibitório, Manutenção de Posse e Reintegração de Posse) são genuinamente ações possessórias e são analisadas pelo Direito Civil. Já as demais ações são ligadas também à propriedade, mas analisadas pelo Direito Processual Civil. Embora não pertença à nossa matéria, propriamente dita, costumamos falar delas também para que o aluno tenha uma visão completa das ações. Vamos a elas: a) Interdito Proibitório ⎯ é a ação que visa uma proteção preventiva da posse, ante a ameaça de eventual turbação ou de esbulho. Exemplo: imaginem que um grupo de pessoas acampe ao longo de sua fazenda, armando barracas. É possível que o grupo queira invadir a sua fazenda. Ingressa-se com esta ação para se impedir eventual incômodo (alguém do grupo mate um animal de sua propriedade) ou invada a propriedade ou que ocorra algum tipo de violência. Para se propor esta ação o autor deve ter um receio fundado e justo de que a violência virá. Geralmente, comina-se pena pecuniária (uma multa) em caso de transgressão da ordem judicial. Deve ser pedida pelo autor e fixada pelo Juiz em um montante razoável. b) Manutenção da Posse ⎯ esta ação é usada quando houver turbação, ou seja, algum ato que embaraça, incomoda, molesta o livre exercício da posse. Exemplos: rompimento de cercas; abertura de "picadas"; penetrar no terreno para extrair lenha; fulano põe seu gado a pastar nas terras do vizinho, etc. Lembrem-se: na turbação ainda não CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1111 houve a perda da posse. Na ação pode-se pleitear indenização por eventuais danos e, para o caso de reincidência, cominação de pena (multa judicial). Deve-se provar a existência da posse e a turbação propriamente dita, requerendo-se ao Juiz o mandado de manutenção. Quando a turbação é nova (menos de ano e dia), pode ser requerida e concedida pelo Juiz a manutenção liminar, sem que haja audiência prévia. c) Reintegração de Posse ⎯ esta ação é usada quando houver esbulho, que é o ato pelo qual o possuidor é despojado da posse, injustamente, por violência, clandestinidade, etc. Esbulho é a privação, a subtração da posse. Exemplos: estranho que invade a casa deixada pelo inquilino; pessoa sai de viagem e quando retorna invadiram sua chácara, etc. Observem que nestas hipóteses houve a perda da posse e a ação serve para recuperar essa posse. É interessante atentarmos para as seguintes observações:Obs. 1 – Cabe medida liminar provisória no esbulho e na turbação, se o fato datar de menos de um ano e um dia. Nesse caso a ação também é chamada de ação de força nova espoliativa, iniciando-se pela expedição do mandado liminar, a fim de reintegrar o possuidor de imediato. Se o esbulho datar de mais de um ano e um dia tem-se a ação de força velha espoliativa, na qual o Juiz fará citar o réu para que ofereça sua defesa. É lícito ao autor da possessória pedir, além da proteção específica da posse, também indenização por perdas e danos e cominação de pena (multa judicial) em caso de nova turbação ou esbulho, além do desfazimento de eventual obra ilegal. Obs. 2 – Admite-se a fungibilidade (substituição) das ações possessórias acima mencionadas, ou seja, se você eventualmente ingressar com a ação errada, o Juiz pode receber como sendo a correta. Trata-se de uma exceção. A regra é que se você entrar com a ação errada e o Juiz perceber, você já perdeu a ação. O Juiz extingue este processo sem apreciar o mérito. No entanto nas ações possessórias pode haver esta fungibilidade pelo Juiz. Exemplo: algumas pessoas estão “cortando caminho”, por dentro de sua posse para pescar no rio. Portanto está ocorrendo turbação. No entanto você ingressa com ação de reintegração de posse. Neste caso o Juiz pode conhecer do pedido e julgá-lo como tendo sido proposta a ação correta, desde que os requisitos da ação que deveria ser proposta estejam demonstrados. Obs. 3 – Alguns autores costumam dizer que estas ações são dúplices. Exemplo: Se A propõe ação em face de B, este pode se defender, alegando que A é o autor esbulho, revertendo a situação, sem que haja reconvenção. Se o réu esbulhador se defender alegando ser dono da coisa esbulhada, seu argumento não será levado em conta, porque não lhe assiste, ainda que sob alegação de propriedade, CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1122 molestar posse alheia. Se achar que é proprietário, deve ingressar com ação própria (ação reivindicatória, conforme veremos mais adiante, quando analisarmos a propriedade). Obs. 4 - O requisito básico para a propositura das ações possessórias, como é óbvio, é a prova da existência da posse. Quem não teve posse não pode ingressar com ação. Feitas estas observações, continuamos a apresentar as demais ações: d) Nunciação de Obra Nova (ou embargo de obra nova) ⎯ é a ação que visa impedir a continuação de obras (considerado em seu sentido amplo) no terreno vizinho que lhe prejudique ou que esteja em desacordo com os regulamentos administrativos. Exemplo: pessoa que desvia curso de rio, ou o represa; vizinho que abre janela a menos de metro e meio, etc. Como o objetivo do autor é o de embargar da obra (ou seja, impedir a sua construção), se ela já estiver pronta ou em fase de conclusão, não caberá esta ação. e) Ação de Dano Infecto ⎯ é uma medida judicial preventiva, baseada no receio de que o vizinho, em demolição ou por vício de construção, lhe cause prejuízos. Visa obter do vizinho uma caução por futuros e eventuais danos. f) Embargos de Terceiro ⎯ é o remédio jurídico para a defesa da posse para quem for turbado ou esbulhado na posse por ato de apreensão judicial, em casos como de penhora, arrecadação. Exemplo: “A” emprestou a “B” seu computador; como “B” estava devendo dinheiro a “C”, este ingressou com uma ação judicial contra ele e o Juiz determinou a penhora de bens de “B”. O oficial de justiça penhorou diversos bens de “B” inclusive o computador de “A”. Assim, “A” tem o direito de entrar com embargos de terceiro. A jurisprudência também admite a possibilidade da mulher casada defender sua meação por meio desta ação. g) Imissão de Posse ⎯ esta ação era regulada pelo Código de Processo Civil de 1.939. O Código atual não trata desta ação. Mas mesmo assim entende-se que ela ainda pode ser ajuizada sempre que houver uma pretensão à imissão na posse de algum bem. Quem nunca teve posse não pode ingressar com os interditos, mas poderá fazer uso desta ação. Assim, se uma pessoa adquire um imóvel e obtém a escritura pública definitiva, mas não recebe a posse, uma vez que o vendedor não a entrega, não pode ingressar com ação possessória, mas sim com ação de imissão na posse. Exemplo: Uma pessoa estava financiando uma casa e morava nela. Após algum tempo, parou de pagar as prestações. O imóvel foi vendido em um leilão e você o comprou. A pessoa que estava financiando não quer sair do imóvel. O que fazer? Entende-se que você não poderia ingressar com reintegração de posse, pois você nunca teve posse. Portanto a ação CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1133 mais correta ser a Imissão de Posse. Não confundir essa ação com a imissão da posse ou na posse, prevista nos arts. 625 e 879, I do CPC. Obs. – Reforçando: a doutrina aponta que somente as três primeiras ações (interdito proibitório, manutenção e reintegração) podem ser chamadas de possessórias. Nas demais se discute direitos de vizinhança, efeitos do estado da posse, etc. B) FACULDADE DA LEGÍTIMA DEFESA DA POSSE E DO DESFORÇO IMEDIATO – (também chamada de autotutela, autodefesa, ou defesa direta – art. 1.210, §1º CC) ⎯ nestes casos sentimos a presença de resquícios de justiça privada, ou seja, a justiça feita pelas próprias mãos. O Direito, de uma forma geral, impede a autotutela. Para isso existe o Poder Judiciário (com todos os seus problemas, reconhecemos, mas é assim que deve funcionar um Estado Democrático e de Direito). No entanto, em determinadas situações ela é admitida, prevista pela lei, como nos exemplos: a) Na legítima defesa o possuidor molestado pode reagir contra o agressor, incontinenti, empregando meios estritamente necessários para manter-se na posse. Exemplo: pessoa está sendo turbada por terceiros. Ao invés de ingressar com a ação de manutenção de posse (às vezes pode não dar tempo, pois ela está na iminência de sofrer uma violência) se utiliza da força própria para repelir o incômodo. b) No desforço imediato (ou incontinenti) o possuidor pode recuperar a posse perdida, empregando meios moderados, agindo pessoalmente ou sendo ajudado por amigos ou serviçais. Exemplo: pessoa viajou por um fim de semana e quando voltou percebeu que sua casa foi invadida por “moradores de rua”. Houve um esbulho. Ao invés de ingressar com ação de reintegração de posse ela pode recuperar pela sua própria força. Cuidado – Os atos de defesa ou de desforço são exceção no Direito e devem ser usados em situação especiais. Não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse. Os meios empregados devem ser proporcionais à agressão. O excesso na defesa da posse pode acarretar a indenização pelos danos causados. Vamos dar agora um pequeno gráfico do que foi falado até o momento sobre a defesa da posse (letras A e B dos efeitos da Posse). DEFESA DA POSSE A) Judicial a) interdito proibitório b) manutenção de posse c) reintegração de posse d) nunciação de obra nova e) dano infecto CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1144 f) embargos de terceiro B) Direta, Pessoal a) legítima defesa da posse para manter-se (na turbação) b) desforço imediato para restituir-se (no esbulho) C) PERCEPÇÃO DOS FRUTOS ⎯ art. 1.214 CC ⎯ (é interessante rever este ponto também na aula referente aos bens – acessórios). a) Possuidor de boa-fé – tem direito aos frutos percebidos tempestivamente. Pode usar a coisa e dela fruir, retirando todas as vantagens. A boa-fé deve existir no momento da percepção. No momento em que cessar a boa-fé (a pessoa toma ciência dos vícios que maculam sua posse) ela não tem mais direitos aos frutos pendentes e se colhê-los antecipadamente deve restituí-los, deduzidas as despesas de produção e custeio. b) Possuidorde má-fé – responde por todos os prejuízos que causou pelos frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber; tem, porém, direito às despesas de produção. D) INDENIZAÇÃO DE BENFEITORIAS ⎯ (sobre o tema reveja também a aula referente aos bens – acessórios). a) Possuidor de boa-fé – tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis. Quanto às voluptuárias, pode levantá- las, desde que não danifique a coisa. Se ele não for indenizado, tem o direito de retenção pelo valor das mesmas, isto é, pode reter (segurar, não devolver) o bem até que seja indenizado pelas benfeitorias realizadas (art. 1.219 CC). b) Possuidor de má-fé – tem direito à indenização somente pelas benfeitorias necessárias, sendo que ele não terá direito de retenção quanto a elas e também não poderá levantar as voluptuárias (art. 1.220 CC). Obs. – A Lei nº 8.245/91 (locações) assim dispõe sobre os direitos do locatário (que é um possuidor de boa-fé por excelência): Art. 35. Salvo expressa disposição contratual em contrário, as benfeitorias necessárias introduzidas pelo locatário, ainda que não autorizadas pelo locador, bem como as úteis, desde que autorizadas, serão indenizáveis e permitem o exercício do direito de retenção. Art. 36. As benfeitorias voluptuárias não serão indenizáveis, podendo ser levantadas pelo locatário, finda a locação, desde que sua retirada não afete a estrutura e a substância do imóvel. E) Direito de indenização dos prejuízos, após ser manutenido ou reintegrado. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1155 F) Faculdade de ser mantido sumariamente, se a posse for velha ⎯ (mais de ano e dia). São as liminares, que já foram analisadas acima. Acrescente-se que elas somente serão concedidas se forem constatados o periculum in mora (perigo que oferece a decisão tardia) e fumus boni juris (fumaça do bom direito). Ou seja, o Juiz deve estar convencido de que, ao menos aparentemente, o possuidor turbado ou esbulhado está com a razão. G) O possuidor, em alguns casos, pode adquirir a propriedade por usucapião (reveja, acima, classificação da posse – ad interdicta e ad usucapionem). RESUMO I) Possuidor de Boa-fé a) direito aos frutos percebidos. b) direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis. c) direito de retenção, com garantia do pagamento das benfeitorias acima. d) “jus tollendi”, ou seja, a possibilidade de se levantar as benfeitorias voluptuárias. II) Possuidor de Má-fé a) dever de indenizar os frutos colhidos. b) responsabilidade pela perda da coisa. c) direito de ser indenizado apenas pelas benfeitorias necessárias. d) não há direito de retenção. e) não há direito de levantar benfeitorias úteis ou voluptuárias. PERDA DA POSSE (art. 1.223 e 1.224 CC) – Perde-se a posse nas seguintes hipóteses: • Abandono da coisa (res derelictae) ⎯ é a renúncia da posse, intenção de largar voluntariamente o que está em sua posse. • Tradição ⎯ trata-se da entrega da coisa; envolve a intenção definitiva de transferir a coisa a outrem. • Perda ⎯ ex: objeto que cai em um rio profundo, ou em alto-mar, etc. • Destruição ⎯ inutilização total decorrente de evento natural ou caso fortuito ⎯ inundações, incêndios, etc. Perecendo o objeto extingue-se o direito. • Colocação do bem fora do comércio (coisa inaproveitável ou inalienável). • Posse de outrem, ainda que contra a vontade do possuidor, se este não for manutenido ou reintegrado em tempo competente. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1166 • Constituto Possessório (ou cláusula constituti) – já analisado acima no item aquisição derivada da posse. COMPOSSE (ou compossessão) Composse é a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre a mesma coisa (art. 1.199 CC). Trata-se de posse em comum, por duas ou mais pessoas, sobre a mesma coisa. Pode ser decorrente de contrato (ato inter vivos) ou herança (causa mortis). Neste caso, podem usar livremente a coisa, conforme seu destino, e sobre ela exercer seus direitos compatíveis com a indivisão. Qualquer dos compossuidores pode valer-se das ações possessórias ou mesmo da legítima defesa da posse para impedir que o outro compossuidor exerça uma posse exclusiva sobre qualquer fração da comunhão. Em relação a terceiros, como se fossem um único sujeito, qualquer deles poderá usar os remédios possessórios que se fizerem necessários, tal como acontece no condomínio. São exemplos de composse: entre cônjuges casados pelo regime da comunhão universal de bens ou entre conviventes havendo união estável; entre herdeiros antes da partilha do acervo; entre consócios, nas coisas comuns, salvo se se tratar de pessoa jurídica, etc. Requisitos • Pluralidade de sujeitos. • Coisa indivisa. Espécies • Composse pro indiviso ⎯ as pessoas têm a parte ideal do bem (ex: três pessoas possuem um apartamento; como não está determinada a parte de cada uma, elas têm a terça parte ideal de tudo). Todos possuem tudo, na sua quota-parte. • Composse pro diviso ⎯ embora não haja uma divisão de direito, já existe uma divisão de fato, de forma que cada compossuidor sabe onde inicia e onde termina a sua parte da coisa (ex: três pessoas possuem uma fazenda; embora não esteja no nome de nenhum dos três, cada qual exerce a posse na sua parte delimitada). CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1177 DA PROPRIEDADE (arts. 1.228/1.360 CC) CONCEITO Propriedade (do latim – proprietas, derivado de proprius, o que pertence a uma pessoa) é o direito que a pessoa física ou jurídica tem de usar, gozar, dispor de um bem ou reavê-lo de quem injustamente o possua ou detenha (art. 1.228, caput CC). Trata-se do mais completo dos direitos subjetivos sendo o centro do direito das coisas, garantido pela Constituição Federal (artigo 5º, XXII). O atual Código Civil reafirma a função social da propriedade acolhida no art. 5º XXIII da Constituição Federal e no Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/01). ELEMENTOS • Direito de Usar (jus utendi) ⎯ consiste na faculdade que o dono tem de servir-se da coisa e utilizá-la da maneira que entender mais conveniente, sem modificação em sua substância, não podendo causar danos a terceiros (ex: morar em uma casa). • Direito de Gozar (jus fruendi) ⎯ consiste na retirada dos frutos (naturais ou civis) e a utilização dos produtos da coisa (ex: locação). • Direito de Dispor (jus abutendi ou disponendi) ⎯ consiste no poder de se desfazer da coisa a título oneroso (venda) ou gratuito (doação), abrangendo o poder de consumi-la ou gravá-la de ônus (como veremos na próxima aula: penhor, hipoteca, servidão, etc). • Direito de Reivindicar (rei vindicatio) ⎯ abrange o poder de mover ação para obter o bem de quem injustamente o detenha ou possua (ação reivindicatória). RESTRIÇÕES AO DIREITO DE PROPRIEDADE O direito de propriedade não é absoluto. Encontra limites no direito dos outros, que deve ser respeitado. E, cada vez mais, vão surgindo medidas restritivas ao direito de propriedade, impostas pelo Estado em prol da supremacia do interesse público. Assim, o direito de propriedade esbarra na sua função social, no interesse público, no princípio da justiça e do bem comum. Limitações ao Direito de Propriedade CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1188 1 – Constitucionais • O espaço aéreo e o subsolo pertencem ao proprietário do solo, até a altura e profundidade que lhes seja útil, dentro das limitações legais. O dono do solo será, também, o dono do subsolo, para construção de passagens, garagens subterrâneas, porões, adegas, etc. No entanto esta regra pode sofrer algumas limitações.Pelo artigo 176 da C.F. os recursos minerais e hidráulicos constituirão propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, ficando sob o domínio da União. A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais somente poderão ser efetuados mediante autorização ou concessão da União. Todavia a própria Constituição garante ao dono do solo a participação nos resultados da lavra. • Desapropriação por necessidade ou utilidade pública e por interesse social (artigo 5º, inciso XIV e artigo 184 da Constituição Federal), mediante prévia e justa indenização em dinheiro. • Requisição – uso da propriedade alheia em caso de perigo iminente (artigo 5º, inciso XXV da Constituição Federal) ou em circunstâncias especiais, assegurando-se ao proprietário o pagamento de indenização. • Confisco de terras onde se cultivem ilegalmente plantas psicotrópicas – artigo 243 C.F. • Constituição: arts. 216, I a V, §§1º a 5º; 23, III e IV e 24, VII – colocam sob proteção especial do poder público os documentos, obras e os locais de valor histórico ou artístico, os monumentos e as paisagens naturais notáveis, bem como as jazidas arqueológicas – o proprietário tem o uso e gozo da coisa, mas não tem a disponibilidade, uma vez que sua alienação depende de autorização do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. • Proteção do Bem Ambiental, segundo prevê o artigo 225 da Constituição Federal. O próprio Código Civil (art. 1.228, §1º) prescreve que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as finalidades econômicas e sociais, de modo que sejam preservadas a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como seja evitada a poluição do ar e das águas. 2 – Administrativas • Coisas tombadas (Decreto nº 25/1937). • Ocupação de terrenos vizinhos às jazidas (servidão compulsória). • Restrição sobre floresta (Código Florestal) – certas árvores, devido à sua beleza e raridade podem ficar imunes ao corte. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 1199 • Restrições sobre alinhamento, altura, etc. de construções, por razões estéticas, urbanísticas e higiênicas; pode haver obrigação de murar terrenos, calçar passeios, etc. • Zona de proteção dos aeroportos – proibição de construir acima de certa altura, dentro do setor de aproximação de aviões. 3 – Militares • Requisição de móveis e imóveis necessários às Forças Armadas (Decreto-Lei nº 5.451/1943) e à defesa do povo. • Transações de imóveis particulares situados nas faixas de até 150 km ao longo das fronteiras. 4 – Civil • O direito de vizinhança, que impede que o vizinho seja prejudicado quanto à segurança, ao sossego, saúde (veremos, ainda hoje os Direitos de Vizinhança); direito de passagem forçada para imóvel encravado (veremos a Servidão Predial na próxima aula), etc. Todas essas restrições acabam traçando um novo perfil do direito de propriedade em vigor, deixando de apresentar características de direito absoluto e ilimitado para se transformar gradativamente em um direito de finalidade social. CLASSIFICAÇÃO A propriedade classifica-se em: 1 – Plena (ou alodial) ⎯ quando o proprietário tem o direito de uso, gozo e disposição plena enfeixados em suas mãos, sem que terceiros tenham qualquer direito sobre àquele bem. Todos os elementos da propriedade vistos acima estão reunidos nas mãos do seu titular. 