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FORMAÇÃO DOCENTE Me. Ana Carolina Caetano Senger GUIA DA DISCIPLINA 2021 1 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 1. PRESSUPOSTOS DA FORMAÇÃO DOCENTE Objetivo Conhecer os pressupostos da formação docente. Introdução Atualmente, sabemos que é consenso dizer que a formação dos professores deve englobar assuntos que preparem o docente para formar alunos que se desenvolvam como pessoas, tenham êxito nas aprendizagens escolares e saibam atuar na sociedade como cidadãos participativos. Para tanto, precisamos investir na formação dos professores. Sabemos que a formação inicial, por si só, não é suficiente para o desenvolvimento profissional. O professor, como um ser comprometido, precisa estar motivado a evoluir continuamente, por isso é preciso promover ações que viabilizem condições adequadas de trabalho, carreira e desenvolvimento pessoal e profissional. 1.1. A formação docente Segundo Libâneo (2013, p. 27) “A formação profissional é um processo pedagógico, intencional e organizado, de preparação teórico-científica e técnica do professor para dirigir competentemente o processo de ensino.” Segundo o autor, os professores devem ter uma formação acadêmica que englobe disciplinas que formem sua base pedagógica, que contribuam para a compreensão do fenômeno educativo no contexto histórico-social, tais como: Filosofia, Sociologia e História da Educação; e também uma formação técnico-prática específica para a docência, incluindo disciplinas como Didática, Avaliação Escolar, Pesquisa Educacional, entre outras. Libâneo (2013, p. 27) afirma ainda que “a organização dos conteúdos da formação do professor em aspectos teóricos e práticos de modo algum significa considerá-los isoladamente. São aspectos que devem ser articulados.” Isso indica que a formação não deve apenas preparar o professor para conhecer as regras e técnicas, mas fornecer ao docente subsídio para associar os aspectos teóricos aos problemas e desafios da prática. 2 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Por isso que devemos ter em mente que a formação profissional do professor requer uma sólida formação teórico-prática. O bom desempenho do professor em sala de aula está asso ciado a uma vocação natural, ao gosto pela profissão e ao tempo de experiência no magistério, mas também não podemos esquecer da importância de se ter uma boa base teórico-científica, que ofereça uma maior segurança profissional “de modo que o docente ganhe base para pensar sua prática e aprimore sempre mais a qualidade do seu trabalho.” (LIBÂNEO, 2013, p. 28) 1.2 Referenciais para a formação de professores Em 1997, a Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação apresentou aos educadores brasileiros os Referenciais para Formação de Professores. O documento foi fruto da reflexão de muitos profissionais sobre a importância de se discutir sobre a capacitação e educação dos professores brasileiros. Com o documento, o MEC procurou contribuir com o debate sobre a formação de docentes e, ao mesmo tempo, reafirmar a relevância da implementação de políticas públicas para o desenvolvimento profissional de professores. Fonte: https://rosaurasoligositeoficial.files.wordpress.com/2016/09/img_6453.jpg?w=234&h=300 https://rosaurasoligositeoficial.files.wordpress.com/2016/09/img_6453.jpg?w=234&h=300 3 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Acesso em: 09 jan. 2018. A análise crítica da situação apontou para a necessidade de que fosse inserido um movimento de profissionalização do professor, pautado na concepção de competência profissional. O documento indica que são necessárias mudanças nas práticas de formação, “que incluam a organização das instituições formadoras, a metodologia, a definição de conteúdos, a organização curricular e a própria formação dos formadores de professores.” (BRASIL, 2002, p. 18) Além disso, o documento propõe a criação de sistemas de formação, que devem ser articulados aos processos de formação inicial e continuada de professores, baseados nos seguintes pressupostos: 1. O professor exerce uma atividade profissional de natureza pública, que tem dimensão coletiva e pessoal, implicando simultaneamente autonomia e responsabilidade. 2. O desenvolvimento profissional permanente é necessidade intrínseca a sua atuação e, por isso, um direito de todos os professores. 3. A atuação do professor tem como dimensão principal a docência, mas não se restringe a ela: inclui também a participação no projeto educativo e curricular da escola, a produção de conhecimento pedagógico e a participação na comunidade educacional. Portanto, todas essas atividades devem fazer parte da sua formação. 4. O trabalho do professor visa o desenvolvimento dos alunos como pessoas, nas suas múltiplas capacidades, e não apenas a transmissão de conhecimentos. Isso implica uma atuação profissional não meramente técnica, mas também intelectual e política. 5. O necessário compromisso com o sucesso das aprendizagens de todos os alunos na creche e nas escolas de educação infantil e do ensino fundamental exige que o professor considere suas diferenças culturais, sociais e pessoais e que, sob hipótese alguma, as reafirme como causa de desigualdade ou exclusão. 6. O desenvolvimento de competências profissionais exige metodologias pautadas na articulação teoria-prática, na resolução de situações-problema e na reflexão sobre a atuação profissional. 4 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. A organização e o funcionamento das instituições de formação de professores são elementos essenciais para o desenvolvimento da cultura profissional que se pretende afirmar. A perspectiva interinstitucional de parceria e cooperação entre diferentes instituições - também contribui decisivamente nesse sentido. 8. O estabelecimento de relações cada vez mais estreitas entre as instituições de formação profissional e as redes de escola dos sistemas de ensino é condição para um processo de formação de professores referenciado na prática real. 9. Os projetos de desenvolvimento profissional só terão eficácia se estiverem vinculados a condições de trabalho, avaliação, carreira e salário. Todos esses pressupostos foram criados pelo MEC para provocar uma reavaliação da natureza da atuação profissional do professor, bem como de sua formação. BRASIL. Referenciais para formação de professores. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: A Secretaria, 2002. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2013. 5 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 2. FORMAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL PERMANENTE Objetivo Conhecer as características da formação profissional do professor. Introdução Ser professor exige uma formação contínua, pois a educação é influenciada pelos avanços das ciências, pelo momento político e econômico que vivenciamos. Não há como separar as dimensões profissional e pessoal do professor, porque elas estão intimamente relacionadas em sua atuação docente. “O desenvolvimento profissional tem implicação direta no desenvolvimento da pessoa como ser cultural e político, e vice-versa. Muitas vezes, isso requer do professor reconsiderar valores e descobrir novas possibilidades de usufruir da cultura e da participação social.” (BRASIL, 2002, p. 63) Ser um profissional da educação implica em ser capaz de aprender sempre. Assim, os Referenciais para Formação de Professores (2002) entendem que a formação docente é um processo permanente de desenvolvimento, e isso exige do professor: disponibilidade para aprender sempre; buscar formação que o ajude a aprender; do sistema escolar em que atuaoferecer condições para ele continuar a aprender enquanto trabalha. Ainda segundo os Referenciais (2002), o processo de construção de conhecimento profissional do professor é contínuo devido a pelo menos quatro exigências: o avanço das investigações relacionadas ao desenvolvimento profissional do professor; o processo de desenvolvimento pessoal do professor, que o leva a transformar seus valores, crenças, hábitos, atitudes e formas de se relacionar com a vida e, consequentemente, com a sua profissão; a inevitável transformação das formas de pensar, sentir e atuar das novas gerações em função da evolução da sociedade em suas estruturas materiais e institucionais, nas formas de organização da convivência e na produção dos modelos econômicos, políticos e sociais; 6 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância o incremento acelerado e as mudanças rápidas no conhecimento científico, na cultura, nas artes, nas tecnologias da comunicação, elementos básicos para a construção do currículo escolar. Essas exigências afirmam a necessidade de transformação do modo como ocorrem os diversos momentos da formação dos educadores (formação inicial e formação continuada). O desenvolvimento profissional permanente requer um processo constante de reflexão, discussão, confrontação e experimentação coletiva. Vejamos as principais fases da formação profissional do professor: Fonte: https://www.estudiosite.com.br/site/wp-content/uploads/2016/12/educacao-a-distancia-ead-790.gif Acesso em: 10 jan. 2018. 