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JURISPRUDENCIA - INTERNACIONAL DH

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JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 
Sistema Interamericano de Direitos Humanos 
Casos de Atuação de Defensor Público Interamericano Brasileiro 
Caso Família Pacheco Tineo Vs. Bolívia 
Roberto Tadeu (DPE-MT) 
Caso Canales Huapaya e Outros Vs. Peru 
Pendente de julgamento 
Antonio José Maffezoli (DPE-SP) 
 
Os 04 Casos Julgados Pela CIDH Com Atuação de Defensor Público Interamericano 
(Fu Mo FaPa Ar / Ar Ar Bo Ar) 
Sebastian Furlán e familiares vs. Argentina (1º caso) 
Mohamed vs. Argentina (2º caso) 
Família Pacheco Tineo vs. Bolívia (DPE-MT) (3º caso) 
Argüelles e outros vs. Argentina (4º caso) 
Os casos Canales Huapaya e outros vs. Peru, José Agapito Ruano Torres e familiares vs. El Salvador e 
Agustín Bladmiro Zegarra Marín vs. Peru ainda não foram julgados pela CIDH. 
 
Novos Casos Brasileiros (ainda não julgados) 
Cosme Rosa Genoveva Vs. Brasil (Favela Nova Brasília) 
Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde Vs. Brasil 
 
 
Sistema Interamericano 
 
Caso Órgão Resumo Pontos Importantes Outros 
Loayza Tamayo Vs. Peru 
CIDH em 
17/09/97 
Prisão informal e tortura 
de professora acusada de 
integrar o Sendero 
Luminoso 
Garantia de HC pela CADH; 
vedação relativa ao “bis in 
idem”; obrigatoriedade das 
recomendações da CIDH 
Primeiro caso de dano ao 
projeto de vida 
“Meninos de Rua” 
(Villagrán Morales e 
Outros) Vs. Guatemala 
CIDH em 
19/11/99 
Homicídios sistemáticos 
de crianças e adolescentes 
moradores de Las Casetas, 
como prática higienista 
extraoficial do Estado 
Dimensão positiva do direito 
à vida; extensa normativa 
internacional dos direitos da 
criança e do adolescente 
O Brasil também possui 
histórico de desrespeito aos 
direitos de crianças e 
adolescentes 
Bámaca Velásquez Vs. 
Guatemala 
CIDH em 
25/11/00 
Debates sobre a imposição 
de regime prisional 
degradante, como o RDD 
no Brasil 
Dignidade da pessoa 
humana; proporcionalidade e 
razoabilidade 
Art. 57 das Regras Mínimas 
para o Tratamento de Presos 
nas Nações Unidas; ADIn 
4162/OAB 
 
 
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Olmedo Bustos e Outros Vs. 
Chile (“A Última Tentação 
de Cristo”) 
CIDH em 
05/02/01 
Vedação pela Suprema 
Corte de exibição do filme 
de Martin Scorcese por 
ofensa aos princípios 
cristãos 
Dupla dimensão da 
liberdade de expressão; 
condição de mero fato do 
DIn diante das normas 
internacionais de proteção 
dos direitos humanos; os 
direitos comunicativos 
protegem a democracia 
Inconvencionalidade do 
desacato; Caso Ellwanger 
(racismo contra os judeus); 
Marcha da Maconha; ADIn do 
Humor, ADPF da Lei de 
Imprensa; Caso Gerald 
Thomas (ato obsceno no 
teatro); DPU e DPESP 
denunciaram o Brasil na CADH 
pela manutenção do desacato na 
legislação 
1 – Maria da Penha Maia 
Fernandes Vs. Brasil 
Comissão 
em 04/04/01 
Enfermeira em 
Fortaleza/CE que ficou 
paraplégica em razão de 
violência doméstica 
perpetrada pelo marido, 
com longa demora no 
processo judicial criminal 
Necessidade de proteção dos 
direitos das mulheres 
(discriminação positiva); 
primeiro caso de aplicação 
pela Comissão da 
Convenção de Belém do 
Pará 
O Brasil é violador sistemático 
dos direitos das mulheres; 
edição da Lei Maria da Penha 
2 – José Pereira Vs. Brasil 
(Relatório nº. 95/03, Caso 
11.289 – Solução Amistosa) 
Comissão 
em 24/10/03 
(amistosa) 
Dois trabalhadores foram 
mortos por fugirem da 
escravidão em fazenda no 
Pará 
Primeiro caso de solução 
amistosa do Brasil perante a 
Comissão 
Criação do CONATRAE (DPU 
atua nele), federalização 
permanente da competência 
para julgar a redução à 
condição análoga à de escravo; 
STF amplia o conceito do crime 
(escravismo moderno); 
Convenção 105/OIT; EC 81/14 
3 – Jailton Neri da Fonseca 
Vs. Brasil (Caso 11.634) 
Comissão 
em 11/03/04 
Execução sumária de 
adolescente por PMs do 
RJ, com arquivamento por 
falta de provas do IPM 
Leniência do Estado com a 
impunidade de seus agentes; 
PMs devem ser investigados 
pela PC; educação de 
servidores públicos; 
fundamentação judicial das 
prisões não em flagrante; 
violação do direito à 
audiência de custódia 
A audiência de custódia é tema 
altamente polêmico e atual no 
Brasil, especialmente após a 
implementação do projeto-
piloto em SP (capital) pelo CNJ 
e pelo TJSP, com apoio formal 
da DPESP (lembrete: o MA já 
havia criado um sistema de 
audiências de custódia antes 
dessa iniciativa) 
Herrera Ulloa Vs. Costa 
Rica 
CIDH em 
02/06/04 
Condenação nacional do 
jornalista por supostas 
difamações (mera 
reprodução de periódicos 
europeus) de diplomata da 
Costa Rica, que teve que 
publicar em seu jornal 
Ofensa à liberdade de 
expressão (dupla dimensão); 
direito da sociedade de 
conhecer fatos públicos 
relevantes; ofensa ao duplo 
grau de jurisdição; 
“estoppel” na Comissão; 
novo debate sobre desacato e 
crimes contra a honra; 
inconvencionalidade da 
prisão para recorrer; excesso 
de linguagem judicial 
Novo levantamento do debate 
sobre a inconvencionalidade do 
desacato (idem Olmedo Bustos 
e Outros Vs. Chile – A Última 
Tentação de Cristo); DPU e 
DPESP denunciaram o Brasil 
na CADH pela manutenção do 
desacato na legislação 
Comunidade N’djuka 
Moiwana Vs. Suriname 
CIDH em 
15/06/05 
Massacre e deslocamentos 
internos de membros de 
comunidade tribal, em 
1986, por forças oficiais 
Competência da CIDH 
(fatos anteriores à adesão, 
mas de caráter permanente); 
“estoppel” na Comissão; 
direito de propriedade das 
comunidades tribais (idem 
indígenas); denegação de 
acesso à justiça; projetos de 
vida e pós-vida; dano 
espiritual; “greening” 
Cançado Trindade foi juiz do 
caso e propôs as idéias de 
projetos de vida e pós-vida, 
bem como de dano espiritual 
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Fermín Ramírez Vs. 
Guatemala 
CIDH em 
20/06/05 
Captura por populares de 
indivíduo suspeito de 
estupro de vulnerável 
seguido de morte, julgado 
com parcialidade 
(“emendatio libelli” para 
estupro + homicídio), sem 
devido processo legal e 
direito a recurso efetivo 
Ofensa ao devido processo 
legal; “emendatio libelli” 
parcial para viabilizar a pena 
de morte (incongruência 
entre acusação e defesa); 
impedimento de recorrer de 
forma efetiva; uso de juízo 
de periculosidade para 
viabilizar o Direito Penal do 
Autor 
Atuação da Defensoria Pública 
Penal da Guatemala; primeiro 
caso de debate sobre a 
congruência entre acusação e 
defesa; repúdio ao Direito Penal 
do Autor (Brasil: reincidência 
aceita pelo STF); Zaffaroni foi 
“amicus curiae” 
 
 
Comunidade Yatama Vs. 
Nicarágua 
CIDH em 
26/06/05 
Em 1990, o país dificultou 
a participação das 
comunidades indígenas 
em pleitos eleitorais, em 
desrespeito às 
características nacionais, 
implicando em forte 
abstenção e falta de 
representatividade nas 
eleições 
Teoria do impacto 
desproporcional; direito 
eleitoral; igualdade e não-
discriminação; a Nicarágua 
nunca cumpriu a decisão da 
CIDH 
Impacto desproporcional (parte 
da tese de doutorado do 
Joaquim Barbosa sobre 
exigência de exame de 
proficiência em línguas 
estrangeiras / Brasil: EC 20/98 
e limite do salário-maternidade, 
violência doméstica e APP 
incondicionada, aborto, 
definição legal de deficiência, 
Lei de Drogas e conceitos de 
traficante e usuário etc.); 
primeiro caso sobre direito 
eleitoral; primeiro caso sobre 
não-discriminação; 100 Regras 
de Brasília Sobre Acesso à 
Justiça (fala até de direito 
eleitoral e povos indígenas) 
 
Palamara Iribarne Vs. Chile 
CIDH em 
22/11/05 
 Ex-militar que atuou no 
serviço de inteligência da 
Armada, após escrever 
livro sobre os limites 
éticos da atividade, foi 
sumariamente punido na 
Justiça Militar por 
desobediência, 
descumprimento de devermilitar e desacato 
Violação da liberdade de 
expressão (dupla dimensão / 
censura prévia e desacato); 
violação do direito à 
audiência de custódia (o 
fiscal naval não foi 
considerado juiz pela 
CIDH); inconvencionalidade 
do julgamento de civis pela 
Justiça Militar 
Novo levantamento do debate 
sobre a inconvencionalidade do 
desacato (idem Olmedo Bustos 
e Outros Vs. Chile – A Última 
Tentação de Cristo; e Herrera 
Ulloa Vs. Costa Rica); Justiça 
Militar (só deve julgar militares 
da ativa por crimes militares, 
JAMAIS civis, seja em tempo 
de guerra ou de paz); DPU e 
DPESP denunciaram o Brasil 
na CIDH pela manutenção do 
desacato na legislação 
 
4 – Meninos Emasculados do 
Maranhão Vs. Brasil 
(Solução Amistosa) 
Comissão 
em 15/12/05 
(amistosa) 
Entre 1991 e 2005, vários 
meninos foram mortos e 
emasculados no MA, sem 
providências do Estado; o 
Brasil propôs reconhecer 
sua responsabilidade e 
indenizar as vítimas e os 
familiares 
Vedação à “cláusula federal” 
(a União não pode se 
esquivar da responsabilidade 
internacional em nome do 
Brasil por atos de outros 
entes federativos); 
“paradiplomacia” (atuação 
de entes estatais diversos do 
MRE, como o Estado do 
MA por autorização do 
PdaR por decreto) 
 
