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2024 by Editora e-Publicar Copyright © Editora e-Publicar Copyright do Texto © 2024 Os autores Copyright da Edição © 2024 Editora e-Publicar Direitos para esta edição cedidos à Editora e-Publicar pelos autores Editora Chefe Patrícia Gonçalves de Freitas Editor Roger Goulart Mello Diagramação Patrícia Gonçalves de Freitas Roger Goulart Mello Projeto gráfico e edição de arte Patrícia Gonçalves de Freitas Revisão Os Autores Open access publication by Editora e-Publicar DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS EM CIÊNCIAS EXATAS: UMA ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR E CRÍTICA, VOLUME 1. Todo o conteúdo dos capítulos desta obra, dados, informações e correções são de responsabilidade exclusiva dos autores. O download e compartilhamento da obra são permitidos desde que os créditos sejam devidamente atribuídos aos autores. É vedada a realização de alterações na obra, assim como sua utilização para fins comerciais. A Editora e-Publicar não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados nesta obra. Conselho Editorial Adilson Tadeu Basquerote Silva – Universidade Federal de Santa Catarina Alessandra Dale Giacomin Terra – Universidade Federal Fluminense Andrelize Schabo Ferreira de Assis – Universidade Federal de Rondônia Bianca Gabriely Ferreira Silva – Universidade Federal de Pernambuco Cristiana Barcelos da Silva – Universidade do Estado de Minas Gerais Cristiane Elisa Ribas Batista – Universidade Federal de Santa Catarina Daniel Ordane da Costa Vale – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Danyelle Andrade Mota – Universidade Tiradentes Dayanne Tomaz Casimiro da Silva - Universidade Federal de Pernambuco Deivid Alex dos Santos - Universidade Estadual de Londrina Diogo Luiz Lima Augusto – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Edilene Dias Santos - Universidade Federal de Campina Grande Edwaldo Costa – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Elis Regina Barbosa Angelo – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Érica de Melo Azevedo - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro Ernane Rosa Martins - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás Ezequiel Martins Ferreira – Universidade Federal de Goiás Fábio Pereira Cerdera – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Francisco Oricelio da Silva Brindeiro – Universidade Estadual do Ceará Glaucio Martins da Silva Bandeira – Universidade Federal Fluminense Helio Fernando Lobo Nogueira da Gama - Universidade Estadual De Santa Cruz Inaldo Kley do Nascimento Moraes – Universidade CEUMA Jaisa Klauss - Instituto de Ensino Superior e Formação Avançada de Vitória Jesus Rodrigues Lemos - Universidade Federal do Delta do Parnaíba João Paulo Hergesel - Pontifícia Universidade Católica de Campinas Jose Henrique de Lacerda Furtado – Instituto Federal do Rio de Janeiro Jordany Gomes da Silva – Universidade Federal de Pernambuco Jucilene Oliveira de Sousa – Universidade Estadual de Campinas Luana Lima Guimarães – Universidade Federal do Ceará Luma Mirely de Souza Brandão – Universidade Tiradentes Marcos Pereira dos Santos - Faculdade Eugênio Gomes Mateus Dias Antunes – Universidade de São Paulo Milson dos Santos Barbosa – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB Naiola Paiva de Miranda - Universidade Federal do Ceará Rafael Leal da Silva – Universidade Federal do Rio Grande do Norte Rodrigo Lema Del Rio Martins - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Willian Douglas Guilherme - Universidade Federal do Tocantins Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) D441 Desafios contemporâneos em ciências exatas: uma abordagem interdisciplinar e crítica, volume 1 / Organizadores Milson dos Santos Barbosa, Luma Mirely de Souza Brandão, Roger Goulart Mello. – Rio de Janeiro: e-Publicar, 2024. Livro em Adobe PDF ISBN 978-65-5364-286-7 1. Ciências exatas. 2. Pesquisa. 3. Inovação tecnológica. I. Barbosa, Milson dos Santos (Organizador). II. Brandão, Luma Mirely de Souza (Organizadora). III. Mello, Roger Goulart (Organizador). IV. Título. CDD 509 Elaborada por Bibliotecária Janaina Ramos – CRB-8/9166 2024 Editora e-Publicar Rio de Janeiro, Brasil contato@editorapublicar.com.br www.editorapublicar.com.br http://www.editorapublicar.com.br/ Apresentação É com grande satisfação que a Editora e-Publicar apresenta a obra intitulada “Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1”. Neste livro engajados pesquisadores contribuíram com suas pesquisas. Esta obra é composta por capítulos que abordam múltiplos temas da área. Desejamos a todos uma excelente leitura! Editora e-Publicar Sumário CAPÍTULO 1 .......................................................................................................................... 14 ESTIMATIVA DO CONSUMO DE GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO NO AQUECIMENTO DOS LEITES BOVINO, CAPRINO E BUBALINO ................................ 14 César Augusto Canciam CAPÍTULO 2 .......................................................................................................................... 24 REDE NEURAL ARTIFICIAL PARA PREDIÇÃO DE PERFIS DE CONCENTRAÇÃO NA FERMENTAÇÃO DE MEL COM ADIÇÃO DE EXTRATO DE CASCA DE JABUTICABA .................................................................................................................................................. 24 Orlando Gomes Neto Beatriz da Silva Gomes da Costa Rafael Ramos de Andrade Matheus Boeira Braga Rubens Maciel Filho Laura Plazas Tovar Anna Rafaela Cavalcante Braga Tiago Dias Martins CAPÍTULO 3 .......................................................................................................................... 42 SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE NANOFORMAS DE TiO2 PARA APLICAÇÃO FOTOCATALÍTICA ............................................................................................................... 42 Aline Joana Rolina Wohlmuth Alves dos Santos Mariana Inoue Dupinski Thaís Pires dos Santos Isadora Atrib Garcia Henrique Blank Wladimir Hernandez Flores CAPÍTULO 4 .......................................................................................................................... 62 TENDÊNCIA ESPACIAL DE NÍVEIS DE RIOS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DE ALAGOAS E PERNAMBUCO............................................................................................... 62 Cézar Daniel Ferreira de Menezes Brisa Soriano de Andrade Djane Fonseca da Silva Henrique Ravi Rocha de Carvalho Almeida Pedro Fernandes de Souza Neto Josicleda Domiciano Galvíncio Heliofábio Barros Gomes CAPÍTULO 5 .......................................................................................................................... 81 A CONSTRUÇÃO DE UM TELEGRAFO NA INTERFACE DO ENSINO DE ELETROMAGNETISMO ....................................................................................................... 81 Raila Leal Silva Givanildo Sales Silva Haroldo Reis Alves de Macêdo DOI 10.47402/ed.ep.c240211953867 DOI 10.47402/ed.ep.c240211964867 DOI 10.47402/ed.ep.c240211975867 CAPÍTULO 6 .......................................................................................................................... 93 ESTUDO DE CASO: OTIMIZAÇÃO DO PROCESSO DE FABRICAÇÃO DE TAMPAS DE ALUMÍNIO, VISANDO A REDUÇÃO DA ESPESSURA DA CHAPA .............................. 93 João Arthur Cavalcante Figueiredo Siomara Dias da Rocha CAPÍTULO 7 ........................................................................................................................ 106 IMPLANTAÇÃO DE DISPOSITIVO DE IÇAMENTO PARA BOMBONAS, TAMBORES E SACARIAS – ERGONOMIA DE PROCESSO ....................................................................106 Márcio Ferreira da Silva Siomara Dias da Rocha CAPÍTULO 8 ........................................................................................................................ 118 UM MÉTODO VOLTAMÉTRICO PARA DETERMINAÇÃO DE 1-NAFTOL USANDO ELETRODO DE PASTA DE CARBONO MODIFICADO COM FTALOCIANINA DE FERRO ................................................................................................................................... 118 Fernanda Silva Soares Flaviana Justino Rolim Severo Amanda Cecília da Silva Mário César Ugulino de Araújo Katia Messias Bichinho CAPÍTULO 9 ........................................................................................................................ 129 STARTISTIC: UM JOGO COOPERATIVO PARA O ENSINO DE ESTATÍSTICA1 ....... 129 Éric Carvalho Rocha Rafael Leal da Silva Alex Samyr Mesquita Barbosa Correio CAPÍTULO 10 ...................................................................................................................... 144 AJUSTE DE PARÂMETROS DE INTERAÇÃO DO MODELO TERMODINÂMICO NRTL PARA SISTEMAS BINÁRIO E TERNÁRIO FORMADOS POR ÁGUA, MONOETILENOGLICOL E CLORETO DE SÓDIO EM BAIXAS PRESSÕES .............. 144 Adriano Rafael Candido Silva Mario Hermes de Moura Neto Mateus Fernandes Monteiro Leonardo dos Santos Pereira Osvaldo Chiavone Filho Raffael Andrade Costa de Melo André Anderson Costa Pereira CAPÍTULO 11 ...................................................................................................................... 163 GESTÃO DE RESÍDUOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL ....................................................... 163 Ricardo Leão de Souza Siomara Dias da Rocha DOI 10.47402/ed.ep.c240211986867 DOI 10.47402/ed.ep.c240211997867 DOI 10.47402/ed.ep.c240212008867 DOI 10.47402/ed.ep.c240212019867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402120210867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402120311867 CAPÍTULO 12 ...................................................................................................................... 175 PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA PLANEJAMENTO E GESTÃO DE MANUTENÇÃO INDUSTRIAL ......................................................................................... .175 Thiago dos Santos Lima Siomara Dias da Rocha CAPÍTULO 13 ...................................................................................................................... 185 AVALIAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DA POLUIÇÃO DO AR EM MANAUS: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA ..................................................................... 185 Viviane Michele Vasconcelos Alves Siomara Dias da Rocha CAPÍTULO 14 ...................................................................................................................... 198 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA DE UM MODELO DE HIDRÓLISE ENZIMÁTICA DE BAGAÇO PRÉ-TRATADO COM PERÓXIDO DE HIDROGÊNIO ALCALINO CONSIDERANDO ALTAS CONCENTRAÇÕES DE SÓLIDOS ................. 198 Lucas Valente Carnaúba Rafael Ramos de Andrade CAPÍTULO 15 ...................................................................................................................... 215 PROJETO DE BANCO DE DADOS E ROTINA PL/SQL PARA GESTÃO HOSPITALAR E DISTRIBUIÇÃO DE VAGAS DE INTERNAÇÃO ............................................................. 215 Thiago Carvalho da Silva João Paulo Viana Raphael Navarro e Silva Haroldo José Romano Patricia Bellin Ribeiro CAPÍTULO 16 ...................................................................................................................... 230 CONCEITOS DE FÍSICA MODERNA TRABALHADOS ATRAVÉS DE EXPERIMENTO LÚDICO: ESPECTROSCÓPIO CASEIRO .......................................................................... 230 Eva da Silva Barbosa Aricelma Costa Ibiapina Isaias Pereira Coelho CAPÍTULO 17 ...................................................................................................................... 244 CÁLCULO DE LIMITES NA JANELA CAS DO GEOGEBRA ......................................... 244 Fabiana Tristão de Santana CAPÍTULO 18 ...................................................................................................................... 252 AVALIAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS DE PLATAFORMAS ROBÓTICAS ............. 252 Glaúcio Ferreira Loureiro DOI 10.47402/ed.ep.c2402120412867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402120513867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402120816867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402120917867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402121018867 CAPÍTULO 19 ...................................................................................................................... 272 A UTILIZAÇÃO DO JOGO “QUAL É A FUNÇÃO?” NO APRENDIZADO DE FUNÇÕES AFINS E QUADRÁTICAS ATRAVÉS DA ENGENHARIA DIDÁTICA ......................... 272 Gustavo de Lima Silva Juan Carlo da Cruz Silva CAPÍTULO 20 ...................................................................................................................... 290 ENSAIOS NÃO DESTRUTIVOS E ANÁLISE DE DESEMPENHO DE EDIFICAÇÕES: A DISCIPLINA DE FÍSICA NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES ...................................................................................................................... 290 Luiz Henrique de Souza Santos Luiz Henrique Pereira Chrispim Leandro Oliveira da Luz Margareth Santoro Baptista de Oliveira CAPÍTULO 21 ...................................................................................................................... 302 EXPERIMENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA: UMA PROPOSTA DE NIVELAMENTO NO ENSINO MÉDIO .................................................. 302 Jennyfer Caroline Rocha dos Santos Thayse Maria de Souza Batista Lidiane Silva de Araújo Verônica de Melo Andrade Leandro Soares Malaquias Alison Silva Oliveira Ladjane Pereira da Silva Rufino de Freitas CAPÍTULO 22 ...................................................................................................................... 317 ROTINA PL/SQL E DATABASE PARA DISTRIBUIÇÃO DE VOUCHERS PARA BRASILEIROS NA GUERRA DA UCRÂNIA .................................................................... 317 Thiago Carvalho da Silva Richard Thiago Godoi Micheli Pereira da Silva Kaique César de Paula Silva Patricia Bellin Ribeiro CAPÍTULO 23 ...................................................................................................................... 329 BIOENERGIA: A PRODUÇÃO DE ETANOL DE MILHO EM GOIÁS ........................... 329 Lorena Oliveira Lima CAPÍTULO 24 ...................................................................................................................... 337 INTEROPERABILIDADE DE DADOS DE SAÚDE: ESTUDO SOBRE ADAPTABILIDADE ENTRE O PADRÃO OPENEHR E OS PRINCÍPIOS FAIR ............ 337 Samyr Santos Delfino Marckson Roberto Ferreira de Sousa DOI 10.47402/ed.ep.c2402121119867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402121220867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402121321867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402121523867 DOI 10.47402/ed.ep.c2402121624867 CAPÍTULO 25 ......................................................................................................................350 ESTUDO GEMOLÓGICO DAS ESMERALDAS DO VALE DO PANJSHIR, AFEGANISTÃO ....................................................................................................................350 Gabriela Sampaio Luchsinger João Pedro Brito Lima Daniela Teixeira Carvalho Newman José Albino Newman Fernández CAPÍTULO 26 .......................................................................................................................371 CARACTERIZAÇÃO GEMÓLOGICA DA GRANDIDIERITA, PROVENIENTE DO SRI LANKA ...................................................................................................................................371 Lívia Carolline Silva Lopes Daniela Teixeira Carvalho de Newman José Albino Newman Fernández Ana Paula Maria de Assis CAPÍTULO 27 ......................................................................................................................387CONSERVAÇÃO E RESTAURO DE ROCHAS ORNAMENTAIS UTILIZADAS NO PATRIMÔNIO PÉTREO: O CASO DO MÁRMORE CARRARA NO CONJUNTO ARQUITETÔNICO DA ESCADARIA BÁRBARA LINDEMBERG..................................387 Paloma Barcelos Teixeira Daniela Teixeira Carvalho de Newman José Albino Newman Fernández CAPÍTULO 28 ......................................................................................................................407 CARACTERIZAÇÃO GEMOLÓGICA PRELIMINAR DA ESMERALDA DE CANTAGALO, MG ...............................................................................................................407 Magda Jurdi Santos Pereira Daniela Teixeira Carvalho Newman José Albino Newman Fernández Ana Paula Maria de Assis CAPÍTULO 29 .......................................................................................................................428 ESTUDO GEMOLÓGICO DAS INCLUSÕES PRESENTES NO BERILO PROVENIENTE DO PEGMATITO ALTO VÁRZEA ALEGRE, ITARANA, ES...........................................428 James Bolivar Gomes Jamilson José Guerra Daniela Teixeira Carvalho Newman José Albino Newman Fernández Ana Paula Maria de Assis CAPÍTULO 30 .......................................................................................................................444 UTILIZAÇÃO DE SELOS E ALGUNS DISPOSITIVOS DE SEGURANÇA PARA LABORATÓRIOS GEMOLÓGICOS, COM APLICABILIDADE NO BRASIL ................444 Gleidison de Jesus Silva Alves Rosângela da Silva Soares Ana Paula Maria de Assis José Albino Newman Fernández Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 14 CAPÍTULO 1 ESTIMATIVA DO CONSUMO DE GÁS LIQUEFEITO DE PETRÓLEO NO AQUECIMENTO DOS LEITES BOVINO, CAPRINO E BUBALINO César Augusto Canciam RESUMO Este trabalho realizou uma modelagem estimando o consumo de gás liquefeito de petróleo (GLP) no aquecimento de alimentos. Para tanto, foram considerados três modelos matemáticos empíricos do calor específico do alimento. A partir da modelagem desenvolvida, foram realizadas cinco simulações, considerando como alimentos: leite de vaca integral, leite de vaca desnatado, leite de cabra integral, leite de cabra desnatado e leite de búfala integral. Os resultados em cada simulação encontram-se próximos, sugerindo que pode ser aplicado qualquer um dos três modelos matemáticos empíricos do calor específico na estimativa do consumo de GLP no aquecimento. PALAVRAS-CHAVE: Aquecimento; GLP; Consumo; Modelagem. 1 INTRODUÇÃO A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) considera como gás liquefeito de petróleo (GLP) as misturas de hidrocarbonetos gasosos contendo de três a quatro átomos de carbono em suas moléculas que podem ser liquefeitos por resfriamento e/ou compressão. Dessa forma, o GLP pode ser classificado em: mistura propano comercial (GLP I), mistura butano comercial (GLP II), mistura propano/butano (GLP III) e mistura propano especial (GLP IV) (PETROBRÁS, 2022). O “gás de cozinha” ou “gás de botijão” é o produto que a ANP classifica como mistura propano/butano (GLP III). Esta mistura de hidrocarbonetos contém em maior proporção propano e/ou propeno e butano e/ou buteno, sendo os percentuais variáveis. O GLP é incolor e, desde que apresente um baixo teor de enxofre, é considerado inodoro. Neste caso, uma pequena quantidade de etilmercaptana (em geral) é adicionada ao GLP a fim de lhe conferir um odor facilmente identificável no caso de uma situação de vazamento (PETROBRÁS, 2022). No ano de 2020, de acordo com o Balanço Energético Nacional, 78,6 % do GLP demandado no Brasil foi empregado no setor residencial. O principal uso do GLP está associado à cocção de alimentos, podendo ser também empregado no aquecimento residencial de água e como combustível em aparelhos domésticos diversos (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2022). Muitos domicílios brasileiros que utilizam o GLP provavelmente também são atendidos por outras fontes energéticas mais baratas em relação ao GLP ou sem custo para os usuários, http://lattes.cnpq.br/9504673237113795 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 15 como por exemplo, lenha e carvão vegetal. Estas residências provavelmente são de famílias de renda mais baixa, em especial de áreas rurais ou de zonas periféricas mais empobrecidas das cidades, que cozinham com GLP e, à medida que o orçamento familiar diminui, empregam a lenha como solução energética para a cocção de alimentos. Por outro lado, a escolha da fonte energética pode também ser uma questão mais cultural do que econômica. Por exemplo, em um mesmo domicílio da área rural, o GLP pode ser utilizado para assar alimentos que demandam maior controle de temperatura (como, por exemplo, bolos) e os fogões a lenha para cozinhar alimentos com maior tempo de cozimento (como, por exemplo, feijões) (EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, 2022). Segundo Souza (2023), o consumo residencial de GLP no ano de 2022 atingiu a pior marca dos últimos dez anos, em virtude do preço, impulsionando o uso da lenha como fonte energética. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (2022), o uso do GLP corresponde a uma solução energética limpa, eficiente, disponível, de fácil acesso e que melhora em muito as condições de saúde de seus usuários. A formação de fumaça, fuligem e materiais particulados, além dos gases monóxido de carbono, metano, óxidos nitrogenados e óxidos sulfúricos emitidos na queima das biomassas tradicionais (lenha e carvão vegetal, principalmente), podem causar graves doenças respiratórias. Outra questão associada, a procura por lenha em áreas de matas e de florestas próximas aos domicílios, principalmente pelas famílias de menor renda, contribui para o aumento do desmatamento, erosão dos solos e assoreamento de rios, entre outras consequências prejudiciais ao meio ambiente. Dessa forma, os objetivos deste trabalho foram modelar matematicamente o consumo de GLP no aquecimento de alimentos e simular os aquecimentos de 1 kg de leite de vaca integral, 1 kg de leite de vaca desnatado, 1 kg de leite de cabra integral, 1 kg de leite de cabra desnatado e 1 kg de leite de búfala integral, de 10 para 90 º C. Na modelagem matemática desenvolvida, foram adotados parâmetros como a composição de cada leite e o poder calorífico inferior médio do GLP. 2 MATERIAIS E MÉTODOS No aquecimento de um alimento, sem que haja mudança de estado físico, à pressão constante; um sistema sem energia cinética e sem energia potencial, considerando também que não houve perda de energia para o ambiente e que o sistema se encontra em regime permanente, a equação do balanço de energia é escrita na forma de (SINGH; HELDMAN, 1998): Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 16 (1) f i T pT H Q m C dT∆ = = ⋅ ⋅∫ Isto é, a variação da entalpia de um alimento ( H∆ ) é igual ao calor necessário para o seu aquecimento ( Q ), considerando a massa do alimento ( m ), o seu calor específico ( pC ) e a variação da temperatura (T ), na forma derivada. As temperaturas inicial e final correspondem, respectivamente, a iT e a fT . Na Equação (1), a unidade da massa do alimento é kg. O calor específico de um alimento tem sido modelado por equações empíricas em função da composição do alimento ou em função da composição do alimento e da temperatura (RAO; RIZVI, 1994). No modelo matemático empírico proposto por Dickerson, o calor específico está em função da composição do alimento em termos das massas de carboidratos ( cm ), proteínas ( pm lipídios ( ml ), minerais ( am ) e água ( wm ), conforme a Equação (2) (SINGH; HELDMAN, 1998). Na Equação (2), a unidade das massas de carboidratos, proteínas, lipídios, minerais e água é kg. (2) ( ) ( )( ) ( ) ( )1,424 1,549 1,675 0,837 4,187p c p l a wC m m m m m= ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅ No modelo matemático empírico desenvolvido por Fernandez-Martin e Montes, o calor específico de um alimento está em função da temperatura (em º C) e o do teor de água deste alimento ( wX ), conforme a Equação (3) (RAO; RIZVI, 1994). (3) ( ) ( ){ } ( )1,370 0,0113 1 4,190p w wC T X X= + ⋅ ⋅ − + ⋅ ⋅ No modelo matemático empírico desenvolvido por Choi e Okos, uma equação empírica do calor específico é proposta para os componentes do alimento em função da temperatura. Dessa forma, as Equações (4), (5), (6), (7) e (8) correspondem, respectivamente, às equações empíricas do calor específico dos componentes proteínas ( ppC ), carboidratos ( pcC ), lipídios ( plC ), minerais ( paC ) e água ( pwC ) (IRUDAYARAJ, 2001). (4) ( ) ( )3 6 21,9842 1,4733 10 4,8008 10ppC T T− −= + ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ (5) ( ) ( )3 6 21,54884 1,9625 10 5,9399 10pcC T T− −= + ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ (6) ( ) ( )3 6 21,9842 1,4733 10 4,8008 10plC T T− −= + ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ ), Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 17 (7) ( ) ( )3 6 21,0926 1,8898 10 3,6817 10paC T T− −= + ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ (8) ( ) ( )5 6 24,1762 9,0864 10 5,4731 10pwC T T− −= − ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ Assim, o calor específico de um alimento, considerando o modelo matemático empírico proposto por Choi e Okos, é determinado pela Equação (9) (IRUDAYARAJ, 2001). (9) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )p p pp c pc l pl a pa w pwC m C m C m C m C m C= ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅ A unidade do calor específico nas Equações (2), (3) e (9) é kJ/kg °C (RAO; RIZVI, 1994; SINGH; HELDMAN, 1998; IRUDAYARAJ, 2001). Na Equação (9), a unidade das massas de proteínas, carboidratos, lipídios, minerais e água é kg. O poder calorífico inferior de um combustível ( PCI ) corresponde à razão entre o calor liberado pela queima completa e utilizado para a evaporação da água formada pela combustão do hidrogênio e a massa do combustível queimado (BRASIL, 2004). Assim, o poder calorífico inferior não considera o calor proveniente da condensação do vapor d’água. Como na grande maioria dos processos térmicos, o vapor d’água gerado pela combustão do hidrogênio não condensa, mantendo-se no estado superaquecido; o uso do poder calorífico inferior nos cálculos de conversão energética torna-se mais próximo da situação real (COSTA, 2016). Dessa forma, a massa de um combustível utilizado no aquecimento de um alimento, em kg, pode ser obtida por meio da Equação (10). (10) ( ) ( ) f i T pT comb c t m C dT m PCIη η ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ∫ Em que combm corresponde à massa de um combustível, cη corresponde à eficiência da combustão e tη , à eficiência térmica. Segundo Nogueira e Trosseros (2004), a eficiência da combustão de combustíveis de origem fóssil é de 98 %. Enquanto que, a eficiência térmica é de 85 %. No Brasil, as referências oficiais consideram o poder calorífico inferior médio do GLP equivalente a 11100 kcal/kg (COSTA, 2016). Como 1 cal equivale a 4,1868 J (BRASIL, 2004), o poder calorífico inferior médio do GLP corresponde a 46,4735 kJ/g. Dessa forma, com base na Equação (10), a massa de GLP utilizada no aquecimento de um alimento ( GLPm ), em g, é dada por: Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 18 (11) ( ) 38,7124 f i T pT GLP m C dT m ⋅ ⋅ = ∫ Assim, considerando os modelos matemáticos empíricos propostos para o calor específico do alimento, a Equação (11) pode ser escrita na forma de: a) Para o modelo matemático empírico proposto por Dickerson: (12) 1. 38,7124GLP m A Xm ⋅ = Em que: (14) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )1,424 1,549 1,675 0,837 4,187c p l a wA m m m m m= ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅ + ⋅ (13) ( )1 f iX T T= − b) Para o modelo matemático empírico proposto por Fernandez-Martin e Montes: (15) ( ) ( )1 2 38,7124GLP m B X C X m ⋅ ⋅ + ⋅ = Em que: (16) ( )1,370 2,820 wB X= + ⋅ (17) ( )0,00565 1 wC X= ⋅ − (18) ( )2 2 2 f iX T T= − c) Para o modelo matemático empírico proposto por Choi e Okos: (19) ( ) ( ) ( ){ }1 2 3 38,7124GLP m D E X F G X H I X m ⋅ + ⋅ + + ⋅ + + ⋅ = Em que: (20) ( )1,9842 p lD m m= ⋅ + (21) ( ) ( ) ( )1,54884 1,0926 4,1762c a wE m m m= ⋅ + ⋅ + ⋅ (22) ( )47,3665 10 p lF m m−= ⋅ ⋅ + Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 19 (23) ( ) ( ) ( )4 4 59,8125 10 9,4480 10 4,5432 10c a wG m m m− − −= ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ (24) ( )61,6002 10 p lH m m−= ⋅ ⋅ + (25) ( ) ( ) ( )6 6 61,9799 10 1,2272 10 1,8242 10c a wI m m m− − −= ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ (26) ( )3 3 3 f iX T T= − A composição dos leites de vaca integral, vaca desnatado, cabra integral, cabra desnatado e búfala integral está indicada na Tabela 1. Tabela 1: Composição dos leites estudados (em 1 kg de produto). Componente Leite de vaca integral Leite de vaca desnatado Leite de cabra integral Leite de cabra desnatado Leite de búfala integral Água (kg) 0,8720 0,9060 0,8790 0,8790 0,8310 Carboidratos (kg) 0,0592 0,0514 0,0352 0,0455 0,0531 Proteínas (kg) 0,0293 0,0312 0,0333 0,0312 0,0382 Lipídeos (kg) 0,0323 0,0040 0,0442 0,0360 0,0702 Minerais (kg) (calculado por diferença) 0,0072 0,0074 0,0083 0,0083 0,0075 Fonte: Adaptado de Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (2023a, 2023b, 2023c, 2023d, 2023e). Nas simulações, foram considerados os aquecimentos de 1 kg de cada tipo de leite, de 10 para 90 º C, sem que haja mudança de estado físico nos leites nem a degradação térmica de nenhum dos componentes dos leites. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores obtidos para a massa de GLP utilizada nos aquecimentos de 1 kg de cada tipo leite estudado, de 10 para 90 º C, estão indicados na Tabela 2. Pode-se observar na Tabela 2, que o maior consumo de GLP foi no aquecimento do leite de vaca desnatado. Enquanto, que o menor, no aquecimento do leite de búfala integral. Tanto o maior quanto o menor consumo de GLP ocorreram nos três modelos matemáticos estudados. Na Tabela 1, o leite de vaca desnatado apresentou a maior quantidade de água, enquanto o leite de búfala integral, a menor quantidade de água, dentre os leites estudados. Assim, é de se considerar que existe uma relação direta do consumo de GLP no aquecimento de alimentos com a massa de água presente no alimento, ou seja, quanto maior a massa de água presente no alimento, maior é a massa de GLP utilizada em seu aquecimento. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 20 Tabela 2: Valores da massa de GLP utilizada no aquecimento (em g) segundo cada modelo matemático do calor específico do alimento. Modelo matemático do calor específico do alimento Leite de vaca integral Leite de vaca desnatado Leite de cabra integralLeite de cabra desnatado Leite de búfala integral Dickerson 7,9373 8,1170 7,9831 7,9783 7,7248 Fernandez-Martin e Montes 8,0622 8,2207 8,0949 8,0949 7,8712 Choi e Okos 7,9728 8,1253 8,0211 8,0124 7,8009 Fonte: Autoria própria (2023). Os valores das medidas de tendência central (média, mediana e moda) dos valores indicados na Tabela 2 estão relacionados na Tabela 3. Enquanto que os valores das medidas de dispersão (amplitude, variância, desvio-padrão e coeficiente de variação) estão relacionados na Tabela 4. Tabela 3: Medidas de tendência central para o conjunto de valores relacionados na Tabela 2. Medida de tendência central Leite de vaca integral Leite de vaca desnatado Leite de cabra integral Leite de cabra desnatado Leite de búfala integral Média (g) 7,9908 8,1543 8,0330 8,0285 7,7990 Mediana (g) 7,9728 8,1253 8,0211 8,0124 7,8009 Moda (g) Não existe Não existe Não existe Não existe Não existe Fonte: Autoria própria (2023). Tabela 4: Medidas de dispersão para o conjunto de valores relacionados na Tabela 3. Medida de dispersão Leite de vaca integral Leite de vaca desnatado Leite de cabra integral Leite de cabra desnatado Leite de búfala integral Amplitude (g) 0,1249 0,1037 0,1118 0,1166 0,1464 Variância (g2) 2,7614.10-3 2,2137.10-3 2,1544.10-3 2,3961.10-3 3,5740.10-3 Desvio-padrão (g) 5,2549.10-2 4,7050.10-2 4,6416.10-2 4,8950.10-2 5,9783.10-2 Coeficiente de variação (%) 0,6576 0,5770 0,5778 0,6097 0,7666 Fonte: Autoria própria (2023). No conjunto de dados da massa de GLP utilizada no aquecimento (Tabela 2) não se observa nenhum valor que apareça com maior frequência e por isso, não existe a moda. Com relação às medidas de dispersão (Tabela 4), pode-se observar que as amplitudes são pequenas, ou seja, as dispersões totais no conjunto de dados são pequenas. As variâncias, que indicam o grau de concentração em torno da média (quanto maior a variância, menor é o grau de concentração em torno da média), observa-se um maior grau de concentração em torno das médias, pois as variâncias são pequenas. Da mesma forma que as variâncias, os desvios- padrões indicam a aproximação dos valores com a sua média (quanto menor o desvio-padrão, mais os valores da variável se aproximam de sua média). Dessa forma, os desvios-padrões são pequenos, indicando que as distribuições de frequência das variáveis são menos abertas. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 21 Segundo Triola (2008), a partir do coeficiente de variação pode-se avaliar a homogeneidade do conjunto de dados e consequentemente, se a média é uma boa medida para representar estes dados. Assim, para o conjunto de dados relacionados na Tabela 2, os coeficientes de variação são pequenos (menores que 1 %), indicando homogeneidade no conjunto de dados. No Brasil, as opções de embalagens do GLP correspondem a recipientes com capacidades de 2, 7, 8, 13, 20 e 45 kg. A embalagem mais conhecida é o chamado P13, que é o botijão de 13 kg, utilizado principalmente na cocção de alimentos (GASTALDONI, 2009). Assim, considerando um botijão de 13 kg, na Tabela 5 está relacionado o número de vezes em que se pode aquecer 1 kg de cada leite estudado, de 10 para 90 º C. Neste caso, a base de cálculo foram as médias das massas de GLP utilizadas no aquecimento indicadas na Tabela 3. Na Tabela 5, não foram consideradas as casas decimais, após a vírgula. Tabela 5: Número de vezes em que se é possível aquecer 1 kg de cada leite estudado, considerando um botijão de 13 kg. Leites Número de vezes Vaca integral 1626 Vaca desnatado 1594 Cabra integral 1618 Cabra desnatado 1619 Búfala integral 1666 Fonte: Autoria própria (2023). A partir da Tabela 5, é possível verificar que existe uma diferença significativa no número de vezes em que se aquece o leite de búfala integral (1666) em relação ao aquecimento do leite de vaca desnatado (1594), ou seja, são 72 vezes a mais. Já comparando os leites de vaca integral (1626) e desnatado (1594), esta diferença cai para 32 vezes. Comparando os leites de vaca integral (1626) e cabra integral (1618), esta diferença corresponde a 8 vezes. Comparando os leites de búfala integral (1666) e cabra integral (1618), esta diferença é de 48 vezes. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da aplicação de um balanço de energia em um sistema de aquecimento de um alimento foi possível modelar matematicamente o consumo de GLP, com base no conhecimento do poder calorífico inferior médio do GLP e nos modelos matemáticos empíricos de Dickerson, Fernandez-Martin e Montes e Choi e Okos para o calor específico do alimento. A aplicação da estatística descritiva na análise dos valores obtidos nas simulações dos aquecimentos de 1 kg dos leites estudados permitiu verificar que as médias do conjunto de Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 22 dados sobre a massa de GLP utilizada no aquecimento são boas medidas para representar esses dados, pois as variâncias, os desvios-padrões e os coeficientes de variação são pequenos. Os resultados sugerem que existe uma relação direta do consumo de GLP no aquecimento de alimentos com a massa de água presente no alimento, ou seja, quanto maior a massa de água presente no alimento, maior é a massa de GLP utilizada em seu aquecimento. REFERÊNCIAS BRASIL, N. Í. do. Introdução à Engenharia Química. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2004. EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA. Estudos prospectivos sobre oferta, demanda, investimentos e o abastecimento de GLP no Brasil. 2022. Disponível em: https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados- abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-702/NT-EPE-DPG-DEA-2022- 01_Investimentos%20GLP%20e%20Outros%20Usos.pdf. Acessado em: Out. 2023. COSTA, F. C. Algoritmo de conversão para GLP. 2016. Disponível em: https://www.gasescombustiveis.com.br/premioglp/wp- content/uploads/ALGORITMO_DE_CONVERSAO_PARA_GLP.pdf. Acessado em: Out. 2023. GASTALDONI, R. F. O mercado de Gás Liquefeito de Petróleo após a entrada do Gás Natural importado e sua tendência futura. 2009. 51f. Trabalho de Conclusão de Curso, Bacharelado em Ciências Econômicas, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/5167/1/ RFGastaldoni.pdf. Acessado em: Out. 2023. IRUDAYARAJ, J. M. Food Processing Operations Modeling: design and analysis. New York: Marcel Dekker Inc., 2001. NOGUEIRA, L. A. H.; TROSSEROS, M. A. Carbon sequestration and substitution by wood energy. Biomassa e Energia, v. 1, n. 2, 2004. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/272831207_Carbon_sequestration_and_substitution _by_wood_energy. Acessado em: Out. 2023. PETROBRÁS. Gás Liquefeito de Petróleo Informações Técnicas. 2022. Disponível em: https://www.petrobras.com.br/documents/2677942/3190768/Manual%20de%20GLP_%20fev ereiro%202022.pdf/6a6b8ff4-cd1c-3fbc-9359- 6208a2c63e84?version=1.0&t=1691773216000&download=true. Acessado em: Out. 2023. RAO, M. A.; RIZVI, S. S. H. Engineering Properties of Foods. New York: Marcel Dekker Inc., 1994. SINGH, R. P.; HELDMAN, D. R. Introducción a la Ingeniería de los Alimentos. Zaragoza: Editoria Acribia, 1998. https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/5167/1/RFGastaldoni.pdf https://www.researchgate.net/publication/272831207_Carbon_sequestration_and_substitution_by_wood_energy https://www.researchgate.net/publication/272831207_Carbon_sequestration_and_substitution_by_wood_energy Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 23 SOUZA, K. Pobreza energética: por que a queda no consumo de GLP no país importa. Exame, 2023. Disponível em: https://exame.com/examein/pobreza-energetica-por-que-a-queda- noconsumo-de-glp-no-pais-importa.Acessado em: Abr. 2023. TABELA BRASILEIRA DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS. Composição de Alimentos (Em Medidas Caseiras). Disponível em: https://www.tbca.net.br/base- dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0043G. Acessado em: Out. 2023a. TABELA BRASILEIRA DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS. Composição de Alimentos (Em Medidas Caseiras). Disponível em: https://www.tbca.net.br/base- dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0036G. Acessado em: Out. 2023b. TABELA BRASILEIRA DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS. Composição de Alimentos (Em Medidas Caseiras). Disponível em: https://www.tbca.net.br/base- dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0028G. Acessado em: Out. 2023c. TABELA BRASILEIRA DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS. Composição de Alimentos (Em Medidas Caseiras). Disponível em: https://www.tbca.net.br/base- dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0029G. Acessado em: Out. 2023d. TABELA BRASILEIRA DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS. Composição de Alimentos (Em Medidas Caseiras). Disponível em: https://www.tbca.net.br/base- dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0027G. Acessado em: Out. 2023e. TRIOLA, M. F. Introdução à Estatística. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2008. https://exame.com/examein/pobreza-energetica-por-que-a-queda-noconsumo-de-glp-no-pais-importa https://exame.com/examein/pobreza-energetica-por-que-a-queda-noconsumo-de-glp-no-pais-importa https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0043G https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0043G https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0036G https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0036G https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0028G https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0028G https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0029G https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0029G https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0027G https://www.tbca.net.br/base-dados/int_composicao_alimentos.php?cod_produto=BRC0027G Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 24 CAPÍTULO 2 REDE NEURAL ARTIFICIAL PARA PREDIÇÃO DE PERFIS DE CONCENTRAÇÃO NA FERMENTAÇÃO DE MEL COM ADIÇÃO DE EXTRATO DE CASCA DE JABUTICABA Orlando Gomes Neto Beatriz da Silva Gomes da Costa Rafael Ramos de Andrade Matheus Boeira Braga Rubens Maciel Filho Laura Plazas Tovar Anna Rafaela Cavalcante Braga Tiago Dias Martins RESUMO O hidromel é uma bebida alcoólica fermentada à base de água e mel produzida pela ação de leveduras, normalmente linhagens de Saccharomyces cerevisae, sobre açúcares como glicose e frutose. O produtor, muitas vezes, se depara com empecilhos derivados do baixo conhecimento e falta de controle dos parâmetros importantes do processo. Pensando nisto, o presente trabalho teve como objetivo a elaboração de um sensor virtual baseado em Redes Neurais Artificiais capaz de predizer a concentração de células (X), de açúcares totais (S) e a concentração de etanol (P) durante a fermentação para o fabrico de hidromel com adição polpa de casca de jabuticaba. Para que isto fosse possível, escolheu-se como variáveis de entrada: temperatura, pH do fermentado, concentração de sólidos solúveis totais (°Brix) e a densidade óptica (D.O.) Para a obtenção e simulação da rede feedforward com treinamento supervisionado, foram utilizados dados experimentais de uma fermentação realizada durante o projeto de IC de Costa (2020) (Processo FAPESP: 19/24444-1). As redes neurais foram testadas em diversas configurações e feita a identificação de quais foram os melhores algoritmos de treinamento, funções de ativação, número de camadas intermediárias e quantidade de neurônio em cada camada a fim de otimizar a predição das variáveis de saída pela rede. O sensor virtual foi utilizado com sucesso para monitorar e otimizar a produção da bebida, garantindo bom rendimento, produtividade e alta qualidade do produto. A rede neural poderá ser aplicada para outras bebidas fermentadas, variações de hidromel e condições de processo, desde que a rede seja retreinada. Embora essas RNAs tenham apresentado desempenho semelhante (com erros na faixa de 10-3 %), a escolha da rede mais adequada foi baseada na minimização do número de parâmetros (NP). Nesse contexto, a RNA ideal para o monitoramento da fermentação de hidromel foi identificada com a arquitetura 3-15-3, treinada com o algoritmo Levenberg-Marquardt com Regularização Bayesiana e funções de ativação tansig-purelin, compreendendo um total de 108 parâmetros. PALAVRAS-CHAVE: Inteligência artificial; Fermentação alcoólica; Sensor virtual neural. 1 INTRODUÇÃO Atualmente, a demanda por produtos com significado histórico e impacto socioeconômico tem crescido, beneficiando pequenos produtores e a produção artesanal. O hidromel, uma das bebidas alcoólicas mais antigas, tem experimentado um renascimento, especialmente nos Estados Unidos. Esse ressurgimento é atribuído ao crescente interesse na cultura geek, com entusiastas de festivais medievais e da mitologia nórdica valorizando a bebida. A influência de grandes produções cinematográficas e literárias, como "Game of Thrones" e "Senhor dos Anéis", contribuíram para essa tendência. http://lattes.cnpq.br/7689996829278129 http://lattes.cnpq.br/8396945238137060 http://lattes.cnpq.br/3068647614747317 http://lattes.cnpq.br/0980540299416238 http://lattes.cnpq.br/5436713663763286 http://lattes.cnpq.br/5957249756042771 http://lattes.cnpq.br/1145965338858435 http://lattes.cnpq.br/4325081860304693 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 25 Estudos recentes têm explorado a adição de frutas, especialmente nativas do Brasil, ao hidromel, visando enriquecer sua composição e sabor. A jabuticaba, por exemplo, com sua estabilizante antocianina, adiciona cor e sabor distintos à bebida. Além disso, proporciona um caráter antioxidante (NYHAN; SAHIN; ARENDT, 2023). Na Figura 1, o processo fermentativo é detalhado nos passos da operação, desde a obtenção da matéria prima, até as análises físico-químicas e microbiológicas para a obtenção dos dados experimentais. O monitoramento eficiente das concentrações de células, açúcares redutores e etanol é essencial no controle do processo fermentativo do hidromel. Técnicas convencionais de medição são lentas, portanto, este estudo focou no desenvolvimento de um sensor virtual inovador utilizando Redes Neurais Artificiais (RNAs). Este sensor visa prever as concentrações desses componentes em tempo real, utilizando dados experimentais de fácil obtenção, como °Brix, pH e densidade óptica, para otimizar o processo fermentativo. Redes neurais artificiais são inspiradas na estrutura neural de organismos vivos e consistem em unidades de processamento, semelhantes aos neurônios biológicos. A capacidade de processamento dessas redes é determinada pela informação armazenada nas conexões entre essas unidades, conhecidas como pesos. Esses pesos são ajustados através de um processo de aprendizado que utiliza padrões de treinamento específicos (KAVEH; MESGARI, 2022). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 26 Figura 1: Processo fermentativo do hidromel. Fonte: Autoria Própria (2023). A eficácia de uma rede neural artificial (RNA) é avaliada pela precisão com que ela pode replicar os dados de saída desejados. Para isso, o neurônio artificial precisa ser treinado para executar uma tarefa específica (FLECK et al., 2016). Durante o treinamento, a RNA analisa e assimila informações de padrõesapresentados, formando uma compreensão única do problema em questão. Nesse processo, os pesos das conexões entre as unidades são ajustados. Assim, ao término do treinamento, a RNA possui uma compreensão do contexto em que opera, "salva" em seus parâmetros. Existem diversas técnicas para treinar RNAs, mas quando aplicadas à modelagem, o método de aprendizado supervisionado é frequentemente utilizado (FLECK et al., 2016). Adicionalmente, este trabalho teve como propósito avaliar meticulosamente a eficácia de cinco algoritmos de otimização distintos. Paralelamente, analisou-se o impacto de diversas funções de ativação. Estas análises fornecem diretrizes valiosas para futuras investigações no Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 27 campo da produção de hidromel e destacam a versatilidade das RNAs em processos fermentativos. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Na presente parte de métodos, detalha-se a abordagem adotada desde a seleção de variáveis até a análise dos resultados. Inicia-se com a coleta de dados por meio de experimentos de fermentação, seguida pelo tratamento desses dados e a configuração de uma rede neural. Após o treinamento e validação da rede, realizam-se simulações para, finalmente, equacionar e analisar os resultados obtidos, garantindo uma compreensão profunda do processo em estudo. 3 FERMENTAÇÃO O panorama geral dos métodos experimentais foi fornecido e advém, de forma completa, do trabalho de iniciação cientifica de Costa, em 2021. Para o preparo do extrato de casca de jabuticaba, a ser usado nas fermentações, foi adicionado 50 % (m/m) de casca de jabuticaba, e 50 % de água mineral. Após, a mistura foi triturada em liquidificador por 5 minutos, peneirada usando peneiras de 60 mesh. A fração líquida, denominada de extrato, foi armazenada. O meio de cultivo utilizado foi uma mistura de 2/3 (vol) de mel (adquirido de produtores rurais na região de São Miguel Arcanjo – SP), diluído com água mineral até atingir uma concentração de sólidos solúveis de 30 ºBrix, e 1/3 de extrato de casca de jabuticaba adicionalmente, o meio foi enriquecido com 0,5% de extrato de levedura e 1% de peptona. Após o preparo, o meio foi submetido a vapor fluente por 10 minutos. Previamente, o fermentador vazio fora esterilizado em autoclave por 20 minutos. Antes da inoculação no fermentador, uma etapa crucial de preparação do inóculo foi executada. Essa etapa consistiu na hidratação do inóculo, para a qual 1,08 g de Saccharomyces cerevisiae da marca comercial Premier Blanc, da Fermentis, foram adicionados a 15 mL de água destilada. Essa quantidade foi utilizada para obter uma concentração inicial de inóculo no fermentador de 0,36 g/L, de acordo com recomendações do fabricante. Em seguida, o inóculo foi mantido em uma estufa a 30 ºC por um período de 30 minutos. As fermentações foram conduzidas em um fermentador do modelo Labfors 5, fabricado pela Infors HT na Suíça, em temperaturas de 20, 25 e 30°. A agitação foi realizada com o auxílio de duas turbinas de pás planas, operando a 200 rpm, conforme descrito por Ferraz (2015). O volume total do meio de cultivo utilizado foi de 3,0 L (COSTA, 2021). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 28 4 OBTENÇÃO DOS DADOS EXPERIMENTAIS Neste estudo, foram adotadas diversas técnicas para a determinação e análise de diferentes parâmetros relacionados à fermentação e composição de amostras. A concentração celular foi determinada utilizando a técnica gravimétrica. As amostras foram submetidas à centrifugação a uma velocidade de 4000 rpm durante 15 minutos, utilizando-se uma centrífuga modelo 5702 R da Eppendorf. O precipitado obtido após a centrifugação foi lavado em duas etapas consecutivas e, em seguida, seco em estufa a 70˚C, conforme metodologia proposta por Andrade et al. (2013). Para a quantificação da concentração de açúcares redutores, que compreendem a glicose e frutose e etanol, o sobrenadante das amostras foi analisado utilizando cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC). O monitoramento do pH durante o processo de fermentação foi realizado em tempo real, utilizando um sensor autoclavável adquirido a partir da empresa Mettler Toledo. A análise da absorbância das amostras (densidade óptica), que foram previamente diluídas em uma proporção de 1:15, foi conduzida em um espectrofotômetro modelo Genesys 10S da marca Thermo Scientific, com um comprimento de onda fixado em 600 nm. Adicionalmente, a quantificação de sólidos solúveis, que serve como uma predição da concentração de sacarose, ou °Brix, no sobrenadante, foi realizada utilizando um refratômetro digital modelo HI96801 da marca Hanna Instruments. 5 TRATAMENTO DOS DADOS EXPERIMENTAIS Para realizar a modelagem da fermentação, foram utilizados os dados experimentais disponíveis. No entanto, devido à limitação na quantidade de dados coletados, foi adotada uma estratégia comum em estudos envolvendo Redes Neurais Artificiais (RNAs), que consiste na geração de dados adicionais por meio de ajuste de equações suaves. Essa abordagem tem sido amplamente empregada (BECKER et al., 2002) e foi aplicada com êxito em estudos recentes conduzidos pelo grupo Choji et al. (2021) e Irizawa, Martins e Veggi (2021). Por meio desse procedimento, foram gerados 200 novos pontos, mantendo um intervalo de tempo constante. Isso resultou em uma base de dados expandida que melhorou significativamente o processo de treinamento da RNA. Essa estratégia de geração de dados adicionais foi fundamental para garantir que a RNA fosse devidamente treinada e pudesse aprender com maior precisão as complexas interações do processo de fermentação ao longo do tempo. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 29 6 SELEÇÃO DAS VARIÁVEIS DE ENTRADA E SAÍDA A abordagem envolveu o desenvolvimento de uma única Rede Neural Artificial (RNA) capaz de prever simultaneamente três variáveis essenciais no processo de fermentação: X (concentração de células), S (concentração dos açucares redutores) e P (concentração de produto) em g.L-1. Para alcançar esse objetivo, foram selecionadas cuidadosamente as variáveis de entrada que seriam utilizadas na RNA, levando em consideração diversos aspectos cruciais para o sucesso da modelagem. Na escolha das variáveis de entrada, foram considerados vários fatores importantes. O pH, por exemplo, foi incluído devido à sua relevância como uma variável crítica a ser monitorada, uma vez que baixos valores de pH podem inibir o crescimento de diversos microrganismos no processo. A densidade óptica (D.O.) foi outra variável de entrada escolhida, pois se relaciona com o crescimento microbiano, desempenhando um papel crucial na caracterização do processo. Além disso, também foi incorporada a concentração de sólidos solúveis (°Brix), uma vez que a presença de altas concentrações de substrato pode resultar em efeitos indesejáveis, como a inibição por substrato e o aumento do tempo de fermentação. Outro aspecto relevante na escolha dessas variáveis de entrada foi sua facilidade de medição, uma vez que é fundamental que as variáveis sejam práticas e acessíveis de se obter durante o processo de fermentação. A Figura 2 (a) oferece uma representação esquemática da RNA, com uma única camada intermediária (oculta), que gera as três variáveis de saída: concentração de células, açucares redutores e produto. A Figura 2 (b) por outro lado, ilustra uma RNA com duas camadas intermediárias prevendo P, S e X. Figura 2: Rede de uma e duas camadas intermediárias. Fonte: Autoria Própria (2023). (a) (b) Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica,Volume 1. 30 7 DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS DE EFICIÊNCIA DA REDE Para avaliar a eficácia da rede neural, foram utilizados três parâmetros fundamentais: a função objetivo (𝐹𝐹𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂), o erro médio percentual absoluto (MAPE) e o coeficiente de correlação de Pearson (ρ). Ao final de cada uma das quatro etapas (treinamento, validação, teste e simulação), os valores desses parâmetros foram armazenados para uma análise abrangente do desempenho da rede (SILVA, 2016). A função objetivo escolhida foi a média da diferença quadrática entre os valores calculados pela RNA e os valores experimentais reais, conhecida como Mean Squared Error (MSE), conforme expresso na Equação 1: (1) 𝐹𝐹𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂 = 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 = 1 𝑛𝑛 ∑ �ℎ𝑗𝑗,𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 − ℎ𝑗𝑗,𝑟𝑟𝑒𝑒𝑟𝑟𝑒𝑒� 2𝑛𝑛 𝑗𝑗=1 Nesta equação, n representa o número de pontos experimentais, hj,rede é o valor previsto pela RNA, e hj,exp é o valor real para o ponto experimental j. É crucial destacar que quanto mais próxima de zero for a função objetivo (𝐹𝐹𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂𝑂), menor será a discrepância entre os dados experimentais e as previsões da RNA, indicando, em geral, um melhor desempenho da rede. O erro médio percentual absoluto (MAPE) foi calculado com base na Equação 2 a seguir: (2) 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 = 1 𝑛𝑛 ∑ �ℎ𝑗𝑗,𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒− ℎ𝑗𝑗,𝑟𝑟𝑒𝑒𝑟𝑟𝑒𝑒� ℎ𝑗𝑗,𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒𝑒 𝑛𝑛 𝑗𝑗=1 .100% O coeficiente de correlação de Pearson, por sua vez, é um parâmetro que avalia a intensidade e a direção da correlação entre duas variáveis, variando de -1,0 a 1,0. Dado o contexto fornecido, a equação para o coeficiente de correlação de Pearson (ρ) é: (3) ρ = ∑ (𝑥𝑥𝑖𝑖− 𝑥𝑥�)�𝑦𝑦𝑖𝑖− 𝑦𝑦��𝑛𝑛 {𝑖𝑖=1} �∑ (𝑥𝑥𝑖𝑖− 𝑥𝑥�)2.∑ �𝑦𝑦𝑖𝑖− 𝑦𝑦��2𝑛𝑛 𝑖𝑖=1 𝑛𝑛 𝑖𝑖=1 Onde: xi é o valor da variável x para o ponto experimental i; yi é o valor previsto pela RNA (Rede Neural Artificial) para o ponto experimental i; �̅�𝑥 é a média aritmética dos valores de x; 𝑦𝑦� é a média aritmética dos valores de y. O numerador da fração representa a covariância entre x e y, enquanto o denominador é o produto dos desvios padrão de x e y. Quando o coeficiente de Pearson é calculado desta forma, ele fornece uma medida da força e direção da relação linear entre as duas variáveis. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 31 Esses parâmetros fornecem uma visão abrangente da precisão da RNA, permitindo avaliar a concordância entre os resultados previstos e os dados experimentais reais. Quanto menor o MSE e o MAPE, e quanto mais próximo de 1 for ρ, melhor o desempenho da rede neural no processo de modelagem e simulação (AWANG, 2018). 8 CONFIGURAÇÃO E DETALHES DO TREINAMENTO DAS RNAs As fases de obtenção e simulação foram conduzidas no ambiente de desenvolvimento Mathworks Matlab® R2016b. Durante o processo, foram criadas e treinadas redes neurais artificiais (RNAs) com diferentes arquiteturas, incluindo aquelas com uma ou duas camadas intermediárias (também conhecidas como camadas ocultas). Além disso, variaram-se o número de neurônios em cada camada intermediária para avaliar o impacto dessas configurações na performance da RNA. Para a otimização do treinamento das RNAs, foram explorados quatro algoritmos de otimização distintos: o Scaled Conjugate Gradient (trainscg), o Levenberg-Marquardt (trainlm) e o Levenberg-Marquardt com Regularização Bayesiana (trainbr), o Resilient Backpropagation (trainrp) e o Gradiente Conjugado com Reinicializações de Powell-Beale (traincgb). Cada um desses algoritmos possui características específicas que podem influenciar a convergência e a eficiência do treinamento. No que diz respeito às funções de transferência utilizadas nas camadas intermediárias, foram testadas três opções: a função logaritmo-sigmoide (logsig), a tangente hiperbólica- sigmoide (tansig) e a linear (purelin). Essas funções desempenham um papel fundamental na modelagem das relações entre as camadas da RNA, e sua escolha pode afetar significativamente o desempenho da rede. A Tabela 1 resume as diversas configurações testadas durante este estudo, abrangendo as variações nos algoritmos de treinamento, nas funções de transferência e na estrutura geral das RNAs. Tabela 1: configuração dos treinamentos gerais. Camadas intermediárias Algoritmos de otimização Funções de ativação (camada intermediária) Funções de ativação (saída) Neurônios (camada 1) Neurônios (camada 2) 1 trainscg, trainlm, traincgb, trainbr tansig, purelin tansig, purelin 5 - 35 - 2 trainscg, trainlm, trainrp, trainbr tansig, logsig tansig, logsig, purelin 5 - 35 5 - 30 Fonte: Autoria Própria (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 32 Conforme apresentado na Tabela 2, optou-se por utilizar um número reduzido de neurônios na segunda camada intermediária das redes neurais. Essa decisão foi motivada pela intenção de evitar que as RNAs com duas camadas intermediárias se tornassem excessivamente complexas, com um número excessivo de parâmetros a serem ajustados. Limitou-se, portanto, o intervalo de neurônios nessa camada intermediária a uma faixa entre 5 e 30 unidades. A estratégia adotada visava minimizar impactos adversos no desempenho computacional e tempo de resposta do treinamento de redes neurais artificiais (RNAs). A ênfase foi colocada em evitar complexidade excessiva nas RNAs para assegurar eficiência e aprendizado adequado das relações entre variáveis de entrada e saída. O equilíbrio no número de neurônios nas camadas intermediárias foi buscado para manter a eficácia das RNAs com duas camadas, garantindo ao mesmo tempo desempenho computacional gerenciável e tempo de resposta aceitável, fazendo das RNAs uma ferramenta viável e eficiente. 9 OBTENÇÃO DA REDE O processo de obtenção da rede neural envolveu três etapas: treinamento, teste e validação. Dos 200 dados disponíveis, 150 foram usados para essas etapas e os 50 restantes para a simulação da rede. A distribuição dos 150 pontos foi feita pelo software Matlab®, sendo 70% para treinamento, 15% para teste e 15% para validação. Durante estas fases, a rede foi analisada sob diversos fatores, incluindo funções de ativação, quantidade de camadas ocultas, número de neurônios por camada e algoritmos de otimização. 10 SIMULAÇÃO DA REDE E ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS A simulação das redes neurais, crucial para identificar o modelo ideal e prevenir superajuste, utilizou 50 pontos experimentais. Nesta etapa, novos dados foram testados para avaliar a generalização da rede. A seleção do melhor modelo no software Mathworks Matlab® R2016b baseou-se no erro médio percentual absoluto (MAPE) e no coeficiente de correlação de Pearson. O modelo ótimo foi escolhido considerando a capacidade de generalização, precisão preditiva e complexidade da rede, visando uma ferramenta eficaz para modelar a produção de hidromel. Além desses critérios, também foi ponderado o número de parâmetros presentes na RNA. 11 RESULTADOS E DISCUSSÃO No presente estudo, diversas estratégias foram meticulosamente avaliadas em relação ao desempenho de redes neurais artificiais. Para cada estratégia considerada, foram exploradas configurações com uma e duas camadas intermediárias. Durante essa avaliação, houve uma Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 33 variação sistemática dos algoritmos de otimização, da quantidade de neurônios presentes em cada camada e das respectivas funções de ativação utilizadas. As variáveis de entrada selecionadas para este estudo foram o pH, °Brix e a densidade óptica ou turbidez celular (D.O.). O processo de treinamento foi realizado em um total de 2128 vezes, sendo distribuídos em 112treinamentos para configurações com uma camada intermediária e 2016 com RNAs de duas camadas. Vale ressaltar que cada configuração de rede foi submetida a um treinamento repetido por cinco vezes, resultando em um total de 10.640 redes neurais artificiais treinadas. Para um treinamento utilizando o algoritmo de Levenberg-Marquardt por exemplo, será posta uma configuração de trainlm, com funções de ativação da camada oculta com ‘tansig’ e saída ‘tansig’, repetindo esse padrão com 5 a 35 neurônios. Depois começando novamente com ‘tansig-purelin’, ‘purelin-tansig’ e ‘purelin-purelin’ variando a quantidade de neurônios e alterando entre os quatro algoritmos de otimização. 12 DADOS EXPERIMENTAIS EMPREGADOS NA OBTENÇÃO DA REDE Na Tabela 2, encontram-se os dados experimentais das variáveis que foram utilizadas na obtenção e simulação das RNAs. Tabela 2: Dados Experimentais para a Fermentação. tempo (horas) °Brix D.O (600 nm). pH Açucares redutores (g/L) células (g/L) Produto (g/L) 0 25,5 0,162 4,07 211,580 0,268 0,000 14 22,8 0,480 3,68 176,517 2,360 20,835 24 18,1 0,656 3,61 109,915 4,308 51,554 27 16,7 0,706 3,65 93,652 4,483 61,085 43 11,3 0,822 3,78 23,474 6,863 99,295 48 10,4 0,794 3,79 11,325 7,013 103,690 63 9,8 0,781 3,91 3,052 6,587 109,115 73 9,9 0,780 3,93 3,010 6,433 110,034 Fonte: Autoria Própria (2023). Pode-se observar que o teor final de açúcar obtido após 3 dias de fermentação foi em torno de 3 g/L, sendo obtido um hidromel caracterizado como seco (MAPA, 2012), o que resultou em uma conversão de 98,58 % dos açucares redutores (glicose e frutose) inicial. Vale a pena observar que o tempo de fermentação neste trabalho foi inferior ao de 11 dias, considerado por Pereira et al. (2017) como curto, devido ao uso de uma condição otimizada de fermentação. Os resultados de D.O. apresentados na Tabela 2 foram para amostras brutas, após diluição de 1:15. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 34 13 ANÁLISE DAS REDES OBTIDAS E CLASSIFICAÇÃO GERAL O objetivo era desenvolver uma Rede Neural Artificial (RNA) para prever simultaneamente três variáveis críticas: X, S e P. Utilizou-se dados experimentais, incluindo pH, °Brix, D.O., e as concentrações de X, S e P. A Tabela 3 apresenta os dez conjuntos de parâmetros mais promissores para modelos de uma e duas camadas intermediárias, incluindo algoritmos de otimização, funções de objetivo e o Erro Médio Percentual Absoluto (MAPE) para cada variável. As RNAs foram classificadas pelo Σ MAPE de X, S e P. Esse enfoque preciso buscava a RNA mais eficiente para modelar o processo de fermentação para produção de hidromel, considerando todas as fases de treinamento e validação. Nesta abordagem, considerando-se três variáveis de saída, foram avaliados o Erro Médio Percentual Absoluto (MAPE) e o Coeficiente de Correlação de Pearson (ρ) para cada variável. Os resultados para o Coeficiente destas métricas, embora omitido da Tabela 3, apresentou um valor uniforme de 1,0 para todas as variáveis. A fim de fornecer uma avaliação abrangente do desempenho das Redes Neurais Artificiais (RNAs), foi realizado o cálculo acumulado do erro para os três outputs, bem como o Número de Parâmetros (NP) associado a cada RNA. A análise dos dados revela uma predominância de configurações com duas camadas ocultas. No entanto, para uma avaliação mais abrangente, as cinco melhores redes de uma camada foram combinadas com as cinco melhores de duas camadas. Estas foram posteriormente classificadas com base no menor erro acumulado (MAPE). É crucial destacar que a quantidade de camadas intermediárias não foi o único fator determinante para a excelência dos resultados. Embora as redes de duas camadas tenham apresentado um erro acumulado mais favorável, com 112 resultados na faixa de 0,0001 a 0,001% de erro, as redes de uma camada apresentaram apenas 6 resultados nessa mesma faixa. O algoritmo de otimização Levenberg-Marquardt com Regularização Bayesiana (trainbr) se destacou na predição das variáveis X, S e P, especialmente devido à tendência de overfitting. Uma RNA com o método "trainlm" também apresentou bons resultados. As combinações mais eficientes de funções de ativação foram tansig-purelin para redes de uma camada e tansig-logsig-purelin para redes de duas camadas. Exceto por duas redes com MAPE mais alto para a concentração do produto, a maioria apresentou erros baixos, na ordem de 10-3. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 35 Tabela 3: Panorama geral de desempenho para as 10 melhores RNAs. Açucares redutores (S) Etanol (P) Células (X) ID [0] Algoritmo de Otimização [2] Treino Valid Teste MAPE MAPE MAPE ∑MAPE NP [8] Estrutura [1] Funções de Ativação [3] Fobj [4] Fobj [5] Fobj [6] Simu. (%) Simu. (%) Simu. (%) Simu. (%) [7] 1 3-20-5-3 trainbr logsig- tansig- purelin 1,25E-08 2,01E-08 7,73E-09 2,04E-03 1,18E-03 1,53E-03 1,58E-03 203 2 3-30-25-3 trainbr tansig- tansig- purelin 1,36E-08 8,66E-09 9,35E-09 1,39E-03 4,89E-04 2,98E-03 1,62E-03 973 3 3-25-20-3 trainbr logsig- logsig- purelin 1,44E-08 1,40E-08 1,10E-08 1,76E-03 3,22E-03 1,22E-03 2,07E-03 683 4 3-15-10-3 trainlm tansig- logsig- purelin 8,81E-09 1,00E-08 1,66E-08 1,31E-03 9,37E-04 4,43E-03 2,23E-03 253 5 3-35-10-3 trainbr tansig- logsig- purelin 8,57E-09 1,46E-08 1,05E-08 1,68E-03 3,48E-03 1,94E-03 2,37E-03 533 6 3-20-3 trainbr tansig- purelin 1,22E-08 2,92E-08 1,12E-08 2,42E-03 3,62E-03 1,80E-03 2,62E-03 143 7 3-30-3 trainbr tansig- purelin 9,92E-09 1,47E-08 7,64E-09 1,79E-03 1,98E-03 4,68E-03 2,82E-03 213 8 3-15-3 trainbr tansig- purelin 1,37E-08 6,68E-09 6,83E-09 2,30E-03 1,72E-03 7,35E-03 3,79E-03 108 9 3-25-3 trainbr tansig- purelin 1,72E-08 1,52E-08 1,77E-08 1,48E-03 1,58E-02 1,12E-02 9,47E-03 178 10 ####### trainbr tansig- purelin 1,75E-08 1,04E-08 1,63E-08 2,14E-03 1,77E-02 9,86E-03 9,90E-03 73 Legenda: [0] Código de identificação da RNA. [1] Arquitetura da RNA: neurônios na camada de entrada - na camada intermediária 1 - na camada intermediária 2 - na camada de saída. [2] Método de otimização empregado durante o treinamento da RNA. [3] Função de ativação na camada intermediária 1 - na camada intermediária 2 - na camada de saída. [4] Critério de desempenho durante a fase de treinamento. [5] Critério de desempenho durante a etapa de validação. [6] Critério de desempenho durante a etapa de teste. [7] Somatório dos erros médios percentuais absolutos para X, S e P. [8] Número de parâmetros para a rede - ilustra os pesos, por exemplo, na ID 8: (3*15 + 15*3) e depois a soma dos biases (15+3) = 108. Fonte: Autoria Própria (2023). Em uma análise preliminar, a RNA configurada como 3-20-5-3 – trainbr – logsig-tansig- purelin destacou-se por sua precisão na predição das variáveis X, S e P, tendo o menor erro acumulado (Σ MAPE). Esta análise objetivou identificar uma RNA capaz de prever as variáveis de saída com um erro global mínimo. No entanto, a seleção final também levou em consideração o Número de Parâmetros (NP) da RNA. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 36 14 SELEÇÃO DA MELHOR REDE COM BASE NA ESTRATÉGIA ABORDADA A escolha ideal do número de parâmetros (NP) em Redes Neurais Artificiais (RNAs) busca equilibrar precisão e eficiência computacional, especialmente relevante em monitoramento e controle de processos industriais. A diretriz é minimizar os parâmetros sem comprometer a precisão, medida pelo ΣMAPE. Após análise detalhada, a RNA selecionada para monitorar a fermentação do hidromel foi a de estrutura 3-15-3 – trainbr – tansig-purelin, com 108 parâmetros, por oferecer eficiência computacional e resposta rápida, essenciaispara aplicações em tempo real. A Figura 3 demonstra a capacidade desta RNA de prever as concentrações de células (X), açúcares redutores (S) e produto (P) a partir de variáveis como pH, °Brix e D.O. A rede 3-15-3 escolhida, apresenta 55 graus de liberdade com 108 parâmetros, considerando um conjunto de dados composto por 150 amostras, tem-se implicações estatísticas relevantes. Os graus de liberdade representam a quantidade de parâmetros ajustáveis em um modelo, enquanto os parâmetros são os elementos que o modelo pode modificar durante o treinamento para se ajustar aos dados. Nesse contexto, a relação entre o número de graus de liberdade, parâmetros e dados é essencial para a interpretação estatística do modelo (LI; ZHOU; GRETTON, 2021). A recomendação de que o número de dados disponíveis seja superior ao número de parâmetros em um modelo desempenha um papel crucial na análise estatística e modelagem. Essa diretriz busca garantir uma estimativa confiável dos parâmetros do modelo, ao mesmo tempo em que minimiza o risco de sobreajuste, onde o modelo se ajusta excessivamente aos dados de treinamento, comprometendo sua capacidade de generalização para novos dados. No contexto deste estudo, em que uma rede neural é configurada com 150 dados e 108 parâmetros (55 graus de liberdade), observamos a conformidade com essa orientação, o que sugere uma base sólida para as estimativas dos parâmetros do modelo. É importante destacar que essa relação entre dados e parâmetros não é uma regra inflexível e pode variar dependendo da complexidade do problema, exigindo uma avaliação cuidadosa para garantir a adequação do modelo aos objetivos da análise (LI; ZHOU; GRETTON, 2021). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 37 Figura 3: Concentrações de P, X e S em função do tempo: comparativo do ajuste dos dados simulados em relação com os experimentais. Fonte: Autoria Própria (2023). Na discussão dos resultados apresentados na Figura 3, é evidente a eficácia da Rede Neural Artificial (RNA) na simulação das concentrações dos açucares redutores, produto e células. A Figura que representa a concentração dos açucares redutores, mostra um ajuste quase perfeito entre os valores simulados pela RNA e os experimentais, corroborado por um MAPE de apenas 2,30.10−3 %. Similarmente, a Figura referente à concentração do produto, também exibe uma concordância notável, com um MAPE de 1,72.10−3 %. A figura que ilustra a concentração de células, apesar de apresentar o MAPE mais elevado entre as três variáveis, ainda assim demonstra uma precisão impressionante, com um erro de apenas 7,35.10−3 %. 0 50 100 150 200 0 20 40 60 80 C on ce nt ra çõ es d e Pr od ut o e Su bs tra to (g /L ) Tempo (h) RNA (S) EXP (S) RNA (P) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 0 20 40 60 80 C on ce nt ra çã o de c él ul as (g /L ) Tempo (h) RNA EXP Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 38 O coeficiente de correlação de Pearson (ρ) próximo de um reforça a acurácia da RNA na simulação dessas variáveis. Esse alto grau de correlação sugere que a RNA foi capaz de capturar a dinâmica subjacente do sistema biológico em estudo, resultando em previsões altamente confiáveis. O erro médio percentual absoluto combinado (Σ MAPE) de 3,79.10−3 % para as três variáveis reitera a robustez do modelo proposto. A estratégia adotada por Silva (2021) para obter uma Rede Neural Artificial (RNA) com estrutura 3-12-2 difere significativamente da abordagem do presente trabalho, que resultou em uma RNA 3-15-3. A principal distinção entre as duas estratégias reside no objetivo de previsão das redes. Enquanto a RNA de Silva focou exclusivamente na previsão das variáveis X e S, a RNA do presente estudo foi desenvolvida para prever simultaneamente X, S e P. É importante considerar que o emprego do extrato de jabuticaba no presente estudo pode ter influenciado o erro observado, que se mostrou ligeiramente maior em comparação ao estudo de Silva. Além disso, enquanto Silva identificou o algoritmo de otimização de Levenberg- Marquardt como o mais eficaz para sua RNA, o presente trabalho encontrou os melhores resultados com o algoritmo de regulação bayesiana. Na análise da Figura 4, observa-se uma notável concordância entre os valores experimentais de concentração dos açucares redutores e aqueles obtidos pela Rede Neural Artificial (RNA) com arquitetura 3-15-3. Esta figura destaca a precisão e a acurácia do modelo de RNA em simular e prever a concentração dos açucares redutores em comparação com os dados experimentais. Figura 4: Ajuste dos dados simulados da RNA para os açucares redutores em relação com seus respectivos dados experimentais. Fonte: Autoria Própria (2023). 0 20 40 60 80 100 120 0 20 40 60 80 100 120V al or es e xp er im en ta is p ar a o et an ol (g /L ) Valores da RNA para o etanol (g/L) teste validação treino Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 39 Quando se observa o gráfico de dispersão, onde o eixo X representa as concentrações previstas pela RNA e o eixo Y as concentrações experimentais, é evidente que os pontos referentes aos conjuntos de teste, validação e treino se alinham quase perfeitamente à curva y = x. Esta linha representa uma correspondência ideal entre os valores previstos e os observados, indicando que o modelo de RNA tem uma capacidade excepcional de replicar os dados experimentais. A proximidade dos pontos de teste, validação e treino à linha y = x sugere que o modelo de RNA foi bem treinado e validado, minimizando-se o erro entre as previsões e os valores reais. Esta concordância reforça a robustez e a confiabilidade do modelo, demonstrando sua capacidade de generalizar bem para novos dados, além de replicar com precisão os dados nos quais foi treinado. O mesmo comportamento observado na Figura 4 foi evidenciado para células e açucares redutores da mesma forma, contendo os dados de teste, validação e treinamento dispostos quase que uniformes sobre uma linha y = x. A consistência observada entre os valores experimentais e os previstos pela RNA reforça a aplicabilidade prática deste modelo em ambientes industriais e de pesquisa, onde decisões baseadas em previsões precisas são cruciais para a eficiência e eficácia do processo. Conforme elucidado por Martins (2018), uma RNA pode ser conceituada como uma equação matemática complexa e não linear, composta por uma multiplicidade de parâmetros, incluindo os pesos e os biases associados a cada neurônio artificial. Durante a fase de treinamento, esses parâmetros são meticulosamente ajustados. A representação matemática para a variável de saída de uma RNA que possui uma única camada intermediária é delineada pela Equação (4). (4) 𝑦𝑦𝑛𝑛 = 𝑓𝑓 �∑ 𝑤𝑤𝑗𝑗𝑗𝑗 𝑔𝑔𝑋𝑋 𝑗𝑗=1 �∑ 𝑤𝑤𝑖𝑖𝑗𝑗𝑥𝑥𝑖𝑖 + 𝑏𝑏𝑗𝑗𝑍𝑍 𝑖𝑖=1 � 𝑗𝑗 + 𝑏𝑏𝑗𝑗� 𝑛𝑛 Nesta equação, n denota o número total de saídas, 𝑦𝑦𝑛𝑛 representa a saída específica da RNA, f é a função de ativação da camada de saída, X é a contagem de neurônios na camada intermediária, g é a função de ativação pertinente à camada intermediária, e Z é o conjunto de entradas. Os termos bj e bk referem-se aos biases, enquanto wij e wjk são os pesos sinápticos das camadas intermediária e de saída, respectivamente. Com base nessa formulação, a RNA ótima para monitorar o processo de fermentação do hidromel é descrita pela Equação (5). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 40 (5) 𝒚𝒚𝒏𝒏 = 𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒑𝒏𝒏��𝒘𝒘𝒋𝒋𝒋𝒋 𝒕𝒕𝒕𝒕𝒏𝒏𝒕𝒕𝒑𝒑𝒕𝒕 𝟏𝟏𝟏𝟏 𝒋𝒋=𝟏𝟏��𝒘𝒘𝒑𝒑𝒋𝒋𝒙𝒙𝒑𝒑 + 𝒃𝒃𝒋𝒋 𝟑𝟑 𝒑𝒑=𝟏𝟏 � 𝒋𝒋 + 𝒃𝒃𝒋𝒋� 𝒏𝒏 15 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados e conclusões obtidos neste estudo, percebe-se a relevância de expandir a pesquisa no campo das Redes Neurais Artificiais (RNAs) aplicadas ao monitoramento da fermentação na produção de hidromel. Uma direção promissora seria a ampliação da base de dados, incorporando mais ciclos fermentativos e diferentes condições operacionais, o que permitiria uma avaliação mais robusta da capacidade preditiva da rede em cenários diversificados. A eficácia da RNA no monitoramento da fermentação de hidromel sugere seu potencial aplicabilidade em outros processos fermentativos. Assim, estudos futuros poderiam explorar a utilização da RNA em fermentações de cerveja, vinho, entre outros produtos. A integração desta RNA a sistemas de controle avançado também se mostra como um caminho interessante, permitindo ajustes em tempo real no processo fermentativo com base nas previsões da rede. REFERÊNCIAS ANDRADE, R. R. et al. Kinetics of ethanol production from sugarcane bagasse enzymatic hydrolysate concentrated with molasses under cell recycle. Bioresource Technology, Amsterdan, v.130, p. 351-359, fevereiro. 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.biortech.2012.12.045. Acessado em: Ago. 2023. AWANG, M. K. et al. Performance Comparison of Neural Network Training Algorithms for Modeling Customer Churn Prediction. International Journal of Engineering e Technology, Jordânia, v. 7, n. 2.15, p. 35-37, abril, 2018. Disponivel em: https://doi.org/10.14419/ijet.v7i2.15.11196. Acessado em: Ago. 2023. BECKER T.; ENDERS T.; DELGADO A. Dynamic neural networks as a tool for the on-line optimization of industrial fermentation. 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Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 42 CAPÍTULO 3 SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE NANOFORMAS DE TiO2 PARA APLICAÇÃO FOTOCATALÍTICA Aline Joana Rolina Wohlmuth Alves dos Santos Mariana Inoue Dupinski Thaís Pires dos Santos Isadora Atrib Garcia Henrique Blank Wladimir Hernandez Flores RESUMO O dióxido de titânio (TiO2) possui diversas aplicações relatatas na literatura, tais como: atividades antimicrobianas, revestimentos com potencial antimicrobiano, desinfecção de água a fim de destruir células bacterianas, é utilizado na área cosmética como anti-idade e protetor solar, além disso, aplicações biomédicas e na dentística também são relatadas. Devido a sua estabilidade e propriedades, é utilizado em materiais fotocatalíticos, sendo comumente utilizado em Processos Oxidativos Avançados (POAs), em fotocatálise heterogênea, visto que apresenta uma considerável área superficial. O fotocatalisador TiO2 pode ser utilizado em diversos processos de degradação de corantes, medicamentos e de outras substâncias orgânicas consideradas como poluentes emergentes. Ademais, TiO2 é um semicondutor, sendo sua absorção de energia na faixa do ultravioleta. Alterações na sua forma e/ou nanoforma, bem como, dopagem do TiO2 podem ser interessantes de modo a melhorar o processo de condução eletrônica e outras propriedades físicas, químicas e biológicas. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi purificar TiO2 obtido comercialmente para obtenção do polimorfo anatase e, a partir disso, sintetizar nanoformas de TiO2 empregando o método hidrotermal com aquecimento sob sistema de refluxo ou com uso de radiação micro-ondas. As amostras de TiO2 obtidas foram caracterizadas por análises térmicas, espectroscópicas e de microscopia, com destaque ao método hidrotermal com uso de sistema de refluxo, pelo qual nanoformas com caracterísiticas de fibras foram obtidas, com espessura média de 49 nm. Como perspectivas ao trabalho, destaca-se a imobilização/suporte de TiO2 em quitosana, na síntese de biomaterial com capacidade adsortiva e catalítica para degradação de contaminantes orgânicos em águas residuais. PALAVRAS-CHAVE: Nanotecnologia; Dióxido de Titânio; Catálise Heterogênea; Mineralização; Imobilização 1 INTRODUÇÃO O dióxido de titânio (TiO2) é um material inorgânico na forma de um pó branco, não inflamável, inodoro, de baixo custo e apresenta propriedades que garantem seguridade para o meio ambiente e seres humanos (ALMEIDA, 2011). O TiO2 possui diversas aplicações relatatas na literatura, tais como: atividades antimicrobianas (GALINAet al., 2014; XING et al., 2012), revestimentos com potencial antimicrobiano (BONETTA et al., 2013) na desinfecção de água a fim de destruir celulas bacterianas (WIST et al., 2002), é utilizado na área cosmética como anti-idade (LEONG et al., 2016) e protetor solar (POPOV et al., 2005), aplicações biomedicas (JAFARI et al., 2020) e materiais dentários (CHEN et al., 2018). Devido a sua estabilidade e propriedades, é utilizado em materiais fotocatalíticos, sendo DOI 10.47402/ed.ep.c240211953867 http://lattes.cnpq.br/1630733121757523 http://lattes.cnpq.br/2202790967149965 http://lattes.cnpq.br/5764813456192214 http://lattes.cnpq.br/0053504781073274 http://lattes.cnpq.br/4534358553723533 http://lattes.cnpq.br/2955767520833215 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 43 comumente utilizado em Processos Oxidativos Avançados (POAs), em fotocatálise heterogênea, visto que apresenta uma considerável área superficial (ARAUJO et al., 2016). Em POAs ideais tem-se a degradação de poluentes orgânicos, sem aumento da toxicidade, ou melhor ainda, com a diminuição da toxicidade. Com a presença de irradiação na amostra, ocorre a formação do radical hidroxila HO•, com consequente degradação do poluente orgânico, convertendo-o a compostos mais simples e de baixa toxicidade, como CO2, H2O e alguns íons inorgânicos (ALMEIDA, 2011). Esse mecanismo possibilita a sua utilização de formulações com TiO2 como catalisadores em processos de remediação ambientais, contribuindo para o desenvolvimento de tecnologias mais sustentáveis (ETSHINDO et al., 2021). O fotocatalisador TiO2 pode ser utilizado em diversos processos de degradação de corantes (azul de metileno e azul de bromotimol) (JAFRI et al., 2021; BOUANIMBA et al., 2017), medicamentos (cafeína, ácido acetilsalicílico, diclofenaco, ibuprofeno) (GIL et al., 2017) e de outras substâncias orgânicas consideradas como poluentes emergentes (LEE; PALANIANDY; DAHLAN, 2017). Considerando o arranjo eletrônico, a diferença de energia entre as bandas de valência, de mais baixa energia, e bandas de condução, de maior energia, caracteriza o band gap no valor de 3,2 eV, na região do ultravioleta (ALMEIDA, 2011). Dessa forma, a absorção de energia na faixa do ultravioleta acarreta em comportamento condutor no TiO2, com deslocamento de elétrons e rápida recombinação dos pares elétrons/lacuna. Essa rápida recombinação não é vantajosa para a fotocatálise, de forma que modifiações estruturais podem ser vantajosas ao processo (ZHU et al., 2012). Assim, alterações na sua forma e/ou nanoforma, bem como, dopagem do TiO2 podem ser interessantes de modo a melhorar o processo de condução eletrônica. Podem-se ter dois tipos de dopantes: do tipo n (com compostos que apresentam mais elétrons de valência que o Ti) e do tipo p (com compostos com menos elétrons de valência que o Ti). A dopagem tem o intuito de diminuir o band gap e tornar o material condutor com menor absorção de energia (KAWANO et al., 2015). Pode se empregar como dopantes do titânio o óxido de zinco (ZnO) (ZHU et al., 2012) e o dióxido de silício (SiO2) (CHEN et al., 2019). O emprego de ZnO como dopante promove uma melhor separação do band gap, para melhor aproveitamento da energia na região do visível para a fotocatálise (ZHU et al., 2012). O SiO2 apresenta vantagens na sua aplicação, visto Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 44 que, é um óxido metálico que evita a rápida recombinação dos pares elétrons/lacuna (CHEN et al., 2019; HOANG et al., 2021; SHAO et al., 2015; SHAO et al., 2019). A atividade fotocatalítica da dopagem TiO2-SiO2, assim como para o dopante ZnO, é afetada pelo pH, obtendo uma relação inversamente proporcional, onde quanto maior o pH, tem-se uma diminuição da atividade fotocatalítica (HOANG et al., 2021). O ZnO é um dos dopantes utilizados em TiO2, sendo este um dopante do tipo n, onde o titânio apresenta camada de valência 4s23d2, enquanto o zinco possui camada de valência 4s23d10. Dessa forma, o zinco apresenta maior número de elétrons de valência, com sua camada d completamente preenchida, possibilitando aumento de elétrons abaixo da banda de condução e alteração/diminuição no band gap do material (KAWANO et al., 2015). Zhu et al. (2012) e Farhadian et al. (2019) relataram a utilização da dopagem TiO2-ZnO para a síntese de fotocatalisadores para degradação de moléculas orgânicas. A utilização de ZnO apresenta vantagens por ser um componente atóxico, insolúvel, com boa estabilidade química, baixo custo e com boa atividade fotocatalítica (FARHADIAN et al., 2019), podendo com essa dopagem, ocorrer melhora na absorção da luz no espectro do visível para a fotocatálise (ZHU et al., 2012). O TiO2 apresenta três formas cristalinas cada uma com seu grupo espacial cristalográfico: anatase (tetragonal - I41/amd), rutilo (tetragonal - P42/mnm) e brookita (ortorrômbica - Pbca), que são apresentadas na Figura 1. A anatase é forma cristalina mais comum e que apresenta maior atividade fotocatalítica (ALMEIDA, 2011). A estrutura rutilo apresenta maior estabilidade, contudo quando se tem partículas com tamanhos menores que 14 nm, a fase anatase se torma mais estável (SANTOS, 2017). Quando o fotocatalisador apresenta-se na forma de filmes favorece a sua aplicação e reutilização em escala industrial, visto que sua separação e reuso se torna facilitado em comparação com a forma não suportada (ETSHINDO et al., 2021). Figura 1: Estruturas cristalinas do TiO2: (A) anatase (tetragonal), (B) rutilo (tetragonal) e (C) brookita (ortorrômbica). Fonte: Vitoreti et al. (2017). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 45 Para a obtenção da estrutura criatalina adequada às aplicações desejadas, algumas vezes, processos de purificação do TiO2 são necessários, sendo que um deles é o processo de calcinação, onde elevadas temperaturas são necessárias, com o auxílio de uma mufla, onde destaca-se a relação entre temperatura de calcinação e a cristalinidade (SILVA; LANSARIN; MORO, 2013). Além disso, a utilização de altas temperaturas promove a remoção de possíveis impurezas presentes na amostra (WU et al., 2017). Pelo fato do TiO2 apresentar três estruturas cristalinas (anatase, rutilo e brookita) (WU et al., 2017), o processo de calcinação pode promover a interconversão entre os polimorfos. Se a temperatura for superior a 600 ºC ocorre à conversão da estrutura de anatase em rutilo (SILVA; LANSARIN; MORO, 2013). Além disso, diversos autores relatam a associação do processo de calcinação do TiO2 com a formação de nanotubos (NtTiO2), com vistas à aplicação em fotocatálise (CHEN et al., 2003; VU et al., 2014; WU et al., 2017). Chen e Mao (2006) descreve a utilização de TiO2 para a formação de diversos nanomateriais, como nanopartículas, nanofios e também nanotubos; relatando ainda a formação de NtTiO2 por diversas metodologias, como: anodização direta, método sol-gel e método hidrotermal, sendo este último, um método bastante comum, que foi desenvolvido por Kasuga (1999). Assim, a área superficial do TiO2 pode ser aumentada com a utilização de nanomateriais, como nanopartículas, nanotubos, nanofios, etc, visto que a área superficial é diretamente proporcional à sua atividade fotocatalítica (CHEN; MAO, 2006). Na síntese de NtTiO2 pelo processo hidrotermal tem-se 4 etapas (Reações 1). A Reação 1a mostra a primeira etapa de dissolução do TiO2 na forma aniônica, causada pela ação da base, seguida pela segunda etapa (Reação 1b), que consiste na dissolução-cristalização das nanofolhas, que ocorre pela interação das hidroxilas com as ligações presentes na superfície do TiO2. Já na terceira etapa (Reação 1ce Figura 2), tem-se o dobramento das nanofolhas formadas anteriormente (VU et al., 2014), que se separam à medida que a concentração do meio básico (Hidróxido de Sódio – NaOH) aumenta. A Figura 2 apresenta uma ilustração da terceira etapa, em que os NtTiO2 são formados. Com a separação completa das nanofolhas, tem-se a formação dos NtTiO2 (CHEN et al., 2003) ligados ao sódio, que seguem para a última etapa (Reação b 1 d ) , onde tem-se a lavagem dos nanotubos em meio ácido, para a neutralização e liberação dos NtTiO2 (VU et al., 2014). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 46 Reações 1: Formação de nanotubos. a) Dissolução do TiO2 precursor. 𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂2 + 2 𝑁𝑁𝑁𝑁𝑂𝑂𝑁𝑁 → 2 𝑁𝑁𝑁𝑁+ + 𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂32− + 𝑁𝑁2𝑂𝑂 b) Dissolução-cristalização de nanofolhas de TiO2. 2 𝑁𝑁𝑁𝑁+ + 𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂32− → [𝑁𝑁𝑁𝑁2𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂3]𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛ℎ𝑛𝑛 c) Dobramento das nanofolhas de TiO2. 2 𝑁𝑁𝑁𝑁+ + 𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂32− + [𝑁𝑁𝑁𝑁2𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂3]𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛ℎ𝑛𝑛 → [𝑁𝑁𝑁𝑁2𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂3]𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 d) Lavagem dos NtTiO2. [𝑁𝑁𝑁𝑁2𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂3]𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 + 2 𝑁𝑁2𝑂𝑂 𝐻𝐻+ �� [𝑁𝑁2𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂3]𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 + 2 𝑁𝑁𝑁𝑁𝑂𝑂𝑁𝑁 [𝑁𝑁2𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂3]𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 → [𝑇𝑇𝑖𝑖𝑂𝑂2]𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛𝑛 + 𝑁𝑁2𝑂𝑂 Fonte: Vu (et al., 2014). Figura 2: Ilustração do dobramento das nanofolhas (Reação 3) na formação dos NtTiO2. Fonte: Adaptado de Chen (et al., 2003). Para facilitar as aplicações e reuso, as formas e nanoformas de TiO2 podem ser suportadas (ZHU et al., 2012) em material polimérico, tal como quitosana (ETSHINDO et al., 2021; BLANK et al., 2022; GIACOMINI et al., 2023). Além disso, a formação de matriz orgânico-inorgânico com atividade fotocatalítica, com forte apelo de sustentabilidade, pode aliar as propriedades adsorventes e antimicrobianas da quitosana à formulação proposta. Essa combinação de material orgânico-inorgânico pode ter diversas aplicações, como na fotocátalise para remoção de poluentes aquáticos (XIAO; SU; TAN, 2015), desenvolvimento de embalagem antimicrobiana (SIRIPATRAWAN; KAEWKLIN, 2018), nanofibras para Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 47 remoção de íons de metais pesados (RAZZAZ et al., 2016), curativo para recuperação de pele (BEHERA et al., 2017), e revestimento de quitosana/gelatina em nanotubos de TiO2 para proliferação de osteoblastos (ZHANG et al., 2016). Além disso, o glutaraldeído pode ser usado como reticulante entre quitosana e TiO2 para adsorção e desintoxicação de cromo hexavalente em água (ZHANG et al., 2015) e em formulação de hidrogel para análise de solo (RITONGA et al., 2020). Como no texto apresentado, objetivo deste trabalho foi purificar TiO2 obtido comercialmente para obtenção do polimorfo anatase e, a partir disso, sintetizar nanoformas de TiO2 empregando o método hidrotermal com sistema de refluxo e uso de radiação micro-ondas. As formas e nanoformas de TiO2 obtidas foram caracterizadas por análises térmicas, estruturais e morfológicas. Como perspectivas futuras, planeja-se suportar as nanoformas obtidas em filmes de quitosana, para a síntese de fotocatalisadores heterogêneos direcionados à mineralização de poluentes emergentes presentes em águas residuais, bem como na quantificação da adsorção de corantes. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Os reagentes químicos utilizados são de grau analítico (PA) e não foram realizados tratamentos prévios, sendo eles: Dióxido de Titânio (TiO2/anatase - marca Quimicamar), Ácido Acético Glacial (CH3COOH – marca Vetec), Hidróxido de Sódio (NaOH – marca Synth) e Ácido Clorídrico (HCl – marca Vetec). A água destilada utilizada foi obtida de um destilador tipo pilsen, marca Marte e/ou deionizador por osmose reversa da marca Quimis Q342. Para distinguir os diferentes sistemas de TiO2 utilizadas, nomeou-se as amostras conforme apresentado na Tabela 1, sendo que a amostra comercial é o reagente de partida da amostra calcinada, e a amostra calcinada é o reagente de partida para a síntese das nanoformas de TiO2, como descrito por Inoue (2022). Tabela 1: Identificação e preparação das amostras de TiO2. Amostra Tipo Método de obtenção TiO2 Comercial ---- CTiO2 Calcinado Calcinação MTiO2 Nanoforma Hidrotermal – micro-ondas NTiO2 Nanoforma Hidrotermal – sistema de refluxo Fonte: Inoue (2022). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 48 2.1 Obtenção de CTiO2 O processo de purificação do TiO2 comercial foi adaptado de Silva, Lansarin, Moro (2013). Utilizou-se três cadinhos de porcelana, anotou-se suas massas, em seguida, com o auxílio de almofariz e pistilo macerou-se a amostra de TiO2 comercial, pesou-se então as massas em cada um dos cadinhos, apresentadas na Tabela 2. No total, partiu-se de 7,689 g de TiO2 comercial. Tabela 2: Massas de TiO2 no início da calcinação. Cadinho mcadinho vazio (g) mcadinho+amostra (g) mamostra (g) 1 17,885 20,024 2,139 2 20,806 23,076 2,270 3 19,152 22,432 3,280 Fonte: Inoue (2022). Levou-se os cadinhos para a mufla da marca Jung, modelo 2310, a uma temperatura de 550 °C por 2 h, com rampa de aquecimento automática do equipamento. Após o tempo de calcinação, desligou-se o aquecimento e aguardou-se o resfriamento até temperatura ambiente, em seguida transferiram-se os cadinhos para um dessecador e aguardou-se até atingir temperatura ambiente. Uma vez à temperatura ambiente, pesaram-se novamente os cadinhos, para efetuar o cálculo do rendimento (Esquema 1). Esquema 1: Procedimento de calcinação de TiO2 comercial para obtenção de CTiO2. Fonte: Inoue (2022). 2.2 Síntese de MTiO2 A síntese dos MTiO2 se deu pelo processo hidrotermal (VU et al., 2014), com a utilização de radiação micro-ondas, adaptando-se a metodologia descrita por Barbosa et al. (2022). O equipamento utilizado foi convencional, de uso doméstico, da marca Eletrolux ME28S, 60 Hz, 900W, instalado no interior de uma capela de exaustão. Pesou-se 0,151 g de CTiO2 em um béquer de plástico de 250 mL e adicionou-se 25 mL de solução aquosa de NaOH 10 mol L-1. A solução doi levada ao equipamento de micro- ondas, empregando potência de 900 W, por 1 h, à 90 °C. Foi necessário abrir o equipamento a cada minuto, para homogeneizar a solução e evitar aumento de temperatura e ignição da amostra. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 49 Após, aguardou-se até a solução atingir a temperatura ambiente. Em seguida, transferiu- se a solução para tubos do tipo Falcon de 15 mL, a fim de proceder com a centrifugação à 2900 RPM, por 10 min. Removeu-se o sobrenadante com uma pipeta Pasteur e, com o auxílio do vórtex, homogeneizou-se o precipitado. Adicionou-se solução aquosa de HCl 0,1 mol L-1 e repetiu-se o procedimento até completa neutralização. Uma vez neutralizado, removeu-se o excesso de sobrenadante e o precipitado foi seco em estufa, à 60 °C, por 24 h, para cálculo do rendimento (Esquema 2). Esquema 2: Síntese de MTiO2. Fonte: Inoue (2022). 2.3 Síntese de NTiO2 A síntese se deu pelo processo hidrotermal (VU et al., 2014), empregando metodologia convencional de aquecimento e sistema de refluxo. Pesou-se 0,318 g de CTiO2 em papel filtro e transferiu-se para um balão de fundo redondo com duas saídas, juntamente com 50 mL de solução aquosa de NaOH 10 mol‧L-1, acoplado à um sistema de refluxo, embanho de óleo. A reação ocorreu à 130 °C, por 5 h. Após o tempo reacional, desligou-se o aquecimento, esperou- se até o sistema atingir a temperatura ambiente, em seguida, transferiu-se a solução para tubos Falcon de 15 mL e procedeu-se a neutralização da mesma maneira como descrito para MTiO2 (Esquema 3). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 50 Esquema 3: Síntese de NTiO2. Fonte: Inoue (2022). 2.4 Métodos de caracterização As análises de Espectroscopia na região do Infravermelho com Transformada de Fourrier (FT-IV) foram realizadas em equipamento da marca Shimadzu, com intervalo de varredura de 4000 a 500 cm-1 e resolução de 4 cm-1. Preparou-se as amostras com brometo de potássio (KBr), ambos previamente secos em estufa ovenight à 50° C, e utilizados na proporção de 1:10 (m:m) para a confecção das partilhas em uma prensa hidráulica da marca Shimadzu. As análises Termogravimétrica (TGA) foram realizadas em equipamento DTG-60, da marca Shimadzu. As massas das amostras foram pesadas entre 5,000 a 9,000 mg, em cadinho de platina. A análise foi realizada no intervalo de temperatura de 30 a 700 °C, com rampa de aquecimento de 10 °C min-1 e com atmosfera de gás nitrogênio, à uma vazão de 50 mL min-1. As análises de Difração de Raios-x (DRX) foram realizadas em difratômetro de raios X com radiação da linha CuKα (λ=1,54 Å), da marca Rigaku modelo ULTIMA IV. A tensão de aceleração e a corrente aplicada foram de 40 kV e 20 mA, respectivamente. A geometria utilizada foi a de Bragg-Brentano, com varredura em 2θ, no intervalo de 2° a 70° e tempo de integração de 1s, com passo de 0,05°. Para as análises de Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS), as amostras foram previamente preparadas utilizando recobrimento de ouro (Denton Vacuum Desk V). Empregou-se corrente de 20 mA, por 120 s. As análises foram realizadas em microscópio eletrônico JSM-6610LV da marca Jeol, acoplado com microssonda de EDS. Para a análise de MEV foi empregada voltagem de aceleração de 15 kV Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 51 e a faixa de magnificação de 10000, 20000 e 50000 vezes. A espessura das nanofibras foi estimada com o uso do programa Image J. O espectro de EDS foi obtido a partir da análise de micrografias com magnitude em 1000 vezes. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO As amostras de TiO2, (CTiO2 e NTiO2) podem ser observadas na Figura 3. Apresentam- se como pós de coloração branca, sendo que cada uma delas será discutida na sequência. A amostra MTiO2 não consta na imagem, no entanto, igualmente apresentou-se como branco. Figura 3: Imagens das amostras de TiO2. . Legenda: (A) TiO2, (B) CTiO2 e (C) NTiO2 Fonte: Inoue (2022). 3.1 CTiO2 A purificação do TiO2 comercial fez-se necessária para a remoção de impurezas, para obtenção de uma amostra pura, sem contaminantes e para melhor definição do arranjo cristalino dos átomos na forma anatase (CHEN et al., 2003), uma vez que este tipo de arranjo apresenta melhor atividade fotocatalítica (WU et al., 2017). De acordo com a soma das massas de amostra inicial dos três cadinhos utilizados na calcinação (Tabela 2), tem-se uma massa inicial total de 7,689 g de TiO2 comercial. Ao final do processo de calcinação, as massas das amostras pesadas estão dispostas na Tabela 3, apresentando assim uma massa final total de 7,670 g, podendo-se calcular o rendimento da calcinação. Adotando-se a massa inicial total como 100%, dessa forma, a massa final total obtida equivale a 99,8 %, sendo este o rendimento da calcinação, havendo uma perda de massa de 0,25 g, podendo ser referente a impurezas contidas na amostra comercial ou água de hidratação. Tabela 3: Massas de CTiO2 ao final da calcinação. Cadinho Massa (g) cadinho cadinho+amostra amostra 1 17,885 20,017 2,132 2 20,806 23,070 2,264 3 19,152 22,426 3,274 Fonte: Inoue (2022). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 52 3.2 MTiO2 Com os dados obtidos, foi calculado o rendimento, visto que a massa inicial foi de 0,151 g e a massa da amostra sintetizada de MTiO2 foi de 0,134 g, tem-se um rendimento de 89,5 %. O rendimento é considerado satisfatório para a síntese e pode ser resultado das perdas de amostra no processo de centrifugação, já que a granulometria do pó obtido impediu a filtração com papel filtro. A metodologia por micro-ondas é uma alternativa mais sustentável para a síntese de nanoformas de TiO2, pois diminui o tempo reacional, utilizando menos energia. Contudo, tornou-se uma síntese delicada e, ao mesmo tempo trabalhosa, por utilizar equipamento de micro-ondas de uso doméstico instalado no interior de uma capela de exaustão e uma solução aquosa concentrada de NaOH, exigindo constante manuseio. Com o aquecimento no equipamento de micro-ondas, o sódio sofria transições eletrônicas e liberava faíscas, sendo necessário abrir o micro-ondas diversas vezes para acompanhar a reação e para manter o controle da temperatura, visto que no micro-ondas ocorre uma rápida elevação da temperatura, superando 90 °C, descrito na literatura como temperatura ideal (BARBOSA et al., 2022). Essa amostra mostrou-se como pó fino, de coloração branca, diferenciando-se em granulometria de seu precursor CTiO2. Apesar do bom rendimento, esse método de síntese foi considerado inapropriado devido às condições descritas, de modo que as caracterizações foram realizadas somente para as demais amostras de TiO2. 3.3 NTiO2 O cálculo do rendimento da síntese de NTiO2 foi feito partindo-se de uma massa de 0,318 g, que corresponde à 100 %. A massa final obtida de 0,279 g que equivale a 87,7 %, sendo este o rendimento de síntese. As perdas ocorridas podem ser resultantes do processo de centrifugação. A metodologia hidrotermal envolvendo o sistema de refluxo é uma síntese que exige 5h, contudo pode ser considerada vantajosa por ser de fácil emprego, com estabilização da temperatura durante o processo, não necessitando de supervisão constante, apenas eventual. 3.4 Caracterizações 3.4.1 Ft-iv Os espectros de FT-IV para as amostras de TiO2, CTiO2 e NTiO2 encontram-se na Figura 4A, que evidenciou as seguintes bandas: (1) [-OH] refere-se à água presente, (2) [- CO2] refere-se ao gás presente na atmosfera, (3) [δ-OH] e (4) [-Ti-O] referem-se aos grupos presentes na superfície do TiO2. A banda [-Ti-O], características da presença de TiO2, deve Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 53 ser evidenciada entre 520 a 734 cm-1, segundo a literatura (MAHMOUD et al., 2017). Os espectros mostraram-se semelhantes, diferenciando-se a banda (3) de NTiO2 que aparece de forma mais definida. A banda (4) é evidenciada em 790 cm-1 (TiO2), 862 cm-1 (CTiO2) e em 729 cm-1 (NTiO2), o que está de acordo com a literatura (MAHMOUD et al., 2017). Figura 4: A) Espectros na região do infravermelho. B) Termogramas. Legenda: TiO2 (preto), CTiO2 (cinza) e NTiO2 (azul). Fonte: Inoue (2022). 3.4.2 TGA Essa análise avaliou a estabilidade térmica das amostras, acompanhando sua degradação pela elevação da temperatura, entre 30 – 700 ºC (Figura 4B). Observou-se para TiO2 e CTiO2 a sobreposição dos termogramas, sendo que as três amostras evidenciaram estabilidade térmica no intervalo em que foi realizada a análise (30 à 700 °C) (MAHMOUD et al., 2017), com o diferencial que NTiO2 evidenciou perda de massa de 30 à 200 °C, podendo ser explicada por liberação/evaporação de água da amostra (SUZUKI; YOSHIKAWA, 2004), deta forma, NTiO2 evidenciou a menor porcentagem deresíduo (93,4 %) (Tabela 4). Tabela 4: Dados da análise térmica. Amostras M inicial (mg) M final (mg) Resíduo (%)+ Perda de massa (%)++ TiO2 8,988 8,789 97,8 2,214 CTiO2 5,816 5,803 99,8 0,224 NTiO2 5,406 5,050 93,4 6,585 Legenda: M = massa; + à 700 °C; ++ΔT (°C) 30-700. Fonte: Inoue (2022). 3.4.3 Drx Os difratogramas apresentados na Figura 5 evidenciaram a cristalinidade das amostras A B Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 54 TiO2, CTiO2, NTiO2, com picos em 2θ de: 25,3°, 37,85°, 48,05°, 53,9°, 55,1° e 62,65, que coincidem com os valores da literatura descritos por Wu et al. (2017). A identificação cristalográfica das três amostras corresponde a fase da anatase (JCPDS 21-1272). Os picos identificados acima são correspondentes aos planos (101), (004), (200), (105), (211) e (204), respectivamente. A amostra MTiO2 mostrou picos em 2θ diferentes: 28,7°, 49° e 62,65°, além de evidenciar perda na cristalinidade, e consequente, forte contribuição de amorfo. O deslocamento do pico em 2θ de 25,3° para 28,7°, pode ser devido à presença das formas [Na2TiO3] e [H2TiO3] obtidas durante a síntese por micro-ondas. Desse modo, há necessidade de um processo de lavagem mais efetiva, para a eliminação dos íons Na+ e H+ e obtenção de uma amostra purificada [TiO2] (VU et al., 2014). Outra explicação para alterações apresentadas para essa amostra pode estar relacionada com a degradação devido à submissão ao processo de radiação por micro-ondas. Figura 5: Difratogramas das amostras de TiO2. Legenda: TiO2 (preto), CTiO2 (cinza), MTiO2 (verde), NTiO2 (azul). Fonte: Inoue (2022). 3.4.4 Mev/ eds As micrografias de TiO2 e CTiO2 são observadas na Figura 6, evidenciando semelhança de ambas superfícies, com presença de aglomerado de partículas em algumas regiões, mas, no geral, constitui uma superfície uniforme, assim como observado por Chen et al. (2003). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 55 Figura 6: Espectros de EDS em micrografia com magnitude de 1000 x. Legenda: A) Micrografia de TiO2. B) Micrografia de CTiO2 Fonte: Inoue (2022). Na Figura 7 tem-se as micrografias de NTiO2 com differentness magnitudes. Observou- se, nesta amostra, a mudança na superfície, em relação ao seu precursor CTiO2, com a formação de filamentos, identificando assim, a formação de fibras. De acordo com Vu et al. (2014), a formação de nanotubos, pelo processo hidrotermal, e seu tamanho, depende do tempo de reação adotado. Assim, nesse trabalho foram obtidos nanofibras com um tempo de reação/refluxo de 5 h, à 130 °C. As espessuras das NTiO2 foram medidas na micrografia de 20000 x, onde foi possível observar espessuras de: 0,050 µm, 0,054 µm, 0,054 µm, 0,060 µm, 0,047 µm, 0,030 µm, resultando em uma média de 0,049 µm. A B Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 56 Figura 7: Micrografias do NTiO2 com magnitudes diferentes. Legenda: (A) 10000 x, (B) 20000 x e (C) 50000 x. (D) Espectro de EDS realizado em micrografia com magnitude de 1000 x. Fonte: Inoue (2022). A análise dos dados de EDS indicou a presença de O e Ti, como esperado, e outros átomos, sendo que os valores percentuais estão dispostos na Tabela 5. Tabela 5: Percentual atômico (%) observado na análise de EDS. Amostras* Ti C N O Na Al Au TiO2 20,98±0,34 11,82±0,40 6,445±1,98 61,41±2,16 - 0,27±0,06 1,21±0,06 CTiO2 23,33±0,37 13,31±0,44 4,69±1,79 58,44±1,99 - 0,20±0,06 1,18±0,06 NTiO2 28,93±0,50 5,23±0,50 8,53±2,29 56,47±2,67 4,58±0,20 0,37±0,10 1,58±0,08 Legenda: *Média e desvio padrão calculados para as três medidas feitas em regiões diferentes de cada amostra. Fonte: Inoue (2022). O ponto de destaque é observado para o percentual atômico de Ti que aumentou na sequencia: 20,98% (TiO2), 23,33% (CTiO2) e 28,93% (NTiO2). A presença de C e Al nas amostras demonstra a interferência do suporte de alumínio e da fita de carbono no preparo das mesmas. Detectou-se Na e Cl para NTiO2, sendo resquício dos reagentes de síntese (NaOH) e de neutralização (HCl), bem como do sal formado cloreto de sódio (NaCl). A presença de Na ainda pode ser devida à formação [Na2TiO3] (VU et al., 2014). Em ambos casos, a detecção de Na pode ser decorrente de lavagem ineficiente da amostra após o processo de centrifugação. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 57 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados da presente pesquisa evidenciaram a purificação de dióxido de titânio (TiO2) por meio de calcinação, síntese de nanofibras (NTiO2) por método hidrotermal com aquecimento convencional e sistema de refluxo. O método hidrotermal com uso de radiação de micro-ondas para síntese de MTiO2 mostrou-se inadequado devido à necessidade de maior manuseio da amostra, apesar de ser considerado um método mais sustentável. Além do mais, a análise de difração de raios X evidenciou que MTiO2 não caracteriza anatase como as demais amostras de TiO2. Os espectros na região do infravermelho não evidenciaram diferenças significativas entre as amostras, apenas foi observada maior definição na banda [δ-OH] na região de 1600 cm-1 para a amostra NTiO2, bem como, banda mais larga e intensa de [ν-OH] na região de 3400 cm-1, sendo ambas pela interação das hidroxilas da amostra com moléculas de água. Em complementação, a análise térmica evidenciou maior perda de massa para NTiO2 até 200 ºC, indicando perda de água e maior hidratação desta amostra. Os dados de espectroscopia eletrônica por energia dispersiva evidenciaram a presença dos átomos esperados, tais como Ti e O, sendo que a amostra NTiO2 mostrou maior porcentagem atômica de Ti. Por fim, essa amostra mostrou-se a mais adequada, devido à facilidade de síntese , além do mais sua forma de nanofibras foi comprovado por microscopia eletrônica de varredura, evidenciando fibras com espessura média de 0,49µm, que equivale a 49 nm. A amostra de NTiO2 mostrou-se apropriada para a confecção de nanocatalisadores heterogêneos suportados em quitosana, com potencial aplicação na fotodegradação de contaminantes orgânicos emergentes presentes em águas residuais, bem como na adsorção desses contaminantes. REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. F. de. Avaliação de processo de adsorção-fotodegradação com esferas de TiO2: Quitosana para tratamento de efluentes de indústria têxtil. 2011. 114 f. Dissertação (Mestrado em Agroquímica) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2011. 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Synthesis and thermal analyses of TiO2-derived nanotubes https://doi.org/10.1016/j.ijbiomac.2017.03.049 http://dx.doi.org/10.1016/j.apsusc.2019.02.060 https://doi.org/10.1016/j.apcatb.2015.05.023 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 61 prepared by the hydrothermal method. Journal of Materials Research, v. 19, n. 4, p. 982– 985, 2004. Disponível em: https://dx.doi.org/10.1557/JMR.2004.0128. Acessado em: Out. 2023. VITORETI, A. B. F. et al. Titanium dioxide application in solar cells. Revista Virtual de Química, v. 9, n. 4, p. 1481-1510, 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.21577/1984- 6835.20170086. Acessado em: Out. 2023. VU, T. H. T. et al. Synthesis of titanium dioxide nanotubes via one-step dynamic hydrothermal process. Journal of Materials Science, v. 49, n. 16, p. 5617–5625, 2014. Disponível em: https://dx.doi.org/ 10.1007/s10853-014-8274-4. Acessado em: Out. 2023. WIST, J. et al. 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Acessado em: Out. 2023. http://dx.doi.org/10.1007/s10853-014-8274-4 http://dx.doi.org/10.1016/j.matchemphys.2017.09.022 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 62 CAPÍTULO 4 TENDÊNCIA ESPACIAL DE NÍVEIS DE RIOS NAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DE ALAGOAS E PERNAMBUCO1 Cézar Daniel Ferreira de Menezes Brisa Soriano de Andrade Djane Fonseca da Silva1 Henrique Ravi Rocha de Carvalho Almeida Pedro Fernandes de Souza Neto Josicleda Domiciano Galvíncio Heliofábio Barros Gomes RESUMO Há uma crescente urgência de estudo sobre eventos extremos de precipitação, diante o aumento de ocorrência e intensidade destes, o que consequentemente faz com que rios atingam também eventos extremos de transbordamento, enchentes e alagamentos. Desse modo, populações vulneráveis em áreas de risco são fortemente atingidas, exigindo assim, uma governança ambiental dos riscos dos desastres naturais que proporcione o desenvolvimento da capacidade de adaptação das sociedades modernas. Alagoas e Pernambuco obtiveram em 2022, altos valores de precipitação em decorrência da variabilidade das temperaturas e fenômenos climáticos nos Oceanos Pacífico (La Niña) e Atlântico (Atlântico Sul aquecido), gerando grandes transtornos nesses estados, incluindo a capital, e entre esses transtornos, transbordamento dos principais rios. Desse modo, o objetivo dessa pesquisa analisar séries de níveis de rios das suas Bacias hidrográficas e calcular suas tendências, sugerindo assim, o comportamento futuro dos níveis de rios. Foram usados dados de níveis de rios das principais bacias hidrográficas de Alagoas e Pernambuco, período 1990 a 2021 para detectar tendências climáticas e sua distribuição espacial. Esses dados foram obtidos da Agência Nacional de Águas (ANA). Foram aplicadas as estatísticas do teste de Mann-Kendall e o teste de significância de T-Student a esses dados. A análise das tendências indicou que houve tendência à diminuição de níveis de rios em quase todas as regiões hidrográficas do estado de Alagoas. Já a tendência mensal indicou os meses em que o nível dos rios alagoanos costuma ter aumento ou redução. A região do Sertão foi a região em que mais teve tendência à diminuição ao longo do ano, tendo redução de nível em quase todos os meses. Todo o Leste do estado, região esta que tem a contribuição de sistemas como ENOS, Dipolo do Atlântico e Ondas de Leste, apresentou tendência positiva na maioria dos meses, ou seja, aumento no nível das bacias hidrográficas. Além disso, foi possível comprovar tendências positivas de níveis de rio em anos de enchentes históricas no estado de Alagoas. Foi possível também atestar que as maiores tendências de aumento de cotas de rio para o estado de Pernambuco estão nas sub-bacias do sudeste pernambucano, região do Agreste. As maiores médias anuais de tendências de aumento de cotas de rio estão nas sub bacias do sudeste pernambucano, incluindo as sub bacias do rio Capibaribe, que passa pela capital Recife. PALAVRAS-CHAVE: ENOS; Cheias; Secas; Mann-Kendall. 1 INTRODUÇÃO Eventos extremos de chuva e seca estão sendo relacionados à ocorrência de desastres naturais e associados simultaneamente com o aumento da população nos grandes centros 1 Programa de Pós-graduação em Meteorologia (PPGMET), Instituto de Ciências Atmosféricas (ICAT), Universidade Federal de Alagoas (UFAL). DOI 10.47402/ed.ep.c240211964867 http://lattes.cnpq.br/38712840667020 https://lattes.cnpq.br/6445140247269479 http://lattes.cnpq.br/4845745142696485; http://lattes.cnpq.br/6048005080084638 http://lattes.cnpq.br/4939680141716056 http://lattes.cnpq.br/7217736964361440 http://lattes.cnpq.br/5514144631922874 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em CiênciasExatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 63 urbanos, e a frequência e intensidade desses desastres estão associados às variabilidades e mudanças climáticas (SILVA et al., 2022). Conhecimentos prévios sobre cursos d’água são de extrema importância para supervisão de comportamento e condução aos possíveis métodos estruturais ou não estruturais no controle de inundações urbanas, e assim elaborar possíveis sistemas que atendem ao meio público (CORTEZ et al., 2019). De acordo com Tucci (2008), os rios geralmente possuem dois leitos. As inundações ocorrem quando o escoamento atinge níveis superiores ao leito menor, atingindo o leito maior. As cotas do leito maior identificam a magnitude da inundação e seu risco. Ainda segundo Tucci (2008), quando a precipitação é intensa e a quantidade de água que chega simultaneamente ao rio é superior à sua capacidade de drenagem, ou seja, os da sua calha normal resultam inundação nas áreas ribeirinhas. Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) (ONU, 2020), o Brasil está entre os países com maior número de pessoas expostas a inundações e aponta este tipo de desastre como o mais comum no país desde o ano 2000. Ainda segundo o relatório, o Brasil aparece entre os 15 países do globo com a maior população exposta ao risco de inundação de rios. Os riscos de extremos hidrológicos para um local ou região estão associados aos modos de variação do clima, em suas diversas escalas temporais (sazonal, interanual, multidecadal e centenária), que determinam, por exemplo, a duração e severidade de eventos de seca. A partir da compreensão desses modos é possível quantificar os riscos associados e definir mecanismos para gerenciá-los (ROCHA et al., 2019). Assim, conhecer as tendências anuais e mensais do nível de rios de bacias hidrográficas é importante para o monitoramento ou previsões de secas e enchentes nessas regiões, preparando assim as populações para futuros desastres ou perdas. As evidências dos impactos observados, dos riscos projetados, dos níveis e tendências de vulnerabilidade e dos limites de adaptação demonstram que a ação mundial de desenvolvimento resiliente às alterações climáticas é mais urgente do que a avaliada anteriormente na AR5. Respostas abrangentes, eficazes e inovadoras podem aproveitar sinergias e reduzir os trade-offs entre adaptação e mitigação para promover o desenvolvimento sustentável (IPCC, 2022). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 64 O objetivo desse trabalho é realizar análises de tendências das principais bacias hidrográficas de Alagoas e Pernambuco, nas quais é possível verificar séries de níveis de rios. Os resultados podem indicar com antecedência quando serão os próximos eventos de secas e enchentes, assim alertando a população com antecedência. 2 METODOLOGIA 2.1 Dados Foram usados dados de níveis de rio das principais bacias hidrográficas de Alagoas e Pernambuco, período 1990 a 2021 para detectar tendências climáticas e sua distribuição espacial. Esses dados foram obtidos da Agência Nacional de Águas (ANA) (HIDROWEB, 2022). As sub-bacias de Alagoas estudadas foram: Mundaú, Coruripe, Paraíba, Capiá, Ipanema, Traipu, São Miguel, Talhada, Piauí, Estivas, Camaragibe, Jacuípe, Manguaba, Riacho Grande e Moxotó, e suas latitudes e longitudes encontram-se na Tabela 1. As de Pernambuco foram: Araripina, Afrânio, Carnaiba, Belo Jardim, Garanhuns, Caruaru, Quipapá, Ribeirão, Goiania, Timbaúba, Cumaru, Gravatá, Jaboatão dos Guararapes e Serra Talhada, e suas latitudes e longitudes encontram-se na Tabela 2. Tabela 1: Latitude e longitude das estações das sub-bacias de Alagoas estudadas. Sub-bacias Latitude (º) Longitude (º) Mundaú -9,1678 -36,2175 Coruripe -10,0311 -36,3036 Paraíba -9,5067 -36,0228 Capiá -9,2181 -37,4769 Ipanema -9,7664 -37,0081 Traipu -9,9714 -37,0028 São Miguel -9,6858 -36,2853 Talhada -9,6261 -37,7561 Piauí -10,4167 -36,4333 Estivas -9,7164 -35,8917 Camaragibe -9,12972 -35,5475 Jacuípe -8,8411 -35,4469 Manguaba -9,0483 -35,4067 Riacho grande -9,7514 -37,4464 Moxotó -8,908 -37,8181 Fonte: Autoria própria (2023). Tabela 2: Latitude e longitude das estações das sub-bacias de Pernambuco estudadas. Sub-bacias Latitude (º) Longitude (º) Araripina -40,4968 -7,57807 Afrânio -41,0099 -8,51164 Carnaíba -37,6667 -8,7 Belo jardim -36,4245 -8,33579 Garanhuns -36,4966 -8,89074 Caruaru -35,9735 -8,28139 Quipapa -36,0209 -8,81442 Ribeirão -35,3739 -8,50316 Goiania -35,002 -7,572 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 65 Timbaúba -35,314 -7,5031 Cumaru -35,702 -8,00091 Gravata -35,5695 -8,2096 Jaboatão dos Guararapes -35,0154 -8,11208 Fonte: Autoria própria (2023). Os mapas de distribuição espacial de níveis de rio foram feitos usando o software Surfer versão 9.0, com licença pessoal. As maiores/mais importantes BH do estado de Alagoas, segundo SEMARH (2022) são Sertão do São Francisco, Mundaú-Paraíba, Piauí e Litoral Norte. Segundo a APAC (2022) as maiores/ mais importantes BH do estado de Pernambuco são Goiana, Capibaribe, Ipojuca, Sirinhaém e Una. Figura 1: Regiões hidrográficas de Alagoas. Fonte: Alagoas em dados e informações (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 66 Figura 2: Regiões hidrográficas de Pernambuco. Fonte: Mapas Blog (2023). 