2.1 Formação inicial É na formação inicial que existe a construção e reconstrução de conhecimento e de competências profissionais. “Ao analisar os objetivos e conteúdos da formação inicial, é preciso levar em conta as novas demandas da atuação do professor, tanto em relação à função social colocada à escola, quanto relação à necessidade de formar um profissional reflexivo.” (BRASIL, 2002, p. 67) A formação inicial do docente deve incluir disciplinas que permitam a reflexão sobre os diferentes significados e implicações da ação pedagógica, a dimensão social, política e cultural da educação escolar, de modo que o professor possa transformá-la num diálogo rico com os alunos — aberto, respeitoso, comprometido, crítico, face a preconceitos e consciente dos objetivos que se propõe a atingir — e não um mero exercício cientificista e vazio de significado. Ou seja, é preciso que se desenvolva a sensibilidade para lidar com https://www.estudiosite.com.br/site/wp-content/uploads/2016/12/educacao-a-distancia-ead-790.gif 7 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância os alunos, sem subserviência ou autoritarismo, e para isso contribuem as disciplinas da formação pedagógica. (MONTEIRO, 2014) O momento da formação inicial é estratégico, porque ele possibilita a constituição de um repertório de saberes a serem ensinados. É preciso que a formação capacite o professor a ensinar para que os alunos possam aprender, ou seja, realizando o processo de mediação didática entre os conhecimentos científicos e os diferentes saberes em interação na cultura escolar. (LOPES,1999) 2.2. Formação para titulação de professores em exercício Apesar de ser uma situação cada vez mais rara na atualidade, pois a maior parte das pessoas interessadas em lecionar para crianças buscam a graduação em Pedagogia, ainda existem programas desenvolvidos com a finalidade de titular professores em exercício sem a formação acadêmica exigida por lei. Isso acontece porque o professor “[...] necessita de uma formação que lhe ofereça condições e um currículo que lhe permita atingir o mesmo patamar e a mesma amplitude do conhecimento profissional estabelecido pela formação inicial em nível superior, dependendo da escolaridade que já possui.” (BRASIL, 2002, p. 70) 2.3. Formação continuada A formação continuada é necessária a todos os profissionais da educação e deve fazer parte de um processo permanente de desenvolvimento profissional que deve ser assegurado a todos. A formação continuada deve propiciar atualizações, aprofundamento das temáticas educacionais e apoiar-se numa reflexão sobre a prática educativa, promovendo um processo constante de autoavaliação que oriente a construção contínua de competências profissionais. Porém, um processo de reflexão exige predisposição a um questionamento crítico da intervenção educativa e uma análise da prática na perspectiva de seus pressupostos. Isso supõe que a formação continuada estenda- se às capacidades e atitudes e problematiza os valores e as concepções de cada professor e da equipe. (BRASIL, 2002, p. 70) 2.4. O professor iniciante Quando o professor ingressa na carreira do magistério ele se depara com todas as reponsabilidades e exigências de sua atuação profissional. “Esse é o momento em que, 8 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância considerando a própria prática, o professor iniciante tem a possibilidade de desenvolver a reflexão, a compreensão, a interpretação e a capacidade de intervenção na realidade educativa.” (BRASIL, 2002, p. 72) Para o profissional que está iniciando a carreira docente, a insegurança do “como fazer” é maior quando a formação não disponibilizou base suficiente para o exercício na profissão. Além disso, é com a prática que o professor vai aprender a ser professor, e a construir a partir das experiências do dia-a-dia, sua identidade e saberes profissionais. A profissão docente é uma, entre poucas profissões, em que o professor é “lançado” no mercado de trabalho sem obter um maior acompanhamento. Às vezes, até mesmo os colegas de trabalho se voltam para o iniciante com rispidez, falta de companheirismo e parceria, dificultando o relacionamento no ambiente escolar e o processo inicial da carreira. (HUBERMAN, 2000). Por isso que o processo de iniciação do professor na sua atividade profissional requer um cuidado especial. O professor iniciante ganhará consciência desse seu momento e atuará como "aprendiz crítico" se os professores experientes e os formadores souberem ouvi-lo atentamente para contribuir com seu processo de crescimento profissional e forem permeáveis aos questionamentos que ele possa vir a fazer. Para que possam ser sistematizadas, as estratégias de trabalho com os professores iniciantes necessitam do reconhecimento de sua importância e da institucionalização de um trabalho organizado com esse fim, que pode incluir, entre outras coisas, a supervisão de professores experientes e formadores, intercâmbio de experiências e documentação do trabalho. (BRASIL, 2002, p. 73) Dentre as diversas situações vivenciadas pelo profissional em início de carreira estão a inversão de papéis vivida por um docente iniciante, que passa de aluno a professor e torna-se responsável por instigar, mediar, incluir e avaliar os educandos; as expectativas alimentadas pelo novo professor, que anseia promover a interação e a troca de experiências; e a necessidade de se romper com os paradigmas tradicionais no ensino ainda vigentes em muitas instituições. 2.5. Formação dos formadores de professores Ninguém nega a importância de preparar esses profissionais formadores para viabilizar transformações na formação de professores. Sua tarefa não é fácil e precisa ir sendo revista ao mesmo tempo que as discussões sobre a formação evoluem. (BRASIL, 2002, p. 77) 9 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Os formadores de professores devem estar inseridos num processo contínuo de desenvolvimento profissional. O trabalho de formação requer para os formadores um espaço de interlocução em que possam analisar a própria prática de formação, a de outros formadores, e também as atividades dos professores. A competência do formadorpassa fundamentalmente pela capacidade de analisar o trabalho dos professores com vistas a uma constante revisão e desvelamento das crenças subjacentes às ações dos professores, de modo a intervir com sucesso no desenvolvimento da competência profissional. (BRASIL, 2002, p. 77) Por isso que os docentes formadores devem buscar realizar cursos de extensão ou aperfeiçoamento profissional, com o intuito de planejar, discutir, avaliar e replanejar o trabalho de formação que desenvolvem junto a outros professores. BRASIL. Referenciais para formação de professores. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: A Secretaria, 2002. HUBERMAN, M. O ciclo de vida profissional dos professores, 1989. In: Nóvoa, A. Vidas de professores. Porto: Porto, 2000. LOPES, A.R.C. Conhecimento escolar. Ciência a cotidiano. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, 1999. MONTEIRO, Ana Maria. A prática de ensino e a formação inicial de professores. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0032b.html. Acesso em: 10 jan. 2018. http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0032b.html 10 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3. O CONHECIMENTO PROFISSIONAL DO PROFESSOR Objetivo Conhecer o conjunto de saberes que habilita o professor para o exercício do magistério e de todas as suas funções profissionais. Introdução O desenvolvimento das competências profissionais dos professores pressupõe os conhecimentos da escolaridade básica. Os saberes profissionais do professor devem ter como base o curso de formação inicial, ampliando-se, posteriormente, para momentos de formação continuada. “O professor se desenvolve à medida que vai estudando, refletindo sobre a prática e construindo conhecimentos experienciais por meio da observação e das situações didáticas reais ou de simulação de que participa.” (BRASIL, 2002, p. 85) Segundo os Referenciais para Formação de Professores (2002), existem muitas possibilidades de organizar e apresentar o conhecimento profissional do professor. O documento tem como intenções: Servir de referência para diferentes formas de organização de currículos e programas de formação, explicitando os principais âmbitos do conhecimento profissional, sua relevância e abrangência. Romper com a lógica convencional, que parte das disciplinas para definir os conteúdos da formação, e substituí-la por outra, que parte da análise da atuação profissional para configurar a contribuição a ser demandada das disciplinas. O documento explicita ainda que o conhecimento profissional que deve ser garantido na formação dos professores deve estar organizado em cinco âmbitos de igual importância: conhecimentos sobre crianças, jovens e adultos; conhecimento sobre a dimensão cultural, social e política da educação; cultura geral e profissional; conhecimento pedagógico; e conhecimento experiencial contextualizado em situações educacionais. Vejamos cada um deles: 3.1 Conhecimentos sobre crianças, adolescentes, jovens e adultos Na vida dos alunos tanto da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio ou Educação de Jovens e Adultos estão presentes particularidades que devem ser 11 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância conhecidas pelo professor, pois ele precisa dominar tais aspectos para poder atuar profissionalmente. “A formação profissional de professores deve assegurar, portanto, a aquisição de conhecimentos sobre o desenvolvimento humano e a forma como cada cultura caracteriza as diferentes faixas etárias.” (BRASIL, 2002, p. 88) O professor precisa compreender quem são seus alunos, tanto sobre os aspectos afetivos e emocionais, aos cuidados corporais e de saúde, como também sobre as questões relativas às aprendizagens escolares e de socialização; os aspectos psicológicos e do universo cultural e social em que seus alunos estão inseridos. O atendimento às diversidades e a perspectiva da escola inclusiva trazem grandes demandas para o professor. Uma criança que frequenta uma creche desde que nasceu é diferente daquela que foi para a educação infantil com quatro anos. Um adulto que nunca viveu num meio social letrado, como é o caso de muitos que vêm da zona rural, é diferente de um adulto que vive em uma grande cidade. Uma criança que precisou trabalhar em idade de ir para a escola é diferente daquela que tem todo o conforto para estudar. O adolescente que precisa trabalhar é diferente daquele que tem seu tempo dedicado aos estudos e vivências culturais. O aluno que tem uma deficiência auditiva é diferente daquele que não tem. (BRASIL, 2002, p. 89) São muitos os aspectos que precisam ser considerados para que o professor possa se relacionar com seus alunos de maneira a ajudar em seu desenvolvimento. 