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1 Ana Carolina Silva Inácio Caires TROMBOEMBOLISMO PULMONAR (TEP) INTRODUÇÃO É uma síndrome clínica definida como a presença de trombos que impactam e ocluem vasos arteriais pulmonares causando dificuldade de esvaziamento do VD, cursando com queda do DC por diminuição da pré-carga do coração esquerdo, levando a uma grande variedade em suas manifestações clínicas. A maioria dos trombos é originária da trombose venosa profunda dos membros inferiores. Existem também outros tipos de embolismo pulmonar não causados por trombos, como a embolia gordurosa, gasosa ou tumoral que podem ocorrer apesar de serem muito menos comuns. O tromboembolismo pulmonar também pode ser subdividido em TEP agudo, subagudo e crônico. Pacientes com TEP agudo apresentam sintomas de início súbito no momento em que há a embolização do trombo para um dos ramos arteriais da circulação pulmonar. Alguns pacientes passam a apresentar sintomas no decorrer de dias ou poucas semanas após a embolização, sendo caracterizado TEP subagudo. Há também pacientes que apresentam TEP crônico, apresentando uma embolização na vasculatura pulmonar e desenvolvendo gradualmente (no decorrer de meses a anos) hipertensão pulmonar. EPIDEMIOLOGIA Nos últimos anos, houve crescente preocupação, criação de protocolos de profilaxia e de um grande número de estudos sobre o tema. O aumento do interesse pelo TEP ocorre em virtude da alta prevalência desse evento no ambiente hospitalar, tornando a prevenção do TEP uma das grandes preocupações nos pacientes internados. A incidência de TEP aumenta com a idade, principalmente nas mulheres, alcançando uma taxa de > 500 casos por 100.000 mulheres acima dos 75 anos. Não há consenso referente à prevalência do tromboembolismo pulmonar quanto a etnia e ao sexo, no entanto alguns estudos sugerem que a incidência do TEP é maior em homens do que em mulheres. Nos casos diagnosticados de TEP, a mortalidade é de cerca de 4% em 1 mês e chega a 13% em 1 ano. No Brasil os estudos sugerem que a maioria das mortes por TEP ocorrem sem diagnóstico, com o TEP só sendo descoberto em estudos post mortem, dessa forma as mortes por TEP no país são subestimadas. Estudos acreditam que o TEP cause cerca de 100.000 mortes por ano no Brasil. Mortalidade sem tratamento = 30%, com tratamento = 2-8%. FATORES DE RISCO Tríade de Virchow: estase venosa, hipercoagulabilidade e lesão endotelial. IDADE, CA em atividade, CIRURGIA, IMOBILIZAÇÕES, ACO (principalmente os de estrogênio), GRAVIDEZ. A estase venosa, um dos elementos da tríade de Virchow, apresenta grande correlação com a presença de imobilização. Isso faz do TEP uma grande preocupação entre pacientes internados, uma vez que um grande número desses pacientes, 2 Ana Carolina Silva Inácio Caires principalmente aqueles que estão em período pós- operatório ou em centros de terapia intensiva, não estão deambulando com frequência. Por isso amaioria dos hospitais possuem hoje protocolos de profilaxia mecânica e/ou farmacológica para TEP e TVP nesses pacientes. FISIOPATOLOGIA A patogênese do TEP envolve os fatores que predispõe à ocorrência de trombose venosa profunda (TVP), os elementos da Tríade de Virchow e migração de êmbolos para os pulmões. Na maioria dos casos, há formação de trombos nos membros inferiores em território de vasos venosos íleo-femorais (principal sítio envolvido no TEP) que se movimentam em direção à circulação pulmonar, ocluindo os vasos arteriais pulmonares. Os trombos também podem ter sido originados em membros superiores, entretanto, esta situação é infrequente. O trombo ascende dos MMII (mais comum) pela veia cava inferior e acessa o coração através do átrio direito. Posteriormente vai para o ventrículo direito e por fim alcança a circulação pulmonar. A obstrução dos vasos leva a diminuição da pré- carga e a liberação de mediadores inflamatórios como o tromboxano que age promovendo a vasoconstrição e elevando a resistência pulmonar. O ventrículo direito tenta manter o equilíbrio, ou seja, mantém o débito cardíaco à custa do aumento da pressão