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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO FACULDADE DE DIREITO PROFESSOR FERNANDO OLIVEIRA ÚLTIMA AULA Proferida na Faculdade de Direito em 27 de Março de 2019 Luanda 2021 [FICHA TÉCNICA] FERNANDO OLIVEIRA Professor Catedrático, Jubilado ÚLTIMA AULA Proferida no Auditório Maria do Carmo da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, em 27 de Março de 2019 Sumário Roteiro da aula ……………………………………… 9 Seleção de diapositivos …………………………… 66 A ÚLTIMA AULA 7 Foto 1 Foto 2 8 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 9 Foto 3 Foto 4 ROTEIRO DA AULA • A emergência do Estado Angolano e o seu reconhecimento internacional • A questão do mercenarismo • O uso da força e o “Caso Naulila” • As agressões sul-africanas a Angola • Angola e a codificação do Direito Internacional A ÚLTIMA AULA 11 Ensinei nesta casa do Direito a disciplina de Direito Internacional Público, desde o longín- quo ano de 1980 até 1996 e, depois, de 1996 até 2015, a disciplina de Direito do Mar. Entre 2010 e 2015, dei a minha colaboração docente nestas dis- ciplinas na Universidade José Eduardo dos Santos, do Huambo, prestando assim um tributo à amada terra que, como diz o cantor, me fez nascer. Espo- radicamente, também ensinei nas Universidades 11 de Novembro, de Cabinda, e Katiavala Bwuila, de Benguela. 12 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 13 São, pois, trinta anos de docência, apenas com interrupção de um ano, em que estive em pós-graduação no exterior. Cabe-me aqui assinalar que a minha docência do Direito Internacional foi sempre a par, e benefi- ciou enormemente, da minha prática de assessoria ao Governo angolano, nomeadamente aos Minis- térios da Justiça e das Relações Exteriores. Lembro aqui, comovidamente, a colaboração que ao longo dos anos fui dando, com muito empenho e orgu- lho, aos saudosos Ministros Diógenes Boavida, Paulo Jorge e Venâncio de Moura. Nesta “última aula”, proponho-me revisitar alguns temas em que o nosso País se cruzou com diferentes capítulos do Direito Internacional, tal como é ensinado nas Faculdades de Direito. Como bem se vê, cada um destes temas ocu- paria, só por si, uma ou mais aulas e abundante discussão. Por isso, imponho-me a maior concisão e brevidade, mas com o necessário rigor no essen- cial. Poupar-vos-ei, contudo, inúmeros pormeno- res e referências, que naturalmente figurarão no texto escrito. Com estas balizas, inicio a minha fala, só esperando que não vos canse e decepcione. O reconhecimento internacional do novo Estado A emergência da Angola independente, coloca a questão do reconhecimento internacional do novo Estado, pelos outros Estados e pela Comu- nidade Internacional. O reconhecimento de um novo sujeito de Direito Internacional é um capítulo clássico do Direito Internacional. No campo da personalidade jurídica internacional, distingue-se, quanto ao objecto, o reconhecimento (i) do novo Estado; (ii) do novo Governo; (iii) das Organiza- ções Internacionais; (iv) das Nações e (v) dos Beli- gerantes, Insurrectos e Movimentos de Libertação 14 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 15 Nacional. Já quanto ao sujeito — quem reconhece — ele pode ser individual, se é feito apenas por um sujeito, ou colectivo, se é assumido por um conjunto de Estados, quer por si, quer no quadro de uma Organização Internacional. Já quanto à forma ele pode ser expresso, quando vertido numa declaração solene do Estado que reconhece, ou implícito, quando resulta implicitamente de com- portamentos de um Estado que permitem inferir uma vontade de reconhecer. Questão teórica — mas com grande relevân- cia prática — é a da natureza do reconhecimento. Aí, a doutrina divide-se entre a teoria constitutiva e a teoria declarativa. Para a primeira, o reconhe- cimento tem um efeito constitutivo, isto é, cria na esfera jurídica internacional uma situação nova. Já para a teoria declarativa, o Estado é sujeito de Direito Internacional desde o momento do seu surgimento, independentemente de ser ou não reconhecido. Modernamente, é esta última teoria que recolhe o favor quase unânime da doutrina, dado que é a mais consentânea com os princípios da autodeterminação dos povos e da igualdade soberana dos Estados. Debrucemo-nos agora sobre a modalidade, quiçá a mais importante, o reconhecimento do novo Estado, particularmente no caso de ascensão à independência de um território até então não autónomo. Discute-se na doutrina se o reconheci- mento do novo Estado é um acto livre e discricio- nário ou se, pelo contrário, é um acto vinculado, vale dizer, se existe um dever de reconhecer o Estado neófito, por parte dos outros Estados. Embora, de jure condendo, se possa preconizar a existência de tal dever, em homenagem aos princí- pios da autodeterminação dos povos e da igualdade soberana dos Estados, a verdade é que, na prática internacional, o reconhecimento permanece lar- gamente uma faculdade livre e discricionária dos outros Estados. O reconhecimento traduz a constatação e aceitação do novo poder como representativo do Estado: isto é, constata que a autoridade política que tomou o poder nessas circunstâncias repre- senta validamente o Estado na esfera internacio- nal, sem que essa constatação signifique qualquer juízo de valor sobre o acto que deu origem ao novo Governo Quando e em que condições se deve reco- nhecer um novo Governo? A esta questão respon- 16 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 17 dem as duas principais doutrinas neste domínio: a doutrina da legitimidade, que defende que só devem ser reconhecidos os Governos legítimos, à luz de determinados valores, e a doutrina da efectividade, segundo a qual um Governo deve ser reconhecido desde que exerça efectivamente auto- ridade no território. Esta é, a meu ver, a doutrina mais correcta, à luz dos princípios gerais do Direito Internacional, e a que é mais frequentemente apli- cada na prática internacional. No fundo, ela é uma decorrência do princípio geral que atravessa todo o Direito Internacional, o princípio da efectividade, segundo o qual os factos criam situações legais. No seio das Organizações Internacionais, o reconhecimento do novo Estado é implícito na sua admissão como membro da Organização. Já quanto ao novo Governo, o seu reconhecimento acaba por se subsumir no mecanismo da verifica- ção de poderes. Neste quadro teórico que acabo de resumir, como é que se insere o facto histórico do reco- nhecimento do novo Estado da Angola indepen- dente? Como é sabido, o problema surgiu por força das circunstâncias anómalas em que o novo Estado nasceu, à data de 11 de Novembro de 1975. Por um lado, não houve uma transmissão formal do poder pela potência colonial; por outro, na mesma data, emergiram no território duas entidades, reclaman- do-se antagonicamente da qualidade de um novo Estado. De facto, na tarde do dia 10 de Novembro, Portugal, pela voz do então Alto Comissário, fez a conhecida declaração solene […] em nome do Presidente da República, proclamo solenemente — com efeito a partir das 0 horas do dia 11 de Novembro de 1975 — a independência de Angola e a sua plena soberania, radicada no Povo Angolano, a quem pertence decidir das formas do seu exercício. Após esta solenidade, o último representante de Portugal na colónia foi arrear a bandeira portu- guesa na Fortaleza de São Miguel e dali seguiu para a base naval da Ilha, onde embarcou todo o restante dispositivo militar, em navios que permaneceram nas águas territoriais angolanas até à meia-noite. Como reminiscência histórica, anote-se que, por força de um Decreto-Lei assinado cinco dias antes pelo Alto Comissário as águas territoriais angolanas tinham sido estendidas até às 20 milhas da costa. 