2 – Limitada (ou restrita) ⎯ quando a propriedade tem sobre ela algum ônus (ex: hipoteca, servidão, usufruto, etc.), ou quando for resolúvel (se extinguirá com um acontecimento futuro). O proprietário abriu mão de um ou alguns dos poderes da propriedade em favor de outra pessoa. Exemplo: se o proprietário fez um usufruto em favor de um filho, em tese não poderá mais usar e fruir o bem, pois abriu mão desses direitos; constituiu-se assim, um direito real sobre coisa alheia – ele mantém a propriedade, mas não poderá mais usá-la. Na verdade, o direito de propriedade é composto de duas partes destacáveis: • nua propriedade ⎯ corresponde à titularidade, ao fato de ser proprietário e ter o bem em seu nome. Costuma-se dizer que a nua propriedade é aquela despida dos atributos do uso e da fruição, tendo direito à essência, à substância da coisa. A pessoa recebe o nome de nu proprietário, senhorio direto ou proprietário direto. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2200 • domínio útil ⎯ corresponde ao direito de usar, gozar e dispor da coisa. Dependendo do direito que tem, recebe nome diferente: enfiteuta, usufrutuário, etc. Desta forma, uma pessoa pode ser o titular, o proprietário, ter o bem registrado em seu nome e outra pessoa pode ter direitos de usar, gozar e até dispor daquele bem, em virtude de um contrato (ex: usufruto, servidão, habitação; pode este terceiro ter direito real de garantia sobre àquele bem, como hipoteca, penhor e anticrese). Assim, se o domínio útil e a nua propriedade pertencem à mesma pessoa, temos a propriedade plena. Caso contrário, temos a limitada. Cuidado para não confundir os termos!!! Vejamos “quem é quem” na posse e na propriedade, em um contrato de locação: Na posse • Locatário é o Possuidor direto ⎯ detenção material da coisa • Locador é o Possuidor indireto ⎯ posse exercida através de outrem Na propriedade • Locador é o Proprietário direto ⎯ tem a titularidade do bem, porém nem sempre tem a posse. Assim, o locador é o proprietário direto, mas também o possuidor indireto. E o locatário é o possuidor direto. PROTEÇÃO À PROPRIEDADE A proteção da propriedade é obtida através da Ação Reivindicatória (art. 95 do CPC), para retomada da coisa, quando terceira pessoa a detenha, dizendo-se dono. É diferente da Ação Reintegração que vimos na posse. Na Reivindicação o autor deve provar o seu domínio, oferecendo uma prova da propriedade, com a respectiva transcrição e descrevendo o imóvel com suas confrontações (é o registro do imóvel), bem como demonstrar que a coisa reivindicada esteja na posse injusta do réu. A ação reivindicatória é imprescritível, embora se trate de ação real. O domínio é perpétuo e somente se extingue nos casos expressos pela lei (ex: usucapião da outra pessoa, desapropriação, etc.) e pelo não-uso. No entanto, se a coisa for usucapida, não pode mais ser proposta ação reivindicatória pelo antigo proprietário. O efeito da ação reivindicatória é fazer com que o possuidor restitua o bem com todos os seus acessórios. Se impossível essa devolução por ter perecido a coisa, o proprietário terá direito de receber o valor da coisa se o possuidor estiver de má-fé. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2211 Outros meios judiciais de proteção: Ação Negatória – o proprietário que, apesar de conservar o bem em seu poder, sofre turbação no exercício de seu direito, poderá propor ação negatória para defender seu domínio, sendo freqüentemente empregada para solucionar conflito de vizinhança. Ação Declaratória – usada para dissipar dúvidas a respeito do domínio. Ação de Dano Infecto – medida preventiva baseada no receio de que o vizinho, em demolição ou vício de construção, lhe cause prejuízos; obtém do vizinho caução por eventuais futuros danos. CARACTERES DA PROPRIEDADE • Absoluto ⎯ é o mais completo dos direitos reais; o seu titular pode utilizar o bem como quiser, sujeitando-se apenas às limitações legais impostas (interesse público) ou coexistência do direito de propriedade de outros titulares (art. 1.231 CC). Podemos dizer que o direito de propriedade tem natureza absoluta se comparado com os direitos pessoais puros. Entretanto, relativiza-se quanto aos direitos da personalidade, aos direitos difusos e coletivos e os interesses da coletividade.Este caráter absoluto vem perdendo gradativamente a força. Vejam atrás a quantidade de limitações ao Direito de Propriedade. Principalmente tendo-se em vista sua finalidade social • Exclusivo ⎯ esta característica significa que uma mesma coisa não pode pertencer com exclusividade (portanto, ressalvado o condomínio) e simultaneamente a duas ou mais pessoas. • Perpétuo ⎯ o direito de propriedade subsiste independente de seu exercício, enquanto não ocorrer alguma causa extintiva (legal ou voluntária). • Elástico ⎯ a propriedade pode ser distendida ou contraída no seu exercício, conforme lhe adicionem ou subtraiam poderes destacáveis. Veremos isso melhor adiante. OBJETO DA PROPRIEDADE Podemos dizer que pode ser objeto de propriedade tudo aquilo que não for excluído pela lei. Assim, todas as coisas móveis e imóveis, corpóreas e incorpóreas, etc., desde que tenham valor econômico individualmente determinado e sejam aproveitáveis pelo homem, podem ser objeto do domínio. A grande divisão que existe na propriedade é a sua classificação em Imóveis e Móveis. Por isso vamos destacá-las em itens separados, para poder melhor analisar suas peculiaridades, especialmente em relação à sua aquisição e extinção. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2222 A) DA PROPRIEDADE IMÓVEL AQUISIÇÃO Aquisição da propriedade é a incorporação dos direitos de dono em um titular. A aquisição da propriedade imóvel se dá (conforme os arts. 1.227, 1.238 a 1.259 e 1.784 do CC que iremos analisar um por um): a) Originária ⎯ quando não houver transmissão de uma pessoa para outra; o indivíduo faz seu o bem sem que este lhe tenha sido transmitido por alguém. Subdivide-se em: • Acessão. • Usucapião. b) Derivada ⎯ quando houver transmissibilidade do domínio; a propriedade passa de uma pessoa para outra: • Ato causa mortis ⎯ testamento – herança. • Ato inter vivos ⎯ negócio jurídico (ex: contrato de compra e venda) seguido de registro. 