 
Segunda solução amistosa do 
Brasil 
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
5 – Damião Ximenes Lopes 
Vs. Brasil 
CIDH em 
04/07/06 
Pessoa com deficiência 
mental foi internada em 
manicômio no CE e 
morreu em decorrência de 
maus-tratos, havendo 
laudo com dados falsos 
tentando isentar os 
agressores de 
responsabilidade, sem 
apuração pelo Brasil 
Interação entre sistemas 
regional e global (menção a 
documento da ONU sobre 
investigação de execuções 
arbitrárias); supervisão por 
ricochete (ofensa à CADH 
por ofensa à Convenção da 
Guatemala); “estoppel” na 
Comissão; eficácia 
horizontal dos direitos 
fundamentais (tortura por 
particulares) 
Primeiro caso de exame de 
direitos de pessoas com 
deficiência; primeira 
condenação do Brasil na CIDH; 
o processo interno só acabou 
em 2012 com prescrição, por 
desclassificação de maus-tratos 
seguidos de morte para maus-
tratos simples (inefetividade) 
6 – Simone André Diniz Vs. 
Brasil 
Comissão 
em 21/10/06 
Mulher negra foi recusada 
em admissão para 
emprego doméstico por 
ser negra, sem atuação 
adequada do MPSP e do 
TJSP (inertes) 
Impossibilidade de atuação 
da CIDH (anterior à 
aceitação de sua 
competência / o caso foi 
solucionado na Comissão); 
discriminação racial; 
racismo institucional (o 
MPSP inclusive criou o GT 
de Igualdade Racial e busca 
expandir as promotorias de 
defesa da mulher) 
 
Primeiro caso da OEA sobre 
discriminação racial; atuação da 
OAB-SP e de ONG 
7 – Gilson Nogueira de 
Carvalho e Outro Vs. Brasil 
ÚNICA ABSOLVIÇÃO!!! 
(“absolvição é o carvalho!”) 
CIDH em 
28/11/06 
Assassinato de advogado 
militante dos direitos 
humanos, cujo processo 
no júri levou anos paribia 
ser concluído e culminou 
em absolvição do único 
acusado (ineficiência 
evidente do Brasil) 
“Estoppel” na Comissão; 
possibilidade de atuação da 
CIDH (a morte ocorreu antes 
da aceitação de sua 
competência, mas o que se 
examinava era a inércia 
permanente do Brasil); 
subsidiariedade da CIDH 
(“unwillingness” e 
“inability”); dupla via de 
proteção dos direitos 
humanos (o mecanismo 
internacional protege tanto 
os direitos humanos dos 
ofendidos quanto a legítima 
atuação estatal, a despeito de 
sua ineficiência não dolosa) 
 
Primeiro caso de proteção dos 
direitos humanos de um 
defensor dos direitos humanos; 
a ineficiência brasileira não 
culminou em condenação, mas 
apenas em recomendações 
(criação da PNPDDH); houve 
parecer do LFG 
8 – Escher e Outros Vs. 
Brasil 
CIDH em 
06/07/09 
Interceptações telefônicas 
ilegais da PM-PR 
autorizadas por juíza do 
PR para investigar 
supostos crimes de 
membros do MST, com 
divulgação dos resultados 
pela SSP na mídia 
Violação dos direitos à 
intimidade, à vida privada e 
à liberdade de associação; 
exame conjunto da CADH e 
da legislação brasileira para 
determinar o abuso; 
flexibilidade dos 
procedimentos perante a 
CIDH (desconsideração por 
liberalidade de 
descumprimento de prazo 
para apresentação de razões 
pelos interessados) 
 
 
Atuação do MPPR contra os 
abusos 
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
9 – Sétimo Garibaldi Vs. 
Brasil 
CIDH em 
23/09/09 
Em 1998, um integrante 
do MST foi assassinado 
por falsos policiais que 
pretendiam expulsar 
famílias que invadiram 
uma propriedade rural 
privada no PR; o MPPR 
não conseguiu impedir o 
arquivamento do IP pela 
juíza do caso 
Critérios para a aferição do 
excesso de prazo para a 
conclusão de investigações 
(CIDH: complexidade do 
caso, comportamento das 
partes, comportamento do 
juiz e efeitos jurídicos 
gerados sobre o ofendido / 
STF: número de réus, 
expedição de cartas 
precatórias, medidas 
liberatórias e outros 
processos em andamento); 
teoria europeia da obrigação 
processual (dever estatal de 
apuração de crimes) 
 
Similaridade ao caso Escher e 
Outros Vs. Brasil (mesma 
localidade); ineficiência das 
investigações estatais 
brasileiras; a CIDH determinou 
a revogação de uma lei 
paranaense que considerava a 
juíza do caso como cidadã 
honorária do PR 
González e Outras (“Campo 
Algodonero”) Vs. México 
CIDH em 
16/11/09 
3 mulheres, sendo duas 
adolescentes, foram 
estupradas e assassinadas 
em Ciudad Juarez, tendo 
seus corpos sido 
abandonados num campo 
de algodão; as autoridade 
locais nada fizeram, em 
razão do preconceito 
contra a mulher na região 
 
Violência estrutural de 
gênero e feminicídio; 
aplicação da Convenção de 
Belém do Pará (teoria do 
efeito útil: máxima 
efetividade das normas 
protetivas de direitos 
humanos pelo diálogo dos 
tratados sobre o tema); teoria 
européia da obrigação 
processual 
 
O Brasil promulgou 
recentemente uma lei que 
modificou o CP para prever o 
feminicídio 
Oscar Enrique Barreto 
Leiva Vs. Venezuela 
CIDH em 
17/11/09 
Barreto Leiva exerceu, em 
1989, cargo em ministério 
estatal; intimado a 
testemunhar em processo 
criminal contra 
parlamentares, passou à 
condição de réu perante a 
Suprema Corte, mesmo 
sem ter prerrogativa de 
função 
Ofensa ao devido processo 
legal (contraditório, ampla 
defesa, conhecimento prévio 
da acusação, duplo grau de 
jurisdição, defesa efetiva 
etc.); denúncia da CADH 
pela Venezuela (consolidada 
em 2013) 
 
 
Conexão com os argumentos da 
AP 470/STF (duplo grau de 
jurisdição e embargos 
infringentes) 
Vélez Loor Vs. Panamá 
CIDH em 
23/11/10 
Por não ter documentos 
regulares para adentrar o 
Panamá, Vélez Loor foi 
preso e condenado por 
autoridade administrativa 
sem defesa ou processo, 
ficando preso por longo 
período até ser deportado; 
comprovou-se a prática de 
tortura na prisão 
Políticas migratórias 
voltadas à detenção 
irregular; caráter bifronte do 
direito à notificação do 
consulado (+ opiniões 
consultivas, inclusive 
provocadas pelo Brasil); 
aplicação da Convenção da 
ONU sobre Tortura; 
convergência entre CIDH e 
CIJ 
 
 
 