18 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 19 Uma última generosidade da potência colonial... À mesma hora, em Luanda, o PresidenteAgosti- nho Neto proclamava a Independência de Angola e a instituição da República Popular de Angola. No mesmo dia, a Unita, na então Nova Lisboa, e a FNLA, no Ambriz, proclamavam igualmente a Independência e a assim denominada República Democrática de Angola. Mas, nesse dia 11 de Novembro, apenas Agostinho Neto era empossado como Presidente da República de Angola, enquanto que, em Nova Lisboa, só Jonas Savimbi presidia à cerimónia da Independência e instituição da dita República Democrática de Angola. Estando assim concen- trado em um ou dois dias o fim dos cinco séculos de dominação colonial, o contexto dramático em que tal acontecia era o de uma profunda divisão e conflitualidade entre os três Movimentos: um País partido em três, sem a presença, em nenhum dos palcos, da potência colonial que abalara nas modernas caravelas. A partir daqui, iniciou-se a grande batalha pelo reconhecimento internacional do novo poder instituído, quer como novo Estado, quer como novo Governo. No que concerne à “República Democrática de Angola”, esta entidade teve uma vida efémera: esfumou-se sem ter alcançado qualquer reconheci- mento, quer bilateral, quer no seio das Organiza- ções Internacionais. Aliás, o seu “Governo” apenas viria a tomar posse um mês mais tarde no Huambo, com a ausência notória dos dois Presidentes Hol- den Roberto e Jonas Savimbi. De modo diferente, ocorreu o reconhe- cimento da República Popular de Angola e do Governo por ela instituído. Desde logo, na ceri- mónia da proclamação da Independência, em Luanda, fizeram-se presentes representantes de numerosos Estados, maioritariamente africanos e dos então países socialistas e não-alinhados. A sua presença em tal solenidade não podia deixar de constituir uma clara forma de reconhecimento implícito. Nessa cerimónia, destacou-se porém a presença do representante do Brasil, o Embaixador Ovídio Melo. E mais: simultaneamente às 20 horas em Brasília e meia-noite em Luanda, o Governo do General Geisel emitia uma declaração formal de “reconhecimento do Governo instalado em Luanda”. Por isso, a história regista ter sido o Bra- sil o primeiro Estado a reconhecer formalmente 20 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 21 a República Popular de Angola. Aliás, o primeiro a criar uma Embaixada em Angola. A partir daí, desenrolou-se aquilo que ficou conhecido como a “batalha pelo reconhecimento”, centrada numa denodada e eficiente campanha diplomática, con- duzida pelo então Ministro das Relações Exterio- res, o Eng. José Eduardo dos Santos. Portugal, a ex-potência colonial, que falhara a qualquer das cerimónias de proclamação da Independência, só veio a reconhecer a República Popular de Angola em 23 de Fevereiro desse ano, sendo o 82º País a reconhecer. Quanto aos Estados Unidos da América, só reconheceram o Estado e o Governo de Angola, dezoito anos depois, em 1993, com a Administração Clinton. A par dos reconhecimentos bilaterais — Estado a Estado — a questão do reconhecimento de Angola colocou-se também, e com grande acui- dade, ao nível das Organizações Internacionais, designadamente a Organização das Nações Unidas e a Organização da Unidade Africana. Isto, no con- texto da admissão do novo Estado como membro dessas Organizações. Na OUA, a admissão da República Popular de Angola acabou por ser adoptada em 12 de Fevereiro de 1976. Angola tornou-se, assim, o 46º Estado membro da Organização continental, numa altura em que 80 Países, entre os quais 40 africanos, a tinham reconhecido bilateralmente. No que concerne à ONU, o processo de admissão da República Popular de Angola foi mais problemático e estendeu-se por mais um ano. Basi- camente porque, sendo o processo de admissão de um novo membro sujeito a uma dupla apreciação na Assembleia Geral e no Conselho de Segu- rança, ao nível do Conselho prevalecia a oposição do Governo dos Estados Unidos, que brandia a ameaça do uso do seu direito de veto. Essa ameaça só desapareceu quando o Conselho de Segurança, em Novembro de 1976, adoptou uma Resolução a recomendar à Assembleia Geral a admissão de Angola como membro da Organização. O que este órgão plenário veio a deliberar, em 1 de Dezembro de 1976, tornando-se assim Angola o 146º Estado membro. Esta é uma data histórica, que vem encerrar a longa marcha do reconhecimento da República Popular de Angola pela Comunidade Internacio- nal, representada pela Organização universal. A ÚLTIMA AULA 23 Um julgamento que fez história Em Junho de 1976, escassos meses após a Independência, realizou-se em Luanda o julgamento de treze mercenários: dez britânicos, dois norte-americanos e um irlandês. Eles tinham sido capturados pelas FAPLA, no norte de Angola, em pleno teatro de guerra e faziam parte de um grupo mais numeroso, que tinha sido recrutado no Reino Unido, para apoiar a FNLA. O julgamento foi realizado pelo Tribunal Popular Revolucioná- rio, que foi instituído por Lei de 1 de Maio desse ano e era constituído por cinco juízes, dos quais 24 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 25 dois togados. (o falecido Dr. Ernesto Teixeira da Silva e o mais tarde docente desta Faculdade Dr. Orlando Rodrigues). Igualmente jurista, era o Procurador Popular, Dr. Manuel Rui Monteiro e o Juiz substituto, Dr. Garcia Bires. A defesa dos réus foi assegurada por três advogados britânicos, vindos de Inglaterra, e três defensores oficiosos angolanos. Entre estes últimos, encontravam-se dois juristas que, mais tarde, também vieram a ser docentes nesta casa: a Dra. Teresinha Lopes e o Dr. Aníbal Espírito Santo. As sessões do julgamento decorreram entre 15 e 28 de Junho. Simultaneamente, reuniu-se em Luanda e assistiu a todas as sessões do julgamento uma Comissão Internacional de Inquérito sobre os Mercenários, integrada por 42 juristas e outras personalidades de renome internacional, prove- nientes de 40 Países. O julgamento decorreu de forma exemplar, com a observância de todas as regras universais