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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
FACULDADE DE DIREITO
PROFESSOR FERNANDO OLIVEIRA
ÚLTIMA AULA 
Proferida na Faculdade de Direito
em 27 de Março de 2019
Luanda 2021
[FICHA TÉCNICA]
 
FERNANDO OLIVEIRA
Professor Catedrático, Jubilado
ÚLTIMA AULA 
Proferida no Auditório Maria do Carmo da 
Faculdade de Direito da 
Universidade Agostinho Neto, 
em 27 de Março de 2019
Sumário
Roteiro da aula ……………………………………… 9
Seleção de diapositivos …………………………… 66
A ÚLTIMA AULA 7 
Foto 1
 
Foto 2
8 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 9 
 
 
Foto 3 
Foto 4
 
ROTEIRO DA AULA
 
• A emergência do Estado 
Angolano e o seu reconhecimento 
internacional
• A questão do mercenarismo
• O uso da força e o “Caso Naulila”
• As agressões sul-africanas a 
Angola
• Angola e a codificação do Direito 
Internacional
A ÚLTIMA AULA 11 
Ensinei nesta casa do Direito a disciplina de 
Direito Internacional Público, desde o longín-
quo ano de 1980 até 1996 e, depois, de 1996 até 
2015, a disciplina de Direito do Mar. Entre 2010 e 
2015, dei a minha colaboração docente nestas dis-
ciplinas na Universidade José Eduardo dos Santos, 
do Huambo, prestando assim um tributo à amada 
terra que, como diz o cantor, me fez nascer. Espo-
radicamente, também ensinei nas Universidades 11 
de Novembro, de Cabinda, e Katiavala Bwuila, de 
Benguela.
12 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 13 
São, pois, trinta anos de docência, apenas 
com interrupção de um ano, em que estive em 
pós-graduação no exterior.
Cabe-me aqui assinalar que a minha docência 
do Direito Internacional foi sempre a par, e benefi-
ciou enormemente, da minha prática de assessoria 
ao Governo angolano, nomeadamente aos Minis-
térios da Justiça e das Relações Exteriores. Lembro 
aqui, comovidamente, a colaboração que ao longo 
dos anos fui dando, com muito empenho e orgu-
lho, aos saudosos Ministros Diógenes Boavida, 
Paulo Jorge e Venâncio de Moura. 
Nesta “última aula”, proponho-me revisitar 
alguns temas em que o nosso País se cruzou com 
diferentes capítulos do Direito Internacional, tal 
como é ensinado nas Faculdades de Direito.
Como bem se vê, cada um destes temas ocu-
paria, só por si, uma ou mais aulas e abundante 
discussão. Por isso, imponho-me a maior concisão 
e brevidade, mas com o necessário rigor no essen-
cial. Poupar-vos-ei, contudo, inúmeros pormeno-
res e referências, que naturalmente figurarão no 
texto escrito. 
 Com estas balizas, inicio a minha fala, só 
esperando que não vos canse e decepcione.
O reconhecimento 
internacional 
do novo Estado
A emergência da Angola independente, coloca a 
questão do reconhecimento internacional do 
novo Estado, pelos outros Estados e pela Comu-
nidade Internacional. O reconhecimento de um 
novo sujeito de Direito Internacional é um capítulo 
clássico do Direito Internacional. No campo da 
personalidade jurídica internacional, distingue-se, 
quanto ao objecto, o reconhecimento (i) do novo 
Estado; (ii) do novo Governo; (iii) das Organiza-
ções Internacionais; (iv) das Nações e (v) dos Beli-
gerantes, Insurrectos e Movimentos de Libertação 
14 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 15 
Nacional. Já quanto ao sujeito — quem reconhece 
— ele pode ser individual, se é feito apenas por 
um sujeito, ou colectivo, se é assumido por um 
conjunto de Estados, quer por si, quer no quadro 
de uma Organização Internacional. Já quanto à 
forma ele pode ser expresso, quando vertido numa 
declaração solene do Estado que reconhece, ou 
implícito, quando resulta implicitamente de com-
portamentos de um Estado que permitem inferir 
uma vontade de reconhecer. 
Questão teórica — mas com grande relevân-
cia prática — é a da natureza do reconhecimento. 
Aí, a doutrina divide-se entre a teoria constitutiva 
e a teoria declarativa. Para a primeira, o reconhe-
cimento tem um efeito constitutivo, isto é, cria na 
esfera jurídica internacional uma situação nova. 
Já para a teoria declarativa, o Estado é sujeito de 
Direito Internacional desde o momento do seu 
surgimento, independentemente de ser ou não 
reconhecido. Modernamente, é esta última teoria 
que recolhe o favor quase unânime da doutrina, 
dado que é a mais consentânea com os princípios 
da autodeterminação dos povos e da igualdade 
soberana dos Estados.
Debrucemo-nos agora sobre a modalidade, 
quiçá a mais importante, o reconhecimento do 
novo Estado, particularmente no caso de ascensão 
à independência de um território até então não 
autónomo. Discute-se na doutrina se o reconheci-
mento do novo Estado é um acto livre e discricio-
nário ou se, pelo contrário, é um acto vinculado, 
vale dizer, se existe um dever de reconhecer o 
Estado neófito, por parte dos outros Estados. 
Embora, de jure condendo, se possa preconizar a 
existência de tal dever, em homenagem aos princí-
pios da autodeterminação dos povos e da igualdade 
soberana dos Estados, a verdade é que, na prática 
internacional, o reconhecimento permanece lar-
gamente uma faculdade livre e discricionária dos 
outros Estados.
O reconhecimento traduz a constatação e 
aceitação do novo poder como representativo do 
Estado: isto é, constata que a autoridade política 
que tomou o poder nessas circunstâncias repre-
senta validamente o Estado na esfera internacio-
nal, sem que essa constatação signifique qualquer 
juízo de valor sobre o acto que deu origem ao novo 
Governo 
Quando e em que condições se deve reco-
nhecer um novo Governo? A esta questão respon-
16 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 17 
dem as duas principais doutrinas neste domínio: 
a doutrina da legitimidade, que defende que só 
devem ser reconhecidos os Governos legítimos, 
à luz de determinados valores, e a doutrina da 
efectividade, segundo a qual um Governo deve ser 
reconhecido desde que exerça efectivamente auto-
ridade no território. Esta é, a meu ver, a doutrina 
mais correcta, à luz dos princípios gerais do Direito 
Internacional, e a que é mais frequentemente apli-
cada na prática internacional. No fundo, ela é uma 
decorrência do princípio geral que atravessa todo o 
Direito Internacional, o princípio da efectividade, 
segundo o qual os factos criam situações legais.
No seio das Organizações Internacionais, o 
reconhecimento do novo Estado é implícito na 
sua admissão como membro da Organização. Já 
quanto ao novo Governo, o seu reconhecimento 
acaba por se subsumir no mecanismo da verifica-
ção de poderes. 