 
MPF, DPU, União (MJ e PF), 
Governo de SP e Aeroporto de 
Guarulhos (concessionária) 
realizaram acordo para acabar 
com o “espaço conector” e 
garantir assistência jurídica aos 
estrangeiros que irregularmente 
adentrem o país 
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
10 – Gomes Lund e Outros 
Vs. Brasil (“Caso Guerrilha 
do Araguaia” / ADPF 153 e 
ADPF 320) 
CIDH em 
24/11/10 
Torturas, homicídios e 
desaparecimentos 
forçados de integrantes da 
Guerrilha do Araguaia no 
TO, na década de 1970; o 
Brasil promulgoua Lei da 
Anistia para isentar de 
punição diversos militares 
Justiça de transição; criação 
da Comissão Nacional da 
Verdade e da Comissão 
Especial de Mortos e 
Desaparecidos Políticos; 
inconvencionalidade de leis 
de anistia para crimes contra 
os direitos humanos; teoria 
do duplo controle; mandado 
implícito de criminalização; 
dever de não repetição; 
imprescritibilidade dos 
crimes contra os direitos 
humanos; permanência do 
“desaparecimento forçado” 
(possibilidade de atuação da 
CIDH) 
Rejeição da ADPF 153 pelo 
STF (tese da 
inconstitucionalidade); PSOL 
move agora a ADPF 320 (tese 
da inconvencionalidade – duplo 
controle; pós-condenação do 
Brasil na CIDH / PGR a favor 
em parecer); justiça de 
transição (4 dimensões 
conforme o CS-ONU: memória 
e verdade; indenização das 
vítimas; tratamento jurídico dos 
crimes; e modificação das 
instituições oficiais para a 
democracia); o STJ é favorável 
às ações cíveis reparatórias 
contra o Estado 
(imprescritíveis) 
11 – Comunidades Indígenas 
da Bacia do Rio Xingu Vs. 
Brasil (“Caso Belo Monte”) 
Comissão 
em 2011 
(sem 
solução 
ainda) 
As obras da Usina de Belo 
Monte já duram mais de 
30 anos; houve 
determinação de medidas 
cautelares pela Comissão, 
descumpridas pelo Brasil 
e posteriormente 
levantadas de forma 
parcial 
Questões ligadas aos direitos 
dos índios; 
“esverdeamento”; direitos 
trabalhistas, moradia digna, 
mínimo existencial, 
“etnocídio” etc.; 
credibilidade do Sistema 
Interamericano de Direitos 
Humanos; consulta prévia 
das populações indígenas 
(Comissão e CIDH: 
vinculante / STF: não 
vinculante) 
Há forte atuação do MPF 
(Thaís Santi – ver artigo 
“Anatomia de Um Etnocídio”) 
e da DPU (mais recentemente) 
López Mendoza Vs. 
Venezuela 
CIDH em 
01/09/11 
López Mendoza era 
opositor de Hugo Chaves 
e foi acusado de 
irregularidades 
administrativas quando 
exerceu funções 
públicas/políticas no país; 
foi condenado à suspensão 
de direitos políticos, 
inviabilizando-se sua 
participação em pleitos 
eleitorais 
A CIDH só considerou haver 
cerceamento de defesa e 
ofensa ao princípio da 
presunção de inocência, 
determinando-se a permissão 
de participação de Mendoza 
nos pleitos eleitorais; só 
processo criminal pode 
implicar em suspensão de 
direitos políticos; teoria da 
margem de apreciação 
(afastada pela CIDH no 
caso); o direito de defesa em 
sua plenitude e a presunção 
de inocência se aplicam 
também a processos 
administrativos 
O Brasil permite a suspensão de 
direitos políticos fora de 
processos criminais, como no 
caso de ações de improbidade 
ou mesmo em processos 
administrativos disciplinares 
(André de Carvalho Ramos diz 
não haver ofensa ao 
entendimento da CIDH, porque 
se trata de normas de boa 
governança, pelas quais se 
garantem o devido processo 
legal, o contraditório, a ampla 
defesa e a presunção de 
inocência – necessidade de 
análise em relação à Lei da 
Ficha Limpa) 
Atala Riffo y Niñas Vs. Chile 
CIDH em 
24/02/12 
Karen Atala Riffo, juíza 
da Suprema Corte, perdeu 
a guarda dos filhos para 
seu ex-marido por 
constituir união estável 
homoafetiva; embora a 
CIDH não tenha decidido 
sobre o direito de guarda 
em si, decidiu que a 
homossexualidade de 
Karen não poderia ser 
usada como fator 
Dano ao projeto de vida e 
discriminação sexual 
Primeiro caso de análise dos 
direitos à diversidade sexual; 
diálogo das fontes com o 
sistema da ONU 
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
determinante da guarda 
Hilaire, Constantine, 
Benjamin e outros Vs. 
Trinidad e Tobago 
CIDH em 
21/06/12 
30 pessoas condenadas à 
morte por condutas que, 
conforme a lei, seriam 
sancionadas 
automaticamente com a 
pena de morte 
Vedação à pena de morte 
automática; grave ofensa aos 
direitos humanos pela 
permanência em “corredor 
da morte”; regulação 
internacional da pena de 
morte (3 fases – Brasil na 
2ª); limitações internacionais 
à pena de morte (apenas para 
“crimes graves” / menores 
de 16 ou maiores de 70 na 
data dos fatos, grávidas ou 
com crianças pequenas, 
doentes ou deficientes 
mentais); teoria da quarta 
instância; julgamento pela 
CIDH em caso de ofensa à 
Carta da OEA (mesmo que o 
Estado não seja signatário da 
CADH) 
O caso foi julgado após a 
denúncia estatal da CADH, mas 
pelas condições da convenção, 
ainda era possível examinar os 
fatos; primeiro caso de “pena 
de morte automática”; baseado 
em caso dos EUA com atuação 
de defensor público do 
Condado Clark; vedações 
brasileiras à pena de morte e 
relação com a extradição 
Sebastián Claus Furlán e 
Familiares Vs. Argentina 
CIDH em 
31/08/12 
Menino de 14 anos sofreu 
grave acidente com 
seqüelas permanentes por 
acessar, para recreação, 
local abandonado pelo 
Estado outrora usado para 
treinamentos militares; a 
Argentina atribuiu 30% de 
responsabilidade ao 
menino 
Responsabilidade objetiva 
do Estado; dano ao projeto 
de vida; atuação de Defensor 
Público Interamericano; 
extensão dos danos aos 
familiares do menino (o pai 
teve até que largar o 
emprego para cuidar dele 
permanentemente) 
Primeiro caso de Defensor 
Público Interamericano 
Mohamed Vs. Argentina 
CIDH em 
23/11/12 
Homem condenado em 
segunda instância 
(absolvido na primeira), 
sem novo recurso, por 
homicídio culposo, com 
imposição de pena muito 
superior à pedida pelo MP 
Ofensa ao duplo grau de 
jurisdição e contrassenso 
com o direito de defesa 
efetiva (não poder recorrer 
da condenação dada em 
segundo grau significa que 
teria sido “melhor” ser 
condenado em primeira 
instância para, no recurso, 
debater e conseguir a 
absolvição) 
Segundo caso de Defensor 
Público Interamericano 
Artavia Murillo e Outros 
(“Fecundação in vitro”) Vs. 
Costa Rica 
CIDH em 
28/11/12 
O Judiciário declarou a 
inconstitucionalidade 
formal e material de 
norma do Executivo que 
regulamentava a 
fecundação in vitro 
Teoria do impacto 
desproporcional (atingiu 
sobremaneira as mulheres – 
autonomia reprodutiva); 
vedação ao uso do 
argumento da proteção dos 
direitos humanos para violar 
direitos humanos; direitos à 
vida privada e ao desfrute 
dos avanços tecnológicos; 
direito ao desenvolvimento 
da personalidade da mulher 
e ao planejamento familiar; 
ocorreu “suspensão fática” 
do direito à proteção familiar 
(vedado pela CADH) 
 
Adoção da teoria 
concepcionista pela CIDH; 
ADIn 3510/STF 
(constitucionalidade da Lei de 
Biossegurança); diálogo das 
Cortes (CIDH e CEDH) 
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Augusto
Realce
Mendoza e outros Vs. 
Argentina 
CIDH em 
14/05/13 
Recomendação para que a 
Argentina modificasse sua 
legislação, que impunha a 
pena de morte para 
menores de 18 anos em 
alguns casos; inércia da 
Argentina, levando à sua 
condenação pela CIDH 
Princípio da 
proporcionalidade, 
princípios regentes dos 
direitos da criança e do 
adolescente (superior 
interesse, proteção integral, 
prioridade absoluta, 
excepcionalidade e 
brevidade das sanções etc.); 
diálogo das fontes (CADH, 
Diretrizes de Riad, 
Convenção Americana dos 
Direitos da Criança etc.) 
Atuação da DPG da Argentina; 
apresentação de memoriais pelo 
IBCCRim 
Comunidades 
Afrodescendentes 
Deslocadas da Bacia do Rio 
Cacarica Vs. Colômbia 
(“Operação Gênesis”) 
CIDH em 
20/11/13 
Em 1997, uma operação 
militar e paramilitar 
contra as FARC implicou 
na morte de um líder 
comunitário e no 
deslocamento forçado de 
3500 outras, sem apuração 
posterior pela Colômbia 
Ofensa a diversos direitos, 
em especial vida, integridade 
física e psíquica, circulação 
e residência + propriedade 
coletiva (deslocamento 
forçado),proteção integral 
de crianças e adolescentes, 
idosos, devido processo 
legal etc.; expressão 
“comunidades 
afrodescendentes” 
(equiparação com as 
comunidades indígenas) 
Art. 68, ADCT + Convenção 
169/OIT; diferenciação da 
proteção brasileira a indígenas 
(posse permanente de terras da 
União) e quilombolas 
(propriedade coletiva); Decreto 
4887/03 (critério da 
autoatribuição aos 
quilombolas); competência 
federal para o tratamento de 
assuntos relativos aos 
quilombolas (a União deve 
atuar no feito ainda que a 
Fundação Palmares esteja 
presente, além de ela ter o 
dever de auxiliar a DP quando 
esta atuar também); Lei 
13043/2014 (isenção do ITR 
aos imóveis quilombolas) 
Família Pacheco Tineo Vs. 
Bolívia 
CIDH em 
25/11/13 
A família foge do Peru em 
1995 (Ditadura Fujimori), 
sendo expulsa da Bolívia 
em 2001, ignorando-se 
sua condição de 
refugiados 
Asilo em sentido amplo 
(asilo em sentido estrito + 
refúgio), “best interest of the 
child”; princípio “non 
refoulement” 
OC 21/CIDH (direitos de 
crianças e adolescentes no 
contexto da imigração / 
solicitada pelo Brasil); terceiro 
caso de Defensor Público 
Interamericano e atuação do 
Defensor Público do MT 
Roberto Tadeu como DPI 
Liakat Ali Alibux Vs. 
Suriname 
CIDH em 
30/01/14 
Alibux foi ministro das 
finanças do Suriname e, 
por atos de corrupção em 
sentido amplo, foi 
processado e condenado 
com base em lei 
processual editada 
posteriormente aos fatos 
para dar cumprimento a 
mandado constitucional 
de criminalização, sem 
possibilidade de recurso 
“Estoppel” na Comissão; 
ofensa ao duplo grau de 
jurisdição (no caso de 
julgamento direto pelo órgão 
judicial máximo do país, 
deve haver recurso efetivo 
para órgão “maior”, como o 
plenário); desnecessidade de 
existência de Tribunal 
Constitucional (só é preciso 
que os órgãos do Poder 
Judiciário possam fazer 
controle de 
constitucionalidade) 
A CIDH citou o Caso Nardoni 
para justificar a aplicação 
imediata de normas processuais 
penais aos processos em 
andamento, relativamente aos 
atos ainda não praticados ou 
aos respectivos prazos de 
prática ainda não iniciados; 
duplo grau de jurisdição no 
Brasil e OG 32/07 do Comitê 
de DH da ONU (AP 470: o STF 
mudou seu RI para prever o 
julgamento pelas Turmas, agora 
com recurso de mérito efetivo 
para o plenário, respeitando a 
CIDH e o PDCP – caso 
pendente de análise no Sistema 
Interamericano) 
 