3.2. Conhecimentos sobre a dimensão cultural, social e política da educação O professor precisa conhecer as principais questões da história do mundo e do país, da educação e dos movimentos sociais para que tenha meios de compreender a realidade em que exercerá sua profissão. Tais conteúdos são importantes para que possa compreender a natureza social da prática educativa e aprender a considerar as dimensões culturais, sociais e políticas implicadas no processo de aprendizagem - o que contribui também para que exerça com autonomia seu papel político como educador. (BRASIL, 2002, p. 91) Problemas sociais de diversas ordens aparecem na escola (desnutrição, desamparo, drogas, violência), e o professor é desafiado a educar crianças e jovens que estão inseridos nesse cenário. “Dependendo de seu compromisso, de suas possibilidades e interesses, 12 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância determinados aspectos serão priorizados pelos educadores em seu trabalho cotidiano.” (VEIGA; AMARAL, p.160) O professor precisa conhecer e refletir sobre o conjunto de relações sociais que formam a escola e também as relações que integram a instituição à vida coletiva, para que possa trabalhar na realidade escolar. A dimensão cultural da vida humana e a importância dos conhecimentos, símbolos, costumes, expressões, atitudes e valores dos adultos, crianças e jovens que se encontram - e muitas vezes se confrontam - na escola são temáticas imprescindíveis à formação de professores, pois lhes permitem entender o significado que os alunos, suas famílias e sua comunidade atribuem à escola e às aprendizagens; adotar uma visão pluralista de sociedade; desenvolver a capacidade de compreender o "outro" - base da ética, da autonomia, da solidariedade. (BRASIL, 2002, p. 91) 3.3. Cultura geral e profissional O professor, assim como a grande maioria dos profissionais, precisa ter seu universo cultural continuamente ampliado. Não basta apenas conhecermos bem aquilo que fazemos. Na vida profissional, são apresentadas diversas situações em que precisamos ter uma percepção ampliada de tudo o que acontece ao nosso redor. Saber sobre o que está acontecendo no momento atual, ter conhecimento sobre acontecimentos passados, saber como as coisas acontecem em outros países, conseguir fazer comparações entre realidades diferentes, olhar para uma determinada questão sob vários ângulos, ter uma visão dos aspectos sociais, psicológicos e históricos. “A ampliação do universo cultural favorece o desenvolvimento da sensibilidade e da imaginação, e a possibilidade de produzir significados e interpretações do que se vive, de fazer conexões - o que por sua vez potencializa a qualidade da intervenção educativa.” (BRASIL, 2002, p. 93) Os educadores devem, sempre que possível, ampliar seu repertório cultural. Não devem se limitar a ler os livros técnicos da área educativa, mas buscar ler livros que falem sobre os costumes de uma época,que contextualizem as situações dentro de realidades políticas, de costumes de uma geração. Ler revistas, assistir a muitos filmes, participar de 13 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância palestras e congressos são ações que abrem a mente para muitas possibilidades. Realizar viagens também é importante. Além de ser prazeroso, viajar ajuda a ampliarmos nossa visão de mundo. Os assuntos relacionados neste âmbito de conhecimento devem ser “selecionados, organizados e sequenciados, como também receber tratamento metodológico que permita ao professor desenvolver capacidades relacionadas ao exercício da própria cidadania, tanto do ponto de vista pessoal como profissional.” (BRASIL, 2002, p. 93) 3.4. Conhecimento pedagógico “Todo o conhecimento profissional do professor deve estar a serviço da atuação pedagógica, dado que sua função principal é promover o desenvolvimento e as diferentes aprendizagens das crianças, adolescentes, jovens e adultos.” (BRASIL, 2002, p. 94) Segundo os Referenciais para Formação de Professores (2002), isso envolve questões relacionadas ao processo de ensino aprendizagem: Desenvolvimento curricular: deve ser conteúdo da formação a discussão e a análise coletiva dos documentos curriculares do Ministério da Educação e das secretarias de Educação do Estado e dos Estados e Municípios, identificando as concepções teóricas e inferindo possibilidades de implementação, considerando o seu ponto de vista e da realidade na qual vão intervir. Questões de natureza didática: para realizar mediação didática, um professor precisa conhecer os processos de aprendizagem do aluno, os conteúdos de ensino e os princípios metodológicos. Avaliação: a construção da competência de avaliar depende do professor ter claro o que é e para que serve a avaliação: concepções, finalidades, instrumentos, modalidades, e de realizar avaliações em situações do cotidiano profissional. 14 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Interação Grupal: somente os professores que, de fato, valorizavam a socialização e o estabelecimento de vínculos afetivos criam condições para o trabalho de interação grupal em suas salas de aula. Além da importância da interação para o convívio social dentro da escola, o intercâmbio entre os alunos potencializa o processo de construção de conhecimento. Aprende-se melhor num contexto de colaboração, com pares que dominam diferentes níveis de conhecimento sobre o conteúdo a ser aprendido, tanto em situações formais como informais. Relação professor-aluno: A formação profissional deve possibilitar ao professor a compreensão da natureza de sua relação com os alunos e levá-lo a desenvolver sensibilidade e capacidade de analisar a própria conduta, para identificar quando ela incide na dos alunos, assim como quando as atitudes dos alunos são determinantes da sua: a autonomia intelectual para refletir sobre o que faz e sobre as consequências disso é condição para um exercício profissional responsável. Conteúdos de ensino: é imprescindível que todo professor tenha um domínio das áreas que vai ensinar. Sem esse domínio, fica impossível construir situações didáticas que problematizem os conhecimentos prévios com os quais, a cada momento, os alunos se aproximam dos conteúdos escolares, desafiando-os a novas construções que vão constituindo saberes cada vez mais complexos e abrangentes. Procedimentos de produção de conhecimento pedagógico: cabe à formação profissional possibilitar que todo professor aprenda a investigar, sistematizar e produzir conhecimento pedagógico por meio de procedimentos de observação, análise, formulação de hipóteses e construção de propostas de intervenção e avaliação. 15 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 3.5. Conhecimento experiencial contextualizado em situações educacionais Quando nos referimos ao “conhecimento experiencial” estamos nos referindo aos saberes que construímos por meio da prática e de uma reflexão sistemática sobre ela. É quando aplicamos a teoria exposta num livro, numa teoria, em uma situação concreta, real, vivenciada por nós. “Trata-se de aprender a agir e a refletir sobre o contexto situacional em que se atua, sobre o que se faz e o que resulta dessa ação, levando em conta sua intencionalidade, o contexto em que ocorre e os sujeitos envolvidos.” (BRASIL, 2002, p. 103) BRASIL. Referenciais para formação de professores. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: A Secretaria, 2002. VEIGA, Ilma; AMARAL, Ana Lucia. (orgs.) Formação de professores: políticas e debates. 3.ed. Campinas: Papirus, 2006. 16 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 4. METODOLOGIA DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Objetivo Compreender a importância da reflexão, do aspecto individual e coletivo na formação docente. Introdução Um aspecto muito importante que faz parte da formação docente é a metodologia. Para termos sucesso na formação, buscamos a construção progressiva das competências, pois sabemos que existem estreitos vínculos entre “o que se aprende” e “como se aprende”. Segundo os Referenciais para Formação de Professores (2002, p. 106) “a metodologia, aqui entendida como modo de organizar as situações didáticas e de orientar a aprendizagem, que possibilita promover uma relação com o conhecimento, com os valores, consoante com a construção de competência profissional.” Isso quer dizer que precisamos trazer a atuação profissional para o lugar central da formação, tendo como princípios a autonomia intelectual e moral. 