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atividade humana é preciso que se formule nela um resultado ideal, ou fim a cumprir, como ponto de partida, e uma intenção de adequação, independentemente de como se plasme, definitivamente, o modelo ideal originário. [...] A atividade humana é, portanto, atividade que se orienta conforme a fins, e estes só existem através do homem, como produtos de sua consciência. Toda ação verdadeiramente humana exige certa consciência de um fim, o qual se sujeita ao curso da própria atividade. FONTE: Vázquez (2007, p. 219-222) Como afirmam Aranha e Martins (1993), o existir humano decorre do agir, visto que o homem se autoproduz à medida que transforma a natureza pelo trabalho. Como projeto humano, o trabalho depende da consciência que antecipa a ação pelo pensamento. Nesse movimento, estabelece-se a dialética homem- natureza e pensar-agir. Marx (1983, p. 242) chama de práxis a ação humana de transformar a realidade e faz questão de ressaltar a junção entre teoria e prática, atividade e consciência em uma via de mão dupla, isto é, “ao mesmo tempo que a consciência é determinada pelo modo como os homens produzem a sua existência, também a ação humana é projetada, refletida, consciente”. Por isso, a práxis é uma possibilidade apenas do ser humano. Um animal não tem medo da morte, não sente angústia, euforia diante da beleza, ou, então, planeja seus atos e reflete sobre sua prática. 148 Ao tratar dos conceitos de atividade e consciência é importante se ter claro que: • A prática humana (atividade) é a base do conhecimento e do pensamento do homem. • O ser humano é o único que realiza a atividade chamada “trabalho”, essa é uma distinção fundamental entre a atividade humana e a animal. • Em Psicologia Social, a consciência pode ser definida como um certo saber a respeito das coisas. Através dela construímos nossa compreensão sobre o mundo, sobre si mesmo e os outros. • Os termos atividade e consciência revelam a relação indissociável entre homem e mundo, trazem de forma clara o quanto que o ser humano, ao mesmo tempo que é construtor, também é construído. RESUMO DO TÓPICO 2 149 AUTOATIVIDADE 1 Feita a leitura deste tópico, defina atividade e consciência, expondo a relação entre essas duas categorias utilizadas em Psicologia Social. 150 151 TÓPICO 3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Atualmente, as discussões em torno da teoria das representações sociais são uma constante no campo da Psicologia Social. Isso pode ser explicado por essa proporcionar novas formas de analisar, entender e interpretar os fenômenos sociais e, mais do que isso, ajudando-nos a compreender por que as pessoas fazem o que fazem. O estudo das representações sociais é uma das ferramentas mais utilizadas em Psicologia Social e seu conhecimento é obrigatório, exatamente por isso e por proporcionar uma forma bastante peculiar de leitura dos fenômenos psicológicos e do comportamento humano. 2 COMO NASCE A TEORIA Como apresentado por Oliveira e Werba (1998), embora possamos citar várias contribuições para a criação da teoria das representações sociais, sua origem se dá fundamentalmente na Sociologia e na Antropologia, através de figuras como Durkheim e de Lévi-Bruhl, respectivamente. O primeiro termo utilizado por Durkheim foi representação coletiva, pelo qual buscou compreender questões ligadas à religião, mitos, dentre outros conhecimentos compartilhados e inerentes à sociedade. Já o conceito representação social é mencionado pela primeira vez pelo psicólogo social francês Serge Moscovici em seu estudo sobre a representação social da psicanálise, como os grupos populares a viam e compreendiam. Moscovici (apud OLIVEIRA, WERBA, 1998) afirmava que sua ambição não era criar e consolidar um campo específico de estudos. Seu maior objetivo era redefinir os problemas e os conceitos da Psicologia Social a partir do estudo desse fenômeno. A teoria das representações sociais surge na Europa, especialmente na França na década de 50. No Brasil, o interesse por essa teoria se inicia no final da década de 70, com estreita relação, inclusive, com o desenvolvimento da própria Psicologia Social, a partir do momento que essa assume uma postura mais crítica e preocupada com questões mais abrangentes, que extrapolavam o ser humano em si, ou seja, questões de ordem macrossocial. UNIDADE 3 | CATEGORIAS FUNDAMENTAIS EM PSICOLOGIA SOCIAL 152 Tal qual compreendida hoje, a teoria das representações sociais pode ser considerada uma forma sociológica de Psicologia Social, ou seja, conduz um modo de olhar a Psicologia Social, que exige a manutenção de um laço estreito entre a Psicologia e a Sociologia. Tendo origem em Durkheim, um sociólogo, contrapõe-se à vertente americana de Psicologia Social e acaba ampliando inclusive a noção de social. Moscovici (apud OLIVEIRA, WERBA, 1998) criou o conceito de representação social para enfatizar a visão de sujeito ativo e criativo na sociedade, em contraposição à passividade a que foi reduzido o homem na teoria cognitivista. Como afirma Franco (2010): [...] a decisão de valorizar o estudo das representações sociais enquanto categoria analítica e com aplicação nas mais diversas áreas está pautada na crença de que essa valorização representa um avanço, um ingrediente indispensável tanto para a compreensão do comportamento humano quanto para a melhor compreensão da sociedade ou, ainda, oferece um passo à frente comparada aos conceitos que historicamente fizeram parte da Psicologia Social. 3 CONCEITO Muitas são as possibilidades de conceituação do termo “representação social”. Segundo Minayo (1995), o termo representação social é um termo que nos remete à reprodução de uma percepção. Utilizado nas ciências humanas com frequência, normalmente refere-se a categorias de pensamento do coletivo ou dos grupos em relação à realidade, explicando-a, justificando-a ou até questionando-a. Como material de estudo, essas percepções são consideradas consensualmente importantes. Moscovici, embora não tenha apresentado um conceito definitivo de representações sociais, buscou se referir às mesmas como “[...] um conjunto de conceitos, proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de comunicações interpessoais. Elas, o equivalente, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crença das sociedades tradicionais: podem também ser vistas como a versão contemporânea do senso comum”. (MOSCOVICI apud OLIVEIRA; WERBA, 1998, p. 106). Dessa forma, as representações sociais podem ser consideradas “teorias do senso comum”, saber popular, elaboradas e partilhadas coletivamente por sujeitos pertencentes a grupos sociais específicos e com a finalidade de interpretar a realidade. Essas representações são dinâmicas e acarretam a produção de comportamentos e interações com o meio condizentes com elas. Segundo Oliveira e Werba (1998), talvez seja Jodelet quem melhor e mais detalhadamente conceitua representação social, essa compreendida como “[...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e compartilhada, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de uma realidade comum TÓPICO 3 | REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 153 a um conjunto social” (JODELET apud OLIVEIRA; WERBA, 1998, p. 106). Essa seria uma forma de pensamento social, um saber do senso comum, que revelaria processos socialmente marcados e que teriam relação direta com as condições e os contextos nos quais as representações sociais emergem. De forma mais prática, Franco (2010) define as representações sociais como os elementos simbólicos que os homens expressam por diversas formas, a principal delas, pelo uso de palavras. No caso do uso de palavras (linguagem oral ou escrita), os homens deixam claro o que pensam, como percebem essa ou aquela situação, que opinião têm