de um julgamento legal e justo, designadamente amplas garantias de defesa para os réus. Isto mesmo foi reconhecido pelos seus advogados, pela referida Comissão e por inúmeros jornalistas, que assistiram e publicitaram profusamente as audiên- cias. O veredicto final do Tribunal, proferido em 28 de Junho, condenou 4 réus à pena capital e 9 a pesadas penas de prisão. Nos termos da lei então em vigor, o Presidente da República Agostinho Neto viria a confirmar as penas de morte, que foram executadas logo nos dias seguintes. No plano jurídico, o que esteve em causa neste julgamento, o primeiro — sublinhe-se — que na história mundial teve por objecto mercenários, foram duas teses contraditórias. Por um lado, a Acusação defendeu a aplicabilidade aos merce- nários, da “Lei da Disciplina do Combatente”, adoptada pelas FAPLA ao tempo da luta de liber- tação nacional e que, em nome de uma reclamada legalidade revolucionária, se considerava em vigor. No domínio do Direito Internacional, a Acusação baseou-se na existência e punibilidade do crime de mercenarismo, invocando para isso várias resolu- ções das Nações Unidas e da OUA adoptadas a par- tir da década de sessenta, as quais incriminavam a utilização de mercenários em conflitos armados internos. Invocou também a Resolução nº 3314, aprovada em 1974 pela Assembleia Geral da ONU, intitulada “Definição de Agressão”, a qual consi- dera expressamente a utilização de mercenários 26 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 27 como um acto de agressão. Argumentou o Pro- curador Popular que a sucessão destas resoluções das duas Organizações Internacionais, a par com outras declarações e tomadas de posição dos Esta- dos, constituíam uma prática reiterada, susceptível de gerar um costume internacional que, como é sabido, é uma fonte do Direito Internacional. Do lado da defesa dos réus,esgrimiram-se os argumentos da não aplicabilidade aos mercenários da referida “Lei da Disciplina do Combatente” e da inexistência de uma qualificação internacional do mercenarismo como crime, visto que as refe- ridas resoluções, para além de, alegadamente, não serem juridicamente vinculativas, se referiam ape- nas ao recrutamento e envio de mercenários pelos Estados, não abrangendo os actos próprios dos mercenários. Por tudo isto, concluíram os advo- gados dos réus que a aplicação de uma qualquer pena aos mercenários trazidos a juízo significaria uma violação dos princípios universais do “nullum crimen sine lege” e “nulla poena sine crimen”. O Tribunal, na sentença condenatória, rejei- tou, com abundante fundamentação, esta tese da defesa. Como disse, a Comissão Internacional que assistiu ao julgamento, no final do mesmo, apro- vou uma Declaração, confirmando a regularidade e legalidade, não só do modo como se processou o julgamento, como da própria sentença proferida. Ao mesmo tempo, a Comissão elaborou um projecto de “Convenção sobre a Prevenção e Eli- minação do Mercenarismo”, que também denomi- nou de “Convenção de Luanda”, em homenagem a Angola e à sua capital. Este projecto representou, na verdade, um notável progresso na construção do regime jurídico-internacional da prevenção, incriminação e repressão do mercenarismo. Desde logo, pela densificação do tipo criminal de merce- narismo, abrangendo não só, a actividade dos mer- cenários, como também o recrutamento e envio de mercenários para um País estrangeiro. Além disto, o projecto estipulava claramente que toda a pessoa física ou moral que cometa o crime de mercena- rismo, “comete um crime contra a paz e segurança em África e é punido como tal”, sendo a punição prevista do seguinte modo: Todo o Estado Contratante compromete-se a punir a infracção […] com a pena mais severa prevista na sua legislação, podendo a pena 28 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 29 aplicável ir até à pena capital. Disposição importante do projecto de Luanda é a que prescreve a não aplicabilidade aos merce- nários da Convenção de Genebra sobre os prisio- neiros de guerra Os mercenários não têm o estatuto de comba- tentes e não podem beneficiar do estatuto de prisioneiros de guerra. Aliás, este mesmo regime fora estabelecido, na mesma altura, pela Conferência Internacio- nal, realizada em Genebra, que culminou com a adopção do Protocolo Adicional à Convenção de Genebra de 1949. De igual modo, este Protocolo, e também o Projecto de Luanda, estatuiu que os mercenários “não podem eximir-se à extradição, invocando um pretenso carácter político do crime”. Vale dizer, os mercenários são considerados crimi- nosos de direito comum. Logo após o julgamento de Luanda, o Governo angolano, cumprindo o mandato que recebera da Comissão Internacional, apresentou o projecto de Convenção à Organização da Unidade Africana. Foi posteriormente constituído um comité de especia- listas juristas, no qual Angola participou activa- mente, e que aprontou o projecto de Convenção da OUA. Finalmente, em 3 de Julho de 1977, na cimeira de Libreville, foi adoptada a “Convenção sobre a eliminação do mercenarismo em África”. Seja dito que este tratado acolhe, no essencial, as disposições do projecto de Luanda, tanto no con- teúdo, como até na redacção. A Convenção africana entrou em vigor em 22 de Abril de 1985. Angola assinou-a em 19 de Julho de 1978, mas não a rati- ficou até esta data. Presentemente, de entre os 55 Estados membros da União Africana, a Convenção conta com 32 Estados-partes. Estranhamente, dos quatro Estados dos PALOP, apenas a Guiné Bissau a assinou e ratificou. Sem comentários…para além da estranheza… Registe-se que, noutro plano, Angola cum- priu prontamente a outra recomendação que recebera da Comissão Internacional: dotou-se de legislação interna, aprovando a Lei nº 4/77, de 25 de Fevereiro, «Lei sobre a prevenção e repressão do mercenarismo». Alcançado o objectivo de codificar a criminali- zação do mercenarismo ao nível regional africano, 30 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 31 importava alargar essa tarefa para o plano universal, através das Nações Unidas. Assim, impulsionada por um grupo significativo de Países do chamado Terceiro Mundo, a Assembleia Geral decidiu, em 1980, encarregar um Comité Especial, consti- tuído por 35 Estados, de elaborar uma Convenção internacional contra o mercenarismo. Saliente-se que deste Comité - que Angola integrava -, faziam parte 8 peritos ocidentais, 6 dos Países socialistas e 21 do chamado Terceiro Mundo. Esta compo- sição, ao nível da participação na codificação do Direito Internacional, reflecte bem uma mudança qualitativa dos actores/legisladores internacionais nos tempos modernos, que se acentuou a partir da década de setenta do século passado. O Comité veio a realizar sete sessões anuais, entre 1981 e 1988, na sede das Nações Unidas em Nova York e finalmente, em 1989, a Assembleia Geral adoptou a «Convenção Internacional contra o recruta- mento, utilização, financiamento