4.1. Construção pessoal e coletiva de conhecimentos pedagógicos Quando falamos em construção de conhecimentos, devemos ter em mente três pontos importantes: a formação docente deve ser transformadora da compreensão dos fenômenos educativos, das atitudes do professor e do seu compromisso com as aprendizagens de seus alunos. Por isso é tão relevante nos preocuparmos com os processos pelos quais os professores se apropriam e constroem seus conhecimentos, suas características pessoais, e suas experiências de vida e profissionais. Precisamos lembrar que os educadores são sujeitos ativos de seu processo de construção de conhecimento, por isso devemos: (BRASIL, 2002, p. 107) considerar suas representações, conhecimentos e pontos de vista; criar situações-problema que os confrontem com obstáculos e exijam sua superação; criar situações didáticas nas quais possam refletir, experimentar e ousar agir a partir dos conhecimentos que possuem; 17 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância incentivá-los a registrar suas reflexões por escrito; ajudá-los a assumir a responsabilidade pela própria formação. Para que isso ocorra, devemos oportunizar uma flexibilidade das ações de formação, não trabalhando de forma única, padronizada. Assim, agimos de acordo com as necessidades de aprendizagens do professor e as características do que se aprende. Devemos lembrar que devemos unir o pessoal ao coletivo: Se por um lado a construção de conhecimento é um processo pessoal, por outro é uma produção coletiva, fruto de um processo compartilhado: o conhecimento de cada um resulta de aprendizagens conquistadas coletivamente. O trabalho em colaboração é um poderoso aliado nesse sentido, e situações de real parceria certamente possibilitam uma qualidade de conhecimentos superior à que se poderia conquistar sozinho, graças ao enriquecimento resultante do confronto e da troca de pontos de vista e da ampliação do repertório de significados, de experiências e de informações. (BRASIL, 2002, p. 108) Uma das competências fundamentais aserem desenvolvidas na formação é a de trabalhar de forma cooperativa, para que o processo educativo possa ser desenvolvido pela equipe escolar, que, com suas diferenças, se potencializa. 4.2 A atuação profissional como objeto de reflexão “A atitude investigativa dos professores é um mergulho no mundo complexo da prática pedagógica, no qual ele se envolve afetiva e cognitivamente, questionando as próprias crenças, propondo e experimentando alternativas.” (BRASIL, 2002, p. 108). Embora a questão da reflexão esteja tão evidente nos dias atuais, vale lembrar que ela não é nova: Dewey (1959) já defendia a reflexão como sendo condição de uma prática profissional bem sucedida. A reflexão não é simplesmente uma sequência, mas uma consequência – uma ordem de tal modo consecutiva que cada ideia engendra a seguinte como seu efeito natural, e ao mesmo tempo apoia-se na antecessora ou a esta se refere. (DEWEY, 1959, p. 14) Para Dewey (1959), o processo de reflexão se inicia quando começamos a investigar a veracidade de um fato, quando testamos sua validade e procuramos ter garantia de que os dados existentes realmente indicam que a tese sugerida é aceitável. 18 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Qualquer pensar é refletir? Não para Dewey. Para ele, a forma pela qual os homens pensam mostra os caminhos pelos quais os mesmos “conduzem suas investigações”. O pensamento reflexivo, segundo o autor, abrange duas fases: A primeira fase é um estado de dúvida e de hesitação, inclusive, segundo o autor, podendo resultar num estado de dificuldade mental. Podemos entender também essa fase como um estado de perplexidade. A segunda fase mostra um ato de pesquisa, de procura, de busca para encontrar aquilo que possa resolver nossa dúvida, até mesmo que possa esclarecer a nossa perplexidade. Dewey entende que a única forma de fazer com que os aprendizes aprendam mais é “ensinar verdadeiramente mais e melhor” (DEWEY, 1959, p. 43). Destaca que o ato de aprender é do aluno e este o faz por si. O professor é um guia, mas “a energia propulsora deve partir dos que aprendem” (idem, p. 43). As ideias de Dewey (1959) reforçam a concepção de que: Ser um professor que pensa e toma decisões é ser um professor que desenvolve o "saber fazer" e a compreensão do "para que fazer", articulando a reflexão sobre "o que", "como", "para quê" e "quem" vai aprender, de forma a garantir a seus alunos o acesso a boas situações de aprendizagem. Para planejar intervenções didáticas pertinentes e de qualidade, é preciso interpretar e analisar o contexto da realidade educativa. (BRASIL, 2002, p. 109) 4.3. Resolução de problema De acordo com os Referenciais para Formação de Professores (2002, p. 110) “problema é qualquer questão - de natureza teórica e/ou prática - para a qual não se tem de imediato, ou de antemão, uma resposta satisfatória e que, portanto, demanda uma busca de solução.” Nesse processo de busca de solução, precisamos planejar nossas ações para alcançarmos um resultado satisfatório. Em outras palavras, a resolução de problema implica, em maior ou menor grau, uma série de procedimentos complexos: analisar sua natureza, identificar os aspectos mais relevantes, buscar recursos para sua solução, levantar hipóteses, transferir conhecimentos e ajustar estratégias utilizadas em outras situações que sejam pertinentes ao problema em questão, escolher o melhor encaminhamento dentre vários possíveis-e é exatamente o exercício dessas ações complexas que 19 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância promove tanto construção de conceitos quanto o desenvolvimento de capacidades e, ainda, a possibilidade de mobilizar a ambos (conceitos e capacidades) quando necessário ou desejável. Vista dessa forma, a resolução de um problema proporciona para o sujeito uma relação de criação com a solução encontrada. (BRASIL, 2002, p. 111) Uma boa alternativa para a solução de problemas pode estar no trabalho em equipe. O trabalho em equipe tem suas muitas vantagens, considerando retorno de uma solução de forma mais rápida, otimizando o tempo da busca, devido a maior participação de pessoas e claro, a coleta de dados pode ser mais ágil e a troca de ideias contribuem diretamente para o melhor desempenho da solução. Veja a seguir os passos que podem ser seguidos que alcancemos de forma eficaz e eficiente a solução almejada (QUALIDADE BRASIL): Identificação do Problema: devemos colocar o problema como tema chave do grupo em reuniões programadas e com horários definidos. Nesta etapa devemos considerar que o problema em si deve ser analisado de maneira mais ampla, considerando todos os seus efeitos e comportamentos de desvios. Investigação do problema: realizar a coleta de dados conforme as definições da etapa anterior, mantendo a investigação do problema. Analisando o problema: Essa etapa é importantíssima, pois é exatamente nela que estaremos criando as definições de ação do grupo, portanto, o uso do trabalho em equipe deve ser considerado, visto que a avaliação de uma pessoa para a outra é diferente, e isso não é ruim, pelo contrário, é ótimo; devemos registrar cada ideia apresentada e após avaliar com o consenso de toda a equipe. Solucionando o problema: Nesta etapa devemos buscar pela solução que traga benefícios mais seguros e que de fato elimine a ocorrência novamente do problema em si, lembrando-se da questão da causa raiz. Este processo de solução deve estar baseado no que de fato elimine o problema e não apenas contenha o mesmo temporariamente. Avaliação dos resultados: Primeira pergunta que a equipe deve fazer é: o problema foi resolvido? Manter a coleta de dados é necessária, planejar esta ação é fundamental para o andamento de análise dos resultados. Aqui, 20 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância verificamos se a solução encontrada trouxe os resultados esperados ou não. Seja na prática da reflexão, do trabalho individual e coletivo ou da solução de problemas, precisamos, enfim, criar possibilidades para potencializar as metodologias de ensino e aprendizagem, fazendo uma integração de tempos e espaços nos momentos de formação de educadores. Devemos, portanto, oportunizar situações de aprendizado que instigue o aluno a ser mais proativo, colaborativo e que desenvolva de forma ampla as competências sociais, pessoais e cognitivas, priorizando o envolvimento do aluno em todo o processo educacional. BRASIL. Referenciais para formação de professores. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: A Secretaria, 2002. DEWEY, J. Como pensamos. Como se relaciona o pensamento reflexivo com o processo educativo: uma reexposição. São Paulo: Nacional, 1959. QUALIDADE BRASIL. 