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1 Prof.ª Mariana Andreotti Dias Meio Ambiente e Sustentabilidade Aula 6 Conversa Inicial Chegamos a nossa última aula, e hoje vamos dialogar sobre um dos assuntos mais importantes para a perspectiva do meio ambiente e sustentabilidade, as Conferências Mundiais É de suma importância para qualquer ser humano a consciência ambiental e a compreensão das questões políticas, estas que devem estar presentes a todo tempo Quais serão os nossos passos e objetivos Assim, por meio da exposição dessas conferências, agendas, acordos e os desdobramentos para a sociedade global e a natureza, nesta sexta e última aula vamos conversar sobre “A Questão Ambiental Contemporânea e sua Dimensão Política” Faremos isso por meio da discussão das grandes Conferências mundiais sobre o meio ambiente e desenvolvimento; as Convenções sobre a biodiversidade e o clima, e a Agenda 21 Terminaremos com a apresentação da Educação Ambiental Objetivo geral Evidenciar a trajetória da questão ambiental e a discussão na contemporaneidade assim como a dimensão política que a envolve Objetivos específicos Os principais desdobramentos e decisões tomadas na Conferência de Estocolmo 1972, Eco 92, Rio+10 de 2002 e a Rio+20 de 2012 A biodiversidade como contribuição para o discurso em pautas políticas 2 O estabelecimento de compromissos e obrigações para o controle das alterações climáticas A utopia ou realidade sobre os padrões de desenvolvimento no mundo A educação ambiental como forma de conscientizar a sociedade A origem dos movimentos ambientalistas A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Humano realizada em 1972, em Estocolmo, representa um ponto-chave para a questão ambiental Ela reuniu diversos cientistas de todas as áreas do conhecimento e de todas as partes do mundo, políticos, líderes de estado e ambientalistas para debater sobre os rumos do planeta no que concerne ao meio ambiente A História das Conferências Ambientais No encontro, a relação existente entre a economia e o meio ambiente foi amplamente debatida, de modo que a dimensão ambiental e o uso dos recursos naturais passaram a ser tratados como condicionadoras e limitadoras do modelo tradicional de crescimento econômico (Mendonça; Dias, 2019, p. 169) Ao fim da Conferência foi publicada a Declaração da ONU quanto ao Ambiente Humano, reunindo os resultados dos debates travados em Estocolmo em vinte e seis princípios básicos para a preservação e conservação do meio ambiente Um dos mais importantes resultados diretos da Conferência de 1972 foi a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) pela ONU (Organização das Nações Unidas), com o intuito de financiar programas e iniciativas voltadas ao meio ambiente, que passou a desempenhar uma liderança global enquanto autoridade ambiental (Mendonça; Dias, 2019, p. 169) Vinte anos após a Conferência de Estocolmo foi realizada, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, uma nova reunião mundial para a discussão da questão ambiental promovida pelas Nações Unidas Ela se constituiu na Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Cúpula da Terra ou ECO-92. Contou com a presença de 108 chefes de estado e promoveu discussões sobre temas ambientais mais específicos tais como a biodiversidade e as mudanças climáticas (ONU, 1992, citado por Mendonça; Dias, 2019) 3 Nesta conferência, o termo Desenvolvimento Sustentável passa a ser mais usual, estando presente na lista dos princípios publicados na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Destaca-se nesse estágio uma maior responsabilidade incumbida aos países desenvolvidos frente à expressiva degradação ambiental mundial, incitando a necessidade de compensar tais problemas através da criação de programas ambientais Entretanto, foi dada a prioridade a programas voltados a atender os países mais pobres e mais ambientalmente vulneráveis (como na África), assim como uma atenção especial à erradicação da pobreza (Mendonça; Dias, 2019) Ao fim da Conferência, dentre as proposições e encaminhamentos firmados, estão: a criação da Agenda 21, a Convenção sobre Biodiversidade, a Convenção do Clima, o Acordo sobre Desertificação, que possui entre seus objetivos a cooperação para lutar contra o avanço dos desertos e a melhora nas políticas hídricas, e a Declaração de Princípios sobre Florestas que