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CITOPATOLOGIA E URINÁLISE PROF.A DRA. MARIANA APARECIDA LOPES ORTIZ Reitor: Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira Pró-reitor: Prof. Me. Ney Stival Gestão Educacional: Prof.a Ma. Daniela Ferreira Correa PRODUÇÃO DE MATERIAIS Diagramação: Alan Michel Bariani Thiago Bruno Peraro Revisão Textual: Gabriela de Castro Pereira Letícia Toniete Izeppe Bisconcim Luana Ramos Rocha Produção Audiovisual: Heber Acuña Berger Leonardo Mateus Gusmão Lopes Márcio Alexandre Júnior Lara Pedro Paulo Liasch Gestão de Produção: Kamila Ayumi Costa Yoshimura Fotos: Shutterstock © Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo (a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá. Primeiramente, deixo uma frase de Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida.” Cada um de nós tem uma grande responsabilidade sobre as escolhas que fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica e profissional, refletindo diretamente em nossa vida pessoal e em nossas relações com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente e busca por tecnologia, informação e conhecimento advindos de profissionais que possuam novas habilidades para liderança e sobrevivência no mercado de trabalho. De fato, a tecnologia e a comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e nos proporcionando momentos inesquecíveis. Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, capaz de formar cidadãos integrantes de uma sociedade justa, preparados para o mercado de trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Que esta nova caminhada lhes traga muita experiência, conhecimento e sucesso. Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira REITOR 33WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 01 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................................5 1 - ANATOMIA, HISTOLOGIA E CITOLOGIA DO TRATO GENITAL FEMININO .......................................................6 1.1. ANATOMIA ............................................................................................................................................................6 1.2. HISTOLOGIA ........................................................................................................................................................6 1.3. CITOLOGIA NORMAL ...........................................................................................................................................8 1.3.1.CÉLULAS DO EPITÉLIO ESCAMOSO ................................................................................................................8 1.3.2. CÉLULAS ENDOCERVICAIS ............................................................................................................................ 10 1.3.3. CÉLULAS ENDOMETRIAIS .............................................................................................................................. 11 2 - TÉCNICAS DE COLETA, FIXAÇÃO, COLORAÇÃO E RASTREAMENTO ............................................................ 12 2.1. COLETA ................................................................................................................................................................ 12 CITOLOGIA CÉRVICO-VAGINAL NORMAL E CITOLOGIA HORMONAL PROF.A DRA. MARIANA APARECIDA LOPES ORTIZ ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CITOPATOLOGIA E URINÁLISE 4WWW.UNINGA.BR 3 - CITOLOGIA HORMONAL ..................................................................................................................................... 15 3.1. PADRÕES CITOLÓGICOS ................................................................................................................................... 15 3.2. ÍNDICES CITOLÓGICOS ..................................................................................................................................... 18 3.3 . PADRÕES CITOLÓGICOS NAS DIFERENTES FASES DA VIDA ...................................................................... 19 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................. 20 5WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Durante as quatro unidades, abordaremos o diagnóstico citológico cérvico-vaginal, o diagnóstico do líquido seminal e do líquido cefalorraquidiano e finalizaremos com a avaliação da urina. Para iniciar a primeira unidade, é preciso saber a definição de citologia: trata-se da comparação de imagens observadas ao microscópio com a imagem normal, ou a discordância, em casos patológicos. Quando se fala em citologia, é preciso citar George Papanicolaou (1883- 1962) – que é considerado o pai da citologia preventiva e diagnóstica –, pois ele foi o primeiro que utilizou a comparação de imagens normais com as amostras de pacientes, para chegar diagnósticos. Dessa forma, a citopatologia cérvico-vaginal é baseada no acompanhamento da evolução e da atividade gonadal e placentária, na detecção precoce de alterações inflamatórias e pré-câncer, além de acompanhar casos de câncer já tratados. Iniciaremos a unidade I conhecendo um pouco sobre a citologia cérvico-vaginal normal, a atividade e influência hormonal nessa região, e sobre as principais alterações benignas que acontecem nessa região e são identificadas através da citologia. 6WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - ANATOMIA, HISTOLOGIA E CITOLOGIA DO TRATO GENITAL FEMININO 1.1. Anatomia Para a realização do exame de Papanicolaou, também conhecido popularmente como exame preventivo, é necessário que se conheça o local adequado para a coleta do material que será avaliado, assim como os elementos normais presentes nos raspados. O trato genital feminino, objeto de estudo dessa unidade, é constituído pela vulva (localizada externamente), pela vagina pelo útero, pelas tubas uterinas e pelos ovários – localizados no interior da cavidade pélvica (Figura 1). Figura 1 - Trato genital feminino. Fonte: Mundo Educação (2019). O útero é um órgão muscular que se divide em duas partes, o colo e o corpo. O colo é a porção inferior, que pode ser subdivida em ectocérvice – porção projetada para o canal vaginal e que apresenta o orifício cervical – e a endocérvice – canal interno do colo. Já a região correspondente ao corpo do útero é a região que fica acima do colo do útero e se estende até a região de entrada das tubas uterinas. A vagina apresenta uma estrutura tubular, que se inicia no vestíbulo vulvar e se comunica com a parte externa do colo do útero. Tem aproximadamente 8 cm de comprimento. Já a vulva é a porção externa do trato genital, e se estende deste o monte pubiano até a região do períneo, compreendendo os pequenos e grandes lábios, clitóris, prepúcio, vestíbulo, meato uretral, glândulas parauretrais o hímen e o introito vaginal. 1.2. Histologia Como já exposto anteriormente, o colo do útero pode ser dividido em duas porções, a ectocérvice (externa) e a endocérvice (interna). Essas duas regiões possuem diferentes tecidos. A ectocérvice é revestida pelo epitélio pavimentoso escamoso estratificado não queratinizado, o qual também é encontrado na vagina. Esse epitélio é constituído por várias camadas de células, que incluem células basais, parabasais, intermediárias e superficiais (Figura 2) (particularidades dessas células serão abordadas adiante). 7WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA A camada basal é constituída por uma única camada de células pequenas, já a camada parabasal pode apresentar diversas camadas de células,as quais quando se diferenciam e maturam formam a camada de células intermediárias, cuja espessura e quantidade irá variar com os estímulos hormonais. E por último encontram-se a camada superficial, que é a região mais diferenciada e madura do epitélio. Figura 2 - Epitélio escamoso estratificado não queratinizado. Representação esquemática do epitélio e das células que o constituem. Fonte: Consolaro e Maria-Engler (2012). Já a endocérvice é constituída de um epitélio simples, que é o epitélio endocervival – constituído de uma única camada de células colunares, que são produtoras de muco e revestem as estruturas glandulares. Essas estruturas glandulares são na verdade invaginações do tortuosas do próprio epitélio, e não glândulas verdadeiras. A junção escamocolunar (JEC) é a região onde o epitélio ectocervical se encontra com o epitélio endocervical. A sua localização exata varia, dependendo de fatores como idade, estímulo hormonal, gestação e ação outros agentes. Inicialmente, ela se encontra na região do orifício do colo do útero, porém, com a puberdade e a mudança de tamanho do colo uterino, ocorre uma eversão do epitélio endocervical, o que origina um epitélio ectópico, ou seja, o epitélio endocervical passa a ocupar o espaço ectocervical. Esse epitélio não apresenta a mesma resistência ao meio ácido vaginal, o que dá origem a um processo conhecido como metaplasia escamosa, ou seja, a substituição do epitélio endocervical ectópico por um epitélio escamoso metaplásico mais resistente. Essa região compreendida pelas células metaplásicas é conhecida como zona de transformação e apresenta uma importância muito grande no exame citológico, uma vez que é nela que se iniciam a maior parte das lesões precursoras de câncer de colo uterino. Com o passar dos anos, e especialmente após a menopausa, o colo uterino diminui de tamanho o que faz com que a JEC mude de lugar, passando agora para dentro do canal endocervical (Figura 3). 8WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 3 - Desenho esquemático da localização da zona de transformação em diferentes faixas de idade. A – Na ectocérvice, durante a puberdade; B – Na região do orifício externo, durante a menacma; C – No canal endocervi- cal, após a menopausa. Fonte: Koss & Gompel (2006). Já a parede vaginal é constituída por três camadas, sendo uma mucosa – de epitélio pavimentoso estratificado (já descrito nos parágrafos anteriores) –, uma camada muscular intermediária – de músculo lisa –, e uma camada adventícia externa –, de tecido conjuntivo denso. O epitélio vaginal responde às mudanças hormonais correspondentes ao ciclo menstrual, dessa forma, o esfregaço vaginal pode ser utilizado para avaliar a ação e os níveis hormonais durante o ciclo menstrual. 1.3. Citologia normal O princípio básico da citologia é identificar alterações na morfologia celular, que incluem citoplasma e núcleo, quando essas células são coradas pelo método de Papanicolaou. Dessa forma, antes de identificar as possíveis alterações nas células é imprescindível que se conheça a morfologia e as características estruturais de uma célula normal. 1.3.1. Células do epitélio escamoso Como citado anteriormente, o epitélio escamoso é constituído de células basais, parabasais, intermediárias e superficiais, sendo que a maturação está relacionada às alterações morfológicas dessas células. A camada mais profunda desse epitélio corresponde às células basais, que caracterizam- se por serem basófilas (coram-se em tons de azul na coloração de Papanicolaou), pequenas, redondas e com núcleo volumoso e central. São células que dificilmente sofrem descamação (com exceção em situações em que acontece uma diminuição brusca da atividade hormonal) e sofrem mitose, garantindo, assim, a renovação do epitélio. As células parabasais são maiores que as basais e apresentam citoplasma um pouco mais abundante. Também apresentam as bordas delimitadas e citoplasma basófilo, porém também podem apresentar-se azul-esverdeadas, cinzas e mais raramente laranjas. Essas células são verificas normalmente em esfregaços atróficos, ou seja, quando o epitélio apresenta pouca ou nenhuma maturação, especialmente na infância e pós menopausa (Figura 4). 9WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 4 - Células parabasais. Fonte: Bittencurt (2019). As células intermediárias apresentam formato poligonal e apresentam citoplasma abundante e normalmente cianofílico. Apresentam núcleo redondo ou ovalado, cromatina finamente granulada. O citoplasma é rico em glicogênio, o qual é metabolizado pelos lactobacilos presentes na microbiota vagina normal, levando à produção de ácido láctico e consequente acidificação do pH vaginal (Figura 5). Figura 5 - Células intermediárias. Fonte: Atlas de Citologia Clínica (2019). 10WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA As células superficiais são as células mais diferenciadas e maduras do epitélio escamoso. Essas células apresentam citoplasma abundante, poligonal, de aspecto delicado e coloração geralmente eosinofílica (coloração rosa de acordo com a coloração de Papanicolaou). O núcleo apresenta-se denso, pequeno e picnótico (Figura 6). Figura 6 - Células superficiais. Fonte: Pathologika (2019). 1.3.2. Células endocervicais As células endocervicais são células que apresentam citoplasma denso e cianofílico, núcleo elíptico ou esférico. Ela pode ser vista no esfregaço em duas disposições, em “favo de mel” (Figura 7), quando são vistas de cima, ou em “paliçada” (Figura 8), quando vistas de lado. Figura 7 - Células endocervicais em favo de mel. Fonte: Atlas de citopatologia (2019). 11WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 8 - Células endocervicais do tipo paliçada. Fonte: Atlas digital IARC (2019). 1.3.3. Células endometriais As células endometriais descamam durante a menstruação, e coletas de amostras nesse período (ou próximo a ele) possibilitam a visualização dessas células nos esfregaços, podendo aparecer, então, até o décimo segundo dia do ciclo. Como será visto adiante nessa unidade, a coleta nesse período não é a mais indicada, dessa forma, essas células normalmente não aparecem no esfregaço cérvico-vaginal. A visualização dessas células após esse período é considerada anormal e merece atenção maior quando aparecem em esfregaços de mulheres na pós-menopausa. As células endometriais são pequenas e descamam em grupamentos densos, apresentam pouca definição e são menores que as células endocervicais. O núcleo é arredondado ou oval, pequeno, excêntrico e hipercromático (Figura 9). Figura 9 - Células endometriais. Fonte: Pathologika (2019). 12WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 2 - TÉCNICAS DE COLETA, FIXAÇÃO, COLORAÇÃO E RASTREAMENTO Para que o exame citológico consiga cumprir seus objetivos com sucesso, é necessário que todas as etapas envolvidas no exame sejam realizadas da forma mais correta possível. Diversas etapas estão envolvidas nesse processo, que começa com o preparo e orientações para a paciente, a coleta do material, a confecção e fixação do esfregaço, transporte o material, identificação, processamento, avaliação microscópica, conclusão e confecção do laudo. O controle de qualidade interno e externo é de fundamental importância nas etapas que envolvem o diagnóstico, para o que o resultado seja o mais representativo da realidade possível. 2.1. Coleta Antes da realização da coleta do material para avaliação citológica, a paciente deve receber algumas orientações que incluem: evitar relações sexuais e duchas vaginais 24 horas antes da coleta, evitar o uso de cremes ou pomadas vaginais nas 48 horas que antecedem à coleta, e durante a idade reprodutiva, a coleta deve serrealizada preferencialmente no meio do ciclo. Como o objetivo principal do exame citológico é a detecção de processos inflamatórios e/ ou lesões pré-câncer, o esfregaço ideal deve apresentar células do epitélio escamoso da ectocérvice, células do epitélio glandular da endocérvice e deve incluir células da zona de transformação. Caso seja realizada a avaliação hormonal, a coleta também deve ser realizada na parede lateral da vagina. A coleta pode ser do tipo esfoliativa, em que são coletadas células que descamam espontaneamente, porém, o método mais utilizado é a citologia abrasiva, em que há a remoção de células da ectocérvice, endocérvice na vagina, que é realizada com o auxílio de espátula de Ayre e escova endocervical. Para a coleta ectocervical posiciona-se o braço mais alongado da espátula de Ayre no orifício externo do colo e realiza-se uma rotação de 360o. Para a coleta endocervical, a escova deve ser introduzida no orifício endocervical e o material é colhido girando-a 360o (Figura 10). O material coletado deve ser colocado imediatamente em uma lâmina, onde normalmente utiliza- se sentidos diferentes para os diferentes materiais, como pode ser visualizado na Figura 11. 13WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 10 - Esquema representativo da coleta cérvico-vaginal. A – posicionamento do braço alongado da espátula de Ayre no orifício externo do colo e rotação. B – Introdução de escova no canal endocervical e rotação. C – raspa- gem do fundo de saco com espátula. D – Raspagem do terço superior da vagina com a extremidade arredondada da espátula de Ayre. Fonte: Consolaro; Maria-Engler (2012). Figura 11 - As amostras obtidas das regiões ectocervical e endocervical devem ser distribuídas em sentidos opos- tos, conforme pode ser visualizado no esquema acima. Fonte: Consolaro e Maria-Engler (2012). 14WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Para compreender melhor como funciona a coleta do exame conhecido como Papanicolaou, o vídeo intitulado: Instruções práticas para a coleta de papanicolaou - hospital do câncer de Barretos, possui informações bastante claras e didáticas. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_1yS5lzNmSc>. Acesso em: 06 fev. 2019. As lâminas devem ser devidamente identificadas, e os esfregaços devem ser fixados imediatamente, afim de preservar a morfologia celular, as afinidades tintoriais, facilitar a permeabilidade dos corantes e evitar o ressecamento. Os fixadores mais utilizados são o álcool etílico e a solução alcoólica de polietilenoglicol. É muito importante que a fixação aconteça com o esfregaço ainda molhado, e em até 10 segundos. A coloração é realizada no laboratório, e tem por objetivo facilitar o reconhecimento dos componentes celulares. Podem ser usadas diferentes colorações, sendo a mais comum a de Papanicolaou. Essa coloração é composta por corantes de núcleo e corantes de citoplasma, além de soluções desidratantes e hidratantes. A utilização de todas essas substâncias tem por objetivo definir detalhes do núcleo, garantir transparência celular e diferenciar os vários elementos que podem estar presentes no esfregaço. É importante ressaltar que atualmente há uma alternativa para aumentar a sensibilidade do diagnóstico citológico, que é a citologia em base líquida. Essa técnica apresenta vantagens em relação à citologia convencional e vem sendo cada vez mais utilizada nos laboratórios, mas especialmente em exames particulares e de convênios. Diversos artigos científicos tratam das diferenças entre a citologia convencional e a citologia em base líquida. As principais diferenças entre essas duas técnicas podem ser encontradas no texto de Heise e Lima (2016): Citopatologia convencional e citologia em meio líquido: uma revisão integrativa. Revista Saúde e Desenvolvimento. Vol. 10, nº 5. 2016. Disponível em: <https://www.uninter.com/ revistasaude/index.php/saudeDesenvolvimento/article/view/627>. Acesso em: 06 Fev. 2019. 15WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA 3 - CITOLOGIA HORMONAL A citologia hormonal foi uma das primeiras aplicações diagnósticas da citologia clínica. Foram observadas modificações no epitélio vaginal, de acordo com as mudanças hormonais que acontecem no ciclo menstrual. Essas observações abriram portas para a evolução e consolidação do diagnóstico citológico de lesões inflamatórias e principalmente pré-câncer. Para a realização da avaliação citológica hormonal, é importante que a coleta seja realizada no terço superior da parede vaginal lateral, pois essa região é mais sensível aos hormônios. Deve- se evitar regiões muito próximas à cérvice e o fundo de saco, uma vez que esse último pode conter células que descamaram do colo uterino espontaneamente. Fenômenos inflamatórios, tratamentos hormonais, irradiações ou cirurgias recentes tiram a validade da avaliação hormonal. Para entender a mudança dos padrões celulares, é importante relembrar um pouco dos hormônios envolvidos com o ciclo menstrual normal. O hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), liberado pelo hipotálamo, estimula a hipófise anterior a secretar os hormônios folículo estimulante (FSH) e luteinizante (LH), os quais estimulam a produção dos dois hormônios ováricos, estrógeno e progesterona. Esses dois últimos hormônios são os responsáveis pelo desenvolvimento sexual feminino e pelas alterações do ciclo menstrual. O estrógeno é o hormônio responsável pela maturação das células do epitélio, ou seja, quanto maior a quantidade de estrógeno que estiver sendo liberada, maior quantidade de células maduras, como as superficiais. O estrógeno confere ainda maior resistência a traumas e infecções, proliferação da mucosa da endocérvice e endométrio e proliferação de células específicas do corpo. Já a progesterona atua preparando o útero para a gravidez e as mamas para a lactação. Com base na ação desses hormônios, o ciclo endometrial se divide grosseiramente em três fases: menstrual (1o ao 5o dia); estrogênica ou proliferativa (6o ao 14o dia) e progestacional ou secretora (15o ao 28o dia). O ciclo se inicia com a menstruação, sendo o primeiro dia do ciclo o primeiro dia da menstruação. Essa fase ocorre quando não houve fecundação e o corpo lúteo involui, fazendo com que a secreção de estrógeno e progesterona diminua, favorecendo assim a menstruação. Assim que o endométrio se reepiteliza, o sangramento para. A partir do sexto dia se inicia a fase estrogênica, o aumento da quantidade de estrógeno contribui para o restabelecimento do endométrio através da estimulação da proliferação das células endometriais. O pico de estrógeno acontece próximo ao 14 dia do ciclo, quando acontecerá então a ovulação. A partir do 16 dia, os índices de progesterona produzidos pelo corpo lúteo são maiores do que os de estrógeno. A função da progesterona é aumentar a capacidade secretora do endométrio para que este esteja preparado para receber o óvulo, caso tenha acontecido a fecundação. Se a fecundação não aconteceu, ocorre a involução do corpo lúteo e um novo ciclo se inicia. 3.1. Padrões citológicos As alterações dos hormônios ováricos presentes durante o ciclo menstrual normal fazem com que ocorram diferenças nas células visualizadas nos esfregaços (Figura 12). Como visto anteriormente, o estrógeno está relacionado com a proliferação, diferenciação e maturação das células do epitélio, dessa forma, quanto maior a quantidade de estrógeno, maior a quantidade de células superficiais. Já a progesterona promove a proliferação do epitélio vaginal, mas impede a maturação, favorecendo assim o aparecimento de células intermediárias. 16WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 12 - Alterações durante o ciclo menstrual normal. Fonte: MSD Manuals (2019). Com basenessas alterações, o epitélio vaginal pode apresentar quatro padrões distintos, como podemos visualizar abaixo: • Hipertrófico: Um epitélio do tipo hipertrófico é aquele onde o hormônio predominante é o estrógeno, ou seja, haverá no esfregaço apenas células escamosas do tipo superficial e intermediário, porém a maioria delas (mais de 50%) serão superficiais (Figura 13). Figura 13 - Epitélio hipertrófico. Fonte: Consolaro; Maria-Engler (2012). 17WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA • Normotrófico: Esse padrão acontece quando o hormônio predominante é a progesterona, ou existe um equilíbrio entre progesterona e estrógeno. Dessa forma, no esfregaço ainda aparecem apenas células superficiais e intermediárias, porém existe um equilíbrio na quantidade dessas células ou as células intermediárias estão em predomínio (Figura 14). Figura 14 - Padrão normotrófico. Fonte: Pathologika (2019). • Hipotrófico: nesse padrão citológico, existe o predomínio de células do tipo intermediário, porém já podem ser visualizadas células parabasais. As células superficiais também podem estar presentes, porém como ele ocorre em situações em que há a diminuição dos níveis de estrógeno, a quantidade de células superficiais será proporcionalmente oposta à quantidade de células parabasais, ou seja, quanto mais células parabasais estiverem presentes, menos superficiais serão visualizadas (Figura 15). Figura 15 - Padrão hipotrófico. Fonte: Consolaro; Maria-Engler (2012). 18WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA • Atrófico: nesse caso, há ausência ou diminuição muito acentuada de estrógeno e outros hormônios relacionados, ou seja, o nível de maturação das células do epitélio estará muito diminuído. Existe predomínio de células parabasais em relação às células intermediárias, sendo que as células superficiais tendem a desaparecer (Figura 16). Figura 16 - Padrão atrófico. Fonte: Consolaro; Maria-Engler (2012). 3.2. Índices citológicos Alguns índices podem ser utilizados para auxiliar a avaliação hormonal. Esses índices expressam a quantidade de tipos específicos de células, o que pode ajudar na visualização de possíveis problemas hormonais, contribuindo, assim, para a escolha de tratamentos ou condutas médicas. • Índice de cariopicnose: é a porcentagem de células que apresentam núcleo picnótico no esfregaço. O valor máximo desse índice acontece durante o período de ovulação, podendo chegar a 85% das células. Levando em consideração os quatro padrões citológicos acima, quais deles estarão presentes nas fases do ciclo menstrual de uma mulher em idade fértil que não esteja grávida e que não faça uso de nenhum medicamento hormonal? Todos os padrões aparecem? O ciclo menstrual normal é uma alternância entre os padrões normotrófico e hipertrófico. Os padrões hipotrófico e atrófico não aparecem, uma vez que em uma mulher em idade fértil que não apresente nenhuma patologia a produção de estrógeno e progesterona é normal. 19WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA • Índice de eosinofilia: refere-se à porcentagem de células maduras que apresentam coloração eosinofílica. De modo geral, o maior índice de eosinofilia coincide com o maior índice de cariopicnose. • Índice de maturação: O índice de maturação é entre todos o índice mais utilizado e mais relevante. Ele avalia a porcentagem de células parasabasais, intermediárias e superficiais (P/I/S). Por exemplo, em um esfregaço do tipo atrófico, o índice de maturação pode ser 100/00/00, ou seja, 100% das células presentes no esfregaço são do tipo parabasal. Caso seja visualizado um índice 00/20/80, isso mostra que o esfregaço apresenta padrão hipertrófico, com maioria de células superficiais. 3.3 . Padrões citológicos nas diferentes fases da vida Logo após o nascimento, o padrão citológico do bebê (até a quarta semana de vida aproximadamente) é um reflexo do que estava acontecendo no corpo da mãe, ou seja, o hormônio em predomínio na gestante naquele momento influencia no tipo de célula visualizada. Na gravidez, especialmente após o quarto mês de gestação, quando a placenta passa a ser responsável pela secreção hormonal, ocorre um predomínio de progesterona, sendo assim, em um bebê recém- nascido, haverá predomínio de células intermediárias ricas em glicogênio. Após esse período inicial, já ocorre uma brusca mudança, uma vez que não há a produção dos hormônios pelo bebê, sendo assim, após o primeiro mês o epitélio passa a apresentar um padrão atrófico, que é caracterizado pela presença de grande quantidade de células parabasais e pequena quantidade de células intermediárias. Células superficiais normalmente são ausentes, devido a falta de estrógeno, o qual é responsável pela maturação e diferenciação das células. Assim que a menina entra na puberdade, inicia-se a produção dos hormônios gonadotróficos, até que a menina tenha sua primeira menstruação. Nesse período vai ocorrendo uma mudança gradual no epitélio, onde este começa a sofrer maturação, passando de um epitélio atrófico para hipotrófico, até que com a menstruação e a presença de quantidades normais de estrógeno e progesterona a menina passa a apresentar um ciclo sexual normal, intercalando entre períodos de padrão hipertrófico e normotrófico. Já na gestação, nos três primeiros meses, o corpo lúteo ainda é responsável pela secreção de estrógeno e progesterona, estimulado pelo hCG. Após o primeiro trimestre, a placenta passa a ser a responsável pela produção hormonal, e como já dito anteriormente, ocorre predomínio na produção de progesterona, ou seja, esfregaço composto majoritariamente por células intermediárias, e células intermediárias ricas em glicogênio, conhecidas como células naviculares. Após o parto (normalmente por um período de até 6 meses), o epitélio adquire caráter atrófico, uma vez que ocorre supressão da secreção de FSH e LH. 20WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 1 ENSINO A DISTÂNCIA Assim que a mulher entra na menopausa também acontecem alterações dos padrões citológicos. Quando vai acontecendo a diminuição dos hormônios esteroides, a maturação das células vai diminuindo, e inicialmente encontra-se predomínio de células intermediárias com presença de células superficiais. Mais tarde tem início um padrão hipotrófico, com o aparecimento de células do tipo parabasal. Até que, quando a menopausa já está consolidada, não existe maturação do epitélio e o que predomina é um epitélio do tipo atrófico com maioria de células parabasais. 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi possível a partir dessa unidade conhecer quais as características normais da citologia cérvico-vaginal. Visualizando, então, as células presentes em cada região, suas características morfológicas e estruturais. Além disso, foi possível conhecer a primeira aplicação da citologia cérvico-vaginal, que é a citologia hormonal. Alterações hormonais fazem com que células diferentes sejam observadas no esfregaço, sendo esse exame então um importante aliado na avaliação da função hormonal da mulher. Na próxima unidade, os conceitos vistos nessa unidade serão essenciais, pois conheceremos as principais alterações que podem acontecer nas células superficiais, intermediárias, parabasais e endocervicais. A educação, a integração cultural e a busca pela excelência através do esporte são ideais a serem alcançados. O Olimpismo tem como princípios a amizade, a compreensão mútua, a igualdade, a solidariedade e o “fair play” (jogo limpo). Mais que uma filosofia esportiva, o Olimpismo é uma filosofia de vida. A ideia é que a prática destes valores ultrapasse as fronteiras das arenas esportivas e influencie a vida de todos (COB, 2018). 2121WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 02 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................23 1 - PROCESSOS REACIONAIS/BENIGNOS ............................................................................................................ 24 1.1 PROCESSOS DE PROTEÇÃO ............................................................................................................................... 24 1.1.1 HIPERDIFERENCIAÇÃO .................................................................................................................................... 24 1.1.2 METAPLASIA ESCAMOSA ............................................................................................................................... 25 1.2 PROCESSO DE REPARAÇÃO ............................................................................................................................. 26 1.3 PROCESSOS DESTRUTIVOS .............................................................................................................................. 27 1.3.1 VAGINOSE BACTERIANA (VB) ......................................................................................................................... 28 1.3.2 ACTINOMYCES SP ........................................................................................................................................... 29 1.3.3 LEPTOTHRIX SP .............................................................................................................................................. 30 PROCESSOS REACIONAIS BENIGNOS E LESÕES PRÉ-CÂNCER PROF.A DRA. MARIANA APARECIDA LOPES ORTIZ ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CITOPATOLOGIA E URINÁLISE 22WWW.UNINGA.BR 1.3.4 FUSOBACTERIUM SP ...................................................................................................................................... 31 1.3.5 CERVICITE POR CHLAMYDIA TRACHOMATIS ............................................................................................ 31 1.3.6 CANDIDÍASE VULVOVAGINAL (CVV) ............................................................................................................ 32 1.3.7. VAGINITE E CERVICITE POR TRICHOMONAS VAGINALIS ........................................................................ 33 1.3.8 HERPES-VÍRUS ............................................................................................................................................... 