Neste quadro teórico que acabo de resumir, 
como é que se insere o facto histórico do reco-
nhecimento do novo Estado da Angola indepen-
dente?
Como é sabido, o problema surgiu por força 
das circunstâncias anómalas em que o novo Estado 
nasceu, à data de 11 de Novembro de 1975. Por um 
lado, não houve uma transmissão formal do poder 
pela potência colonial; por outro, na mesma data, 
emergiram no território duas entidades, reclaman-
do-se antagonicamente da qualidade de um novo 
Estado. De facto, na tarde do dia 10 de Novembro, 
Portugal, pela voz do então Alto Comissário, fez a 
conhecida declaração solene
[…] em nome do Presidente da República, 
proclamo solenemente — com efeito a partir 
das 0 horas do dia 11 de Novembro de 1975 
— a independência de Angola e a sua plena 
soberania, radicada no Povo Angolano, a quem 
pertence decidir das formas do seu exercício.
Após esta solenidade, o último representante 
de Portugal na colónia foi arrear a bandeira portu-
guesa na Fortaleza de São Miguel e dali seguiu para 
a base naval da Ilha, onde embarcou todo o restante 
dispositivo militar, em navios que permaneceram 
nas águas territoriais angolanas até à meia-noite. 
Como reminiscência histórica, anote-se que, por 
força de um Decreto-Lei assinado cinco dias antes 
pelo Alto Comissário as águas territoriais angolanas 
tinham sido estendidas até às 20 milhas da costa. 
18 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 19 
Uma última generosidade da potência colonial... 
À mesma hora, em Luanda, o PresidenteAgosti-
nho Neto proclamava a Independência de Angola 
e a instituição da República Popular de Angola. 
No mesmo dia, a Unita, na então Nova Lisboa, e 
a FNLA, no Ambriz, proclamavam igualmente a 
Independência e a assim denominada República 
Democrática de Angola.
 Mas, nesse dia 11 de Novembro, apenas 
Agostinho Neto era empossado como Presidente 
da República de Angola, enquanto que, em Nova 
Lisboa, só Jonas Savimbi presidia à cerimónia da 
Independência e instituição da dita República 
Democrática de Angola. Estando assim concen-
trado em um ou dois dias o fim dos cinco séculos 
de dominação colonial, o contexto dramático em 
que tal acontecia era o de uma profunda divisão 
e conflitualidade entre os três Movimentos: um 
País partido em três, sem a presença, em nenhum 
dos palcos, da potência colonial que abalara nas 
modernas caravelas.
A partir daqui, iniciou-se a grande batalha 
pelo reconhecimento internacional do novo 
poder instituído, quer como novo Estado, quer 
como novo Governo. 
No que concerne à “República Democrática 
de Angola”, esta entidade teve uma vida efémera: 
esfumou-se sem ter alcançado qualquer reconheci-
mento, quer bilateral, quer no seio das Organiza-
ções Internacionais. Aliás, o seu “Governo” apenas 
viria a tomar posse um mês mais tarde no Huambo, 
com a ausência notória dos dois Presidentes Hol-
den Roberto e Jonas Savimbi. 
De modo diferente, ocorreu o reconhe-
cimento da República Popular de Angola e do 
Governo por ela instituído. Desde logo, na ceri-
mónia da proclamação da Independência, em 
Luanda, fizeram-se presentes representantes de 
numerosos Estados, maioritariamente africanos 
e dos então países socialistas e não-alinhados. A 
sua presença em tal solenidade não podia deixar 
de constituir uma clara forma de reconhecimento 
implícito. Nessa cerimónia, destacou-se porém a 
presença do representante do Brasil, o Embaixador 
Ovídio Melo. E mais: simultaneamente às 20 horas 
em Brasília e meia-noite em Luanda, o Governo 
do General Geisel emitia uma declaração formal 
de “reconhecimento do Governo instalado em 
Luanda”. Por isso, a história regista ter sido o Bra-
sil o primeiro Estado a reconhecer formalmente 
20 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 21 
a República Popular de Angola. Aliás, o primeiro 
a criar uma Embaixada em Angola. A partir daí, 
desenrolou-se aquilo que ficou conhecido como a 
“batalha pelo reconhecimento”, centrada numa 
denodada e eficiente campanha diplomática, con-
duzida pelo então Ministro das Relações Exterio-
res, o Eng. José Eduardo dos Santos.
Portugal, a ex-potência colonial, que falhara 
a qualquer das cerimónias de proclamação da 
Independência, só veio a reconhecer a República 
Popular de Angola em 23 de Fevereiro desse ano, 
sendo o 82º País a reconhecer. Quanto aos Estados 
Unidos da América, só reconheceram o Estado e o 
Governo de Angola, dezoito anos depois, em 1993, 
com a Administração Clinton.
A par dos reconhecimentos bilaterais — 
Estado a Estado — a questão do reconhecimento 
de Angola colocou-se também, e com grande acui-
dade, ao nível das Organizações Internacionais, 
designadamente a Organização das Nações Unidas 
e a Organização da Unidade Africana. Isto, no con-
texto da admissão do novo Estado como membro 
dessas Organizações.
Na OUA, a admissão da República Popular de 
Angola acabou por ser adoptada em 12 de Fevereiro 
de 1976. Angola tornou-se, assim, o 46º Estado 
membro da Organização continental, numa altura 
em que 80 Países, entre os quais 40 africanos, a 
tinham reconhecido bilateralmente. 
No que concerne à ONU, o processo de 
admissão da República Popular de Angola foi mais 
problemático e estendeu-se por mais um ano. Basi-
camente porque, sendo o processo de admissão de 
um novo membro sujeito a uma dupla apreciação 
na Assembleia Geral e no Conselho de Segu-
rança, ao nível do Conselho prevalecia a oposição 
do Governo dos Estados Unidos, que brandia a 
ameaça do uso do seu direito de veto. Essa ameaça 
só desapareceu quando o Conselho de Segurança, 
em Novembro de 1976, adoptou uma Resolução 
a recomendar à Assembleia Geral a admissão de 
Angola como membro da Organização. O que este 
órgão plenário veio a deliberar, em 1 de Dezembro 
de 1976, tornando-se assim Angola o 146º Estado 
membro.
 Esta é uma data histórica, que vem encerrar 
a longa marcha do reconhecimento da República 
Popular de Angola pela Comunidade Internacio-
nal, representada pela Organização universal. 
A ÚLTIMA AULA 23 
Um julgamento que 
fez história
Em Junho de 1976, escassos meses após a 
Independência, realizou-se em Luanda o 
julgamento de treze mercenários: dez britânicos, 
dois norte-americanos e um irlandês. Eles tinham 
sido capturados pelas FAPLA, no norte de Angola, 
em pleno teatro de guerra e faziam parte de um 
grupo mais numeroso, que tinha sido recrutado no 
Reino Unido, para apoiar a FNLA. O julgamento 
foi realizado pelo Tribunal Popular Revolucioná-
rio, que foi instituído por Lei de 1 de Maio desse 
ano e era constituído por cinco juízes, dos quais 
24 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 25 
dois togados. (o falecido Dr. Ernesto Teixeira da 
Silva e o mais tarde docente desta Faculdade Dr. 