1 - Acessão Acessão (art. 1.248 CC) é o modo originário de aquisição em virtude do qual fica pertencendo ao proprietário tudo quando se une ou se incorpora ao seu bem. Há um aumento do valor ou do volume do objeto, devido a forças externas. São suas espécies: • Ilhas formadas por força natural ⎯ acúmulo paulatino de areia, cascalho e materiais levados pela correnteza, ou de rebaixamento de águas, deixando a descoberto e a seco uma parte do fundo ou do leito. Interessam ao direito civil somente as ilhas formadas em rios não-navegáveis ou particulares, por pertencerem ao domínio particular (evidente que as ilhas formadas em rios públicos, são consideradas ilhas públicas e pertencem ao Estado). Traça-se uma linha mediana e imaginária no leito do rio dividindo-o em duas partes. Até o meio do leito a ilha pertence ao proprietário fronteiro da margem esquerda e a outra metade ao proprietário da margem direita. • Aluvião ⎯ acréscimo paulatino de terras às margens do rio, mediante lentos e imperceptíveis depósitos naturais ou desvios das águas. Esses acréscimos pertencem aos donos dos terrenos marginais, seguindo a regra de que o acessório segue o principal. A doutrina costuma chamar este fato de aluvião própria. Já as partes descobertas pelo afastamento parcial das águas dormentes, como lagos e tanques, são chamadas de aluvião imprópria. Não se consideram como aluvião os aterros artificiais ou acréscimos de terra feitos pelo proprietário ribeirinho, sem prejuízo CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2233 de terceiros (se houver prejuízo há obrigação de ressarcimento). Aluvião é obra da natureza e não do trabalho humano. • Avulsão ⎯ repentino deslocamento de uma porção de terra “avulsa” por força natural violenta, desprendendo de um prédio e juntando-se a outro. O dono do imóvel desfalcado perderá a parte deslocada; mas lhe será lícito exigir indenização dentro do prazo de um ano (prazo decadencial). Se o dono do imóvel acrescido não quiser pagar, deverá permitir a remoção da parte acrescida (art. 1.251 CC). • Álveo abandonado ⎯ (ou abandono de álveo) ⎯ álveo é o leito do rio. Secando ou desviando (fenômeno natural), tem-se o abandono de álveo; dá-se a mesma solução da formação de ilhas. • Acessões artificiais ou físicas ou industriais ⎯ derivam de um comportamento ativo do homem, como plantações, construções, etc. Possui caráter oneroso e se submete à regra de que tudo aquilo que se incorpora ao bem em razão de uma ação qualquer, cai sob o domínio de seu proprietário (presunção juris tantum do art. 1.253 CC). Em todas estas hipóteses, o proprietário do principal passa a ser também o do acessório (acrescido). 2 - Usucapião A palavra usucapião vem do latim (capio = tomar; usu = pelo uso; tomar pelo uso, adquirir pelo uso). É usada no gênero feminino ou masculino. No entanto a Constituição e o Código Civil vem usando o termo como uma palavra feminina: é a usucapião. A primeira manifestação se deu na Lei das XII tábuas: 02 anos para imóveis e 01 ano para os móveis e a mulheres. Vejam que absurdo: a mulher também poderia ser usucapida!! E maior absurdo ainda era o prazo para usucapião da mulher → um ano. Usucapião também é chamada (impropriamente) de prescrição aquisitiva. Particularmente não gosto deste termo. Mas já vi cair em concurso. É uma situação de domínio pela posse prolongada. Permite que uma determinada situação de fato, que, sem ser molestada, se alongou por um certo intervalo de tempo previsto em lei, se transforme em uma situação jurídica. Garante a estabilidade e segurança da propriedade, fixando um prazo, além do qual não se podem mais levantar dúvidas a respeito de ausência ou vícios do título de posse. A usucapião é um modo de aquisição da propriedade (e de outros direitos reais, como as servidões prediais, que veremos na próxima aula), independente da vontade do titular anterior. Ocorre quando alguém detém a posse de uma coisa com ânimo de dono, por um tempo determinado, sem interrupção e sem oposição, desde que não seja posse clandestina, violenta ou precária. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2244 Dentro dessas condições o possuidor requer ao Juiz (através de advogado) que lhe reconheça a propriedade. A sentença proferida (natureza declaratória) valerá como título e será registrada no Registro de Imóveis. Não podem ser usucapidas as coisas fora do comércio, como o ar, a luz solar, os bens públicos, os imóveis com cláusula de inalienabilidade, etc. (reveja estes itens na aula referente aos Bens). O possuidor pode, para fim de contar o tempo exigido, acrescentar à sua posse a do seu antecessor, contanto que ambas tenham as mesmas características (art. 1.243 CC). Sem posse não há usucapião, pois este vem a ser a aquisição do domínio pela posse prolongada. A posse deverá ser exercida com animus domini (intenção de dono) e deverá ser: • Mansa e Pacífica ⎯ exercida sem contestação de quem tenha legítimo interesse (ou seja, do proprietário). • Contínua ⎯ sem intervalos, porém admite a sucessão (art. 1.243 CC); o possuidor pode (não é obrigado, pois às vezes pode não interessar) acrescentar à sua posse a do seu antecessor para o fim de contar o tempo exigido, desde que ambas sejam uniformes. • Justa ⎯ sem os vícios da violência, clandestinidade ou precariedade. Se a situação de fato for adquirida por meio de atos violentos ou clandestinos, não induzirá posse, enquanto não cessar a violência ou a clandestinidade; se for adquirida a título precário tal situação jamais se convalescerá. Três são as modalidades de usucapião: 1 – EXTRAORDINÁRIA (ART. 1.238 CC) • exige-se, inicialmente que a posse seja pacífica, ininterrupta, com animus domini e sem oposição por no mínimo 15 anos. • o prazo pode cair para 10 anosse o possuidor houver estabelecido no imóvel sua moradia habitual ou houver realizado obras ou serviços de caráter produtivo. • não é necessário provar boa-fé ou justo título. • após preencher estes requisitos deve-se ingressar com uma ação e obter do Poder Judiciário uma sentença judicial (ela é declaratória do direito, servindo de título para registro no Cartório de Registro Imobiliário). No entanto estes processos costumam ser muito demorados. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2255 2 – ORDINÁRIA (ART. 1.242 CC) • posse mansa, pacífica e ininterrupta com animus domini por 10 anos. • o prazo cai para 05 anos se o imóvel foi adquirido onerosamente, desde que os possuidores nele estabelecerem sua moradia ou fizerem investimentos de interesse social e econômico (produtividade) – posse- trabalho. • justo título, ainda que contenha alguma irregularidade (ex: compromisso de compra e venda não registrado). • boa-fé ⎯ ignorância dos defeitos no título; crença de que a coisa realmente lhe pertence. • sentença judicial. 3 – CONSTITUCIONAL A Constituição de 1.988 (reforçada posteriormente pelo Código Civil e o Estatuto da Cidade), criou outras duas espécies de usucapião, não exigindo, em qualquer das espécies, o justo título ou boa-fé (há uma presunção juris et de jure de boa-fé): a) Área Rural - pro labore (arts. 191 CF e 1.239 CC). Requisitos: - área do imóvel não pode ser superior a 50 hectares. - posse - 5 anos ininterruptos sem oposição, com animus domini. - destinado para sua moradia ou de sua família. - pessoa não ser proprietária de outro imóvel, seja na área rural ou urbana. - deve tornar a propriedade produtiva por força de seu trabalho ou de sua família. - imóveis públicos – proibição b) Área Urbana – pro moradia ou pro misero (arts. 183 CF e 1.240 CC). Requisitos: - área do imóvel não pode ser superior a 250 m2. - posse – 5 anos ininterruptos sem oposição. - destinado para sua moradia ou de sua família. - a pessoa não ser proprietária de outro imóvel (seja na área rural ou urbana). - este instrumento só pode ser usado uma vez (o difícil é fiscalizar isso). - imóveis públicos – proibição Observações Importantes: CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2266 1 – Quanto à usucapião, é importante saber que o prazo de sua aquisição pode ser interrompido ou suspenso pelas mesmas causas que suspendem ou interrompem a prescrição em geral (se tiver dúvida, reveja a matéria na aula Fatos e Atos Jurídicos). A sentença é declaratória, constituindo título hábil para o Registro. O domínio é conferido ao homem e à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. 