Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1/7 Dos Direitos e Garantias Fundamentais Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Esse artigo enumera a maior parte dos direitos fundamentais constantes em nosso ordenamento jurídico constitucional – embora, alguns, não sejam somente individuais mas também coletivos. Direito à vida – o direito à vida é o mais elementar dos direitos fundamentais, pois, sem a vida, nenhum outro direito pode ser cogitado. A Constituição protege a vida, de forma genérica, não só a extrauterina, mas também a intrauterina. A proteção que o ordenamento jurídico brasileiro concede à vida intrauterina tem como exemplo principal a proibição da prática do aborto, somente permitido em casos de aborto terapêutico – que é o caso em que se tenta salvar a vida da gestante – ou o chamado aborto humanitário, no caso de gravidez resultante de estupro – Código Penal, artigo 1281. Assim, esse direito individual fundamental à vida possui dois aspectos importantes: sob a ótica da biologia, ele traduz o direito à integridade física e psíquica, o direito à saúde, o direito à vedação à pena de morte etc.; em outra ótica, em sentido mais amplo, significa o direito e condições materiais e espirituais mínimas necessárias a uma existência com dignidade referente à natureza humana. Torna-se oportuno frisar que o Supremo Tribunal Federal decidiu pela legalidade de pesquisas com a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização “in vitro” e não utilizados, nos termos do artigo 5º da Lei 11.105/20052. Nessa ocasião, entendeu a Corte Suprema que essas pesquisas não ofendem o direito à vida, tampouco violam a dignidade humana constitucionalmente assegurada. – VIDE ADI 3510 – relator Ministro Carlos Brito. 29/05/2008. Direito à liberdade – Tratam os doutrinadores esse direito como a própria essência dos direitos fundamentais de primeira geração – por isso mesmo também denominado liberdades públicas. A ideia de liberdade de atuação do indivíduo perante o 1 Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: Aborto necessário I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante; Aborto no caso de gravidez resultante de estupro II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal. 2 Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. 2/7 Estado vem carregada da ideologia liberal, na qual temos como expoentes as revoluções do final do século XVIII e do início XIX. Uma doutrina se destaca nesse âmbito, a chamada “laissez faire”, que exigia a redução da atuação do Estado e de sua ingerência nos negócios privados a um mínimo absolutamente necessário. A Revolução Francesa – com seu lema liberdade, igualdade e fraternidade – tem na liberdade seu axioma mais nítido junto ao Liberalismo. Essa liberdade determinada no caput do artigo deve ser analisada da forma mais ampla possível; ela compreende não só a liberdade física de locomoção mas também a de crença, a de convicções, a de expressão de pensamento, a de reunião, a de associação etc.. I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição. A base fundamental do princípio republicano é a igualdade e a democracia. A abrangência desse princípio é tão importante que dele inúmeros outros decorrem diretamente, como, por exemplo, a proibição ao racismo – Artigo 5º, CF, XLII3, a proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivos de sexo, de idade, de cor ou de estado civil – Artigo 7º, CF, XXX4, a proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e a critérios de admissão do trabalho do portador de deficiência física – Artigo 7º, CF, XXXI5, a exigência de aprovação prévia em concurso público para investidura em cargo ou emprego público – Artigo 37, CF, II6, etc. O princípio constitucional da igualdade determina que se dê tratamento igual aos que se encontram em situação equivalente e que se dê tratamento desigual na medida de suas desigualdades. Esse princípio não proíbe que a lei estabeleça tratamento diferenciado entre pessoas que tenham distensões de grupo social, de sexo, de profissão, de condição econômica ou de idade, não se admitindo que o parâmetro diferenciador seja de critério arbitrário, desprovido de razoabilidade. VIDE Sumula 683-STF. Detalhe 3 XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; 4 XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; 5 XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; 6 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) 3/7 importante é observar que não se pode cogitar de ofensa ao princípio da igualdade quando as discriminações são previstas no próprio texto da Carta Magna. Existem hipóteses que o próprio legislador constituinte determinou, de forma bastante clara, que um dado critério deve ser adotado para efeito de desigualdade jurídica entre as pessoas. Temos como exemplo o artigo 7º da Constituição Federal, em seu inciso XX7, aposentadoria da mulher com menor tempo de contribuição – CF, artigo 408, reserva de certos cargos públicos para brasileiros natos – CF, artigo 12, §3º9, previsão de favorecimento às micro e pequenas empresas – CF, artigo 17910. II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. 7 XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; 8 Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) a) sessenta anos de idade e trinta e cinco de contribuição, se homem, e cinquenta e cinco anos de idade e trinta de contribuição, se mulher; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98) 9 Art. 12. São brasileiros:§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII - de Ministro de Estado da Defesa(Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) 10 Art. 179. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios dispensarão às microempresas e às empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, tratamento jurídico diferenciado, visando a incentivá-las pela simplificação de suas obrigações administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias, ou pela eliminação ou redução destas por meio de lei. 4/7 Trata-se, nesse inciso, do princípio da legalidade, uma das bases da própria noção do Estado de Direito, implantada com o advento do constitucionalismo, porquanto acentua a premissa de “governo das leis”, sendo assim a expressão da vontade geral, e não mais apenas o “governo dos homens”, em que o capricho e o arbítrio de um governante seria a vontade predominante. Assim, o citado inciso, em relação aos particulares, tem como corolário à afirmação de que somente a lei pode criar obrigações. III – ninguém poderá ser submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante. - Liberdade de expressão IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato. V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; Nos incisos acima, analisaremos suas referências sobre a questão do direito à liberdade de expressão. No inciso IV do artigo 5º da CF, está consagrado que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” trata-se de regra de grande amplitude e não dirigida a destinatários específicos. Toda e qualquer pessoa, a princípio, pode manifestar sua opinião, desde que não o faça sobre o manto do anonimato; essa proteção constitucional engloba não só o direito a expressar-se oralmente ou por escrito mas também o direito de ouvir, assistir e ler. A proibição ao anonimato que está ligada a todos os meios de comunicação tem o cerne de possibilitar a responsabilização de quem cause danos a terceiros em decorrência da expressão de juízo ou opiniões ofensivas, levianas, caluniosas, difamatórias etc. Esta proibição impede, também, como regra geral, o acolhimento de denúncias anônimas. Vide voto do Ministro, do STF, Celso de Mello no inquérito 1957/PR. Em aresto11, que acompanhou a orientação acima – HC 84.827 de 07/08/2007 – o Supremo Tribunal Federal ao deferir “hábeas corpus” para trancar, por falta de justa causa, notícia-crime instaurada, por requisição do Ministério Público, com base unicamente em denúncia anônima. Determinou a Corte Suprema que a instauração de procedimento de caráter criminal tendo como ponto de partida apenas uma denúncia 11 Apreensão judicial dos bens de um devedor, necessários à garantia de uma dívida, cuja cobrança foi ou vai ser ajuizada; embargo. 5/7 anônima seria contrária à ordem jurídica constitucional, ofendendo o princípio basilar da dignidade da pessoa humana que poderia permitir a prática de inescrupulosos denuncismos e a eventual impossibilidade de indenizações por danos morais ou materiais, contrariando, assim, princípios consagrados no artigo 5º, incisos V e X12, CF. Os direitos da pessoa que possa vir a sofrer um dano em razão de manifestação indevida por parte de outrem estão elencados no inciso V do artigo 5º da CF, nos seguintes termos: V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; Em complemente ao inciso transcrito acima, acerca do direito de liberdade de expressão, outro inciso, do mesmo artigo 5º, estabelece a garantia de vedação à censura prévia: IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença; Importante ressaltar que a liberdade de expressão, mesmo com o fim de censura prévia, não dispõe de caráter absoluto, ou seja, pode encontrar limites em outros institutos protegidos constitucionalmente, sobretudo na inviolabilidade da privacidade e da intimidade do cidadão. Merece igual importância comentar o inciso XIV do artigo 5º, que versa: XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional. Esse inciso nos remete ao direito constitucional do direito à informação, mas, como outros, esse direito não é absoluto. Sua real importância está ligada essencialmente a informações que possam ser de interesse público ou geral, não cabendo dele cogitar quando se tratar de informações de caráter particular que digam respeito à intimidade e à vida privada da pessoa; as informações que são objeto de proteção estão elencadas – proteção constitucional – no artigo 5º, X13. Sendo assim, todos têm o direito ao acesso à informação que possa ser de interesse geral, mas existe, juridicamente falando, um tipo de direito que permite o acesso a informações que só interessem à esfera privada. A citada informação ao sigilo da fonte da informação – aquela de interesse público ou geral – está assegurada na parte final do inciso XIV14 do 12 V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 13 X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; 14 XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional; 6/7 artigo 5º, tendo relação direta com a atividade jornalística, uma vez que possibilita a esses profissionais obter informações que, sem essa garantia, certamente não seriam reveladas. Importante ressaltar que a garantia do sigilo da fonte não abre o conflito com o princípio constitucional à vedação do anonimato. O jornalista ou profissional que trabalhe com divulgação de informações, ao veicular a informação (notícia) em seu nome, está sujeito a responder pelos eventuais danos indevidos que ela possa vir a causar; apesar de a fonte ser sigilosa, a divulgação da informação não será feita de forma anônima. - Liberdade de crença religiosa e convicção pública e filosófica VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva; VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei; O inciso VIII determina e consagra o direito à denominada “recusa de consciência”, possibilitando que a pessoa possa recusar-se a cumprir determinadas obrigações ou praticar atos que possam conflitar com suas convicções de caráter religioso, público ou filosófico, sem que essa recusa implique algum tipo de restrição a seus direitos. Esse instituto– “recusa de consciência” – não permite, entretanto, que a pessoa simplesmente deixe de cumprir a obrigação legal a todos imposta e nada mais faça. Nessa situação – quando existe uma obrigação legal geral cujo cumprimento afronta convicção religiosa, filosófica ou política – o Estado poderá impor a quem alegue imperativo de consciência uma prestação alternativa, compatível com suas crenças ou convicções, fixadas em lei. No caso do indivíduo que se recusar a cumprir essa prestação alternativa, estabelecida pela lei, estará sujeito à suspensão de seus direitos políticos, nos termos do artigo 15, inciso IV15, da Constituição Federal. Importante salientar que, tratando-se da questão referente ao serviço militar obrigatório, o artigo 143, §1º, CF determina: Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. § 1º - às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, depois de alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. 15 Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII. 7/7 A análise desses dispositivos reporta ao fato de que o Brasil é um Estado laico, conforme determinado no inciso I16 do artigo 19 da Constituição Federal, que veda à União, aos estados, ao Distrito Federal e aos Municípios subvenção junto a cultos religiosos ou igrejas. 16 Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou suas representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
Compartilhar