Orlando Rodrigues). Igualmente jurista, era o 
Procurador Popular, Dr. Manuel Rui Monteiro e 
o Juiz substituto, Dr. Garcia Bires. A defesa dos 
réus foi assegurada por três advogados britânicos, 
vindos de Inglaterra, e três defensores oficiosos 
angolanos. Entre estes últimos, encontravam-se 
dois juristas que, mais tarde, também vieram a ser 
docentes nesta casa: a Dra. Teresinha Lopes e o Dr. 
Aníbal Espírito Santo. As sessões do julgamento 
decorreram entre 15 e 28 de Junho.
Simultaneamente, reuniu-se em Luanda e 
assistiu a todas as sessões do julgamento uma 
Comissão Internacional de Inquérito sobre os 
Mercenários, integrada por 42 juristas e outras 
personalidades de renome internacional, prove-
nientes de 40 Países.
O julgamento decorreu de forma exemplar, 
com a observância de todas as regras universais 
de um julgamento legal e justo, designadamente 
amplas garantias de defesa para os réus. Isto 
mesmo foi reconhecido pelos seus advogados, pela 
referida Comissão e por inúmeros jornalistas, que 
assistiram e publicitaram profusamente as audiên-
cias. O veredicto final do Tribunal, proferido em 
28 de Junho, condenou 4 réus à pena capital e 9 a 
pesadas penas de prisão. Nos termos da lei então 
em vigor, o Presidente da República Agostinho 
Neto viria a confirmar as penas de morte, que 
foram executadas logo nos dias seguintes.
No plano jurídico, o que esteve em causa neste 
julgamento, o primeiro — sublinhe-se — que na 
história mundial teve por objecto mercenários, 
foram duas teses contraditórias. Por um lado, a 
Acusação defendeu a aplicabilidade aos merce-
nários, da “Lei da Disciplina do Combatente”, 
adoptada pelas FAPLA ao tempo da luta de liber-
tação nacional e que, em nome de uma reclamada 
legalidade revolucionária, se considerava em vigor. 
No domínio do Direito Internacional, a Acusação 
baseou-se na existência e punibilidade do crime de 
mercenarismo, invocando para isso várias resolu-
ções das Nações Unidas e da OUA adoptadas a par-
tir da década de sessenta, as quais incriminavam 
a utilização de mercenários em conflitos armados 
internos. Invocou também a Resolução nº 3314, 
aprovada em 1974 pela Assembleia Geral da ONU, 
intitulada “Definição de Agressão”, a qual consi-
dera expressamente a utilização de mercenários 
26 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 27 
como um acto de agressão. Argumentou o Pro-
curador Popular que a sucessão destas resoluções 
das duas Organizações Internacionais, a par com 
outras declarações e tomadas de posição dos Esta-
dos, constituíam uma prática reiterada, susceptível 
de gerar um costume internacional que, como é 
sabido, é uma fonte do Direito Internacional.
Do lado da defesa dos réus,esgrimiram-se os 
argumentos da não aplicabilidade aos mercenários 
da referida “Lei da Disciplina do Combatente” e 
da inexistência de uma qualificação internacional 
do mercenarismo como crime, visto que as refe-
ridas resoluções, para além de, alegadamente, não 
serem juridicamente vinculativas, se referiam ape-
nas ao recrutamento e envio de mercenários pelos 
Estados, não abrangendo os actos próprios dos 
mercenários. Por tudo isto, concluíram os advo-
gados dos réus que a aplicação de uma qualquer 
pena aos mercenários trazidos a juízo significaria 
uma violação dos princípios universais do “nullum 
crimen sine lege” e “nulla poena sine crimen”.
O Tribunal, na sentença condenatória, rejei-
tou, com abundante fundamentação, esta tese da 
defesa. 
Como disse, a Comissão Internacional que 
assistiu ao julgamento, no final do mesmo, apro-
vou uma Declaração, confirmando a regularidade 
e legalidade, não só do modo como se processou 
o julgamento, como da própria sentença proferida.
 Ao mesmo tempo, a Comissão elaborou um 
projecto de “Convenção sobre a Prevenção e Eli-
minação do Mercenarismo”, que também denomi-
nou de “Convenção de Luanda”, em homenagem 
a Angola e à sua capital. Este projecto representou, 
na verdade, um notável progresso na construção 
do regime jurídico-internacional da prevenção, 
incriminação e repressão do mercenarismo. Desde 
logo, pela densificação do tipo criminal de merce-
narismo, abrangendo não só, a actividade dos mer-
cenários, como também o recrutamento e envio de 
mercenários para um País estrangeiro. Além disto, 
o projecto estipulava claramente que toda a pessoa 
física ou moral que cometa o crime de mercena-
rismo, “comete um crime contra a paz e segurança 
em África e é punido como tal”, sendo a punição 
prevista do seguinte modo: 
Todo o Estado Contratante compromete-se a 
punir a infracção […] com a pena mais severa 
prevista na sua legislação, podendo a pena 
28 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 29 
aplicável ir até à pena capital.
Disposição importante do projecto de Luanda 
é a que prescreve a não aplicabilidade aos merce-
nários da Convenção de Genebra sobre os prisio-
neiros de guerra 
Os mercenários não têm o estatuto de comba-
tentes e não podem beneficiar do estatuto de 
prisioneiros de guerra.
 Aliás, este mesmo regime fora estabelecido, 
na mesma altura, pela Conferência Internacio-
nal, realizada em Genebra, que culminou com a 
adopção do Protocolo Adicional à Convenção de 
Genebra de 1949. De igual modo, este Protocolo, 
e também o Projecto de Luanda, estatuiu que os 
mercenários “não podem eximir-se à extradição, 
invocando um pretenso carácter político do crime”. 
Vale dizer, os mercenários são considerados crimi-
nosos de direito comum.
Logo após o julgamento de Luanda, o Governo 
angolano, cumprindo o mandato que recebera da 
Comissão Internacional, apresentou o projecto de 
Convenção à Organização da Unidade Africana. Foi 
posteriormente constituído um comité de especia-
listas juristas, no qual Angola participou activa-
mente, e que aprontou o projecto de Convenção 
da OUA. Finalmente, em 3 de Julho de 1977, na 
cimeira de Libreville, foi adoptada a “Convenção 
sobre a eliminação do mercenarismo em África”. 
Seja dito que este tratado acolhe, no essencial, as 
disposições do projecto de Luanda, tanto no con-
teúdo, como até na redacção. A Convenção africana 
entrou em vigor em 22 de Abril de 1985. Angola 
assinou-a em 19 de Julho de 1978, mas não a rati-
ficou até esta data. Presentemente, de entre os 55 
Estados membros da União Africana, a Convenção 
conta com 32 Estados-partes. Estranhamente, dos 
quatro Estados dos PALOP, apenas a Guiné Bissau 
a assinou e ratificou. Sem comentários…para além 
da estranheza… 
 Registe-se que, noutro plano, Angola cum-
priu prontamente a outra recomendação que 
recebera da Comissão Internacional: dotou-se de 
legislação interna, aprovando a Lei nº 4/77, de 25 
de Fevereiro, «Lei sobre a prevenção e repressão 
do mercenarismo». 