pulmonar. Como consequência desta instalação súbita as fibras cardíacas podem se esgarçar levando à dilatação da câmara direita, que pode deslocar o septo interventricular (situação visualizada no ecocardiograma). A hipertensão pulmonar pode permanecer mesmo após o tratamento do episódio agudo, sendo, portanto, uma complicação. Episódios de TEP com obstrução de ramos mais distais dos vasos pulmonares apresentam maior risco de desenvolvimento de infarto pulmonar, com resposta inflamatória intensa na região em decorrência da morte celular. Isso se correlaciona com manifestações clínicas como hemoptise e dor pleurítica. Com a obstrução de um ramo da artéria pulmonar, surge uma área de espaço morto patológico no pulmão, definida como uma área em que há ventilação, no entanto, não há perfusão para que ocorra a troca gasosa. Dessa maneira, há uma alteração na relação ventilação/perfusão (V/Q), o que contribui o desenvolvimento de sintomas respiratórios como dispneia e alterações como hipóxia. Além disso, a dinâmica respiratória também é alterada na TEP em decorrência da resposta inflamatória, que contribui para a ocorrência de atelectasia, taquipneia e consequentemente hipoxemia e alcalose respiratória, nos casos mais graves. No TEP há uma disfunção da relação ventilação/perfusão (V/Q) devido a um fenômeno vasoclusivo, que vai levar a um quadro final de hipoxemia e alcalose. No que diz respeito à patogênese, ainda não se compreendem totalmente os mecanismos exatos que iniciam o processo da trombose venosa. Uma agregação de plaquetas, em torno de uma válvula venosa, como evento inicial, comumente observado, leva à estimulação dos fatores da coagulação, culminando com a formação do trombo vermelho.Uma vez formado, o trombo cresce através da deposição de novas camadas de plaquetas e fibrina. A resolução se faz por fibrinólise e/ou organização. A fibrinólise é rápida e processa a dissolução do trombo. No caso de um processamento incompleto, a resolução é 3 Ana Carolina Silva Inácio Caires terminada através da organização, que incorpora o trombo residual à parede do vaso com pequena área de tecido fibrótico e posterior reendotelização. Em qualquer fase do processo de resolução, pode ocorrer a embolia pulmonar, como complicação da TVP. Quando um êmbolo se aloja em um ou mais ramos da artéria pulmonar, observam-se alterações pulmonares e hemodinâmicas. De imediato, as conseqüências hemodinâmicas são: aumento da pressão proximal ao trombo e a diminuição do fluxo sangüíneo distal ao trombo. Como resultado, os efeitos do TEP geram diminuição da seção transversa do leito vascular pulmonar, um aumento da resistência vascular e da pressão arterial pulmonar, bem como um aumento do trabalho do ventrículo direito. A gravidade dessas conseqüências dependerá do tamanho do trombo, da presença de bactérias, da presença de doença pulmonar prévia e/ou doença extrapulmonar prévia. O comprometimento do parênquima pulmonar secundário à oclusão por trombo, com conseqüente lesão isquêmica do endotélio e necrose, poderá cursar com os seguintes processos: hemorragia, edema, hemorragia associada a infarto, atelectasia e pneumonia (nos casos de êmbolo séptico ou infecção com infarto pulmonar). A presença do chamado espaço morto pulmonar, ou seja, uma área que é ventilada sem perfusão, tem, como conseqüências, a constricção do parênquima afetado, perda de surfactante alveolar e hipoxemia. A redução do surfactante pode ocorrer de duas (2) a três (3) horas após o episódio embólico, e se torna severa mais tarde, cerca de doze (12) a quinze (15) horas. Atelectasias importantes, com instabilidadealveolar, podem ser detectadas com vinte e quatro (24) a quarenta e oito (48) horas após a embolia. CLASSIFICAÇÃO Podemos classificar o Tromboembolismo pulmonar conforme: ETIOLOGIA 1) TEP provocada: a etiologia foi causada por alguma situação recente no período entre 6-12 semanas Ex: Cirurgias recentes, fratura de fêmur, imobilização. 