2 – A Lei 10.257/01 (Estatuto da Cidade) dispõe que as áreas urbanas com mais de 250 m2, ocupadas por população da baixa renda para sua moradia, por 05 anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados de cada possuidor, são susceptíveis de usucapião coletivo, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel, urbano ou rural. Na sentença o Juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe. São partes legítimas para a propositura dessa ação: a) o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio; b) possuidores, em composse; c) associação de moradores da comunidade, regularmente constituída (substituto processual). O autor terá os benefícios da justiça gratuita, sendo obrigatória a intervenção do Ministério Público. O rito do processo é o sumário. Já sabemos disso, já vimos em diversas oportunidades, mas sempre convém reforçar: “os bens públicos não podem ser objeto de usucapião”. 3 – Registro ⎯ Transcrição (art. 1.227 CC) Os contratos constitutivos ou translativos de direitos reais sobre imóveis têm de ser feitos por escritura pública. Os contratos criam os direitos e obrigações, mas a transmissão da propriedade imóvel só se opera com o registro de transferência. Transcrição é o registro da escritura feito no Registro de Imóveis. Vale a partir da data da “prenotação”, que é um apontamento protocolado que assinala a entrada em cartório de um documento. Na verdade somente o registro transfere o domínio de imóvel; transfere a propriedade. Devem ser registrados os títulos translativos da propriedade por ato inter vivos (compra e venda, troca, dação em pagamento, doação, etc.) bem como causa mortis (herança, legado, etc. – será visto na Aula sobre Sucessões). Também são registradas as sentenças homologatórias de divisão de bens (separação, divórcio, nulidade ou anulação de casamento, quando nas partilhas houver imóveis ou direitos reais, etc.), bem como as arrematações e adjudicações em hasta pública, usucapião, etc. O art. 1.245, §1º, do CC determina que “enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel”. Um contrato não é hábil para transferir o domínio de bem imóvel, sendo necessário, além do acordo de vontades, o registro do CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2277 título, que é uma presunção (juris tantum) da aquisição da propriedade imobiliária. Efeitos do Registro do Título: a) Publicidade – pelo registro torna-se conhecido o direito de propriedade. b) Legalidade – só se efetua o registro se não houver irregularidades nos documentos. c) Força Probante – fé pública do registro; presume-se pertencer à pessoa que transcreveu. d) Continuidade – se o imóvel não estiver registrado no nome do alienante, não poderá ser transcrito em nome do adquirente. e) Obrigatoriedade – indispensável para a aquisição da propriedade imóvel. f) Retificação – o registro não é imutável; pode ser modificado ou anulado se não exprimir a realidade dos fatos ou a jurídica. 4 - Direito Hereditário Direito hereditário é a forma de transmissão derivada da propriedade que se dá por ato causa mortis em que o herdeiro (legítimo ou testamentário) ocupa o lugar do de cujus em todos os seus direitos e obrigações. Segundo o art. 1.784 CC, com a abertura da sucessão, a herança se transmite, desde logo, aos herdeiros. Os herdeiros são considerados, num primeiro momento, condôminos dos bens herdados. Realizado o inventário e a partilha é expedido o formal de partilha, que será transcrito no Registro de Imóveis. Só depois disso cada herdeiro adquire a propriedade individual dos imóveis da herança, deixando de ser condômino. Obs: veremos melhor este tema na aula sobre Direito das Sucessões. PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL Dá-se a perda da propriedade imóvel por (art. 1.275 CC): • alienação ⎯ é a transmissão de um direito, de um patrimônio a outro (ex: compra e venda, doação, dação em pagamento, permuta, cessão de direitos, etc.). Necessita de transcrição no Registro Imobiliário. • renúncia ⎯ ato unilateral pelo qual o proprietário declara, expressamente, o seu intuito de abrir mão de seu direito sobre a coisa. Necessita também de transcrição no Registro de Imóvel (ex: renúncia de herança). • abandono ⎯ o imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, pode ser ocupado por outra pessoa e esta poderá adquirir-lhe a propriedade por usucapião. No entanto se o bem não se encontrar na posse de outrem, será arrecadado como bem vago e depois de três anos passar para à CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2288 propriedade do Município ou à do Distrito Federal. Se for na zona rural passará para a propriedade da União onde quer que se encontre (art. 1.276 CC). • perecimento ⎯ é a perda do objeto (ex: terras alagadas por inundação, avanço do mar, terremoto, etc.). • confisco ⎯ culturailegal de plantas psicotrópicas acarreta o confisco da propriedade (e não expropriação), visto que o artigo 243 da Constituição prevê que nenhuma indenização será cabível ao proprietário. • desapropriação ⎯ procedimento através do qual o Poder Público, por ato unilateral, despoja alguém de um bem, fundado em necessidade pública, utilidade pública ou interesse social, adquirindo-o mediante indenização prévia e justa, pagável em dinheiro ou, se o sujeito passivo concordar, em títulos da dívida pública. Ressalva-se à União o direito de desapropriar imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, quando objetivar a realização de reforma agrária. É modo involuntário de perda do domínio. É um instituto de direito público cujos efeitos pertencem ao direito civil. A Lei 10.257/01 determina que depois de decorridos 05 (cinco) anos de cobrança de IPTU progressivo, sem que o proprietário tenha cumprido a obrigação de parcelamento, edificação ou utilização, o Município poderá proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública (resgatados no prazo de até 10 anos), em prestações anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e juros legais de 6% ao ano. Observações: 1 – Os bens dos Estados, Municípios, Distrito Federal e Territórios são suscetíveis de desapropriação pela União. Os bens dos Municípios podem ser desapropriados pelos Estados. 