7 passos para solução de problemas. Disponível em: http://www.trf5.com.br/downloads/7%20passos%20para%20solucao%20de %20problemas.pdf Acesso em: 11 jan. 2018. http://www.trf5.com.br/downloads/7%20passos%20para%20solucao%20de%20problemas.pdf http://www.trf5.com.br/downloads/7%20passos%20para%20solucao%20de%20problemas.pdf 21 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5. DESAFIOS E CAMINHOS PARA A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Objetivo Conhecer os principais desafios da formação docente no Brasil. Introdução De acordo com os Referenciais para Formação de Professores (2002, p. 23) “A última década do século XX foi marcada pela discussão sobre a qualidade da educação e sobre as condições necessárias para assegurar o direito de crianças, jovens e adultos a aprendizagens imprescindíveis para o desenvolvimento de suas capacidades”. O processo de globalização econômica, o avanço das novas tecnologias de informaçãoe comunicação têm mudado os interesses humanos. Esse contexto coloca enormes desafios para a sociedade e, como não poderia deixar de ser, também para a educação. “Uma educação que se pretende de qualidade precisa contribuir progressivamente para a formação de cidadãos capazes de responder aos desafios colocados pela realidade e de nela intervir”. (BRASIL, 2002, p. 25) Assim, vemos que para a Educação Básica do Brasil acompanhar esses avanços, são necessários investimentos significativos que devem ser destinados tanto à melhoria dos recursos materiais das escolas, como da formação dos profissionais dos quais depende a educação brasileira. Assim, a formação de professores destaca-se como um tema crucial e, sem dúvida, uma das mais importantes dentre as políticas públicas para a educação, pois os desafios colocados à escola exigem do trabalho educativo outro patamar profissional, muito superior ao hoje existente. Não se trata de responsabilizar pessoalmente os professores pela insuficiência das aprendizagens dos alunos, mas de considerar que muitas evidências vêm revelando que a formação de que dispõem não tem sido suficiente para garantir o desenvolvimento das capacidades imprescindíveis para que crianças e jovens não só conquistem sucesso escolar, mas, principalmente, capacidade pessoal que lhes permita plena participação social num mundo cada vez mais exigente sob todos os aspectos. Além de uma formação inicial consistente, é preciso proporcionar aos professores oportunidades de formação continuada: promover seu desenvolvimento profissional é também intervir em suas reais condições de trabalho. (BRASIL, 2002, p. 26) 22 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5.1 Breve panorama histórico da formação docente brasileira Nos anos 80, foram feitas reformas educativas em vários países do mundo, pois se começou a exigir por uma educação de melhor qualidade. No Brasil, esse período caracterizou-se pela organização de movimentos de educadores e pela discussão sobre a formação de professores. A mobilização dos profissionais da educação, intensificada em fins da década de 70, atingiu maior visibilidade pública nos anos 80, tanto no que se refere às lutas salariais e por melhores condições de trabalho, quanto no que se refere à melhoria da educação e da formação profissional. (BRASIL, 2002, p. 28) Nos anos 90, houve uma luta dos profissionais da educação por melhores condições de trabalho e salário. Ao mesmo tempo, foi marcada pelo clima de uma Constituição recém-promulgada, que incorporou cm seus princípios a valorização do magistério - consenso que se formou nas lutas da década anterior-, e pela Declaração Mundial de Educação para Todos (Jomtien, Tailândia/1990), compromisso internacional firmado por inúmeros países, inclusive o Brasil, que previa a melhoria urgente "das condições de trabalho e da situação social do pessoal docente, elementos decisivos no sentido de se implementar a educação para todos".(BRASIL, 2002, p. 29) Segundo os Referenciais para Formação de Professores (2002, p. 30) além dessas, outras ações marcaram a década de 90, no que diz respeito à educação: a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96); a elaboração de Parâmetros e Referenciais Curriculares Nacionais; a criação da TV Escola; a avaliação de cursos de nível superior; a análise da qualidade dos livros didáticos brasileiros pelo Ministério da Educação (PNLD); uma série de iniciativas de reorientação curricular e formação continuada de profissionais da educação por várias secretarias estaduais e municipais; algumas experiências inovadoras de formação de professores em nível superior; e algumas parcerias interinstitucionais importantes visando a busca de soluções conjuntas para problemas comuns. 23 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Nos anos 2000, segundo a Fundação Capes (2012), a Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica - DEB determinou que a formação de professores atuaria em duas linhas de ação: na indução à formação inicial de professores para a Educação Básica, organizando e apoiando a oferta de cursos de licenciatura presenciais especiais, por meio do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – Parfor. no fomento a projetos de estudos, pesquisas e inovação, desenvolvendo um conjunto articulado de programas voltados para a valorização do magistério. Para atender a essas linhas de ação, foi criado um conjunto de programas educacionais baseados em três vertentes: formação de qualidade; integração entre pós- graduação, formação de professores e escola básica; e produção de conhecimento. Veja os principais programas criados pela Capes (2012) para o aperfeiçoamento da formação docente: Fonte: http://www.capes.gov.br Acesso em: 15 jan. 2018. Recentemente, em 18 de outubro de 2017, O MEC lançou a Política Nacional de Formação de Professores. “Inédita no país, a política abrange desde a criação de uma Base Nacional Docente até a ampliação da qualidade e do acesso à formação inicial e continuada de professores da educação básica.” (BRASIL, 2017) http://www.capes.gov.br/ 24 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 5.2. Política Nacional de Formação de Professores: Residência Pedagógica No final de 2017, o Ministério da Educação, em sua Política Nacional de Formação de Professores, propôs o Programa Residência Pedagógica, que [...] faz parte da modernização do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e traz novidades, como a formação do estudante do curso de graduação, que terá estágio supervisionado, com ingresso a partir do terceiro ano da licenciatura, ao longo do curso, na escola de educação básica. O objetivo principal é a melhoria da qualidade da formação inicial e uma melhor avaliação dos futuros professores, que contarão com acompanhamento periódico. O programa tem como requisito a parceria com instituições formadoras e convênios com redes públicas de ensino. (BRASIL, 2017) Os princípios da Política Nacional (2017) baseiam-se em: regime de colaboração (união, redes de ensino, instituições formadoras) visão sistêmica articulação instituição formadora e escolas de educação básica domínio dos conhecimentos previstos na BNCC (Base Nacional Comum Curricular) articulação teoria e prática interdisciplinaridade, interculturalidade e inovação formação humana integral O MEC diz também que um dos seus principais compromissos é valorizar o papel do professor a partir da formação, com qualidade e reconhecimento. “A residência pedagógica é um caminho que vai facilitar a amplitude do conhecimento prático profissional e a melhora da qualidade do ponto de vista de lecionar dentro da sala de aula”. (BRASIL, 2017) O MEC afirma que a Política Nacional de Formação de Professores também inclui a criação da Base Nacional de Formação Docente. Essa base, que vai nortear o currículo de formação de professores no país, e terá em sua proposta a colaboração de estados, municípios, instituições formadoras e do Conselho Nacional de Educação (CNE). 25 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância BRASIL. Referenciais para formação de professores. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: A Secretaria, 2002. _______. Portal do Ministério da Educação. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/55921-mec-lanca- politica-nacional-de-formacao-de-professores-com-80-mil-vagas-para- residencia-pedagogica-em-2018 Acesso em: 15 jan. 2018. CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Disponível em: http://www.capes.gov.br/educacao-basica Acessoem: 15 jan. 2018. http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/55921-mec-lanca-politica-nacional-de-formacao-de-professores-com-80-mil-vagas-para-residencia-pedagogica-em-2018 http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/55921-mec-lanca-politica-nacional-de-formacao-de-professores-com-80-mil-vagas-para-residencia-pedagogica-em-2018 http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/55921-mec-lanca-politica-nacional-de-formacao-de-professores-com-80-mil-vagas-para-residencia-pedagogica-em-2018 http://www.capes.gov.br/educacao-basica 26 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6. O PROFESSOR E O TRABALHO EM EQUIPE Objetivo Aprender sobre a importância e as consequências do trabalho em equipe na educação. Introdução Como vimos anteriormente, o trabalho em equipe pode transformar o trabalho pedagógico. A evolução da escola caminha para a cooperação profissional. Perrenoud (2000), afirma que temos muitas razões para que o trabalho em equipe faça parte da formação e do cotidiano do professor, como por exemplo, em casos de alunos com problemas de aprendizagem, precisamos de profissionais dos setores médico, pedagógico e social para apoiar essas crianças; e devido ao volume do trabalho pedagógico escolar, precisamos aprender a dividir igualitariamente as tarefas. 6.1. Conceitos importantes A ideia de “equipe”, segundo Moscovici (1996) se origina de dois aspectos centrais: o primeiro, da necessidade histórica que o homem tem de agregar esforços para atingir suas metas, pois se algo fosse feito individualmente, tais metas não seriam alcançadas ou levar-se-ia mais tempo, exigindo mais esforços; e o segundo aspecto relaciona-se às mudanças do mundo contemporâneo, que a partir dos avanços nos modos de produção, geram relações de dependência ou de complementariedade de conhecimentos e habilidades para a consecução dos objetivos. Na psicologia social, Pichon Rivière (1980, apud Lane, 1992, p.80), define equipe como: Um conjunto restrito de pessoas ligadas entre si por constantes de tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe de forma explícita ou implícita uma tarefa a qual constitui sua realidade, interatuando através de complexos de atribuição e assunção de papéis. 