Augusto
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Brewer Carías Vs. 
Venezuela 
CIDH em 
26/05/14 
Carías, renomado jurista 
venezuelano e participante 
da assembléia nacional 
constituinte de 1999, foi 
acusado de colaborar na 
elaboração do Decreto 
Carmona, documento que 
serviu de base para a 
tentativa de golpe para 
derrubar Hugo Chaves 
entre 2001 e 2002; ele 
fugiu do país para evitar 
prisão preventiva e ficou 
indefeso 
Acatamento da preliminar de 
não esgotamento dos 
recursos internos; manejo da 
teoria da etapa temprana 
para não se examinar o 
mérito e as violações de 
direitos humanos (com 2 
votos dissidentes e 33 “amici 
curiae” dentre juristas 
estrangeiros renomados 
contrários ao 
posicionamento da CIDH) 
Primeiro caso em que a CIDH 
acatou a preliminar de não 
esgotamento dos recursos 
internos; aplicação da teoria da 
etapa temprana; diversas 
críticas internacionais 
(retrocesso e ausência de 
proteção dos direitos humanos 
pela CIDH) 
Norín Catrimán e Outros 
(Povo Indígena Mapuche) 
Vs. Chile 
CIDH em 
29/05/14 
(sem 
necessidade 
de 
condenação) 
Líderes mapuche e uma 
ativista foram condenados 
por supostos atos 
terroristas entre 2001 e 
2002 (incêndios e perigos 
de incêndio sem danos a 
pessoas), com base em 
legislação que criava uma 
“presunção terrorista” 
Ofensas: legalidade, 
presunção de inocência, 
igualdade, contraditório e 
ampla defesa; o Chile 
revogou a lei que criava a 
“presunção terrorista”; a 
condenação das pessoas foi 
pautada também em 
“testemunhas anônimas” (a 
CIDH aceita, contanto que 
haja medidas para 
contrabalançar a situação e 
os depoimentos anônimos 
não sejam o alicerce da 
condenação) 
Objeto de estudos de conhecido 
examinador da DPU; a CIDH 
não costuma aceitar 
“testemunhas sem rosto”, assim 
como não aceita “juízes sem 
rosto” 
Argüelles e Outros Vs. 
Argentina 
CIDH em 
20/11/14 
Na década de 1980, 20 
oficiais militares foram 
acusados de fraudes, 
sendo todos presos 
preventivamente; o caso 
demorou 9 anos para ser 
concluído, com a 
condenação de todos, 
sendo que a lei obrigava-
os a serem defendidos por 
um militar, sem 
possibilidade de escolha 
Violações: liberdade, 
igualdade, devido processo 
legal, direito de escolha do 
próprio defensor (defesa 
técnica – formação jurídica e 
desvinculação das 
instituições militares); 
periodicidade da prisão 
preventiva (a análise de 
legalidade e conveniência 
deve ser feita 
reiteradamente); validade da 
existência de Justiça Militar 
(excepcional e sem atingir 
civis) 
Quarto caso de Defensor 
Público Interamericano (há 
artigo do José Maffezoli da 
DPESP sobre esse caso); o 
projeto do novo CPP trata da 
periodicidade da prisão 
preventiva (reapreciação a cada 
90 dias no máximo) 
Cruz Sánchez e Outros Vs. 
Peru 
CIDH em 
17/04/15 
No final de 1996, 
membros do MRTA 
invadiram uma festa com 
centenas de pessoas na 
embaixada japonesa no 
Peru; até janeiro de 1997, 
a maioria dos reféns foi 
liberada; em abril de 
1997, Fujimori inicia a 
operação “Chávin de 
Huantar”, libertando os 
demais reféns e causando 
a morte de todos os 
membros do MRTA no 
local; um refém 
testemunhou tudo e 
Violação dos direitos à vida, 
à proteção judicial e às 
garantias judiciais 
(condenação na CIDH a 
apurar a autoria do 
assassinato de Cruz 
Sánchez) 
Caso mais recente da CIDH 
Augusto
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afirmou que 3 membros 
do MRTA foram 
executados 
extrajudicialmente pelas 
forças armadas peruanas; 
a CIDH confirmou a 
execução extrajudicial 
apenas de Cruz Sánchez 
Caso Loayza Tamayo Vs. Perú 
 Decidido em 17/09/1997 pela CIDH; 
 Trata-se de professora universitária presa junto com um familiar em fevereiro de 
1993 por supostamente pertencer ao Partido Comunista do Peru “Sendero 
Luminoso”, tido como um grupo terrorista; 
 A prisão não foi formalmente comunicada a seus familiares e ela foi submetida a 
sessões constantes de tortura para que “confessasse” fazer parte do “Sendero 
Luminoso”, o que negou em todos os momentos; 
 A legislação sobre terrorismo e crimes contra a pátria proibia o manejo de HC 
nesses casos; 
 O MP deu início ao processo no Juizado Especial da Marinha, formado por “juízes 
sem rosto”, onde María Elena Loayza Tamayo foi absolvida em todas as instâncias, 
mas permaneceu presa em todos os momentos; 
 Depois, os mesmos fatos foram reexaminados em processo criminal na jurisdição 
comum, onde ela foi condenada a 20 anos de prisão, bem como foi exposta na 
mídia como uma traidora da pátria e vestindo uniforme listrado de presidiário; 
 Sem solução perante a Comissão; 
 CIDH → condenação do Peru ao pagamento de indenização à vítima e aos seus 
familiares / violação de diversos direitos, notadamente a não submissão à tortura, a 
presunção de inocência, o acesso aos instrumentos de impugnação de decisões e 
garantia de liberdade (ex: HC), a vedação ao “bis in idem” e a competência 
jurisdicional adequada; 
 Pontos importantes → 1) vedação implícita à suspensão do HC pelo art. 27, 
CADH (exame da “cláusula derrogatória” / a CADH explicita um rol de direitos 
que nunca podem ser suspensos, dentre os quais não consta expressamente a 
liberdade de locomoção; no entanto, o final do dispositivo veda a suspensão de 
todos os instrumentos processuaisque sirvam para garantir tais direitos → nesse 
caso, a interpretação da CIDH é a de que o direito à liberdade de locomoção, ainda 
que possa ser excepcionalmente suspenso, não implica jamais na impossibilidade 
de manejo do HC para o exame da legalidade da medida constritiva / OCs 8/87 e 
9/97: o HC é uma garantia indispensável do ser humano, mesmo durante o estado 
de exceção); 2) amplitude da vedação ao “bis in idem” (a CADH veda o novo 
julgamento pelos mesmos fatos, enquanto o PIDCP e a CEDH vedam pelos 
mesmos “crimes”, a demonstrar a maior amplitude prática da CADH / no caso aqui 
debatido, é tecnicamente possível dizer que não houve violação literal ao PIDCP, 
mas sim à CADH – conforme as leis do Peru, o crime contra a pátria é de 
competência militar, enquanto o terrorismo é comum; entretanto, mesmo tendo a 
Justiça Militar extrapolado sua competência para dar nova definição jurídica aos 
fatos e examinar uma acusação de crime comum, a CIDH entendeu que a 
absolvição feita por juízo absolutamente incompetente não poderia ser ignorada 
depois pela Justiça Comum); 3) o “ne bis in idem” não é absoluto (tal qual 
Augusto
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definido no TPI, a coisa julgada em favor do acusado não se aplica nas hipóteses de 
“unwillingness” e “inability” – no caso do Brasil, é comum a rejeição da coisa 
julgada material em favor do acusado quando baseada em certidão de óbito falsa / 
ex: Caso Almonacid Arellano e Outros Vs. Chile); 4) definição da 
obrigatoriedade das recomendações da Comissão (a CIDH, ultrapassando seu 
entendimento definido no Caso Caballero Delgado, passou a entender que as 
recomendações expedidas pela Comissão são obrigatórias, com base no dever de 
boa-fé no cumprimento dos tratados internacionais, presente no art. 31.1 da 
Convenção de Viena Sobre o Direito dos Tratados / André de Carvalho Ramos: a 
obrigatoriedade não é do primeiro informe da Comissão, mas somente do segundo, 
geralmente usado quando o Estado investigado não aceitou a competência da CIDH 
/ sobre a possibilidade ou não de a Comissão modificar o segundo e último informe 
produzido, a OC 15/97 definiu que não está “a Comissão Interamericana 
autorizada a modificar as opiniões, conclusões e recomendações transmitidas a um 
Estado-membro, salvo em circunstâncias excepcionais, como: (a) em caso de 
cumprimento parcial ou total das recomendações e conclusões contidas no 
informe; (b) em caso da existência no informe de erros materiais sobre os fatos do 
caso; e (c) no caso do descobrimento de fatos que não eram conhecidos no 
momento da emissão do informe e que tiveram uma influência decisiva no seu 
conteúdo”); e 5) primeiro caso da CIDH sobre o dano ao projeto de vida 
(diverge dos danos emergentes, da perda de uma chance e dos lucros cessantes / 
trata-se do dano às expectativas de evolução pessoal e profissional da pessoa, 
arquitetadas ao longo de toda uma vida e para toda uma vida, cujo impedimento 
manifesto de sua realização gera grave dano / outro caso famoso é o Caso Atala 
Riffo y Niñas Vs. Chile / no REsp 1183378, o STJ tratou do direito ao projeto de 
vida, definindo que é possível o casamento de pessoas do mesmo sexo, impedindo-
se justamente o dano ao projeto de vida; há outros casos esparsos na jurisprudência 
brasileira sobre o tema, especialmente dos TRFs); 
Caso “Meninos de Rua” (Villagrán Morales e Outros) Vs. Guatemala 
 Julgado pela CIDH em 19/11/1999; 
 Diversos jovens, inclusive menores de idade, moradores de um setor urbano 
conhecido como Las Casetas (com altos índices de criminalidade), foram 
sistematicamente assassinados por forças de segurança guatemaltecas, prática 
estatal institucionalizada (mas informal), cujo objetivo seria a redução dos índices 
de criminalidade; 
 A Comissão fez diversas recomendações, as quais não foram plenamente atendidas 
pela Guatemala, o que levou à submissão do caso à CIDH; 
 CIDH → violação aos seguintes direitos: vida, integridade física, vedação à tortura, 
proteção integral da criança e do adolescente, devido processo legal etc.; 
 Pontos importantes → 1) dimensão positiva ou social do direito à vida (não deve 
o Estado apenas abster-se de desrespeitar a vida, mas também deve promovê-la 
ativamente); e 2) extensa normativa internacional sobre os direitos da criança e 
do adolescente; 
Caso Bámaca Velásquez Vs. Guatemala 
 Julgado pela CIDH em 25/11/2000; 
 Debate sobre a ofensa à dignidade da pessoa humana no caso de imposição de 
regimes de cumprimento de pena que sejam desproporcionais e desarrazoados, 
como o RDD no Brasil; 
Augusto
Realce
Augusto
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 Vedação expressa ao tratamento cruel e desumano imposto a pessoas presas, 
conforme o art. 57 das Regras Mínimas para o Tratamento de Presos da ONU; 
 ADIn 4162 proposta pela OAB; 
Caso Olmedo Bustos e Outros Vs. Chile (“A Última Tentação de Cristo”) 
 Julgado pela CIDH em 05/02/2001; 
 No dia 29 de novembro de 1988, após uma petição proposta por uma junta de sete 
advogados que alegavam agir como representantes da Igreja Católica e de Jesus 
Cristo, o Conselho de Qualificação Cinematográfica do Estado do Chile proibiu — 