e instrução de mercenários». Como é natural, após o longo e complexo trabalho de negociação em que se defrontaram as concepções e visões político-jurídicas díspares dos Estados envolvidos, esta Convenção aperfeiçoou e desenvolveu significativamente o tecido normativo do Projecto de Luanda e da Convenção da OUA. A Convenção acabou por entrar em vigor em 20 de Outubro de 2001. Presentemente, em Fevereiro de 2019, são em número de 35 os Esta- dos partes da mesma, sendo apenas 9 africanos. Angola, assinou em 28 de Dezembro de 1990, mas ainda não ratificou até esta data. É, de facto, a meu modesto ver, uma situação lamentável e incompreensível, dado o papel pioneiro que o País desempenhou no domínio do combate pela elimi- nação do mercenarismo. Entretanto, em 2005, voltou a ser constituído nas Nações Unidas um novo grupo de peritos para proceder à revisão da Convenção de 1989. Mas esta tarefa vai-se arrastando de ano para ano, sem resultados concretos. Acontece até que, muito recentemente, em Fevereiro passado, após a tentativa de golpe de Estado que ocorreu na Guiné Equatorial, o Conse- lho de Segurança realizou um debate sobre “Acti- vidades mercenárias como fonte de insegurança e desestabilização em África.” No final do debate, o Secretário Geral das Nações Unidas e o Presidente da Comissão da União Africana apelaram aos Paí- 32 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 33 ses para que ratifiquem rapidamente a Convenção das Nações Unidas. Será que este apelo das duas Organizações internacionais vai ser correspondido pelo nosso País que, há quarenta e três anos, iniciou tão empenhadamente a luta contra o flagelo do merce- narismo em África? Tratarei agora o terceiro tema, ou seja, O Caso “Naulila” e a regulação do uso da força nas relações internacionais Quando eu, na década de 80, me apresentei em Paris ao Professor Paul Reuter e lhe disse que era de Angola, ele logo exclamou “ah! Angola, Naulila, n’est-ce pas?” Porquê esta alusão do emi- nente jusinternacionalista, associando o nome do nosso País a uma recôndita povoação do Cunene? Já se compreenderá porquê. Eis um resumo dos factos. Em 1915, ou seja em plena 1ª Guerra Mundial, 34 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 35 ao sul da colónia de Angola prevalecia a ocupação alemã no chamado Sudoeste Africano, sob o nome de “Damaralândia”, a Namíbia de hoje. Aconteceu que, no decurso de um incidente devido a um mal- -entendido (para o que terá contribuído a inépcia do tradutor…) foram mortos no posto português de Naulila cinco alemães — um alto funcionário e quatro militares. Em represália as forças alemãs atacaram e destruíram o forte de Cuangar e mais quatro postos portugueses. Fizeram ainda uma expedição militar que atacou e destruiuo forte de Naulila, naquilo que passou a ser denominado, na historiografia militar portuguesa e na opinião pública da época como “O desastre de Naulila”. Por seu lado, os alemães qualificaram essa acção militar como sendo uma strafexpedition, “expedição punitiva”. Os danos directos foram pesados para as forças portuguesas: entre europeus, 69 mortos, 76 feridos e 36 prisioneiros, forçados a sete meses de longo cativeiro; entre as tropas “indígenas”, cerca de 180 mortos, praticamente todos enforcados. Uma verdadeira carnificina! Como resultado deste e de outros violentos combates no Cunene, as tro- pas portuguesas foram praticamente expulsas de toda a zona. Passo a citar os dizeres da Sentença que referirei a seguir. “Isto proporcionou uma grande revolta da “tribo dos cuanhamas”. A tal ponto que uma expedição importante teve de ser enviada mais tarde pelos portugueses, “para reprimir a revolta dos negros, reocupar o território abandonado e submeter os Cuanhamas” […] “populaça belicosa submetida aos desígnios de um chefe sanguinário”. O chefe assim cruamente retratado — dizemos nós –, era, na realidade, Mandumbe Ya Ndemufaio, o último rei dos cuanhamas... O diferendo que estes incidentes suscitaram foi mais tarde submetido a um Tribunal arbitral luso-alemão, sediado na Suíça, que, em Julho de 1928, pronunciou a Sentença denominada “Responsabilidade da Alemanha em virtude dos danos causados nas colónias portuguesas do sul da África”. Antes de analisarmos como é que o Direito Internacional vigente na época foi aplicado, seria bom ter presente o regime geral da responsabili- dade internacional dos Estados, ou seja, a que é desencadeada por actos atribuídos ao Estado (actos dos seus funcionários ou órgãos), sendo esses actos ilícitos, porque contrários ao Direito Internacio- nal. No quadro das reacções ao ilícito, mais tarde 36 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 37 agrupadas na categoria genérica das contra-medi- das, distingue-se classicamente entre, de um lado a retorsão — quando se está perante um acto lícito praticado por um Estado, em resposta a outro acto lícito de outro Estado, sendo contudo os dois actos inamistosos ou prejudiciais para os interesses da contra-parte — e, do outro lado, as represálias, em que se responde a um acto ilícito com outro acto ilícito, na expressão francesa “rendre la pareille”. Aqui, a ilicitude do segundo acto é excluída por constituir uma resposta ou contra-medida a outro acto ilícito. Dito isto, vejamos como o Tribunal, na referida Sentença, estabeleceu o direito relativamente às represálias. A primeira condição sine qua non para a admissibilidade jurídica das represálias é a ilici- tude do acto a que se responde, no dizer do Tri- bunal, a verificação de “um motivo fornecido por um acto prévio, contrário ao direito das gentes”. A segunda condição é a de que as represálias só são lícitas quando são precedidas de uma interpelação infrutuosa. Com efeito, o emprego da força só se justifica pelo seu carácter de necessidade. […]. Por isso, estabelece o Tribunal que “houve […], da parte das autoridades do Sudoeste Africano recurso à força sem tentativa prévia de obter satisfação pelas vias legais”. Logo a seguir, é posta a terceira condi- ção: “[…] deverão certamente considerar-se como excessivas, e por isso ilícitas, as represálias fora de toda a proporção com o acto que as motivou. Ora, na espécie […] houve desproporção evidente entre o incidente de Naulila e os seis actos de represália que se lhe seguiram”. Anote-se que este requisito da proporcio- nalidade entre a acção e a reacção — em última instância um corolário lógico do princípio mais geral da razoabilidade - está presente em diversos institutos e regimes do Direito Internacional (e também do direito interno), designadamente nas outras circunstâncias de exclusão da ilicitude, como a legítima defesa, e o estado de necessidade. A parte conclusiva da Sentença é clara e pre- cisa: Os árbitros chegam à conclusão que as agressões alemãs […] na fronteira de Angola não podem ser consideradas como represálias lícitas ao incidente de Naulila […], e isto por falta de motivo