Alcançado o objectivo de codificar a criminali-
zação do mercenarismo ao nível regional africano, 
30 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 31 
importava alargar essa tarefa para o plano universal, 
através das Nações Unidas. Assim, impulsionada 
por um grupo significativo de Países do chamado 
Terceiro Mundo, a Assembleia Geral decidiu, em 
1980, encarregar um Comité Especial, consti-
tuído por 35 Estados, de elaborar uma Convenção 
internacional contra o mercenarismo. Saliente-se 
que deste Comité - que Angola integrava -, faziam 
parte 8 peritos ocidentais, 6 dos Países socialistas 
e 21 do chamado Terceiro Mundo. Esta compo-
sição, ao nível da participação na codificação do 
Direito Internacional, reflecte bem uma mudança 
qualitativa dos actores/legisladores internacionais 
nos tempos modernos, que se acentuou a partir da 
década de setenta do século passado. O Comité 
veio a realizar sete sessões anuais, entre 1981 e 
1988, na sede das Nações Unidas em Nova York e 
finalmente, em 1989, a Assembleia Geral adoptou 
a «Convenção Internacional contra o recruta-
mento, utilização, financiamento e instrução de 
mercenários».
Como é natural, após o longo e complexo 
trabalho de negociação em que se defrontaram as 
concepções e visões político-jurídicas díspares dos 
Estados envolvidos, esta Convenção aperfeiçoou e 
desenvolveu significativamente o tecido normativo 
do Projecto de Luanda e da Convenção da OUA. 
A Convenção acabou por entrar em vigor 
em 20 de Outubro de 2001. Presentemente, em 
Fevereiro de 2019, são em número de 35 os Esta-
dos partes da mesma, sendo apenas 9 africanos. 
Angola, assinou em 28 de Dezembro de 1990, 
mas ainda não ratificou até esta data. É, de facto, 
a meu modesto ver, uma situação lamentável e 
incompreensível, dado o papel pioneiro que o País 
desempenhou no domínio do combate pela elimi-
nação do mercenarismo. 
Entretanto, em 2005, voltou a ser constituído 
nas Nações Unidas um novo grupo de peritos para 
proceder à revisão da Convenção de 1989. Mas 
esta tarefa vai-se arrastando de ano para ano, sem 
resultados concretos. 
Acontece até que, muito recentemente, em 
Fevereiro passado, após a tentativa de golpe de 
Estado que ocorreu na Guiné Equatorial, o Conse-
lho de Segurança realizou um debate sobre “Acti-
vidades mercenárias como fonte de insegurança e 
desestabilização em África.” No final do debate, o 
Secretário Geral das Nações Unidas e o Presidente 
da Comissão da União Africana apelaram aos Paí-
32 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 33 
ses para que ratifiquem rapidamente a Convenção 
das Nações Unidas. 
Será que este apelo das duas Organizações 
internacionais vai ser correspondido pelo nosso 
País que, há quarenta e três anos, iniciou tão 
empenhadamente a luta contra o flagelo do merce-
narismo em África? 
Tratarei agora o terceiro tema, ou seja,
O Caso “Naulila” e a 
regulação do uso da 
força nas relações 
internacionais
Quando eu, na década de 80, me apresentei 
em Paris ao Professor Paul Reuter e lhe disse 
que era de Angola, ele logo exclamou “ah! Angola, 
Naulila, n’est-ce pas?” Porquê esta alusão do emi-
nente jusinternacionalista, associando o nome do 
nosso País a uma recôndita povoação do Cunene? 
Já se compreenderá porquê.
Eis um resumo dos factos.
Em 1915, ou seja em plena 1ª Guerra Mundial, 
34 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 35 
ao sul da colónia de Angola prevalecia a ocupação 
alemã no chamado Sudoeste Africano, sob o nome 
de “Damaralândia”, a Namíbia de hoje. Aconteceu 
que, no decurso de um incidente devido a um mal-
-entendido (para o que terá contribuído a inépcia 
do tradutor…) foram mortos no posto português 
de Naulila cinco alemães — um alto funcionário 
e quatro militares. Em represália as forças alemãs 
atacaram e destruíram o forte de Cuangar e mais 
quatro postos portugueses. Fizeram ainda uma 
expedição militar que atacou e destruiuo forte 
de Naulila, naquilo que passou a ser denominado, 
na historiografia militar portuguesa e na opinião 
pública da época como “O desastre de Naulila”. 
Por seu lado, os alemães qualificaram essa acção 
militar como sendo uma strafexpedition, “expedição 
punitiva”. Os danos directos foram pesados para as 
forças portuguesas: entre europeus, 69 mortos, 76 
feridos e 36 prisioneiros, forçados a sete meses de 
longo cativeiro; entre as tropas “indígenas”, cerca 
de 180 mortos, praticamente todos enforcados. 
Uma verdadeira carnificina! Como resultado deste 
e de outros violentos combates no Cunene, as tro-
pas portuguesas foram praticamente expulsas de 
toda a zona. Passo a citar os dizeres da Sentença que 
referirei a seguir. “Isto proporcionou uma grande 
revolta da “tribo dos cuanhamas”. A tal ponto que 
uma expedição importante teve de ser enviada mais 
tarde pelos portugueses, “para reprimir a revolta 
dos negros, reocupar o território abandonado e 
submeter os Cuanhamas” […] “populaça belicosa 
submetida aos desígnios de um chefe sanguinário”. 
O chefe assim cruamente retratado — dizemos nós 
–, era, na realidade, Mandumbe Ya Ndemufaio, o 
último rei dos cuanhamas...
O diferendo que estes incidentes suscitaram 
foi mais tarde submetido a um Tribunal arbitral 
luso-alemão, sediado na Suíça, que, em Julho 
de 1928, pronunciou a Sentença denominada 
“Responsabilidade da Alemanha em virtude dos 
danos causados nas colónias portuguesas do sul da 
África”.
Antes de analisarmos como é que o Direito 
Internacional vigente na época foi aplicado, seria 
bom ter presente o regime geral da responsabili-
dade internacional dos Estados, ou seja, a que é 
desencadeada por actos atribuídos ao Estado (actos 
dos seus funcionários ou órgãos), sendo esses actos 
ilícitos, porque contrários ao Direito Internacio-
nal. No quadro das reacções ao ilícito, mais tarde 
36 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 37 
agrupadas na categoria genérica das contra-medi-
das, distingue-se classicamente entre, de um lado 
a retorsão — quando se está perante um acto lícito 
praticado por um Estado, em resposta a outro acto 
lícito de outro Estado, sendo contudo os dois actos 
inamistosos ou prejudiciais para os interesses da 
contra-parte — e, do outro lado, as represálias, em 
que se responde a um acto ilícito com outro acto 
ilícito, na expressão francesa “rendre la pareille”. 