com fulcro no artigo 19, §12 da sua Constituição — a exibição do filme A Última 
Tentação de Cristo (The Last Temptation of Christ), dirigido por Martin Scorsese; 
 Segundo os advogados que interpuseram a petição, o filme atentava contra os 
princípios cristãos e contra a honra de Jesus Cristo; 
 No dia 11 de novembro de 1996, o Conselho de Qualificação Cinematográfica 
revisou a proibição da exibição da película em comento, passando a admitir que o 
filme A Última Tentação de Cristo fosse exibido em território chileno, desde que 
apenas para maiores de dezoito anos; 
 Diante da revisão da decisão do Conselho de Qualificação Cinematográfica, os 
autores recorreram até a Corte Suprema do Chile, que, em 18 de junho de 1997, 
reformou a última decisão do Conselho Cinematográfico e restaurou a decisão 
inicial, proibindo toda e qualquer exibição do filme, independentemente de faixa 
etária; 
 Após a censura realizada pela Corte Suprema do Chile, sob o argumento de que 
estaria protegendo a honra de Jesus Cristo e os princípios cristãos, o caso chegou à 
Comissão Interamericana de Direitos Humanos; 
 Inicialmente, o feito chegou até a secretaria da Comissão IDH através de petição da 
Associação de Advogados pelas Liberdades Públicas (AG), que representava os 
peticionários Juan Pablo Olmedo Bustos, Ciro Columbara López, Claudio Márquez 
Vidal, Alex Muñoz Wilson, Matías Insunza Tagle e Hernán Aguirre Fuentes; 
 Não se chegou a uma solução perante a Comissão e, então, o caso foi enviado à 
CIDH; 
 CIDH → ofensa à liberdade de expressão (veicular o filme), mas não ao direito de 
crença (ver o filme não é expressão do direito de crença); 
 Pontos importantes → 1) direito à liberdade de expressão (“liberdade de 
imprensa” para o MPF / o caso tomou grandes proporções porque praticamente 
todos os países vizinhos, incluindo o Brasil, passavam o filme / precedente da 
CIDH: Blake Vs. Guatemala em 1998); 2) dupla dimensão da liberdade de 
expressão (dimensão individual – direito de se expressar; dimensão social – direito 
de buscar e de disseminar informações / precedente alemão: Caso Lüth, também 
conhecido pelo reconhecimento da eficácia horizontal dos direitos fundamentais); 
3) o DIn é mero fato perante as normas que regem a atuação da CIDH (ainda 
que se trate de conjunto de normas constitucionais de um país, o DI desconsidera 
quaisquer disposições contrárias aos seus preceitos, a exemplo da responsabilização 
perante o TPI de qualquer Chefe de Estado / após a decisão da CIDH, o Chile 
mudou sua Constituição e vetou a censura prévia); 4) interação entre OC 5/CIDH 
e jurisprudência do STF pelo princípio do cosmopolitismo ético (após consulta 
da Costa Rica, a CIDH afirmou que normas internas queexijam formação 
universitária para o exercício do direito de liberdade de expressão são contrárias à 
Augusto
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CADH / o STF, no julgamento de ACP do MPF, decidiu incidentalmente pela não 
recepção do DL 972/69 que exigia a formação universitária para o exercício da 
profissão de jornalista); e 5) direitos comunicativos (são os direitos de expressão e 
de recebimento/troca de informações / “direitos lingüísticos” / aspecto bi-vetorial: 
sedimentação da democracia e proteção das minorias / Jürgen Habermas: expoente 
da democracia deliberativa e da teoria do agir comunicativo); 
 Curiosidades → 1) sobre a liberdade de expressão e a censura prévia, a CIDH já 
afirmou diversas vezes a inconvencionalidade do crime de desacato, previsto até 
hoje no art. 331 do CP brasileiro (produção de “chilling effect” na pessoa que 
deseja criticar, mas, por medo das represálias, aceita os abusos do Estado – trata-se 
de uma “autocensura”, porque a pessoa que desejava se comunicar acaba optando 
por não o fazer); a DPU e a DPESP denunciaram o Brasil perante a Comissão 
pela manutenção ilegítima do desacato no ordenamento jurídico brasileiro / 2) 
no Brasil, ficou famoso o Caso Ellwanger, julgado pelo STF (o discurso de ódio 
veiculado no livro em questão caracterizava crime de racismo e atentava contra a 
dignidade dos judeus e a igualdade, na forma de abuso do direito de liberdade de 
expressão / a expressão “discurso de ódio” também é chamada de “fighting words”) 
/ 3) o STF, no julgamento da ADIn 4451 (ADIn do Humor), decidiu que o art. 45, 
II e III, da Lei nº. 9504/97 era parcialmente inconstitucional, porque vedava a partir 
de 01/07 do ano eleitoral as piadas sobre os candidatos (pode-se fazer um paralelo 
com os ataques recentes ao hebdomadário francês Charlie) / 4) o STF também 
julgou a ADIn 4274 sobre a “Marcha da Maconha”, definindo o direito de livre 
manifestação pela descriminalização do seu uso (que não se confunde com apologia 
ao crime) / 5) o STF, no julgamento da ADPF 130, declarou a não recepção da 
Lei de Imprensa, pelo seu viés antidemocrático / 6) no Caso Gerald Thomas, o 
STF definiu que, no contexto em que ocorrido o fato (duas da manhã num teatro em 
que se realizava apresentação com cenas de simulação sexual), mostrar as nádegas 
como forma de rebater críticas do público não configura o crime do art. 233 do CP 
(ato obsceno); 
Caso Maria da Penha Maia Fernandes Vs. Brasil 
 Decidido em 04/04/2001 pela Comissão Interamericana; 
 Maria da Penha, enfermeira em Fortaleza/CE, foi vítima durante toda sua vida 
conjugal de violência doméstica por parte de seu então marido; 
 Em razão das agressões, ficou paraplégica; 
 A denúncia do MP foi oferecida em 1984, mas até 1998 não havia julgamento e o 
acusado permanecia solto; 
 A Comissão foi instada a se manifestar em 1998 por diversas ONGs, exigindo do 
Brasil uma resposta; 
 O Brasil ignorou o chamamento da Comissão por 3 vezes; 
 Decisão da Comissão → 1) desrespeito à Convenção Americana, à Declaração 
Americana e à Convenção de Belém do Pará; 2) o Brasil viola sistematicamente os 
direitos das mulheres; 3) diversas recomendações (especialmente a mudança da 
legislação, a educação em direitos de toda a sociedade sobre os direitos das 
mulheres e a simplificação dos procedimentos judiciais penais para evitar a 
morosidade do Poder Judiciário); 
 Pontos importantes → 1) direitos das mulheres (idem Caso González e Outras Vs. 
México – Campo Algodonero); 2) primeiro caso de aplicação da Convenção de 
Belém do Pará pela Comissão (na CIDH, foi o Caso Miguel Castro Vs. Peru); e 3) 
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edição da Lei Maria da Penha (após enorme pressão sobre o Brasil); 
 Tema pedido mais de uma vez na DPE-SP; 
Caso José Pereira Vs. Brasil (Relatório nº. 95/03, Caso 11.289 – Solução Amistosa) 
 Solução amistosa celebrada perante a Comissão Interamericana em 24/10/2003; 
 Dois trabalhadores da Fazenda Espírito Santo (no Pará) foram mortos em 1989 ao 
tentarem fugir, porque haviam sido reduzidos à condição análoga a de escravos; 
 Violações → vida, liberdade, trabalho, justa remuneração, liberdade, proteção 
contra a escravidão, garantias judiciais etc.; 
 Solução amistosa → entre America’s Watch, CEJIL e o Brasil / reconhecimento da 
responsabilidade do Brasil por falta de fiscalização, menção do caso na criação da 
CONATRAE em 2003, federalização da competência para julgar o crime de 
redução à condição análoga à de escravo, fortalecimento do MPT e do Grupo 
Móvel do MTE; 
 Pontos importantes → 1) primeira solução amistosa assinada pelo Brasil 
perante a Comissão Interamericana (o outro caso, anterior a esse, é o Caso dos 
Meninos Emasculados do Maranhão, em que também houve acordo, mas não se 
chegou a assiná-lo perante a Comissão / o acordo de solução amistosa só foi 
assinado após a publicação do relatório da Comissão Interamericana 
responsabilizando o Brasil pelas violações, o que demonstra seu poder de pressão); 
2) federalização da redução à condição análoga à de escravo (compromisso 
assumido pelo Brasil e reiterado pelo STF, que mudou sua posição, baseando-se no 
caráter federal das normas fundamentais que protegem a coletividade de 
trabalhadores, tratando um crime contra a liberdade pessoal como um verdadeiro 
crime contra a organização do trabalho); 3) EC 81/2014 (art. 243, CF: “As 
propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas 
culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na 
forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de 
habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de 
outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. 
Parágrafo Único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em 
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de 
trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação 
específica, na forma da lei”); 4) a DPU atua no CONATRAE (Conselho Nacional 
de Erradicação do Trabalho Escravo); 5) neoescravismo ou escravidão moderna 
(Mazzuoli: “atualmente, o que se presencia em muitos países do Continente 
Americano é uma nova e mais requintada forma de escravidão e servidão. Tal pode 
ser chamado de neoescravismo, enquanto nova forma de comercialização de 
corpos humanos, caracterizando-se fundamentalmente pela falta de opção que têm 
grande parcela da população de encontrar trabalho digno fora de um sistema que 
os aprisiona com promessas de melhoria da qualidade de vida e bons salários”); 6) 
Convenção 105/1957/OIT (abolição do trabalho forçado / o Brasil é signatário); 7) 
liminar na ADI 5209 (o Ministro Lewandowski suspendeu a eficácia da portaria 
que cria a “lista suja do trabalho escravo”, do MTE, sob o argumento de que não há 
lei que lhe dê esse poder / o MPF, pela sub-PGR Ela Wiecko, interpôs agravo 
regimental, ainda aguardando julgamento); 
Caso Jailton Neri da Fonseca vs. Brasil (Caso 11.634) 
 Examinado pela Comissão em 11/03/2004; 
 O caso se relaciona com a ocorrência de execução do menino Jailton Neri da 
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É O QUE RESTA, VISTO NÃO TER O CARATER VINCULANTE.
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Fonseca, de 13 anos, por policiais do Estado do Rio de Janeiro em 22/11/1992, 
durante uma incursão da polícia na favela Ramos na cidade do Rio de Janeiro; 
 Foi aberto inquérito policial para investigar quatro policiais; no entanto, o caso se 
encerrou com a absolvição declarada pelo Conselho Permanente da Justiça Militar 
em 1996, quando aplicou o princípio in dubio pro reo em favor dos policiais 
acusados, tendo em vista a dúvida quanto à autoria do crime e a impossibilidade de 
produção de novas provas; 