34 1.3.8 PAPILLOMAVIRUS HUMANO (HPV) ............................................................................................................. 35 2 - SISTEMA DE BETHESDA .................................................................................................................................... 36 3 - LESÕES PRÉ-CÂNCER E ALTERAÇÕES ASSOCIADAS ................................................................................... 37 3.1 CRITÉRIOS CITOLÓGICOS DE MALIGNIDADE ................................................................................................. 39 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................................................... 39 23WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nessa unidade, continuamos abordando a citologia cérvico-vaginal, mas dessa vez falando sobre as alterações. Serão abordadas as alterações benignas e reacionais, que incluem os processos de adaptação e processos inflamatórios. Também serão abordados os principais agentes infecciosos que podem ser visualizados e diagnosticados no esfregaço cérvico-vaginal. Por último, trataremos daquela que é a principal função do diagnóstico citológico, que é a identificação de lesões pré-câncer. Lembrando que, o diagnóstico precoce é de fundamental importância para que o tratamento seja bem-sucedido. 24WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - PROCESSOS REACIONAIS/BENIGNOS Tanto o epitélio escamoso, quanto o endocervical enfrentam diversas condições de estresse, as quais colocam em risco sua estrutura e funcionamento. Diante disso, as células são capazes de sofrer mudanças reacionais que irão garantir sua sobrevivência. Essas células podem sofrer adaptações que as modifiquem em tamanho, número e tipo. Além disso, essas modificações podem acontecer isoladamente ou em combinação. Os processos reacionais podem ser divididos em: processos de proteção; processos de reparação e processos destrutivos. 1.1 Processos de proteção 1.1.1 Hiperdiferenciação Entre os mecanismos de proteção utilizados pelo epitélio, podemos citar a hiperdiferenciação. Esse mecanismo é utilizado quando o epitélio sofre um estímulo crônico grave. Entre os possíveis processos que envolvem a hiperdiferenciação, inclui-se: acantose, hiperqueratose e paraqueratose. • Acantose: é caracterizada pelo aumento do número de células, ou seja, o epitélio aumenta seu poder de proteção aumentando sua espessura. • Hiperqueratose: consiste em espessamento do estrato córneo do epitélio associado a uma queratinização da camada superficial. Citologicamente, são observadas escamas anucleadas maduras (Figura 1). Figura 1 - Hiperqueratose. Escanas anucleadas. É possível observar a sombra dos núcleos que desapareceram (se- tas). Fonte: Atlas de Citologia BVSMS (2019). 25WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA • Paraqueratose: também trata de uma queratinização do epitélio, porém esta é caracterizada pela permanência dos núcleos. Pode ser dividida em típica ou atípica, dependendo da aparência dos núcleos. Na paraqueratose típica, os núcleos apresentam-se pequenos, condensados e hipercromáticos. Já na queratose atípica, também conhecida como disqueratose, os núcleos apresentam margens irregulares, cromatina grosseira e irregularmente distribuída, o que é um reflexo da intensa atividade proliferativa que acontece (Figura 2). Figura 2 - Paraqueratose. Pequeno conjunto de células escamosas, com citoplasma denso, orangeofílico e com núcleos típicos. Fonte: Atlas de Ctopatologia Ginecológica BVSMS (2019). 1.1.2 Metaplasia escamosa A metaplasia consiste em fenômeno adaptativo que resulta na substituição de um epitélio adulto e diferenciado menos resistente por um epitélio adulto e diferenciado mais resistente. No caso da metaplasia escamosa, ocorre a substituição gradual do epitélio endocervical (menos resistente a possíveis agressões) pelo epitélio escamoso (mais resistente). Diversos estímulos podem levar à metaplasia escamosa, que incluem irritação crônica (física ou química), inflamações persistentes, uso de contraceptivos orais, acidez vaginal. O processo de metaplasia se inicia com a hiperplasia de células de reserva endocervicais. Nesse momento passam a existir algumas camadas de novas células de reserva imaturas. Essas células diferenciam-se, então, em um epitélio metaplásico imaturo, que na grande maioria das mulheres irá se converter em epitélio metaplásico maduro, tornando-se, assim, muito semelhante ao epitélio escamoso original. Na minoria das mulheres o epitélio metaplásico atípico pode se desenvolver em um epitélio atípico displásico, o que acontece quando certos tipos de Papillomavirus humano (HPV) oncogênicos infectam essas células metaplásicas imaturas e as transformam. Essa transformação pode regredir para o estado de uma célula normal, persistir como displasia ou evoluir para uma neoplasia cervical. 26WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Citologicamente, as células metaplásicas são caracterizadas por serem arredondadas, com citoplasma densamente corado, as vezes vacuolizado e com a periferia mais corada. Os núcleos apresentam tamanho médio, são normalmente centrais e com cromatina granular e fina (Figura 3). Figura 3 - Células metaplásicas. É possível observar citoplasma escasso, às vezes vacuolizado e/ou com hipercora- bilidade periférica,com núcleo de tamanho médio, central. Fonte: Atlas de citopatologia (2019). 1.2 Processo de reparação A destruição pontual de regiões do epitélio desencadeia processos de reparação. Entre as causas de destruição tecidual encontram-se os processos inflamatórios severos, biópsias, cauterização ou radioterapia. Citologicamente, esses processos são caracterizados por grupamentos celulares com citoplasma denso, do tipo fumaça, núcleos variáveis, multinucleação e nucléolos visíveis (Figura 4). Figura 4 - Reparo. Fonte: Atlas de Ctiopatologia Ginecológica BVSMS (2019). 27WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.3 Processos destrutivos O trato genital feminino possui diversas defesas contra possíveis agentes infecciosos. Entre essas defesas podemos citar: a síntese de muco protetor, o pH vaginal ácido, a microbiota normal vaginal, as células fagocitárias e a reação inflamatória. A reação inflamatória, apesar de contribuir para o combate a possíveis agentes infecciosos, também acaba causando alguns danos ao epitélio, e por isso, é considerada como um processo destrutivo. Entre as principais causas da inflamação cérvico-vaginal, incluem-se agentes físicos, químicos e vivos (biológicos). Quando o agente infeccioso é visualizado no esfregaço, o processo inflamatório é chamado de específico. Quando o agente infeccioso não é detectado no esfregaço, trata-se de uma inflamação inespecífica. Dessa forma, o diagnóstico citológico no processo inflamatório permite avaliar a intensidade da reação inflamatória, acompanhar sua evolução e muitas vezes identificar o agente causador. Como o processo inflamatório será identificado no esfregaço? Poderão ser observadas alterações no esfregaço de forma geral, como a presença de exsudato inflamatório, composto por leucócitos, além da visualização de detritos celulares, característicos de necrose celular (Figura 5). Figura 5 - Fundo de esfregaço inflamatório. Frequentes leucócitos (PMN). Fonte: Master Med (2019). Além disso, também poderão ser observadas alterações que afetem o núcleo e o citoplasma das células. Entre as alterações nucleares mais comuns, destaca-se: aumento nuclear, conhecido como cariomegalia; bi ou multinucleação; cariólise (DNA disperso), picnose (DNA concentrado) e cariorrexe (DNA fragmentado) (Figura 6). 28WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 6. Alterações nucleares. Do lado esquerdo é possível observar cariorrexe e do lado direito é possível obser- var multinucleação. Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica BVSMS (2019). Entre as alterações citoplasmáticas as mais comuns são: halos perinucleares; pseudoeosinofilia; metacromasia e apagamento de bordas citoplasmáticas (Figura 7). Figura 7 - Alterações citoplasmáticas. Do lado esquerdo é possível observar pseudoeosinofilia e do lado direito é possível observar halos perinucleares. Fonte: Pathology (2019). 1.3.1 Vaginose bacteriana (VB) A VB é uma das principais responsáveis por corrimento vaginal, possuindo altos índices em mulheres em idade fértil; é considerada uma síndrome, devido ao acúmulo de alterações, que se originam de um alto crescimento da microbiota anaeróbia obrigatória ou facultativa do meio vaginal e diminuição expressiva da quantidade de Lactobacillus sp. e Lactobacillus sp., que conferem ao meio vaginal um pH baixo, que, normalmente, alterna entre 3,8 e 4,5, o que garante uma proteção contra possível infecções microbianas. A baixa quantidade desses microrganismos causa elevação do pH vaginal, contribuindo para a instalação de microrganismos patogênicos. O microrganismo mais associado ao corrimento vaginal de mulheres possuidoras de VB é Gardnerella vaginalis, podendo também estar relacionada com a presença de Mobiluncus sp., Bacteroides sp. e Mycoplasma hominis. 29WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Esta bactéria é um bacilo imóvel, que não possui capsula e na coloração de Gram pode apresentar- se tanto como Gram positivo ou negativo, a presença dessa bactéria é caracterizada pelo aumento do pH vaginal (acima de 4,5), acompanhada de secreção densa de cor branca acinzentada, tendo um odor fétido, que lembra o cheiro de peixe podre, por conta da volatilização de aminas, como a putrescina e a cadaverina. Essa bactéria pode causar ardor ao urinar e coceira na parte de fora da vagina, mas algumas mulheres podem não apresentar os sintomas. A VB normalmente acomete mulheres na idade fértil, e em gestantes também se mostra comum. Na gestação, a presença de VB é de grande importância, uma vez que está associada a risco maior de abortamento tardio, infecção da cavidade amniótica, ruptura prematura de membranas, trabalho de parto prematuro, prematuridade e recém-nascido de baixo peso. O esfregaço é caracterizado por ausência ou escassez de Lactobacillus, a maioria dos casos não apresentam leucócitos, e as células mantem uma aparência normal, com citoplasma fino e transparente. As bactérias encontram-se como poeira entre as células e também recobrindo-as, obscurecendo a membrana e deixando os limites celulares imprecisos (Figura 8). Essas células recebem o nome de células alvo ou clue cells. Figura 8 - Vaginose bacteriana. Presença de “clue cells”, sugestivas de Gardnerella vaginallis. Fonte: Atlas de Cito- patologia Ginecológica BVSMS (2019). 1.3.2 Actinomyces sp Caracterizam-se por serem bacilos ramificados Gram positivos, e não fazem parte da microbiota normal cérvico-vaginal. Podem ser habitantes normais da cavidade oral, orofaringe e trato gastrointestinal. Normalmente não cruzam barreiras mucosas, porém, podem causar infecções ascendentes em mulheres que fazem uso do dispositivo intrauterino (DIU), uma vez que tem grandes índices de evolução para doença inflamatória pélvica (DIP). No esfregaço serão observados os bacilos em grandes agregados, que lembram um ouriço do mar, além da infiltração de grande quantidade de polimorfonucleares (PMN) (Figura 9). 30WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 9 - Actinomyces. Agregados bacterianos característicos, conhecidos como “ouriço do mar”. Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica BVSMS (2019). 1.3.3 Leptothrix sp São bacilos Gram negativos, anaeróbios, que podem fazer parte da microbiota normal da boca e também vagina e trato intestinal. Se assemelham a fios de cabelo (Figura 10), isoladamente não causam infecção significativa, mas é comum a associação com Trichomonas vaginalis e alguns fungos. Figura 10 - Leptothrix app. Bacilos longos, que se assemelham a fios de cabelo. Fonte: Pathology outlines (2019). 31WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.3.4 Fusobacterium sp Também são bacilos Gram negativos, anaeróbios, que são verificados na boca, mas podem também ser encontrados na vagina e trato gastrointestinal. São bacilos longos e finos, porém menores que Leptothrix. Dificilmente levam a um quadro infeccioso. 1.3.5 Cervicite por Chlamydia trachomatis Trata-se de uma das doenças sexualmente transmissíveis mais comuns. São bactérias que possuem a característica peculiar de serem parasitas intracelulares obrigatórios. Normalmente, a infecção ocorre por minúsculas escoriações, infectando células endocervicais e metaplásicas, sendo a JEC e a endocérvice as mais atingidas. O ciclo de desenvolvimento de C. trachomatis acontece dentro da célula, o que dificulta o acesso do sistema imunológico. Ela se apresenta em duas formas, os corpos elementares, que são menores e extracelulares e representam a forma infecciosa do microrganismo, e os corpos reticulados, que são maiores e não infecciosos. O ciclo se inicia com a ligação dos corpos elementares à célula hospedeira, seguida por entrada na célula por endocitose. Dentro das células,os corpos elementares se mantêm dentro de vacúolos citoplasmáticos, onde aumentam de tamanho e se transformam em corpos reticulares, os quais se multiplicam ativamente por fissão binária, até se transformarem novamente em corpos elementares e serem liberados da célula, através da lise, e, assim, infectarem novas células (Figura 11). Figura 11 - Ciclo de desenvolvimento de Chlamydia trachomatis. Fonte: Medicina Net (2019). No esfregaço citológico serão observadas as inclusões citoplasmáticas, onde vacúolos com inclusões eosinofílicas representam os corpos reticulares. As células infectadas podem ainda apresentar aumento nuclear e multinucleação (Figura 12). 32WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 12 - Chlamydia trachomatis. Vacúolos citoplasmáticos com inclusões eosinofílicas. Fonte: Mundo educação (2019). 1.3.6 Candidíase vulvovaginal (CVV) A CVV é caracterizada pelo crescimento anormal de leveduras no trato genital. Essas leveduras são comensais, ou seja, habitam normalmente a mucosa vaginal, e quando alguns fatores tornam o local favorável para o seu desenvolvimento essas leveduras tornam-se patogênicas. As leveduras mais relacionadas com esse quadro são do gênero Candida, em especial, Candida albicans. A infecção é caracterizada por prurido, ardor dispareunia (dor durante relação sexual) e corrimento vaginal, que normalmente é branco, espesso e inodoro. Com frequência, vulva e vagina apresentam-se edemaciadas e hiperemiadas. Esses sintomas se intensificam quando a acidez vaginal aumenta, como no período pré-menstrual, por exemplo. Como C. albicans é um fungo dimórfico, ou seja, apresenta-se na forma leveduriforme quando se encontra em estado saprofítico (colonização assintomática) e na forma filamentosa quando se encontra em estado patogênico, essas duas formas podem ser visualizadas no esfregaço citológico. Como a presença do fungo, nem sempre indica uma condição patológica, alterações inflamatórias podem ou não estar presentes (Figura 13). Mulheres grávidas e mulheres na menopausa apresentam maiores chances de apresentar algumas dessas infecções, como a CVV. Alterações metabólicas, hormonais e imunológicas favorecem a infecção por esses microrganismos considerados oportunistas. 33WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 13 - Candida spp. À esquerda observam-se formas de pseudohifas e à direita formas leveduriformes. Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica BVSMS (2019). 1.3.7. Vaginite e cervicite por Trichomonas vaginalis Trichomonas vaginalis é um protozoário exclusivamente humano, flagelado e que possui alta mobilidade. É o causador da tricomoníase, que atinge homens e mulheres, e é transmissível sexualmente, mas também pode ser transmitida através de secreções, roupas íntimas, toalhas e outros objetos contaminados. Por apresentar-se muitas vezes de forma assintomática, seus índices são bastante altos em todo o mundo. Apesar de muitas vezes ser assintomática, sua presença está associada a partos prematuros, pneumonia neonatal, doença inflamatória pélvica (DIP) e até com maior facilidade na transmissão do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV). Os sintomas da infecção incluem corrimento vaginal abundante e fétido, prurido e sinais de irritação vulvar (edema e hiperemia). Figura 14 - Trichomonas vaginalis. Há vários Trichomonas vaginalis com núcleos elípticos e fracamente corados em roxo pela hematoxilina. Há ainda células escamosas com alterações inflamatórias, como pseudoeosinofilia e halos perinucleares. Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica BVSMS (2019). 34WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.3.8 Herpes-vírus Os herpes-vírus são vírus de DNA, relativamente grandes, com capsídio e envelope. Podem ser de dois tipos, HSV-1 e HSV-2. Os herpes vírus apresentam como característica a capacidade de causar infecções líticas, persistentes ou latentes, com afinidade pelos neurônios. HSV-1 acomete principalmente lábios e face, sendo que grande parte da população mundial já entrou em contato com esse vírus até mesmo na infância, sem apresentar sintomas. Já HSV-2 acomete majoritariamente a região genital, sendo transmitido por contato sexual, quando o parceiro está infectado, e muito raramente por contato orogenital. O vírus manifesta-se na forma de vesículas (pequenas bolhas), sendo que a contaminação é grande quando essas vesículas estão presentes. A infecção pelo herpes-vírus pode ser do tipo produtiva, ou seja, quando o vírus está em alta taxa de replicação nas células epiteliais, que é normalmente a fase em que as lesões aparecem na pele. E também pode se uma infecção latente, quando o vírus migra e permanece nas terminações nervosas, sem sinais clínicos. Normalmente, os herpes-vírus intercalam entre essas duas formas de infecção. A infecção normalmente inicia com o vírus penetrando células causando uma infecção localizada, que pode passar despercebida ou produzir as vesículas. Após isso, o vírus se dissemina para outras células e para o neurônio, onde não se replica (latência). EM casos de estresse intenso, diminuição da imunidade, entre outras situações específicas, ele retorna de forma retrógrada para o local inicial da infecção, o que caracteriza a infecção produtiva. Nos esfregaços serão observadas alterações inflamatórias como: leucocitose, apagamento de bordas, halos perinucleares, entre outras. Além disso, T. vaginalis aparecem ovais ou arredondados, com núcleo excêntrico, borrado e pouco definido (Figura 14). Figura 15 - Herpes-vírus. São observadas células gigantes multinucleadas. Ainda é possível observar a marginação da cromatina do núcleo. Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica BVSMS (2019). 35WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 1.3.8 Papillomavirus humano (HPV) O HPV vem sendo estudado desde a antiguidade, mas foi em 1949 que foi detectado em verrugas humanas. O seu potencial carcinogênico foi descoberto em 1950, e em 1963 Crawford & Crawford, desvendaram sua estrutura viral. Foram realizadas diversas pesquisas por Harald zur Hausen, mas somente em 1970 foi possível caracterizar o HPV como causador dos cânceres de colo uterino. E em 1980 os HPVs 16 e 18 foram identificados graças ao rápido avanço das pesquisas. O HPV é conhecido também como condiloma acuminado, verruga genital ou crista de galo. Eles são pequenos vírus icosaédricos de DNA, não envelopados, que pertencem à família Papoviridae e ao gênero Papillomavirus, e apresentam uma biologia molecular complexa (LETO et al., 2011). No seu genoma, o HPV apresenta uma dupla hélice de DNA circular, com aproximadamente 8 mil pares de base. Apresentam uma região reguladora, LCR, que está ligada a expressão gênica e replicação viral que ocorre no núcleo da célula. Segundo Rosa et al., (2009, p. 954) a região precoce, E, codifica as proteínas envolvidas na replicação do DNA viral e transformação celular das quais se destacam E1, E2, E6 e E7. E apresenta também a região tardia, L, onde as proteínas do capsídeo são codificadas e ocorrem as etapas finais da replicação viral. Estima-se que 50% da população sexualmente ativa entre em contato com o HPV, e que 80% das mulheres terão esse contato até os 50 anos. Recentes estudos demonstram que existem mais de 200 tipos diferentes de HPV, dentre eles 100 tipos estão totalmente sequenciados e 120 tipos parcialmente sequenciados. Aproximadamente 18 tipos são considerados de alto risco oncogênico, os mais encontrados são os tipos HPV 16 e 18. Os HPV 6 e 11 são os tipos mais encontrados que causam lesões benignas e são considerados de baixo risco oncogênicos. A JEC parece ser o principal local de infecção pelo HPV, o que provavelmente se deve à constante diferenciação. O vírus penetra através de microabrasõespresentes na região e a replicação está intimamente ligada à maturação e diferenciação do epitélio escamoso, ou seja, quanto menos diferenciada e menos madura é a célula, maior a replicação viral. Além disso pode estar presente a infecção não produtiva, onde o vírus permanece em latência. Podem existir dois tipos de infecção, a clássica, onde não há integração do DNA viral ao genoma da célula e é visualizado apenas o efeito citopático do vírus (coilocitose) (Figura 16). E a infecção atípica, onde estimulado por fatores co-carcinogênicos, o DNA viral se integra ao DNA da célula hospedeira, e são, então, observadas sínteses proteicas anormais, mitoses desordenadas e perda de diferenciação. Figura 16 - Coilocitose. Células com área clara ao redor do núcleo. Podendo ter ou não bi nucleação. Fonte: Atlas de Citopatologia Ginecológica BVSMS (2019). 36WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Entre os fatores que podem favorecer a carcinogênese associada ao HPV se destacam fatores hormonais, fatores mutagênicos e imunodepressores, deficiências nutricionais (ácido fólico e vitamina C) e fatores epidemiológicos. Além disso, o tipo de HPV também é muito importante, uma vez que alguns tipos específicos são mais associados à carcinogênese como já mencionado anteriormente. As infecções pelos HPV de alto risco variam desde lesões pré-neoplásicas até carcinomas invasivos. E nesses casos, a coilocitose é bem menos evidente e existe acentuada desorganização do tecido. 2 - SISTEMA DE BETHESDA O sistema de Bethesda é um sistema consistente, reprodutível e de fácil utilização, que foi criado para melhorar a comunicação entre citopatologistas e ginecologistas, oferecer um sistema unificado de laudo e facilitar as pesquisas de caráter biológico e epidemiológico na área. Estruturalmente, ele fornece informações sobre a qualidade do esfregaço, avaliação geral do diagnóstico e o diagnóstico detalhado. Esse sistema uniformizou as formas de classificação das lesões pré-câncer e é o mais utilizado para a elaboração de laudos citológicos. O diagnóstico do HPV, atualmente, está muito associado à técnicas de biologia molecular, que identificam o material genético do vírus. Informações a respeito dessas técnicas e da associação com a citologia oncótica., podem ser visualizadas no texto de BRINGHENTI, M.E.Z. et al.: Prevenção do câncer cervical: associação da citologia oncótica a novas técnicas de biologia molecular na detecção do papillomavirus humano (HPV). Jornal brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Vol 22, nº 3, 2010, p. 135-140. Disponível em: <http://www.dst.uff. br/revista22-3-2010/Prevencao%20do%20Cancer%20Cervical.pdf>. Felizmente, hoje em dia, já existem vacinas para prevenir a infecção pelo HPV, porém os tratamentos ou métodos preventivos normalmente geram bastante resistência, especialmente nos homens. Mais informações sobre a ação da vacina nos homens são dadas no vídeo intitulado: Vacina contra HPV para homens | Drauzio Comenta #26. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=zYK7rEgH_ls&feature=youtu.be>. 37WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 3 - LESÕES PRÉ-CÂNCER E ALTERAÇÕES ASSOCIADAS Uma das alterações que são visualizadas como lesões pré-câncer é a displasia. Ela é caracterizada como uma organização anormal ou diferenciação desordenada, que apresenta queratinização prematura das células, aumento anormal do núcleo e associação com graus variados de maturação do citoplasma. A displasia pode ser classificada em leve, moderada e severa, o que é baseado na espessura do epitélio ocupado por células normais e o grau de atipia das células. Dessa forma, utiliza-se o conceito de neoplasia intraeptelial cervical (NIC), que é subdividida em três grupo segundo o potencial de invasão (NIC I, NIC II, NIC III). O sistema de Bethesda, citado anteriormente, padronizou a nomenclatura e determinou as seguintes classificações: • Lesões intraepiteliais escamosas de baixo grau (LSIL): LSIL abrange displasia leve, o que se enquadra em NIC I, e é caracterizada por lesões bem diferenciadas, que acontecem em células maduras. Apresenta células de citoplasma com contorno bem definido e abundante, isoladas, aumento nuclear maior ou igual a três vezes. É comum observar binucleação ou multinucleação, e a figura patognomônica (cuja visualização deste confirma o diagnóstico) é o coilócito (Figura 17). Geralmente 10 a 15% das LSIL progridem para câncer invasivo. Figura 17 - Lesão intraepitelial de baixo grau (LSIL). Figura patognomônica, coillócito. Fonte: Pathology outlines (2019). • Lesões intraepiteliais de alto grau (HSIL): abrange displasia moderada a severa, ou seja, NIC II e NIC III. Já é caracterizada por lesões de menor diferenciação e atingem células imaturas, como as parabasais e mataplásicas. Citologicamente são observadas variações na forma e tamanho do núcleo e contorno da membrana nuclear bastante irregular (Figura 18). O fenômeno conhecido como “fila indiana” também pode acontecer. 38WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 18 - Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL). Observa-se citoplasma escasso e mal delimitado, núcleos volumosos, com variação de tamanho, cromatina finamente granular. Fonte: Atlas de Citopatologia Gine- cológica BVSMS (2019). Células escamosas atípicas (ASC): Podem ser divididas em células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASC – US) e células escamosas atípicas que não permitem excluir uma lesão de alto grau (ASC – H). Essa classificação é utilizada quando ainda não se pode chegar ao diagnóstico de uma lesão intraepitelial, por não apresentarem alterações quantitativas ou qualitativas para tal, mas que apresentam anormalidades sugestivas de lesões (Figura 19). Figura 19 - À esquerda é possível observar ASC-US, onde uma das células exibe núcleo discretamente aumentado de volume (seta). E à direita é possível observar ASC-H, com células com discreto aumento nuclear e borda leve- mente irregular, cromatina finamente granular e às vezes parece degenerada. Fonte: Atlas de Citopatologia Gineco- lógica BVSMS (2019). 39WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 2 ENSINO A DISTÂNCIA 3.1 Critérios citológicos de malignidade Entre as alterações citológicas que podem estar presentes na malignidade, as nucleares são as mais comuns. Entre as possíveis alterações podemos citar: aumento da relação núcleo citoplasma, multinucleação, alterações nucleolares, pleomorfismo celular, vacuolização citoplasmática, etc. Além das alterações celulares propriamente ditas, alguns critérios indiretos podem ser relacionados com malignidade, como presença de hemácias, leucócitos, células endometriais (fora do período menstrual), desvio a direita (indicando maior atividade estrogênica). É importante salientar que não existe um critério de malignidade único e absoluto para ser usado para o diagnóstico de câncer. Todavia, a ocorrência simultânea de algumas dessas alterações morfológicas pode indicar significativamente a probabilidade de o câncer estar presente. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa unidade foi possível conhecer as principais modificações celulares que acontecem em decorrência de processos inflamatórios e infecciosos, uma das principais indicações da citologia cérvico-vaginal. Além disso, foi possível ver as principais lesões pré-câncer e como elas aparecem no esfregaço citológico. Identificar essas lesões prematuramente, logo no início, é fundamental para que os tratamentos ou acompanhamentos necessários sejam realizados, evitando assim a progressão dessas lesões para um câncer. Na próxima unidade, daremos início ao estudo de alguns líquidos biológicos bastante comuns na rotina laboratorial: líquido seminal e líquido cefalorraquidiano. Essas lesões pré-câncerpodem demorar muitos anos para se tornar um câncer de colo de útero. Muitas vezes as mulheres entram em contato com o vírus HPV ainda jovens (próximo dos 20 anos) e só irão desenvolver um câncer perto dos 40 ou 50 anos. O quadro clínico de um câncer é muito variável, sendo que muitas mulheres não apresentam nenhum sintoma, enquanto outras podem ter sangramento após uma relação sexual, sangramento intermitente ou secreção vaginal de odor forte. Em casos mais avançados, quando há invasão de células neoplásicas, pode haver dor abdominal associada a queixas urinárias e intestinais. 4040WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 03 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................ 42 1 - LÍQUIDO SEMINAL ............................................................................................................................................. 43 1.1APARELHO REPRODUTOR MASCULINO E ESPERMATOGÊNESE .................................................................. 43 1.2 COLETA DO SÊMEN ........................................................................................................................................... 45 1.3EXAME MACROSCÓPICO INICIAL .................................................................................................................... 46 1.3.1 LIQUEFAÇÃO .................................................................................................................................................... 46 1.3.2 VISCOSIDADE .................................................................................................................................................. 47 1.3.3 ASPECTO/COR ................................................................................................................................................ 47 1.3.4VOLUME ............................................................................................................................................................. 47 1.3.5 PH...................................................................................................................................................................... 48 LÍQUIDO SEMINAL E LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO PROF.A DRA. MARIANA APARECIDA LOPES ORTIZ ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CITOPATOLOGIA E URINÁLISE 41WWW.UNINGA.BR 1.4 AVALIAÇÃO MICROSCÓPICA ............................................................................................................................. 48 1.4.1 MOTILIDADE...................................................................................................................................................... 48 1.4.2 VITALIDADE ..................................................................................................................................................... 48 1.4.3 CONTAGEM DE ESPERMATOZOIDES ........................................................................................................... 49 1.4.3 CONTAGEM DE CÉLULAS NÃO ESPERMÁTICAS ..........................................................................................50 1.4.3.1 CONTAGEM DE CÉLULAS REDONDAS ........................................................................................................50 1.4.3.2 CONTAGEM DE HEMÁCIAS ........................................................................................................................ 50 1.5 PACIENTE VASECTOMIZADO ........................................................................................................................... 52 2 - LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO ...................................................................................................................... 52 2.1 COLETA ................................................................................................................................................................ 53 2.2 ASPECTO/COR ................................................................................................................................................... 54 2.3 AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA ........................................................................................................................ 