Aqui, a ilicitude do segundo acto é excluída por 
constituir uma resposta ou contra-medida a outro 
acto ilícito. 
Dito isto, vejamos como o Tribunal, na referida 
Sentença, estabeleceu o direito relativamente às 
represálias. A primeira condição sine qua non para 
a admissibilidade jurídica das represálias é a ilici-
tude do acto a que se responde, no dizer do Tri-
bunal, a verificação de “um motivo fornecido por 
um acto prévio, contrário ao direito das gentes”. A 
segunda condição é a de que as represálias só são 
lícitas quando são precedidas de uma interpelação 
infrutuosa. Com efeito, o emprego da força só se 
justifica pelo seu carácter de necessidade. […]. Por 
isso, estabelece o Tribunal que “houve […], da parte 
das autoridades do Sudoeste Africano recurso à 
força sem tentativa prévia de obter satisfação pelas 
vias legais”. Logo a seguir, é posta a terceira condi-
ção: “[…] deverão certamente considerar-se como 
excessivas, e por isso ilícitas, as represálias fora de 
toda a proporção com o acto que as motivou. Ora, 
na espécie […] houve desproporção evidente entre 
o incidente de Naulila e os seis actos de represália 
que se lhe seguiram”. 
Anote-se que este requisito da proporcio-
nalidade entre a acção e a reacção — em última 
instância um corolário lógico do princípio mais 
geral da razoabilidade - está presente em diversos 
institutos e regimes do Direito Internacional (e 
também do direito interno), designadamente nas 
outras circunstâncias de exclusão da ilicitude, 
como a legítima defesa, e o estado de necessidade. 
 A parte conclusiva da Sentença é clara e pre-
cisa: 
Os árbitros chegam à conclusão que as agressões 
alemãs […] na fronteira de Angola não podem 
ser consideradas como represálias lícitas ao 
incidente de Naulila […], e isto por falta de 
motivo suficiente, de interpelação prévia e 
de uma proporção admissível entre a ofensa 
38 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 39 
alegada e as represálias exercidas.
Em consequência, o Tribunal sentenciou que 
a Alemanha, tendo incorrido em responsabilidade 
internacional pelos factos ocorridos, é condenada 
a indemnizar Portugal pelos danos que lhe infli-
giu com as acções bélicas no sul de Angola. O 
montante da indemnização viria a ser fixado pelo 
mesmo Tribunal em 1930.
Entretanto, o Direito Internacional sobre 
as represálias viria a sofrer posteriormente uma 
importante evolução, com a interdição do uso da 
força e da ameaça do uso da força nas relações inter-
nacionais, princípio estabelecido, com a natureza e 
força de jus cogens, no artº 2º da Carta das Nações 
Unidas. Aí se proscreve não só todo o recurso à 
força (abrangendo a guerra, as represálias armadas 
ou qualquer utilização da força), mas também a 
ameaça do recurso à força. As represálias armadas 
são assim banidas do Direito Internacional.
Esta inovação no Direito Internacional, sole-
nemente aportada pela Carta, foi confirmada pela 
Resolução 2625, de 1970, da Assembleia Geral, 
denominada “Declaração sobre os Princípios de 
Direito Internacional referentes às relações de 
amizade e cooperação entre os Estados”, na qual, 
a propósito do princípio da interdição da força, se 
estabelece expressamente que “os Estados devem 
abster-se de actos de represálias que impliquem 
o uso da força.”. Mais tarde, a Assembleia Geral 
aprovou a já mencionada “Definição de Agressão” 
que qualifica a guerra de agressão como um “crime 
contra a paz, dando lugar à responsabilidade 
internacional”. Esta criminalização da agressão é 
reafirmada no projecto da Comissão do Direito 
Internacional sobre a responsabilidade dos Esta-
dos, uma codificação presentemente em curso nas 
Nações Unidas. 
Deixando a “Naulila” do passado, eis que Nau-
lila e tantas outras povoações do nosso Cunene e 
do nosso sul de Angola voltaram, de algum modo, 
a ser mais recentemente objecto do Direito Inter-
nacional.
Falemos agora das
A ÚLTIMA AULA 41 
Agressões sul-africanas 
contra Angola, ao tempo 
do “apartheid”
O histórico das agressões a Angola pelo regime 
racista e de apartheid da África do Sul é 
extenso e dramático, prolongado por mais de duas 
décadas. Olhando para a incidência externa, o con-
flito poderá dividir-se em duas fases: a primeira, 
desde Outubro de 1975, ou seja, um mês antes da 
Independência, até à retirada das forças armadas 
sul-africanas, em 27 de Março de 1976 (precisa-
mente neste dia, reparo agora, há 43 anos…); e a 
segunda fase, entre Junho de 1979 e Dezembro 
42 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 43 
de 1988. Nesta última data foram concluídos os 
Acordos de Nova York, que consagraram a solução 
regional que tinha implícito aquilo que na época 
se chamava de “linkage”- a ligação da retirada das 
tropas cubanas de Angola, com a retirada das for-
ças armadas sul-africanas, abrindo a porta para a 
implementação, finalmente, da célebre Resolução 
435, que traçou o caminho para a independência 
da Namíbia.
Aquela primeira fase foi concluída e como que 
sancionada, pela Resolução 387, de 31 de Março 
de 1976, do Conselho de Segurança das Nações 
Unidas que (i) condenou “a agressão da África do 
Sul contra a República Popular de Angola”; (ii) 
exigiu “o respeito pela África do Sul da soberania 
e integridade territorial da República Popular de 
Angola”; (iii) exigiu que a África do Sul “deixasse 
de utilizar o território internacional da Namíbia 
para organizar actos de agressão contra Angola ou 
qualquer outro Estado vizinho”; finalmente, (iv) 
exortou a África doSul a “atender às justas recla-
mações da República Popular de Angola para pagar 
uma indemnização total pelos danos e destruições 
infligidos a Angola”.
Posteriormente, nos anos seguintes e até 
Abril de 2000, o Conselho de Segurança adoptou 
63 resoluções sobre Angola, todas com o mesmo 
conteúdo condenatório das agressões sul-africanas 
e exigência de uma adequada indemnização. Em 
função de relatórios sucessivamente apresenta-
dos às Nações Unidas pelo Governo angolano, e 
depois, em 1985, do relatório elaborado por uma 
Comissão de Investigação designada pelo Conse-
lho de Segurança, o montante da indemnização 
devida a Angola pela África do Sul foi estimado em 
36 biliões de dólares. 