6.2. Tipos de equipe Na escola, trabalhar em conjunto é uma necessidade que está mais associada à evolução do ofício do que a uma escolha pessoal. Assim, Perrenoud (2000) afirma existem 27 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância diversos tipos de equipes. Observe o quadro a seguir que ilustra a interdependência do trabalho em equipe: Partilha de Recursos Partilha de Ideias Partilha de Práticas Partilha de Alunos Pseudo-equipe = arranjo material Equipe lato sensu = grupo de permuta Equipe stricto sensu = coordenação de práticas Equipe stricto sensu = co-responsabilidade de alunos Segundo Perrenoud (2000, p. 81), “um arranjo material supõe algumas competências, por exemplo garantir uma certa ‘justiça’”. Como exemplo, ele cita a necessidade de partilha de recursos (equipamentos de informática). Segundo o autor, uma pseudo-equipe pode dissolver-se e perder seus recursos por não saber dividir de forma inteligente seus bens. Já nas equipes lato sensu, “as pessoas limitam-se a discutir ideias e práticas, sem decidir nada.” (PERRENOUD, 2000, p. 81). Nas equipes stricto sensu de coordenação de práticas, as ideias são discutidas e colocadas em ação. E nas equipes de co- responsabilidade de alunos há uma divisão flexível do trabalho. Por isso que o autor salienta que os membros das equipes duradouras demostram ter grande competência de comunicação. A equipe que partilha recursos, ideias, práticas e alunos é aquela que verdadeiramente tem convicção de que a cooperação é um valor profissional. Perrenoud (2000, p. 82) ressalta que “uma equipe duradoura tem um saber insubstituível: dar a seus membros uma ampla autonomia de concepção ou de realização cada vez que não for indispensável dar-se as mãos...” 28 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 6.3. Elementos importantes do trabalho em equipe Durante as investigações dos pesquisadores do site Teia Cooperativa (2016), eles chegaram a cinco denominadores comuns responsáveis pelo sucesso do trabalho em equipe: Reuniões de equipe com propósito claro – não há como ter uma reunião produtiva se for somente para reunir as pessoas. É preciso um objetivo específico para colaboração, como proporcionar aos alunos a melhor educação possível. Reuniões regulares com tempo suficiente – educadores e administração priorizam as reuniões ao invés das atividades, o que irá melhorar a produtividade dos times. O horário das reuniões deve ser preservado e respeitado e ser livre de interrupções. Administração oferece apoio e atenção constantes – seja através da presença constante dos diretores às reuniões, ou através da demonstração de apoio nas mensagens online. Esse apoio mantém os educadores responsáveis e a administração ciente dos pontos fortes e das dificuldades dos educadores. Professores Facilitadores treinados para conduzirem as reuniões – agrada aos professores quando eles têm um colega responsável por liderar seu trabalho, mesmo que seja um papel difícil de equilibrar. A liderança permite que as responsabilidades sejam expandidas e com grande impacto sobre a escola. Abordagem integrada para apoiar o educador – as escolas destacam a importância do professor colaborador, deixando os professores conscientes de que poderiam contar com seus colegas. A administração também deve dar constante feedback sobre o planejamento que aconteceu nas reuniões de equipe. 6.4. As consequências do trabalho em equipe O site Teia Cooperativa (2016) apresenta cinco consequências positivas que o trabalho de equipe pode agregar aos professores e gestores: Maior consistência entre as salas de aula e as notas: nas equipes em que os professores planejam os materiais juntos, o desempenho final alunos nas avaliações e a motivação para participação nas aulas tende a ser positivo. 29 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância Aumento do rigor e das expectativas dos alunos: ao alinharem suas expectativas em relação aos alunos, os educadores desenvolvem novas maneiras de estimular aos educandos a pensarem mais profundamente sobre os conceitos. Oportunidades para compartilhamento de habilidades: enquanto recém- formados tem mais chances de aprender com a experiência de um professor veterano, o professor mais experiente também tem a oportunidade de desenvolver novas habilidades com o treinamento dos seus colegas principiantes. Feedback frequente: as equipes de educadores podem pedir e/ou realizar feedback aos seus membros a cada reunião, a fim de compartilhar os sucessos e dificuldades encontrados. Rede de suporte para novos professores: reuniões de equipe organizadas previamente para respaldar os novos professores resultam positivamente no entrosamento das equipes. LANE, S.,T.,M. O processo grupal. In: Lane, S.T.M. (org); Codo Wanderley (org). Psicologia social - o homem em movimento. 10. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. MOSCOVICI, F. Equipes dão certo: a multiplicação do talento humano. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1996. PERRENOUD, Philippe; RAMOS, Patrícia Chittoni (Trad.) 10 novas competências para ensinar: convite à viagem. Porto Alegre: Artmed, 2000. TEIA COOPERATIVA. Trabalho em Equipe: Por uma mudança nas escolas. Disponível em: http://www.teiacooperativa.pro.br/trabalho-em-equipe/ Acesso em: 15 jan. 2018.http://www.teiacooperativa.pro.br/trabalho-em-equipe/ 30 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 7. O PROFESSOR, A ADMINISTRAÇÃO DA ESCOLA E A FAMÍLIA Objetivo Analisar a importância de o professor participar da administração escolar e de integrar escola e família. Introdução O professor é um elemento orgânico da escola e sua responsabilidade vai muito além de simplesmente “dar aula”; ele deve participar das decisões tomadas pela gestão escolar e precisa contribuir com a aproximação entre a família e a escola. 7.1. Participar da administração da escola Perrenoud (2000, p. 95) elenca três ações que devem exigir a presença do professor: Elaborar, negociar um projeto da instituição; Administrar os recursos da escola; Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros (serviços de apoio, bairro, associação de pais, professores de língua e de cultura de origem). Segundo ele, a falta do professor nessas ações ocorre porque o modo de gestão adotada pela instituição escolar acaba sendo “arcaico, burocrático, baseado mais na desconfiança do que na confiança, na liberdade clandestina do que na autonomia assumida, na ficção do respeito escrupuloso aos textos do que na delegação de poderes a partir dos objetivos gerais, na aparência do controle do que na transparência das escolhas e na obrigação de prestar contas delas.” (PERRENOUD, 2000, p. 95) Para evoluirmos precisamos mudar, e a mudança deve acontecer mediante dois procedimentos que são complementares entre si: precisamos formar professores para participar da escola, que tenham em mente que sua atuação na instituição é imprescindível; e da adesão progressiva dos atores a novos modelos de educação. Os professores não são os únicos atores da educação chamados a construir novas competências. O pessoal administrativo também deve aprender a delegar, pedir contas, conduzir, suscitar, caucionar ou negociar projetos, fazer e interpretar balanços, incitar sem impor, dirigir sem privar. Essas competências, esses saberes de ação quase não se desenvolvem, espontaneamente, sem formação, sem 31 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância procedimento reflexivo, sem transformação identitária. Todos os ofícios da educação estão envolvidos e exigem novas competências em matéria de administração da escola. (PERRENOUD, 2000, p. 96) Com essa fala, vemos que os professores devem, como dito anteriormente, trabalhar em equipe e estarem dispostos a participar de decisões que vão além das salas de aula, assim como a equipe administrativa precisa se preocupar também com questões pedagógicas, didáticas e educativas. 7.1.1. Elaborar, negociar um projeto da instituição “Para formar um projeto, para “se projetar” no futuro, e querer construí-lo, é preciso identidade, meios, segurança, que nem todos os indivíduos têm, porque essa confiança e essa garantia estão estreitamente ligadas à origem social e à experiência de vida.” (PERRENOUD, 2000, p. 97). Com isso, devemos perceber que um desafio da educação é proporcionar a todos os meios para conceber e fazer projetos. Precisamos aprender a fazer projetos pessoais e também sermos capazes de nos unirmos a um projeto coletivo. Para definir um projeto político pedagógico, por exemplo, são necessárias cumplicidades, afinidades, visões de mundo compatíveis entre si. “Em uma instituição em projeto, não é preciso que cada um dos participantes saiba fazer tudo, mas é importante que todas as competências requeridas estejam presentes, de uma maneira ou de outra, se for possível que sejam repartidas entre um número considerável de líderes informais.” (PERRENOUD, 2000, p. 102). 