apresenta uma série de propostas acerca do manejo florestal, incentivos à implantação de sistemas de certificação florestal sustentável e compromissos com o reflorestamento (Mendonça; Dias, 2019) No ano de 2002 a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento acontece apresentando a solidez da temática ambiental, desta vez denominada de Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CDMS) – na cidade de Johanesburgo, África do Sul, sendo também conhecida como RIO +10 (Mendonça; Dias, 2019) Com o agravamento dos problemas ambientais gerais, em todo o mundo, especialmente no contexto da globalização, os chefes de estado se reúnem em uma nova conferência na cidade do Rio de Janeiro para discutir sobre os rumos do desenvolvimento e sua relação com o meio ambiente – Conferência das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável – RIO + 20 Constituindo-se na 4ª grande reunião de representantes de quase todos os países do mundo, estas conferências atestam o fato de que a questão ambiental se tornou uma das mais importantes questões políticas contemporâneas A Rio +20 ainda se diferiu do evento anterior por possuir um caráter reavaliativo e não de Cúpula, algo que torna flexível a presença dos chefes de estado, o que culminou, por exemplo, na ausência de chefes de importantes estados do capitalismo moderno, como o então presidente norte-americano Barack Obama e a Chanceler alemã Angela Merkel (Mendonça; Dias, 2019) 4 A convenção da biodiversidade Um dos principais desdobramentos da Rio 92, já mencionado anteriormente, foi a organização da Convenção da Diversidade Biológica ou Convenção da Biodiversidade (CDB) A CDB contribuiu com um documento firmado por 168 países Como objetivos principais A conservação da biodiversidade, o uso sustentável de seus elementos constituintes, o usufruto justo e igualitário dos benefícios provenientes de recursos genéticos A importância das convenções A cada dois anos é realizada uma Conferência entre as partes, denominada COP-MOP (Conference Of Parties – Meeting of Parties), e tem o intuito de discutir a questão ambiental periodicamente, o Brasil já sediou uma delas, em 2006, na cidade de Curitiba Mendonça e Dias (2019, p. 222 e 223) apontam que a CDB incita os países a manterem ou criarem instrumentos que permitam a Conservação da Biodiversidade in situ e ex situ A conservação in situ Define-se como a ação de conservar a diversidade biológica em suas comunidades naturais, ou seja, em seus próprios ecossistemas, sendo as Unidades de Conservação, em seus variados formatos, o seu grande exemplo A conservação ex situ Por outro lado, envolve a conservação de elementos da diversidade biológica fora de seus habitats, tais como jardins botânicos, zoológicos, entre outros A convenção do clima 5 A criação da Convenção do Clima foi outro importante resultado da RIO 92, e entrou em vigor em março de 1994 No início daquela década também foi criado o IPCC – International Panel on Climate Change, instituição que aglutina a produção científica acerca das mudanças climáticas e embasa as políticas globais visando a contenção do aquecimento climático do planeta e suas repercussões (Mendonça; Dias, 2019) Na perspectiva das mudanças climáticas As mudanças climáticas sempre ocorreram na superfície da Terra Elas tornaram-se tema de alta relevância na atualidade em função de catastróficas repercussões de mudanças que poderão ocorrer neste século Todavia, Mendonça (2003, 2011, 2017 citadopor Mendonça e Dias, 2019, p. 224) apresenta três perspectivas que estão na base das discussões sobre o tema Os climas irão se aquecer entre 2°C a 4,5°C neste século, e a principal causa são as atividades humanas (visão do IPCC) Os climas do planeta tendem ao resfriamento, e seu controle está diretamente ligado à natureza do planeta e ao processo de radiação sol-terra-espaço (visão dos negacionistas ou céticos) Há muita incerteza sobre o futuro dos climas do planeta e, mesmo havendo forte influência humana no processo a natureza controla a dinâmica dos climas e o futuro ainda é marcado por incertezas – críticos (Mendonça; Dias, 2019) Mas discussões acerca das mudanças climáticas já não constituíam tema novo em 1975 Wallace Broecker expôs, pela primeira vez, a ideia de aquecimento global em seu artigo intitulado “Climatic Change: Are We on the Brink of a Pronounced Global Warming?”, (Mudança