2) TEP não provocada: não se sabe a etiologia do tromboembolismo pulmonar. Ex: paciente previamente hígido sem comorbidades evolui com quadro TEP agudo. APRESENTAÇÃO CLÍNICA 1) TEP maciço: Paciente hemodinamicamente instável (PAS <90 mmHg). Tem oclusão do vaso. Importante frisar que o termo maciço não envolve o território acometido pelo trombo e sim a condição de instabilidade do paciente. 2) TEP submaciço: Não tem obstrução total do vaso. Paciente está estável, porém apresenta disfunções miocárdicas no ecocardiograma (disfunção de ventrículo direito, áreas de hipocinesia). 3) TEP não maciço: Existe um embolo, mas sem repercussões hemodinâmicas significativas. Paciente estável e sem alterações miocárdicas, ou seja, aquele que não preenche aos critérios anteriores. 4 Ana Carolina Silva Inácio Caires REPERCUSSÃO HEMODINÂMICA O TEP é classificado de acordo com sua repercussão hemodinâmica. A instabilidade hemodinâmica é definida como pressão arterial sistólica (PAS) < 90mmHg ou queda da PAS em mais de 40mmg em um intervalo de 40 minutos, e quando presente, configura quadro de TEP maciço ou de alto risco. Esses pacientes apresentam altas taxas de mortalidade nas primeiras 72 horas do quadro e precisam ser trombolisados em uma unidade de terapia intensiva! Quando não há repercussão hemodinâmica, mas há sinais eletrocardiográficos ou ecocardiográficos de sobrecarga do ventrículo direito, o TEP é classificado como submaciço, ou de risco moderado. Os casos em que não há instabilidade hemodinâmica ou sobrecarga ventricular direita, são classificados como TEP de baixo risco. LOCAL DA OBSTRUÇÃO Obstrução na bifurcação das artérias pulmonares principais (esquerda ou direita) são classificadas como TEP em sela, e em virtude da obstrução proximal da circulação pulmonar, 22% desses pacientes apresentam instabilidade hemodinâmica. Além disso, o TEP pode ser classificado como lobar, segmentar ou subsegmentar a depender de quão grande é a área de irrigação da artéria obstruída. QUADRO CLÍNICO A sintomatologia é inespecífica, apresentando um amplo espectro clínico que vai de pacientes hemodinamicamente instáveis a paciente que cursam com sintomas gerais como tosse seca, taquipneia, o que dificulta muitas vezes o diagnóstico e retarda o início da terapêutica. A tríade da TEP: dispneia, hemoptise e dor pleurítica. Porém nem todos os pacientes cursam com esta sintomatologia. SINTOMAS Sintoma mais prevalente é a dispneia, seguido pela dor torácica de caráter pleurítico e tosse, que pode se apresentar seca ou hemoptoica. Alterações hemodinâmicas como hipotensão e até mesmo choque obstrutivo são observados nos pacientes com TEP de alto risco, podendo estar associados a arritmias. Sintomas menos comuns que podem ser manifestados por pacientes com TEP são síncope, dor retroesternal, ansiedade e redução do do nível de consciência. SINAIS Sinais que podem estar presentes nos pacientes com TEP são taquicardia (visto no eletrocardiograma, na forma sinusal), taquipneia, sinais de instabilidade (hipotensão/ PAS<90), distensão jugular, hiperfonese de B2 na ausculta cardíaca (sugere existência hipertensão pulmonar), sibilos na ausculta respiratória, murmúrios vesiculares reduzidos (como consequência de atelectasias) e sinais de TVP como edema assimétrico em membros inferiores que pode ou não estar associado a dor, calor e rubor (sinais flogísticos) no local. Febre é um achado possível, porém muito incomum. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Os principais diagnósticos diferenciais para pacientes com suspeita de TEP são pneumonia, insuficiência cardíaca congestiva, doença pulmonar obstrutiva crônica e asma. DIAGNÓSTICO ESCORE DE WELLS Para facilitar na condução da propedêutica e terapêutica utilizamos pré-testes diagnósticos (escores) para determinar a probabilidade clínica e não retardar o início da anticoagulação, buscando assim reduzir a mortalidade do quadro. A medicina baseada em evidência nos respalda quanto a iniciar o tratamento (anticoagulação) em casos de alta probabilidade em que o resultado dos exames complementares postergaria a terapêutica. 