 Comissão → Jailton foi detido sem ordem judicial,sem acusação e morto por 
policiais militares do RJ / violação pelo Brasil de diversos direitos humanos, tais 
como apresentação imediata a um juiz, proteção especial da criança e do 
adolescente, devido processo legal, vida, integridade física, não privação arbitrária 
da liberdade, não discriminação por motivos de raça/cor/etnia etc. / recomendações 
ao Brasil de mudança da legislação militar (nessas hipóteses, a Polícia Civil deve 
investigar os militares, e não eles próprios / julgamento de militares por juízes civis 
em casos como esse), indenização dos familiares, reeducação de servidores 
públicos sobre o tema etc.; 
 Ponto importante → primeiro caso brasileiro sobre violação do direito à 
audiência de custódia (tema altamente debatido atualmente, também em razão da 
instituição do modelo, ainda em fase de testes, na cidade de São Paulo pelo TJSP e 
pelo CNJ); 
 “Audiência de Custódia e a imediata apresentação do preso ao juiz: rumo à 
evolução civilizatória do processo penal” → clique aqui; 
 “Audiência de Custódia: conceito, previsão normativa e finalidades” → clique 
aqui; 
 “Audiência de Custódia: o que deve ser entendido por ‘sem demora’” → clique 
aqui; 
 Nota Técnica do MPF (2ª CCR) favorável à audiência de custódia → clique aqui; 
Caso Herrera Ulloa Vs. Costa Rica 
 Julgado em 02/06/2004 pela CIDH; 
 No dia 12 de novembro de 1999, a Costa Rica condenou o Sr. Mauricio Herrera 
Ulloa, jornalista do veículo informativo La Nación, por quatro delitos de difamação 
em virtude dos artigos publicados pelo Sr. Ulloa nos dias 19, 20 e 21 de maio e 13 
de dezembro de 1995; 
 Os artigos retratavam uma parcial reprodução de reportagens realizadas pela 
imprensa da Bélgica, nas quais se atribuíam a um diplomata da Costa Rica, Félix 
Przedborski, atos ilícitos como a realização de negócios secretos e o recebimento de 
comissões; 
 A sentença também condenou outro réu, o Sr. Fernán Vargas Rohrmoser (fatos não 
apreciados pela CIDH); 
 O Judiciário do Estado costarriquense condenou o Sr. Mauricio Herrera Ulloa e seu 
colega à pena de multa e à obrigação de publicar a sua própria condenação no 
jornal onde trabalhava, o veículo de comunicação La Nación; 
 Em virtude da sentença criminal proferida, o Sr. Ulloa teve seu nome incluso em 
uma lista de criminosos condenados; 
 Ademais, o Sr. Ulloa foi condenado a pagar uma indenização por danos morais e 
materiais na esfera cível (nesta ação, dividiu de maneira solidária o prejuízo com o 
http://www.ibccrim.org.br/revista_liberdades_artigo/209-Artigos
http://justificando.com/2015/03/03/na-serie-audiencia-de-custodia-conceito-previsao-normativa-e-finalidades/
http://justificando.com/2015/03/03/na-serie-audiencia-de-custodia-conceito-previsao-normativa-e-finalidades/
http://justificando.com/2015/03/18/na-serie-audiencia-de-custodia-o-que-deve-ser-entendido-por-sem-demora/
http://justificando.com/2015/03/18/na-serie-audiencia-de-custodia-o-que-deve-ser-entendido-por-sem-demora/
http://www.migalhas.com.br/arquivos/2015/3/art20150302-04.pdf
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Sr. Rohrmoser); 
 Por fim, a sentença também ordenou que o jornal La Nación retirasse o nome do Sr. 
Przedborski de todos os artigos publicados; 
 A Comissão adotou medida cautelar para suspender a eficácia da sentença 
condenatória, que foi descumprida e, então, o caso foi levado à CIDH; 
 CIDH → não acatamento da exceção de não esgotamento dos recursos internos 
(estoppel + não havia recurso adequado para o reexame do mérito da sentença penal 
condenatória) / acatamento da preliminar de impossibilidade de exame dos fatos 
quanto a Rohrmoser (não havia pedido expresso da Comissão para que a CIDH 
apreciasse seu caso) / condenação da Costa Rica: violação dos direitos à liberdade 
de expressão, ao conhecimento público de fatos relevantes para a sociedade e ao 
duplo grau de jurisdição; também houve determinação de indenização; 
 Pontos importantes → 1) princípio do estoppel ou da proibição do 
comportamento contraditório em âmbito internacional (a exceção de não 
esgotamento dos recursos internos, manejada perante a CIDH, não pode ser acatada 
quando não foi antes apresentada à Comissão, em razão da máxima “venire contra 
factum proprium”); 2) duplo grau de jurisdição e prisão para recorrer 
(considerou-se inconvencional e desarrazoada a exigência de recolhimento à prisão 
para recorrer de uma sentença penal condenatória / “prisão pedágio”: expressão de 
LFG, designa a prisão processual pós-sentença obrigatória para recorrer, eliminada 
formalmente com o advento da Lei nº. 11719/08, mas ainda muito praticada); 3) 
dupla dimensão do direito à liberdade de expressão (idem Caso Olmedo Bustos 
vs. Chile – A Última Tentação de Cristo / novidade: o Direito Penal não deve ser 
usado primordialmente para combater supostos excessos na liberdade de expressão 
quando o caso simplesmente envolver funcionários públicos; a CIDH e a Comissão 
entendem que os tipos penais de injúria, difamação e calúnia, ao invés de 
protegerem o indivíduo contra ataques exacerbados contra sua honra, são 
comumente usados pelo Estado para desestimular críticas à sua atuação, tal qual 
ocorre com o tipo penal de desacato – vale lembrar que a CIDH, no Caso Pablo 
Mémoli Vs. Argentina, tomou posição diametralmente oposta e foi duramente 
criticada pela comunidade internacional, que considera tal decisão um “ponto fora 
da curva” na jurisprudência interamericana); 4) mérito e recebimento da 
denúncia (o juiz não deve adentrar o mérito do caso já no recebimento da 
denúncia, etapa guardada apenas para aferir a presença de indícios de autoria e 
materialidade / STJ e STF: o excesso de linguagem na decisão de pronúncia, capaz 
de afetar o entendimento dos jurados, torna-a nula; ademais, a eloqüência 
acusatória do juiz quando do exame do caso antes da fase de sentença prejudica sua 
imparcialidade; por fim, a decisão que recebe a denúncia, exceto quando houver 
defesa preliminar, não exige fundamentação, justamente para que se evite a 
indevida incursão prévia no mérito); 
Caso Comunidade N’djuka Moiwana Vs. Suriname 
 Julgado em 15/06/2005 pela CIDH; 
 Em 29/11/1986, as Forças Armadas do Suriname atacaram uma comunidade tribal 
(não indígena!) e massacraram cerca de 40 pessoas, dentre eles mulheres e crianças, 
provocando o deslocamento interno e o exílio de muitas outras; 
 O caso foi submetido à Comissão, cujas recomendações de tomada de providências 
para apurar os fatos jamais foram seguidas; 
 CIDH → afirmação da própria competência (os fatos eram anteriores à adesão do 
Suriname à CADH e à competência contenciosa da CIDH, mas os deslocamentos 
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forçados perduraram após essas datas) / a preliminar de não esgotamento dos 
recursos internos foi afastada pelo princípio da “estoppel” (não houve alegação 
perante a Comissão) / o fato de os Moiwana não serem uma comunidade indígena, 
mas tribal, não lhes retira o direito às suas terras tradicionais, ainda que não 
possuíssem documento formal de propriedade / a falta de investigação dos fatos 
implica em denegação de acesso à justiça; 
 Pontos importantes → 1) projeto de vida, projeto de pós-vida e dano espiritual 
(ideia de Cançado Trindade, juiz do caso e que a explicou em voto separado / dano 
espiritual é aquele produzido contra o âmago humano, conectado às relações da 
pessoa com o seu futuro, o de sua comunidade e com os mortos, consubstanciando-
se em especialização do dano moral voltada para as crenças de além da vida que 
entrelaçam toda uma comunidade sob o aspecto cultural); 2) povos tradicionais e 
sua conexão com suas terras (a CIDH ampliou significativamente, ao longo do 
tempo, a sua jurisprudência sobre povos tradicionais, não mais restringindo o 
direito de posse e propriedade das terras aos índios, como também a outros grupos 
étnicos com características similares,a exemplo dos povos tribais e das 
comunidades quilombolas); e 3) “greening”/esverdeamento (proteção indireta do 
ambiente pela proteção direta, no âmbito do sistema interamericano, de direitos 
civis e políticos); 
Caso Fermín Ramírez Vs. Guatemala 
 Julgado em 20/06/2005 pela CIDH; 
 Fermín Ramírez foi capturado em 1997 por vizinhos na comunidade em que vivia, 
sob a alegação de ter sido o autor de um estupro seguido de morte de uma 
adolescente; 
 O MP da Guatemala o denunciou por estupro seguido de morte, mas, sem a 
comunicação da defesa, ocorreu a requalificação jurídica dos fatos, permitindo-se 
que Fermín fosse condenado por estupro e homicídio, impondo-se a ele a pena de 
morte (prevista no CP da Guatemala para o homicídio em circunstâncias especiais); 
 Todos os recursos da defesa foram esgotados sem sucesso; 
 Então, o Instituto da Defensoria Pública Penal da Guatemala acionou a Comissão 
Interamericana, requerendo-lhe a tomada de medidas cautelares para o 
impedimento da execução de Fermín, o que foi deferido e confirmado pela CIDH 
em 2005; 
 Sem solução amistosa, a CIDH foi instada a definir se Fermín teve acesso ao 
devido processo legal e a um recurso efetivo; 
 Pontos importantes → 1) consideração do princípio da congruência entre 
acusação e defesa (violado pela Guatemala, porque a requalificação jurídica dos 
fatos ocorreu sem manifestação da defesa / condenação pela CIDH a novo 
julgamento); e 2) juízo de periculosidade (o juízo de periculosidade previsto no 
CP da Guatemala permite o afastamento do Direito Penal do Fato e a adoção do 
Direito Penal do Autor, de cunho autoritário e contrário ao pacto de São José da 
Costa Rica / a CIDH determinou a revogação dessa disposição, a adaptação da 
legislação e proibiu nova condenação de Fermín à pena de morte pelos mesmos 
fatos); 
 Curiosidades → 1) Zaffaroni foi “amicus curiae” nesse julgamento (lembrete: 
em ADIn e similares no Brasil, pessoas físicas não podem exercer essa função; 
todavia, a lei permite em RE e o STF já aceitou em MS, como foi o caso do 
Senador Pedro Taques no MS 32033 sobre mudanças na legislação eleitoral e no 
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fundo partidário); 2) a DP da Guatemala atuou como protagonista (e a CIDH 
disse que o Estado não iria ressarcir seus custos, porque sua assunção é parte das 
obrigações assumidas pela própria DP); 3) primeiro caso de exame da 
congruência entre a acusação e a sentença (ponto bem examinado no Brasil por 