suficiente, de interpelação prévia e de uma proporção admissível entre a ofensa 38 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 39 alegada e as represálias exercidas. Em consequência, o Tribunal sentenciou que a Alemanha, tendo incorrido em responsabilidade internacional pelos factos ocorridos, é condenada a indemnizar Portugal pelos danos que lhe infli- giu com as acções bélicas no sul de Angola. O montante da indemnização viria a ser fixado pelo mesmo Tribunal em 1930. Entretanto, o Direito Internacional sobre as represálias viria a sofrer posteriormente uma importante evolução, com a interdição do uso da força e da ameaça do uso da força nas relações inter- nacionais, princípio estabelecido, com a natureza e força de jus cogens, no artº 2º da Carta das Nações Unidas. Aí se proscreve não só todo o recurso à força (abrangendo a guerra, as represálias armadas ou qualquer utilização da força), mas também a ameaça do recurso à força. As represálias armadas são assim banidas do Direito Internacional. Esta inovação no Direito Internacional, sole- nemente aportada pela Carta, foi confirmada pela Resolução 2625, de 1970, da Assembleia Geral, denominada “Declaração sobre os Princípios de Direito Internacional referentes às relações de amizade e cooperação entre os Estados”, na qual, a propósito do princípio da interdição da força, se estabelece expressamente que “os Estados devem abster-se de actos de represálias que impliquem o uso da força.”. Mais tarde, a Assembleia Geral aprovou a já mencionada “Definição de Agressão” que qualifica a guerra de agressão como um “crime contra a paz, dando lugar à responsabilidade internacional”. Esta criminalização da agressão é reafirmada no projecto da Comissão do Direito Internacional sobre a responsabilidade dos Esta- dos, uma codificação presentemente em curso nas Nações Unidas. Deixando a “Naulila” do passado, eis que Nau- lila e tantas outras povoações do nosso Cunene e do nosso sul de Angola voltaram, de algum modo, a ser mais recentemente objecto do Direito Inter- nacional. Falemos agora das A ÚLTIMA AULA 41 Agressões sul-africanas contra Angola, ao tempo do “apartheid” O histórico das agressões a Angola pelo regime racista e de apartheid da África do Sul é extenso e dramático, prolongado por mais de duas décadas. Olhando para a incidência externa, o con- flito poderá dividir-se em duas fases: a primeira, desde Outubro de 1975, ou seja, um mês antes da Independência, até à retirada das forças armadas sul-africanas, em 27 de Março de 1976 (precisa- mente neste dia, reparo agora, há 43 anos…); e a segunda fase, entre Junho de 1979 e Dezembro 42 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 43 de 1988. Nesta última data foram concluídos os Acordos de Nova York, que consagraram a solução regional que tinha implícito aquilo que na época se chamava de “linkage”- a ligação da retirada das tropas cubanas de Angola, com a retirada das for- ças armadas sul-africanas, abrindo a porta para a implementação, finalmente, da célebre Resolução 435, que traçou o caminho para a independência da Namíbia. Aquela primeira fase foi concluída e como que sancionada, pela Resolução 387, de 31 de Março de 1976, do Conselho de Segurança das Nações Unidas que (i) condenou “a agressão da África do Sul contra a República Popular de Angola”; (ii) exigiu “o respeito pela África do Sul da soberania e integridade territorial da República Popular de Angola”; (iii) exigiu que a África do Sul “deixasse de utilizar o território internacional da Namíbia para organizar actos de agressão contra Angola ou qualquer outro Estado vizinho”; finalmente, (iv) exortou a África doSul a “atender às justas recla- mações da República Popular de Angola para pagar uma indemnização total pelos danos e destruições infligidos a Angola”. Posteriormente, nos anos seguintes e até Abril de 2000, o Conselho de Segurança adoptou 63 resoluções sobre Angola, todas com o mesmo conteúdo condenatório das agressões sul-africanas e exigência de uma adequada indemnização. Em função de relatórios sucessivamente apresenta- dos às Nações Unidas pelo Governo angolano, e depois, em 1985, do relatório elaborado por uma Comissão de Investigação designada pelo Conse- lho de Segurança, o montante da indemnização devida a Angola pela África do Sul foi estimado em 36 biliões de dólares. Note-se, contudo, que todas estas resoluções não foram tomadas ao abrigo do capítulo VII da Carta. Como é sabido, neste capítulo estabelece-se que o Conselho de Segurança, quando se verifica a existência de qualquer ameaça à paz, violação da paz ou acto de agressão, pode decidir, com carác- ter obrigatório, a tomada de medidas coercivas, incluindo o emprego da força armada — são as chamadas sanções. Na verdade, o carácter mera- mente recomendatório daquelas resoluções per- mitia afastar a ameaça de veto, sistematicamente brandida pelos Estados Unidos. Aliás, logo a seguir à grande operação armada de invasão e ocupação de uma grande parte da província do Cunene, em 44 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 45 Agosto de 1981 (a chamada “Operação Protea”), a resolução condenatória, invocando expressa- mente o capítulo VII da Carta, foi formalmente votada, mas não adoptada, por força do veto dos Estados Unidos. Foi necessário esperar pelo reco- nhecimento da República Popular de Angola pela Administração Clinton, em Maio de 1993, para que o Conselho de Segurança aprovasse a primeira resolução invocando expressamente o capítulo VII da Carta. Mas agora, visando directamente a Unita: tratou-se da Resolução nº 864/93, a que se seguiram outras Resoluções em 1988; 1999 e 2000, todas elas contendo a decisão de aplicação de sanções à Unita, cada vez mais abrangentes. Embora, por más razões e pelo lado menos positivo, também aqui Angola inovava no Direito Internacional: era a primeira vez que o Conselho de Segurança decretava, com carácter mandatório, sanções, não contra um Estado, mas contra um movimento insurrecional interno. No que concerne ao contencioso Angola- -África do Sul, as resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral estabeleceram e aplicaram o direito relativamente a diversos pontos importantes do Direito Internacional, em resposta e contrariando as alegações de justificativas por parte da África do Sul e dos Estados que, mais ou menos abertamente, a apoiavam. Desde logo, a caracterização como agressão das sucessivas intervenções das forças armadas da África do Sul no território angolano, a partir de um território internacional, a Namíbia, ilegalmente ocupado, visto que, desde 1966, o antigo Sudoeste Africano fora colocado sob a responsabilidade directa das Nações Unidas. Depois, a recusa das pretensas jus- tificações da África do Sul, como sejam o combate “ao comunismo” e a presença de tropas cubanas em Angola e o combate “ao terrorismo”, de que eram acusados os combatentes da Swapo que se aquartelavam