5 Ana Carolina Silva Inácio Caires Pacientes com escore de Wells < 2 pontos apresentam baixa probabilidade de TEP. Entre 2 e 6 pontos os pacientes apresentam risco intermediário para TEP. Pacientes com ≥7 pontos no Escore de Wells apresentam alto risco para TEP. Uma alternativa menos específica é separar os pacientes em 2 grupos, de acordo com o escore de Wells. Pacientes com < 4 pontos apresentariam TEP como diagnóstico improvável, e pacientes com > 4 pontos apresentariam TEP como diagnóstico provável. EXAMES COMPLEMENTARES GASOMETRIA ARTERIAL O paciente com TEP apresenta um distúrbio V/Q, com perfusão inadequada. Consequentemente, o paciente tenta compensar hiperventilando, que pode levar a uma diminuição da PCO2 no sangue. Assim, as alterações encontradas são a presença de hipoxemia e da hipo ou hipercapnia. Como são achados inespecíficos não podemos utiliza-los isoladamente para fechar o diagnóstico de TEP, podendo ainda vir NORMAL em alguns casos. D-DÍMERO O D-dímero é um produto de degradação da fibrina é utilizado pelo seu alto valor preditivo negativo, ou seja, quando os níveis do D-dímero são baixos (D- dímero < 500 ng/ml) em pacientes com baixo risco da doença, o TEP pode ser excluído como hipótese diagnóstica. Porém, se os níveis de D-dímero forem > 500ng/ml, não podemos afirmar que a causa da elevação do dímero D foi causada pela TEP, já que outras situações também cursam com a sua elevação como a gravidez e o envelhecimento. A maioria dos autores também acredita que pacientes com risco intermediário (escore de Wells < 6), e D- dímero < 500ng/ml também não devem realizar exames radiológicos para investigar TEP. O D-dímero não é usado como exame para confirmar TEP. Além disso, pacientes com alto risco para TEP não apresentam indicação de dosagem de D-dímero, uma vez que nesse grupo de pacientes, avaliação radiográfica por angiotomografia ou arteriografia ainda seria indicada mesmo na presença de níveis de D-dímero < 500ng/ml. A cascata de coagulação termina com a formação da rede de fibrina. É necessário um sistema que faça a degradação desses coágulos formados para evitar um quadro de trombose. O fenômeno de degradação do trombo leva a formação do D- dímero, ou seja, ele faz parte do processo final de degradação! É muito sensível e está aumentado em casos de traumas, gestação e pós-operatório. O D- dímero possui um valor PREDITIVO NEGATIVO ELEVADO, ou seja, paciente BAIXO risco com D- DÍMERO negativo, pode-se excluir o diagnóstico de TEP. RADIOGRAFIA DE TÓRAX A radiografia de tórax apresenta baixa sensibilidade e especificidade para a avaliação de TEP e na maioria das vezes se apresenta sem alterações. O TEP, porém, pode se manifestar na radiografia na forma de atelectasia ou derrame pleural. As principais alterações que podem ser encontradas na radiografia de tórax de paciente com TEP são: Sinal de Westermark: é a consequência da obstrução do vaso, ou seja, são áreas de hipoperfusão pulmonar; Sinal de Palla: dilatação da artéria pulmonar, causado pelo desvio do sangue da artéria obstruída para outra região; 6 Ana Carolina Silva Inácio Caires Sinal de Hampton (opacidade em cunha): é alteração clássica da TEP na radiografia, correspondea área de infarto ou hemorragia pulmonar, que forma necrose e área de atelectasia podendo ou não estar associada a derrame pleural. De forma geral, realiza-se a radiografia de tórax para avaliar os diagnósticos diferenciais, já que é um exame disponível, barato e de fácil manuseio e interpretação. ELETROCARDIOGRAMA O ECG pode apresentar-se de forma variada, ou seja, normal assim como cursar com achados inespecíficos dentre eles a taquicardia sinusal e alterações no segmento ST em cerca de 70% dos casos. O padrão S1Q3T3 é altamente sugestivo, mas apesar de ser considerado um achado clássico apresenta baixíssima sensibilidade. Algumas alterações eletrocardiográficas como bradicardia, fibrilação atrial, novo bloqueio de ramo direito, ondas Q nas derivações inferiores (D2, D3 e AVF) e inversão da onda T indicam pior prognóstico em pacientes com TEP. ECOCARDIOGRAMA É um exame fundamental para o prognóstico, pois irá auxiliar na estratificação do paciente pós-TEP já que pode avaliar