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CAPÍTULO 6. Álgebra e Análise Tensoriais 341 definidos como uma quádrupla de números que pode ser representada de diferentes maneiras como: ( x0, x1, x2, x3 ) = ({xµ}) = ( x0, { xi }) = (ct, r) , onde µ = 0, . . . , 3 e i = 1, . . . , 3. No espaço M4 está suposta a validade de uma transformação xµ → x′µ que leva as coordena- das {xµ} a novas coordenadas x′µ = x′µ ({xν}) , (µ = 0, . . . , 3) , de acordo com a transformação de Lorentz (6.81). Esta transformação pode ser escrita de uma forma compacta como x′µ = Λµνx ν , (6.82a) sendo que Λµν é denominada a matriz de transformação de Lorentz. Obviamente, é válida também a transformação inversa xµ = ( Λ−1 )µ ν x′ν , (6.82b) onde Λµα ( Λ−1 )α ν = δµν , sendo [δµν ] = 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 a delta de Kronecker escrita na forma de um tensor de posto 2 misto. Comparando (6.82a,b) com (6.81), conclui-se que Λ0 0 = γ ( Λ−1 )0 0 = γ Λ0 i = Λi0 = −γβi ( Λ−1 )0 i = ( Λ−1 )i 0 = γβi Λij = δij + (γ − 1) βiβj β2 ( Λ−1 )i j = δij + (γ − 1) βiβj β2 . (6.82c) Ou, na forma matricial, Λ ≡ γ −γβ1 −γβ2 −γβ3 −γβ1 1 + (γ − 1) β2 1 β2 (γ − 1) β1β2 β2 (γ − 1) β1β3 β2 −γβ2 (γ − 1) β1β2 β2 1 + (γ − 1) β2 2 β2 (γ − 1) β2β3 β2 −γβ3 (γ − 1) β1β3 β2 (γ − 1) β2β3 β2 1 + (γ − 1) β2 3 β2 (6.82d) Λ−1 ≡ γ γβ1 γβ2 γβ3 γβ1 1 + (γ − 1) β2 1 β2 (γ − 1) β1β2 β2 (γ − 1) β1β3 β2 γβ2 (γ − 1) β1β2 β2 1 + (γ − 1) β2 2 β2 (γ − 1) β2β3 β2 γβ3 (γ − 1) β1β3 β2 (γ − 1) β2β3 β2 1 + (γ − 1) β2 3 β2 . (6.82e) De acordo com os postulados da relatividade, dados dois referenciais inerciais K e K ′, dois eventos quaisquer sempre ocorrem com separações espaço-temporais dadas respectivamente por {dxµ} e {dx′µ}, de tal forma que a quantidade ds2 . = ( dx0 )2 − (dx1 )2 − (dx2 )2 − (dx3 )2 = ds′2 ≡ ( dx′0 )2 − (dx′1)2 − (dx′2)2 − (dx′3)2 (6.83a) permanece sempre invariante frente a uma transformação de Lorentz. A quantidade ds2 definida em (6.83a) é denominada um intervalo infinitesimal entre even- tos no espaço-tempo de Minkowski, ou, simplesmente, a métrica de Minkowski. Nota-se que ds2 não é positivo-definido, pois em princípio sempre é possível encontrar uma transformação tal que ds2 < 0.21 Desta maneira, é possível definir o tensor de métrica do M4 a partir do intervalo ds2, de tal forma que ds2 = gµνdx µdxν , (6.83b) 21Porém, esta transformação, denominada tipo-espaço, viola a causalidade implícita nos postulados da relatividade. As outras transformações possíveis são tipo-tempo, para a qual ds2 > 0 e tipo-luz, para a qual ds2 = 0 (para xµ 6= 0). Autor: Rudi Gaelzer – IF/UFRGS Início: 01/2013 Impresso: 8 DE DEZEMBRO DE 2022 342 6.15. Aplicações físicas onde g = 1 0 0 0 0−1 0 0 0 0 −1 0 0 0 0 −1 , sendo que g = det (g) = −1. (6.83c) O tensor de métrica (6.83b,c) mostra que o espaçoM4 é plano; porém, de acordo com a defini- ção 6.9, é um tipo de espaço pseudo-Riemanniano, os quais são assim denominados justamente por apresentarem sua métrica dada por expressões como (6.83a). Em tais espaços, é comum caracterizar-se o tensor de métrica também por sua assinatura, a qual é o conjunto de números indicando a quantidade de autovalores positivos, negativos e nulos do tensor de métrica. No caso do M4, a assinatura do tensor de métrica é indicada por {+,−,−,−}. Propriedades matemáticas do tensor de métrica do M4: 1. gµν = gνµ (simétrico). 2. gµν = gµν (forma contravariante). 3. gµαgαν = gµν = δµν (forma mista). 4. Tr (g) = −2. Não será realizada aqui uma discussão ampla das consequências físicas das transformações de Lorentz e dos postulados da relatividade. Discussões a respeito do conceito de simultanei- dade, contração espacial, adição de velocidades e cone de luz são referidas a textos específicos sobre relatividade. O único conceito relevante para a presente discussão é do tempo próprio. Considera-se uma partícula com velocidade instantânea u (t) em relação ao referencial K. Em um intervalo de tempo dt, sua posição muda por dr = udt. De (6.83a), o elemento de arco no espaço-tempo percorrido pela partícula é ds2 = c2dt2 − |dr|2 = c2dt2 ( 1− β2 u ) em K, sendo βu = u/c o fator beta da velocidade instantânea da partícula em K. Dado agora o referencial K ′ onde a partícula está instantaneamente em repouso, como dr′ = 0 em K ′, a partícula percorre o elemento de arco ds′2 somente ao longo da coordenada temporal, ou seja, ds′2 = c2dt′2 ≡ c2dτ2 em K ′. Como este elemento de arco é um invariante frente a transformação de Lorentz, isto é, ds′2 = ds2, isto implica que dτ = √ 1− β2 u (t)dt = dt γu (t) , sendo γu (t) = ( 1− β2 u (t) )−1/2 . A outra implicação é que a quantidade dτ também é um invariante de Lorentz. Esta quantidade é o elemento de tempo próprio da partícula, ou seja, o intervalo infinitesimal de tempo mensurado no referencial instantaneamente em repouso com a mesma. Se for possível resolver a equação de movimento da partícula no referencial K entre os ins- tantes t1 e t2, então o intervalo de tempo próprio transcorrido no referencial em repouso com a partícula será dado por ∆τ = ˆ t2 t1 dt γu (t) . Este resultado mostra também que ∆τ 6 ∆t = t2 − t1, uma vez que γu > 1 sempre. Ou seja, em qualquer referencial, o intervalo de tempo medido para um determinado processo físico será sempre maior ou igual que o tempo transcorrido no referencial em repouso com a partícula. Este fenômeno é denominado de dilatação temporal. Dado o tensor de métrica na teoria da relatividade restrita, pode-se agora definir os seguintes objetos que compõe o espaço-tempo de Minkowski: Tensores de posto zero. Também denominados escalares ou invariantes de Lorentz. Tensores de posto um. Também denominados quadrivetores. Como os componentes de um quadrivetor podem estar na forma contravariante ou covariante, será empregada uma no- tação própria que indica explicitamente qual é a forma dos mesmos. Autor: Rudi Gaelzer – IF/UFRGS Início: 01/2013 Impresso: 8 DE DEZEMBRO DE 2022