climática: Estamos à beira de um aquecimento global pronunciado?) apontando a influência das emissões de CO₂ na atmosfera para o clima do planeta; contudo, apenas em 1992 é oficialmente reconhecida a existência desse problema (Mendonça; Dias, 2019) O objetivo principal do tratado Minimizar a concentração de gases de efeito estufa, prevenindo interferências do homem no sistema climático global e atuando na prevenção de suas repercussões sobre as sociedades humanas 6 São listados ainda cinco princípios básicos: a diferenciação de responsabilidade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e a necessidade da promoção de um sistema econômico favorável ao crescimento e desenvolvimento econômico dos países emergentes, propiciando assim melhores condições para enfrentar os problemas oriundos das mudanças no clima (Mendonça; Dias, 2019) Assim como realizado na CDB, anualmente ocorre a Conferência das Partes (COP) sobre a Convenção do Clima, sendo a primeira delas ocorrida em 1995 na cidade de Berlim Durante uma dessas COP, realizada em 1997 na cidade de Kyoto no Japão, foi criado um dos primeiros e mais importantes protocolos relacionados às mudanças no clima, o Protocolo de Kyoto Esse documento propõe uma série de medidas visando reduzir, no período entre 2005 e 2012 os níveis e emissões de gases de efeito estufa em 5,2% quando comparado aos valores de 1990 (Mendonça; Dias, 2019) O protocolo em si aponta três mecanismos para a redução de emissões, que são Execução Conjunta (Joint Implementation) Comércio de Emissões (Emissions trade) Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (Clean Development Mechanism) O Protocolo de Kyoto teve sua validade até o ano 2012; embora a maioria de seus objetivos não tenha sido atingida (as emissões aumentaram em 16,2% entre 2005 e 2012) foi notável a preocupação internacional com a questão climática abrindo portas para novos projetos e oportunidades (ONU, 2016; Mendonça; Dias, 2019) A Agenda 21 – utopia ou realidade? A Agenda 21, ou Plano 21, foi um plano de ações das Nações Unidas criado e aprovado ao longo da RIO 92 com o intuito de garantir o desenvolvimento sustentável pleno no planeta ao longo do século XXI Planos de ações 7 O documento composto por quatro seções e 40 capítulos aborda as dimensões sociais, econômicas, ambientais e conservacionistas do desenvolvimento sustentável, elencando A erradicação da pobreza, mudança nos padrões de consumo, papel da mulher, juventude e conservação e gerenciamento de recursos ambientais (Mendonça; Dias, 2019) Segundo Malheiros et al. (2008, p. 10, citados por Mendonça; Dias, 2019, p. 229), a Agenda 21 Brasileira, concluída em 2002, é entendida como o mais importante documento no que tange “[...] a formulação de políticas focadas no desenvolvimento sustentável do país, incorporando os objetivos traçados pela Agenda 21 Global e contextualizando-os para o Brasil” Em documento publicado em 2004, o Ministério do Meio Ambiente do Brasil aponta as chamadas Ações Prioritárias da Agenda 21 Brasileira, norteando as ações do governo de maneira objetiva e sucinta Este trabalho contextualiza a Agenda 21 e apresenta meios de execução no Brasil discorrendo sobre os avanços obtidos entre a conferência Rio 92 e a Rio +10, contudo seu foco maior está na plataforma de ações prioritárias do governo na qual são dispostos os 21 objetivos acordados para a realidade brasileira Segundo Mendonça e Dias (2019, p. 229) são eles Produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício Eco eficiência e responsabilidade social das empresas Retomada do planejamento estratégico, infraestrutura e integração regional Energia renovável e biomassa Informação e conhecimento para o desenvolvimento sustentável Educação permanente para o trabalho e a vida Promoção da saúde e contenção de doenças, democratizando o SUS Inclusão social e distribuição de renda Universalização do saneamento ambiental protegendo o ambiente e a saúde Gestão do espaço urbano e da autoridade metropolitana Desenvolvimento sustentável do Brasil rural Promoção da agricultura sustentável Promoção da Agenda 21 local e do desenvolvimento integrado e sustentável Implantação do transporte de massa e da mobilidade sustentável Preservação da quantidade e melhoria da qualidade da água nas bacias hidrográficas Política florestal, controle do desmatamento e corredores