disfunções no ventrículo direito. Também pode auxiliar na identificação da etiologia da dispneia e dor torácica. É válido ressaltar que o ecocardiograma transesofágico apresenta maior sensibilidade e especificidade quando comparado ao transtorácico na detecção de trombos na artéria pulmonar. CINTILOGRAFIA O exame consiste na inalação de albumina marcada com tecnésio 99. Após a inalação, são realizadas várias imagens que relacionam ventilação com perfusão de cada área. O exame compara a perfusão com a inalação: se há áreas com ventilação SEM perfusão, deve-se pensar em diagnóstico de TEP. O diagnóstico de TEP pela cintilografia consiste na probabilidade: Alta probabilidade clínica e com alta probabilidade cintilográfica→ TEP Baixa probabilidade clínica e cintilografia pulmonar normal → Exclui TEP Baixa ou intermediária probabilidade cintilográfica → para elucidar o diagnóstico devemos lançar mão de outro exame. SE LIGA! A acurácia do exame é inferior ao da Angiotomografia de Tórax. Caso não seja possível realizar a Angio-TC, realiza-se a Cintilografia. Sendo assim, é ideal para pacientes com alergia à constraste ou com insuficiência renal crônica. ANGIOTOMOGRAFIA DE TÓRAX É considerado o exame padrão ouro. Apresenta como maiores qualidades ser um exame não invasivo, facilmente acessível, com aquisição rápida das imagens, avaliando a presença de TEP com alta sensibilidade e especifidade, apresentando sensibilidade acima dos 96% nos pacientes com alta e intermediária probabilidades de TEP. Apresenta como vantagem também a possibilidade de avaliação do parênquima pulmonar, da pleura e do mediastino (identifica infarto pulmonar, derrame pleural, aumento de câmara cardíaca direita). Por utilizar radiação ionizante e contraste iodado, é contraindicado em pacientes com alergia ao contraste e gestantes. ARTERIOGRAFIA PULMONAR É um exame invasivo considerado método padrão ouro para o diagnóstico da TEP. O uso de contraste iodado permite avaliar a circulação pulmonar. Apesar de ser considerada padrão ouro, a arteriografia pulmonar é reservada aos casos em que outros métodos não confirmaram TEP e a suspeita clińica permanece alta. As principais complicações deste exame são anafilaxia e nefrotoxicidade induzidas pelo uso do contraste. USG DE MMII COM DOPPLER Exame pouco invasivo que demonstra sinais diretos e indiretos de trombo. Pode ser usado quando há contraindicação à angioTC, pacientes com alergia ao contraste, portadores de IRC ou em gestantes. 7 Ana Carolina Silva Inácio Caires TRATAMENTO Anticoagulação!! É válido salientar que os de anticoagulantes não degrada os trombos já formados, na verdade eles atuam impedindo a formação de novos trombos. Em outras palavras podemos dizer que os anticoagulantes evitam a recorrência do tromboembolismo pulmonar. A escolha da melhor opção terapêutica consiste na avaliação da apresentação hemodinâmica do paciente. MEDIDAS DE SUPORTE OXIGENOTERAPIA: Pacientes com saturação periférica de O2 (SpO2) < 90% devem receber oxigênio suplementar. Em caso de hipóxia, instabilidade hemodinâmica grave, rebaixamento do nível de consciência e insuficiência respiratória grave, há indicação de intubação orotraqueal e ventilação mecânica. SUPORTE HEMODINÂMICO: Pacientes que apresentam hipotensão devem receber fluidos com cautela, sendo recomendada infusão de 500 a 1000ml de cristaloides. Em caso de ausência de resposta adequada, deve ser instituída terapia com droga vasoativa. Esses pacientes com instabilidade hemodinâmica apresentam indicação de realização de trombólise, que será abordada com mais detalhes adiante. PACIENTE ESTÁVEL O paciente pode ser anticoagulado de imediato, mesmo que o diagnóstico ainda não tenha sido fechado. As opções de anticoagulantes usados na fase inicial são: HEPARINA DE BAIXO PESO MOLECULAR (HBPM) Exemplo: Enoxaparina – administrar 1,5 mg/kg de peso, via subcutânea, uma vez ao dia. Possui efeito rápido e menor risco de sangramento e plaquetopenia em relação à heparina não fracionada. Não é necessário o acompanhamento por exames complementares (coagulograma) para avaliar sua