7.1.2. Administrar os recursos da escola Administrar recursos compromete a responsabilidade individual e coletiva dos professores da mesma maneira que manifestar valores ou defender ideias pedagógicas. “Administrar os recursos de uma escola é fazer escolhas, ou seja, é tomar decisões coletivamente.” (PERRENOUD, 2000, p. 103). O autor afirma ainda que na ausência de um projeto comum, todos devem esforçar-se para que exista uma certa equidade na divisão dos recursos. “Sem a visão geral das necessidades da escola, o diretor se dedica só a apagar incêndios". Esse olhar panorâmico é conseguido com a reunião de representantes de 32 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância professores, funcionários, equipe gestora, estudantes, pais e comunidade para definir prioridades, com a participação ativa da APM e do Conselho Escolar. A administração de recursos necessita de: Definição de prioridades Cálculo correto dos gastos Elaboração do orçamento geral Prestação de contas transparente Comprovação de gastos Quando existe planejamento e organização, conseguimos gerir os recursos da escola, garantindo economia de tempo e bons resultados. 7.1.3. Coordenar, dirigir uma escola com todos os seus parceiros Uma função importante do gestor escolar é facilitar a cooperação entre os diversos profissionais que atuam na escola, apesar das diferenças de atribuições, de formação e de estatuto. “Coordenar o tratamento dos casos que requerem intervenções conjuntas será tanto mais fácil se as pessoas se conhecerem, se falarem, se estimarem reciprocamente e tiverem uma boa representação de suas tarefas e métodos de trabalho.” (PERRENOUD, 2000, p. 104). As capacidades de expressão e de escuta, de negociação, de planejamento, de condução do debate são recursos preciosos em uma escola hoje. Assim, “coordenar” é uma tarefa de organização, de sinergia. “Coordenar é, primeiramente, contribuir para instituir e para que funcionem os locais de discussão, para que as coisas sejam ditas e debatidas abertamente, com respeito mútuo.” (PERRENOUD, 2000, p. 105). 7.2. Informar e envolver os pais Hoje o professor tem o dever de promover o diálogo entre família e escola. Ele deve envolver os pais na construção dos saberes. “Nas relações com os pais, uma das competências maiores de um professor é distinguir claramente o que diz respeito a sua 33 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância autonomia profissional e o que tange as instâncias encarregadas em adotar uma política educacional, os programas ou as regras de avaliação.” (PERRENOUD, 2000, p. 116). Sabemos que entre pais e professores há muitas divergências e diferenças, pois cada um é produto de uma história de vida, de uma cultura, de uma condição social, que determinam sua relação com a escola e com o saber. Becker (apud CAVALCANTE, 1998) afirma que pais que estão envolvidos na escolaridade dos filhos desenvolvem uma atitude mais positiva, com relação à escola e com relação a si mesmos, tornando-se mais ativos na sua comunidade e melhorando seu relacionamento com os filhos. A noção de parceria entre pais e escola constitui o cerne de qualquer programa de participação dos pais na vida diária da instituição e tem sido identificada por muitos autores (MARQUES, 1993; ORMEZZANO, 1993) como um componente essencial da reforma educativa, visando à melhoria da qualidade da escola e a igualdade de oportunidades para todos. CAVALCANTE, R.C. Colaboração entre Pais e Escola: educação abrangente. Psicologia Escolar e Educacional, 2 (2), 153-159. SP: ABRAPEE, 1998. MARQUES, R.A. Colaboração Família-Escola. Educação e Ensino, 5(7), 12-17, 1993. Ormezzano, J. A Educação dos pais: uma intereducação. Cadernos Pedagógicos e Culturais,2 (1), 27-37, 1993. PERRENOUD, Philippe; RAMOS, Patrícia Chittoni (Trad.) 10 novas competências para ensinar: convite à viagem. Porto Alegre: Artmed, 2000. 34 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8. A FORMAÇÃO CONTÍNUA DO PROFESSORObjetivo Aprender sobre a importância da formação continuada na carreira docente. Introdução Investir continuamente em seu próprio aperfeiçoamento profissional é uma obrigação de todo professor. “Ora, exerce-se o ofício em textos inéditos, diante de públicos que mudam, em referência a programas repensados, supostamente baseados em novos conhecimentos, até mesmo em novas abordagens e novos paradigmas.” (PERRENOUD, 2000, p. 156). Por isso que temos a necessidade de uma formação contínua, afinal, nossas competências devem ser atualizadas e adaptadas a condições de trabalho em evolução. 8.1. Aprimoramento profissional e acadêmico Ao longo do tempo, as práticas pedagógicas mudam; elas visam cada vez mais frequentemente a construir competências para além dos conhecimentos que elas mobilizam. Hoje recorremos mais aos métodos ativos, às pedagogias alicerçadas em projetos, na cooperação. Procuramos oferecer mais liberdade aos alunos, respeitando-os por sua lógica, seus ritmos, suas necessidades seus direitos. O trabalho docente centra-se mais naquele que aprende, em suas representações iniciais e sua maneira de aprender; concede mais espaço às tarefas abertas, ao trabalho por situações-problema, aos projetos. Como atualmente devemos elaborar um planejamento didático mais flexível, negociado com os alunos, precisamos continuamente aprender a aprender. Hoje vivemos em um movimento progressivo, que “demanda uma renovação, um desenvolvimento de competências adquiridas em formação inicial e, às vezes, a construção, senão de competências inteiramente novas [...].” (PERRENOUD, 2000, p. 158). Segundo Perrenoud (2000), seria importante que cada vez mais professores se sentissem responsáveis pela política de formação contínua e interviessem individual ou 35 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância coletivamente nos processos de decisão. Para ele, essa formação é composta por cinco componentes que consiste em: saber explicitar as próprias práticas; fazer um ato reflexivo de suas dificuldades de sala de aula, que nas reuniões deixam de ser relatadas para simplesmente fazerem troca de ideias; fazer seu próprio balanço de competências e seu programa pessoal de formação contínua ao invés de um “trote burocrático”; negociar um projeto de formação comum com os colegas (equipe, escola, rede), obtendo um maior raio de ação. É claro que pode haver uma certa inércia para a não adesão ao grupo. Seus motivos podem ser a incompatibilidade entre pessoas, a existência de aproveitadores que tem como único objetivo se adornar do trabalho árduo dos outros ou simplesmente a insatisfação pessoal; envolver-se nas tarefas com escala de uma ordem de ensino ou do sistema educativo. Como o trabalho burocrático faz com que se perca a ideia que o sistema só exerce coação, precisamos ter uma visão mais globalizada para integrar as diversas áreas; acolher a formação dos colegas e participar dela. Observar um estagiário atuando é comparar sua atuação para posterior reflexão. 8.2. Saber explicitar as próprias práticas Segundo Perrenoud (2000), toda prática é reflexiva, pois é uma fonte de aprendizagem e de regulação. Quando refletimos sobre nossa própria prática, fazemos um exercício de lucidez profissional. Quando em uma reunião de professores, por exemplo, apresentamos aos colegas nossos sucessos ou fracassos, estamos ou incentivando-os a seguir nossos passos, e a experimentarem nossas práticas bem-sucedidas ou então alertando-os sobre o que não devem fazer. 36 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8.3. Fazer seu próprio balanço de competências e seu programa pessoal de formação contínua Muitas vezes precisamos analisar nossa prática pedagógica. Às vezes, não alcançamos nossos objetivos porque algo deu errado, porque certos parâmetros foram esquecidos ou subestimamos certos obstáculos. “Esses fracassos relativos certamente apontam competências a melhorar, mas a prática reflexiva permite, por si só, consolidar estratégias ou desenvolver métodos que, na próxima vez, evitarão o mesmo desapontamento.” (PERRENOUD, 2000, p. 162). Quando exercitamos nossa lucidez profissional, aprendemos a progredir quando temos oportunidade ou a optar por outros recursos para sanar as dificuldades. 8.4. Negociar um projeto de formação comum com os colegas Aprender a pensar no outro, no coletivo, é uma característica da contemporaneidade. Hoje precisamos analisar a demanda, pois quando há um coletivo forte na instituição, com um projeto estruturado, conseguimos definir as necessidades de formação conectadas ao projeto comum. “Uma formação comum não é uma renúncia a satisfazer necessidades pessoais prioritárias.” (PERRENOUD, 2000, p. 165). Um projeto de formação comum faz evoluir o conjunto do grupo, podendo reforçar uma cultura de cooperação. 8.5. Envolver-se nas tarefas com escala de uma ordem de ensino ou do sistema educativo “Certos professores que se preparam para uma reconversão ou para uma promoção querem ampliar seus horizontes para não ficarem confinados em sua classe.” (PERRENOUD, 2000, p. 167). Já vimos anteriormente é importante que o professor participe da administração da escola. “A participação em outros níveis de funcionamento do sistema educacional amplia a cultura política, econômica, administrativa, jurídica, sociológica dos professores em exercício.” (PERRENOUD, 2000, p. 167). 