2 – Poderá haver imissão provisória na posse, ou seja, transferência de posse do imóvel para o expropriante, já no início da demanda, por concessão do Juiz, se o Poder Público declarar urgência e depositar em juízo, em favor do proprietário o quantum estabelecido. 3 – A administração pública tem a obrigação de utilizar o imóvel para atender à finalidade pela qual se deu a desapropriação. Se desviar da destinação declarada dá-se a retrocessão (proporciona ao ex-proprietário perdas e danos, quando o expropriante não lhe oferecer o bem pelo mesmo preço da desapropriação e quando desistir de aplicá-lo a uma finalidade pública). Os bens expropriados, uma vez incorporados ao Poder Público não podem ser objeto de reivindicação; qualquer ação julgada procedente resolve-se em perdas e danos. • usucapião ⎯ já analisado – se por um lado uma pessoa ganha o direito de propriedade pela usucapião, por outro lado alguém também a perde. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 2299 • acessão ⎯ na modalidade avulsão, também já analisado acima. Observação – o simples não-uso não determina a perda da propriedade, se ainda não foi usucapido por outrem, ainda que se passem mais de vinte anos. Requisição (art. 1.228, § 3º, 2ª parte CC) ⎯ permite que a autoridade competente use a propriedade particular até onde o bem público exigir, em caso de perigo iminente (ex: guerra), garantindo ao proprietário direito à indenização posterior, se houver dano. Posse pro-labore ou posse-trabalho (art. 1.228, §§ 4ºe 5º CC) ⎯ o proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de 05 (cinco) anos, de considerável número de pessoas, e estas houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras ou serviços considerados pelo Juiz de interesse social e econômico relevante. O juiz deve fixar a justa indenização, valendo a sentença como título aquisitivo. B) DA PROPRIEDADE MÓVEL Formas de aquisição e perda da propriedade Aquisição da propriedade é a incorporação dos direitos de dono em um titular. Se de um lado uma pessoa adquire a propriedade de uma coisa móvel, por outro lado outra a perde, concomitantemente. Assim a aquisição e a perda são analisadas em um só momento. São modos aquisitivos e extintivos (vamos analisar os dois temas de uma só vez, pois eles coincidem): 1. Originário a) Ocupação b) Usucapião 2. Derivado a) Especificação b) Confusão c) Comistão d) Adjunção e) Tradição f) Sucessão hereditária A) Ocupação É o assenhoramento de coisa móvel (inclui os semoventes – animais) sem dono, por ainda não ter sido apropriada (res nullius – coisa de ninguém) ou por ter sido abandonada (res derelictae), não sendo essa apropriação proibida pela lei. Não se confunde a coisa sem dono ou abandonada com a coisa perdida. Esta CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 3300 deve ser restituída ao dono ou entregue às autoridades. A ocupação apresenta- se de três formas: • Ocupação propriamente dita ⎯ tem por objeto seres vivos e coisas inanimadas (ex: caça, pesca, obedecendo a regulamentos administrativos e leis especiais). • Descoberta (coisas perdidas – res perdita – arts. 1.233 a 1.237 CC) ⎯ achado de coisa móvel perdida pelo dono. Não se torna proprietário. Deve restituí-la a seu dono. Não o conhecendo deverá entregá-la às autoridades competentes. O único direito que assiste ao descobridor é o de receber uma recompensa chamada achádego, acrescida da indenização com a conservação e transporte da coisa. Tal recompensa não poderá ser inferior a 5% do valor da coisa. No entanto o proprietário ao invés de pagar a importância pode optar em abandonar a coisa, hipótese em que o descobridor poderá adquirir a propriedade da coisa. O Código Penal considera crime a apropriação de coisa achada e não entregue ao dono ou à autoridade competente no prazo de 15 dias. • Tesouro (coisa achada – arts. 1.264 a 1.266 CC) ⎯ é o depósito antigo de moedas ou coisas preciosas, enterrado ou oculto, de cujo dono não haja memória. Regras: - proprietário acha em seu imóvel ⎯ pertence ao proprietário, exclusivamente. - pessoa achou em terreno alheio e intencionalmente o procurava sem a permissão do proprietário ⎯ pertence ao dono do terreno. - pessoa acha casualmente em terreno alheio ⎯ divide-se em partes iguais, entre o dono do prédio e a pessoa que o achou. B) Usucapião É modo também de aquisição originária de bens móveis. O fundamento é o mesmo que inspira ao dos bens imóveis. A diferença está no prazo. Pode o possuidor, para efeito de usucapião, unir a sua posse à do seu antecessor, desde que ambas sejam contínuas e pacíficas. 1 – Extraordinária (art. 1.261 CC) a) posse ininterrupta (contínua) e sem oposição (pacífica). b) sem justo título e sem boa-fé. c) prazo – 05 (cinco) anos. 2 – Ordinária (art. 1.260 CC) a) posse ininterrupta (contínua) e sem oposição (pacífica). b) com justo título, boa-fé e animus domini. c) prazo – 03 (três) anos. C) Especificação (arts. 1.269 a 1.271 CC) CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 3311 É a transformação da coisa móvel em espécie nova, em virtude do trabalho ou da indústria do especificador, desde que não seja possível reduzi-la à sua forma primitiva. Exemplo clássico: lapidação de uma pedra preciosa; transforma-se uma coisa em outra coisa. Outros exemplos: escultura em relação a um bloco de pedra; pintura em relação à tela, etc. Se toda a matéria-prima for de outrem, a coisa nova pertencerá ao especificador se ele estiver de boa-fé; se estiver de má-fé, perderá a coisa nova em favor do dono do material. D) Confusão, Comistão e Adjunção (arts. 1.272 a 1.274 CC) Ocorrem quando coisas pertencentes a pessoas diversas se mesclam de tal forma que é impossível separá-las. • Confusão ⎯ mistura entre coisas líquidas (não confundir com confusão de dívidas, quando credor e devedor são a mesma pessoa ⎯ direito pessoal e não real). Exemplo: misturar suco de laranja com vodca (só façam isso depois de passarem no concurso), água e vinho; álcool e gasolina, etc. • Comistão ⎯ mistura de coisas sólidas ou secas. Exemplo: areia, cal e cimento, formando uma só massa. • Adjunção ⎯ justaposição de uma coisa sobre outra. Exemplo: tinta em relação à parede. Se a misturafor involuntária e impossível de separá-las, ocorre o condomínio necessário (ou forçado). Entretanto, se uma das coisas puder ser considerada principal em relação às outras, o domínio da espécie nova será atribuído ao dono da coisa principal, tendo este, contudo, a obrigação de indenizar os outros. E) Tradição Tradição (traditio rei) consiste na entrega da coisa móvel ao adquirente, com a intenção de lhe transferir o domínio. Como vimos, um contrato de compra e venda, por si só, não é apto para transferir o domínio de coisas móveis (o contrato somente cria a obrigação). Desta forma somente com a tradição é que a declaração de vontade se torna efetiva, transformando a obrigação em direito real. A tradição pode ser classificada em: • Real ⎯ entrega efetiva e material da coisa. • Simbólica ⎯ traduzida por ato representativo que traduz a alienação. Exemplo: entrega de chaves do carro. • Ficta ⎯ quando ocorre o constituto possessório (já vimos o conceito deste instituto). Exemplo: uma pessoa vende uma coisa (telefone), perdendo sua propriedade, mas continua possuindo essa coisa em virtude de um contrato de locação ou comodato; não é necessário entregar aquilo de que ele já tinha a posse. Fala-se, ainda em: CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 3322 - traditio longa manu – quando a coisa é posta à disposição do adquirente, por ser impossível a entrega manual (ex: máquinas de grande porte, porção de terras, etc.). - traditio brevi manu – quando o adquirente já era o possuidor da coisa (ex: locatário que compra o bem). F) Sucessão Hereditária ⎯ veremos mais adiante em aula referente ao Direito das Sucessões. Perde-se a propriedade, além das hipóteses acima, também pelo: • Perecimento ⎯ se a coisa móvel perecer (ex: incêndio; anel que caiu no mar, etc.). • Abandono ⎯ se seu dono a abandonar (res derelictae). PROPRIEDADE EM CONDOMÍNIO Condomínio (ou compropriedade) significa domínio ou propriedade em comum. Um mesmo bem pertence a várias pessoas, cabendo a cada uma igual direito sobre o todo. Temos o condomínio quando a mesma coisa pertence a mais de uma pessoa, cabendo a cada uma delas igual direito, idealmente sobre o todo e cada uma de suas partes. Todos os condôminos têm direitos qualitativamente iguais sobre a totalidade do bem, sofrendo limitações na proporção quantitativa. Classificação 1 – Quanto à origem a) convencional (ou voluntário) – resulta de acordo de vontades dos consortes. Exemplo: duas pessoas compram um barco “em sociedade”. b) incidente (ou eventual) – resulta de causas alheias à vontade dos condôminos. Exemplo: doação de um objeto a duas pessoas; herança deixada a duas ou mais pessoas, etc. c) necessário (ou forçado) – deriva de imposição da lei. Exemplo: condomínio por meação de paredes, cercas, muros, etc. 2 – Quanto ao objeto a) universal – compreende a totalidade do bem, inclusive frutos e rendimentos. b) particular – compreende certas e determinadas coisas ou efeitos. 3 – Quanto à forma CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 3333 a) pro diviso – a comunhão existe juridicamente, mas não de fato, já que cada comproprietário tem uma parte certa e determinada do bem (condomínio em edifícios). b) pro indiviso – a comunhão perdura de fato e de direito; o bem se mantém indiviso. A) CONDOMÍNIO CONVENCIONAL Regras gerais: 1) Cada condômino exerce seu direito de propriedade sobre a coisa toda, delimitado, naturalmente, por igual direito dos demais condôminos. 2) Pertence a todos a utilidade econômica da coisa. 3) O direito de cada condômino, em face de terceiros, abrange a totalidade dos poderes referentes ao direito de propriedade. Assim o condômino, mesmo minoritário pode mover ação de despejo contra um inquilino, mesmo ante a omissão ou a declarada oposição dos demais. O condômino só pode reivindicar o imóvel contra terceiro e não contra os demais condôminos. 4) Cada condômino tem seu direito delimitado pelos outros, na medida de suas quotas. 5) As quotas-parte ideais são apenas elementos aferidos do valor econômico pertencente a cada condômino, para que possa dispor da coisa. Direitos dos condôminos (art. 1.314 CC): • usar livremente da coisa conforme sua destinação e sobre ela exercer todos os direitos compatíveis com a indivisão. • reivindicá-la de terceiros e defender a posse. • vender a respectiva parte indivisa, respeitando o direito de preferência dos demais consortes. A venda feita pelo condômino a um estranho, com preterição dos demais só será definitiva após o decurso do prazo de decadência de 180 dias (contado a partir do momento em que cada condômino teve conhecimento da venda). • gravar (ex: hipotecar) a parte indivisa. Não pode gravar em sua totalidade sem a anuência dos demais comproprietários; no entanto pode dar em garantia real a parte que tiver. • a qualquer tempo requerer a divisão da coisa. Deveres dos condôminos (arts. 1.314, parágrafo único e 1.315 CC): • concorrer, na proporção de sua quota, para as despesas de conservação ou divisão da coisa. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 3344 • suportar, na proporção de sua quota parte, os ônus a que a coisa está sujeita (ex: hipoteca, servidão, etc.). • não alterar a coisa comum sem o consentimento dos outros. Divisão do condomínio - Extinção Há casos em que o condomínio perdura indefinidamente, como nos casos de condomínio forçado, em que a lei não permite divisão ou esta é impossível, como no caso de paredes, tapumes divisórios, etc. Em se tratando de condomínio ordinário, é transitório o estado de comunhão e a qualquer condômino assiste o direito de exigir a divisão da coisa comum (costuma-se dizer que “o condomínio constitui uma sementeira de discórdias”). A divisão é o meio adequado para se extinguir o condomínio. A divisão pode ser: a) Amigável ⎯ por escritura pública, desde que todos os condôminos sejam absolutamente capazes. b) Judicial ⎯ por sentença do Juiz, quando não houver acordo ou um dos condôminos for incapaz. O objetivo é a obtenção da autonomia de cada quinhão, de modo a constituir um todo independente, perfeitamente individualizado, livre de ingerência dos demais condôminos. A ação divisória é imprescritível, pois a qualquer tempo pode ser promovida a divisão (art. 1.320 CC). Venda de coisa comum Ninguém é obrigado a permanecer em condomínio contra a vontade. Sendo o bem divisível, é feita a divisão conforme vimos acima. No entanto, se o bem for indivisível, apresenta o Código Civil duas soluções: 1 – Adjudicação a um único condômino, indenizando-se os demais. Uma única pessoa compra o bem, pagando o preço proporcional aos demais condôminos. 2 – Venda da coisa comum, se não houver acordo quanto à adjudicação. Essa venda será feita em hasta pública. Há uma preferência dos demais condôminos em relação a estranhos. O direito de solicitar a venda é imprescritível e basta a vontade de um dos consortes para que se ordene a venda. O preço obtido será repartido entre os condôminos na proporção de seus quinhões. Compáscuo A expressão empregada é para significar comunhão de pastagens. Por incrível que pareça, já vi cair em um concurso tal termo. Dá uma idéia (não obrigatória) de reciprocidade: “assim como em meu campo se apascenta o rebanho do meu vizinho, também no terreno deste tenho o direito de colocar o meu gado”. CURSOS ON-LINE – DIREITO CIVIL – CURSO REGULAR PROFESSOR LAURO ESCOBAR www.pontodosconcursos.com.br 3355 Condomínio por meação de paredes, cercas, muros e valas As paredes, cercas, muros e valas que dividem propriedade, pertencem, em condomínio, aos proprietários confrontantes. É espécie de condomínio forçado ou necessário. Assim, cada proprietário tem o
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