Note-se, contudo, que todas estas resoluções 
não foram tomadas ao abrigo do capítulo VII da 
Carta. Como é sabido, neste capítulo estabelece-se 
que o Conselho de Segurança, quando se verifica 
a existência de qualquer ameaça à paz, violação da 
paz ou acto de agressão, pode decidir, com carác-
ter obrigatório, a tomada de medidas coercivas, 
incluindo o emprego da força armada — são as 
chamadas sanções. Na verdade, o carácter mera-
mente recomendatório daquelas resoluções per-
mitia afastar a ameaça de veto, sistematicamente 
brandida pelos Estados Unidos. Aliás, logo a seguir 
à grande operação armada de invasão e ocupação 
de uma grande parte da província do Cunene, em 
44 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 45 
Agosto de 1981 (a chamada “Operação Protea”), 
a resolução condenatória, invocando expressa-
mente o capítulo VII da Carta, foi formalmente 
votada, mas não adoptada, por força do veto dos 
Estados Unidos. Foi necessário esperar pelo reco-
nhecimento da República Popular de Angola pela 
Administração Clinton, em Maio de 1993, para 
que o Conselho de Segurança aprovasse a primeira 
resolução invocando expressamente o capítulo 
VII da Carta. Mas agora, visando directamente a 
Unita: tratou-se da Resolução nº 864/93, a que 
se seguiram outras Resoluções em 1988; 1999 e 
2000, todas elas contendo a decisão de aplicação 
de sanções à Unita, cada vez mais abrangentes. 
Embora, por más razões e pelo lado menos 
positivo, também aqui Angola inovava no Direito 
Internacional: era a primeira vez que o Conselho 
de Segurança decretava, com carácter mandatório, 
sanções, não contra um Estado, mas contra um 
movimento insurrecional interno.
No que concerne ao contencioso Angola-
-África do Sul, as resoluções do Conselho de 
Segurança e da Assembleia Geral estabeleceram e 
aplicaram o direito relativamente a diversos pontos 
importantes do Direito Internacional, em resposta 
e contrariando as alegações de justificativas por 
parte da África do Sul e dos Estados que, mais 
ou menos abertamente, a apoiavam. Desde logo, 
a caracterização como agressão das sucessivas 
intervenções das forças armadas da África do Sul 
no território angolano, a partir de um território 
internacional, a Namíbia, ilegalmente ocupado, 
visto que, desde 1966, o antigo Sudoeste Africano 
fora colocado sob a responsabilidade directa das 
Nações Unidas. Depois, a recusa das pretensas jus-
tificações da África do Sul, como sejam o combate 
“ao comunismo” e a presença de tropas cubanas 
em Angola e o combate “ao terrorismo”, de que 
eram acusados os combatentes da Swapo que se 
aquartelavam e partiam de Angola para acções no 
território namibiano. Pretória reivindicava um 
pretenso “direito de represálias” e de “hot pur-
suit”, a chamada “perseguição a quente”. Particu-
larmente sobre esta última justificativa, sempre se 
diria que um tal direito só é admitido no Direito 
Internacional em relação à perseguição no mar, e 
nunca em terra e, em todo o caso, nunca poderia 
ser licitamente exercido a partir de um território 
internacional ilegalmente ocupado. 
Enfim, a África do Sul do apartheid seguia 
46 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 47 
bem o ensinamento do Chanceler alemão Bismark 
“primeiro uso a força; depois chamo os meus juris-
tas para a justificar”. O que não abona nada a favor 
da nossa classe… 
A essa retórica argumentativa, respondia-se 
com a disposição inequívoca da já mencionada 
“Definição de Agressão”: “nenhuma considera-
ção de qualquer natureza, seja política, económica, 
militar ou outra, poderá justificar uma agressão. 
Por outro lado, todas as resoluções de que vimos 
tratando afirmam claramente, a favor de Angola, a 
pertinência do exercício do seu direito de legítima 
defesa, tal como estabelecido no art.º 51º da Carta 
das Nações Unidas, e, consequentemente, o seu, 
cito, “inerente e legítimo direito de, no exercí-
cio da sua soberania, pedir a assistência de outro 
Estado ou grupo de Estados” No mesmo registo, 
e no contexto do reconhecimento da SWAPO 
pelas Nações Unidas como legítimo movimento de 
libertação nacional, o Conselho de Segurança che-
gou a, cito, “louvar a República Popular de Angola 
pelo seu firme apoio ao povo da Namíbia na sua 
justa e legítima luta contra a ocupação ilegal do seu 
território pela África do Sul” 
Sobre o tema do tratamento da questão de 
Angola pelas Nações Unidas, recomendo viva-
mente a exaustiva obra “As Resoluções das Nações 
Unidas sobre Angola”, dissertação de Mestrado 
do antigo aluno da nossa Faculdade, Mestre José 
Paulino Cunha.
E agora fecho, para vosso alívio e satisfação, o 
meu último tema:
A ÚLTIMA AULA 49 
Angola e a codificação do 
Direito Internacional
Durante séculos, o Direito Internacional teve 
como principal e quase exclusiva fonte o cos-
tume, quer a nível bilateral, quer a nível multila-
teral. A densificação por via convencional, através 
de tratados entre dois ou mais Estados, em todo o 
caso sempre em número restrito, é um fenómeno 
relativamente recente. Foi preciso esperar até aos 
finais do século XIX e, acentuadamente, por todo 
o século XX, para que surgisse o Direito Interna-
cional geral, formado pela via convencional, isto é, 
tendo como fonte ou modo de revelação tratados 
A ÚLTIMA AULA 51 
multilaterais gerais, aspirando a envolver como 
partes círculos cada vez mais amplos de Estados, 
até à universalidade.
É neste contexto que se insere o movimento 
da codificação. Tal como aconteceu com os direi-
tos internos, em que se procedeu à codificação dos 
diferentes ramos do direito, dando lugar ao surgi-
mento dos grandes Códigos na Europa (o Código 
Civil napoleónico, o BGB alemão, etc), também a 
codificação do Direito Internacional, com início 
em finais do século XIX (lembre-se as Convenções 
de Haia sobre o Direito da Guerra), resultou num 
considerável desenvolvimento do tecido norma-
tivo da Comunidade Internacional, abrangendo 
domínios cada vez mais amplos. A codificação 
vem responder à enorme dispersão das normas de 
Direito Internacional, proveniente da estrutura 
descentralizada da sociedade internacional e do 
modo igualmente descentralizado e não hierar-
quizado da produção jurídica que nela vigora. No 
Direito Internacional, a codificação traduz-se na 
recolha, compilação e sistematização, a propósito 
de uma determinada matéria, dos costumes e dos 
tratados, quer bilaterais quer gerais, da jurispru-
dência internacional e interna, da doutrina dos 
publicistas, e da prática dos Estados e das Organi-
zações Internacionais. Mas, tal como nos direitos 
internos, a codificação no Direito Internacional 
não se limita a uma mera transposição declarativa 
escrita daquelas fontes pré-existentes. Ela reveste-
-se também de um carácter inovador, promovendo 
aquilo que a doutrina chama de desenvolvimento 
progressivo do Direito Internacional.