37 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 8.6. Acolher a formação dos colegas e participar dela O professor formado não deve esquecer que em sua formação inicial era obrigatório estagiar. É por meio do estágio que o estudante aprende a colocar em prática a teoria aprendida universidade. Hoje, o Ministério da Educação tem um programa mais amplo, a “Residência Pedagógica”, que como dito anteriormente, “é um caminho que vai facilitar a amplitude do conhecimento prático profissional e a melhora da qualidade do ponto de vista de lecionar dentro da sala de aula”. (BRASIL, 2017) Quando abrimos a mente e percebemos que apesar de termos anos de formados, podemos aprender com o estagiário ou com o professor recém-formado que acaba de chegar à escola, estamos gerando uma formação mútua, transformando nossos saberes e nossas relações sociais e profissionais. BRASIL. Portal do Ministério da Educação. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/55921-mec-lanca- politica-nacional-de-formacao-de-professores-com-80-mil-vagas-para- residencia-pedagogica-em-2018 Acesso em: 15 jan. 2018. PERRENOUD, Philippe; RAMOS, Patrícia Chittoni (Trad.) 10 novas competências para ensinar: convite à viagem. Porto Alegre: Artmed, 2000. http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/55921-mec-lanca-politica-nacional-de-formacao-de-professores-com-80-mil-vagas-para-residencia-pedagogica-em-2018 http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/55921-mec-lanca-politica-nacional-de-formacao-de-professores-com-80-mil-vagas-para-residencia-pedagogica-em-2018 http://portal.mec.gov.br/ultimas-noticias/211-218175739/55921-mec-lanca-politica-nacional-de-formacao-de-professores-com-80-mil-vagas-para-residencia-pedagogica-em-2018 38 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância 9. OS DEVERES E OS DILEMAS ÉTICOS DA PROFISSÃO Objetivo Refletir sobre como enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. Introdução Sabemos que praticar ou almejar comportamentos éticos na escola não é algo fácil. Antes de tudo, o professor precisa realizar uma toma de decisão profunda, que analise os valores de ontem, de hoje e o que se pretende construir amanhã. Perrenoud (2000, p. 141)afirma que “a escola não pode libertar inteiramente nossa sociedade do medo de ensinar-se. A violência, a brutalidade, os preconceitos, as desigualdades, as discriminações existem, a televisão exibe isso todos os dias.” Então, dentro desse triste cenário, a escola deve desenvolver competências que primem por uma educação coerente com a cidadania. 9.1. Prevenir a violência na escola e fora dela “Ninguém pode aprender, se teme por sua segurança, sua integridade pessoal ou simplesmente por seus bens.” (PERRENOUD, 2000, p. 143). O tema violência aparece todos os dias nos noticiários, e vemos que ela é gerada pelos mais diversos fatores: desemprego, drogas, álcool, tédio, intolerância... E infelizmente, vemos que cada vez mais ela está próxima, senão dentro da escola. Na última década a violência nas escolas tem preocupado o poder público e toda sociedade, principalmente, pela forma como esta tem se configurado. O conflito e violência sempre existiram e sempre existirão, principalmente, na escola, que é um ambiente social em que os jovens estão experimentando, isto é, estão aprendendo a conviver com as diferenças, a viver em sociedade. O grande problema é que a violência tem se tornado em proporções inaceitáveis. Os jovens estão assustados. Os professores estão angustiados, com medo, nunca se sabe o que pode acontecer no cotidiano escolar. Os pais, preocupados.(TONCHIS, 2012) Por isso que precisamos aprender a trabalhar para limitar tanto a parte da violência psicológica (bullying) como a física. É necessário ver que a violência contra a instituição escolar, contra colegas e professores e, de certo modo, a violência dos adultos contra as crianças, também contém elementos de caracterização bem comuns. A não aceitação das 39 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância diferenças em toda a sua amplitude – se é diferente, é hostilizado, desprezado, humilhado. Por isso, temos urgência em tratar a violência na escola como um trabalho de lucidez. 9.2 Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais Precisamos fornecer uma educação para a tolerância e para o respeito às diferenças de todo gênero. Não basta que esses ideais estejam apenas no discurso do professor, mas precisamos conseguir a adesão dos alunos, que eles transformem suas atitudes. ”Lutar contra os preconceitos e as discriminações sexuais, étnicas e sociais na escola não é só preparar o futuro, mas é tornar o presente tolerável e, se possível, fecundo.” (PERRENOUD, 2000, p. 147). O autor afirma que os alunos intolerantes, sexistas, racistas sabem que essas atitudes não são admitidas pelos professores, mas “eles agem, então, sub-repticiamente, quando o professor vira as costas, ou fora da sala de aula, a menos que se sintam fortes e tentem impor seu ponto de vista como a norma.” (PERRENOUD, 2000, p. 148). A inclusão, o contato, a troca de experiências entre esses alunos seria uma boa alternativa para combater os preconceitos e as discriminações. É preciso que se conheça o outro como forma de promover o respeito e a ajuda mútua. Assim, apoio de outros membros da equipe escolar, como psicopedagogo, orientador educacional, além da família e da comunidade circundante são essenciais para tratar dessas questões presentes no cotidiano escolar. 9.3 Participar da criação de regras de vida comum referentes à disciplina na escola, às sanções e à apreciação da conduta Por muito tempo, as regras na escola foram impostas de forma autoritária. Foi preciso que alguns pedagogos visionários começassem a dizer que podemos negociar as regras com os alunos. “O professor aberto a negociações não abandona nem seu status, nem suas responsabilidades de adulto e de mestre.” (PERRENOUD, 2000, p. 150). Criar um clima favorável ao estudo é uma das funções do professor, bem como, uma condição para o 40 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância trabalho pedagógico e a aprendizagem. Como a ação do professor faz diferença na aprendizagem (GAUTHIER, 1998), vale a pena investigar quais aspectos relativos à prática do professor colaboram para o trabalho eficaz. 9.4 Analisar a relação pedagógica, a autoridade e a comunicação em aula Segundo Perrenoud (2000), o vínculo educativo é muito complexo, pois mobiliza vários aspectos da personalidade do professor, a fim de que ele domine racionalmente o todo da relação que constrói com seus alunos. “Sua competência é saber o que faz, o que supõe idealmente um trabalho regular de desenvolvimento pessoal e de análises práticas.” (PERRENOUD, 2000, p. 152). A atitude do professor, sua interação com a classe, depende da postura por ele adotada diante da vida e perante o seu fazer pedagógico. Piletti (2010) afirma que ao interagir com cada aluno, o professor não apenas transmite conhecimentos, em forma de informações, conceitos e ideias (aspecto cognitivo), mas também facilita a veiculação de ideais, valores e princípios de vida (aspectos afetivos), contribuindo para a formação da personalidade do educando. O autor afirma ainda que se o que pretendemos é que o aluno construa seu próprio conhecimento, aplicando seus esquemas cognitivos, devemos permitir que ele exerça sua atividade mental sobre os objetivos quando opera mentalmente. Nessa relação professor-aluno biunívoca, dialógica, o professor fala, mas também ouve. Ainda hoje é preciso discutir a questão da autoridade e do autoritarismo em sala de aula. O bom senso pedagógico nos mostra que a autoridade do professor é um fato, pois ela é inerente a sua própria função docente. Piletti (2010) afirma que trata-se de uma autoridade incentivadora e orientadora, que é a autoridade de quem incentiva o aluno a continuar estudando e fazendo progressos na aprendizagem, e que orienta o aluno a alcançar os objetivos, visando a construção do conhecimento. Sobre a importância da comunicação, Tardeli (2003) afirma que o aprendizado da cooperação é elemento fundamental do desenvolvimento moral. Para a cooperação acontecer, efetivamente, é necessário que os sujeitos envolvidos aprendam a fazer contratos, a comprometer-se com o grupo, a relacionar-se de forma recíproca e, sobretudo, 41 Formação Docente Universidade Santa Cecília - Educação a Distância a exercitar sua expressão verbal, bem como o saber escutar. Em outras palavras, a exercitar o diálogo. O diálogo é a própria expressão da humanidade, da comunicação entre os seres humanos e possibilita o desenvolvimento do respeito mútuo. 9.5 Desenvolver o senso de responsabilidade, a solidariedade e o sentimento de justiça Perrenoud (2000, p. 152) afirma que o professor faz justiça. “Justiça distributiva e comutativa quando decide recompensas e privilégios; justiça procedimental quando “instrui” questões litigiosas; justiça reparadora quando reestabelece cada um em seu direito.” Segundo o autor, a justiça requer probidade e competências precisas. “A solidariedade e o senso de responsabilidade são estreitamente dependentes do sentimento de justiça.” (PERRENOUD, 2000, p. 152). O professor trabalha com a lógica, com sua ideologia para agir de forma justa, pois ele sabe que suas decisões sobre o que é ou não “justo” são de grande responsabilidade. Perrenoud (2000, p. 153) afirma ainda “além de uma orientação ideológica estável, o professor deve dominar “técnicas de justiça” globalmente aceitas, sabendo que haverá aqui ou ali uma nota em falso, mas que, no conjunto, seus alunos reconhecerão que ele fez o melhor que pode”. Jean Piaget já afirmava que devemos colocar a justiça acima da autoridade e a solidariedade acima da obediência. Quando o professor é justo, compromissado e respeita os alunos há um melhor aproveitamento dos anos escolares. 42 Formação Docente Universidade
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