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CRISES DO ESTADO No decorrer da história, o Estado Moderno passou por um processo de transformações, podendo dizer inclusive, que ocorreram crises interconectadas. A primeira crise atinge suas características conceituais básicas, especificamente a sua soberania, sendo chamada de Crise Conceitual. Seguindo, a segunda crise tem como foco suas materializações, ou seja, o Estado do Bem-Estar Social e recebe o nome de Crise Estrutural. A terceira crise, por sua vez, é quanto a racionalização do poder, em outras palavras, o Estado Constitucional, denominada de Crise Institucional. Ademais, recebe o nome de Crise Funcional as questões ligadas aos direitos humanos e seus vínculos com a democracia e a cidadania, fatos estes que conduziram o Estado a uma nova dimensão, que é chamada de Crise Política. Quanto à Crise Conceitual, o Estado sofreu inflexões às suas características fundamentais, em especial a ideia de soberania e direitos humanos. No que diz respeito à soberania, pode-se dizer que ela foi a característica fundamental do Estado Moderno. Na Idade Média, onde existiu a monarquia a soberania era representada pela figura do rei que detinha o poder soberano em suas mãos, mas com o passar dos anos a soberania deixa de pertencer exclusivamente ao monarca e atribui-se também à burguesia que, posteriormente, no século XIX aparece como emanação do poder político, onde finalmente aparece a figura do Estado dotado de personalidade jurídica e como titular da soberania. Assim, historicamente a soberania foi um poder absoluto, indivisível, inalienável, imprescritível e incontrastável, onde a aplicação das normas era imposta coercitivamente dentro da sociedade. Entretanto, essa imagem inabalável da soberania começou a sofrer abalos quando se incorporou a figura das relações internacionais, uma vez seus homólogos eram tratados de forma igualada nas suas relações, de modo a passar por revisão em seu conceito da palavra ligado ao poder superior. Ademais, verifica-se portanto que nos tempos atuais, a questão da soberania não remete a mesma ideia do passado, haja vista que vivemos em um Estado democrático, onde por exemplo, existem limites procedimentais e garantias. Por sua vez, a questão dos direitos humanos, que também foi um dos problemas da Crise Conceitual, começou a aparecer aos poucos, devido às condições da época e estava ligado diretamente à questão da soberania. Assim, existem gerações dos direitos humanos, sendo a primeira ligada aos direitos civis e políticos, a segunda geração foi atrelada ao conteúdo econômico, social e cultural, e a terceira geração remete-se às questões ligadas à paz, ao desenvolvimento, ao meio ambiente, etc. Quanto à Crise Estrutural, essa atingiu o Estado Contemporâneo sob a égide do Estado de Bem-Estar colocando seu próprio modelo sob análise, ou seja, foi o desenvolvimento do projeto liberal que acabou transformando-se em Estado do Bem-Estar Social no decorrer do século XX. Esse momento, traz forte referência às lutas dos movimentos operários pela conquista de uma regulação para a questão social, em outras palavras, eles reivindicavam pelo direito à previdência, assistência social, transporte, salubridade pública, moradia, etc. Com isso, impulsionou a passagem do Estado Mínimo (apenas assegurava o livre desenvolvimento das relações sociais mercantis) para o Estado Intervencionista, que assumiu tarefas até então exclusivas à iniciativa privada. De outro lado, estava a crise de um modelo, que exigia a institucionalização de um modelo, seja o liberalismo ou até uma reformulação, que eram advindas de seus opositores ou até do próprio desenvolvimento contraditório marcado na época. A crise financeira, em especial, foi a que mais ganhou impacto e para superá-la cogitou-se em aumentar a carga fiscal ou reduzir os custos da ação estatal. Quanto à Crise Constitucional ou Institucional, ela ocorreu no Estado Contemporâneo e teve como aspectos principais, a figura do constitucionalismo. Essa crise afetou o poder normativo das Constituições, tidas como pactos fundantes da comunidade político-jurídica. Neste momento estruturam-se medidas de vigilância e de punições excepcionais, voltadas para a neutralização pura e simples das classes ditas perigosas, que eram os grupos marginalizados próprios da globalização. Quanto à Crise Funcional, também parte do Estado Contemporâneo, refere-se a perda de exclusividade do desempenho de funções estatais dos órgãos incumbidos e atribuídos a eles tarefas inerentes. Existem duas divisões para essa crise, a interna e externa, a primeira é a vivida dentro do próprio Estado entre as três funções, a segunda trata-se da relação entre as funções e um fator externo. Ou seja, além da mudança no perfil clássico das funções estatais há também a fragilização do Estado quando este perde força frente a outros setores, afetando sua capacidade de decidir vinculativamente a respeito da lei, sua execução e resolução de conflitos. Por fim, existe a Crise Política que também ocorreu no Estado Contemporâneo é marcada pelo aspecto da democracia representativa, que necessitou ser repensada por vários motivos, entre eles: o número crescente de pessoas na política, dificuldades técnicas trazidas pelo tipo e conteúdo dos temas postos em discussão ou ainda pelo volume quantitativo de questões postas à solução. Devido a esses motivos a democracia foi posta como “fantoche” da política, tendo apenas aspecto formal e necessitou transformá-la, incorporando instrumentos de participação popular direta no seu interior e inclusive modificando seu caráter intrínseco. Assim foi criado modelos democráticos alternativos a fim de dar conta desse processo de mudanças.
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