Gustavo Badaró); e 4) esse julgamento, ao rechaçar o Direito Penal do Autor, 
demonstra que há institutos jurídicos inaceitáveis na legislação penal 
brasileira, como a reincidência (ainda aceita pelo STF, conforme o RE 453000 / 
Zaffaroni, Salo de Carvalho, Paulo Queiroz e Juarez Cirino dos Santos são contra a 
reincidência / Juarez Cirino dos Santos ainda diz que a reincidência é a prova da 
ineficiência da suposta ressocialização da pena, o que deveria implicar em 
verdadeira atenuação); 
Caso Comunidade Yatama Vs. Nicarágua 
 Julgado em 26/06/2005 pela CIDH; 
 Na década de 1990, houve mudança na legislação eleitoral que alterou a forma de 
participação das comunidades indígenas nicaragüenses nos pleitos eleitorais; 
 Antes da mudança, aceitava-se que não só partidos políticos, mas também 
associações populares (formato adotado pelos índios Yatama) participassem dos 
pleitos eleitorais, cujos requisitos eram menos rigorosos, sobretudo em relação à 
representatividade nacional (os partidos precisavam de apoio de 80% do eleitorado 
de cada município, enquanto que os índios Yatama só eram fortemente apoiados em 
regiões específicas do país); 
 A mudança eleitoral inviabilizou a participação dos Yatama nas eleições, mesmo 
após terem se tornado um partido político e se aliado a um outro partido de menor 
representatividade; 
 O Conselho Supremo Eleitoral, quando da análise dos requisitos legais, sequer 
mencionou os Yatama na decisão de indeferimento geral e, quando provocado, 
disse que não seria possível reexaminar suas decisões; 
 As eleições apresentaram elevado grau de abstenções e disparidade de 
representatividade do eleitorado, dada a importância dos povos indígenas para a 
Nicarágua; 
 O caso foi levado à Comissão, onde não se chegou a uma solução; 
 CIDH → violação ao dever de motivação das decisões e ao direito a recorrer, bem 
como aos princípios da igualdade e da não-discriminação; 
 Pontos importantes → 1) teoria do impacto desproporcional (trata-se da ideia da 
discriminação indireta não intencional – o Estado legisla ou atua para a 
generalidade da sociedade, modificando situações já consolidadas, sem a intenção 
de lesar ninguém; no entanto, a ação estatal, aparentemente neutra, acaba por causar 
prejuízos graves a uma parcela específica da sociedade, impedindo-a de gozar 
plenamente de certos direitos que antes não eram exageradamente restringidos / 
parece a configuração de responsabilidade objetiva / origem: Caso Griggs Vs. Duke 
Power CO. nos EUA – a Suprema Corte dos EUA condenou a Duke Power CO. por 
atingir desproporcionalmente seus empregados negros, que possuíam à época grau 
de escolaridade inferior, em virtude de questões históricas, por aplicar um teste de 
aptidão intelectual para permitir promoções em seus quadros / Corte Europeia de 
Justiça: Caso Bilka-Kaufhaus Vs. Von Hartz, sobre o impedimento de participar de 
fundos de pensão especiais de uma empresa para seus empregados de tempo 
parcial, que eram em sua quase totalidade as mulheres / exemplos brasileiros: ADIn 
1946 – inconstitucionalidade de norma da EC 20/98 que limitava o pagamento do 
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salário-maternidade pelo INSS a 1200 reais, a recomendar indiretamente que as 
empresas não pagassem às mulheres remuneração superior a esse valor, eis que 
iriam arcar sozinhas com as diferenças durante a licença-maternidade; ADIn 4424 – 
a exigência de representação da mulher por crime de lesões corporais em situação 
de violência doméstica é, por questões históricas, desproporcional, com aptidão 
para gerar impunidade, logo, deve ser caso de APP incondicionada; debate-se a 
descriminalização do aborto, eis que a norma penal atinge desproporcionalmente as 
mulheres em comparação aos homens, mas mais particularmente as negras e 
pobres, estigmatizadas por questões históricas e mais sujeitas à morte pelas práticas 
abortivas clandestinas; tese de doutorado nos EUA do ex-ministro Joaquim Barbosa 
sobre as ações afirmativas e o princípio da igualdade, com foco na teoria do 
impacto desproporcional; debate sobre a exigência de proficiência em línguas 
estrangeiras para mestrado e doutorado, eis que negros e pobres têm historicamente 
acesso tardio ou nenhum acesso a esse tipo de educação; a Convenção da ONU 
sobre Portadores de Deficiência, com status constitucional, define adaptação 
razoável como “a modificação necessária e adequada e os ajustes que não 
acarretem um ônus desproporcional ou indevido, quando necessários em cada 
caso, a fim de assegurar que as pessoas com deficiência possam desfrutar ou 
exercitar, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos 
humanos e liberdades fundamentais”, conceito usado pela PGR na ADPF 182 para 
o STF declarar a não recepção de artigo da LOAS sobre o conceito médico de 
deficiência já ultrapassado pela Convenção; a atual Lei Antidrogas usa conceitos 
desproporcionais e dissociados da realidade para diferenciar usuários de traficantes, 
notadamente a quantidade de droga apreendida durante a prisão em flagrante, as 
condições pessoais do investigado e ao local onde ocorreu a prisão, a sugerir que 
negros e pobres sejam muito mais facilmente alvos do art. 33, enquanto brancos e 
ricos serão enquadrados no art. 28, o que só se agrava em razão da seletividade do 
sistema penal brasileiro); 2) primeirocaso da CIDH sobre matéria eleitoral 
(outro caso importante: López Mendoza Vs. Venezuela); e 3) primeiro caso da 
CIDH sobre igualdade e não-discriminação (seguindo a OC 16, expedida pela 
CIDH dois anos antes, sobre migrantes ilegais); 
 Vale a pena também conferir as 100 Regras de Brasília Sobre Acesso à Justiça das 
Pessoas em Condição de Vulnerabilidade, que trata inclusive dos povos indígenas e 
sua participação em pleitos eleitorais; 
 A Nicarágua nunca cumpriu a decisão da CIDH; 
Caso Palamara Iribarne Vs. Chile 
 Julgado em 22/11/2005 pela CIDH; 
 Ex-militar (1972-1992) contratado pelo serviço de inteligência da Marinha 
(Armada) do Chile como civil para prestar serviços de inteligência; 
 Escreveu um livro sobre essa atividade e seus limites éticos; 
 A Armada do Chile, sob o pretexto de “razões de segurança nacional”, determinou 
sumariamente o recolhimento de todos os exemplares do livro e de todos os 
insumos e maquinários respectivos; 
 Palamara protestou publicamente e então foi denunciado no Juizado Naval pelos 
crimes de desobediência, descumprimento de dever militar e desacato; 
 Após reclamações internas e perante a Comissão Interamericana sem sucesso, o 
caso foi levado à CIDH; 
 Pontos importantes → 1) violação do direito de liberdade de expressão e de 
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pensamento (dupla dimensão individual e social / houve censura prévia / 
desrespeito ao direito de participação democrática na fiscalização das atividades 
estatais / o desacato já havia sido revogado, mas a acusação se baseou num outro 
tipo penal de “ameaça” que tinha como sujeitos passivos as mesmas autoridades, 
em violação ao decidido anteriormente pela CIDH sobre a inconvencionalidade do 
crime de desacato – os servidores públicos não merecem melhor proteção que os 
particulares); 2) violação do direito de audiência de custódia (Palamara foi 
apresentado ao Fiscal Naval, supostamente com função jurisdicional, o que não foi 
aceito pela CIDH) e 3) julgamento de civil por tribunal militar em tempo de paz 
(a jurisprudência da CIDH já se pacificou no sentido de ser vedado julgar civis por 
crimes militares em tempos de paz, especialmente perante tribunais militares, 
porque a jurisdição militar deve ser excepcional e guardada, em regra, apenas para 
os militares – Palamara trabalhava na Marinha Chilena, mas era civil para os efeitos 
penais – Caso Cesti Hurtado de 1999); 
 A CIDH condenou o Chile ao pagamento de indenizações, determinou a garantia de 
publicação do livro (que foi publicado pela própria Armada!) e impôs a mudança da 
legislação para adequação aos ditames da CADH; 
 Memorizando → civis jamais podem ser julgados por crimes militares em 
tempo de paz (por qualquer tribunal, inclusive!) e a jurisdição penal militar, 
além de também ter de obedecer ao requisito de “ultima ratio”, também só se 
aplica para os militares na ativa (nunca para reformados ou civis em geral); 
 ADPF 289/2013 → o PGR quer que o STF interprete o CPM para adequá-lo ao que 
foi decidido pela CIDH nesse caso; 
 O PSOL apresentou projeto de lei para reformar o CPM e adequá-lo ao decidido 
pela CIDH; 
 O STM propôs que somente o juiz auditor (de direito, portanto) julgue os civis por 
crimes militares em tempo de paz; 
 O ministro Celso de Mello, no HC 112936/2013, recomenda que se siga o definido 
pela CIDH e estabeleceu que o civil que agride militar em situação de policiamento 
ostensivo em favelas não comete crime militar, porque se trata de atividade típica 
de segurança pública (civil, portanto); 
 A DPU e a DPESP, por intermédio de Carlos Weis e Bruno Haddad, denunciaram o 
Brasil na Comissão Interamericana pela manutenção do desacato no CP; 
Caso dos Meninos Emasculados do Maranhão Vs. Brasil (12426 e 12427) 
 Acordo celebrado perante a Comissão Interamericana em 15/12/2005; 
 Atuação das ONGs Justiça Global e Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do 
Adolescente Padre Marcos Passerini; 
 Entre 1991 e 2003, diversos meninos entre 8 e 15 anos de idade foram mortos e 
tiveram seus genitais mutilados; 
 O Estado do Maranhão falhou sistematicamente na apuração do ocorrido, 
mantendo-se preponderantemente inerte; 
 As ONGs peticionaram à Comissão Interamericana pedindo a tomada de 
providências contra o Brasil; 
 O Brasil, após ser notificado, propôs: 1) reconhecer sua responsabilidade pelo 
ocorrido; e 2) indenizar os familiares das vítimas; 
 Pontos importantes → 1) primeiro caso em que o Brasil admitiu 
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voluntariamente sua responsabilidade internacional e propôs uma solução 
amistosa antes da decisão final (diferentemente dos casos Damião Ximenes 
Lopes, Gomes Lund e Escher); 2) bom exemplo de impossibilidade de 
afastamento da responsabilidade internacional do Estado por atos de entes 
federados (trata-se da vedação à “cláusula federal”, expressa na própria 
Convenção); e 3) paradiplomacia (também chamada de cooperação 
descentralizada ou diplomacia federativa / trata-se da atuação internacional de entes 
diversos do MRE; no caso aqui debatido, o PdaR autorizou por decreto que o 