2.2 Teste de mann-kendall As séries de nível de rio de cada sub-bacia hidrográfica foram submetidas à análise de tendência pelo teste de Mann-Kendall. O teste é indicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) para avaliação de tendências significativas em séries dados temporais compatíveis com aplicações ambientais, e é um teste não paramétrico. Esse teste foi proposto a princípio por Mann (1945), posteriormente melhorado por Kendall (1975), gerando a relação estatística. É amplamente utilizado para testar tendências em séries temporais hidrológicas e climatológicas (BLAIN; KAYANO, 2011). A estatística do teste é descrita na equação 1: S= ∑𝑖𝑖=2𝑛𝑛 ∑𝑗𝑗=1𝑖𝑖=1𝑀𝑀𝑖𝑖𝑔𝑔𝑛𝑛�𝑋𝑋𝑖𝑖 − 𝑋𝑋𝑗𝑗� (1) Em que: xj são os dados estimados da sequência de valores, n é o comprimento da série temporal e o sinal (xi – xj) é igual a -1 para (xi – xj) < 0, 0 para (xi– xj) = 0, e 1 para (xi– xj) > 0. Kendall (1975) demonstrou que S é, em geral, distribuída com média E(S) e variância Var(S), para uma situação em que pode haver valores iguais de x, são expressas pelas equações 2 e 3: E[S]=0 (2) Var[S]=𝑛𝑛(𝑛𝑛−1)(2𝑛𝑛+5)−∑𝑞𝑞𝑒𝑒=1𝑛𝑛𝑒𝑒�𝑛𝑛𝑒𝑒−1��2𝑛𝑛𝑒𝑒+5� 18 (3) Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 67 Sendo (tp) é número de dados com valores iguais em um determinado grupo (pth) e q é o número de grupos com valores iguais na série de dados em um certo grupo p. O segundo termo corresponde a um ajuste para dados censurados. O teste estatístico parametrizado (ZMK) é descrito pela seguinte equação: 𝑧𝑧𝑀𝑀𝑀𝑀 = 𝑠𝑠−1 �𝑣𝑣𝑛𝑛𝑟𝑟 (𝑠𝑠) 𝑝𝑝𝑁𝑁𝑝𝑝𝑁𝑁 𝑠𝑠 > 0; 0 𝑝𝑝𝑁𝑁𝑝𝑝𝑁𝑁 𝑠𝑠 = 0; 𝑠𝑠+1 �𝑣𝑣𝑛𝑛𝑟𝑟(𝑠𝑠) 𝑝𝑝𝑁𝑁𝑝𝑝𝑁𝑁 𝑠𝑠 < 0 (4) A presença de uma tendênciaestatisticamente significativa é avaliada usando o valor de Z. Essa estatística é usada para testar a hipótese nula, ou seja, que não existe tendência. Um valor positivo de ZMK indica um aumento da tendência; quando negativa, indica uma tendência decrescente. Para testar a tendência crescente ou decrescente no nível de significância de p, a hipótese nula é rejeitada se o valor absoluto de Z for maior que 𝑧𝑧1 − 𝑝𝑝/2, utilizando-se a tabela da distribuição normal cumulativa padrão (SILVA et al., 2010). Os níveis de significância de p = 0,01 e 0,05 foram adotados neste estudo. Uma estimativa não paramétrica para o valor da inclinação da tendência é dada pela equação 5: β= Median�𝑋𝑋𝑖𝑖−𝑋𝑋𝑗𝑗 𝑗𝑗−𝑖𝑖 � para i < j (5) Em que: xj e xi são os pontos dados medidos no tempo j e i, respectivamente. Esse método também foi utilizado conforme descrito por Silva (2009), Silva et al. (2010), Blain e Kayano (2011), Silva (2017) e Bonfim et al. (2020). Para se verificar se há ou não significância estatística nas tendências obtidas no teste de Mann-Kendall, foi utilizado o teste de T-Student. Para amostras de tamanho N > 30, que são chamadas de grandes amostras, as distribuições das amostras de diversas estatísticas são quase normais e melhores com o crescimento de N. Já para amostras com tamanho N < 30, que são as pequenas amostras, as distribuições amostrais de diversas estatísticas são ruins, e tornam-se piores com o decréscimo de N, de tal forma que devem ser introduzidas as modificações adequadas. Um dos testes de significância mais empregado é o “T-Student”, sendo amplamente utilizado nos estudem pesquisas na área da meteorologia (SILVA, 2009; BONFIM et al., 2020), sendo descrita conforme a equação 6: 𝑇𝑇𝑇𝑇 = 𝑛𝑛 √𝑛𝑛−2 + 𝑡𝑡² (6) Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 68 Em que: tc = valor do percentil é o grau de liberdade. Foi usado ρ = 0,95 ou 95%; t = valor do percentil tabelado de acordo com υ (n-1); n é o número de dados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Sub-bacias hidrográficas de alagoas Foram feitos cálculos de tendências nas séries de níveis de rio das sub-bacias das principais bacias hidrográficas de Alagoas, e logo após foram gerados mapas de distribuição espacial das mesmas. Em Oliveira et al. (2014) foi analisado o histórico de enchentes ocorridas na Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú e na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Meio, que faz fronteira com a do Mundaú, e juntas, deságuam suas águas no Complexo Estuarino-Lagunar Mundaú- Mangaba (CELMM) em Alagoas. Foi destacada a cheia ocorrida em junho de 2010, quando os desastres foram tão impactantes principalmente nos municípios alagoanos, que além de ser amplamente noticiado em todo o Brasil, os prejuízos trouxeram consequências que são sentidas até hoje na área afetada. Além disso, os autores ainda afirmam que duas das cinco grandes cheias que se tem registros, na Bacia Hidrográfica do Rio Mundaú e na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Meio, ocorreram nos anos 2000 e 2010. Na Tabela 3 é possível analisar e comparar a tendência média anual de níveis entre as sub-bacias. É visível que houve tendência à diminuição de nível em 14 das 15 sub-bacias. Ou seja, maioria das sub-bacias demonstraram diminuição do seu nível. A sub-bacia que apresentou maior diminuição em seu nível foi Talhada (Sudoeste do estado), com redução pouco maior que 200 centímetros em seu nível ao longo de toda série. Riacho Grande, Traipu e Coruripe também tiveram redução considerável, com redução de 185, 159 e 144 centímetros, respectivamente. Manguaba e Jacuípe (Nordeste de AL) tiveram a menor redução de nível, com 2 e 6 centímetros a menos, respectivamente. Tabela 3: Tendência média anual das sub-bacias de Alagoas. Sub-bacias Tend anual (cm) Tend série (cm) Status Mundaú -0,3554034 -11,3729088 Diminuição com significância estatística Coruripe -4,51400768 -144,4482459 Diminuição com significância estatística Paraíba -0,51692515 -16,54160491 Diminuição sem significância estatística Capiá -3,488416055 -111,6293137 Diminuição sem significância estatística Ipanema -0,66279433 -21,20941883 Diminuição sem significância estatística Traipu -4,97957708 -159,3464668 Diminuição com significância estatística São Miguel -0,47985484 -15,35535492 Diminuição sem significância estatística Talhada -6,76061196 -216,3395828 Diminuição com significância estatística Piauí -2,06111593 -65,95570996 Diminuição sem significância estatística Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 69 Estivas 0,19507521 6,242406904 Aumento sem significância estatística Camaragibe -2,40918087 -77,09378795 Diminuição sem significância estatística Jacuípe -0,20089821 -6,428742936 Diminuição sem significância estatística Manguaba -0,07184096 -2,298910814 Diminuição sem significância estatística Riacho Grande -5,79697635 -185,5032433 Diminuição com significância estatística Moxotó -1,49760792 -47,92345357 Diminuição sem significância estatística Fonte: Autoria própria (2023). Ao analisar os mapas de distribuição espacial de tendência média mensal de níveis de rios (Figuras 3 a 14), é possível observar regiões do estado alagoano em que houveram tendências de diminuição ou aumento dos níveis de rio. Figura 3: Janeiro. Figura 4: Fevereiro. Figura 5: Março. Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Figura 6: Abril. Figura 7: Maio. Figura 8: Junho. Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Figura 9: Julho. Figura 10: Agosto. Figura 11: Setembro. Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Figura 12: Outubro. Figura 13: Novembro. Figura 14: Dezembro. Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 70 A região do Sertão apresentou tendência à seca em todos os meses do ano, sendo agosto, setembro, novembro e dezembro (Figuras 10 a 14), os meses com maior tendência negativa. Por outro lado, a região Leste do estado teve maioria das tendências como positivas ao longo do ano, ou seja, tendência ao aumento do nível das sub-bacias desta região, as quais seriam por exemplo, Mundaú, Jacuípe, Camaragibe e Maragogi. No leste do estado, a máxima tendência de aumento de níveis de rio ocorreu em Março (+3,0) (Figura 5). A região Agreste teve tendência negativa de níveis de rio em todos os meses do ano. A região do Baixo São Francisco (Figura 5) teve tendência à diminuição de nível em janeiro e fevereiro (Figuras 2 e 4), porém em março já teve tendência ao aumento. Em abril, maio, junho e julho (Figuras 6 a 9) a tendência foi negativa. A partir de agosto já se torna positiva, mostrando a frequente variação das tendências para níveis de rio nessa importante sub bacia. Toda a região Leste do estado apresentou tendência positiva nos meses de março, abril e maio.Esse comportamento nesses meses pode ter influência do fenômeno ENOS no Leste do Nordeste (LN) e alguns sistemas discutidos a seguir. Sistemas como os Distúrbios ondulatórios de Leste (DOL) podem influenciar na tendência de nível das sub-bacias hidrográficas da região Leste do Nordeste em determinados meses, quando estes sistemas estão ocorrendo, ou até mesmo no mês posterior, mediante sua intensidade e duração. Segundo Neves et al. (2016), DOL são sistemas atmosféricos presentes na região tropical, preferencialmente sobre áreas dos oceanos Atlântico e Pacífico. Sobre o Atlântico são identificados, inicialmente, próximos à costa oeste do continente Africano e se propagam embebidos no fluxo dos Alísios, em forma de ondas que se deslocam de leste para oeste. No Atlântico tropical sul, os DOL atuam, preferencialmente, sobre o leste do Nordeste do Brasil (NEB), contribuindo significativamente para os totais anuais de chuva nessa região, e consequentemente nos níveis dos rios. As regiões costeiras do NEB recebem em média um total de precipitação anual de 1600 mm, enquanto que em muitas áreas do interior, o total pluviométrico é da ordem de 750 mm (KOUSKY; CHU, 1978). Esta variabilidade está associada também aos eventos ENOS (El Niño/Oscilação Sul) sobre o Pacífico Equatorial e a ocorrência de anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) sobre o Atlântico Tropical (NÓBREGA et al., 2006). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 71 Segundo Silva et al. (2015), a bacia hidrográfica do Mundaú, que situa-se na região nordeste do Brasil, em áreas do estado de Pernambuco a Alagoas, é conhecida por apresentar em alguns anos secas severas ou chuvas excessivas, têm sido relacionada aos padrões anômalos de grande escala da circulação atmosférica global associados ao fenômeno El-Niño-Oscilação Sul (ENOS). No mês de julho (Figura 9) foi possível observar forte tendência positiva na sub-bacia do Mundaú, mês este que representa um dos maiores índices de precipitação no ano para o local. Os meses de fevereiro a julho correspondem a aproximadamente 73% de toda precipitação anual local. O período chuvoso da região coincide com a época em que há atuação de DOL, que somadas aos sistemas de escala local (Convergência dos Alísios e Brisas), intensificam as chuvas, principalmente à noite (COSTA et al., 2005). Em junho e julho (Figuras 8 e 9) existe tendência negativa no nível da sub-bacia Camaragibe, Leste do estado (latitude -9,12972º e longitude -35,5475º), e também nas sub- bacias do litoral Norte do estado. Em agosto (Figura 12) essa tendência negativa recua um pouco e volta a aparecer em setembro (Figura 11), se estendendo até dezembro (Figura 14), porém com menos intensidade. A sub-bacia Ipanema, situada na transição do Agreste para o Sertão, indo de Sudoeste a Noroeste (latitude -9,7664º e longitude -37,0081º), teve tendência ao aumento de nível do rio em todos os meses, com exceção de agosto (Figura 10). Agosto também foi o mês em que toda a região do Sertão e agreste do estado de Alagoas apresentaram tendência negativa. Ao contrário da SB Ipanema (extremo Oeste), já no Alto Sertão a sub-bacia Coruripe (latitude -9,7436º e longitude -36, 5039º) apresentou tendência negativa durante todos os meses, variando apenas a intensidade dessa tendência negativa. Na Figura 15 verifica-se que o leste de Alagoas apresenta as sub-bacias com média anual de níveis de cotas de rio próximo a zero ou levemente negativas (em azul), significando que os níveis de rio estão próximo à média ou tendo pouca diminuição ao longo da série. Citam-se as sub-bacias Mundaú, Estivas, Manguaba e Piauí. No entanto, no centro de Alagoas, uma área azul se destaca com níveis de rio próximo ao normal; é a sub-bacia do rio Paraíba. Já do centro sul de Alagoas ao oeste do estado, as sub-bacias apresentaram valores de níveis de rio mais abaixo do normal (em vermelho), com tendências negativas mais intensas; ou seja, os rios estão ao longo do tempo diminuindo seus níveis; entre essas sub-bacias estão Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 72 Rio Grande, Traipú, Capiá e Talhada, sub-bacia essa que está incluída a cidade de Piranhas, a qual se destaca com fortes tendências negativas de rio, sugerindo que neste local, o rio São Francisco está diminuindo seu nível ao longo do tempo. Figura 15: Tendências médias anuais de cotas de rio para sub bacias de Alagoas. Fonte: Autoria própria (2023). Silva et al. (2020) também encontraram valores de precipitação que corroboram com os encontrados nos resultados acima citados. Segundo os autores, os eventos extremos que ocorrem em Alagoas e afetam a precipitação e, consequentemente, os níveis de rio, estão relacionados com o Dipolo do Atlântico (SOUZA et al., 1998; CLAUZET; WAINER, 1999) e com o ciclo de Manchas solares (ECHER, 2003; MOLION, 2005). 3.2 Sub-bacias hidrográficas de Pernambuco Na Tabela 4 pode-se observar que das 14 sub-bacias, 5 tiveram tendência à diminuição, as sub-bacias de Araripina, Afrânio, Belo Jardim, Garanhuns e Cumaru, e salienta-se que uma sub-bacia não se obteve dados suficientes. As sub-bacia que apresentaram maior diminuição em seu nível foi Araripina e Garanhuns, com redução de -6,20 cm e -5,11682 cm em seu nível. Belo Jardim e Cumaru tiveram menor redução de nível. A sub-bacia que teve maior aumento foi Ribeirão com 4,76 cm. Tabela 4: Tendência anual das sub-bacias de Pernambuco. Sub-bacias Tend Anual (cm) Tend Série (cm) Status Araripina -1,034 -6,20 Diminuição sem significância estatística Afrânio -0,01 -0,46863 Diminuição sem significância estatística Carnaiba 0,030802 0,154011 Aumento sem significância estatística Belo Jardim -0,00201 -0,10635 Diminuição sem significância estatística Garanhuns -0,26931 -5,11682 Diminuição sem significância estatística Caruaru 0,054138 0,270689 Aumento sem significância estatística Quipapá 0,251185 2,763034 Aumento sem significância estatística Ribeirão 0,23813 4,762593 Aumento sem significância estatística Timbaúba 0,003926 0,01963 Aumento sem significância estatística Cumaru -0,03166 -0,60152 Diminuição sem significância estatística Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 73 Gravatá 0,09 2,1014 Aumento sem significância estatística Jaboatão dos Guararapes 0,01999284 0,719742 Aumento sem significância estatística Serra Talhada 0,152789 0,763943 Aumento sem significância estatística Fonte: Autoria própria (2023). Ao analisar os mapas de distribuição espacial de tendência média mensal de níveis de rio, é possível observar regiões do estado de Pernambuco onde houveram tendências positivas e negativas. No mês de Janeiro (Figura 16) as regiões central e metropolitana apresentaram tendência de aumento (em azul) e a tendência negativa (em vermelho) na região do Sertão e do Rio São Francisco indicam diminuição das cotas de nível do rio essa configuração se estende até Maio (Figura 20). Figura 16: Janeiro. Figura 17: Fevereiro. Figura 18: Março. Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Figura 19: Abril. Figura 20: Maio. Figura 21: Junho. Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Figura 22: Julho. Figura 23: Agosto. Figura 24: Setembro. Fonte: Autoria própria (2023).Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 74 Figura 25: Outubro. Figura 26: Novembro. Figura 27: Dezembro. Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Fonte: Autoria própria (2023). Nos meses de março e abril (Figuras 18 e 19) na região do Sertão e da Mata verifica-se tendências de aumento de cotas de rio (em azul) das sub bacias de Serra Talhada e Ribeirão. Já próximo as longitude -37º e -36º durante os meses de junho, julho e agosto e volta em dezembro, na região do Agreste (Garanhuns, Caruaru e Gravatá) são regiões mais propensas a serem afetadas pelas chuvas, por suas tendências serem sempre positivas. Em novembro (Figura 26) a região do Sertão e da Mata tiveram uma tendência positiva (em azul) leve na Longitude -41º, e no mesmo mês, continuou tendência positiva nas sub-bacias da região Metropolitana do Recife. Já durante o mês de dezembro (Figura 27) próximo a Longitude -38º (em vermelho) foi a única área onde ocorreu tendência negativa, e a maioria do estado (em azul) teve tendência de aumento em suas cotas de rio. Durante alguns os meses o agreste de Pernambuco (Garanhuns, Belo Jardim e Caruaru) teve uma tendência de aumento de nível de rio. Os principais sistemas meteorológicos responsáveis pelas chuvas no Agreste pernambucano são a ZCIT, os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior (VCAS), os Distúrbios de Leste e as instabilidades associadas às Frentes Frias (LACERDA et al., 2006), o que faz com que a chuva ocorra ao longo do ano, com sistemas distribuídos em períodos e meses diferentes. Salgueiro et al. (2016) analisaram a relação existente entre os eventos extremos registrados no Nordeste do Brasil, com as anomalias das TSM e os sistemas atmosféricos atuantes na região no período de 1943 a 2013, e o resultados apontaram que os eventos extremos (secas e chuvas intensas) estão mais associados a influência do Dipolo do Atlântico do que ao ENOS. As maiores médias de tendências de aumento de cotas de rio estão nas sub bacias do sudeste pernambucano (Figura 28), incluindo as sub bacias do rio Capibaribe, que passa pela capital, Recife, Sirinhaém, Mundaú e Una. No centro do estado, as sub bacias Pajeú e Moxotó, afluentes do rio São Francisco, também apresentaram leve tendência de aumento de suas cotas Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 75 de rio, indicando leve aumento do nível dos rios. Já no sul do estado, próximo à longitude de - 37º, área dentro da sub bacia do rio Ipanema, as tendências são de diminuição nas cotas de rio. O mesmo foi observado para o noroeste do estado, na sub bacia do rio Brígida. De acordo com Oliveira et al. (2013), a problemática das enchentes no Brasil é antiga e atinge uma grande parcela da população de Pernambuco, principalmente aquela que vive próxima a regiões ribeirinhas e mais desfavorecidas economicamente. A região da Mata Sul do Estado de Pernambuco, foi bastante afetado por inundações em junho de 2010, e os danos causados resultaram na necessidade de implementar estratégias para mitigar o problema. No presente trabalho, também foram encontradas tendências de aumento de níveis de rio na região sudeste do estado. Figura 28: Tendências médias anuais de cotas de rio para sub-bacias de Pernambuco. Fonte: Autoria própria (2023). Os resultados desta pesquisa também corroboram com Miranda et al. (2017), que encontraram suscetibilidade à ocorrência de inundação na sub bacia do rio Una, sudeste do estado de Pernambuco, apontando como situações graves as ocorridas nos anos de 2005, que foi a principal inundação e enchente ocorridas na história recente, além de outras graves ocorrências em 2010 e 2011. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise das tendências indicou que houve tendência à diminuição de níveis de rios em quase todas as regiões hidrográficas do estado de Alagoas. Já a tendência mensal indicou os meses em que o nível dos rios alagoanos costuma ter aumento ou redução. A região do Sertão foi a região em que mais teve tendência à diminuição ao longo do ano, tendo redução de nível em quase todos os meses. Todo o Leste do estado, região esta que tem a contribuição de sistemas como ENOS, Dipolo do Atlântico e Ondas de Leste, apresentou tendência positiva na maioria dos meses, ou seja, aumento no nível das bacias hidrográficas. Além disso, foi possível Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 76 comprovar tendências positivas de níveis de rio em anos de enchentes históricas no estado de Alagoas. Foi possível também atestar que as maiores tendências de aumento de cotas de rio para o estado de Pernambuco estão nas sub-bacias do sudeste pernambucano, região do Agreste. As maiores médias anuais de tendências de aumento de cotas de rio estão nas sub bacias do sudeste pernambucano, incluindo as sub bacias do rio Capibaribe, que passa pela capital Recife. REFERÊNCIAS ALAGOAS EM DADOS E INFORMAÇÕES. 2023. Disponível em: https://dados.al.gov.br/catalogo/dataset/3b2b1cf6-da0c-4f68-98cc- f22410914d95/resource/6bdfc666-65cf-4baf-8ca1- 492c50131690/download/bacianovoooo.png. Acessado em: Ago. 2023. APAC, 2022. Agência Pernambucana de Águas e Clima. Disponível em: https://www.apac.pe.gov.br/. Acessado em: Set. 2022. ARAGÃO, J. O. R. 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Esses conceitos são abordados no 3° ano do ensino médio, e na tentativa de propor aulas de Física contextualizadas foi utilizado o método da experimentação para abordar os conceitos do eletromagnetismo através da construção e do funcionamento do telégrafo. Trata-se de um instrumento de baixo custo, com materiais acessíveis e fácil de construir. A partir do princípio de funcionamento desse instrumento as aulas de Física se tornam mais contextualizadas, interdisciplinares, interativas e participativas, para instigar os alunos a compreenderem a importância do eletromagnetismo para a sociedade e para os avanços tecnológicos. Desse modo, objetiva com este trabalho aprender a construir o instrumento e sobre a importância do uso de experimentos em sala de aula. PALAVRAS-CHAVE: Telégrafo; Eletromagnetismo; Ensino de Física; Atividade experimental. 1 INTRODUÇÃO A experimentação no ensino de Física é uma das principais ferramentas de apoio ao ensino e a aprendizagem dessa ciência, pois ajuda a tornar os conteúdos estudados, às vezes considerados abstratos em fenômenos que podem ser observados, proporcionando aulas contextualizadas, dinâmicas, atrativas que despertam o interesse ao aluno pela investigação. Além disso, quando se usa a experimentação em aula, seja como apresentação ou com a participação conjunta do aluno na construção, utilizando da interdisciplinaridade, possibilita- se uma melhor compreensão dos conteúdos ministrados, como também contribui para a construção de cidadãos reflexivos, ativos e críticos na sociedade. Para Silva (2016), o aluno para ser ativo no ensino e aprendizagem é preciso que o professor busque alternativas, a experimentação é uma delas. Para tanto, foi construído um protótipo do telégrafo pois seu funcionamento aborda os conteúdos do eletromagnetismo presentes na disciplina de Física do Ensino Médio, conceituou- se também os fatos históricos do eletromagnetismo e da invenção do telégrafo, bem como abordou-se sobre os avanços tecnológicos importantes para a comunicação na década de 1980 DOI 10.47402/ed.ep.c240211975867 http://lattes.cnpq.br/4371604035019735 http://lattes.cnpq.br/7477444853080371 http://lattes.cnpq.br/3837581949900912 Editora e-Publicar– Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 82 que contribuíram para a sociedade atual, no qual são indissociáveis da vida cotidiana. O instrumento foi desenvolvido com materiais acessíveis e de baixo custo e foi apresentado nas aulas de Física aos alunos do 3º ano do Ensino Médio do Centro Estadual de Tempo Integral (CETI) Marcos Parente durante a atuação da pesquisadora como bolsista no programa de Residência Pedagógica do subprojeto de Física do Instituto Federal do Piauí Campus Picos. Neste experimento os alunos tiveram que identificar os conceitos elétricos e magnéticos presentes no instrumento e a interação entre esses dois fenômenos, como por exemplo o eletroímã, fundamental para o instrumento. Como também identificar a direção e o sentido da corrente elétrica e do campo magnético, e explicar através dos conceitos os fenômenos observados com o funcionamento do instrumento. Discutiu-se ainda, sobre o tipo de circuito elétrico (série, paralelo ou misto), tipo de corrente (alternada ou contínua), sinais elétricos de curtos e longo duração que são responsáveis por emitir o código de Morse usado na comunicação, a importância do interruptor e diferenciar a parte do protótipo que é transmissor e receptor. Costa e Silveira (2016) ressaltam que o professor precisa oferecer ferramentas e ambiente em sala de aula para estimular a participação do aluno através de desafios contextualizados, assim o presente trabalho sugere essa proposta do uso do telégrafo para promover a investigação aos alunos pelo funcionamento do experimento e exploração dos conceitos físicos envolvidos em seu funcionamento. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA Até o século XIX o estudo da eletricidade e do magnetismo era de forma independentes, até então não se percebia a relação entre os dois fenômenos, foi em 1820 que o físico dinamarquês Hans Christian Oersted (1777-1851), ao realizar experimentos observou que a agulha da bússola que estava próxima do fio condutor mudava de direção quando a corrente elétrica percorria um fio, assim deduziu que cargas elétricas em movimento podem gerar campo magnético, dando assim o “start” para o eletromagnetismo como se conhece atualmente (MUSSOI, 2005). Tanto os fenômenos magnéticos como os elétricos passaram a ser entendidos como tendo a mesma origem, o movimento dos elétrons. No entanto, a força elétrica atua sobre uma carga, esteja em repouso ou em movimento e a força magnética atua apenas sobre cargas em movimento (YOUNG; FREEDMAN, 2009). E a soma dessas duas forças que age de forma Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 83 simultânea sobre uma partícula carregada é chamado de força de Lorentz, escrita pela equação matemática apresentada na equação 1 (HALLIDAY; RESNICK; KRANE, 2012). eq.1 Com o Eletromagnetismo “se previam extraordinárias perspectivas tecnológicas. E assim foi. Iniciou-se em todo o mundo uma frenética corrida na busca das inúmeras aplicações práticas que essa descoberta prometia” (GASPAR, 2013, p. 166). Como também surgiram diversas tentativas para explicar fenômenos e estabelecer leis que regem esse ramo da Física que possuem infinitas aplicações e contribuições para a sociedade e para a natureza. Por exemplo, os aparelhos que gravam e leem informações em forma magnética, como os discos rígidos dos computadores, os trens levitados magnéticos e outras aplicações são possíveis devido à descoberta de campos magnéticos produzidos por correntes elétricas (HALLIDAY; RESNICK; WALKER, 2009). Dentre as diversas descobertas, estudos e contribuições na ciência e na sociedade que o eletromagnetismo proporcionou, ressalta-se o telegrafo que foi utilizado como meio de comunicação no século XVII, revolucionando-a. A principal tecnologia desenvolvida a partir do eletromagnetismo utilizada neste equipamento foi o eletroímã que fica na parte receptora das mensagens. O eletroímã é um ímã temporário construído por materiais que são facilmente imantados, como por exemplo o ferro, envolto por solenóide (fio condutor enrolado de modo a formar um conjunto de espira ao longo de um cilindro) no qual quando a corrente elétrica percorre as espiras, gera um campo magnético no interior e no exterior do solenóide (LUZ; ÁLVARES, 2005). Assim, o eletroímã atrai materiais ferromagnéticos da mesma forma que os ímãs permanentes. Foi o físico, filósofo, cientista e matemático francês André-Marie Ampère (1775-1836) que mostrou experimentalmente que um fio de cobre enrolado em forma de solenóide produz os mesmos efeitos de imã em forma de barra quando uma corrente elétrica percorre o fio (BISCUOLA; BÔAS; DOCA, 2007). As aplicações do eletroímã também são encontradas nas campainhas, nos telefones, nos motores, na indústria de construção naval e no guindaste eletromagnético usado principalmente em ferro velho, entre outras. 2.1 O Telégrafo O telégrafo elétrico foi inventado por volta da década de 1830, pelo americano pintor Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 84 Samuel Finley Breeze Morse (1791-1872), visando transmitir mensagens a longas distâncias e de maneira rápida e confiável. Os telégrafos usavam códigos que representavam as letras e números por traços e pontos, em homenagem ao criador do aparelho o sistema de códigos ficou conhecido como código Morse. No ano de 1837 foi registrada a patente do telégrafo e o código Morse, de acordo com Fiolhais et al. (2009). A primeira linha telegráfica a longa distância foi inaugurada em 1844 nos EUA, a linha tinha extensão de 35 quilômetros, situada entre Washington e Baltimore, no estado de Maryland, segundo Bernardes (n.d.). O texto enviado na primeira mensagem pelo sistema dizia: “O que Deus fez possível!”. De início, o sistema era usado apenas pelo governo, forças armadas e indústrias, após anos o uso se tornou público. As linhas telegráficas se espalharam pelo país e outros territórios, no Brasil o telégrafo chegou em 1852. Após anos, o telégrafo ganhou avanços em sua estrutura, deixou de ser transmitido por cabos e a parte receptora recebeu várias formas e modelos para receber as mensagens. Assim, impulsionou o surgimento de novos aparelhos de comunicação, como o rádio, telefone e mais tarde o computador. Nas figuras 1a e 1b é mostrado modelo de receptor e transmissor de um telégrafo da época. Figura 1: Telégrafo de Morse a) Receptor e b) Transmissor. Fonte: a) Duarte (2019); b) Unknown (2013). O transmissor do telégrafo consistia em um manipulador com capacidade para abrir e fechar um circuito elétrico de forma intermitente. Ao fechar o circuito elétrico, uma corrente elétrica circula pelo transmissor. Essa corrente ativa um eletroímã, o qual atuava como um receptor. Ao ser ativado, o eletroímã atraía uma peça móvel que, ao movimentar-se, atingia uma fita de papel e imprimia sobre ela um sinal Morse. A tabela da figura 2 ilustra os códigos Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 85 Morse utilizados para envio de informações. Figura 2: Código de Morse. Fonte: Silva (2023). Uma mensagem codificada em Morse, era transmitida por meio de pulsos elétricos (ou tons) curtos e longos em cabos de linhas telegráficas. Subtil (2014), aborda sobre as contribuições que o telégrafo trouxe para a sociedade e as reflexões desse sistema nos dias atuais. Através do telégrafo, as estradas da cultura e as estradas do comércio entrecruzaram- se. Por via dos processos que desencadeou nos domínios simbólico e económico, a introdução do telégrafo articulou-se também com a emergência de novas estruturas sociais, culturais e políticas (SUBTIL, 2014, p. 29). É partindo docontexto histórico, contribuições e princípios de funcionamento do telégrafo que esse trabalho apresenta um experimento para ser apresentado em sala de aula, um protótipo de telégrafo para abordar os conteúdos do eletromagnetismo, tecnologia e sociedade. A experimentação em sala de aula para abordar a ciência tem mostrado ser uma alternativa viável para exemplificar e aplicar os conceitos estudados. Giani (2010) ressalta que a teoria e a prática é um processo único para a aprendizagem. Além disso, desperta interesse e motivação aos alunos (SILVA, 2017). Por isso foi pensado na abordagem do telégrafo para promover a participação dos alunos nas aulas de eletromagnetismo. 3 METODOLOGIA O experimento que este trabalho proponha parte de uma atividade realizada em aula e que devido aos bons resultados foi escrito para possibilitar que mais professores possam fazer. A atividade sugerida é a construção de um protótipo de telégrafo com materiais simples e de fácil acesso. O estudo do eletromagnetismo deve ser a base orientadora da atividade e por isso recomenda-se que seja desenvolvido com alunos do 3° ano do ensino médio. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 86 A fim de verificar a real aplicabilidade da proposta os pesquisadores desenvolveram um protótipo (não foi solicitado aos alunos pois esse projeto foi desenvolvido durante o isolamento social vivenciado devido à pandemia do COVID 19 quando as aulas estavam sendo de forma remota) que foi apresentado aos estudantes do 3.º do Ensino Médio da escola campo CETI – Marcos Parente durante as aulas de Física pelo programa Residência Pedagógica da Capes. Contudo houve discussões interessantes sobre o funcionamento e a física envolvida no processo. Assim, apresenta-se a seguir os materiais necessários, o desenvolvimento e a execução do protótipo do telégrafo como uma proposta de aula experimental para ser realizada na abordagem dos conteúdos do eletromagnetismo. 3.1 Materiais ● 02 (duas) pilhas tamanhas AA ou 01 (uma) pilha tamanho D2; ● 02 (dois) suporte de madeira retangulares de 15 x 20 cm ou apenas (um) suporte de 30 x 40 cm; ● 01 (um) prego grande; ● 01 (um) pedaço aproximadamente 4 m de comprimento de fio de cobre esmaltado (fio de 1 mm de espessura); ● 01 (um) pedaço aproximadamente 15 cm de comprimento de fio encapado (fio de 2 mm de espessura); ● Percevejos e parafusos; ● 01 (um) pedaço de arame fino com cerca de 40 cm; ● Alicate, martelo, fita isolante, tesoura, papel sulfite e papel carbono; 3.2 Desenvolvendo a atividade 1° passo- Construir e montar a primeira base de madeira. A - Utilizando o fio de cobre esmaltado de 3 m de comprimento enrole-o no prego grande em duas camadas sobrepostas. É importante deixar livre cerca de 15 cm de comprimento nas duas extremidades do fio para, posteriormente, efetuar as conexões, é necessário desencapar as extremidades deixadas. B - Utilize o martelo para fixar o prego com o fio de cobre enrolado (eletroímã) próximo a uma das extremidades da primeira base de madeira. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 87 C - Utilizando o alicate, corte cerca de 20 cm do arame fino e fixe-o, com percevejo, no pedaço de madeira. O arame deverá ser moldado em formato de L. 2° passo- Construir e montar a segunda base de madeira. D - Encoste o polo positivo de uma pilha no polo negativo da outra e enrole fita isolante para fixá-las, no caso de usar as pilhas AA ou usar apenas uma pilha D2. Com a fita adesiva, fixe as pilhas na segunda base de madeira. E - Corte um pedaço de cerca de 18 cm de arame. F - Fixe um percevejo próximo às pilhas, de modo que ele fique próximo a uma das laterais do pedaço de madeira. G - Encoste o centro do pedaço de arame no percevejo que você acabou de fixar e passe uma volta ao redor desse percevejo. H - Desencape as extremidades do fio encapado, fixe uma das extremidades no arame e a outra extremidade em um dos polos do conjunto de pilhas. A outra extremidade do arame deverá ficar livre, paralelamente ao conjunto de pilhas. I - Fixe parcialmente outro percevejo ou parafuso logo abaixo da extremidade livre do arame. Com isso você terá formado um interruptor. J - Enrole uma das extremidades do eletroímã que você montou no procedimento A no percevejo ou parafuso que você fixou no procedimento I. Termine de fixá-lo na madeira. K - Agora, fixe a outra extremidade do eletroímã em um parafuso e uma extremidade de um fio desencapado no mesmo parafuso, a outra extremidade do fio desencapado deve ser ligado no polo livre do conjunto de pilhas. Para isso utiliza fita isolante. M - Pronto, seu telégrafo está construído. 3.3 Execução Para o telégrafo funcionar é preciso pressionar a ponta do arame que forma o interruptor sobre o percevejo ou parafuso e observar o que acontece. Caso não aconteça nada, certifique- se do procedimento novamente e aproxime mais o arame do eletroímã ou do polo da pilha. Peça a um colega que coloque, entre o arame e o eletroímã, uma folha de papel sulfite sobre papel- carbono. À medida que você pressionar o interruptor, peça ao colega que desloque lentamente o conjunto de papel sulfite e papel-carbono. Observe o que acontece no papel sulfite. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 88 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante as aulas sobre eletromagnetismo após fazer a fundamentação teórica, sugira que os seus estudantes construam o protótipo sugerido e leve à escola na aula seguinte para apresentação do funcionamento e discussão com os demais colegas de sala, em primeiro momento descobrirá o que cada grupo fez de diferente e as primeiras impressões dos alunos. Na situação em que foi aplicado o experimento, primeiro foi apresentado aos alunos o protótipo do telégrafo (figura 3) sem identificar o que era, e isso gerou discussões acerca da identificação do instrumento. Em seguida foi apresentado e explicado a importância que esse instrumento teve na comunicação e como ele impulsionou a evolução tecnológica até os dias atuais. Diálogo semelhante a esse pode também ser feito, mesmo os alunos tendo construído os seus próprios protótipos. Figura 3: Apresentação do protótipo do telégrafo. Fonte: Autoria própria (2021). Sugere-se que após essa discussão inicial os alunos demonstrem o funcionamento de seus protótipos, explicando com base nos conhecimentos de eletromagnetismo visto nas aulas teóricas. Na aplicação (remota) dessa proposta, os alunos foram incentivados a explicar o fenômeno observado usando os conhecimentos das aulas anteriores e isso rendeu um momento de grande participação e integração dos alunos. Para Carvalho e Higa (n.d.), é a partir da problematização e da investigação que o professor consegue estimular a curiosidade do aluno e possibilitar o conhecimento científico. Com isso, o aluno pode aprender e refletir sobre o que é a ciência por pensamento crítico e reflexivo de modo ativo. Esse método de ensino permite que o aluno entenda que “a Ciência se constitui como atividade humana construída em uma dinâmica dialógica entre Ciência, Tecnologia e Sociedade” (BRITO; FIREMAN, 2018, p. 472). Nessa atividade, o aluno busca por soluções para os problemas que surgem durante a montagem e formulam hipóteses na Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 89 tentativa de entender e responder sobre o funcionamento do experimento (SANTANA; CAPECCHI; FRANZOLIN, 2018). Assim, os alunos usam dos conhecimentos das aulas anteriores sobre o eletromagnetismo e suas funcionalidades para identificar os conceitos elétricos e magnéticospresentes no instrumento e como a interação entre esses dois fenômenos, como por exemplo o eletroímã (ilustrado na figura 4), é fundamental para o instrumento. Também é possível identificar a direção e o sentido da corrente elétrica e do campo magnético quando o interruptor é fechado e a interação eletromagnética entre o arame e o parafuso que atuavam como a parte receptora do telégrafo. Além disso, sugere-se voltar um pouco no conteúdo e solicitar os alunos que identifiquem o tipo de circuito elétrico utilizado no protótipo se é em série ou paralelo e se a corrente é contínua ou alternada. Na experimentação do instrumento em sala os estudantes conseguiram identificar corretamente a direção e o sentido da corrente elétrica e do campo magnético, bem como explicaram que a corrente elétrica no circuito do protótipo é do tipo contínua pois se trata de uma característica das pilhas químicas em que o fluxo de elétrons não muda de direção. Figura 4: Eletroímã do telégrafo. Fonte: Autoria própria (2021). Segue-se a atividade solicitando que os alunos usem de sinais elétricos de curta e longa duração assim como os usados para transmitir o código de Morse, usando a chave para ligar e desligar o circuito. Nesse momento pode-se apresentar o código Morse e discutir sua importância histórica. Após o debate foi ministrado uma aula sobre o telégrafo de Morse e seu código, bibliografia de Morse, história de quando surgiu o telégrafo e contribuições naquela época. Utilizou-se um vídeo disponível no YouTube que apresenta um telégrafo original que faz parte do museu ferroviário de Santo Ângelo-RS, a fim de exemplificar. Este telegráfo está em perfeitas condições de funcionamento, o qual é demonstrado por um senhor que trabalhou como Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 90 telegrafista da cidade na ferrovia. E assim os alunos tiveram melhor entendimento sobre o telégrafo. Com essa demonstração, proporciona-se aos alunos uma aula investigativa e prática das aplicações do eletromagnetismo, além da interdisciplinaridade, história, sociedade e evolução das telecomunicações, contribuições dos conhecimentos da ciência. Aulas assim contribuem para fixação dos conteúdos ministrados. Os resultados alcançados foram positivos e satisfatórios, promoveu muitas discussões, reflexões e aprendizados. Não foi cobrado nenhuma categoria de avaliação sobre o experimento, para que a turma pudesse aproveitar a aula sem se preocupar com notas, pois o intuito era a participação e interação numa aula remota e síncrona. Portanto, essa atividade foi uma maneira de quebrar essa barreira e conseguir a atenção dos alunos durante a aula. Acredita- se que resultados semelhantes e até mesmo mais satisfatórios possam ser alcançados ao aplicar essa metodologia em aulas presenciais pós pandemia. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A experimentação é um método facilitador da aprendizagem que quando utilizado de forma didática possibilita aulas produtivas e alunos ativos no processo de ensino e aprendizagem. O protótipo do telégrafo possibilita maior clareza com relação aos fenômenos do eletromagnetismo bem como seus conceitos e a integração com outras áreas do conhecimento, contribuindo assim com a interdisciplinaridade. Mesmo com o ensino remoto, foi possível através da aula síncrona pelo Google Meet mostrar o funcionamento do telégrafo, essa atividade tornou a aula síncrona atrativa e os alunos participativos, algo que dificilmente acontecia, pois, as aulas online eram desmotivadas e dificilmente tinha participação dos alunos. Além disso, várias outras discussões surgiram após a apresentação e essa troca de conhecimentos entre os alunos, a dinâmica fez com eles interagissem e entendessem a importância do estudo do eletromagnetismo para a sociedade. Portanto, pode-se concluir que o uso de experimentos em sala, mesmo em ensino remoto é o método mais eficaz para demonstrar os conceitos da Física e despertar no aluno aproximação com essa ciência e quebrar o tabu de que a Física é uma disciplina difícil de entender, mais do que isso é mostrar através da história o uso dessa ciência no dia a dia e a aplicação dos fenômenos estudados. Desta forma foi apresentado essa proposta para que mais professores possam conhecer a metodologia utilizada e utiliza-la na íntegra ou adaptada para melhor engajamento dos alunos Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 91 e consequentemente melhorar o entendimento dos conceitos do eletromagnetismo presente no cotidiano através da ampla discussão e extrapolação dos conceitos vistos na construção e funcionamento do protótipo de telégrafo. REFERÊNCIAS BERNARDES, A. O. Do telégrafo à internet: a história da Ciência em sala de aula. 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O objetivo é validar o uso de material com menor espessura (de 0,210 mm para 0,207 mm, uma redução de 0,003 mm) sem comprometer a qualidade do produto final, resultando em uma significativa redução de custos. A matéria-prima utilizada é o alumínio, extraído da bauxita por mineradoras como a Mineração Rio do Norte e a Alcoa, sendo posteriormente fornecido às empresas Novelis e Hulamim, que produzem as bobinas. A Crown Embalagem Metálica da Amazônia, com uma produção global de aproximadamente 10,32 bilhões de latas, realiza testes em laboratórios através do fornecedor Novelis, que nomeou o projeto de "Down Gauger". A bobina com a espessura reduzida está atualmente em fase de teste na fábrica de tampas da Crown. Esse processo buscou otimizar a eficiência operacional, prolongando a vida útil das ferramentas e redução de perdas de material, representando uma iniciativa promissora para aprimorar a sustentabilidade e competitividade no mercado de embalagens metálicas. PALAVRAS-CHAVE: Redução de Espessura; Eficiência Operacional; Sustentabilidade; Mineração de Alumínio; Custo Reduzido. 1 INTRODUÇÃO A busca incessante por inovação e eficiência na indústria tem levado a constantes aprimoramentos nos processos de fabricação. Nesse contexto, o presente estudo propõe uma abordagem voltada para a redução da espessura da chapa de alumínio no processo de fabricação de tampas. O foco central reside na avaliação criteriosa da eficiência das máquinas, na vida útil das ferramentas de corte e na análise da diminuição de perdas de material durante o processo (ENGLER et al., 2016). A fundamentação desse trabalho repousa sobre a premissa de que é possível alcançar uma significativa redução de custos sem comprometer a qualidade do produto final ao utilizar materiais com menor espessura. Tal redução, de 0,210 mm para 0,207 mm, evidencia a busca por uma abordagem inovadora que visa não apenas otimizar a eficiência operacional, mas também contribuir para a sustentabilidade econômica e ambiental (VILLADA et al., 2023). A matéria-prima crucial para essa investigação é o alumínio, cuja extração da bauxita é realizada por mineradoras renomadas como a Mineração Rio do Norte e a Alcoa. Este metal, após ser processado pelas empresas Novelis e Hulamim, é transformado em bobinas utilizadas DOI 10.47402/ed.ep.c240211986867 https://lattes.cnpq.br/0404999652328872 http://lattes.cnpq.br/6068610219942099 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 94 no processo de fabricação das tampas (ENGLER et al., 2016). A Crown Embalagem Metálica da Amazônia, uma das principais produtoras globais com uma produção estimada em 10,32 bilhões de latas, assume a vanguarda ao conduzir testes laboratoriais por meio do fornecedor Novelis, nomeado de forma sugestiva como "Down Gauger". Essa iniciativa, que visa a redução da espessura da chapa de alumínio, não se limita a uma mera otimização técnica. Ao contrário, representa um passo significativo em direção à busca por soluções que harmonizem eficiência industrial e responsabilidade ambiental. A fase de teste da bobina com espessura reduzida na fábrica de tampas da Crown é um marco crucial nesse processo de inovação (HARALDSSON; JOHANSSON, 2018). Em síntese, este estudo não apenas aborda a otimização técnica do processo de fabricação, mas também destaca a importância estratégica da sustentabilidade no cenário competitivo das embalagens metálicas. As implicações desse trabalho transcendem os limites da eficiência operacional, incorporando uma perspectiva holística que reflete a evolução necessária da indústria em busca de práticas mais sustentáveis e competitivas (RAABE et al., 2022). A estampagem incremental, um processo vital na conformação mecânica, desempenha um papel crucial na fabricação de pequenos lotes de peças estampadas e na prototipagem rápida, especialmente no desenvolvimento de novos produtos em chapas metálicas. No presente estudo, conduzido por Schreiber et al. (2021), a atenção foi direcionada para a estampabilidade de chapas de alumínio puro AA1100-H14. O trabalho de Schreiber et al. (2021) destaca a relevância desse processo ao variar parâmetros fundamentais, como o raio da ferramenta, o incremento vertical e a velocidade de avanço da ferramenta. Notavelmente, a constante atenção aos parâmetros, como a espessura da chapa e a rotação da ferramenta, proporciona uma análise abrangente da estampagem incremental em condições específicas. Ao focar na estampabilidade dessas chapas de alumínio, este estudo contribui para umacompreensão mais profunda das capacidades e limitações desse processo particular. Essa abordagem sistemática não apenas enriquece o conhecimento sobre a conformação mecânica, mas também tem implicações práticas relevantes para a indústria, especialmente considerando a crescente demanda por flexibilidade e eficiência na produção de peças estampadas em pequena escala e na prototipagem rápida (ENGLER et al., 2016; HARALDSSON; JOHANSSON, 2018; VILLADA et al., 2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 95 2 METODOLOGIA APLICADA Este estudo se baseou numa pesquisa quali-quantitativa por meio uma revisão bibliográfica da literatura e a busca de conhecimento teórico e prático de como criar um produto viável. 2.1 Estudo de Redução de Espessura da Chapa de Alumínio na Fabricação de Tampas Para atingir os objetivos propostos neste estudo de redução de espessura da chapa de alumínio, uma metodologia abrangente foi implementada, focando na avaliação da eficiência das máquinas, vida útil das ferramentas de corte e análise da diminuição de perdas de material. O processo foi meticulosamente delineado para garantir resultados precisos e confiáveis. 2.1.1 Definição dos Parâmetros de Redução: - Estabeleceu-se uma redução específica da espessura da chapa, passando de 0,210 mm para 0,207 mm, representando uma diminuição de 0,003 mm. Essa variação foi cuidadosamente escolhida para equilibrar a redução de custos sem comprometer a qualidade do produto final. 2.1.2 Seleção da Matéria-Prima e Fornecedores: - A matéria-prima utilizada foi o alumínio, extraído de fontes confiáveis como a Mineração Rio do Norte e a Alcoa. As empresas Novelis e Hulamim, reconhecidas na produção de bobinas, foram os fornecedores escolhidos para processar o alumínio. 2.1.3 Testes Laboratoriais e Designação do Projeto "Down Gauger": - A Crown Embalagem Metálica da Amazônia conduziu testes laboratoriais em parceria com o fornecedor Novelis. O projeto recebeu a designação "Down Gauger", refletindo a intenção de avaliar a redução da espessura da chapa de alumínio e seus impactos operacionais. 2.1.4 Fase de Testes na Fábrica de Tampas da Crown: - A bobina com a espessura reduzida foi incorporada na fase de teste na fábrica de tampas da Crown. Este estágio prático é crucial para verificar a viabilidade e eficácia da redução proposta em uma escala de produção real. 2.1.5 Avaliação de Eficiência Operacional e Vida Útil das Ferramentas: - Implementou-se uma avaliação detalhada da eficiência operacional, monitorando o desempenho das máquinas ao longo do processo. Simultaneamente, foi realizada uma análise da vida útil das ferramentas de corte para garantir a sustentabilidade a longo prazo. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 96 2.1.6 Análise de Redução de Perdas de Material: - Utilizaram-se métricas específicas para analisar a redução de perdas de material durante o processo, considerando aspectos econômicos e ambientais. Essa análise contribui diretamente para a compreensão da sustentabilidade do processo proposto. A metodologia empregada neste estudo visa assegurar uma abordagem abrangente e rigorosa, proporcionando dados que respaldem as conclusões sobre a viabilidade da redução da espessura da chapa de alumínio na fabricação de tampas, promovendo assim a eficiência, a sustentabilidade e a competitividade no mercado de embalagens metálicas. 2.2 Descrição do Processo Empregado Os métodos empregados foram conduzidos pela fornecedora das bobinas, a NOVELIS, em conjunto com a empresa CROWN, onde os testes com as bobinas de chapa de alumínio reduzida já foram iniciados. Até o momento presente, não foram observadas alterações na qualidade do produto. Os testes para verificar as propriedades do material foram conduzidos utilizando equipamentos disponíveis na empresa. Dentre as análises realizadas, destacam-se a inspeção quanto a possíveis micros vazamentos no equipamento denominado "OVEC". Além disso, foram examinadas as condições de possível exposição do metal na chapa de alumínio. A quantidade do verniz, responsável pela proteção do metal para evitar o contato com o produto final, foi cuidadosamente avaliada. Adicionalmente, os testes incluíram a análise da força de tração na abertura da tampa, identificando potenciais falhas no processo de abertura. Testes de pressão também foram conduzidos para determinar a resistência do material, utilizando o equipamento "TRACK", que permite a realização de testes de força "GAUGE" e força "BUCKLE". Essa abordagem sistemática e abrangente nos testes realizados reflete o compromisso com a qualidade e a segurança do produto. A análise minuciosa de diferentes aspectos, desde possíveis falhas de abertura até a resistência à pressão, oferece uma avaliação completa da viabilidade e segurança da utilização da chapa de alumínio com redução de espessura no processo de fabricação de tampas. Esses resultados respaldam a busca pela otimização do processo sem comprometer os padrões de qualidade exigidos pelos clientes da CROWN. 2.2.1 TRACK - Equipamento de Teste Esse equipamento serve para fazer os devidos teste de resistência do material abertura Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 97 da tampa produto já acabado com a chapa de menor espessura. 2.2.2 GAUGE - Equipamento de Teste A Figuras 1 -AB a seguir demonstram o teste chamado de Força “GAUGE”, neste teste ocorreu a abertura completa da tampa, onde o produto sofreu um esforço na parte superior, onde houve uma retirada de material superficial chamada “SCORE” residual, uma linha onde ocorre a abertura da tampa aplicando uma força sobre o local através do “TAB’ que serve como uma alavanca para melhor auxiliar na hora de fazer a abertura da tampa pra o consumo do cliente. Logo, esse teste proporcionou uma validação da resistência do material e foi realizado com a chapa com menor espessura, o range mínimo e de 6,5 psi. Figura 1: AB – A) Teste de resistência do anel; B) Teste resistência do anel. Fonte: Autoria própria (2023). As observações realizadas durante os testes são bastante promissoras, destacando a robustez e qualidade do material avaliado. Em todas as fases do processo de análise, não foi identificada nenhuma perda de qualidade do material, indicando que a redução da espessura da chapa de alumínio não comprometeu as propriedades essenciais do produto. Outro ponto relevante é a ausência de falhas na abertura das tampas, sugerindo que a modificação na espessura da chapa não afetou negativamente a funcionalidade do produto final. Além disso, a constatação de que não houve rompimento do TAB (Termo de Abertura de Boca) reforça a integridade estrutural das tampas, mesmo após a redução da espessura da chapa. A avaliação do SCORE residual, conduzida em quatro partes distintas em forma de "X" (P1, P2, P3, P4), revelou medidas específicas. Tanto P1 quanto P2 apresentaram uma variação de 0,0035" a 0,0040", enquanto P3 e P4 variaram entre 0,0033" a 0,0037". Esses valores A B Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 98 fornecem uma métrica precisa do desempenho residual do material nas diferentes áreas de análise. Esses resultados positivos indicam que a redução da espessura da chapa de alumínio não apenas atendeu às expectativas quanto à qualidade do material, mas também manteve a integridade estrutural e funcional das tampas. O SCORE residual fornece uma avaliação quantitativa adicional, reforçando a eficácia da abordagem de redução de espessura implementada no processode fabricação. Esses dados são fundamentais para respaldar a viabilidade e segurança da utilização dessa nova configuração de material nas tampas fabricadas pela CROWN. 2.2.3 BUCKLE - Equipamento de Teste Esse equipamento executa dois tipos de teste mostrado nas fotos acima, o teste força “BUCKLE” e “VENT TEST” Ambos têm especificação mínima para aguentar no mínimo 98 psi, caso a tampa estoure antes, não está conforme. É aplicada por dois manômetros, um tem que estar em 40 e outro em 120, as tampas devem resistir no mínimo em 98 psi; um teste verifica a qualidade do metal em relação a microfissuras e resistência da conformação tab/painel. E o outro verifica se haverá estufamento vazamentos após envase, a simulação seria como se fosse o líquido sendo envasado na lata, o ranger mínimo e de 98 psi para que ocorra a ruptura do alumínio. Como a chapa foi reduzida, foi notado como a importância desse teste e crucial para validar o produto. Foi visto que a redução da chapa do alumínio e valida e viável, pois não houve perda da qualidade e nem da resistência do material na produção do produto produzido com a chapa reduzida. A Figura 2 apresenta o teste de resistência do metal em relação a microfissuras e a Figura 3 apresenta o teste de estufamento após o envase. Figura 2: Teste de resistência do metal em relação a microfissuras. Fonte: Autoria própria (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 99 Figura 3: Teste para verificar se haverá estufamento vazamento após envase. Fonte: Autoria própria (2023). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO A reciclagem de alumínio proveniente da refusão de latas de bebidas descartadas tem experimentado um notável crescimento, impulsionado pelo aumento no uso desse tipo de embalagem e pela redução significativa nos insumos de energia em comparação com a produção de alumínio primário. Este último, muitas vezes envolto em um processo de refino eletrolítico que demanda considerável consumo energético (ENGLER et al., 2016; HARALDSSON; JOHANSSON, 2018; VILLADA et al., 2023). Conforme indicado por Verran (2005), que conduziu um estudo experimental sobre a reciclagem de alumínio utilizado na fabricação de embalagens de bebidas, utilizando um forno elétrico por indução para a fusão das latas, destacando sua posição intermediária entre os fornos a combustão ar/óleo frequentemente empregados pelas indústrias. Nesse contexto, a otimização do processo de produção de tampas de alumínio surge como uma estratégia promissora. A proposta de utilizar chapas de menor espessura, precisamente 0,207 mm, representa uma abordagem inovadora que visa reduzir custos sem comprometer a eficiência dos equipamentos. Essa redução, embora aparentemente modesta em 0,003 mm, tem implicações substanciais. Não apenas resultará em economias financeiras significativas, mas também contribuirá para a diminuição do desperdício de matéria-prima durante o processo. Além disso, a utilização de chapas mais finas pode promover uma extensão considerável na vida útil das ferramentas de corte a longo prazo, sem a necessidade de alterar etapas do processo ou adaptar os equipamentos. Essa abordagem não apenas busca eficiência econômica, mas também promove uma prática mais sustentável, alinhada com os princípios de redução de desperdício e eficiência energética (ENGLER et al., 2016). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 100 Em resumo, a adoção de chapas de menor espessura não só representa uma oportunidade para ganhos financeiros e eficiência operacional, mas também reflete um compromisso com a sustentabilidade ambiental, respeitando a crescente demanda por práticas industriais mais responsáveis e eficientes. 3.1 Relatório de Acompanhamento - Sumário de Atividades: 3.1.1 Avaliação da Performance da Bobina: Monitoramento contínuo da bobina 9176041 L2, caracterizada por uma espessura de 0,205 mm, durante sua operação na Formatec. Esse acompanhamento visou analisar a eficácia da utilização de uma chapa de menor espessura no processo de produção de tampas de alumínio. 3.1.2 Coleta de Tampas Shell em Pontas e Centro da Chapa: Realização de coleta de tampas shell provenientes das ferramentas localizadas nas pontas (#1# e #23#) e no centro da chapa (#10). Essa coleta destinou-se a examinar as características das tampas produzidas em diferentes regiões da bobina, proporcionando insights sobre a uniformidade do processo. 3.1.3 Medição de Buckle Fresh e Aged: Execução de medições de Buckle Fresh (imediatamente após a produção) e Aged (após um período específico) em diferentes pontos da bobina, incluindo o início, meio e final. Essas medições visaram avaliar a estabilidade e resistência do material ao longo do ciclo de vida da bobina. 3.1.4 Identificação de Tampas com Buckle Fresh Baixo: Verificação e identificação das tampas que apresentam buckle fresh abaixo dos padrões estabelecidos. Relacionamento da espessura dessas tampas com base na espessura nominal da bobina, proporcionando uma compreensão mais aprofundada dos fatores que influenciam o Buckle. 3.1.5 Compilação de Dados para Avaliação de Buckle: Coleta e compilação sistemática de todos os dados obtidos durante as atividades anteriores. Essa análise abrangente permitiu avaliar os valores de buckle medidos em diferentes pontos da bobina, identificando tendências e áreas de melhoria no processo. Essas atividades foram cruciais para entender a interação entre a espessura reduzida da chapa e o desempenho das tampas produzidas, contribuindo para a otimização contínua do processo de fabricação. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 101 3.2 Resultados do Estudo de Caso: Redução da Espessura da Chapa de Alumínio no Processo de Conformação de Tampas 3.2.1 Desempenho Satisfatório nos Testes de Buckle Fresh e Aged: Durante os testes de buckle fresh e aged, todos os valores mantiveram-se dentro das especificações da Crown, evidenciando a capacidade do material de suportar a redução de espessura proveniente do downgauge. Esses resultados indicaram a robustez do novo processo em relação aos padrões de qualidade estabelecidos. 3.2.2 Amostragem Estratégica para Melhor Análise: A decisão de coletar amostras específicas das pontas e do centro da chapa, totalizando 10 tampas de cada ferramenta, foi uma abordagem estratégica discutida durante a última visita do Andre Americhi. Essa coleta proporcionou uma visão mais abrangente e detalhada do teste, enriquecendo a análise das características das tampas produzidas. 3.2.3 Condições Favoráveis nos Gráficos Iniciais e Intermediários: Os gráficos apresentados no início e meio da bobina demonstraram valores de buckle em condições favoráveis, sem quedas bruscas no patamar. Apesar da impossibilidade de realizar medições no final da bobina devido a problemas de vácuo, as condições observadas até esse ponto são promissoras. 3.2.4 Coleta Planejada das Amostras do Final da Bobina: A coleta planejada das amostras do final da bobina pelo Sr. Allan Costa permitirá a execução das medições restantes, possibilitando uma análise completa do desempenho ao longo de todo o ciclo de produção. 3.2.5 Capacidade de Absorver a Redução de Espessura: No geral, os valores de Buckle demonstraram ser capazes de absorver a redução de espessura proveniente do downgauge. Importante destacar que esses valores são diretamente influenciados por diversos fatores, incluindo LE, espessura, dimensional da tampa e alterações na geometria do countersink. 3.3 Resultados da Análise de Buckle Fresh e Aged - Início e Meio da Bobina: As Figuras 4, 5, 6 e 7 oferecem uma visualização abrangente dos resultados de Buckle Fresh e Ageddurante os estágios iniciais e intermediários da bobina. Esses conjuntos de Figuras e a Tabela proporcionam uma análise abrangente e quantitativa do desempenho das tampas Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 102 shell em relação ao Buckle Fresh e Aged, oferecendo uma visão completa sobre a viabilidade da redução da espessura da chapa no processo de conformação de tampas de alumínio. Na Figura 4, são apresentados os resultados específicos de Buckle Fresh e Aged no início da bobina. Observa-se a relação entre o Buckle Fresh e Buckle Aged, proporcionando uma análise comparativa. Figura 4: Resultados- Buckle Fresh e Aged - Início da Bobina. Buckle Fresh Buckle Aged Fonte: Autoria própria (2023). A Figura 5 foca nos resultados de Buckle Fresh e Aged no meio da bobina. Essa representação visual permite uma avaliação mais detalhada das propriedades do material nessa fase crítica do processo. Figura 5: Resultados- Buckle Fresh e Aged - Meio da Bobina. Fonte: Autoria própria (2023). A Figura 6 combina os resultados de Buckle Fresh e Aged tanto no início quanto no meio da bobina, proporcionando uma visão conjunta desses estágios cruciais da produção. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 103 Figura 6: Resultados- Buckle Fresh e Aged – Início e Meio da Bobina. Fonte: Autoria própria (2023). A Tabela 1 complementa as Figuras supracitadas, fornecendo resultados numéricos detalhados sobre o Buckle Fresh das tampas shell em relação à espessura. Os valores de espessura foram meticulosamente extraídos com base no peso das tampas que apresentaram buckle mais baixo, sendo destacados em amarelo na tabela. Tabela 1: Resultados obtidos em dados numéricos - BUCKLE FRESH TAMPAS SHELL X ESPESSURA. Fonte: Autoria própria (2023). Em relação à Figura 7 específica, que aborda os resultados de Buckle Fresh em relação à espessura das tampas shell, é observado que a maioria dos valores de espessura apresenta uma média de 0,0079”. Apesar de alguns valores estarem no limite inferior de especificação, a grande maioria permanece dentro dos padrões estabelecidos pela CROWN. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 104 Figura 7: Resultados: Buckle Fresh Tampas Shell X Espessura. Fonte: Autoria própria (2023). Com base nos resultados apresentados ficou evidente que a redução da espessura da chapa de alumínio no processo de conformação de tampas é não apenas possível, mas também viável. Além de atender aos padrões de qualidade, essa mudança impacta positivamente a reciclagem, reduz o desperdício de material e representa uma melhoria sustentável para o meio ambiente. A otimização do processo de fabricação de tampas, através da redução de espessura da chapa, promove benefícios significativos, especialmente no que diz respeito aos custos de aquisição para a empresa (ENGLER et al., 2016). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo representa uma proposta sólida para enfrentar os desafios competitivos no processo de fabricação de latas e tampas de alumínio. O setor, caracterizado por uma concorrência intensa, exige abordagens inovadoras para garantir a sustentabilidade financeira das empresas. A redução do custo de aquisição da bobina de alumínio e das ferramentas de corte emerge como uma oportunidade estratégica para otimizar a eficiência produtiva e alcançar ganhos de custo e benefícios. A busca por oportunidades de margem de lucro em um mercado altamente competitivo demanda a identificação e implementação de práticas que não comprometam a qualidade do produto final. A proposta de redução da espessura da chapa de alumínio surge como uma medida que não apenas visa a diminuição de custos, mas também busca aprimorar o processo fabril como um todo. Os impactos desta redução, detalhados neste estudo de caso, demonstram que é possível atingir uma eficiência notável sem comprometer a integridade e qualidade das tampas produzidas. Os resultados obtidos nos testes de Buckle Fresh e Aged, bem como na análise dos Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 105 custos de aquisição, destacam a viabilidade econômica e operacional dessa abordagem. É crucial ressaltar que a otimização de custos não significa uma redução indiscriminada, mas sim uma análise cuidadosa e equilibrada que considera a qualidade, a eficiência produtiva e, claro, a rentabilidade. Esta proposta, ao reduzir a espessura da chapa de alumínio, não apenas contribui para uma economia significativa, mas também posiciona a empresa de maneira competitiva no mercado, respondendo aos desafios do setor. Dessa forma, a implementação dessa estratégia não apenas proporcionará uma vantagem financeira, mas também consolidará a posição da empresa como líder inovadora no processo de fabricação de latas e tampas de alumínio, garantindo sua competitividade e sustentabilidade a longo prazo. REFERÊNCIAS ENGLER, O. et al. Journal of Materials Processing Technology Flexible Rolling of Aluminium Alloy Sheet — Process Optimization and Control of Materials Properties. Journal of Materials Processing Tech. 229: 139–48, 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jmatprotec.2015.09.010. Acessado em: Ago. 2023. HARALDSSON, J.; JOHANSSON, M. T. Review of Measures for Improved Energy e Ffi Ciency in Production-Related Processes in the Aluminium Industry – From Electrolysis to Recycling. Renewable and Sustainable Energy Reviews, 93: 525–48, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.rser.2018.05.043. Acessado em: Ago. 2023. RAABE, D. et al. Making Sustainable Aluminum by Recycling Scrap : The Science of ‘Dirty’ Alloys. Progress in Materials Science, 128 (February), 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.pmatsci.2022.100947. Acessado em: Set. 2023. SCHREIBER, R. G. et al. Influência dos Parâmetros de Estampagem Incremental na Estampabilidade de Chapas de Alumínio Puro. Revista Matéria, v.27, n.1, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rmat/a/hCrnTQ4YR4f6SYswVWjfjvP/#ModalTutors. Acessado em: Set. 2023. VERRAN, G.; KURZAWA, U.; PESCADOR, W. A. Recycling of aluminum cans aiming at a better efficiency and metallurgical quality in the obtained aluminum. Rev Matéria. 10. 72-79, 2005. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/288268638_Recycling_of_aluminum_cans_aiming_ at_a_better_efficiency_and_metallurgical_quality_in_the_obtained_aluminum. Acessado em: Out. 2023. VILLADA, C. et al. Recycling of Aluminium Scrap into Phase Change Materials for High- Temperature Storage Applications : Thermophysical Properties and Microstructural Characterisation. Journal of Energy Storage, 72 (PE): 108822., 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.est.2023.108822. Acessado em: Out. 2023. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 106 CAPÍTULO 7 IMPLANTAÇÃO DE DISPOSITIVO DE IÇAMENTO PARA BOMBONAS, TAMBORES E SACARIAS – ERGONOMIA DE PROCESSO Márcio Ferreira da Silva Siomara Dias da Rocha RESUMO A pesquisa aborda desafios no depósito de inflamáveis, focando na formatação de materiais, atividade laboral intensiva com riscos ergonômicos e de acidentes. A relevância reside na compreensão e mitigação dos impactos negativos na saúde. A exposição constante a riscos é uma ameaça à saúde física e mental, gerando ônus financeiro para as organizações. A análise considera riscos físicos e fatores psicossociais, reconhecendo a necessidade de estratégias preventivas. A pesquisa destaca aspectosnegativos e propõe medidas para melhorar as condições de trabalho, promovendo ambientes mais seguros e saudáveis. Apresenta uma visão abrangente da problemática, abordando desafios imediatos e impactos amplos na saúde e eficiência operacional. Essa pesquisa contribui para compreensão dos desafios e fornece insights valiosos para políticas organizacionais visando o bem-estar e eficiência global. PALAVRAS-CHAVE: Depósito de inflamáveis; Riscos ergonômicos; Eficiência Operacional; Mitigação do Risco; Melhoria da Atividade. 1 INTRODUÇÃO A presente pesquisa visa analisar as condições eventuais e esporádicas no setor de depósito de inflamáveis, concentrando-se especificamente na atividade de formatação de materiais, uma tarefa laboral intensiva que não apenas demanda esforço físico considerável, mas também expõe os trabalhadores a sérios riscos ergonômicos e de acidentes (AMARANTE et al., 2020; NUÑEZ, 2023). A importância deste estudo reside na necessidade de compreender e mitigar os potenciais impactos negativos dessa atividade no bem-estar dos trabalhadores, identificando fatores de risco que possam resultar em doenças relacionadas ao trabalho, como Lesões por Esforço Repetitivo/Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) além de avaliar a gravidade e a probabilidade associadas a esses riscos (CHIAVEGATO, 2004), Ao mergulhar no cotidiano desses trabalhadores foi realizada uma análise abrangente para avaliar os níveis de risco inerentes à atividade de formatação de materiais inflamáveis. Buscou-se identificar não apenas os riscos físicos evidentes, mas também considerar fatores psicossociais e ambientais que podem contribuir para a manifestação de condições adversas à saúde dos trabalhadores (RATHORE; PUNDIR; IQBAL, 2020). DOI 10.47402/ed.ep.c240211997867 http://lattes.cnpq.br/3901607985292232 http://lattes.cnpq.br/6068610219942099 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 107 A relevância desta pesquisa é ampliada pelo entendimento de que a exposição constante a fatores de risco pode não apenas comprometer a saúde física e mental dos trabalhadores, mas também resultar em custos significativos para as organizações, decorrentes de licenças médicas, redução da produtividade e possíveis complicações legais (OAKMAN; MACDONALD; MCCREDIE, 2023). Nesse contexto pretendeu-se apresentar de forma clara e objetiva os resultados obtidos, destacando tanto os aspectos negativos quanto aqueles que podem contribuir para a melhoria das condições de trabalho na atividade de formatação de materiais inflamáveis (BRASIL NETO et al., 2021). A partir desses resultados, será possível sugerir estratégias e medidas preventivas que visem não apenas à mitigação dos riscos identificados, mas também à promoção de ambientes de trabalho mais seguros e saudáveis. 2 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA DE ESTUDO COM BASE RESULTADOS IN LOCO A metodologia adotada para a análise ergonômica dos postos de trabalho se baseia na utilização de ferramentas técnicas que permitem uma avaliação precisa, visando a adequação dos postos e a priorização eficaz das ações necessárias. As ferramentas empregadas necessitam de quatro grandezas fundamentais para garantir uma análise abrangente e fiel à realidade. Abaixo está apresentada a descrição detalhada dessas grandezas: 2.1 Determinação do Ciclo: - Procedimento: Inicialmente, é realizado um estudo de cronoanálise para avaliar a repetitividade dos movimentos ao longo do dia no processo de formatação. Esse estudo é conduzido por cronoanalistas especializados. No entanto, devido à complexidade e custos associados à cronoanálise completa, optou-se por focar na determinação do início e fim da tarefa (ciclo). - Atividade Acíclica: No caso da atividade de formatação em questão, a natureza da operação não apresenta um ciclo definido, tornando-a uma atividade acíclica. O cronômetro é acionado para registrar o tempo utilizado na execução da tarefa. 2.2 Determinação dos Movimentos Não Naturais: - Procedimento: Todos os movimentos envolvidos no processo são fracionados dentro de um ciclo. A partir desse fracionamento, foi identificado quais movimentos são predominantes, relevantes e quais são insignificantes ou desprezíveis. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 108 - Conhecimento de Biomecânica: O Ergonomista emprega conhecimentos de biomecânica para realizar um fracionamento preciso dos movimentos. Isso implica na descrição detalhada dos movimentos predominantes em operações industriais, garantindo um entendimento aprofundado dos aspectos biomecânicos envolvidos. Essa abordagem permite uma análise minuciosa dos postos de trabalho, destacando elementos críticos como repetitividade, movimentos não naturais e biomecânica associada. Ao compreender essas grandezas, o Ergonomista pode fornecer recomendações específicas para otimizar os postos de trabalho, reduzindo riscos ergonômicos e promovendo um ambiente laboral mais seguro e saudável. A Figura 1 apresenta uma nuvem de palavras sobre aspectos biomecânicos. Figura 1: Nuvem de palavras sobre aspectos biomecânicos. Fonte: Autoria própria (2023). Figura 2: Esquema da descrição do processo e as ações técnicas por membros superiores e inferiores sobre aspectos biomecânicos. Fonte: Autoria própria (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 109 Como é possível observar, existe um número interessante de movimentos relatados e outros mais não relatados, e curiosamente foi encontrado parte deles, ou grande parte deles nos postos industriais que é o caso deste trabalho, o que não implica na lesividade do posto. Alguns chamados checklists, instituíram este preconceito entre muitos profissionais, que começaram a considerar lesivo qualquer posto que contenha um destes movimentos, ocorre que se trata de uma análise simplista, pois foi constatado em todas as atividades laborativas, diversos movimentos não naturais, e mesmo assim, todas proporcionam queixas ou lesões (KURMAR, 2001). Nessas atividades foi observado uma série de movimentos não naturais, espaçados por ciclos longos que distanciam os movimentos proporcionando uma série de pausas importantes, este tipo de atividade é responsável por sequências de fatores de riscos. Entretanto, a lesividade de um posto é subproduto de diversos fatores associados ou não, que num determinado momento ultrapassa a capacidade humana de executar força ou repetitividade. O limite humano é fixo, ou é melhorado vagarosamente com melhores condições se for o caso, enquanto os limites operacionais são ultrapassados frequentemente pela implementação de técnicas posturais. 2.3 Proporção do movimento dentro do ciclo: Emerge como um fator essencial para avaliar o potencial lesivo de um posto de trabalho. A análise fracionada de cada movimento, identificando o tempo que cada ação ocupa dentro de um ciclo específico, é crucial para compreender como diferentes partes do corpo são afetadas. Por exemplo, considerando a realização de um movimento de pressão e pega em "J" com os dedos, enquanto os ombros permanecem em uma posição constante ao longo do ciclo, pode resultar em fadiga mais rápida nos ombros e trapézios do que nos punhos. A teoria da motivação desempenha um papel vital na compreensão do comportamento humano no ambiente de trabalho. Chiavegato Filho e Pereira Jr (2010) destacaram que a motivação é impulsionada pelas necessidades humanas, representando forças ativas. Ele enfatiza que as pessoas variam em termos de motivação, já que as necessidades humanas que influenciam o comportamento humano resultam em padrões distintos e variados de indivíduo para indivíduo. De acordo comChiavegato Filho e Pereira Jr (2010), a motivação está intrinsecamente relacionada ao sistema de cognição de cada pessoa. Esse sistema engloba valores pessoais e é suscetível à influência do ambiente físico e social circundante. Portanto, a motivação não é Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 110 apenas um impulso uniforme, mas sim um fenômeno complexo influenciado por fatores multifacetados que moldam as respostas e ações individuais. Ao incorporar essas perspectivas, pode-se compreender que a motivação no ambiente de trabalho é um fenômeno dinâmico, moldado por uma interação complexa entre as necessidades humanas, valores pessoais e influências ambientais. Essa compreensão aprofundada da motivação é essencial para criar ambientes de trabalho que não apenas reconheçam, mas também nutram a diversidade de padrões de comportamento motivacional entre os colaboradores. Com base nisso, os esquemas das Figuras 3 e 4 apresentam detalhes do processo de forma integral no levantamento ergonômico com uso das ferramentas sistemática para averiguar o resultado ou apontamento do risco no processo de formatação de materiais. Figura 3: Esquema da descrição do processo de aplicação das Ferramentas Ergonômicas Sistemáticas – Método RULA D. E. Fonte: Autoria própria (2023). O levantamento ergonômico, realizado com o emprego de ferramentas sistemáticas, desempenha um papel crucial na análise detalhada do processo de formatação de materiais. Ao adotar uma abordagem metódica e estruturada, essa investigação visa identificar e avaliar os potenciais riscos ergonômicos associados à atividade. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 111 A utilização de ferramentas específicas permite uma análise minuciosa, incluindo a determinação do ciclo da tarefa, a identificação de movimentos não naturais, a avaliação da proporção do movimento dentro do ciclo e a análise de outros fatores que possam contribuir para a manifestação de condições adversas à saúde dos trabalhadores. Esse processo sistemático não apenas fornece um apontamento claro dos riscos presentes, mas também estabelece uma base sólida para a proposição de medidas preventivas e corretivas, visando à promoção de condições de trabalho mais seguras e saudáveis. Figura 4: Esquema da descrição da Análise Ergonômica de Postos – Método Sue Rodgers. Fonte: Autoria própria (2023). Os fatores psicossociais desempenham um papel crucial na avaliação do ambiente de trabalho, e sua análise, muitas vezes, é obtida por meio de entrevistas com os colaboradores. Durante essas entrevistas, foram coletados dados relevantes que contribuíram para a classificação de risco em relação às demandas psicossociais. A abordagem centrada no colaborador permitiu uma compreensão mais holística dos elementos subjetivos do ambiente de trabalho, indo além dos fatores puramente físicos. Ao analisar as respostas e observações dos colaboradores, foram identificados aspectos como carga de trabalho, autonomia, relações interpessoais, e reconhecimento profissional como elementos-chave. A categorização desses fatores em uma classificação de risco proporcionou Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 112 uma visão mais estruturada e quantificável dos desafios psicossociais enfrentados pelos trabalhadores. Figura 5: Resultados obtidos nos diagnósticos dos Fatores Psicossociais. Fonte: Autoria própria (2023). A avaliação das demandas psicossociais é crucial não apenas para compreender o impacto no bem-estar dos colaboradores, mas também para informar estratégias de intervenção que visam melhorar o ambiente de trabalho, promover relações saudáveis e prevenir possíveis consequências negativas, como estresse, esgotamento e redução da satisfação no trabalho. A Figura 5 apresenta o gráfico dos resultados obtidos nos diagnósticos para embasamento de possíveis melhorias sobre demandas. A análise ergonômica dos fatores associados ao processo de formatação em paletes destaca considerações cruciais relacionadas à carga física e postura dos trabalhadores. A seguir, são apresentados os pontos destacados: 2.4 Aplicação de Força para Movimentação de Carga A necessidade de aplicar força em todos os segmentos do corpo para movimentar cargas superiores a 20 kg aponta para um desafio significativo em termos de exigência física. Essa demanda pode resultar em fadiga muscular e aumentar o risco de lesões musculoesqueléticas. 2.5 Postura 2.5.1 Ombros Elevados A elevação constante dos ombros pode causar desconforto e fadiga nos músculos do pescoço e ombros, podendo levar a problemas de saúde a longo prazo. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 113 2.5.2 Braços Abduzidos acima da Linha do Ombro Essa posição dos braços pode aumentar a pressão sobre os ombros e as articulações, aumentando o risco de lesões e desconforto. 2.5.3 Mãos e Punhos Desvio de Flexão, Ulnar e Radial, Pega do Objeto em "J" (Dedos): A posição específica das mãos e punhos durante a manipulação de objetos indica uma postura que pode contribuir para o desenvolvimento de Lesões por Esforço Repetitivo (LER) ou outros problemas relacionados. 2.5.4 Tronco Flexão acima de >35° para Frente: A flexão excessiva do tronco durante a formatação dos paletes pode sobrecarregar a região lombar da coluna vertebral, aumentando o risco de lesões nas costas. 2.5.5 Pernas Pernas Flexionadas, Suportando Peso para Deslocamento de Carga Manual para Palete: Essa postura pode resultar em fadiga nas pernas e, ao longo do tempo, pode contribuir para o desenvolvimento de problemas musculoesqueléticos nas extremidades inferiores. Esses aspectos destacam a importância de uma análise ergonômica abrangente, visando não apenas identificar os riscos associados ao processo de formatação em paletes, mas também implementar estratégias de mitigação, como o redesenho de tarefas, o uso de equipamentos auxiliares e a promoção de práticas de trabalho mais seguras. 2.6 Recomendações ou sugestões para melhoria do processo com base no levantamento de risco ergonômico. - Verificar possibilidade do fornecedor enviar os materiais inflamáveis somente com o mesmo (item/tipo/código) em quantidade certa para o processo produtivo. Assim, evitar esforço físico para o colaborador. - Verificar possibilidade de implantar talha pneumática (ar-comprimido) para içamento de tambores, bombonas, latas e sacarias para formatar em paletes, eliminando esforço físico para todos os seguimentos do corpo. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 114 2.7 Como forma paliativa sugere-se a aquisição de duas mãos de obras para revezamento de posto, devido ao alto esforço de trabalho. A Figura 6 apresenta o croqui do esquema de fluxo com base nas recomendações de melhoria. Figura 6: Croqui do Esquema de Fluxo com base nas recomendações de melhoria -Depósito de Inflamáveis – Químico. Fonte: Autoria própria (2023). A proposta de instalação de um dispositivo de içamento em trilho fixo, com a utilização de talha pneumática no corredor de paletes segregados, é uma medida significativa para melhorar a ergonomia e mitigar os riscos associados ao processo de formatação. No entanto, é Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 115 possível sugerir algumas melhorias adicionais para otimizar ainda mais a eficácia e a segurança desse sistema: 2.7.1 Avaliação Ergonômica Personalizada: - Antes da implementação,conduza uma avaliação ergonômica específica do local de trabalho para garantir que o dispositivo atenda às necessidades precisas dos trabalhadores. Considere variáveis como altura, alcance e características individuais para garantir uma solução personalizada. 2.7.2 Treinamento e Conscientização: - Implemente programas de treinamento para os trabalhadores que utilizarão o dispositivo. Certifique-se de que eles compreendam completamente o funcionamento seguro da talha pneumática, bem como os benefícios ergonômicos proporcionados. A conscientização sobre práticas seguras e o correto manuseio da tecnologia são essenciais. 2.7.3 Manutenção Preventiva: - Estabeleça um plano de manutenção preventiva regular para garantir que o dispositivo de içamento e a talha pneumática estejam sempre em boas condições de funcionamento. Isso ajuda a evitar falhas inesperadas e a prolongar a vida útil do equipamento. 2.7.4 Integração com Outras Medidas Ergonômicas: - Considere a integração dessa solução com outras medidas ergonômicas, como ajuste de bancadas de trabalho, uso de plataformas elevatórias ou implementação de ferramentas ergonômicas. Uma abordagem abrangente pode maximizar os benefícios para a saúde e segurança dos trabalhadores. 2.7.5 Monitoramento e Avaliação Contínua: - Estabeleça um sistema de monitoramento contínuo para avaliar a eficácia da nova instalação. Se necessário, faça ajustes com base no feedback dos trabalhadores e nas mudanças nas condições de trabalho. Ao adotar-se essas melhorias sugeridas pode-se garantir que a solução proposta não apenas aborde os riscos ergonômicos identificados, mas também promova uma integração eficaz no ambiente de trabalho, contribuindo para um processo de formatação mais seguro e ergonomicamente otimizado. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 116 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao finalizar esta análise ergonômica do processo de formatação de materiais no depósito químico, é imperativo resumir de maneira concisa as conclusões e recomendações essenciais para o aprimoramento do ambiente laboral. As reflexões finais, fundamentadas nas análises realizadas, fornecem uma síntese crucial das descobertas e insights obtidos ao longo deste estudo ergonômico. Diante dessas constatações, as conclusões apresentadas são fundamentais para orientar ações futuras e melhorias no ambiente de trabalho. É evidente que a aplicação de revezamento de tarefas durante o turno de trabalho surge como uma estratégia eficaz para distribuir equitativamente as demandas físicas, reduzindo a fadiga e minimizando os riscos de lesões musculoesqueléticas. A verificação regular das condições dos carrinhos é uma medida preventiva essencial para evitar esforços excessivos durante o transporte de materiais, contribuindo para a preservação da saúde dos trabalhadores. A incorporação de práticas como alongamentos e orientações posturais demonstra ser vital na prevenção de problemas ergonômicos, promovendo a conscientização sobre a importância da postura adequada e a necessidade de cuidados físicos regulares. Além disso, a implementação de pausas programadas surge como uma medida preventiva adicional, proporcionando intervalos necessários para a recuperação e redução da fadiga. A proposta de implantar um sistema de transporte com talha pneumática representa uma inovação significativa, oferecendo uma solução ergonômica para o içamento de cargas. Esse método não apenas reduz a carga física sobre os trabalhadores, mas também otimiza a eficiência do processo de formatação, contribuindo para a segurança e a saúde ocupacional. Em resumo, as recomendações apresentadas têm como objetivo não apenas abordar os desafios ergonômicos identificados, mas também criar um ambiente de trabalho que promova a saúde e o bem-estar dos colaboradores. Essas sugestões, quando implementadas de forma integrada, têm o potencial de melhorar significativamente as condições laborais no depósito químico, estabelecendo as bases para um ambiente mais seguro, saudável e produtivo. REFERÊNCIAS BRASIL NETO, A. B. et al. Natural Regeneration for Restoration of Degraded Areas after Bauxite Mining: A Case Study in the Eastern Amazon. 2021. Disponível em: https://doi.org/https://doi.org/10.1016/j.ecoleng.2021.106392. Acessado em: Ago. 2023. AMARANTE, J. B. G. et al. Proposta de Intervenção Ergonômica Em Posto de Trabalho Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 117 Utilizando Protocolo REBA e Checklist de Rodgers: Um Estudo de Caso Em Uma Indústria de Confecções. Anais do XL Encontro Nacional de Engenharia de Produção. “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”, Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. Disponível em: https: //efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://abepro.org.br/biblioteca/TN_STO_349_1794_40 429.pdf. Acessado em: Ago. 2023. CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática / Administration: theory, procedure and practice. São Paulo. Elsevier; 4 ed., rev., atual; 2010. p. 411. Disponível em: https://www.academia.edu/92950485/Administra%C3%A7%C3%A3o_Teoria_Processo_e_P r%C3%A1tica_Idalberto_Chiavenato. Acessado em: Ago. 2023. CHIAVEGATO FILHO, G. L.; PEREIRA Jr, A. “LER / DORT: Multifatorialidade Etiológica e Modelos Explicativos. 2004. Disponível: https://doi.org/10.1590/S1414- 32832004000100009. Acessado em: Ago. 2023. OAKMAN, J.; MACDONALD, W. A.; MCCREDIE, K. Psychosocial hazards play a key role in differentiating MSD risk levels of workers in high-risk occupations. 2023. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0003687023000911. Acessado em: Ago. 2023. NUÑEZ, I.; PRIETO, M. The impact of skills mismatches on occupational accidents: An analysis of the effectiveness of organizational responses. 2023. Disponível em: (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0925753523002916. Acessado em: Ago. 2023. RATHORE, B.; PUNDIR, A.; IQBAL, R. 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A legislação brasileira não determina o valor máximo permitido para o 1-naftol, entretanto, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) determina que o valor máximo para o carbaril seja de 0,02 µg L-1 para água potável (classe 1 e 2), de 70 µg L-1 para de irrigação (classe 3) e de 0,32 µg L-1 para águas salinas e salobras. Os métodos analíticos de referência para pesticidas e/ou seus derivados são geralmente cromatográficos. Entretanto, as técnicas eletroanalíticas são alternativas de grande potencial, por apresentarem maior simplicidade, rapidez nas análises, sensibilidade analítica e, principalmente, baixo custo de aquisição, manutenção e operação de toda instrumentação. Sendo assim, neste trabalho, foi desenvolvido um método voltamétrico de onda quadrada para determinação do 1-naftolque utiliza como sensor um eletrodo de pasta de carbono modificado com ftalocianina de ferro. Este sensor não é sensível carbaril, porém, a determinação de 1-naftol permite indiretamente encontrar o teor do tóxico carbaril no meio ambiente em análise. Incialmente, foi utilizado a voltametria cíclica com o objetivo de realizar alguns estudos qualitativos do método desenvolvido, tais como: natureza do transporte de massa, a reversibilidade e a cinética do processo de oxi-redução. Depois foi realizado um estudo de otimização e os parâmetros otimizados para o método voltamétrico de onda quadrada desenvolvido foram: frequência de 60 s-1, amplitude de pulso de 50 mV, incremento de potencial de 6 mV, faixa linear de 0,5 µmol L–1 a 3,2 µmol L-1 de 1-naftol, limite de detecção de 0,011 µmol L-1 e de quantificação de 0,034 µmol L-1. Com base nesses parâmetros, pode-se afirmar que o método desenvolvido é uma boa alternativa para determinação de 1-naftol e indiretamente o carbaril no meio ambiente. PALAVRAS-CHAVE: Método voltamétrico; Eletrodo de pasta de carbono modificado; Ftalocianina de ferro; 1-Naftol, Carbaril. 1 INTRODUÇÃO Pesticidas são substâncias químicas destinadas para controlar e prevenir pragas e insetos em plantações. Na agricultura, os pesticidas agem aumentando a produtividade, diminuindo os custos com energia e redução no trabalho (IUPAC, 2014). Entretanto, esses compostos vêm causando preocupação em diversas áreas por causar danos à saúde humana e ao meio ambiente devido ao seu potencial toxicológico (WHO, 2020). Dentre os vários pesticidas muito usados na agricultura brasileira, vale citar o carbaril. O carbaril é um inseticida que tem aplicação foliar permitida pela legislação brasileira nas culturas de abacaxi, banana, algodão, feijão, tomate, entre outros, mas ele é usado como DOI 10.47402/ed.ep.c240212008867 http://lattes.cnpq.br/6008502490620439 http://lattes.cnpq.br/0573395617909435 http://lattes.cnpq.br/9642562555290396 http://lattes.cnpq.br/7281739070942782 http://lattes.cnpq.br/5693184169699400 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 119 regulador no crescimento de plantas (ANVISA, 2023). A exposição oral aguda e/ou crônica em humanos pode causar: (i) inibição reversível da enzima acetilcolinesterase, que hidrolisa o neurotransmissor acetilcolina responsável pela transmissão de impulsos nervosos (OKAZAKI et al., 2000; MORAES, 2009); (ii) pode hiperestimular o sistema nervoso central causando dores de cabeça, náuseas, tontura, confusão mental, parada respiratória e morte (SUPHAROEK, 2019). Por isso, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA, 2005) permite que o limite máximo residual desse pesticida em águas doces (classes 1 e 2) seja de 0,02 µg L-1, de 70 µg L-1 para de irrigação (classe 3) e de 0,32 µg L-1 para águas salinas e salobras. Após a aplicação na agricultura, o carbaril pode atingir o solo e as águas e ser degradado ou metabolizado por micro-organismos, gerando 1-naftol e metilamina, que são seus principais produtos de degradação (YAMUNA et al., 2022; MILLER, 1993). Porém, o 1-naftol é a forma mais estável no meio ambiente e, portanto, o principal produto de degradação do carbaril por via não-biológica em água (PULGARÍN; BERMEJO; DURÁN, 2018). Embora, a legislação não determine o valor máximo de 1-naftol permitido em águas, é possível determinar a concentração de carbaril através da análise indireta do seu principal derivado, o 1-naftol, o qual é frequentemente usado como substituto do carbaril em estudos de monitoramento de águas (MOSER et al., 2013). Os métodos cromatográficos são as mais utilizadas para determinação do 1-naftol em águas (COELHO, 2019; COSTA, 2017; MORAES 2009), e, consequentemente, também pode ser usada para a determinação indireta do carbaril. Porém, apesar da facilidade de separação e identificação de espécies presentes na amostra pelos métodos cromatográficos, eles são dispendiosos para fins de controle da qualidade da água potável, tanto para prestadores de serviços públicos quanto privados. Por outro lado, os métodos eletroanalíticos, especialmente aqueles que usam as técnicas voltamétricas, têm a vantagem de apresentarem alta sensibilidade, menor tempo de análise e baixo custo de aquisição, operação e manutenção (LÚCIO, 2015; MORAES, 2009) e, portanto, são uma boa alternativa aos métodos cromatográficos. Como forma de melhorar determinadas propriedades analíticas dos métodos voltamétricos, como sensibilidade, seletividade, estabilidade química, entre outras, hoje em dia tem sido muito utilizado como sensores, os eletrodos quimicamente modificados (EQMs). Estes sensores são confeccionados usando modificadores para catalisar a oxirredução de espécies químicas eletroativas, ou seja, diminuir os potenciais de pico e facilitar a transferência de elétrons para moléculas de interesse (CHILLAWAR; TAI; MOTGHRARE, 2015; PEREIRA; SANTOS; KUBOTA, 2002). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 120 Dentre os modificadores, as metaloftalocianinas (Metalphthalocianine - MPCs) vem sendo muito usadas em eletrodos à base de pasta de carbono, devido à alta densidade eletrônica do anel macrociclo das MPCs (ARAGÃO et al., 2017; CARNEIRO et al., 2011; ALISSON; SIBATA, 2010; CHAVES et al., 2003). Este anel pode doar pares de elétrons e coordenar-se com um centro metálico, onde o metal de transição atua como o centro ativo. A atividade catalítica depende principalmente das propriedades redox do eletrodo modificado. As MPCs podem catalisar várias reações químicas e, por isso, tem sido amplamente utilizado em diversas aplicações, principalmente na fabricação de sensores químicos e biológicos (RIBEIRO et al., 2016). Diante do exposto acima, neste estudo foi desenvolvido um método voltamétrico simples, seletivo, sensível, rápido e de baixo custo para determinação de 1-naftol, utilizando um eletrodo de pasta de carbono modificado com ftalocianina de ferro e a técnica de voltametria de onda quadrada (VOQ). Este método foi desenvolvido visando a determinação de 1-naftol, mas podem também ser utilizado na determinação indireta de carbaril em águas e outras amostras. 2 EXPERIMENTAL 2.1 Materiais e reagentes As medidas voltamétricas foram realizadas utilizando o potenciostato/galvanostato Eco Chemie Autolab (Modelo PGSTAT 302N) controlado pelo software NOVA (versão 2.1.3), equipado com uma célula eletroquímica (20 mL) composta por três eletrodos: um eletrodo de referência (Ag/AgCl em KCl 3,0 mol L−1), um eletrodo auxiliar (fio de platina) e, como eletrodos de trabalho, o eletrodo de pasta de carbono não modificado (carbon past electrode – CPE) e o eletrodo de pasta de carbono modificado com ftalocianina de ferro (carbon paste electrode (CPE) modified with iron phthalocyanine (FePC) - CPE-FePC). Para preparar o CPE e o CPE-FePC foram utilizados pó de grafite (pureza ≥ 99%, Sigma-Aldrich, EUA), FePC (pureza ≥ 97%, Sigma-Aldrich, EUA) e óleo mineral (Sigma- Aldrich, EUA. Uma solução estoque de 10 mmol L-1 de 1-naftol (pureza ≥ 97%, Sigma-Aldrich, EUA) foi preparada em acetonitrila e armazenada sob refrigeração. Para estudos de pH, um tampão 0,1 mol L−1 Britton-Robinson (BR) foi preparado de acordo com os procedimentos descritos por (ENSAFI et al., 2004) misturando soluções ácidas de 0,1 mol L−1 de acético (Vetec, Brasil), de fosfórico (Hexis Científica, Brasil) e de bórico Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 121 (Hexis Científica, Brasil). O pH foi variado na faixa de 1,8 até 10,0 adicionando alíquotas apropriadas de 1,0 mol L−1 NaOH (Hexis Científica, Brasil). Todas as soluções foram preparadas com água deionizada (Milli-Q, condutividade de 0,055 μS cm-1) etodos os experimentos foram conduzidos em temperatura ambiente (25ºC). 2.2 Preparação do eletrodo O CPE e o CPE-FePC foram preparados conforme descrito por (NASCIMENTO et al., 2018). O CPE foi preparado homogeneizando 60% m/m de pó de carbono e 40% m/m de óleo mineral. O CPE-FePC foi preparado homogeneizando 59 % m/m de pó de carbono, 1% m/m de FePC e 40% m/m de óleo mineral. Para melhorar a homogeneização, antes de adicionar óleo mineral, pó de carbono + FePC foram inicialmente dispersos em acetona, sob agitação, até a completa evaporação desse solvente. Após a preparação do CPE e o CPE-FePC, estes foram colocados em um tubo de vidro de 3 mm de diâmetro interno, contendo em uma das extremidades um fio de cobre para contato elétrico com o potenciostato/galvanostato. Todo o processo de preparação dos sensores CPE e CPE-FePC levou menos de 30 minutos. As superfícies do CPE e do CPE-FePC foram polidas em papel de filtro quantitativo e lavados com água deionizada. Para o tratamento eletroquímico da superfície, estes sensores foram imersos no eletrólito suporte (tampão 0,1 mol L−1 BR, pH = 4,5) e submetidos a dez sucessivas varreduras por VOQ, usando os seguintes parâmetros voltamétricos: tempo de repouso (tr) = 5s, amplitude de pulso (a) = 50 mV, incremento de potencial (∆Es) = 5,0 mV, frequência (f) = 20 s−1, e a janela de potencial (∆EW) = 0,0 a +0,8 V. 2.3 Procedimentos eletroquímicos Para escolher o melhor eletrodo de trabalho a ser utilizado, o comportamento eletroquímico de 1-naftol em CPE e CPE-FePC foi estudado usando a VOQ (tr = 5s, a = 50 mV, ∆Es = 6,0 mV, f = 60 s−1 e ∆EW = 0,0 a +0,8 V) aplicada a uma solução de 0,1 mmol L−1 de 1-naftol em tampão BR, pH 4,5. A influência do pH na resposta eletroquímica do 1-naftol no CPE-FePC foi estudada usando VOQ (tr = 5s, a = 50 mV, ∆Es = 6,0 mV, f = 60 s−1 e ∆EW = 0,0 a +0,8 V) e uma solução de 0,1 mmol de 1-naftol em tampão BR com o pH variando de 1,8 até 10,0. O estudo de velocidade de varredura foi realizado para avaliar o grau de reversibilidade e a natureza do transporte de massa do 1-naftol na superfície CPE-FePC. Neste estudo, foram realizadas varreduras sucessivas usando voltametria cíclica (VC) com a velocidade de varredura Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 122 variando de 10 a 100 mV s-1, o incremento de potencial de 1 mV e uma janela de potencial entre 0,0 e +1,4 V. Essas varreduras foram realizadas mergulhando o CPE-FePC em uma a célula eletroquímica contendo 10 mmol de 1-naftol em tampão BR, pH 4,5. Para obter maior sensibilidade e melhor seletividade do CPE-FePC, foi realizado um estudo variando os seguintes parâmetros experimentais da VOQ: frequência (f) de 10 a 70 s-1, amplitude de pulso (a) de 10 a 70 mV e incremento potencial (ΔEs) de 1 a 10 mV. O tempo de repouso foi mantido em 5s e janela de potencial (∆EW) = 0,0 a +0,8 V. 2.4 Curva analítica A curva analítica foi construída utilizando a VOQ nas seguintes condições experimentais otimizadas: um período de agitação de 10 s em circuito aberto, tempo de repouso de 5 s, amplitude de pulso de 50 mV, incremento de potencial de 6 mV, frequência de 60 s-1 e janela de potencial de 0,0 a +0,8 V. Alíquotas de 100μL de uma solução estoque (10 mmol L-1 de 1- naftol em acetonitrila) foram adicionadas a uma célula eletroquímica contendo 20 mL de tampão 0,1 mol L−1 BR, pH 4,5, de modo que a concentração de 1-naftol variasse entre 0,5 µmol L-1 a 3,2 µmol L-1. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1 Comportamento eletroquímico do 1-naftol no cpe e cpe-fepc O comportamento eletroquímico do 1-naftol foi estudado no CPE e no CPE–FePC. Ao observar a Figura 1, percebe-se que embora o 1-naftol também seja eletroativo em CPE, um ganho expressivo de corrente de pico e um deslocamento para potenciais menos positivos é obtido usando CPE-FePC. Esse comportamento pode estar relacionado ao aumento da corrente capacitiva causada pelo modificador (FePC) no CPE, o qual catalisa os processos de eletrooxidação de compostos orgânicos, atuando como um mediador redox. Pode se afirmar, então, que os processos de oxidação que ocorrem tanto no anel da ftalocianina, quanto no centro metálico (Fe3+/Fe2+) facilita a determinação do 1-naftol (SISWANA; OZOEMENA; NYOKONG, 2006). Por esse motivo, o CPE-FePC foi escolhido como o eletrodo de trabalho para quantificação de 1-naftol. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 123 Figura 1: Voltamogramas de onda quadrada para 1- naftol (0,5 µmol L-1) em tampão BR (pH 4,5), no CPE e CPE–FePC com janela de potencial de 0 a 0,8 V; f = 60 s-1, ∆Es = 6 mV, a = 50 mV. Fonte: Autoria própria (gerados em Paint da Microsoft Windows 10, versão 22H2) (2023). 3.2 Estudo de ph Nesse estudo, observou-se (Figura 2) que há uma mudança no potencial de pico (EP) para potenciais menos positivos à medida que o pH aumenta, indicando que a oxidação do 1- naftol é fortemente influenciada pelo pH do meio. O maior valor de corrente de pico para a oxidação do 1-naftol foi obtido em pH 4,5, que foi então escolhido para estudos posteriores para alcançar uma maior sensibilidade analítica. Figura 2: Voltamogramas de onda quadrada (f = 60 s-1, ∆Es = 6 mV, a = 50 mV) com janela de potencial de 0 a 1,0 V para 1- naftol (0,5 µmol L-1) no CPE–FePC em tampão BR variando o pH de 1,8 até 10. Fonte: Autoria própria (gerados em Paint da Microsoft Windows 10, versão 22H2) (2023). 3.3 Estudo de velocidade de varredura O grau de reversibilidade e a natureza do transporte de massa do 1-naftol (49,7 µmol L- 1) na superfície do CPE–FePC foram estudados por CV. Como pode ser observado na Figura 3a, o processo de oxidação é irreversível, devido à ausência de sinais voltamétricos na faixa de potencial catódico. Na Figura 2b, percebe-se que a intensidade de corrente de pico diminui à medida que são realizadas as varreduras cíclicas sucessivas. Isto indica a ocorrência de processos de adsorção das espécies químicas na superfície do eletrodo, as quais ocupam sítios de reação, resultando, portanto, em perda de sinal analítico. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 124 Figura 3: Estudo de velocidade de varredura. Voltamogramas cíclicos (velocidade de varredura 0,02 V s-1 e incremento de potencial 1 mV) com janela de potencial de 0 a 1,4 V para 1-naftol (49,7 µmol L-1) no EPC-FePC em tampão BR (pH 4,5): A (▬) perfil voltamétrico; B (▬) varreduras sucessivas. Fonte: Autoria própria (gerados em Paint da Microsoft Windows 10, versão 22H2) (2023). 3.4 Otimização dos parametros da voq Frequência (f), amplitude de pulso (a) e incremento potencial (∆Es) de VOQ foram estudados univariadamente a fim de obter maior sensibilidade e melhor seletividade para o método proposto. Os voltamogramas de onda quadrada obtidos (Figura 4) mostram que para os parâmetros da VOQ que produzem maior corrente de pico (maior sensibilidade analítica) e menor largura de pico (maior seletividade) para a determinação de 1-naftol no CPE–FePC por VOQ foram: f = 60 s-1, a = 50 mV e ∆Es= 6 mV. Figura 4: Otimização dos parâmetros voltamétricos da VOQ utilizando 0,5 µmol L–1 de 1-naftol em tampão BR (pH 4,5) no CPE–FePC: (a) Amplitude de pulso, (b) Incremento potencial e (c) Frequência. Fonte: Autoria própria (gerados em Paint da Microsoft Windows 10, versão 22H2) (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 125 3.5 Curva de calibração A curva analítica, obtida usando condições experimentais otimizadas (pH = 4,5, f = 60 s-1, a = 50 mV e ∆Es= 6 mV) e concentrações de 1-naftol variando de 0,5 µmol L–1 a 3,2 µmol L-1,é apresentada na Figura 5. Figura 5: Curva analítica e voltamogramas de onda quadrada de 1-naftol variando de 0,5 µmol L–1 a 3,2 µmol L- 1 nas condições experimentais otimizadas (tampão BR – pH 4,5, f= 60 s-1, ΔEs= 6mV e a= 50 mV). Fonte: Autoria própria (gerados em Paint da Microsoft Windows 10, versão 22H2) (2023). Uma relação linear satisfatória entre corrente de pico (Ip) e concentração (C1-naftol) foi alcançada, resultando na seguinte equação: Ip = 0,2131 C1-naftol – 9 x 10-8 (r2 = 0,997). Os limites de detecção (LD = 3 Sb/ꞵ) e quantificação (LQ = 10 Sb/ꞵ), obtidos a partir da curva analítica usando a recomendação IUPAC (onde Sb é o desvio padrão do branco analítico e ꞵ é a inclinação da curva analítica ), foram 0,011 µmol L-1 e 0,034 µmol L-1, respectivamente. 4 CONCLUSÕES Neste trabalho foi desenvolvido com sucesso um método voltamétrico rápido, simples e de baixo custo para determinação do 1-naftol em água em baixos níveis de concentração. O método desenvolvido utiliza a voltametria de onda quadrada e um eletrodo de pasta de carbono modificado com ftalocianina de ferro (CPE–FePC). O estudo realizado constatou que o uso da FePC para modificação do CPE produziu um sensor que contribuiu significativamente para o ganho em sensibilidade analítica na determinação do 1-naftol. Tal melhoria na sensibilidade está associado aos processos de oxidação que ocorrem tanto no anel da ftalocianina, quanto no centro metálico (Fe3+/Fe2+). Por fim, a curva analítica para determinação de 1-naftol apresentou uma resposta linear (Ip = 0,2131 C1-naftol – 9 x 10-8 (r2 = 0,997)) na faixa de concentração de 0,5 µmol L–1 a 3,2 µmol L-1 com um LD = 0,011 µmol L–1 e LQ = 0,034 µmol L-1. Esses LD e LQ estão dentro do limite máximo residual do pesticida carbaril em águas de irrigação (70 µg L-1) estabelecido pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA, 2005). Isso indica que o Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 126 método proposto para a determinação de 1-naftol tem um alto potencial para ser aplicado na determinação indireta de carbaril em águas de irrigação. REFERÊNCIAS ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 2023. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/111215/117782/C03%2B%2BCarbaril.pdf/f2b52d86- 280c-4899-8ec2-7ba6b929433f. Acessado em: Set. 2023. ALLISSON, R. R.; SIBATA, C. H. Oncologic photodynamic therapy photosensitizers: A clinical review. Photodiagnosis and photodynamic therapy. v. 7, 61-75, abril. 2010. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.pdpdt.2010.02.001. Acessado em: Set. 2023. ARAGÃO, J. S. et al. Sensors, and actuators b: chemical. v. 239, p. 933-942, fevereiro. 2017. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.snb.2016.08.097. Acessado em: Set. 2023. BARD, A. J.; FAULKNER, L. R. 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Nesse trabalho é apresentado um guia de implementação, sob a perspectiva da inovação pedagógica utilizando uma metodologia cooperativa com uma proposta pedagógica organizada seguindo os elementos básicos: dos agrupamentos, a interdependência positiva, a responsabilidade individual, a igualdade de oportunidades, a interação promotora, o processamento da informação, a utilização das habilidades cooperativas e a avaliação grupal. PALAVRAS-CHAVE: Jogo; Cooperativo; Estatística. 1 INTRODUÇÃO A estatística é uma presença constante no cotidiano das pessoas, manifestando-se em diversas situações. No dia a dia, indivíduos são expostos a uma avalanche de números aleatórios, abrangendo desde informações sobre a propagação de pandemias até resultados de pesquisas eleitorais. Apesar da grande importância do tema para muitas áreas profissionais e acadêmicas, Estudantes do Ensino Médio e do início do Ensino Superior apresentam bastante dificuldade de assimilar os conteúdos relacionados a processos estocásticos. Notoriamente, os professores têm enfrentado dificuldades para engajar os alunos no estudo deste tema, uma vez que a maneira abstrata como os cursos tradicionais ensinam tem gerado um distanciamento entre o que é ensinado e o que é exigido no mercado de trabalho que pode contribuir para a falta de identificação com o curso e aumentando os indicadores de evasão. Nesse contexto, jogos educativos podem dinamizar o ensino à medida que estimulam a interação, a descoberta e o aprendizado auxiliando os estudantes a vivenciarem o conceito estudado através de uma abordagem contextualizada. Isso gera engajamento à medida que torna 2 Bolsa de pesquisa da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB) vinculada ao Programa Conexão Mundo Mondragón. DOI 10.47402/ed.ep.c240212019867 http://lattes.cnpq.br/2026371098730257 http://lattes.cnpq.br/1686577676632855 https://lattes.cnpq.br/2892561116559402 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 130 os conceitos abstratos trabalhados em sala de aula mais familiares, em virtude de estarem inseridos em um contexto que simula uma aplicação prática. Os alunos desenvolvem a autonomia enquanto se divertem compartilhando experiências com os colegas. Para isso, os jogos educativos devem usar uma metodologia que facilite o aprendizado, sendo de fácil compreensão, dinâmico e estimule a pesquisa de forma natural. 2 APORTE TEÓRICOS Diversos estudos têm proposto a aplicação didática de jogos no ensino em várias áreas. No ensino de física, exemplificam-se as contribuições de Sá e Paulucci (2021), que propuseram um jogo de RPG (roleplaying game), e o trabalho de Benedetti, Silva e Favaretto, que desenvolveram um jogo de tabuleiro. No campo da matemática, destaca-se o jogo elaborado por Aguiar et al. (2022) e o desenvolvido por Ellensohn e Barin (2022). Na área de química, merece menção o jogo concebido por Ribas, Hussein e Marques (2019). Quanto ao ensino de cartografia, Di Maio e Pereira (2022) apresentaram um jogo do tipo Quiz, fundamentado nas atividades da Olimpíada Brasileira de Cartografia. Há também alguns jogos que abordam temas avançados envolvendo assuntos do ensino superior como o jogo desenvolvido por Sherin, Cheu e Tan (2016) a respeito da teoria da relatividade, o jogo desenvolvido por Machado et al. (2021) sobre biofísica voltado para estudantes de medicina e o jogo desenvolvido por Souza et al. (2019) tem como temática a física de partículas elementares. Todos os trabalhos acima mencionados relatam um aumento de interesse dos estudantes, um aprimoramento da postura crítica e maior interatividade. Apesar do que acima foi dito, conforme aponta Studart (2021), a oferta de jogos científicos educativos ainda é pequena. Isso se deve basicamente ao fato de a produção de jogos educativos exigir uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, pedagogos, design de jogos, entre outros. Recentemente muitos pesquisadores em metodologias de ensino têm utilizado ferramentas, do que se conhece como educação cooperativa, para um processo de ensino aprendizagem mais conectado com as competências e habilidades para o século XXI (GARCÍA, et al., 2018; URIARTE; PÉREZ; CAMBEIRO, 2018). O uso de jogo e a metodologia cooperativa na Educação Superior para promover um ensino criativo foi estudado recentemente por Carrión (2019), nesse sentido a proposta implementada por Carrión propiciou aos futuros docentes uma formação para a Educação Básica que utilize as ferramentas tecnológicas atuais. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume1. 131 2.1 Encaminhamento Metodológico Neste trabalho, propõe-se aos educadores e estudantes uma abordagem complementar para promover as competências cognitivas e práticas dos discentes por meio da aprendizagem baseada em jogos, direcionada à estatística. Através do jogo eletrônico e de uma linguagem acessível aos alunos, são introduzidas as noções básicas relacionadas à teoria das probabilidades. O objetivo é proporcionar um ambiente que permita um estudo ativo, onde o estudante possa ser o protagonista de seu aprendizado, desenvolvendo habilidades de investigação e interpretação. Diferentemente das aulas tradicionais, que tendem a ser predominantemente oralizadas e conteudistas, estimulando uma postura passiva e resultando em uma aprendizagem mecânica nos alunos, a proposta de inovação pedagógica baseada em jogos busca uma metodologia cooperativa para aumentar a interação entre docentes e discentes e potencializar uma aprendizagem significativa. Nesse contexto, apresenta-se uma proposta de inovação pedagógica baseada em jogos, acompanhada por uma metodologia cooperativa, visando aprimorar a interação entre docentes e discentes. O jogo recebeu o nome 'Startistic' (junção do termo Start com Statistic) e foi construído usando o programa Rpg Maker MV. O jogo está disponível para ser jogado pelo navegador disponibilizado por pelo desenvolvedor Rocha (2022). Está licenciado sob a licença Creative Commons com atribuição de uso livre não comercial/compartilhamento 4.0 sob as mesmas condições. O público-alvo envolve estudantes do ensino médio, cursos técnicos e estudantes de nível superior em início de graduação. A figura 1 exibe a tela inicial do jogo. Figura 1: Tela inicial do jogo. Fonte: Autoria própria (2022). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 132 O desenvolvimento foi realizado com uma atenção especial para que o jogo tivesse uma interface amigável. Possui um estilo bidimensional com uma câmera que acompanha o jogador no centro da tela. Os gráficos são no estilo Pixel Art contendo a predominância de cores vivas e alegres. Além disso, o jogo conta com uma trilha sonora divertida e estimulante que visa suavizar a experiência. Figura 2: Trecho da história do jogo. Fonte: Autoria própria (2022). Startistic foi desenvolvido para que o estudante simule um trabalho (embora de forma bastante simplificada) envolvendo análise de dados. Para gerar maior engajamento, o jogo apresenta uma história que contextualiza a tarefa a ser realizada. A figura 2 exibe um trecho da história que inicia o jogo. Segundo Custódio e Fagunes (2022), o uso de narrativas permiti ao estudante "se colocar no lugar do personagem e faz com que a situação apresentada se torne real para o imaginário". A história envolve um pai que prometeu comprar o presente que a filha tanto desejava, porém, antes de poder cumprir a promessa o pai fica desempregado e precisa arrumar um novo emprego. Ele consegue uma entrevista para uma vaga de cientista de dados em uma empresa no ramo de vestuário. Mas, para conseguir a vaga, ele precisará passar por um teste. Que consiste em coletar, analisar e estimar um conjunto de dados que poderão ajudar a empresa a vender aquilo que os clientes mais procuram. O jogador assume a posição do pai e basicamente precisará, ao final do teste, estimar as características das roupas com maior probabilidade de serem vendidas. Ele terá direito a dar três palpites sobre quais as características das roupas com Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 133 maiores chances de serem vendidas. Caso ele acerte pelo menos dois dos três palpites, conseguirá ser aprovado no teste. Caso não atinja essa meta, não será contratado. Figura 3: Etapa da coleta de dados. Fonte: Autoria própria (2022). Para coletar os dados, o jogador deverá andar pela cidade do jogo perguntando para os personagens não jogáveis (NPC, da sigla em inglês, non playable character) a respeito das preferências de vestuário. A jogabilidade tem a característica de "mundo aberto", ou seja, não é exigido uma ordem específica na forma de se realizar a coleta de dados. A figura 3 exibe a etapa de coleta de dados. Será coletada informações sobre cor, tamanho de manequim e preço máximo pago por peça para cada NPC. Uma vez que o jogador achar que coletou dados suficientes, ele deverá analisar estes dados e estimar os eventos mais prováveis. Essa etapa precisará ser feita fora do jogo. A maneira como encontrar os valores mais prováveis não é sugerida pelo próprio jogo, embora haja algumas dicas. O aluno deverá testar diferentes abordagens como, por exemplo, calcular o valor médio, mediana, moda, variância, correlação entre os dados, entre outras coisas. Assim, espera- se que o aluno aprenda de forma empírica através de tentativa e erro à medida que testa diferentes possibilidades. Após a coleta e a análise de dados, o jogador deverá escolher 3 peças de vestuário com as características com maior probabilidade de venda. Após isso, será sorteado aleatoriamente alguns NPCs que visitarão a loja e comprarão ou não as peças escolhidas. Caso o jogador Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 134 consiga vender duas ou mais peças ele ganha o jogo, ou seja, consegue o emprego. A figura 4 exibe a etapa final do jogo. Figura 4: Etapa final do jogo: o teste. Fonte: Autoria própria (2022). 