e partiam de Angola para acções no território namibiano. Pretória reivindicava um pretenso “direito de represálias” e de “hot pur- suit”, a chamada “perseguição a quente”. Particu- larmente sobre esta última justificativa, sempre se diria que um tal direito só é admitido no Direito Internacional em relação à perseguição no mar, e nunca em terra e, em todo o caso, nunca poderia ser licitamente exercido a partir de um território internacional ilegalmente ocupado. Enfim, a África do Sul do apartheid seguia 46 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 47 bem o ensinamento do Chanceler alemão Bismark “primeiro uso a força; depois chamo os meus juris- tas para a justificar”. O que não abona nada a favor da nossa classe… A essa retórica argumentativa, respondia-se com a disposição inequívoca da já mencionada “Definição de Agressão”: “nenhuma considera- ção de qualquer natureza, seja política, económica, militar ou outra, poderá justificar uma agressão. Por outro lado, todas as resoluções de que vimos tratando afirmam claramente, a favor de Angola, a pertinência do exercício do seu direito de legítima defesa, tal como estabelecido no art.º 51º da Carta das Nações Unidas, e, consequentemente, o seu, cito, “inerente e legítimo direito de, no exercí- cio da sua soberania, pedir a assistência de outro Estado ou grupo de Estados” No mesmo registo, e no contexto do reconhecimento da SWAPO pelas Nações Unidas como legítimo movimento de libertação nacional, o Conselho de Segurança che- gou a, cito, “louvar a República Popular de Angola pelo seu firme apoio ao povo da Namíbia na sua justa e legítima luta contra a ocupação ilegal do seu território pela África do Sul” Sobre o tema do tratamento da questão de Angola pelas Nações Unidas, recomendo viva- mente a exaustiva obra “As Resoluções das Nações Unidas sobre Angola”, dissertação de Mestrado do antigo aluno da nossa Faculdade, Mestre José Paulino Cunha. E agora fecho, para vosso alívio e satisfação, o meu último tema: A ÚLTIMA AULA 49 Angola e a codificação do Direito Internacional Durante séculos, o Direito Internacional teve como principal e quase exclusiva fonte o cos- tume, quer a nível bilateral, quer a nível multila- teral. A densificação por via convencional, através de tratados entre dois ou mais Estados, em todo o caso sempre em número restrito, é um fenómeno relativamente recente. Foi preciso esperar até aos finais do século XIX e, acentuadamente, por todo o século XX, para que surgisse o Direito Interna- cional geral, formado pela via convencional, isto é, tendo como fonte ou modo de revelação tratados A ÚLTIMA AULA 51 multilaterais gerais, aspirando a envolver como partes círculos cada vez mais amplos de Estados, até à universalidade. É neste contexto que se insere o movimento da codificação. Tal como aconteceu com os direi- tos internos, em que se procedeu à codificação dos diferentes ramos do direito, dando lugar ao surgi- mento dos grandes Códigos na Europa (o Código Civil napoleónico, o BGB alemão, etc), também a codificação do Direito Internacional, com início em finais do século XIX (lembre-se as Convenções de Haia sobre o Direito da Guerra), resultou num considerável desenvolvimento do tecido norma- tivo da Comunidade Internacional, abrangendo domínios cada vez mais amplos. A codificação vem responder à enorme dispersão das normas de Direito Internacional, proveniente da estrutura descentralizada da sociedade internacional e do modo igualmente descentralizado e não hierar- quizado da produção jurídica que nela vigora. No Direito Internacional, a codificação traduz-se na recolha, compilação e sistematização, a propósito de uma determinada matéria, dos costumes e dos tratados, quer bilaterais quer gerais, da jurispru- dência internacional e interna, da doutrina dos publicistas, e da prática dos Estados e das Organi- zações Internacionais. Mas, tal como nos direitos internos, a codificação no Direito Internacional não se limita a uma mera transposição declarativa escrita daquelas fontes pré-existentes. Ela reveste- -se também de um carácter inovador, promovendo aquilo que a doutrina chama de desenvolvimento progressivo do Direito Internacional. Quanto ao resultado do trabalho da codifi- cação, a modalidade mais frequente, por assim dizer, mais vinculativa, é a da via convencional, ou seja, adopção de um tratado multilateral geral, aberto à participação universal, a que por prática habitual se dá o nome de Convenção. Mas a codi- ficação também pode culminar numa Declaração,aprovada pelo órgão plenário da ONU ou de uma outra Organização Internacional regional (veja-se a referida “Definição de Agressão”, a “Declaração Universal dos Direitos do Homem” e a “Declara- ção sobre a outorga da independência aos países e povos coloniais”, a famosa Resolução 1514 da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 1960, a célebre “Magna Carta da Descolonização”). Os fazedores da codificação em Direito Inter- nacional, por assim dizer, “os legisladores”, são os 52 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 53 Estados — principalmente, os que participam na preparação e elaboração das Convenções e delas se tornam parte. E é neste campo da autoria que se verificou uma mudança radical, a partir da década de ses- senta do século passado. Com efeito, o Direito Internacional anterior, dito “clássico”, era carac- terizado por um dominante europeiocentrismo. Tratava-se de um direito oligárquico, de um “clube” restrito de Estados europeus, não só ao nível da sua elaboração, como da sua aplicação, servindo primordialmente os interesses hegemónicos des- ses mesmos Estados. Veja-se, como exemplo para- digmático, o Congresso de Berlim, que reuniu apenas 13 potências europeias e os Estados Unidos da América, e ali procederam à partilha entre si das colónias africanas e definiram as regras jurídicas que deveriam presidir às futuras ocupações dos territórios africanos (princípio da efectividade e regra da notificação às outras potências). Esse era o direito internacional da época... Já o Direito Internacional contemporâneo mostra-se um direito verdadeiramente universal, reflexo da moderna democratização da sociedade internacional. Na sua criação, participam, em pé de igualdade, todos os Estados. E, pelo seu con- teúdo e na sua aplicação, os Estados são colocados numa posição de total igualdade jurídica. Grandes e pequenos, ricos e pobres: todos, para o Direito Internacional, iguais. Isto, em direito, porque, na realidade e, de facto, alguns são mais iguais que outros… Alcançada a Independência e edificado ins- titucionalmente o novo Estado, Angola também começou a contribuir na elaboração e codificação do Direito Internacional, designadamente parti- cipando activamente em comités de especialistas encarregados dos trabalhos preparatórios de Con- venções, em Conferências diplomáticas de codi- ficação e nos órgãos plenários das Organizações