Maranhão participasse ativamente dos debates e da elaboração do acordo); 
Caso Damião Ximenes Lopes Vs. Brasil 
 Julgado em 04/07/2006 pela CIDH; 
 Nascido em 1969, Ximenes Lopes possuía uma deficiência mental que, agravando-
se ao longo dos anos, exigiu sua internação quando completou 30 anos de idade, 
enquanto ainda residia com sua mãe no CE; 
 Sua primeira internação ocorreu em 1995, mas na segunda internação, em 1999, 
morreu em decorrência dos maus-tratos sofridos pelos funcionários da Casa de 
Repouso Guararapes (Sobral/CE), hospital privado ligado ao SUS; 
 O medido responsável pelo local produziu laudo para declarar a morte da vítima, 
aduzindo não haver lesões externas, bem como ter sido a morte decorrente de 
parada cardiorrespiratória; 
 A família da vítima, em especial sua irmã Irene, buscou todos os recursos internos 
para a investigação e a reparação do ocorrido, mas não obteve sucesso, o que levou 
à provocação da Comissão Interamericana; 
 Em 2003, a Comissão Interamericana apresentou seu relatório, concluindo pela 
responsabilidade do Brasil, o qual cumpriu apenas parcialmente as recomendações 
feitas; 
 Em 2004, a CIDH foi provocada, proferindo sentença condenatória em 2006 
(indenizações aos familiares e determinação de apuração do ocorrido, com punição 
dos agentes do crime); 
 Pontos importantes → 1) menção a documento internacional da ONU para 
fundamentar a condenação (Manual para a Prevenção e Investigação Efetiva de 
Execuções Extrajudiciais, Arbitrárias e Sumárias das Nações Unidas, ao lado da 
Convenção Interamericana sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência – Convenção da 
Guatemala); 2) primeiro caso da CIDH sobre violação de direitos de pessoa 
com deficiência mental (que ensejou a imposição de dever de elaboração de 
políticas antimanicomiais); 3) mecanismo de “supervisão por ricochete” (quando 
o caso envolver pessoa com deficiência, a ofensa à Convenção da Guatemala pode 
significar uma ofensa reflexa ao Pacto de São José da Costa Rica, a permitir, então, 
a atuação da CIDH); 4) primeira condenação do Brasil na CIDH (ao lado de ser 
o primeiro a lidar com os direitos das pessoas com deficiência mental); 5) exemplo 
de eficácia horizontal dos direitos fundamentais aplicada à tortura cometida 
por particulares, ainda que por delegação do Estado (objeto de prova 
dissertativa do MPF em 2013, comparando-se as normas internacionais, 
interamericanas e da ONU, com as internas sobre tortura); e 6) análise do 
princípio de “estoppel” (o Estado não pode alegar perante a CIDH a ausência de 
esgotamento dos recursos internos pelas vítimas se, durante o procedimento perante 
a Comissão Interamericana, permaneceu inerte nesse ponto – proibiçãode “venire 
contra factum proprium”); 
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 Curiosidade → o processo interno de responsabilização penal dos envolvidos 
acabou somente em 2012, seis anos depois da decisão da CIDH, com a declaração 
da prescrição da pretensão punitiva, eis que desclassificado o delito de maus tratos 
qualificado pela morte para maus tratos simples; 
Caso Simone André Diniz Vs. Brasil 
 Decidido pela Comissão Interamericana em 21/10/2006; 
 Gisele Mota anunciou na Folha de SP que pretendia contratar empregada 
doméstica, mas que deveria ser “branca”; 
 Simone Diniz candidatou-se, mas foi recusada por ser negra, o que a levou a 
reclamar perante a Subcomissão do Negro da Comissão de Direitos Humanos da 
OABSP, a qual provocou as autoridades policiais e houve a instauração de 
inquérito com base no crime do art. 20 da Lei 7716/89; 
 O MPSP deixou de oferecer denúncia alegando a falta de base legal; 
 O Brasil foi denunciado então pela OABSP e pelo Instituto do Negro Padre Batista 
perante a Comissão Interamericana por violação aos direitos ao devido processo 
legal, a acessar a justiça e pelas falhas na apuração da discriminação racial; 
 Entendimento da Comissão → o Brasil violou a CADH, porque permitiu a 
instauração sistemática de um racismo institucional, eis que se trata de 
comportamento corriqueiro das autoridades brasileiras / houve desrespeito ao 
definido na Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação Racial; 
 A Comissão fez diversas recomendações, dentre elas a indenização de Simone 
Diniz, o custeio de seu curso superior, a educação dos servidores públicos no tema, 
a criação de promotorias e delegacias especializadas no tema etc.; 
 Importante → primeiro caso de responsabilização de um país da OEA por 
racismo e exame do racismo institucional (baseado em caso anterior da Corte 
Europeia – Caso Nachova e Outros Vs Bulgária) e impossibilidade de submissão 
ao crivo da CIDH (o Brasil só aceitou sua competência contenciosa em 2008); 
Caso Gilson Nogueira de Carvalho e outro Vs. Brasil 
 Julgado em 28/11/2006 pela CIDH; 
 Carvalho era um advogado militante dos direitos humanos, que foi assassinado em 
1996; 
 Diversas entidades de direitos humanos provocaram a Comissão para detalhar o 
descaso do Brasil com relação à apuração do crime; 
 Em 2000, o Brasil ainda não havia passado da fase de pronúncia no Júri; 
 Em 2005, após sucessivas prorrogações do caso, o Brasil informou a Comissão que 
o único acusado foi absolvido e o MP apelou da sentença; 
 A Comissão submeteu o caso à CIDH; 
 CIDH → rechaçou-se a alegação de que o caso ocorreu antes do reconhecimento da 
competência da CIDH, pois o objeto da representação não era diretamente a morte 
de Carvalho, mas sim a possível omissão em caráter permanente do Brasil / afastou-
se também o argumento de não esgotamento dos recursos internos, porque ele não 
foi alegado previamente perante a Comissão (preclusão) / todavia, entendeu-se por 
fim que o Brasil, a despeito da ineficiência das apurações, não ficou inerte, então 
não havia violação da CADH, arquivando-se a representação; 
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 Pontos importantes → 1) caráter subsidiário da jurisdição da CIDH (ela não 
atua em qualquer caso de ineficiência do Estado, mas somente naqueles em que se 
confirma, tal qual no TPI, que o Estado não tem condições efetivas de chegar a um 
resultado adequado, ou não deseja fazê-lo – “inability” e “unwillingness” / em 
poucas palavras, não se trata de uma “obrigação de resultado”); 2) dupla via do 
mecanismo internacional de proteção dos direitos humanos (o sistema 
interamericano protege não só a pessoa contra as violações de direitos humanos 
pelos Estados, como também os Estados que não violaram direitos humanos / 
importância da atuação da AGU nesse caso, cuja contestação foi crucial para a 
absolvição do Brasil); 3) primeiro caso da CIDH sobre violação de direitos 
humanos de defensores de direitos humanos; 4) conceito de defensor de 
direitos humanos (Flávia Piovesan: “são todos os indivíduos, grupos e órgãos da 
sociedade que promovem e protegem os direitos humanos e as liberdades 
fundamentais universalmente reconhecidos, conforme dispõe a Declaração dos 
Direitos e Responsabilidades dos Indivíduos, Grupos e Órgãos da Sociedade para 
Promover e Proteger os Direitos Humanos e Liberdades Individuais 
Universalmente Reconhecidos, adotada pela ONU em 9 de dezembro de 1998” / em 
2014, a paquistanesa Malala e o indiano Kailash venceram o Nobel da Paz pela sua 
luta contra a repressão de crianças e adolescentes e seu direito à educação); 5) 
parecer do LFG (o LFG deu parecer no sentido da necessidade de condenação do 
Brasil, porque diversos policiais civis que poderiam estar ligados à morte de 
Carvalho não foram sequer investigados / a CIDH não acatou o parecer); e 6) 
recomendações da Comissão (o Brasil cumpriu algumas delas, a exemplo da 
criação da Política Nacional de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos – 
PNPDDH, pelo Decreto nº. 6044/2007); 
Caso Escher e Outros Vs. Brasil 
 Julgado em 06/07/2009 pela CIDH; 
 Durante o ano de 1999, o Poder Judiciário do PR, a pedido da PM-PR (sem 
legitimidade para tanto), autorizou a interceptação telefônica de pessoas ligadas a 
associações e cooperativas agrícolas conectadas ao MST, pelo suposto 
envolvimento na prática de crimes (jamais apontados nos relatórios da PM-PR); 
 As interceptações telefônicas deferidas, bem como as sucessivas prorrogações e 
ampliações de investigados, ocorreram sem oitiva do MP-PR e por meros 
despachos não fundamentados da juíza da Vara de Loanda; 
 Após a conclusão das investigações pela PM-PR, os áudios foram distribuídos para 
jornalistas e foram objeto de pronunciamento pelo SSP/PR; 
 O MP-PR, finalmente de posse da investigação, requereu a decretação de nulidade 
de todo o procedimento, o que foi negado; 
 Esgotados os recursos internos, provocou-se a Comissão Interamericana, que emitiu 
recomendações ao Brasil, nunca cumpridas (mesmo após 3 prorrogações de prazo); 
 O caso foi levado à CIDH, que condenou o Brasil pela violação do direito à 
intimidade e à vida privada, e do direito à liberdade de associação; 
 Pontos importantes → 1) a CIDH examinou a CADH e a legislação interna em 
conjunto (a PM-PR não tinha legitimidade para fazer investigações de crimes 
comuns, o MP deveria ter sido ouvido em diversos momentos, as decisões judiciais 
precisavam ser fundamentadas, a interceptação telefônica possui requisitos legais 
rígidos e que não foram cumpridos, o sigilo das investigações não pode ser 
quebrado com fins políticos e de desmoralização dos investigados etc.); 2) 
abrangência dos direitos à honra, à imagem e à vida privada (tais direitos 
Augusto
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abrangem não somente as violações ordinárias/cotidianas, mas também a realização 
de interceptações telefônicas ilegais, a divulgação ilegítima de informações à 
sociedade com objetivo político etc.); 
 Curiosidade → o prazo improrrogável de dois meses para que as vítimas 
apresentassem suas petições e provas encerrou-se num domingo, sendo que o 
regulamento da CIDH não diferencia dias úteis e não úteis (diferentemente do 
processo brasileiro!); nesse caso, as petições, apesar de intempestivas, foram 
recebidas por “mera liberalidade” da CIDH, que entendeu não haver prejuízo à 
segurança jurídica ou aos direitos de todas as partes nesse proceder; 
Caso Sétimo Garibaldi Vs. Brasil 
 Julgado em 23/09/2009 pela CIDH; 
 Em 1998, um grupo de cerca de 20 homens encapuzados, se passando por policiais, 
tentaram realizar um “despejo extrajudicial” de 50

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