3 INOVAÇÕES PEDAGÓGICAS Quando se trata de inovações pedagógicas, Carbonell (2002, p. 19) as define como “[...] um conjunto de intervenções, decisões e processos, com certo grau de intencionalidade e sistematização, que tratam de modificar atitudes, ideias, culturas, conteúdos, modelos e práticas pedagógicas.” Figueiredo (2017 apud SALES, 2020, p. 117) afirma “que a inovação em educação e formação depende de três componentes chaves: pessoas, instituições e pedagogias”. Sales (2020) complementa que a inovação deva ser utilizada sob a perspectiva de três princípios: da colaboração, da integração e do compartilhamento. As inovações podem ocorrer de duas maneiras: incremental e disruptiva. A forma incremental ocorre quando provoca apenas atualizações de produtos, processos ou serviços preservando as características principais. Já a forma disruptiva é constatada quando há uma substituição radical de uma solução antiga por uma nova, ocorrendo uma ruptura de um padrão (SENRA; BRAGA, 2019). As metodologias inovativas são classificadas em quatro grupos: ativas, ágeis, imersivas e analíticas. As ativas estão relacionadas a processos e atividades, as ágeis estão vinculadas à cronologia, as imersivas relacionadas com as mídias e tecnologias e as analíticas às avaliações. As Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), após serem internalizadas na sociedade contemporânea por meio dos celulares, videogames, câmeras, Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 135 projetores e demais recursos tecnológicos, modificaram a forma de pensar dos alunos e estes passaram a pressionar o sistema de ensino para uma atualização. “Nesse contexto, faz-se necessário ressignificar o próprio conceito de educação e seus modos de fazer diante da emergência da cultura digital, caracterizada pela relação ubíqua com as TDIC e o conhecimento” (VALENTE; ALMEIDA; GERALDINI, 2017, p. 458). No entanto, as instituições de ensino precisam incorporar no seu cotidiano a utilização de ferramentas tecnológicas (ambientes virtuais, jogos, vídeos, podcasts, simuladores etc.) que possam auxiliar construtivamente no processo de aprendizagem, superando as fronteiras espaço-temporaise rompendo com as metodologias conservadoras. Os Objetos Virtuais de Aprendizagem (OA) surgem como recursos alternativos auxiliares para que os docentes possam planejar sua atividade pedagógica sob uma perspectiva inovadora. Para Arantes, Miranda e Studart (2010) OA são objetos digitais disponíveis na web com objetivos educacionais para criar ou apoiar situações de aprendizagem para uma audiência identificada. Nash (2005) complementa que os OA são como blocos de informação que estão à disposição do professor para que este os conecte da maneira que achar mais eficiente para o processo de aprendizagem. Dentre as principais características dos OA, segundo Wieman et al. (2008), estão: 1) conexão com o mundo real e incentivo à experimentação e observação de fenômenos; 2) oferecer alto grau de interatividade para o aluno; 3) possibilitar múltiplas alternativas para soluções de problemas; 4) ter combinação adequada e balanceada de textos, vídeos e imagens; 5) apresentar retroalimentação e dicas que ajudem o aluno no processo de aprendizagem; 6) apresentar facilidades de uso, possibilitando acesso intuitivo por parte de professores e alunos não familiarizados com o manuseio do computador; 7) apresentar fácil funcionamento e execução na web para que, de fato, pudessem ser incorporados ao cotidiano do professor nos tempos atuais. 4 METODOLOGIA Por meio do OA, o estudante irá praticar diversas habilidades que são exigidas no trabalho de um cientista, analista de dados, ou mesmo um estatístico. Como, por exemplo, coletar, limpar e tratar os dados antes de fazer a análise estatística destes. Além disso, o Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 136 estudante precisará aprender a lidar com variáveis categóricas, irá perceber na prática que é preciso estimar a probabilidade de eventos correlacionados, entre outras coisas. Porém, apesar de o jogo dar dicas, o aluno precisará de uma formação prévia mínima dos assuntos relacionados à teoria das probabilidades. O jogo é construído com uma rotina de números aleatórios que faz com que cada novo início de jogo tenha um conjunto de dados diferente. Assim, o estudante poderá testar diferentes abordagens e aprender de forma empírica qual é na prática a melhor maneira de estimar as probabilidades envolvidas. Embora o jogo tenha um objetivo específico, nada impede que o professor possa adaptar a jogatina para exigir dos alunos outras características que não são cobradas diretamente pelo jogo. Como, por exemplo, pedir a média, moda, mediana, variância, correlação, desvio padrão das variáveis envolvidas, entre outras. 5 PROPOSTA PEDAGÓGICA Essa proposta de aplicação do jogo enquanto recurso didático pode ser aplicado em um contexto de aprendizagem cooperativa. Para essa implementação é necessário seguir algumas pautas e recursos que facilitam as condições de um ensino-aprendizagem eficaz. Seguindo as orientações para uma aprendizagem cooperativa elaboradas pelo Colégio Ártica (2016), a proposta pedagógica fica estabelecida e organizada seguindo os elementos básicos. Será delineado o modo como os docentes e discentes podem empregar o jogo, seguindo os elementos fundamentais previamente apresentados. O intuito é oferecer orientações detalhadas sobre a integração eficaz do jogo no contexto educacional, proporcionando um guia claro para a utilização prática do recurso. Desta forma, proporciona-se uma compreensão mais abrangente de como maximizar os benefícios pedagógicos oferecidos pelo jogo, otimizando, assim, a experiência de aprendizado para os envolvidos no processo educacional. Quando se trabalha em grupo, para que a equipe tenha êxito na aprendizagem individual de cada membro: o aluno deve ter consciência e responsabilidade que sua participação contribui para o êxito da aprendizagem de todos. Em um grupo cooperativo, cada um deve ter uma tarefa atribuída e, se possível, um papel, sendo responsável por realizar sua parte do trabalho. Como resultado de participar de um grupo cooperativo, espera-se um 'produto coletivo', mas cada aluno também deve progredir, melhorar seu desempenho, em relação ao seu ponto de partida e suas capacidades (ECHEITA, 2012, p. 6, tradução nossa). A formação de pequenos grupos, compostos por 3 a 4 alunos, é proposta com o objetivo de viabilizar o acompanhamento individual da participação dentro de cada grupo, conforme Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 137 ilustrado na figura 5. A proposta é que se estabeleça funções específicas para cada membro do grupo. Reforçar a reflexão e o planejamento individual e em grupo, sobre as responsabilidades individuais, com planos, portfólios e avaliações individuais e em grupo. Os grupos devem ser heterogêneos garantindo a diversidade de tanto humana quando nos níveis de desempenho dos discentes que fazem parte de cada grupo, nesse sentido o professor deverá ter três critérios de escolha dos membros: fatores pessoais, sociais e escolares. É importante levar em consideração o nível de experiência de trabalho em grupo dos alunos para realizar a divisão dos agrupamentos. É recomendável uma escolha estocástica. Figura 5: Disposição do grupo. Fonte: Colégio Ártica (2016). A interação promotora constitui um outro marco teórico, que é a consciência da ajuda recíproca, do apoio mútuo, do respeito às diferenças e oportunidade de regulação de ideias. Despertar no aluno o protagonismo, o senso crítico, bem como as habilidades socioemocionais. Fazer conhecer os princípios da aprendizagem cooperativa, proporcionando que cada aluno enxergue e valorize seu potencial. Distribuir funções aos membros do grupo de forma que se reconheçam como peça-chave na contribuição da aprendizagem de si e dos outros (JOHNSON; JOHNSON, 2017). Nos agrupamentos heterogêneos, as interações possibilitam a potencialização nas atividades e desenvolvimento dos estudantes como verificado por Johnson e Johnson (1999). A aprendizagem cooperativa é um modelo que busca aproveitar a interação entre os alunos na sala de aula para potencializar as possibilidades de desenvolvimento de todos os estudantes. Isso pressupõe a necessidade de realizar agrupamentos na sala de aula (JOHNSON; JOHNSON, 1999, p. 2, tradução nossa). A cada sessão de atividades estabelecidas, a aprendizagem se diversifica e dinamiza os grupos a fim de que os alunos conheçam uns aos outros e tenham oportunidade de participar em grupos bastante heterogêneos. O planejamento é fundamental nessa etapa, onde as metas e funções serão compartilhadas, o ambiente na sala de aula deve propiciar condições para a Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 138 realização dos trabalhos em grupo. Pode existir formação de uma equipe base (que dura até o final da atividade) e agrupamentos esporádicos. O docente pode selecionar a equipe base por nível de desenvolvimento acadêmico. Na qual, cada equipe deve conter membros com nível alto, médio e baixo. A seleção dos agrupamentos esporádicos pode ser por interesse ao tema proposto. Interdependência positiva consiste na elaboração de estratégia de aprendizagem que seja inclusiva e cada um tenha seu papel previamente repassado e o professor possa ser mediador no processo como proposto por Echeita (2012) e Johnson e Johnson (1999). Por interdependência positiva entende-se a percepção por parte dos alunos de que estão ligados entre si de tal forma que, no desenvolvimento de suas tarefas de aprendizagem, nenhum pode ter sucesso (ou seja, aprender de fato) se todos não tiverem sucesso, e, portanto, o aprendizado eficaz daqueles com quem coopero também beneficia meu aprendizado e desempenho (ECHEITA, 2012, p. 5, traduçãonossa). A interdependência positiva depende da maneira como o professor estrutura a situação de aprendizagem: quanto mais os alunos precisam uns dos outros para realizar o trabalho e alcançar a meta, mais cooperativa será a situação. Para isso, a proposta de trabalho apresentada aos alunos deve transmitir uma mensagem muito clara: vocês terão sucesso apenas se seus colegas também o tiverem. Em outras palavras, toda situação de aprendizagem cooperativa deve ser guiada por um lema: 'todos ou nenhum' (JOHNSON; JOHNSON, 1999, p. 11, tradução nossa). As abordagens do trabalho cooperativo são intencionais e proporcionam igualdade de oportunidades. A promoção de escuta ativa, diálogo respeitoso e troca de experiências. Os alunos auxiliam os colegas com mais dificuldades e estabelecem objetivos e metas interdependentes. Provocar a interdependência, interdependência em relação a tarefas, recursos, funções, recompensas/celebrações, identidade, ao meio ambiente etc. Na dimensão da avaliação grupal, o aluno aprende a avaliar seu desempenho em grupo, do próprio grupo e a valorizar seu empenho individual. Conforme Johnson e Johnson (1999), a avaliação grupal deve atender a três aspectos básicos: avaliação do professor; autoavaliação do grupo e a elaboração do plano de trabalho, segundo Negro e Torrego (2012), isso possibilitará que o aluno tenha um papel ativo no processo. O papel do aluno será ativo. Ele terá que consultar as fontes, selecionar a informação relevante, elaborá-la, assimilar, prepará-la para comunicá-la, explicá-la, responder a perguntas, etc. Os processos de aprendizagem envolvidos são de alto nível. O aluno precisa controlar seu aprendizado, entender o objetivo. E o conhecimento não será apresentado em sua forma final, definitiva; o importante não será apenas o que está nos livros, mas o que o aluno pode descobrir (NEGRO; TORREGO, 2012, p. 52, tradução nossa). Compartilhar a prática profissional. Reuniões ao final de cada ciclo de implementação. Divulgação e formação da comunidade escolar e dos colaboradores. Apresentar os resultados Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 139 obtidos pelos mais variados meios; impressos, digitais e audiovisuais, como apresenta Krichesky e Murillo (2011). O exercício do ensino deixa de ser algo privado para se tornar uma questão de domínio público. Busca-se que, por meio de observações, registros e feedbacks contínuos entre os próprios professores, eles consigam refletir sobre sua prática, garantindo assim um aprendizado profundamente pragmático e colaborativo (KRICHESKY; MURILLO, 2011, p. 70, tradução nossa). Habilidades sociais é a dimensão da capacidade de manter o tom da conversa baixo, para que o ruído da classe seja aceitável. Ter objetivos claros e tarefas específicas que foram atribuídas ao grupo, ou ter os recursos necessários prontos e dispostos para o trabalho, justamente com uma boa distribuição do tempo disponível, são condições que ajudarão muito a concentrar-se na aprendizagem. Os papéis sociais dados a cada um dos participantes do grupo deverão ter uma rotação ou mudança a cada trabalho executado. Exemplo, o secretário, o animador, supervisor, etc. Segundo Negro e Torrego (2012): Para contribuir para o sucesso de um esforço cooperativo, são necessárias atitudes e habilidades interpessoais e de trabalho em grupo, sem as quais o trabalho não avançará. Geralmente, nos referimos a elas como 'habilidades sociais para cooperar', e são necessárias para tomar decisões, gerar confiança, comunicar-se adequadamente, ajudar, resolver conflitos, se organizar, manter-se na tarefa, etc. (NEGRO; TORREGO, 2012, p. 30, tradução nossa). Para esse trabalho os alunos podem ser divididos em grupos de três participantes. São atribuídas funções específicas para cada aluno como; o coletor dos dados, o responsável pelo tratamento dos dados e o analista. Coletor - Ele irá andar pela cidade entrevistando os personagens do jogo e coletará o maior número de dados possível. Ao todo o jogo possui 63 personagens entrevistáveis. Os dados precisarão ser anotados em uma folha de papel ou numa planilha eletrônica que já disponibiliza rotinas para obtenção de variáveis estatísticas. Tratador – A pessoa responsável pelo tratamento irá preparar os dados para a etapa de análise. Entres as tarefas realizadas nessa etapa estão • Substituir possíveis lacunas nos dados pelos seus valores médios • Substituir as variáveis categóricas (tamanho e cor) por valores numéricos. Um ponto de atenção é que não é possível simplesmente substituir um valor categórico por um valor numérico, por exemplo, P por 1, M por 2 e G por 3. Isso criaria uma correlação nos dados que não existe. O aluno deverá identificar os tamanhos dos manequins por meio de um vetor no espaço tridimensional. Assim, por exemplo, o tamanho P seria substituído pelo vetor (1,0,0), o tamanho M por (0,1,0) e o tamanho G por (0,0,1). O mesmo raciocínio para as Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 140 cores que serão 5. Então, por exemplo, vermelho poderia ser (0,0,1,0,0), e raciocínio análogo para as demais cores. Analista – O analista fará a estimativa das probabilidades. Para isso, o aluno precisará, em suma, calcular a frequência de ocorrência dos eventos. Porém, o aluno deverá por conta própria perceber que o correto é considerar um evento como a junção dos três eventos distintos: tamanho, cor e valor. Assim, por exemplo, uma roupa de tamanho P, cor azul e de valor até 100 reais configura um único evento. Caso o aluno encontre a cor mais frequente ou o tamanho mais frequente poderá chegar a falsa conclusão de que o evento mais frequente é a junção destes. Além disso, uma tarefa muito importante na análise de dados é a otimização. Isto se alcança eliminando variáveis que são desnecessárias. A variável contendo o valor das peças foi colocado propositalmente para ser uma informação desnecessária. Uma vez que no teste final do jogo, é perguntado até que valor a peça de roupa deve custar. Portanto, se o jogador escolher o menor valor ele estará automaticamente escolhendo o evento mais provável. Cabe ao aluno perceber isso. O jogo tem uma rotina de números aleatórios que faz com que os resultados sempre mudem toda vez que os dados forem alterados. É recomendado deixar os alunos livres para perceber quais estratégias são as melhores para resolver o problema proposto. Os grupos devem executar o jogo várias vezes e testarem a assertividade de diferentes maneiras. Assim, por exemplo, eles poderiam verificar que escolher simplesmente o valor médio de uma categoria de dados terá um menor grau de acerto em comparação com o valor mais frequente de um par de dados. Na etapa final, 3 NPCs dentre os 63 totais serão sorteados e farão as compras na loja caso encontre algo que lhes agrade. Existe a probabilidade de mesmo que o aluno faça as estimativas adequadamente, ainda assim, erre (como realmente acontece no mundo real, uma vez que se trata de previsibilidade e não de previsão). Porém, se usar a melhor estratégia várias vezes, os grupos acertarão os resultados na maioria das vezes. Nesse sentido, um resultado bem próximo do que acontece com sistemas estocásticos no mundo real. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Realizar o paralelo entre a teoria abstrata e a prática representa uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos docentes, demandando considerável criatividade e tempo. A expectativa é que a proposta metodológica apresentada favoreça uma maior interatividade entre professores e alunos, permitindo que o aprendizado seja desenvolvido concomitantemente à sua Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 141 prática. São fornecidoselementos básicos para a implementação do jogo em uma proposta cooperativa de ensino-aprendizagem, cabendo ao discente organizar as atividades e avaliações de acordo com todos, ou a maioria, desses elementos, a fim de assegurar que os alunos do grupo alcancem as competências desejadas ao término do trabalho. Como serão coletadas, organizadas e analisadas as variáveis estatísticas é um ponto que não pode ser negligenciado pelo docente, portanto é recomendado o seguimento de um roteiro de objetivos a serem seguidos e alcançados pelos grupos. A avaliação em grupo é a etapa final ondem o processo de maturação do nível de aprendizagem e obtenção de habilidades sociais será verificado. Após essa etapa é recomendado ao professor um processo de devolutiva aos alunos sobre os pontos positivos e negativos observado. AGRADECIMENTOS Agradecimentos ao Estado da Paraíba – Brasil, pela bolsa de pesquisa da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB) vinculada ao Programa Conexão Mundo Mondragón. Ao ilustrador responsável pelas imagens que formam a história do jogo, Marcos Santos. REFERÊNCIAS AGUIAR, G. F. et al. Matventura: jogo educativo para o ensino de matemática, Revista Brasileira de Ensino Superior, v. 1, n. 1. 2022. Disponível em: https://doi.org/10.18256/2447- 3944.2022.v6i1.3964. Acessado em: Ago. 2023. BENEDETTI FILHO, E.; SILVA, A. O. D.; FAVARETTO, D. V. Um jogo de tabuleiro utilizando tópicos contextualizados em Física, Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 42. 2020. 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Os hidratos são sólidos cristalinos que bloqueiam tubulações e que se formam pelo contato de hidrocarbonetos leves com água. Logo, entender o equilíbrio líquido-vapor envolvendo o sistema água, MEG e sais é fundamental para planejar e otimizar os processos de regeneração desse inibidor. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo ajustar parâmetros termodinâmico do modelo NRTL a partir de dados experimentais de equilíbrio líquido-vapor (ELV) obtidos por MOURA-NETO et al. (2020) para o sistema binário formado por água e MEG e ternário formado por água, MEG e cloreto de sódio em diferentes composições mistura e nas pressões de 350, 650 e 1013 mBar. A modelagem destes sistemas foi realizada usando o software EXCEL com o auxílio do suplemento termodinâmico XSEOS e da ferramenta solver por meio da abordagem gamma-phi. Os parâmetros ajustados para os modelos demonstraram ser adequados para descrever o equilíbrio líquido-vapor de ambos os sistemas. O desvio médio absoluto e relativo em relação as temperaturas de equilíbrio foram iguais a 1,10 ºC (1,14%) para o sistema binário e 1,16 ºC (1,24%) para o sistema ternário. Em relação as propriedades de excesso, o sistema binário demonstrou comportamento quase ideal e o sistema ternário a não idealidade. Por fim, para ambos os sistemas, quanto menor a pressão, maior o desvio da idealidade. PALAVRAS-CHAVE: Água; Monoetileglicol; Cloreto de sódio; Equilíbrio líquido-vapor; Modelo termodinâmico NRTL. 1 INTRODUÇÃO A sucessivas crises no setor do petróleo evidenciou a necessidade das empresas do setor em aumentar a exploração e produção de gás natural. Desta forma, planos estratégicos que preveem a autossuficiência na produção e distribuição de gás foram revistos. Diversos projetos de exploração e produção de gás natural foram iniciados, como as plataformas marítimas que tem como objetivo explorar campos offshore de gás natural na costa brasileira. 3 Apoio Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES) da Petrobras. DOI 10.47402/ed.ep.c2402120210867 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 145 O gás natural é um combustível fóssil encontrado na natureza, normalmente em reservatórios profundos que pode estar associado ou não ao petróleo. De todo modo, ambos resultam da degradação da matéria orgânica fóssil (animais e plantas) que é explorado de reservatórios através da perfuração de poços. Em 2021, o mundo apresentou um aumento de 5%, alcançando aproximadamente 4 trilhões de metros cúbicos produzidos. Neste mesmo ano, o Brasil registrou um aumento de 28,7%, totalizando 40,4 bilhões de metros cúbicos produzidos que corresponde a 1% da produção mundial, ocupando assim a 24ª posição no ranking de maiores consumidores de gás natural (ANP, 2022). O gás natural é geralmente transportado por tubulações dos poços até as estações de processamento ou até as UPGN (Unidade de Processamento de Gás Natural). Esse transporte requer alguns cuidados e manutenção para evitar furos por corrosões nas tubulações e formação de hidratos. Com a produção de petróleo e gás também se produz água, que contém íons em solução em concentrações variadas dependendo de sua fonte e ambiente de deposição (HUNT, 1996). A presença de sal nessa água afeta o ponto de ebulição e a composição do equilíbrio de fase. Na produção de petróleo e gás, o monoetilenoglicol (MEG) é usado principalmente como inibidor da formação de hidratos de gás, além de ter propriedades de reduzir o ponto de congelamento nos dutos e de protegê-los de corrosão. O conhecimento do equilíbrio líquido- vapor de sistemas aquosos com MEG e sal nas condições de interesse em plataformas de produção são determinantes para a otimização de projetos e operação das plantas de separação da unidade de regeneração de MEG (MOURA-NETO et al., 2023). Na prática industrial, as fases coexistentes mais comuns são o líquido e o vapor, embora também sejam encontrados sistemas líquido-líquido, vapor-sólido e líquido-sólido (SMITH; NESS; ABBOTT, 2007). A modelagem e simulação, bem como o projeto de uma planta, requer o conhecimento de propriedades termodinâmicas, por exemplo, os coeficientes de atividade que admite caracterizar e descrever o comportamento de sistemas como um todo. Logo, é de suma importância medir dados de equilíbrio líquido-vapor (ELV) confiáveis (LOPES, 2001). Esses dados permitem a elaboração de diagramas de fases dos sistemas envolvidos, fornecendo não só as informações primárias ao engenheiropara o projeto e operação de unidades de separação, como também para desenvolver novos métodos de correlação e predição, bem como para testar as teorias de misturas e as aplicações em simuladores (OLIVEIRA, 2003). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 146 O estudo experimental completo, abrangendo todas as condições possíveis de processo é inviável devido ao custo e ao elevado tempo, o que implica no uso de modelos termodinâmicos capazes de predizer, através de parâmetros ajustados, o equilíbrio de fases dos sistemas (JHA; MADRAS, 2005). A modelagem termodinâmica de sistemas fluidos tem por objetivo correlacionar matematicamente as propriedades de estado destes sistemas. A medidas destas propriedades serve como referência para se determinar o quanto um determinado processo pode evoluir, pois os valores destas propriedades estão diretamente relacionados aos estados de equilíbrio de um determinado sistema. Estes modelos são conhecidos como equações de estados e são constituídas por um conjunto de equações que correlacionam as variáveis de estado, permitindo a modelagem termodinâmica de processos químicos (SILVEIRA-JÚNIOR, 2008). Uma destas equações de estado é a Non Random Two Liquid (NRTL) que foi desenvolvida por Renon e Prausnitz e que se baseia no conceito de composição local, ou seja, considera que a composição local dos componentes é diferente da composição global dos componentes na mistura líquida (MOURA-NETO et al., 2020). Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo geral ajustar parâmetros termodinâmicos de interação do modelo NRTL para o sistema binário formados por água e MEG e o sistema ternária formados por água, MEG e cloreto de sódio (NaCl) em baixas pressões. A modelagem foi feita a partir de dados experimentais obtidos por Moura-Neto et al. (2020) usando o software EXCEL com o auxílio do suplemento termodinâmico XSEOS e da ferramenta solver empregando a abordagem gamma-phi. 2 METODOLOGIA 2.1 Dados experimentais de ELV O ajuste dos parâmetros termodinâmicos de interação do modelo NRTL do sistema binário formados por água (H2O) e monoetilenoglicol (MEG) e do sistema ternário formado por água (H2O), monoetilenoglicol (MEG) e cloreto de sódio (NaCl) foi feita utilizando os dados experimentais de equilíbrio líquido-vapor (ELV) obtidos por Moura-Neto et al. (2020) nas pressões de 35, 65 e 101 kPa. Os experimentos foram realizados utilizando um ebuliômetro de Othmer modificado, acoplado a um sistema para controle de pressão. O sistema para controle de pressão consiste em uma bomba de vácuo, um sensor de pressão, um controlador de pressão, uma válvula Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 147 solenoide e um vaso pulmão (20 litros) para garantir uma estabilização da pressão. A representação esquemática do ebuliômetro é apresentado na Figura 1. Figura 1: Ebuliômetro de Othmer modificado. Fonte: Moura-Neto et al. (2020). Os experimentos isobáricos foram realizados em 350, 650 e 1013 mBar. Uma chapa aquecedora e uma manta térmica transferem calor para o refervedor para promover a recirculação de vapor. As temperaturas dos condensadores foram mantidas em 278 K utilizando a recirculação de água proveniente de um banho termostático. Quando o amostrador da fase vapor condensado é preenchido, a recirculação é iniciada. Dependendo da natureza e composição da mistura, o estado estacionário é comumente alcançado depois de 1 hora de recirculação. Intervalos de 15 minutos foram utilizados para as coletas de medidas de equilíbrio através da contagem do número de gotas de vapor condensado durante 1 minuto. As medidas de temperatura são registradas ao longo do mesmo tempo. O equilíbrio líquido-vapor foi considerado atingido quando o número de gotas e a temperatura se mantiveram constantes dentro da incerteza experimental considerada (0,1 K e uma gota). 2.2 Determinação dos parâmetros NRTL A fim de determinar os parâmetros da equação NRTL, foi aplicada a formulação ɣ-ϕ do ELV. Tendo em vista que os dados experimentais foram todos obtidos em baixas pressões, foi assumido que a fase gasosa presente no equilíbrio se comporta como uma mistura ideal. Portanto, os valores de ϕ� 1 v e ϕ� 2 v puderam ser igualados à unidade. Desta forma, foi utilizada a seguinte relação de equilíbrio dada pelas equações abaixo. yi P ϕ� i v (T, P, y) = xi Pisat γiL (T, x) yi P = xi Pisat γiL (T, x) Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 148 As concentrações das fases líquida e vapor bem como a quantidade de pontos experimentais variaram de acordo com a pressão adotada e a presença ou não de cloreto de sódio no sistema. Foram determinados dois conjuntos de parâmetros de interação, um para o sistema binário (H2O + MEG) e outro para o sistema ternário (H2O + MEG + NaCl). Por se tratar de um conjunto de dados obtidos em baixas pressões, os parâmetros de interação foram determinados desprezando a influência da pressão sob o sistema, ou seja, cada conjunto de parâmetros foi estimado utilizando dados de ELV sob pressões de 350, 650 e 1013 mBar. Ao final, foram utilizados 52 pontos experimentais para o sistema binário e 61 para o ternário. Os intervalos de composição dos dados experimentais foram calculados a partir dos valores γ1 e γ2 utilizando a função NRTL presente na biblioteca XSEOS do Excel. A planilha de determinação dos parâmetros NRTL é apresenta a na Figura 5. Figura 2: Planilha de determinação dos parâmetros NRTL. Fonte: Autoria própria (2023). Para o cálculo da pressão de saturação dos compostos em cada ponto experimental foi utilizada a equação de Antoine apresenta a seguir. ln Psat = A − B T + C onde Psat é a pressão de vapor (kPa), T a temperatura (ºC) e A, B e C são as constantes de Antoine dos constituintes necessários (H2O e MEG) cujos valores são apresentados na Figura 2 obtidos de (SMITH; NESS; ABBOTT, 2007). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 149 Apenas como valor inicial e para tornar possível o Excel retornar um o valor válido de ln(γ1) e ln(γ2), incialmente todos os parâmetros NRTL foram assumidos como iguais a zero. Nesta etapa, foi utilizada a função NRTL do XSEOS visando obter como resultado o ln(γ1) e ln(γ2). Para a realização deste cálculo a função necessita dos parâmetros de interação, da temperatura de equilíbrio em Kelvin, das concentrações da composição e da constante dos gases ideais (R) em caloria por mol Kelvin. Em seguida, os valores γ1 e γ2 são obtidos diretamente por meio da exponenciação dos valores de ln(γ1) e ln(γ2). Além disso, foi necessário calcular a pressão de bolha utilizando a equação a seguir, pois a função objetivo do trabalho se baseia na minimização do ΔP. P = x1γ1P1sat + x2γ2P2sat A diferença entre a pressão calculada e a experimental foi estimada em cada ponto e chamada de ΔP, como vista na equação abaixo. Visando otimizar o processo, foi criada uma célula cuja função é a soma do ΔP resultante de todos os pontos experimentais. ΔP = |Pcalc − Pexp| Desta forma, foi acionado o Solver para minimizar o valor resultante da diferença absoluta entre a pressão utilizada durante os experimentos e a pressão de bolha em cada ponto calculado, a partir da alteração dos valores dos parâmetros do modelo NRTL visando retornar os valores dos parâmetros ajustados. É preciso mencionar que foram inseridas quatro restrições sobre os valores dos parâmetros, pois a11, a22, b11 e b22 estes necessariamente devem que ser iguais a 0. 2.3 Determinação dos dados teóricos de ELV A partir dos parâmetros de interação que foram determinados foi possívelcalcular as curvas de ELV por meio da equação NRTL visando predizer e visualizar o comportamento dos sistemas ao longo de toda faixa de composição e nas diferentes pressões adotadas. Para tanto, também foi aplicada a formulação ɣ-ϕ para determinar os dados equilíbrio. As concentrações dos constituintes das fases líquida e vapor variaram de 0 até 1 em um passo constante de 0,05, totalizando assim 21 pontos experimentais para cada faixa de pressão adotada no sistema. Sendo assim, de maneira análoga ao que ocorreu na estimativa dos parâmetros, o cálculo das curvas de ELV foi realizado utilizando a função NRTL presente na biblioteca XSEOS do Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 150 Excel e apresentou a seguinte interface. A planilha de determinação dos parâmetros NRTL é apresenta a na Figura 3. Figura 3: Planilha de determinação dos dados de ELV. Fonte: Autoria própria (2023). Como os valores das temperaturas de equilíbrio serão calculados em cada ponto, foram fornecidos valores iniciais para esta grandeza ao longo de todo intervalo de composição. Portanto, foram adotados valores de temperaturas iniciais que serão o somatório da multiplicação das frações de composição pela temperatura de ebulição dos componentes puros dada pela equação a seguir. T = ∑ xi Tisat Para calcular a temperatura de ebulição dos componentes puros (Tisat) foi realizado um rearranjo da equação de Antoine dada abaixo. Tisat = B A − ln P − C Também foi calculada a pressão de saturação dos compostos em cada ponto experimental utilizando a equação de Antoine original. Para obter ln(γ1) e ln(γ2) foi utilizada a função NRTL do XSEOS. Nesta operação são necessários os parâmetros de interação do método calculados anteriormente com base nos dados experimentais de ELV, da temperatura de equilíbrio em Kelvin, das concentrações da composição e da constante dos gases ideais (R) em caloria por mol Kelvin. A partir desse resultado, faz-se a exponenciação de ln(γ1) e ln(γ2) e encontra os valores de γ1 e γ2. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 151 Analogamente a determinação dos parâmetros do modelo, para cada ponto experimental, foi necessário calcular a pressão de bolha, pois a função objetivo do trabalho se baseia na minimização do valor resultante da diferença absoluta entre a pressão utilizada durante os experimentos e a pressão de bolha em cada ponto. Para tal, foi utilizado o Solver e a minimização da função objetivo por meio da alteração dos valores das temperaturas de bolha, dessa forma, encontrando as temperaturas de equilíbrio em cada ponto. Foi inserida uma restrição de forma a tornar as diferenças entre as pressões de bolha calculadas e experimental iguais ou muito próximas a zero. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados experimentais do equilíbrio líquido-vapor dos sistemas binário formado por água e monoetilenoglicol, assim como o ternário formado por água, monoetilenoglicol e cloreto de sódio, nas pressões de 350, 650 e 1013 mBar foram utilizados para calcular os parâmetros de interação entre os componentes por meio do modelo NRTL. Para tanto, os parâmetros foram estimados utilizado a biblioteca do XSEOS do Excel. Os parâmetros de interação obtidos para o sistema binário e ternário são mostrados nas Tabelas 1 e 2 apresentadas a seguir. Tabela 1: Parâmetros NRTL estimado para o sistema binário. Parâmetro Valor a11 0 a12 0,4410 a21 -0,0086739 a22 0 b11 0 b12 -40,6431207 b21 -40,642895 b22 0 Fonte: Dados da pesquisa (2023). Tabela 2: Parâmetros NRTL estimado para o sistema ternário. Parâmetro Valor a11 0 a12 -0,616 a21 -1,269 a22 0 b11 0 b12 -42,259 b21 -42,304 b22 0 Fonte: Dados da pesquisa (2023). Com os parâmetros dos sistemas binário e ternário determinados foi possível calcular a temperatura de equilíbrio da série de dados experimentais de cada sistema. Dessa forma, para Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 152 avaliar a performance dos dois modelos, o desvio médio absoluto (DMA) e o desvio relativo médio absoluto (DMR) foram calculados para a temperatura de equilíbrio do sistema de acordo com as equações a seguir: DMA (T) = 1 n � |Tc − Te| n i=1 DMR% (T) = 100 n �� Tc − Te Te � n i=1 onde n são os pontos experimentais, Tc e Te são as temperaturas calculadas e experimentais. O desvio médio absoluto e o desvio relativo médio absoluto da temperatura de equilíbrio foram, respectivamente, de 𝛥𝛥TE= 1,10 ºC e 1,14% para o sistema binário, e de 𝛥𝛥TE = 1,16 ºC e 1,24% para o sistema ternário. Os desvios médios inferiores a 0,01 em frações molares e 2% em pressão e temperatura indicam a consistência termodinâmica dos dados (FREDENSLUND; GMEHLING; RASMUSSEN, 1977; SMITH et al., 1982). Dessa forma, os desvios estimados na correlação foram satisfatórios, dada a sensibilidade dos dados e proximidade da incerteza experimental. Para tornar visível a relação entre a temperatura de equilíbrio experimental e calculada foram plotados os gráficos das Figuras 4 e 5. Analisando os gráficos é possível observar, apesar dos resultados dos desvios absolutos e relativos dos dois sistemas serem semelhantes, que o modelo do sistema binário consegue descrever os dados com pequenos resíduos em relação a linha que representa o modelo. Esse erro pode estar relacionado ao fato do modelo do sistema ternário ter desconsiderado o efeito do sal (NaCl) para fins de cálculo, afinal, apresentava uma baixa concentração dentro do sistema, variando de 1 até 5% em relação a massa. Figura 4: Ajuste dos dados experimentais ao modelo binário (R² igual 0,9944). Fonte: Autoria própria (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 153 Figura 5: Ajuste dos dados experimentais ao modelo ternário (R² igual 0,9816). Fonte: Autoria própria (2023). Visando a predição dos dados de ELV, foram gerados os diagramas de equilíbrio de fases com os dados simulados pelos modelos e os dados experimentais utilizados neste trabalho, estabelecendo uma comparação entre estes. Foi adotada uma abordagem ɣ-ϕ cuja fase vapor e líquida foram descritas pela equação de estado NRTL e foi assumido que a fase gasosa presente no equilíbrio se comporta como uma mistura ideal. Nos diagramas de equilíbrio de fases é possível analisar o comportamento global das frações de água e MEG em cada fase conforme a razão inicial entre os compostos é alterada, além de verificar o efeito na temperatura de bolha do sistema, conforme há variação da composição da mistura inicial. Os diagramas de ELV para o sistema binário são apresentados nas Figuras 6, 7 e 8, assim como para o sistema ternário nas Figuras 9, 10 e 11. Figura 6: Diagrama de ELV binário à 1013 mBar. Fonte: Autoria própria (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 154 Figura 7: Diagrama de ELV binário à 650 mBar. Fonte: Autoria própria (2023). Figura 8: Diagrama de ELV binário à 350 mBar. Fonte: Autoria própria (2023). Os diagramas das Figura 6, 7 e 8 mostram os pontos experimentais para as curvas de líquido saturado (quadrados cinzas) e vapor saturado (quadrados amarelos) sob diferentes pressões conjuntamente com as respectivas curvas calculadas pela equação de estado NRTL que considera a mistura ideal dos compostos. O bom comportamento dos pontos experimentais era esperado, visto que água e MEG são totalmente miscíveis e se desviam pouco do comportamento ideal. Desse modo, é possível afirmar que o modelo aplicado é capaz de predizer os dados experimentaisdo sistema binário em estudo. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 155 Figura 9: Diagrama de ELV ternário à 1013 mBar. Fonte: Autoria própria (2023). Figura 10: Diagrama de ELV ternário à 650 mBar. Fonte: Autoria própria (2023). Figura 11: Diagrama de ELV ternário à 350 mBar. Fonte: Autoria própria (2023). Nos diagramas das Figuras 9, 10 e 11, os dados de temperatura de bolha da mistura mostraram maior dispersão quando comparada com os diagramas do sistema binário, mas sem que houvesse uma grande variação de tendência de comportamento em relação ao ideal. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 156 Contudo, apesar dessa maior dispersão, os dados são bem correlacionados, como pode ser observado nas Figuras 12 e 13, uma vez que, apesar da proximidade de temperaturas, um ponto experimental de uma dada pressão não é representando por outra faixa de pressão. Dessa forma, o modelo consegue representar com fidelidade a tendência das misturas. Figura 12: Curvas dos pontos de bolha do diagrama de ELV ternário nas diferentes pressões. Fonte: Autoria própria (2023). Figura 13: Curvas dos pontos de orvalho do diagrama de ELV ternário nas diferentes pressões. Fonte: Autoria própria (2023). Para validação do ajuste dos parâmetros propostos, foram coletados dados na literatura (CHOUIRE., 2018; KAMIHAMA et al., 2012; ZHANG et al., 2016) que trabalharam com o sistema binário água e MEG a 101,3 kPa. O resultado está disposto na Figura 14 onde é possível observar que a curva de ELV gerada consegue descrever satisfatoriamente não apenas os dados experimentais adotados por este trabalho, como também de outros autores da literatura. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 157 Figura 14: Ajuste do modelo NRTL estimado em relação a outros dados de ELV. Fonte: Autoria própria (2023). Os volumes de excesso dos sistemas binário formado por água e MEG, assim como o ternário formado por água, MEG e cloreto de sódio estão ilustrados na Figura 15. Figura 15: Volume de excesso para os sistemas binário e ternário nas diferentes pressões. Fonte: Autoria própria (2023). O sistema água e MEG demonstra comportamento ideal, portanto, seus valores de volumes de excesso são próximos a zero. A adição do NaCl aumentou a não idealidade do sistema, ou seja, o aumento da concentração de sal provocou um aumento negativo do volume de excesso. Com base na literatura, este comportamento é o esperado já que em sistemas eletrolíticos ocorrem mais interações entre as espécies provocando uma maior atração Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 158 molecular e consequentemente uma redução no volume total do sistema quando comparado ao ideal (MOURA-NETO et al., 2020). Além disso, é possível observar que este aumento da não idealidade é diretamente proporcional a redução da pressão a qual o sistema está submetido, logo, quanto menor a pressão mais negativo é o volume de excesso. De maneira análoga ao comportamento do volume de excesso, a entalpia de excesso dada pela Figura 16 apresenta, para ambos as soluções, um 𝛥𝛥H de mistura negativo, dessa forma, o processo de mistura ocorre de maneira exotérmica, ou seja, com a liberação de energia na forma de calor. Nesta propriedade, a adição do NaCl na solução aumentou a não idealidade do sistema e provocou um leve desvio para a direita do pico das parábolas, como pode ser visto na Figura 16, que apresenta valores máximos quando a concentração de água é em torno de 65%, diferentemente do sistema binário que apresentou valores máximo de HE com percentuais de água próximos a 55%. É possível afirmar ainda que a redução na pressão provoca um aumento negativo da entalpia de excesso em ambas as composições. Figura 16: Entalpia de excesso para os sistemas binário e ternário nas diferentes pressões. Fonte: Autoria própria (2023). Analisando a entropia de excesso e a capacidade calorífica de excesso, apresentados nas Figuras 17 e 18, é possível notar que essas propriedades apresentaram comportamentos muito semelhantes, porém com sinais contrários, sendo a entropia com desvio negativo da idealidade e a capacidade calorífica com desvios positivos. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 159 Em ambos os casos, a solução água e MEG presentaram praticamente comportamento ideal, com alterações de valores de excesso apenas na terceira casa decimal, ou seja, muito próximos a zero. Apesar de ser numericamente pequeno em termos de valores absolutos, um desvio significativo no comportamento é percebido com a adição do cloreto de sódio na solução e a presença de altas concentrações de água na solução. O mesmo comportamento do efeito da pressão foi notado, ou seja, quando menor a pressão do sistema maior o desvio da idealidade, seja ele positivo ou negativo. Figura 17: Entropia de excesso para os sistemas binário e ternário nas diferentes pressões. Fonte: Autoria própria (2023). Figura 18: Capacidade calorífica de excesso para os sistemas binário e ternário nas diferentes. Fonte: Autoria própria (2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 160 Por fim, foram correlacionados entre lnγ1 e lnγ2 de ambos os sistemas para as três pressões estudas. O resultado está disposto na Figura 19. Analisando a tendência dos dados, percebe-se que todos apresentam comportamento assimétrico com desvio negativo da idealidade. Figura 19: Correlacionados lnγ1 e lnγ2 para os sistemas binário e ternário nas diferentes pressões. Fonte: Autoria própria (2023). 4 CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos é possível concluir que os parâmetros ajustados para o modelo NRTL, tanto para o sistema binário (H2O + MEG) quanto para o ternário (H2O + MEG + NaCl), demonstraram ser adequados para descrever o comportamento ELV. Apresentam como desvio médio absoluto e o desvio relativo médio absoluto da temperatura de equilíbrio, respectivamente, 𝛥𝛥TE igual a 1,10 °C e 1,14% para o sistema binário, e 𝛥𝛥TE igual a 1,16 °C e 1,24% para o sistema ternário. Dessa forma, os desvios estimados na correlação foram satisfatórios e demonstram a reprodutibilidade do método, dada a proximidade da incerteza experimental e a sensibilidade dos dados. Contudo, é importante salientar que com a adição de NaCl os dados de temperatura de bolha da mistura do modelo NRTL demonstraram maior dispersão, no entanto não houve uma grande variação de tendência de comportamento em relação ao ideal. Analisando as propriedades de excesso, o sistema H2O e MEG demonstra praticamente comportamento ideal, e, portanto, seus valores de excesso são próximo a zero. No entanto, para Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 161 o sistema ternário H2O, MEG e NaCl, a adição do sal aumentou a não idealidade do sistema. Além disso, é possível observar também que para ambos os sistemas, quanto menor a pressão a qual o sistema está submetido maior o desvio da idealidade. Por fim, ambos sistemas, para as três pressões estudadas, apresentam comportamento assimétrico com desvio negativo da idealidade. AGRADECIMENTOS Essa pesquisa foi apoiada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e pelo Centro de Pesquisas, Desenvolvimento e Inovação Leopoldo Américo Miguez de Mello (CENPES)da Petrobras. REFERÊNCIAS ANP. Anuário estatístico brasileiro do petróleo, gás natural e biocombustíveis 2022. Rio de Janeiro: ANP, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/anp/pt-br/centrais-de- conteudo/publicacoes/anuario-estatistico. Acessado em: Ago. 2023. CHOUIREB, N. et al. Measurement and Modeling of Isobaric Vapor–Liquid Equilibrium of Water + Glycols. Journal of Chemical e Engineering Data, v. 63, n. 7, p. 2394–2401, 12 jul. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1021/acs.jced.7b00945. Acessado em: Ago. 2023. FREDENSLUND, A.; GMEHLING, J.; RASMUSSEN, P. Vapor-liquid equilibria using UNIFAC: a group contribution method. Amsterdam; New York: New York: Elsevier Scientific Pub. Co.; distributors for the U.S. and Canada, Elsevier North-Holland, 1977. HUNT, J. M. Petroleum geochemistry and geology. 2nd ed. New York: Freeman, 1996. JHA, S. K.; MADRAS, G. Correlations for binary phase equilibria in high-pressure carbon dioxide. Fluid Phase Equilibria, v. 238, n. 2, p. 174–179, dez. 2005. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.fluid.2005.09.029. Acessado em: Ago. 2023. KAMIHAMA, N. et al. Isobaric Vapor–Liquid Equilibria for Ethanol + Water + Ethylene Glycol and Its Constituent Three Binary Systems. Journal of Chemical e Engineering Data, v. 57, n. 2, p. 339–344, 9 fev. 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1021/je2008704. Acessado em: Ago. 2023. LOPES, F. W. B. Equilíbrio líquido-vapor, densidade e volume de excesso para sistemas hidrocarbonetos. 2001. Monografia (Graduação) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN, 2001. Disponível em: http://www.nupeg.ufrn.br/documentos_finais/monografias_de_graduacao/monografias/francis cowendell.pdf. Acessado em: Ago. 2023. MOURA-NETO, M. H. et al. Simulation and Analysis of MEG Reclamation and Regeneration Unit in Offshore Natural Gas Plants. Industrial e Engineering Chemistry Research, v. 62, n. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 162 39, p. 15974–15985, 4 out. 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1021/acs.iecr.3c01268. Acessado em: Ago. 2023. MOURA-NETO, M. H. et al. Isobaric Vapor–Liquid Equilibrium Measurements and Modeling of Water + Monoethylene Glycol + NaCl Mixtures. Journal of Chemical e Engineering Data, v. 65, n. 10, p. 4827–4836, 8 out. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1021/acs.jced.0c00351. Acessado em: Ago. 2023. OLIVEIRA, H. N. M. de. Determinação de Dados de Equilíbrio Líquido-Vapor para Sistemas Hidrocarbonetos e Desenvolvimento de uma Nova Célula Dinâmica. 2003. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Natal, RN, 2003. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/15939. Acessado em: Ago. 2023. SILVEIRA-JÚNIOR, N. da. Desenvolvimento de ferramenta de cálculo termodinâmico usando o modelo PC-SAFT. 2008. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, 2008. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/14863. Acessado em: Ago. 2023. SMITH, B. D. et al. Evaluation of Binary PTxy Vapor–Liquid Equilibrium Data for C6 Hydrocarbons. Benzene+Cyclohexane. Journal of Physical and Chemical Reference Data, v. 11, n. 4, p. 1099–1126, 1 out. 1982. Disponível em: https://doi.org/10.1063/1.555673. Acessado em: Ago. 2023. SMITH, J. M.; NESS, H. C. V.; ABBOTT, M. M. Introdução a termodinamica da engenharia quimica. 7. ed. Rio de Janeiro (RJ): LTC, 2007. ZHANG, L. et al. Experimental Measurement and Modeling of Vapor–Liquid Equilibrium for the Ternary Systems Water + Ethanol + Ethylene Glycol, Water + 2-Propanol + Ethylene Glycol, and Water + 1-Propanol + Ethylene Glycol. Journal of Chemical e Engineering Data, v. 61, n. 7, p. 2596–2604, 14 jul. 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1021/acs.jced.6b00264. Acessado em: Ago. 2023. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 163 CAPÍTULO 11 GESTÃO DE RESÍDUOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL Ricardo Leão de Souza Siomara Dias da Rocha RESUMO O artigo aborda a importância da gestão de resíduos na construção civil, visto que essa atividade é uma das maiores geradoras de resíduos no mundo. A má gestão de resíduos na construção civil pode causar danos ambientais e à saúde pública, além de desperdício de recursos naturais. A gestão de resíduos na construção civil envolve a coleta, transporte, armazenamento, tratamento e destinação final dos resíduos gerados durante a construção. É importante que as empresas programem práticas sustentáveis na construção civil, como o uso de materiais recicláveis, a redução do desperdício e a correta destinação dos resíduos. A gestão de resíduos na construção civil não só contribui para a preservação do meio ambiente, mas também pode trazer benefícios financeiros para as empresas, como a redução de custos com transporte e disposição final dos resíduos. Em resumo, a gestão de resíduos na construção civil é fundamental para reduzir o impacto ambiental da construção civil e garantir um futuro mais sustentável. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos; Construção Civil; Impactos Ambientais. 1 INTRODUÇÃO A indústria da construção civil, reconhecida como uma das principais forças impulsionadoras do desenvolvimento econômico e da expansão urbana global, enfrenta um desafio crescente e complexo: a gestão eficiente dos resíduos sólidos decorrentes de suas atividades, notadamente construção e demolição (ABINA; PUC; ZIDANŠEK, 2022). Este cenário, decorrente do contínuo crescimento do setor, levanta preocupações ambientais e econômicas, destacando a necessidade urgente de estratégias sustentáveis de gestão de resíduos (MORILLO; SILVA, 2023). O impacto ambiental e econômico resultante da má gestão desses resíduos é uma preocupação global. À medida que a urbanização avança e as populações urbanas crescem, a gestão eficiente e sustentável dos resíduos na construção civil torna-se crucial (MOHAJERANI et al., 2022). Este artigo tem como objetivo explorar, analisar e apresentar soluções para a complexa questão da gestão de resíduos na construção civil. A construção civil, sendo uma das principais geradoras de resíduos a nível global, contribui significativamente para a sobrecarga de aterros sanitários e a degradação ambiental. O desperdício de recursos materiais e financeiros resultante da gestão inadequada é insustentável a longo prazo, demandando uma abordagem mais cuidadosa (ZHANG et al. 2023). DOI 10.47402/ed.ep.c2402120311867 https://lattes.cnpq.br/1945675130834552 http://lattes.cnpq.br/6068610219942099 Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 164 À medida que as nações enfrentam a demanda crescente por infraestrutura e habitação, é imperativo adotar uma perspectiva holística na gestão de resíduos na construção civil (MORILLO; SILVA, 2023). Este artigo visa analisar desafios, identificar práticas inovadoras e estratégias adotadas mundialmente, oferecendo recomendações para profissionais, legisladores e pesquisadores interessados em promover práticas mais sustentáveis. A importância da gestão de resíduos transcende fronteiras, afetando o meio ambiente, a economia e a qualidade de vida (BERGONZON; MELLONI; BOTTI, 2023). Os impactos negativos incluem poluição do solo e água, emissões de gases de efeito estufa, perda de recursos naturais e riscos à saúde pública (SALAHEEN et al., 2023). Sobrecarga de aterros sanitários impõe custos às municipalidades e contribuintes (TAFESSE; GIRMA; DESSALEGN, 2022). Este artigo busca não apenas examinar desafios e soluções, mas criar um compêndio abrangente abordando classificação de resíduos, técnicas de minimização, reciclagem, reutilização, legislação e regulamentações, além de casos de sucesso e desafios regionais (KHAN; MCNALLY et al., 2023).Destaca-se o papel crítico de profissionais, autoridades regulatórias e comunidades locais na promoção de práticas responsáveis. Foram abordados aspectos específicos relacionados à gestão de resíduos na construção civil, baseando-se em experiências internacionais e discutindo implicações para o contexto brasileiro. O objetivo final é fornecer uma visão abrangente para orientar a indústria, autoridades regulatórias e a sociedade rumo a uma construção mais sustentável e responsável. 2 A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL X SUSTENTABILIDADE Desde a pré-história o homem tem transformado matérias-primas (pedras, barro, peles, lã, trigo, etc.) em produtos úteis à sua sobrevivência. Trata-se de um antigo método de transformação a que se denominou artesanato, na qual, com o uso de instrumentos transformava a matéria-prima até chegar ao produto final. Nos séculos XVIII e XIX, houve o início da Revolução Industrial em algumas cidades europeias e americanas, e a consequente criação de fábricas nas cidades. A população de muitas cidades começou a aumentar rapidamente, recebendo milhares de pessoas vindas dos campos, abandonando trabalhos nas áreas rurais, para trabalhar na indústria. Este fato gerou imensas aglomerações humanas que passaram a consumir uma grande quantidade de energia, alimentos e espaço, ocasionando em cidades superlotadas, barulhentas, sujas e sem nenhum saneamento. Esses grandes aglomerados humanos originaram os mais variados problemas de urbanização: abastecimento de água, canalização de esgotos, criação e fornecimento de mercadorias, Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 165 modernização de estradas, fornecimento de iluminação, fundação de escolas, construção de habitações e etc. Segundo o Worldwatch Institute - Beyond Malthus: Sixteen Dimensions of the Population Problem, em 1960, somente 34% da população mundial, o que corresponde a 300 milhões de pessoas, residia em cidades. Em apenas 50 anos, esse percentual subiu para 52%, ou seja, cerca de 3,6 bilhões de pessoas estavam vivendo nas cidades nos anos 2000. No Brasil, Há cerca de 80% da população vivendo nas cidades, e segundo o IBGE, com previsão para 90% em 2020. Os impactos ecológicos não eram considerados nas sociedades primitivas, pois a produção de resíduos era pequena e a assimilação ambiental era grande. Somente após o desenvolvimento tecnológico da revolução industrial no mundo, é que esta preocupação veio à tona. A partir desta constatação, começam a surgir às primeiras preocupações e questionamentos relativos ao efeito estufa e consequentemente o aumento do consumo de energia, a destruição da camada de ozônio, a poluição do ar e as chuvas ácidas, o consumo desmedido de matérias-primas não renováveis, a geração de resíduos, dentre outros. E é justamente a partir daí que surge o termo desenvolvimento sustentável. Desta forma, desenvolvimento sustentável pode ser definido como aquele que “permite atender às necessidades básicas de toda a população e garanta a todos a oportunidade de satisfazer suas aspirações para uma vida melhor sem, no entanto, comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades”. Com relação ao desenvolvimento sustentável, a implicação mais imediata é a necessidade de se produzir a maior quantidade de bens com a menor quantidade de recursos naturais e a menor poluição, ou seja, o desenvolvimento econômico deverá ser desvinculado da geração de impactos ambientais. Para conseguir esta desvinculação são necessárias várias ações: redução do consumo de matérias primas, que pode ser obtido pela redução e reciclagem de resíduos, aperfeiçoamento de projetos, substituição dos materiais tradicionais por outros mais eficientes e aumento da durabilidade dos produtos; redução do consumo de energia (especialmente a produzida pela queima de combustíveis não renováveis); redução global da poluição (incluindo resíduos) (ARRUDA, 2005). A indústria da construção civil é a atividade humana com maior impacto sobre o meio ambiente. Estima-se que 50% dos recursos naturais extraídos estão relacionados à atividade de Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 166 construção. É ainda, a responsável por aproximadamente 15% do produto interno bruto (PIB) brasileiro, com investimentos que ultrapassam R$ 90 milhões por ano, geração de 62 empregos indiretos para cada 100 empregos diretos, contribuindo para a redução do déficit habitacional e da infraestrutura, indispensável ao progresso. É natural que, tendo um papel tão representativo na economia nacional, a construção civil seja também um dos grandes vilões ambientais. É o maior consumidor de matérias-primas (até 50% do total de recursos consumidos pela sociedade), envolve processos com grande consumo de energia (cerca de 80% da energia utilizada na produção de um edifício é consumida na produção e transporte de materiais), gera poluição em quase todos seus processos (da extração de matérias-primas à produção de produtos como cimento e concreto), e até mesmo na fase de uso dos edifícios os impactos ambientais são inúmeros (dados mostram que o volume de recursos consumido na fase de manutenção da edificação é praticamente igual ao consumido durante a construção). Tendo em mente a grandiosidade da cadeia produtiva da indústria da construção civil, fica claro que não é possível alcançar o desenvolvimento sustentável sem que a indústria da construção também se torne sustentável. Com base no que foi apresentado até aqui, pode-se concluir que a sustentabilidade da indústria da construção ainda é uma meta distante e difícil de ser alcançada. No entanto, vale ressaltar que o primeiro passo rumo à sustentabilidade já foi dado com a implantação de leis e resoluções que demonstram uma efetiva preocupação com a gestão dos resíduos, e hoje grande parte dos envolvidos na cadeia produtiva já estão conscientes de que mudanças são necessárias para que o objetivo de uma indústria da construção sustentável seja alcançado. 2.1 Resolução CONAMA Nº 307/2002 No Brasil, a legislação referente aos resíduos de construção civil é a Resolução do Conama nº 307, de 05 de julho de 2002, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos a serem adotados por governos municipais e agentes envolvidos no manejo e destinação do RCD, a fim de que os impactos ambientais produzidos por esses resíduos sejam minimizados (BRASIL, 2002). A resolução Conama nº 307 estabelece diretrizes para que os municípios e o Distrito Federal desenvolvam e implantem políticas estruturadas e dimensionadas a partir de cada situação local, devendo essas políticas assumir a forma de um Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos de Construção e Demolição (PIGRCD), incorporando necessariamente (BRASIL, 2002): Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 167 a) Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos de Construção e Demolição (PMGRCD), com as diretrizes técnicas e procedimentos para o exercício das responsabilidades dos pequenos geradores e transportadores; b) Projetos de Gerenciamento de Resíduos de Construção e Demolição (PGRCD) que orientem, disciplinem e expressem o compromisso de ação correta por parte dos grandes geradores de resíduos, tanto públicos quanto privados. Ainda, a resolução estabelece que os grandes geradores tenham como objetivo principal a não geração de resíduos e, posteriormente, a redução, a reutilização, a reciclagem e a destinação final adequada (KHAN; MCNALLY et al., 2023). Os resíduos da construção civil devem ser classificados, para efeito dessa resolução e conforme a Resolução do CONAMA Nº 431, em Resíduos: Classe A, B, C ou D, o queé detalhado na Tabela 1. Diante do exposto, os resíduos da construção civil deverão ser destinados de acordo com sua classificação, conforme a Tabela 2. Tabela 1: Classificação dos resíduos conforme CONAMA nº 307 e nº 431. Classes Integrantes predominantes considerados na composição gravimétrica A Resíduos recicláveis, como agregados, tijolos, blocos, telhas, argamassa, concreto, areia e pedra. B Resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras e gesso. C Resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam sua reciclagem ou recuperação. D Resíduos perigosos como tintas, solventes, óleos e amianto (contaminados). Fonte: Brasil (2002; 2011). Tabela 2: Formas de destinação dos resíduos da construção civil. Classes Destinação A Deverão ser reutilizados ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a permitir sua utilização ou reciclagem futura. B Deverão ser reutilizados, reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo a permitir sua utilização ou reciclagem futura. C Deverão ser armazenados, transportados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas. D Deverão ser armazenados, transportados, reutilizados e destinados em conformidade com as normas técnicas específicas. Fonte: Brasil (2002). 2.2 Geração e Reciclagem de RCD Segundo John, citado por Santos, a geração de RCD é anterior ao início de qualquer obra ou serviço, se observarem que a produção de insumo para a construção civil, além de consumir recursos naturais também produz resíduos. O RCD pode ser oriundo de obras viárias, Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 168 material de escavação, demolição de edificações, construções, renovação de edifícios, limpeza de terrenos e até mesmo de catástrofes naturais (tsunamis, tornados, terremotos, etc.) ou artificiais (incêndios, desabamentos, bombardeios, etc.) (ABINA; PUC; ZIDANŠEK et al., 2022). Um ponto que demonstra a relevância dos resíduos de construção e demolição é a sua crescente participação no total dos RSU. Na Malásia, esses resíduos correspondem, juntamente aos resíduos industriais, a 28% do total dos RSU, enquanto que o resíduo doméstico totaliza 37% do total. Na Austrália, em 204, os resíduos da indústria da construção civil correspondiam a aproximadamente 37% do total de resíduos sólidos produzidos no país. Em Hong Kong, no Kuwait e no Reino Unido, esse tipo de resíduo corresponde a 38, 58 e 60%, respectivamente de todo o resíduo sólido produzido, enquanto que, nos Estados Unidos, estima-se que os RCD correspondem de 10 a 30% do total de resíduos gerados no país. Para se ter uma ideia de grandeza da geração desses resíduos, no Reino Unido este setor produz em torno de 109 milhões de toneladas por ano, sendo que esta quantidade equivale a 66% dos 165 milhões de toneladas de agregados naturais consumidos anualmente na construção civil. Estima-se também, que, aproximadamente, 200 milhões de toneladas de resíduos de concreto são atualmente produzidos anualmente no continente da China. Enquanto que em Taiwan, cerca de 14 milhões de toneladas de RCD é gerada a cada ano. Em Hong Kong, de acordo com dados do Departamento de Proteção Ambiental a partir de 2009, a cidade passou a produzir mais de 15 milhões de toneladas de RCD por ano. Como em todo processo industrial, o uso dos insumos da indústria da construção civil gera resíduos em grande escala, que necessitam ser gerenciados. O macro complexo da indústria da construção civil é responsável por 40% dos resíduos gerados na economia. Na União Europeia (UE), em torno de 850 milhões de toneladas de RCD são geradas anualmente. Isso representa um total de 31% dos resíduos gerados na UE, 60 milhões nos Estados Unidos e 12 milhões somente no Japão. Esses resíduos representam aproximadamente, de 20 a 30% do fluxo de resíduos sólidos gerados pelas cidades dos países desenvolvidos, sendo que nos demais, pode alcançar índices bem maiores (ABINA; PUC; ZIDANŠEK et al., 2022; 2021). No Brasil, a tarefa de quantificação é ainda mais difícil, diferentemente de outros países, pois uma importante fonte na geração de RCD são os geradores informais, para os quais dados estatísticos estão indisponíveis e podem representar uma parcela importante dos RCD gerados Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 169 em um município. Porém, em algumas grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, têm estimativas específicas. Nestas três cidades, a média de produção diária de RCD foi de 0,49 kg por habitante, correspondendo a cerca de 31% dos resíduos recolhidos nacionalmente. Segundo a ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e resíduos especiais), só no ano de 2013, o RCD produzido nas cidades brasileiras representa cerca de 48% da massa total de RSU gerados neste ano. Para Cabral o RCD constitui uma importante parcela do RSU, correspondendo em torno de 50%, enquanto que para Silva e Fernandes, em alguns municípios, representa 60% do montante de RSU (IBGE, 2022). A ABRELPE divulgou em seu Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2013, uma estimativa feita para os anos de 2010 e 2013 do total de RCD coletado no Brasil e nas suas cinco regiões. Todos os dados referem-se apenas à coleta executada pelo serviço público, o qual usualmente limita-se a recolher os resíduos desta natureza lançados em logradouros públicos, pois a responsabilidade da coleta e destino final destes resíduos é de seu gerador. Portanto, de maneira geral, as projeções sobre tais resíduos não incluem os RCD oriundos de demolições e construções coletados por serviços privados, os quais constituem a grande maioria do total de RCD gerado. Observa-se pela Fig. 1 que, em 2011, a coleta de RCD aumentou 7,2% em relação ao ano de 2010, em 2012, a coleta RCD aumentou 5,0% em relação ao ano de 2011, e que em 2013, a coleta RCD aumentou 10,4% em relação ao ano de 2012, chegando a aproximadamente 37 milhões de toneladas em todo o Brasil, executadas apenas pelos órgãos públicos, dados estes bastante significativos (IBGE, 2022). Os problemas ambientais resultantes da disposição do RCD são motivos de preocupação por causa dos impactos que os locais de disposição ilegais (que ocorrem rotineiramente) têm sobre as cidades e seu ambiente, além de aumentar, rapidamente, as áreas de aterro sanitário público em municípios em que o mesmo não possui nenhuma aplicabilidade. Esta questão tem sido amplamente debatida e tem estimulado o interesse por soluções ambientalmente sustentáveis. Neste contexto, a legislação ambiental tornou-se mais rigorosa, com uma tendência a fazer, geradores de resíduos, responsáveis pela destinação do seu resíduo, levando à adoção de técnicas de minimização do desperdício e políticas de reciclagem (IBGE, 2022). Nos anos 80, em virtude da escassez de áreas para disposição final de RCD na Europa, a reciclagem e a minimização de resíduos passaram a ser objeto de atenção especial no setor da construção civil e diversas políticas públicas foram implantadas com esse objetivo. Quanto ao total de CD, deve ser notado que no Brasil, são contabilizados apenas os resíduos lançados nos logradouros públicos, coletados pelos municípios (KHAN; MCNALLY et al., 2023). Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 170 Uma solução, que a cada dia ganha força entre os pesquisadores, é a reciclagem de RCD e sua reutilização na própria construção civil, como matéria-prima alternativa. Além de reduçãoda super exploração de jazidas minerais para extração de recursos naturais não renováveis, há também, a carência de locais para a deposição desses resíduos, fazendo com que as distâncias entre os locais de demolição e as áreas de disposição sejam cada vez maiores, onerando os custos de transporte. A reciclagem de RCD contribui também para a ampliação da vida útil dos aterros, especialmente em grandes cidades, em que a construção civil é intensa e há escassez de área para deposição. Em cinco países europeus é proibida a deposição de algumas categorias de RCD em aterros. Estas proibições variam de país para país, mas o objetivo principal é prevenir a deposição no solo de materiais recicláveis e reutilizáveis. Estes resíduos são compostos em sua maioria por restos de argamassa, tijolo, alvenaria, concreto, cerâmica, gesso, madeira, metais, etc., e, em maior parte, são considerados inertes. A reciclagem de RCD traz benefícios econômicos e ambientais para as cidades em que é implantada. Além da diminuição dos custos de gerenciamento do resíduo, o custo do produto reciclado é bem menor que o agregado natural (KHAN; MCNALLY et al., 2023). Leite citado por Costa observa que se obtém uma economia de 67% em média, quando comparados os preços do agregado reciclado e do agregado natural. Segundo Pereira citado por Coelho e de Brito, em Portugal, cerca de 76% do RCD são depositados em aterros, 11% é reutilizado, 9% é reciclado e 4% incinerado. A realidade atual é clara: a quantidade de RCD reciclados/reutilizados (20%) é pequena quando comparado com outros países, como o Reino Unido (52%), a Holanda (92%), a Bélgica (89%), a Áustria (48%) e a Dinamarca (81%) [51]. A realidade de Portugal no quesito reciclagem ainda está muito aquém da Comunidade Europeia (CE), que estabelece que, no ano de 2020, pelo menos 70% do RCD deve ser reutilizado/reciclado. Já na Irlanda, uma pequena parcela do RCD é utilizada como cobertura em aterros sanitários, sendo a maior parte depositada em aterros ilegais. Sabai em sua pesquisa, afirma que na Tanzânia, o RCD não é reciclado e estudos sobre como este pode ser reciclado, especialmente em produtos de valor como materiais de construção, ainda são limitados. Enquanto que os Estados Unidos recicla até 70% e a Alemanha até 90%. Para Duran, Lenihan e O’Regan, a viabilidade econômica do RCD é viável quando o custo de deposição em aterro Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 171 exceder o custo de transporte para o centro de reciclagem e o custo de utilização do agregado primário exceder o custo do agregado reciclado (KHAN; MCNALLY et al., 2023). No Brasil, estudos sobre a reciclagem de RCD datam de 1983, porém somente no final de 1995 as primeiras usinas de reciclagem começaram efetivamente a operar, em escala industrial. Para Evangelista, Costa e Costa, citado por Silva e Fernandes, a reciclagem de RCD no Brasil encontra-se em atraso quando comparado aos países europeus. De acordo com o IBGE (2008), dos 5.564 municípios brasileiros, 4.031 municípios (72,45%) possuem “serviço de manejo dos resíduos de construção e demolição”; em 392 municípios (7,05%) tem “existência e tipo de processamento dos resíduos”, 124 (2,23%) existe a “triagem simples dos resíduos de construção e demolição reaproveitáveis (classes A e B)”, em 14 (0,25%) existe “triagem e trituração simples dos resíduos de classe A”, em 20 (0,36%) existe “triagem e trituração dos resíduos de classe A, com classificação granulométrica dos agregados reciclados” e somente em 79 municípios (1,42%) existe o programa de “reaproveitamento dos agregados produzidos na fabricação de componentes construtivos”. Somente uma parte do RCD desses municípios é destinada às usinas de reciclagem, concluindo- se que a grande maioria dos RCD no Brasil não é reciclada (ÂNGULO, 2000; BERNARDES, 2008). Embora a reciclagem do RCD ainda não tenha se consolidado no âmbito das prefeituras municipais e nem da iniciativa privada, espera-se que a partir da entrada em vigor da Política Nacional de Resíduos Sólidos e estabelecimento de prazos para o alcance das metas, alguns municípios se organizem para uma efetiva política de gerenciamento do seu RSU, objetivando a reutilização e reciclagem, inclusive, do RCD, resíduo este que compõe entre 50 e 60% do RSU no Brasil (KHAN; MCNALLY et al., 2023). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar dos mais diferentes dados quanto ao percentual de reaproveitamento do RCD nos mais diferentes países do mundo, pesquisadores, políticos, governos e a própria sociedade estão se voltando cada vez mais para esta realidade, buscando a redução da sua geração e o seu reaproveitamento, com o uso de legislações e das mais diversas aplicabilidades, principalmente, na indústria da construção civil, na forma de agregados reciclados, a fim de promover o seu retorno à cadeia da construção. Os agregados reciclados, além de apresentarem custo de produção inferior ao dos agregados naturais, ainda promovem um “ganho ambiental”, uma vez que se deixa de extrair Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 172 matéria-prima natural e dá-se um destino final a este tipo de resíduo que tem uma elevada participação no RSU. Porém, o grande empecilho para sua reutilização, é cultural, uma vez que há desconfiança de construtores e clientes quanto ao bom desempenho dos produtos gerados pelo mesmo, e também normativo, uma vez que não há normas que assegurem a sua aceitação no mercado, devido à sua grande heterogeneidade. Políticas e campanhas de conscientização devem inserir tal consciência à sociedade, uma vez que, as ações para alcançar a sustentabilidade devem abranger desde a escala individual, em que cada indivíduo faz o seu papel, até a escala mundial, a partir de governos, organizações, associações e empresas privadas. E, uma forma de assegurar o desempenho e qualidade dos agregados de RCD, é a implantação de controle de qualidade, de forma a reduzir a variabilidade, de acordo com a sua aplicação. Diversas pesquisas já apresentam algumas estratégias para se reduzir a variabilidade, como por exemplo, o uso de dosador para se produzir misturas de agregados reciclados e naturais; britagem somente de alguns tipos de RCD, de acordo com a sua finalidade; classificador espiral para remover a fração orgânica dos agregados; e etc. No Brasil, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, espera-se que cada estado adote medidas de reciclagem de RCD, começando com a implantação de usinas de britagem para a produção de agregados. Porém, além de produzir agregados reciclados, devem implantar medidas que garantam a sua utilização. Alguns estados, como por exemplo, Minas Gerais, na cidade de Belo Horizonte, a prefeitura utiliza o RCD reciclado em obras de reestruturação de vilas habitacionais de baixa renda, em obras de manutenção de instalações de limpeza urbana, em pavimentações e em outras obras públicas. Desta forma, é necessária, com urgência, não mais apenas a implantação de leis para uma efetiva redução deste resíduo; mas uma efetiva execução destas medidas, para que não se tenha apenas no papel e sim no cotidiano, de cada brasileiro, essa realidade. De forma que se posso ver, um inimigo, o resíduo da construção e demolição, tornar-se um aliado. No diz respeito às desvantagens da utilização de RCD pode-se citar o fato de que ainda não há áreas suficientes para o recebimento dos resíduos, como também a implantação da gestão ambiental de resíduos exige um alto investimento inicial para por em prática o funcionamento de usinas de reciclagem em locais que a construção civil vem crescendo em grande escala, como na maioria das cidades brasileiras. Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas:Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 173 Mas, é possível citar a utilização de agregados reciclados provenientes de RCD em substituição ao agregado natural no concreto asfáltico. Pois as misturas asfálticas a quente, utilizando como agregado o seixo, possuem grandes vantagens em relação a outras devido a sua elevada resistência mecânica. No entanto, a retirada de seixo dos rios, para utilização como agregado, causa impactos como poluição dos rios por combustíveis, morte de vida aquática, desmatamento para a área do material extraído, entre outros. Segundo o que foi abordado neste trabalho a solução para minimizar, e muito, estes impactos são utilização do RCD, como agregado. A utilização do RCD como agregado alternativo pode trazer um benefício ambiental duplo. Os estudos já realizados, de forma geral, mostraram que o primeiro passo para o desenvolvimento de ações visando ao gerenciamento eficaz do RCD é a realização de um diagnóstico local, identificando aspectos referentes a esses resíduos tais como origem, taxa de geração, agentes envolvidos na geração e coleta, destinação final, composição entre outros, que servem de base para o dimensionamento de ações para o atendimento da resolução vigente. REFERÊNCIAS ÂNGULO, S. C. Variabilidade de agregados graúdos de resíduos de construção e demolição reciclados. São Paulo, 2000. p. 155. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. Disponível em: https://doi:0.11606/D.3.2000.tde-05102005- 112833. Acessado em: Nov. 2023. ARRUDA, P. T. M. Responsabilidade Civil Decorrente da Poluição Por Resíduos Sólidos Domésticos. São Paulo: Método, 2005. Disponível em: https://biblioteca.ifrj.edu.br/cgi- bin/koha/opac-detail.pl?biblionumber=10267. Acessado em: Nov. 2023. BERNARDES, A. 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Editora e-Publicar – Desafios Contemporâneos em Ciências Exatas: Uma Abordagem Interdisciplinar e Crítica, Volume 1. 175 CAPÍTULO 12 PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA PLANEJAMENTO E GESTÃO DE MANUTENÇÃO INDUSTRIAL Thiago dos Santos Lima Siomara Dias da Rocha RESUMO Este estudo abordou uma metodologia para auxiliar na etapa de planejamento de um projeto de manutenção, com ênfase na redução de falhas. Esse estudo é importante porque a manutenção preventiva é sempre dispendiosa para as empresas, pois exige a paragem das máquinas e alocação de recursos humanos e materiais. O planejamento deve ser feito de forma que sejam utilizados apenas os recursos necessários e suficientes para manter a qualidade do equipamento. A metodologia baseia-se na seleção dos oito fatores na teoria geral de projetos e emprega instrumentos atualmente utilizados na indústria de manutenção de forma planejada e sequencial. PALAVRAS-CHAVE: Planejamento; Controle; Manutenção Preventiva; Indústria. 1 INTRODUÇÃO O intensificado cenário de competitividade empresarial impulsiona organizações, independentemente do porte, a uma busca incessante pela redução de custos, provocando a reavaliação crítica de práticas e conceitos outrora inquestionáveis. Dentro desse contexto, a implementação de novas práticas voltadas à redução dos custos de manutenção emerge como uma necessidade premente, abrindo caminho para potenciais mudanças de paradigmas (GRANT, 2016). A experiência prática no ambiente de manutenção, aliada a pesquisas de campo em diversas organizações, revelou que muitas empresas de grande porte dispõem de softwares especializados para consolidar informações e gerar ordens de serviço, abrangendo manutenções corretivas, preventivas, preditivas e provenientes de inspeções. No entanto, constatou-se uma lacuna significativa na adoção de metodologias eficazes de planejamento e gestão desses serviços, resultando em diversas falhas operacionais. Tais falhas incluem o esquecimento de inclusão de tarefas no cronograma, falta de priorização, má alocação de recursos, escassez de materiais durante as manutenções, atrasos decorrentes de riscos não gerenciados, entre outros desafios. Nos cenários de empresas de menor porte, a situação torna-se ainda mais desafiadora. Além de