Internacionais, nomeadamente a ONU e a OUA. Já aqui referimos a participação de Angola, ao nível destas duas Organizações, nos trabalhos de preparação das citadas Convenções sobre o mer- cenarismo. E, nesse domínio, é de inteira justiça salientar o empenhamento de Angola e o seu acti- vismo pioneiro. Poderíamos também lembrar a participação de Angola na Conferência Diplomática realizada em 1978, em Viena de Áustria, em que foi adoptada e 54 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 55 assinada a “Convenção de Viena sobre a Sucessão de Estados em matéria de Tratados”, uma matéria que na época tinha uma enorme importância para os Estados recém-independentes, como era o caso de Angola. Deixo para o fim a maior e mais relevante obra de codificação do Direito Internacional, com uma envergadura e um alcance que historicamente nunca tinham sido alcançados: a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, levada a cabo pela 3ª Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, realizada entre 1973 e 1982. Foram nove anos de longas e árduas negocia- ções, assentes num original método que combinou sabiamente o princípio do “consenso se possível” e o “package deal”, para conforto e harmonização dos mais díspares interesses, dos Estados ribei- rinhos e dos sem litoral, dos Estados geografi- camente desfavorecidos e dos beneficiados, dos Estados arquipelágicos e dos encravados, dos Esta- dos com ilhas, dos grandes e dos pequenos, dos pobres e dos ricos… Com efeito, a virtude maior da Convenção de Montego Bay reside, não tanto na universalidade participativa que veio a alcançar — hoje em dia ela já é um dos tratados mais univer- sais, se não mesmo o mais universal, pelo número de Estados partes — mas sobretudo pela massiva e empenhada participação na sua demorada génese. Essa feitura amplamente colectiva, contemplando harmonicamente os interesses da generalidade dos Estados que compõem a Comunidade Internacio- nal, traduz um extraordinário desenvolvimento do Direito Internacional no domínio do Direito do Mar. Principalmente pelo seu carácter inovador em muitas matérias, como a consagração e regula- ção de novos espaços marítimos, como é o caso da Zona Económica Exclusiva e da “Área”, os grandes fundos marinhos, erigidos, quiçá algo programati- camente e utopicamente, em “património comum da Humanidade”. Durante toda a negociação da Convenção, Angola participou activamente nos trabalhos pre- paratórios que decorreram na sede das Nações Unidas, em Nova York, e também em Genebra, com delegações que integravam especialistas em diferentes áreas: juristas, economistas, engenhei- ros, biólogos, etc. É justo destacar aqui, entre os primeiros, os docentes desta Faculdade Dras Paulette Lopes e Teresinha Lopes, os Drs. Júlio de Figueiredo, Carlos Alberto Saraiva de Carvalho, 56 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 57 Apolinário Correia e Norman Lanvu, Essas dele- gações foram chefiadas pelos então Ministros da Justiça, primeiro o Dr. Diógenes Boavida e depois, na fase final, o Professor França Van-Dúnem, que nos honra com a sua presença nesta casa e neste acto. A Convenção foi solenemente assinada por 117 Estados, em 10 de Dezembro de 1982, na Jamaica, em Montego Bay (daí o nome por que também é conhecida). Angola tornou-se parte da mesma, ao ratificá-la em 5 de Dezembro de 1990. Neste momento, são partes da Convenção 168 Estados. Se tivermos presente que a ONU tem actualmente 183 Estados membros, aquele número mostra bem a universalidade desta Convenção. Chegados aqui, é a altura de pôr um ponto final nesta caminhada pelos trilhos fascinantes do Direito Internacional. Bem gostaria que, seguindo o formato tradicional das aulas, depois do exercício aristotélico peripatético, sentado ou deambulando pela sala, se seguisse um retemperador intervalo e voltássemos para o diálogo maiêutico, de mais perguntas e respostas do lado do anfiteatro, do que do prelector… Mas, como na vida, tudo tem o seu tempo e o seu termo. Não termino, porém, sem antes recordar as largas centenas, se não mesmo milhares de alunos a quem, ao longo destes trinta anos, tive o privilé- 58 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 59 gio de tentar transmitir algum saber e, sobretudo, despertar neles o interesse pelo Direito Interna- cional. De entre a “geração de oiro” dos primeiros alunos licenciados pela nossa Faculdade, e porque, estando ausentes do País, me enviaram nesta oca- sião uma palavra de amizade, destaco o Dr. Agui- naldo Jaime, porventura o mais brilhante aluno que tive, e o Dr. Francisco Queiroz, igualmente excelente aluno, que depois veio a tomar as rédeas da Faculdade numa época bem difícil. Convocando os que infelizmente já partiram, lembro, com imensa saudade, a Dra. Eva Ferreira e a Dra. Benvinda Barbosa; os Drs. João Landoite, Júlio Quilombo e Helder Van-Deste; o Simeão Kafuxi e o Adolfo João Pedro; o Dr. Agostinho José Neto e o Dr. João Felizardo, este tutelar primeiro coordenador do Núcleo do Huambo da Faculdade de Direito que viria a ser o primeiro Presidente do Tribunal Supremo de Angola e o Dr. Albino Sinjecumbi, também coordenador do mesmo Núcleo e, depois, primeiro decano da nova Faculdade de Direito da Universidade José Eduardo dos Santos. Para todos eles, deixo aqui o alusapo que o também huambense Ndunduma Wé Lépi me ensinou: kapua kiso, kutima hako cikasi (o que se extingue dos olhos, continua no coração) Dos últimos temposda minha docência, recordo o Dr. Afonso Van-Dúnem, M’Binda, que na disciplina do Direito Mar fez um excelente tra- balho, precisamente sobre a Convenção de Mon- tego Bay. Seja-me permitido expressar aqui uma palavra de amizade, preito e reconhecimento a todos os amigos que me quiseram honrar com a sua pre- sença e, em especial, — ao Cardeal D. Alexandre do Nascimento, dilecto condiscípulo das lides académicas na Faculdade de Direito de Lisboa, de quem desde a primeira hora recebi estímulo e reconforto para me aventurar nas andanças do latim jurídico . Para ele, digo Ad augusta per angustam, ab imo pectore (Às coisas augustas, por caminhos difíceis, do fundo do coração) 60 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 61 custou a liberdade Tenho a indeclinável obrigação de saudar aqueles que me sucederam na direcção da Facul- dade: os Professores Francisco Queiroz, José Octávio Van-Dúnem, Raúl Araújo, Carlos Tei- xeira e André Victor. Eles souberam assegurar, até hoje e muito melhor do que eu, a continuidade e excelência desta Escola. Quero também lembrar e saudar os Colegas da primeira hora e que hoje, por vicissitudes da vida, não podem estar aqui presentes: os Professo- res Teixeira Martins, Orlando Rodrigues e Gran- dão Ramos, cabouqueiros do ensino do Direito em Angola e também o Professor Doutor António Avelãs Nunes, da Faculdade de Direito de Coim- bra, que estabeleceu e liderou, pela sua Escola, um valiosíssimo projecto de