55 2.4 AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA ................................................................................................................................. 57 2.5 AVALIAÇÃO CITOLÓGICA .................................................................................................................................. 57 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................................................. 58 42WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Nessa unidade, damos continuidade ao estudo de células, com a análise de dois líquidos biológicos, o líquido seminal, o líquido cefalorraquidiano (LCR). A análise do líquido seminal é muito utilizada, e é uma das primeiras investigações nos casos de infertilidade. É um exame de fácil realização, mas que é preciso ter muita atenção com os tempos de realização para que os resultados não sejam errôneos. A análise do LCR também deve ser realizada o mais rápido possível, uma vez que quando existe a suspeita de alguma doença neurológica, especialmente as meningites, o diagnóstico rápido é fundamental para que o tratamento ideal seja feito e as chances de sequela ou morte do paciente sejam minimizadas. Serão abordadas, então, características gerais dessas amostras biológicas e aspectos gerais dos exames laboratoriais. 43WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - LÍQUIDO SEMINAL A análise do sêmen é uma das primeiras investigações em casos de infertilidade, além de ser útil para acompanhar o estado pós vasectomia. 1.1 Aparelho reprodutor masculino e espermatogênese Para compreendermos as variáveis envolvidas na análise do sêmen, primeiramente iremos relembrar os órgãos do aparelho reprodutor masculino, suas principais funções e como acontece a espermatogênese (produção dos espermatozoides). De acordo com a função, podemos classificar os órgãos do aparelho reprodutor masculino da seguinte forma: • Órgãos de produção de espermatozoides: testículos; • Órgãos de maturação, armazenamento e condução de espermatozoides: epidídimo e canais deferentes; • Órgãos destinados à mistura dos espermatozoides com as secreções condutoras e nutritivas a fim de formar o sêmen: próstata e vesículas seminais; • Órgãos de eliminação dos espermatozoides: pênis, uretra e glândulas acessórias. A produção de espermatozoides é um processo de maturação hormônio dependente, que inicia na puberdade masculina (por volta dos 13 anos de idade) e prolonga-se por toda a vida. As células envolvidas na produção dos espermatozoides podem ser divididas em epitélio germinativo, o qual compreende as células propriamente ditas (espermatogônias, espermatócitos primários e secundários, espermátides e espermatozoides) e as células de Sertoli, que ficam ao redor das células germinativas, com a função de nutri-las, devido à grande quantidade de glicogênio. As espermatogônias são as células mais imaturas dentro do epitélio germinativo. Elas ficam localizadas próximas à lâmina basal e proliferam-se continuamente por mitose. Algumas dessas células param a multiplicação e iniciam o processo de diferenciação, dando origem então aos espermatócitos primários. Os espermatócitos primários (diploides) darão início à primeira divisão meiótica (meiose I), produzindo, então, os espermatócitos secundários, que agora são haploides. Os espermatócitos secundários sofrem a segunda divisão (meiose II), dando origem a quatro espermátides (haploides). Por fim, em um processo conhecido por espermiogênese,as espermátides se diferenciam em espermatozoides. Nessa transformação, as espermátides perdem citoplasma, ocorre, assim, a condensação do núcleo e formação do flagelo e da peça intermediária. Os espermatozoides são divididos em três partes, que incluem cabeça, corpo e cauda. A cabeça contém um núcleo haploide condensado e uma faixa bastante estreita de citoplasma, além de possuir um revestimento conhecido como acrossoma. O acrossoma contém muitas enzimas hidrolíticas, que irão auxiliar a penetração do espermatozoide no óvulo. O corpo é a parte intermediária, que dá suporte às atividades metabólicas dos espermatozoides. Ele possui mitocôndrias responsáveis pela obtenção de energia. Por fim, a cauda, ou flagelo a região responsável por impulsionar o espermatozoide nos seus movimentos. 44WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Em relação ao controle hormonal, o hormônio folículo estimulante (FSH) age nas células de Sertoli, induzindo a síntese de proteínas, e retendo a testosterona nos túbulos seminíferos. Além disso, estimula a meiose nos espermatócitos primários. Já o hormônio luteinizante (LH), interagem com as células de Leydig, facilitando a conversão do colesterol em testosterona. Os testículos das crianças permanecem inativos até a estimulação que acontece na puberdade, por volta dos 13 anos, pelos hormônios gonadotróficos da hipófise. Dessa forma, o FSH age estimulando a proliferação das espermatogônias e o LH age estimulando a secreção de testosterona pelas células de Leydig. Na Figura 1 é possível observar uma representação esquemática do processo de espermatogênese e na Figura 2 a estrutura de um espermatozoide. Figura 1 - Representação esquemática da espermatogênese. Fonte: Só Biologia (2019). 45WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 2 - Representação esquemática da estrutura de um espermatozoide. Fonte: Infoescola (2019). O sêmen não é composto apenas de espermatozoides, na verdade, os espermatozoides representam uma porcentagem muito pequena do líquido seminal. Este líquido é composto por diferentes substâncias produzidas por diferentes órgãos: • Glândulas acessórias (1%): possui ação lubrificante. Além disso, está implicada na lise do coágulo seminal. • Próstata (30%): secreção levemente ácida (pH 6,5), contendo substância essencial para a vitalidade e capacitação dos espermatozoides. Essa secreção é rica em fosfatase ácida e enzimas proteolíticas que atuam sobre a secreção das vesículas seminais, inibindo a coagulação e auxiliando a liquefação. • Epidídimo e canal deferente (9%): é a secreção que contém os espermatozoides. • Vesículas seminais (60%): secreção alcalina, rica em frutose e prostaglandinas. 1.2 Coleta do sêmen A análise do sêmen, ou espermograma, inicia com a coleta da amostra. Para que o resultado seja representativo e possa ser, então, comparado com valores de referência já estabelecidos para a normalidade, é importante que alguns critérios e recomendações sejam seguidos. A coleta, normalmente, é realizada no laboratório, a fim de limitar a exposição da amostra a variações de temperatura e principalmente controlar o tempo entre a coleta e o início da análise. O homem deve estar em abstinência sexual por no mínimo 3 e no máximo 7 dias, a fim de manter uma quantidade de espermatozoides e volume de amostra compatível com os valores de referência. Qualquer perda de amostra que possa ter acontecido durante a coleta deve ser relatada. A amostra deve ser obtida por masturbação e ejaculada dentro de um frasco (vidro ou plástico) de boca larga, limpo e estéril. Até que haja a liquefação da amostra, o recipiente é deixado em temperatura de 37oC. 46WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Todas as etapas e itens avaliados em um espermograma são comentados e explicados de forma bastante didática no vídeo: Espermograma, saiba tudo sobre esse exame. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IXkKe5AuHCw> Acesso em: 10 jan. 2019. É importante destacar que as amostras de sêmen podem conter agentes infecciosos perigosos e devem, portanto, ser tratadas como um risco biológico. Normas de biossegurança e boas práticas de laboratório são fundamentais para a segurança laboratorial. 1.3 Exame macroscópico inicial Nessa etapa do exame, serão verificados os seguintes aspectos: liquefação, viscosidade, aparência (cor), volume e pH. 1.3.1 Liquefação A análise do sêmen deve iniciar após a liquefação, o que normalmente acontece dentro de 15 minutos a temperatura ambiente, e raramente leva mais de 60 minutos. Caso a liquefação demore mais de 60 minutos, isso deve ser registrado. A análise normalmente se inicia 30 minutos após a ejaculação, caso nesse tempo não tenha acontecido a liquefação, aguarde mais 30 minutos. É importante que a análise comece em até uma hora, para evitar alterações na qualidade do sêmen. A liquefação vai acontecendo aos poucos, e alguns minutos após a ejaculação, o sêmen em temperatura ambiente pode apresentar uma aparência heterogênea, com alguns grumos e outras regiões mais líquidas, até atingir a liquefação completa. 47WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Logo após a ejaculação o sêmen adquire uma consistência semissólida, coagulado. Essa coagulação, acontece por ação de substâncias produzidas pela vesícula seminal, e segundo diversos autores tem por função proteger os espermatozoides da acidez vaginal. Dentro de alguns minutos (entre 5 e 60 normalmente), ele se liquefaz devido à ação de enzimas proteolíticas produzidas pela próstata, garantindo assim mobilidade para os espermatozoides. Amostras de sêmen que não se coagulam podem indicar disfunções vesiculares e em contrapartida, amostras que não liquefazem podem indicar disfunções prostáticas. 1.3.2 Viscosidade Após a liquefação, a viscosidade da amostra pode ser avaliada, com o auxílio de uma pipeta de plástico (Pasteur). Uma amostra normal faz com que a amostra saia da pipeta em pequenas gotas. Caso a viscosidade esteja excessiva, ocorrerá a formação de um fio com mais de 2 cm de comprimento. Alternativamente, pode ser utilizado um bastão de vidro na amostra e observado o comprimento do fio que se forma após a retirada deste. 1.3.3 Aspecto/cor Em relação à aparência, uma amostra normal de sêmen deve apresentar-se homogênea, e com coloração próxima a um cinza opalescente. A cor pode variar dependendo da quantidade de espermatozoides, sendo um pouco mais amarelada quando a quantidade for maior, e menos opaca quanto a quantidade for menor. Colorações amareladas também podem aparecer em casos de infecções, icterícia ou após o uso de alguns medicamentos; colorações avermelhadas podem estar relacionadas à presença de hemácias. 1.3.4 Volume Em relação ao volume, é considerado normal, quantidades entre 1,5 e 5,0mL. Volumes inferiores a 1,5mL, também conhecido como hipospermia, podem ser reflexo de ausência de abstinência sexual, insuficiência prostática ou vesicular ou até mesmo baixos índices séricos de testosterona. Já volumes maiores que 5mL, conhecido como hiperespermia, podem representar excesso de abstinência sexual, condições infecciosas e pode ser um dos primeiros sinais de tumores na próstata ou vesículas seminais. Pode acontecer também um fenômeno conhecido como aspermia, que seria a ausência de sêmen, que está relacionada à agenesia das glândulas vesiculares e ductos deferentes. 48WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 1.3.5 pH O pH do sêmen é um reflexo da junção do pH das diferentes secreções que o compõe. O pH normal fica em torno de 7,2 a 7,8. Valores muito básicos indicam deficiência prostática. Além disso, o contato com o ar pode fazer com que o pH aumente. Valoresde pH ácidos podem indicar deficiência vesicular. 1.4 Avaliação microscópica 1.4.1 Motilidade A motilidade dos espermatozoides deve ser avaliada o quando antes, preferencialmente aos 30 minutos, logo após a liquefação e em no máximo uma hora após a ejaculação. A motilidade é uma das principais características a serem avaliadas para a fertilidade masculina. Para essa avaliação, deve-se misturar bem a amostra e retirar uma pequena alíquota (aproximadamente 50 µL), colocar em uma lâmina limpa e cobrir com uma lamínula. A lâmina deve ser examinada em aumento de 400x, e deve se avaliar aproximadamente 200 espermatozoides e classifica-los nas seguintes categorias: • Motilidade progressiva (PR): espermatozoides que se movimentam ativamente, independente da velocidade e saem do lugar. • Motilidade não progressiva (NP): todos os espermatozoides que se movimentem, mas não saem do lugar. • Imobilidade (IM): sem movimento. Anteriormente, eram utilizadas outras categorias para a avaliação de motilidade (a=motilidade progressiva rápida; b=motilidade progressiva lenta; c=motilidade não progressiva; d=imóvel), o que ainda é adotado por alguns laboratórios. Nessa classificação, os valores aceitáveis eram de: ao menos 25% dos espermatozoides na categoria a; ou a+b igual ou superior a 50%. 1.4.2 Vitalidade A avaliação da vitalidade, ou seja, porcentagem de espermatozoides vivos e mortos pode ser utilizada em qualquer amostra, mas tem especial importância naquelas em que a quantidade de espermatozoides com motilidade progressiva seja inferior a 40%. A porcentagem de células vivas deve exceder a quantidade de células móveis, uma vez que espermatozoides imóveis não estão necessariamente mortos. A vitalidade também deve ser realizada o mais rápido possível, para evitar que o tempo e as alterações de temperatura alterem a quantidade de espermatozoides vivos. O principal método de avaliação de vitalidade é o método da eosina/nigrosina. A nigrosina é usada para aumentar o contraste entre o fundo do esfregaço e os espermatozoides. Nessa técnica, os espermatozoides com cabeça vermelha ou rosa-escuro são considerados mortos, uma vez que alterações estruturais permitiram a entrada do corante nas suas cabeças. 49WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Já espermatozoides com a cabeça branca, ou que apresentam apenas algumas manchas e o resto da cabeça não é corada são considerados vivos (Figura 3). Considera-se aceitável que ao menos 58% dos espermatozoides estejam vivos. Números muito altos de espermatozoides mortos (necrospermia) podem estar relacionados a deficiências no suprimento nutricional dos espermatozoides. Figura 3 - Espermatozoides corados pela eosina/nigrosina. Aqueles que apresentam cabeça branca são os vivos e os que apresentam cabeça rosa/vermelha são considerados mortos. Fonte: Hernandez (2013). 1.4.3 Contagem de espermatozoides A contagem de espermatozoides pode ser determinada de diferentes formas, porém uma das mais utilizadas é a contagem em câmara de Neubauer, utilizando-se amostra de sêmen diluído 1:20 ou 1:200. Utiliza-se como líquido diluidor uma solução de bicarbonato de sódio + formalina, que irá fazer com os espermatozoides fiquem fixos na lâmina, o que facilita a contagem. Devem ser contados apenas espermatozoides inteiros (com cabeça e cauda) (Figura 4). Figura 4 - Espermatozoides em lâmina para contagem. Fonte: PNCQ (2019). 50WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Considera-se normal (normozoospermia) valores de espermatozoides acima de 20 milhões/mL, (ou 15 milhões/mL por outros autores) e valores abaixo desses são considerados oligozoospermia. Quando nenhum espermatozoide é encontrado recebe o nome de azoospermia. Pequenas quantidades de espermatozoides podem estar relacionadas à varicocele, infecções, alterações hormonais, alterações cromossômicas ou até abstinência sexual insuficiente. 1.4.3 Contagem de células não espermáticas 1.4.3.1 Contagem de células redondas Quando se fala em células redondas, estão incluídas células jovens e leucócitos. Em microscopia normal sem o uso de corantes, não é possível diferenciá-los, por isso usa-se essa classificação geral (Figura 5). Caso o número de células redondas ultrapasse a normalidade pode ser realizado o esfregaço para a contagem diferencial (Figura 6). A contagem também é realizada em câmara de Neubauer, da mesma forma que os espermatozoides. Números aumentados de leucócitos podem indicar processos infecciosos ou inflamatórios, e devem ser investigados, uma vez que infecções do trato genital podem contribuir com quadros de infertilidade. São considerados valores normais Para a contagem em câmara de Neubauer, diferentes regiões da câmara e diferentes diluições da amostra podem ser utilizadas, o que influencia diretamente na forma como serão realizados os cálculos de quantidade final de espermatozoides. Por exemplo: Caso sejam utilizados os quatro grandes quadrantes laterais da câmara de Neubauer, a soma de todos os espermatozoides contados deve ser multiplicada por 2500 e pela diluição. Ou seja, caso a diluição tenha sido de 1:20 e tenham sido contados um total de 500 espermatozoides (somando os quatro quadrantes), a conta seria a seguinte: 500 x 2500 x 20 (diluição) = 25.000.000 espermatozoides/ ml. 51WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 5 - Contagem de células redondas. Fonte: PNCQ (2019). Algumas células jovens podem estar presentes normalmente no sêmen, sendo normal até 1% de espermatócitos e até 3% de espermátides. A quantidade de células jovens é proporcional à diminuição da qualidade dos espermatozoides. E o aumento dessas células é comum em varicocele, processos traumáticos, seminomas, processos infecciosos agudos e crônicos. Figura 6 - Amostra corada para diferenciação de leucócitos. Fonte: PNCQ (2019). 52WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 7 - Representação esquemática dos principais defeitos dos espermatozoides. Fonte: Wix (2019). 1.5 Paciente vasectomizado Todas as avaliações descritas anteriormente são realizadas quando a indicação do espermograma é para buscar possíveis alterações que possam atrapalhar a fertilidade. Quando a indicação do exame é para validar uma vasectomia realizada, o exame baseia-se apenas na detecção (ou não) de espermatozoides. O ideal é que sejam realizadas coletas mensais, que se iniciam dois meses após a cirurgia, e terminam apenas quando duas amostras mensais consecutivas não apresentarem espermatozoides. 2 - LÍQUIDO CEFALORRAQUIDIANO O exame do líquido cefalorraquidiano (LCR), ou líquor, é amplamente utilizado para diagnóstico de doenças neurológicas, que incluem hemorragias, neoplasias e possíveis infecções. Entre as funções do LCR no organismo humano, ele é responsável pelo aporte de nutrientes, excreção de metabólitos e proteção mecânica do Sistema Nervoso Central (SNC). Diversos fatores podem influenciar na fertilidade masculina. Deformidades anatômicas, alterações hormonais, infecções, entre outros. Maiores informações sobre assunto podem ser encontradas no texto de SANTOS, T.R.M. et al.: Considerações sobre a infertilidade masculina. Cadernos de Graduação – Ciências Biológicas e da Saúde. Aracaju. Vol.1, nº 16, 2013, p. 21-26. Disponível em: <https:// periodicos.set.edu.br/index.php/cadernobiologicas/article/view/254/280>. 53WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 2.1 Coleta A coleta do LCR só pode ser realizada por profissional especializado, e ela normalmente é realizada por função lombar (especialmente entre L3 e L4, L4 e L5 ou L5 e S1) (Figura 8). Figura 8 - Representações esquemáticas da coleta de líquido cefalorraquidiano. Fonte: Haes (2019). Para acoleta do LCR, são utilizados três frascos estéreis, sem anticoagulante, que serão encaminhados para: análises bioquímicas/sorológicas, análise citológica e análise microbiológica. Caso a coleta tenha sido realizada em apenas um frasco, primeiro deve ser retirada amostra para o exame microbiológico, em seguida para o citológico e por último para os bioquímicos/ sorológicos. As amostras de LCR devem ser encaminhadas para o laboratório o mais rápido possível após a coleta, sendo que as amostras que se destinam à citologia e à bioquímica devem ser mantidas sobre refrigeração, já a amostra que se destina à cultura microbiológica deve ser armazenada em temperatura ambiente (pois caso o número de microrganismos seja escasso, ou sejam microrganismos muito fastidiosos, o crescimento pode ser dificultado/inibido pela baixa temperatura). 54WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 2.2 Aspecto/cor O LCR normal tem aspecto límpido, transparente, comparável à água filtrada (Figura 9). Já o LCR patológico, tem aspecto que pode variar de levemente opalescente à turvo, hemorrágico e purulento. Figura 9 - Líquido cefalorraquidiano normal. Observe o aspecto límpido semelhante à água filtrada. Fonte: Biome- dicina padrão (2019). A cor normal do LCR é incolor, podendo ser amarela no recém-nascido. Em casos de hemorragia pré-existente ou acidente de punção pode apresentar coloração vermelha, também chamada de eritrocrômica. E quando existe passagem de bilirrubina do sangue para o LCR, o que pode acontecer em casos de icterícia ou hemorragia intensa, ele adquire coloração amarela, também conhecida como xantocrômica (Figura 10). 55WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 10. Cores do líquido cefalorraquidiano. A – normal/límpido; B – xantocrômico; C – Eritrocrômico. Fonte: Errante (2016). 2.3 Avaliação microbiológica A avaliação microbiológica não será muito aprofundada aqui pois ela deve ser abordada em outras disciplinas com mais detalhes. Esta consiste em realizar a bacterioscopia, onde as características morfológicas e tintoriais do possível agente etiológico serão visualizadas. Essa etapa é extremamente importante, uma vez que tem resultado rápido e pode ajudar a optar pela terapêutica mais adequada. Para a cultura, devem ser utilizados meios de cultura específicos, uma vez que a maioria das bactérias relacionadas com os casos de meningite são bastante exigentes e fastidiosas. Um dos meios mais utilizados é o ágar chocolate, que é bastante rico e favorece o crescimento das principais bactérias causadoras de meningite. Caso a suspeita seja de uma infecção seja por fungos, ou outras bactérias como Mycobacterium tuberculosis, outros meios deverão ser utilizados. Além disso, normalmente utiliza-se a incubação em tensão de 5% de CO2. Entre os principais microrganismos envolvidos nas infecções do sistema nervoso central encontram-se: Neisseria meningitides, Haemophilus influenzae, Streptococcus pneumoniae, Mycobacterium tuberculosis, Cryptococcus spp., entre outros. Nas Figuras 11, 12 e 13, é possível visualizar as características morfotintoriais das principais bactérias causadoras de meningites. É possível observar que cada um dos microrganismos tem diferentes formas e afinidades tintoriais, o que já auxilia no diagnóstico presuntivo e consequente início do tratamento com o antimicrobiano mais adequado. 56WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 11 - Neisseria meningitides – diplococos Gram negativos. Fonte: Rosenstein (2001). Figura 12 - Streptococcus pneumoniae – cocos Gram positivos. Fonte: Allposters (2019). 57WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 13 - Hemophilus influenzae – bacilos Gram negativos. Fonte: CDC (2019). 2.4 Avaliação bioquímica Uma das avaliações bioquímicas consiste na dosagem de glicose, que corresponde a dois terços da glicose sanguínea. Valores diminuídos de glicose no LCR podem indicar infecções microbianas, uma vez que ela será consumida por tais agentes. Além disso, em infecções bacterianas os valores de lactato tendem a estar aumentados, devido ao metabolismo bacteriano. A dosagem de proteínas, especialmente no início de uma meningite, se mostrará elevada (>40 mg/100mL), especialmente como uma resposta à infecção, tendendo a diminuir com o passar do tempo. Uma outra dosagem importante é a de cloretos, a qual servirá de base para avaliação do equilíbrio acidobásico. Os valores de cloretos estarão especialmente baixos em processos crônicos e na neurotuberculose. As dosagens bioquímicas no LCR são realizadas no sobrenadante, após centrifugação da amostra. 2.5 Avaliação citológica A avaliação citológica irá avaliar a presença de leucócitos, hemácias, células tumorais, leveduras e fungos. Normalmente o LCR não contem esses elementos, e após contagem global é considerado normal uma contagem de leucócitos e hemácias que não ultrapasse 5 células por mL. Caso na contagem seja visualizado excesso de leucócitos, existe a necessidade da realização de contagem diferencial, uma vez que o tipo de célula em predomínio pode direcionar qual é o tipo de infecção. Mas vale ressaltar que o diagnóstico citológico sozinho não é confirmatório, e deve ser usado em conjunto com outras avaliações. Quando existe predomínio de neutrófilos, suspeita-se de meningite bacteriana, meningoencefalite viral ou micótica inicial e tuberculosa inicial. Se o número de linfócitos estiver aumentado suspeita-se de meningite viral, tuberculosa, fúngica, sifilítica, entre outras. Se o número de eosinófilos estiver aumentado suspeita-se de parasitas, como cisticerco, algumas micoses e reações alérgicas. Já se houver predomínio de blastos (células jovens) pode sugerir uma possível infiltração de células neoplásicas devido a um linfoma ou leucemia. 58WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 3 ENSINO A DISTÂNCIA 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Nessa unidade, foi possível conhecer os principais aspectos que envolvem a análise do líquido seminal e do líquido cefalorraquidiano. Apesar de serem análises relativamente simples de serem realizadas, ambas precisam ser realizadas o quanto antes essas amostras cheguem ao laboratório. A amostra de sêmen, caso dique muito tempo exposta antes da análise pode apresentar resultados falsos, uma vez que os espermatozoides perdem mobilidade e vitalidade conforme o tempo vai passando. Já as amostras de LCR devem ser analisadas rapidamente pois a demora nos resultados pode ser determinante para que o paciente tenha o diagnóstico correto e inicie o tratamento, reduzindo as chances de sequelas graves e até de morte. As análises de LCR são mais realizadas em laboratórios que sirvam de apoio a hospitais e clínicas de emergência, devido à gravidade das doenças envolvidas. Na próxima unidade, fecharemos a disciplina com a análise de um dos principais líquidos biológicos utilizados para diagnóstico desde a antiguidade, a urina. 5959WWW.UNINGA.BR U N I D A D E 04 SUMÁRIO DA UNIDADE INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 61 1 - FUNÇÃO RENAL ................................................................................................................................................... 62 1.1 ANATOMIA RENAL .............................................................................................................................................. 62 1.2 FISIOLOGIA RENAL ............................................................................................................................................ 63 1.2.1 FLUXO SANGUÍNEO RENAL ............................................................................................................................63 1.2.2 FILTRAÇÃO GLOMERULAR ............................................................................................................................ 64 1.2.3 FUNÇÃO TUBULAR ......................................................................................................................................... 64 2 - TESTES PARA AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL .............................................................................................. 65 2.1 URINÁLISE .......................................................................................................................................................... 65 2.2 UREIA ................................................................................................................................................................. 65 URINÁLISE PROF.A DRA. MARIANA APARECIDA LOPES ORTIZ ENSINO A DISTÂNCIA DISCIPLINA: CITOPATOLOGIA E URINÁLISE 60WWW.UNINGA.BR 2.3 CREATININA ....................................................................................................................................................... 65 2.4 DEPURAÇÃO DE CREATININA .......................................................................................................................... 65 3 - URINÁLISE ......................................................................................................................................................... 66 3.1 COLETA DA AMOSTRA ........................................................................................................................................ 66 3.2 EXAME FÍSICO DA URINA ................................................................................................................................. 67 3.2.1 COR .................................................................................................................................................................... 67 3.2.2 ASPECTO.......................................................................................................................................................... 69 3.2.3 DENSIDADE .................................................................................................................................................... 69 3.4 EXAME MICROSCÓPICO .................................................................................................................................. 73 3.4.1 HEMÁCIAS ........................................................................................................................................................ 73 3.4.2 LEUCÓCITOS ................................................................................................................................................... 74 3.4.3 CÉLULAS EPITELIAIS ..................................................................................................................................... 74 3.4.4 CILINDROS ...................................................................................................................................................... 76 3.4.5 CRISTAIS ......................................................................................................................................................... 78 3.4.6 MUCO .............................................................................................................................................................. 79 3.4.7 BACTÉRIAS ...................................................................................................................................................... 79 3.4.8 OUTROS ELEMENTOS ................................................................................................................................... 79 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................................................................80 61WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA INTRODUÇÃO Para finalizar a disciplina de Citopatologia e Urinálise, nessa unidade, abordaremos um dos líquidos biológicos mais utilizados para o diagnóstico de doenças e disfunções, a urina. A urina é considerada o início da medicina laboratorial, e antigamente, muitas vezes era o único parâmetro utilizado para o diagnóstico; apresenta diversas características que a tornam uma amostra ideal, como o fato de ser de fácil obtenção, a coleta na maioria das vezes não é dolorosa ou incômoda, e nela são encontradas informações sobre diversas funções metabólicas. Sua análise é um método barato, e que pode servir para o descobrir principalmente distúrbios renais, mas também distúrbios metabólicos e hepáticos. Assim, nessa unidade, abordaremos as principais características relativas à função renal, e detalharemos a urinálise, principal exame utilizado para avaliar a função renal e de outros órgãos. 62WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 1 - FUNÇÃO RENAL Para conseguirmos entender as avaliações realizadas na urinálise, precisamos inicialmente relembrar a estrutura, função e fisiologia dos rins. De forma geral, os rins apresentam como funções: • Eliminar resíduos metabólicos e substâncias químicas: entre esses resíduos e substâncias podemos citar ureia, creatinina, ácido úrico, bilirrubina, medicamentos, toxinas, entre outros; • Reter nutrientes e substâncias que serão reutilizadas pelo organismo: proteínas, aminoácidos, água, glicose, cálcio, entre outros; • Regular o equilíbrio ácido básico e hidroeletrolítico; • Regular a pressão arterial; • Sintetizar hormônios: destacam-se eritropoetina, renina, 1,25-hidrooxicolecalciferol, prostaglandinas. 1.1 Anatomia renal Os rins são órgãos que apresentam um formato parecido com um grão de feijão e que apresentam peso aproximado de 150g em um homem adulto. Após um corte longitudinal é possível verificar duas regiões, uma camada externa (córtex) e uma camada interna (medula) (Figura 1). Figura 1 - Estrutura do rim. Fonte: Anatomia do corpo (2019). 63WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA O néfron é a unidade básica do funcionamento dos rins, sendo que cada rim apresenta aproximadamente um milhão de néfrons, os quais são os responsáveis pelos processos que envolvem a fisiologia dos rins. Cada néfron é composto pelas seguintes unidades básicas: glomérulo, túbulos contorcidos proximais (TCP), alça de Henle (AH), túbulos contorcidos distais (TCD) e tubo coletor (TC) (Figura 2). Figura 2 - Estrutura do néfron. Fonte: Info Escola (2019). No córtex são encontrados os glomérulos, os tubos contorcidos proximais e distais. Já na medula encontram-se as alças de Henle e os tubos coletores. Esses últimos drenam o líquido através das pirâmides da pelve renal para os cálices, seguida, a urina é drenada para o ureter e dos ureteres chega até a bexiga. A estrutura 1.2 Fisiologia renal O processo de formação da urina envolve quatro processos: fluxo sanguíneo renal, filtração glomerular, reabsorção tubular e secreção tubular. 