de biodiversidade 8 Descentralização e pacto federativo Parcerias, consórcios e o poder local Modernização do Estado Gestão ambiental e instrumentos econômicos Relações internacionais e governança global para o desenvolvimento sustentável Cultura cívica e novas identidades na sociedade da comunicação Pedagogia da sustentabilidade: ética e solidariedade Educação ambiental Além da realização de grandes reuniões/conferências mundiais, nacionais e locais, da formulação de leis e políticas voltadas à preservação e conservação ambiental, da formação de riscos ambientais em várias escalas, do envolvimento da sociedade, torna-se como um aspecto fundamental rever o triste e absurdo quadro da degradação ambiental de nosso tempo Educação para consciência Desde nossa primeira aula, falamos em apostar em processos de sensibilização e de conscientização da população para a questão ambiental, movimento que se constitui como urgente no mundo contemporâneo A maneira como o ser humano, enquanto indivíduo e sociedade, percebe e convive com a natureza passa por gradativas mudanças, de modo que, atualmente, a humanidade não mais pode se ver como o centro do planeta, e sim, apenas como uma parte de um sistema mais amplo (Mendonça; Dias, 2019) Nesse sentido, a Educação Ambiental surge como uma estratégia chave para o homem conhecer e reconhecer a si mesmo e ao ambiente do qual é parte integrante Desde Rousseau (1712-1778), para quem “A Natureza é o nosso primeiro Mestre”, até os dias de hoje, encontramos inúmeras correntes pedagógicas concordantes com tal prerrogativa, indicando o meio ambiente como fonte educativa e caminho de aprendizagem (Novo, 1996, citado por Mendonça; Dias, 2019, p. 233) A Educação Ambiental, tema recorrente nas conferências da ONU, obteve apenas no ano de 1968, sua aceitação oficial quando da publicação do documento “Estudo Comparativo sobre o Meio Ambiente na Escola”, firmado por 79 países Para Czapiski (1998) este documento aponta conceitos primordiais para a educação ambiental Indicando que o estudo do meio ambiente começa pelo entorno imediato e progride gradativamente para os ambientes mais distantes, além de apontar o ambiente não apenas como o entorno físico do ser humano, mas também compreendendo aspectos sociais, culturais e políticos, dentre outros 9 O conceito de educação ambiental Um processo participativo contínuo e dinâmico, cuja pretensão é despertar nos indivíduos uma consciência sobre a necessidade de se alcançar um desenvolvimento mais próximo possível de ser sustentável, foi aceito de forma ampla (Mendonça; Dias, 2019)Na Prática Como última atividade prática, vamos realizar uma reflexão sobre o documentário “A Cúpula da Terra – Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992)” Consolidando a nossa aprendizagem Após assistir, responda e reflita sobre essas questões Qual o principal objetivo da Conferência? Quais os principais pontos levantados na Conferência “A Cúpula da Terra”? O secretário da ONU Boutros Boutros-Ghali faz um apelo no início do seu discurso para que aconteça a mobilização dos Estados. Reflita sobre tal apelo e explique por que razão o secretário o faz Documentário disponível em: www.onu.org.br/rio20 Finalizando Chegamos ao fim de nossos encontros, e tivemos a oportunidade de debater, esclarecer, dialogar e nos envolver com a temática e questão ambiental Com esta sexta aula, as questões contemporâneas que envolvem a temática ambiental e principalmente o seu espectro político foram exemplificados por meio das conferências da ONU Conseguimos compreender a importância das Conferências, Convenções, Tratados? 10 Destacaram-se em nossas discussões os compromissos acatados nestes eventos e os documentos que foram elaborados e serviram de embasamento para políticas públicas nos diversos países-membros da ONU Discutiu-se também as Convenções da Biodiversidade, do Clima e a Agenda 21, todas estas ferramentas, organizadas pela ONU, com o intuito de aprofundar a participação dos países e o seu comprometimento para com estas questões Os debates envolvendo o futuro das sociedades humanas são sempre travados nestas convenções, e, portanto, fazem da educação ambiental, uma ferramenta importante para garantir que as próximas gerações se atentem para a realidade ambiental de maneira crítica e consciente
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