Quanto ao resultado do trabalho da codifi-
cação, a modalidade mais frequente, por assim 
dizer, mais vinculativa, é a da via convencional, 
ou seja, adopção de um tratado multilateral geral, 
aberto à participação universal, a que por prática 
habitual se dá o nome de Convenção. Mas a codi-
ficação também pode culminar numa Declaração,aprovada pelo órgão plenário da ONU ou de uma 
outra Organização Internacional regional (veja-se 
a referida “Definição de Agressão”, a “Declaração 
Universal dos Direitos do Homem” e a “Declara-
ção sobre a outorga da independência aos países 
e povos coloniais”, a famosa Resolução 1514 da 
Assembleia Geral das Nações Unidas, de 1960, a 
célebre “Magna Carta da Descolonização”).
Os fazedores da codificação em Direito Inter-
nacional, por assim dizer, “os legisladores”, são os 
52 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 53 
Estados — principalmente, os que participam na 
preparação e elaboração das Convenções e delas se 
tornam parte.
 E é neste campo da autoria que se verificou 
uma mudança radical, a partir da década de ses-
senta do século passado. Com efeito, o Direito 
Internacional anterior, dito “clássico”, era carac-
terizado por um dominante europeiocentrismo. 
Tratava-se de um direito oligárquico, de um “clube” 
restrito de Estados europeus, não só ao nível da 
sua elaboração, como da sua aplicação, servindo 
primordialmente os interesses hegemónicos des-
ses mesmos Estados. Veja-se, como exemplo para-
digmático, o Congresso de Berlim, que reuniu 
apenas 13 potências europeias e os Estados Unidos 
da América, e ali procederam à partilha entre si das 
colónias africanas e definiram as regras jurídicas 
que deveriam presidir às futuras ocupações dos 
territórios africanos (princípio da efectividade e 
regra da notificação às outras potências). 
Esse era o direito internacional da época...
Já o Direito Internacional contemporâneo 
mostra-se um direito verdadeiramente universal, 
reflexo da moderna democratização da sociedade 
internacional. Na sua criação, participam, em pé 
de igualdade, todos os Estados. E, pelo seu con-
teúdo e na sua aplicação, os Estados são colocados 
numa posição de total igualdade jurídica. Grandes 
e pequenos, ricos e pobres: todos, para o Direito 
Internacional, iguais. Isto, em direito, porque, na 
realidade e, de facto, alguns são mais iguais que 
outros… 
Alcançada a Independência e edificado ins-
titucionalmente o novo Estado, Angola também 
começou a contribuir na elaboração e codificação 
do Direito Internacional, designadamente parti-
cipando activamente em comités de especialistas 
encarregados dos trabalhos preparatórios de Con-
venções, em Conferências diplomáticas de codi-
ficação e nos órgãos plenários das Organizações 
Internacionais, nomeadamente a ONU e a OUA.
Já aqui referimos a participação de Angola, ao 
nível destas duas Organizações, nos trabalhos de 
preparação das citadas Convenções sobre o mer-
cenarismo. E, nesse domínio, é de inteira justiça 
salientar o empenhamento de Angola e o seu acti-
vismo pioneiro.
Poderíamos também lembrar a participação de 
Angola na Conferência Diplomática realizada em 
1978, em Viena de Áustria, em que foi adoptada e 
54 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 55 
assinada a “Convenção de Viena sobre a Sucessão 
de Estados em matéria de Tratados”, uma matéria 
que na época tinha uma enorme importância para 
os Estados recém-independentes, como era o caso 
de Angola.
Deixo para o fim a maior e mais relevante 
obra de codificação do Direito Internacional, com 
uma envergadura e um alcance que historicamente 
nunca tinham sido alcançados: a Convenção das 
Nações Unidas sobre o Direito do Mar, levada a 
cabo pela 3ª Conferência das Nações Unidas sobre 
o Direito do Mar, realizada entre 1973 e 1982. 
Foram nove anos de longas e árduas negocia-
ções, assentes num original método que combinou 
sabiamente o princípio do “consenso se possível” 
e o “package deal”, para conforto e harmonização 
dos mais díspares interesses, dos Estados ribei-
rinhos e dos sem litoral, dos Estados geografi-
camente desfavorecidos e dos beneficiados, dos 
Estados arquipelágicos e dos encravados, dos Esta-
dos com ilhas, dos grandes e dos pequenos, dos 
pobres e dos ricos… Com efeito, a virtude maior 
da Convenção de Montego Bay reside, não tanto 
na universalidade participativa que veio a alcançar 
— hoje em dia ela já é um dos tratados mais univer-
sais, se não mesmo o mais universal, pelo número 
de Estados partes — mas sobretudo pela massiva e 
empenhada participação na sua demorada génese. 
Essa feitura amplamente colectiva, contemplando 
harmonicamente os interesses da generalidade dos 
Estados que compõem a Comunidade Internacio-
nal, traduz um extraordinário desenvolvimento do 
Direito Internacional no domínio do Direito do 
Mar. Principalmente pelo seu carácter inovador 
em muitas matérias, como a consagração e regula-
ção de novos espaços marítimos, como é o caso da 
Zona Económica Exclusiva e da “Área”, os grandes 
fundos marinhos, erigidos, quiçá algo programati-
camente e utopicamente, em “património comum 
da Humanidade”. 
Durante toda a negociação da Convenção, 
Angola participou activamente nos trabalhos pre-
paratórios que decorreram na sede das Nações 
Unidas, em Nova York, e também em Genebra, 
com delegações que integravam especialistas em 
diferentes áreas: juristas, economistas, engenhei-
ros, biólogos, etc. É justo destacar aqui, entre 
os primeiros, os docentes desta Faculdade Dras 
Paulette Lopes e Teresinha Lopes, os Drs. Júlio de 
Figueiredo, Carlos Alberto Saraiva de Carvalho, 
56 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 57 
Apolinário Correia e Norman Lanvu, Essas dele-
gações foram chefiadas pelos então Ministros da 
Justiça, primeiro o Dr. Diógenes Boavida e depois, 
na fase final, o Professor França Van-Dúnem, que 
nos honra com a sua presença nesta casa e neste 
acto. 
A Convenção foi solenemente assinada por 117 
Estados, em 10 de Dezembro de 1982, na Jamaica, 
em Montego Bay (daí o nome por que também é 
conhecida). Angola tornou-se parte da mesma, 
ao ratificá-la em 5 de Dezembro de 1990. Neste 
momento, são partes da Convenção 168 Estados. 
Se tivermos presente que a ONU tem actualmente 
183 Estados membros, aquele número mostra bem 
a universalidade desta Convenção.
Chegados aqui, é a altura de pôr um ponto final 
nesta caminhada pelos trilhos fascinantes do 
Direito Internacional. Bem gostaria que, seguindo 
o formato tradicional das aulas, depois do exercício 
aristotélico peripatético, sentado ou deambulando 
pela sala, se seguisse um retemperador intervalo 
e voltássemos para o diálogo maiêutico, de mais 
perguntas e respostas do lado do anfiteatro, do que 
do prelector…
Mas, como na vida, tudo tem o seu tempo e o 
seu termo.