atividade anticoagulante. Esta medicação deve ser contraindicada ou ajustada em pacientes com disfunção renal grave já que sua excreção é renal. A enoxaparina deve ser utilizada na dose de 1mg/kg de 12/12h em pacientes com função renal normal. HEPARINA NÃO FRACIONADA Possui efeito rápido e pode ser usado em pacientes com disfunção renal. Existem diversos esquemas terapêuticos para o uso da heparina não fracionada (HNF) em dose plena. Um dos principais esquemas sugere administrar uma dose de ataque de 80UI/kg, seguido por uma dose de manutenção de 12- 18UI/kg por hora em bomba de infusão, com dose máxima de 1000UI/kg. Devemos realizar o controle com coagulograma pelo TPPa (inicialmente deve-se pedir de 6/6h), realizando ajustes pelo valor do TTPa, cujo valor deve ficar entre 65 e 85. O uso de Heparina (independente do tipo) pode induzir a plaquetopenia, sendo esse evento mais comum em pacientes que fazem uso de heparina não fracionada. INIBIDOR DO FATOR XA Exemplo: Fondaparinux Esta classe de medicamento faz parte dos novos anticoagulantes orais e apresenta como benefício a ausência não interação com alimentos. Possui efeito rápido e agudo. É muito utilizado em pacientes com trombocitopenia induzido pela heparina. Contraindicado em casos de disfunção renal (clearance de creatinina < 30ml/min). CUMARÍNICOS Exemplo: Marevan (Varfarina sódica). Marevan - Inicia-se com 5 mg por dia, com ajustes conforme RNI. 8 Ana Carolina Silva Inácio Caires É uma das drogas mais utilizadas para anticoagulação dos pacientes após a alta hospitalar, no entanto, não pode ser utilizado isoladamente no paciente admitido com TEP, uma vez que os inibidores da vitamina K (como a varfarina) apresentam inicialmente um efeito pró-trombótico paradoxal, devendo ser combinados ao uso da HNF ou enoxaparina até atingir os níveis de RNI adequados. Assim é utilizado como uma ponte terapêutica, já que seu efeito demora cerca de 3 a 5 dias. Devem ser evitados durante a gestação por apresentar atividade teratogênica. Porém durante a amamentação pode ser utilizada já que não é excretado pelo leite materno. Outro ponto importante é orientar ao paciente em uso desta medicação que evite o consumo de alimentos ricos em vitamina K (exemplo: folhas verde-escuras), já que os cumarínicos exercem sua função anticoagulante inibindo os fatores de coagulação dependentes de vitamina K. É válido salientar que estes pacientes devem fazer o controle regular do RNI (15 em 15 dias). A meta do RNI é ficar entre o intervalo dois e três, para que o paciente seja considerado adequadamente anticoagulado.Em caso de RNI < 2 devemos subir a dose da medicação (paciente não anticoagulado). Porém, em níveis > 3 aumenta-se a chance de sangramento, assim devemos reduzir a dose da medicação e em casos de RNI muito elevado, por exemplo, acima de 6, o paciente deve ser internado para controle do RNI. NOVOS ANTICOAGULANTES ORAIS (NOACS) Exemplo: Apixabana, Rivaroxabana, Endoxabana e Dabigatran. 1) APIXABANA - Administrar 10 mg VO a cada 12 h, por 7 dias, seguidos de 5 mg VO a cada 12 h. 2) RIVAROXABANA – Administrar dose de 15 mg por via oral (VO) a cada 12 horas, por 21 dias, seguida de 20 mg VO uma vez ao dia. 3) ENDOXABAN – Administrar 60 mg por via oral (VO) uma vez ao dia. 4) DABIGATRAN – Administrar 150 mg por via oral (VO) a cada 12 horas. Apixabana e Rivaroxabana: possuem efeito rápido. Endoxabana e Dabigatrana: não possuem efeito imediato, por isso ambas as drogas necessitam de um tratamento ponte, ou seja, um medicamento que faça efeito nos 5 primeiros dias do tratamento. Vantagens: menor sangramento em relação à varfarina, possuem pouca interação com alimentos e não é necessário o controle de RNI. Desvantagens: contraindicado em pacientes com disfunção renal, FA com uso de prótese valvar e pacientes com estenose mitral. Além disso, é um medicamento caro. Por quanto tempo devemos anticoagular o paciente com TEP? Caso a TEP seja de origem não provocada ou causada por um fator que não pode ser corrigido (por exemplo quando o paciente apresenta um câncer que não pode ser tratado) ou ainda