cooperação entre as duas Faculdades. Não é sem inteira justiça que os seus nomes insignes estão gravados nos anfiteatros, salas e biblioteca da nossa Faculdade. De entre a centena de Colegas docentes com quem tive o gosto de trabalhar, recordo, também — ao Professor Dr. Fernando França Van- -Dúnem, nosso proeminente jusinternacionalista angolano, com quem tive a honra de trabalhar na recta final da minha passagem pelo Ministério da Justiça — ao Dr. Paulo Tjipilica, amigo e conterrâ- neo, jurista e latinista de fino corte e rara elegância, de quem recebi ao longo de sucessivas edições do meu glossário de latim valiosos contributos, Dormit aliquando ius, moritur nunquam (O direito pode dormir, mas nunca morre) — também ao Dr. Manuel Rui Monteiro, meu irmão e camarada, desde os gloriosos tem- pos do Ministério da Informação do Governo de Transição, jurista combativo de nobres causas e, sobretudo, cultor maior das nossas letras, Que os meninos do nosso Huambo conti- nuem, à volta da fogueira, a construir sonhos com os mais velhos de mãos dadas, a aprender como se ganhou uma bandeira e a saber o que 62 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 63 saudosamente, aqueles que, para nosso infortúnio, nos deixaram demasiado cedo: o Dr. Joaquim Inácio, o Dr. António Pinto Ribeiro, o Dr. José Webba, o Dr. Orlando Chitumba, a Dra. Fátima Simões, o Dr. Raúl Neto Fernandes, o Dr. Filipe Amado, o Dr. Valentim Comboio, e, muito especialmente o Dr. João Filipe Martins, primeiro Director da nossa Faculdade e Reitor da Universidade Agostinho Neto. Por fim, curvo-me perante a memória inapa- gável do Professor Adérito Correia, meu compag- non de route desde os primórdios do Ministério da Justiça nos anos setenta e oitenta e na criação e desenvolvimento desta Faculdade e, por último, comovidamente, da Professora Maria do Carmo Medina, em cujo Auditório faço esta “última lição” de despedida da docência. Mas eu seria justamente censurado, se não dirigisse também uma palavra de amor e agrade- cimento à minha família, esposa e filhas aqui pre- sentes. Pela minha parte, se estive tão ausente de vós durante todos estes anos, prometo que vos com- pensarei a dobrar doravante. E uma promessa, proferida nesta Casa do Direito, faz lei e é para cumprir. Muito obrigado pelo carinho e amizade de todos vós. Bem hajam. Acta est fabula (acabou a representação) A ÚLTIMA AULA 65 Entrega da Medalha de Mérito Espólio Prof. Fernando Oliveirat SELECÇÃO DE DIAPOSITIVOS APRESENTADOS NA AULA INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA TRANSMISSÃO DE PODERES POR PORTUGAL 10 DE NOVEMBRO, LUANDA, VICE-ALMIRANTE LEONEL CARDOSO “Em nome do Presidente da República, proclamo solenemente -com efeito a partir das 0 horas do dia 11 de Novembro de 1975 – a independência de Angola e a sua plena soberania, radicada no Povo Angolano, a quem pertence decidir das formas do seu exercício”. Militar português recolhendo a última bandeira portuguesa, arreada na Fortaleza São Miguel 1 INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA PROCLAMAÇÃO DA REPUBLICA POPULAR DE ANGOLA Presidente Agostinho Neto, 0 horas, Luanda “Em nome do Povo angolano, o Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), proclama solenemente perante a África e o Mundo a Independência de Angola” 2 INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA • PROCLAMAÇÃO DA “REPUBLICA DEMOCRÁTICA DE ANGOLA” • 11 de Novembro – Ambriz, Holden Roberto • 11 de Novembro – Nova Lisboa (Huambo) Jonas Savimbi 3 INDEPENDÊNCIA DE ANGOLA EMPOSSAMENTO DOS GOVERNOS • da RPA – Luanda, 12 de Novembro, tomada de posse do Governo • da “RDA” – Nova Lisboa (Huambo), 3 de Dezembro, tomada de posse do Governo 4 RECONHECIMENTO DA RPA BILATERAL • 1º Estado – Brasil, 11 de Novembro de 1975 • 1º País europeu – Itália, 12 de Fevereiro de 1976 • Em 12 de Fevereiro de 1976 – reconhecimento por 80 Estados, 40 africanos • 23 de Fevereiro de 1976 – reconhecimento por Portugal (82º Estado a reconhecer) • 19 de Maio de 1993 – reconhecimento pelos Estados Unidos da América NA OUA • 12 de Fevereiro de 1976, tornando-se 46º membro da Organização NA ONU • 22 de Novembro de 1976 – Res.397 do Conselho de Segurança a recomendar a admissão de Angola • 1 de Dezembro de 1976 – A. Geral: admissão da RPA nas Nações Unidas 5 JULGAMENTO DOS MERCENÁRIOS Luanda, 15 a 28 junho 1976 TRIBUNAL POPULAR REVOLUCIONÁRIO (Lei 7/76, de 1 de Maio) TRIBUNAL Ernesto Teixeira da Silva, Jurista, Presidente Orlando Rodrigues, Jurista Maria Carlos, OMA David Moisés (Ndozi), oficial das FAPLA Eduardo Silva (Bakaloff), oficial das FAPLA Garcia Bires, jurista, juiz substituto PROCURADOR POPULAR Manuel Rui Monteiro, jurista ADVOGADOS DE DEFESA 3 advogados britânicos 3 defensores oficiosos angolanos – Teresinha Lopes, Aníbal Espírito Santo, Soares Silva RÉUS, MERCENÁRIOS 10 britânicos 2 norte-americanos 1 irlandês 6 JULGAMENTO DOS MERCENÁRIOS Junho 1976 7 Imprensa e livros sobre o julgamento de Luanda 8 Imprensa e livros sobre o julgamento de Luanda 9 Imprensa e livros sobre o julgamento de Luanda 10 Comité da OUA - Addis Abeba – Outubro 1976 11 Naulila – 1914 12 “O CASO NAULILA” • Confrontos armados no Sul de Angola (Cunene) em Outubro/Novembro de 1915 entre tropas portuguesas e tropas alemãs que ocupavam o Sudoeste Africano (Namíbia) • Incidente de Naulila, 19 de Outubro, 5 alemães mortos • Represálias: destruição dos fortes de Naulila e Cuangar, postos de Dirico, Bunja, Mucusso, Sambiu • Combate de Naulila, 18 de Dezembro - Baixas do lado português Europeus, 69 mortos, 76 feridos, 36 prisioneiros Tropas indígenas: 180 mortos, quase todos enforcados • Outubro/Dezembro – expulsão das forças portuguesas de toda a zona e revolta do povo cuanhama 13 Monumento em Outjo - Namibia 14 15 A ONU E AS AGRESSÕES SUL-AFRICANAS CONTRA ANGOLA DE OUTUBRO DE 1975 A DEZEMBRO DE 1988 ❖ Res. 387, 31 Março, de 1976, Conselho de Segurança - condenação da agressão da África do Sul - condenação da utilização do território da Namibia para as agressões - exigência de indemnização a Angola pelos danos infligidos ❖ Sucessivamente, adopção de 63 resoluções pelo Conselho de Segurança ❖ Todas estas Resoluções não foram adoptadas ao abrigo do Cap. VIIda Carta ❖ 1985: fixação da indemnização devida pela África do Sul a Angola em 36 biliões de dólares 16 17 A ONU E O CONFLITO INTERNO DESDE 1988 (ACORDOS DE NOVA YORK) ❖ Resoluções sobre as missões de manutenção da paz em Angola (UNAVEM I, UNAVEM II, UNAVEM III) ❖ Resoluções sobre a aplicação de sanções à Unita, ao abrigo do cap. VII da Carta • Res. 1173 – 1998 – embargo armas • Res. 1176 – 1998 – embargo transações diamantes • Res. 1221 – 1999 – congelamento recursos financeiros • Res. 1295 – 2000 – restrições mobilidade dos dirigentes 18 19 Convenção sobre sucessão de Estados Viena de Áustria, Agosto 1979 20 Delegação angolana Assinatura, Montego Bay, 10 de Dezembro de 1982 21 Publicações 22 23 24 25