1.2.1 Fluxo sanguíneo renal O sangue chega aos rins através da artéria renal, e pelas arteríolas aferentes atinge os néfrons para ser filtrado nos glomérulos. A saída do glomérulo acontece através pelas arteríolas eferentes. A variação entre o tamanho das arteríolas aferentes e eferentes é o que gera a pressão hidrostática necessária para que a filtração glomerular aconteça. Depois de sair pelas arteríolas eferentes, o sangue circula através dos capilares peritubulares e nos vasos retos, passando muito perto dos túbulos proximais e distais, o que faz com que seja possível a troca de substâncias, seja para reabsorção ou secreção. Já os vasos retos são adjacentes às alças de Henle, local de ocorrência da maioria das trocas de água e sais entre o sangue e a medula renal. 64WWW.UNINGA.BRCI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 1.2.2 Filtração glomerular A primeira etapa de filtração do sangue inicia nos glomérulos. Grosseiramente falando, os glomérulos funcionam como uma peneira, onde substâncias com peso molecular maior que 60.000 ficam retidas e as menores conseguem passar. Como dito anteriormente, a diferença de pressão entre as arteríolas aferentes e eferentes favorece a filtração glomerular. Além disso, a membrana dos glomérulos é carregada negativamente, ou seja, irá repelir moléculas que também tem carga negativa, como as proteínas. O sistema renina-angiotensina-aldosterona também contribui para a filtração glomerular. Ele é ativado quando ocorrem alterações na pressão sanguínea e nos níveis plasmáticos de sódio. Quando os níveis de sódio plasmáticos estão baixos, ocorre a redução da retenção de água, diminuindo assim o volume sanguíneo e consequentemente a pressão sanguínea. O filtrado glomerular é quase idêntico ao plasma, com a diferença de conter quantidade diminuída de proteínas. A sua composição vai mudando conforme os mecanismos de reabsorção e secreção acontecem. 1.2.3 Função tubular Os túbulos são responsáveis tanto pela reabsorção de substâncias que foram filtradas no glomérulo, ou seja, passaram pela membrana semipermeável, quanto pela secreção de substâncias que não passaram pelo filtrado. O túbulo contorcido proximal recebe o filtrado glomerular, que contém muitas substâncias essenciais ao organismo, além de metabólitos e resíduos tóxicos. Dessa forma, os TCP são responsáveis pela reabsorção de: cerca de 25% da água, sódio e cloretos filtrados; toda glicose filtrada até o limiar de reabsorção; quase todos os aminoácidos, vitaminas e proteínas; quantidades variáveis de íons diversos (cálcio, magnésio, potássio); 98 a 100% do ácido úrico. A água, ureia e cloretos são reabsorvidos de forma passiva, já as outras substâncias são reabsorvidas ativamente, ou seja, com gasto de energia. Nos TCP também são secretados íons hidrogênio, histamina e medicamentos como a penicilina. E principalmente na alça de Henle e no TC, acontecerá a regulação do equilíbrio acidobásico, com a secreção de íons hidrogênio e de água. O limiar renal é a concentração plasmática de uma substância no qual o transporte ativo para reabsorção tubular para. Dessa forma, quando a concentração de uma substância atinge níveis anormalmente altos no plasma, a capacidade de reabsorção dos túbulos é ultrapassada e essa substância aparece na urina. O limiar da glicose, por exemplo, é de 160 a 180 mg/dL, ou seja, quando as concentrações de glicose sanguínea ultrapassam esses valores, ela passa a ser eliminada na urina, podendo servir de indícios de Diabetes. 65WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 2 - TESTES PARA AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL Diversos testes podem ser utilizados para avaliação da função renal, sendo que cada um apresenta um objetivo específico. Os principais testes serão citados aqui com breves descrições, a urinálise será abordada com mais detalhes. 2.1 Urinálise É um exame de rotina, não invasivo, também conhecido como parcial de urina, ou urina I. Ele fornece diversas informações gerais a respeito do funcionamento dos rins e o trato urinário inferior. 2.2 Ureia A ureia é o principal composto nitrogenado (não proteico) encontrado no sangue. Nos rins ela é filtrada pelos glomérulos, e sobre reabsorção passiva nos túbulos (até 70%). A dosagem de ureia no sangue pode dar muitas informações a respeito do funcionamento renal, sendo que valores aumentados, chamado de azotemia, podem estar relacionados, entre outros fatores, a doenças como insuficiência renal aguda ou crônica, glomerulonefrite, ou até obstruções do trato urinário. 2.3 Creatinina A creatinina é excretada pelos rins, em velocidade constante, em valores proporcionais à massa muscular da pessoa, uma vez que ela é formada nos músculos a partir da creatina – filtrada pelos glomérulos, e normalmente não reabsorvida nos túbulos. Valores altos de creatinina no sangue estão sempre associados com uma função renal anormal, especialmente na filtração glomerular. 2.4 Depuração de creatinina A depuração, ou clearance, corresponde ao volume de plasma que é filtrado nos glomérulos por minuto, considerando que a substância é totalmente excretada e não é reabsorvida. Sendo assim, essa dosagem é utilizada para avaliar a filtração glomerular. Essa dosagem apresenta diversas vantagens, uma vez que a creatinina tem produção constante, não sofre influência da dieta, é filtrada e não reabsorvida. 66WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Uma abordagem simples a respeito da insuficiência renal e do exame de creatinina pode ser vista no vídeo: Saiba de seus rins estão doentes. Disponível em: <https:// youtu.be/jOIcaY8-Vcc>. Acesso em 10 jan. 2019. 3 - URINÁLISE 3.1 Coleta da amostra A coleta da amostra é uma das etapas mais importantes para que os resultados da urinálise sejam fieis e confiáveis. O recipiente para a coleta deve ser limpo, seco e de boca larga. Lembrando que os frascos devem ser corretamente identificados com o nome do paciente, data e hora da coleta. Para a coleta da amostra o paciente deve ser instruído que deve realizar a higienização da região genital, e desprezar o primeiro e último jato de urina, coletando o jato médio. Esse procedimento é importante, pois o primeiro jato de urina normalmente é contaminado com muitas células e algumas bactérias da microbiota. Normalmente é utilizada a coleta da primeira urina da manhã, uma vez que ela é mais concentrada e pode refletir melhor o funcionamento dos rins. Em pacientes hospitalizados ou com dificuldades para realizar a micção espontânea, podem ser utilizados cateteres que cheguem até a bexiga, passando pela uretra. Para a coleta em recém-nascidos e crianças com pouca idade, são utilizados coletores de plástico, com adesivos, que se fixam à região genital da criança. Para minimizar as chances de contaminação, o coletor, caso a criança não tenha urinado, deve ser trocado a cada trinta minutos, e realizada nova higiene local. Caso a indicação do exame seja para a coleta de urina de 24 horas, ela consiste na coleta de toda a urina eliminada nesse período, pois ela tem o intuito de analisar o volume e a concentração de determinados analitos. A urina que for sendo coletada durante o dia, deve ser mantida sob refrigeração para preservar as características da amostra. Caso a necessidade seja de uma amostra que represente exatamente o que está acontecendo na bexiga, sem que haja contaminação pelas vias urinárias, a coleta é ideal é a punção suprapúbica. Ela é colhida com através de uma agulha que atinge a bexiga, sendo uma técnica totalmente estéril. Ou seja, caso sejam visualizados microrganismos, eles realmente estavam dentro da bexiga. A amostra de urina deve ser entregue ao laboratório o mais rápido possível e deve ser analisada dentro de no máximo uma ou duas horas. Caso não seja possível analisar nesse prazo, a amostra deve ser armazenada sob refrigeração. Caso a mesma amostra de urina for ser utilizada para a cultura microbiológica, ela deve ser refrigerada até o momento do cultivo. Quando houver necessidade de uso de um conservante, ele deve ser capaz de inibir o crescimento microbiano, preservar os elementos urinários e não interferir nos testes químicos. 67WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA A urina não preservada pode apresentar diversas alterações que estão resumidos no Quadro 1. Analito Alteração Causa Cor Modificada/escurecida Oxidação ou redução de metabólitos Aspecto Turva Crescimento bacteriano e precipitação de material amorfo Odor Aumentado Multiplicação bacteriana ou metabolização da ureia para amônia pH Aumentado Metabolizaçãoda ureia para amônia por bactérias produtoras de uréase/ perda de CO2 Glicose Reduzida Glicólise e consumo bacteriano Cetonas Reduzidas Volatilização e metabolismo bacteriano Bilirrubina Reduzida Foto-oxidação Urobilinogênio Reduzido Oxidação Nitritos Aumentados Multiplicação de bactérias redutoras de nitrato Eritrócitos, leucócitos e cilindros Reduzidos Desintegração Bactérias Aumentadas Multiplicação Quadro 1 - Alterações na urina não preservada. Fonte: o autor. 3.2 Exame físico da urina O exame físico da urina inclui a determinação da cor, aspecto e gravidade específica ou densidade. 3.2.1 Cor Normalmente, a urina tem cor amarela, que acontece devido a excreção de três pigmentos, urocromo (amarelo), uroeritirina (vermelho) e urobilina (laranja). A intensidade da cor está relacionada diretamente com a concentração da amostra, quanto maior a ingestão de líquidos mais clara é a urina, quanto menor a ingestão de líquidos mais escura é a cor da urina. A coloração da urina também pode ser influenciada por substâncias ingeridas, como corantes alimentares ou medicamentos. Além disso, outras colorações diferentes do amarelo podem indicar algumas patologias. Uma descrição das principais alterações de cor pode ser visualizada no Quadro 2. 68WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Cor Causa Correlação Clínico/Laboratorial Incolor Ingestão recente de fluídos Comumente observada com amostras aleatórias Amarela pálida Poliúria ou diabetes insípidus Diabetes mellitus Amostra aleatória diluída Volume de 24 horas elevado Elevada gravidade específica e resultado positivo para glicose Consumo recente de fluídos Amarela escura Amostra concentrada Pode ser normal após exercício extenuante ou na primeira amostra da manhã Desidratação pela febre ou queimadura Âmbar/Laranja Bilirrubina Acriflavone Fenazopiridina (Pyridium) Nitrofurantoína Espuma amarela, quando agitada, e resultado positivo para bilirrubina Teste negativo para bile e possível fluorescência verde Drogas comumente usadas para infecções urinárias Pode ter espuma laranja e pigmento laranja denso que podem interferir com as leituras das tiras reagentes Amarela-verde Bilirrubina oxidada Espuma colorida na urina ácida e resultados falso-negativos para bilirrubina Verde Infecção por Pseudomonas Urocultura positiva Azul-verde Amitriptilina/Metocarbamol Medicamentos Rosa/Vermelha Eritrócitos Hemoglobina Mioglobina Porfirinas Beterraba Rifampicina Contaminação menstrual Urina turva com resultados positivos da análise química de hemoglobina e eritrócitos visíveis microscopicamente Urina límpida com resultados positivos de hemoglobina, hemólise intravascular Lesão muscular Negativo para hemoglobina Detectada sob luz ultravioleta Alimentos Medicamentos Amostra turva com eritrócitos, muco e coágulos Marrom/Preta Hemoglobina oxidada/ metemoglobina Derivados do fenol/ Argirol/Metildopa ou levodopa/Metronidazol Visto em urinas ácidas um tempo após a coleta; resultado positivo da análise química para hemoglobina Medicamentos/antissépticos Quadro 2 - Alterações de cor na urina e possíveis correlações clínico-laboratoriais. Fonte: o autor. 69WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 3.2.2 Aspecto A urina recém emitida deve apresentar-se clara e transparente. Com o passar do tempo ela começa a ficar turva, devido a presença de muco e precipitação de cristais. Em situações anormais, a urina pode estar turva devido a presença de leucócitos, bactérias, hemácia, cilindros, cristais, entre outras substâncias. No Quadro 3 é possível observar situações patológicas de turvação da urina e no Quadro 4 situações não patológicas. Eritrócitos Leucócitos Bactérias Fungos Células epiteliais não escamosas Cristais anormais Linfa Lipídeos Quadro 3 - Causas patológicas de turvação na urina. Fonte: o autor. Células epiteliais escamosas Muco Fosfatos, carbonatos e uratos amorfos Sêmen, espermatozoides Contaminação fecal Meio de contraste radiográfico Cremes vaginais Talco Quadro 4. Causas não patológicas de turvação na urina. Fonte: o autor. 3.2.3 Densidade A densidade normal da urina varia de 1,010 a 1,030 e ela indica a concentração de sólidos que estão solubilizados na urina; é um bom marcador para avaliar a concentração da urina e consequentemente o estado de hidratação do paciente. A densidade pode ser dosada através das tiras reativas (método químico – que será descrito mais a frente) ou através de um densitômetro ou refratômetro. 70WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 3 - Exame químico da urina. Fonte: MD Saúde (2019). Os parâmetros avaliados pelo exame químico serão descritos abaixo: • pH: A avaliação do pH irá mostrar a capacidade dos rins em manter a concentração dos íons hidrogênio. O pH normal da urina recém eliminada é em torno de 6,0. A determinação do pH também é útil para identificação de cristais que serão visualizados no exame microscópico do sedimento urinário, pois alguns cristais normalmente são encontrados em urina ácida e alguns em urinas alcalinas. Urinas muito ácidas podem indicar: dieta rica em proteínas e algumas frutas, Diabetes mellitus, doenças respiratórias e o uso de alguns medicamentos. Urinas alcalinas podem indicar alcalose metabólica, vômitos excessivos ou uma dieta rica em verduras. • Proteínas: As proteínas estão presentes na urina, porém em quantidades pequenas, o equivalente a 150 mg/24 horas ou 10 mg/dL. Essa pequena quantidade de proteínas que é normalmente eliminada na urina corresponde basicamente à proteína Tamm-Horsfall. Proteínas com peso menor que 60.000 daltons são filtradas pelos glomérulos, mas são quase totalmente reabsorvidas pelos túbulos. A albumina possui 67.000 daltons de peso molecular, e parte dela chega até o filtrado glomerular, sendo depois, a maior parte reabsorvida nos túbulos. Dessa forma, para que as proteínas aparecem aumentadas na urina, pode estar havendo aumento da permeabilidade da membrana do glomérulo ou diminuição da reabsorção tubular. A eliminação de quantidades aumentadas de proteínas na urina recebe o nome de proteinúria. A identificação química, normalmente se dá através da identificação de albumina na urina, uma vez que ela é a proteína que mais é eliminada na urina nesses casos. A proteinúria pode ser classificada como: ∘ Proteinúria pré-renal: a eliminação de proteínas em excesso não apresenta relação com os rins. Ela pode estar relacionada à produção excessiva de proteínas de baixo peso molecular, que passarão pelo glomérulo, como por exemplo a proteínas de Bence Jones, no mieloma múltiplo; ou devido ao aumento da pressão hidrostática, que força a passagem de substâncias pela membrana do glomérulo, o que pode estar acontecendo em pessoas com hipertensão arterial ou insuficiência cardíaca congestiva, por exemplo. 71WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA ∘ Proteinúria glomerular: decorrente de doenças glomerulares, como glomerulonefrite e síndrome nefrótica. Nesse caso, quanto maior a lesão renal, maior será a perda de proteínas. ∘ Proteinúria tubular: em doenças como pielonefrite, necrose tubular, em casos de intoxicação por metais pesados, entre outros, ocorre lesão dos túbulos, fazendo com que eles não sejam capazes de reabsorver completamente as proteínas filtradas. ∘ Proteinúria pós-renal: é o tipo de proteinúria decorrente de problemas nas vias urinárias baixas, como em infecções/inflamações de bexiga (cistite) ou uretrites. Nesses casos ocorre aumento da mobilização de proteínas devido ao exsudato inflamatório. Resultados falso-positivos podem ser observados em urinas muito alcalinas (pH acima de 9,0), contaminação da amostra com detergentes, e alcaloides em geral. Já resultados falso- negativos,estão relacionados com proteinúria de Bence-Jones, presença de outras proteínas que não sejam albumina, grande concentração de sais. • Glicose: A glicose, como já relatado é uma substância que é filtrada pelos glomérulos e é reabsorvida totalmente pelos túbulos até atingir o limiar renal. A glicosúria, que é o aparecimento de glicose na urina, acontecerá em casos onde a glicose sanguínea ultrapassa o limiar. Essa dosagem passa a ser então especialmente útil para monitorar paciente diabéticos. Além disso, a glicosúria também pode acontecer em casos de lesões renais que comprometam a reabsorção tubular, com o uso de alguns medicamentos, como os corticoides, entre outras situações. É importante ressaltar que resultados falso-positivos podem acontecer na presença de altas concentrações de vitamina C (ácido ascórbico), aspirina, corpos cetônicos, ou até quando existe falha na conservação da urina, favorecendo o consumo da glicose por bactérias. • Corpos cetônicos: São produtos do metabolismo de lipídios, e compreendem ácido acetoacético, ácido betahidroxibutírico e a acetona. A cetonúria está muito relacionada com o diabetes, onde muitas vezes existe lipólise. Também pode acontecer em inanição, dietas, após exercícios físicos intensos, entre outros. Entre as possíveis interferências, resultados falso-positivos podem aparecer com o uso de determinados medicamentos, como L-dopa e fenolftaleína; já resultados falso-negativos acontecem devido à má conservação da urina, uma vez que os corpos cetônicos são substâncias voláteis. • Bilirrubina A bilirrubina normalmente aparecerá na urina quando sua concentração plasmática ultrapassar o limiar renal, e não for mais reabsorvida. Nesse caso estamos falando de bilirrubina direta, que foi conjugada e tornou-se hidrossolúvel, sendo capaz de chegar até os rins. Esse aumento pode ser então decorrente de hepatites, colestases e cirrose. A presença de bilirrubina na urina, ou bilirrubinúria, confere à urina uma cor amarela intensa ou âmbar. Entre as interferências, resultados falso-positivos podem acontecer devido a utilização de outras substâncias coradas; já os resultados falso-negativos também são decorrentes da má conservação da urina, uma vez que a bilirrubina é fotossensível, sendo degradada com a exposição à luz. Além disso, a presença de quantidades elevadas de ácido ascórbico e bactérias que decomponham a bilirrubina também podem causar resultados falso-negativos. 72WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA • Urobilinogênio O urobilinogênio também está relacionado com a bilirrubina. Ele é um pigmento biliar formado pela ação de bactérias sobre a bilirrubina direta. Uma parte desse pigmento chega nos rins é filtrado pelos glomérulos e eliminado na urina, com concentrações próximas a 1,0 mg/ dL. Em distúrbios que aumentem a quantidade de bilirrubina, como doenças hemolíticas, entre outras, são responsáveis por aumento da eliminação de urobilinogênio. Entre as possíveis interferências, também podemos citar como falso-positivos o uso de substâncias coloridas; e falsos-negativos podem acontecer com altas concentrações de ácido ascórbico, bactérias e principalmente a má conservação, uma vez que o urobilinogênio, assim como a bilirrubina é degradado pela luz. • Sangue O sangue pode aparecer na urina de duas formas: na forma de hemácias íntegras, o que recebe o nome de hematúria ou de hemoglobina, que recebe o nome de hemoglobinúria. A hematúria pode estar relacionada com cálculos renais, glomerulonefrite, tumores, traumatismos, pielonefrite, entre outras situações, que façam com que hemácias íntegras sejam liberadas no trato urinário. Já a hemoglobinúria está relacionada com situações de lise de hemácias, seja no trato urinário ou não. A diferenciação entre a presença de hemácias íntegras ou não acontecerá no exame microscópico do sedimento urinário, que será abordado adiante. Entre as interferências, contaminação menstrual, detergente oxidantes nos frascos de coleta e peroxidases (vegetais ou microbianas) podem causar resultados falso-positivos. Níveis elevados de ácido ascórbico e infecções graves do trato urinário podem levar a resultados falso- negativos. • Nitrito A pesquisa de nitrito tem por função principal a detecção precoce de infecções do trato urinário. Diversas bactérias, especialmente as Gram negativas, tem capacidade de reduzir nitrato em nitrito. Dessa forma, resultados de nitrito positivos, podem indicar a presença de tais bactérias. Como interferências, amostras malconservadas podem apresentar resultados falso- positivos, uma vez que bactérias contaminantes da amostra podem proliferar. Já resultados falso- negativos podem acontecer quando uma infecção é causada por leveduras ou bactérias Gram positivas, os quais normalmente não transformam nitrato em nitrito. Ou em urinas com pH abaixo de 6,0, ou ainda com o consumo de grandes quantidades de ácido ascórbico. • Leucócitos A pesquisa de leucócito é extremamente útil para diagnosticar infecções e processos inflamatórios no trato urinário. Assim como a pesquisa de hemácias, os leucócitos, caso presentes, poderão ser vistos no exame microscópico do sedimento urinário. Porém, o exame químico é capaz até de identificar leucócitos que possam ter sido degradados. Resultados falso-positivos podem acontecer devido a contaminação com agentes oxidantes fortes e falso-negativos na presença de grandes quantidades de glicose e proteínas na amostra. 73WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 3.4 Exame microscópico O exame microscópico do sedimento urinário é realizado com a finalidade de detectar e identificar os elementos insolúveis que possam estar presentes na urina. Ele é realizado após a centrifugação da amostra de urina, utilizando o sedimento. 3.4.1 Hemácias As hemácias normalmente não atravessam nos néfrons íntegros, então como já dito anteriormente, elas aparecerão na urina em casos de lesões, traumatismos, infecções, entre outras situações. No exame microscópico elas aparecerão como discos incolores (Figura 4). É considerado normal o aparecimento de até 1000 hemácias/mL de urina. Figura 4 - Hemácias no exame microscópico. Elas aparecem como pequenos discos incolores, como pode ser visto nas setas. Fonte: Biomedicina Padrão (2019). A forma como as hemácias são vistas no exame microscópicos também é muito importante para o diagnóstico de diversas doenças renais. Maiores informações e detalhes sore esse assunto podem ser encontrados no texto de MEHL, L.S., GREGÓRIO, P.C., MACIEL, R.A.P.: A importância do diagnóstico de dimorfismo eritrocitário na hematúria. Anais do EVINCI-UniBrasil, Vol. 1, nº 4, p. 120-131, 2016. Disponível em: <http://portaldeperiodicos.unibrasil.com.br/index.php/ anaisevinci/article/viewFile/860/836>. 74WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 3.4.2 Leucócitos Como já descrito anteriormente, os leucócitos estarão presentes em processos inflamatórios e infecciosos. Os leucócitos aparecem no exame microscópico como células arredondadas, maiores que as hemácias, que possuem grânulos citoplasmáticos e núcleos lobulados (Figura 5). Os valores de referência podem variar entre alguns laboratórios, mas normalmente aceita-se que sejam visualizados até 7.000 ou 10.000 leucócitos/mL de urina. Figura 5 - Leucócitos no exame microscópico de sedimento urinário. Fonte: Atlas de Urinálise (2019). 3.4.3 Células epiteliais Alguns tipos de células epiteliais podem aparecer normalmente no sedimento urinário. Três tipos de células podem ser encontrados, sendo elas, epiteliais escamosas, epiteliais transicionais e células dos túbulos renais. As células epiteliais escamosas são as mais frequentes, sendo sua presença pouco significativa. São células provenientes da vagina ou uretra, e muitas vezes aparecemna urina por contaminação de uma coleta malfeita, onde não houve boa higienização prévia ou não foi desprezado o primeiro jato de urina. Elas apresentam formato retangular ou arredondado e núcleo central (Figura 6), é considerado normal o aparecimento de até 10.000 células/mL. 75WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 6 - Células epiteliais escamosas em exame de sedimento urinário. Fonte: Atlas de Urinálise (2019). As células epiteliais transicionais, também chamadas de caudadas, são originárias da pelve renal, do cálice, do ureter e da bexiga. São menores, esféricas, caudadas ou poliédricas, com núcleo central (Figura 7). Quantidades pequenas dessas células podem ser encontradas na urina em condições normais. Podem estar aumentadas em casos de cauterização ou cicatrização. Figura 7 - Células epiteliais transicionais em exame de sedimento urinário. Fonte: Aprendendo Saúde (2019). As células do epitélio renal também podem estar presentes em quantidades pequenas no sedimento urinário normal, decorrente da descamação de células velhas. Quantidades aumentadas, normalmente indicam doença renal ativa ou lesão tubular. Elas se apresentam como células arredondadas, com núcleo redondo e excêntrico (Figura 8). 76WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 8 - Células do epitélio renal em exame de sedimento urinário. Fonte: Aprendendo Saúde (2019). 3.4.4 Cilindros Os cilindros são os únicos elementos exclusivamente renais encontrados no sedimento urinário. Eles formam-se na luz do TCD, possibilitando assim, uma visão microscópica do que acontece no interior dos néfrons. Dessa forma, os cilindros tomam forma daquilo que está presente no filtrado no momento da sua formação, podendo ser hemácias, leucócitos, células, bactérias, entre outros elementos (Figuras 9 e 10). O componente básico dos cilindros é a glicoproteínas de Tamm-Horsfall, que é secretada pelas células tubulares. Algumas situações fisiológicas podem favorecer o aparecimento de cilindros no sedimento urinário, como exercícios físicos intensos, aumento da acidez urinária, entre outros, porém, de forma geral os cilindros não devem aparecer na urina. O Quadro 5 mostra os principais tipos de cilindros e as situações em que eles podem ser encontrados na urina. O Quadro 5 mostra os principais tipos de cilindros e as situações em que eles podem ser encontrados na urina. Tipo de cilindro Características Origem e significado clínico Hialinos Incolores e pouco refringentes Os mais frequentes, constituídos principalmente por proteína de Tamm-Horsfall. Elevado em exercício físico intenso, desidratação e estresse emocional. Em número elevado glomerulonefrite, pielonefrite, doença renal crônica. Hemáticos Refringentes, cor amarelo- marrom. Podem conter hemácias integras Indicam sangramento proveniente do interior do néfron. Sua presença relaciona-se principalmente com glomerulonefrite. 77WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Leucocitários Refringentes, contém grânulos e núcleos multilobulados. Significa infecção ou inflamação no interior dos néfrons. Aparecem na pielonefrite, glomerulonefrite. Epiteliais Contém células tubulares com núcleo redondo. Formados de células epiteliais tubulares sem muita matriz proteica. Em presença de lesão tubular, as células tubulares onde as fibrilas da proteína Tamm-Horsfall se prendem soltam-se com o cilindro. Pielonefrite e glomerulonefrite. Granulosos Possuem grânulos. Aparecem após estresse e exercício físico vigoroso. Nos processos patológicos, os grânulos podem representar desintegração de cilindros celulares ou leucocitários devido à estase urinária. Céreos Refringentes, com textura rígida, largo, com fendas laterais, amarelados e opacos. Indicam extrema estase urinária devido a processo tubular grave. Resultante da degeneração proteica em túbulos que permaneceram longo tempo sem funcionar. A água vai sendo reabsorvida e o cilindro transforma-se numa massa desidratada, como cera. Gorduroso Refringentes, contendo gotículas gordurosas marrom-amareladas. Formados pela agregação de gotículas lipídicas livres à matriz protéica. Encontrados juntamente com corpos adiposos ovais na síndrome nefrótica. Quadro 5 - Tipos de cilindros, características, origem e significado clínico. Fonte: o autor. Figura 9 - Cilindro hemático a direita, e cilindro leucocitário a esquerda. Fonte: Atlas de Urinálise (2019). 78WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Figura 10 - Cilindros em exame de sedimento urinário. A - Hialino; B – Hialino com gordura; C – Hialino/Gra- nular; D – Celular; E – Celular/Granular; F – Granular; G – Celular fino; H – Celular/céreo; I – Céreo. Fonte: Biomedicina Padrão (2019). 3.4.5 Cristais Os cristais são elementos bastante comuns na urina. Sua identificação é muito importante, para avaliar se representam ou não anormalidades. Eles são formados pela precipitação de sais da urina, quando submetidos a alterações de pH, temperatura ou concentração, fazendo com que não sejam mais solúveis. A determinação do pH urinário é muito importante, pois auxilia na identificação das substâncias que estão precipitadas. Entre os cristais normais de urina ácida, destacam-se: uratos, oxalato de cálcio, ácido úrico. Entre os cristais normais de urina alcalina encontram-se: fosfatos, biurato de amônio, carbonato de cálcio. Já entre os cristais anormais, podemos citar os de origem medicamentosa e os de origem metabólica (cistina, tirosina, leucina, colesterol e bilirrubina). É importante ressaltar que os cristais anormais, ou patológicos são em sua maioria cristais de urina ácida. O Quadro 6 mostra as situações em que esses cristais anormais podem estar presentes, e na Figura 11 é possível ver alguns cristais em exames microscópicos do sedimento urinário. 79WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA Cristal Correlação clínico-laboratorial Medicamentosos Sulfadiazina, sulfametoxasol, ampicilina, aspirina, contraste radiológico, etc. É importan- te que sejam identificados. Caso não seja possível, relatar a presença de substância não identificada e sugerir que seja um medicamento. Cistina Urina ácida. Indicam um defeito metabólico no transporte tubular de aminoácidos. Pa- cientes apresentam tendência para a formação de cálculos. Tirosina Quando presentes podem indicar doença hepática grave. Leucina Urina ácida. Podem indicar doenças hepáticas e defeitos do metabolismo de aminoácidos. Colesterol Sua presença pode ser indicativa de síndrome nefrótica Bilirrubina Doenças hepáticas onde o nível de bilirrubina plasmática está alto. Quadro 6 - Cristais anormais e principais correlações clínico laboratoriais. Fonte: o autor. Figura 11. Cristais na urina. Da esquerda para a direita, cristais de ácido úrico, cristal de fosfato triplo e cristal de bilirrubina. Fonte: Lacvet UFRGS (2019). 3.4.6 Muco É o material proteico produzido por células do sistema urogenital, e não é considerado clinicamente significativo. No microscópio são visualizados como estruturas filamentosas com baixo índice de refração. 3.4.7 Bactérias A urina normal não deve apresentar bactérias. A presença dessas pode indicar contaminação com material da própria microbiota, ou uma infecção. Após a visualização de bactérias, a bacterioscopia através da coloração de Gram pode ser realizada para classificar essa bactéria de acordo com as suas afinidades morfotintoriais. 3.4.8 Outros elementos Outros elementos podem ser visualizados na urina, como leveduras, parasitas, espermatozoides, e até alguns artefatos que podem ser encontrados devido condições inadequadas de coleta, como pelos, tecidos, etc. O encontro de espermatozoides em urinasde mulheres não deve ser relatado, uma vez que é algo antiético. Já em urinas masculinas, depende do procedimento padrão de cada laboratório, mas pode ser importante relatar, visto que em algumas situações pode indicar distúrbios ejaculatórios. 80WWW.UNINGA.BR CI TO PA TO LO GI A E UR IN ÁL IS E | U NI DA DE 4 ENSINO A DISTÂNCIA 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Encerramos aqui o conteúdo teórico da disciplina de Citopatologia e Urinálise, com o estudo de um dos exames mais realizados em todos os laboratórios de análises clínicas, que é a urinálise. Foi possível entender quais são as fases que compõem esse exame tão simples, mas tão rico em resultados, e que pode auxiliar no diagnóstico de diversas patologias. Os temas e assuntos abordados nessa disciplina servirão de base para outras disciplinas clínicas e principalmente para o estágio em Análises Clínicas. 81WWW.UNINGA.BR ENSINO A DISTÂNCIA REFERÊNCIAS BRINGHENTI, M. E. Z.; DOZZA, T. G.; MARTINS, T. R.; BAZZO, M. L. 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