se for um quadro de TEP recorrente, a recomendação é anticoagulação por no mínimo três meses. Em caso de TEP provocada por um fator como imobilização, cirurgias, câncer ou gravidez, a recomendação é suspender a anticoagulação após 3 meses da resolução do fator desencadeante. Podendo ser postergada a partir da análise do especialista. Pacientes com câncer devem tratar durante todo o tratamento da neoplasia. PACIENTE INSTÁVEL Pacientes instáveis são classificados a partir de uma PAS <90mmHg. 9 Ana Carolina Silva Inácio Caires Eles apresentam a clínica da insuficiência cardíaca: pele pegajosa, perfusão periférica lentificada e outros sinais de baixo débito. Para relembrar, tais pacientes apresentam um aumento da resistência, que leva ao aumento de sangue dentro do VD e consequente abaulamento do septo interventricular com compressão do VE. O ventrículo esquerdo comprimido gera hipotensão! Para diminuir essa resistência inicial, deve-se realizar a fibrinólise QUÍMICA ou MECÂNICA. Em pacientes instáveis é preconizado o uso de trombolíticos [Estreptoquinase, Alteplase (rtPA) ou Tenecteplase]. A janela terapêutica é de 14 dias (sendo que nas primeiras 72 horas há o maior benefício). Em virtude dos riscos desta terapêutica devemos ter o diagnóstico de TEP confirmado por exames de imagem. ESTREPTOQUINASE: administrar 250.000 UI IV em bolus em 30 min, seguido de 100.000 Ul/h por 12-24 h OU 1.500.000 UI IV em 2 horas – preferível. ALTEPLASE OU RTPA: 0,6mg/kg IV em 15 minutos (dose máxima de 50mg) OU 100mg IV em 2 horas – preferível. TENECTEPLASE – 30 mg para ≤ 60 kg; 35 mg para 61 a 69 kg; 40 mg para 70 a 79 kg; 45 mg para 80 a 89kg; 50 mg para ≥ 90 kg. OBS: A única indicação amplamente aceita para realização de trombólise em pacientes com TEP é a instabilidade hemodinâmica persistente. No entanto, alguns autores sugerem a realização da trombólise em pacientes que apresentam disfunção do ventrículo direito (VD) com piora progressiva, apresentaram PCR em decorrência ao TEP ou na presença de trombo livre no VD, evento raro, porém de altíssima mortalidade. TROMBECTOMIA Uma opção de tratamento de fibrinólise mecânica é a trombectomia, onde é retirado o coágulo endovascular através de cirurgia. É uma opção para pacientes jovens com TEP grande proximal que estão com hipotensão. PROFILAXIA A prevenção do TEP, que, na verdade, é a prevenção da TVP, inclui, basicamente, cuidados fisioterápicos e instituição medicamentosa que contribuam com a diminuição da formação dos trombos. A movimentação ativa, ou passiva, a elevação dos membros inferiores, massagens, deambulação precoce, uso de meias elásticas e aplicação de ultra- som são medidas importantes na prevenção da TVP. O uso da heparina, em pequenas doses, está indicado nas condições ditas tromboembolígenas de risco de TVP. Dessa forma, a heparina inibe os eventos que ocorrem no início da cascata da coagulação, antes da formação da trombina. O esquema deve ser iniciado imediatamente após o risco ter sido evidenciado, e continuado até que o mesmo tenha desaparecido. Outra opção profilática é a varfarina, sódica, que tem demonstrado ser uma droga eficaz em grupos de alto risco, incluindo pacientes traumatizados, queimados e com cirurgia de quadril, onde as baixas doses de heparina não são eficazes na prevenção da TVP. A droga demora vários dias para agir como antitrombótico, agindo, provavelmente, prevenindo a extensão do trombo ao invés de sua formação. Finalmente, uma alternativa segura, eficaz e bem tolerada é o uso da compressão mecânica da panturrilha. Tal compressão mantém o fluxo venoso através da insuflação de um “cuff“ aplicado sobre a panturrilha, por vários segundos, a cada minuto. Em presença de TVP, ativa está contra-indicado seu uso. Deve ser aplicada imediatamente após a constatação da situação de risco, mantida durante todo o período de risco até que o risco tenha desaparecido. Sua indicação formal é para aqueles pacientes a quem o uso da heparina está contra- indicado como, por exemplo, os pacientes neurocirúrgicos.
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