Não termino, porém, sem antes recordar as 
largas centenas, se não mesmo milhares de alunos 
a quem, ao longo destes trinta anos, tive o privilé-
58 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 59 
gio de tentar transmitir algum saber e, sobretudo, 
despertar neles o interesse pelo Direito Interna-
cional.
De entre a “geração de oiro” dos primeiros 
alunos licenciados pela nossa Faculdade, e porque, 
estando ausentes do País, me enviaram nesta oca-
sião uma palavra de amizade, destaco o Dr. Agui-
naldo Jaime, porventura o mais brilhante aluno 
que tive, e o Dr. Francisco Queiroz, igualmente 
excelente aluno, que depois veio a tomar as rédeas 
da Faculdade numa época bem difícil. 
Convocando os que infelizmente já partiram, 
lembro, com imensa saudade, a Dra. Eva Ferreira e 
a Dra. Benvinda Barbosa; os Drs. João Landoite, 
Júlio Quilombo e Helder Van-Deste; o Simeão 
Kafuxi e o Adolfo João Pedro; o Dr. Agostinho 
José Neto e o Dr. João Felizardo, este tutelar 
primeiro coordenador do Núcleo do Huambo da 
Faculdade de Direito que viria a ser o primeiro 
Presidente do Tribunal Supremo de Angola e o 
Dr. Albino Sinjecumbi, também coordenador 
do mesmo Núcleo e, depois, primeiro decano da 
nova Faculdade de Direito da Universidade José 
Eduardo dos Santos. Para todos eles, deixo aqui o 
alusapo que o também huambense Ndunduma Wé 
Lépi me ensinou:
kapua kiso, kutima hako cikasi 
(o que se extingue dos olhos, continua no coração)
Dos últimos temposda minha docência, 
recordo o Dr. Afonso Van-Dúnem, M’Binda, que 
na disciplina do Direito Mar fez um excelente tra-
balho, precisamente sobre a Convenção de Mon-
tego Bay.
Seja-me permitido expressar aqui uma palavra 
de amizade, preito e reconhecimento a todos os 
amigos que me quiseram honrar com a sua pre-
sença e, em especial, 
— ao Cardeal D. Alexandre do Nascimento, 
dilecto condiscípulo das lides académicas na 
Faculdade de Direito de Lisboa, de quem desde 
a primeira hora recebi estímulo e reconforto para 
me aventurar nas andanças do latim jurídico . Para 
ele, digo
Ad augusta per angustam, ab imo pectore 
(Às coisas augustas, por caminhos difíceis, do 
fundo do coração)
60 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 61 
custou a liberdade
Tenho a indeclinável obrigação de saudar 
aqueles que me sucederam na direcção da Facul-
dade: os Professores Francisco Queiroz, José 
Octávio Van-Dúnem, Raúl Araújo, Carlos Tei-
xeira e André Victor. Eles souberam assegurar, até 
hoje e muito melhor do que eu, a continuidade e 
excelência desta Escola.
Quero também lembrar e saudar os Colegas 
da primeira hora e que hoje, por vicissitudes da 
vida, não podem estar aqui presentes: os Professo-
res Teixeira Martins, Orlando Rodrigues e Gran-
dão Ramos, cabouqueiros do ensino do Direito 
em Angola e também o Professor Doutor António 
Avelãs Nunes, da Faculdade de Direito de Coim-
bra, que estabeleceu e liderou, pela sua Escola, um 
valiosíssimo projecto de cooperação entre as duas 
Faculdades. Não é sem inteira justiça que os seus 
nomes insignes estão gravados nos anfiteatros, 
salas e biblioteca da nossa Faculdade. 
De entre a centena de Colegas docentes com 
quem tive o gosto de trabalhar, recordo, também 
— ao Professor Dr. Fernando França Van-
-Dúnem, nosso proeminente jusinternacionalista 
angolano, com quem tive a honra de trabalhar na 
recta final da minha passagem pelo Ministério da 
Justiça
— ao Dr. Paulo Tjipilica, amigo e conterrâ-
neo, jurista e latinista de fino corte e rara elegância, 
de quem recebi ao longo de sucessivas edições do 
meu glossário de latim valiosos contributos, 
Dormit aliquando ius, moritur nunquam 
(O direito pode dormir, mas nunca morre)
— também ao Dr. Manuel Rui Monteiro, 
meu irmão e camarada, desde os gloriosos tem-
pos do Ministério da Informação do Governo de 
Transição, jurista combativo de nobres causas e, 
sobretudo, cultor maior das nossas letras,
Que os meninos do nosso Huambo conti-
nuem, à volta da fogueira, a construir sonhos 
com os mais velhos de mãos dadas, a aprender 
como se ganhou uma bandeira e a saber o que 
62 FERNANDO OLIVEIRA A ÚLTIMA AULA 63 
saudosamente, aqueles que, para nosso infortúnio, 
nos deixaram demasiado cedo: o Dr. Joaquim 
Inácio, o Dr. António Pinto Ribeiro, o Dr. José 
Webba, o Dr. Orlando Chitumba, a Dra. Fátima 
Simões, o Dr. Raúl Neto Fernandes, o Dr. Filipe 
Amado, o Dr. Valentim Comboio,
e, muito especialmente o Dr. João Filipe 
Martins, primeiro Director da nossa Faculdade e 
Reitor da Universidade Agostinho Neto. 
Por fim, curvo-me perante a memória inapa-
gável
do Professor Adérito Correia, meu compag-
non de route desde os primórdios do Ministério 
da Justiça nos anos setenta e oitenta e na criação e 
desenvolvimento desta Faculdade
e, por último, comovidamente, da Professora 
Maria do Carmo Medina, em cujo Auditório faço 
esta “última lição” de despedida da docência.
Mas eu seria justamente censurado, se não 
dirigisse também uma palavra de amor e agrade-
cimento à minha família, esposa e filhas aqui pre-
sentes.
Pela minha parte, se estive tão ausente de vós 
durante todos estes anos, prometo que vos com-
pensarei a dobrar doravante.
E uma promessa, proferida nesta Casa do 
Direito, faz lei e é para cumprir. 
Muito obrigado pelo carinho e amizade de 
todos vós.
Bem hajam. 
Acta est fabula 
(acabou a representação)
A ÚLTIMA AULA 65 
Entrega da Medalha de Mérito
 
Espólio Prof. Fernando Oliveirat
SELECÇÃO DE DIAPOSITIVOS 
APRESENTADOS NA AULA
INDEPENDÊNCIA	DE	ANGOLA		
TRANSMISSÃO	DE	PODERES	
POR	PORTUGAL	
10 DE NOVEMBRO, LUANDA, VICE-ALMIRANTE 
LEONEL CARDOSO
“Em	nome	do	Presidente	da	República,	proclamo	
solenemente	-com	efeito	a	partir	das	0	horas	do	dia	11	
de	Novembro	de	1975	–	a	independência	de	Angola	e	a	
sua	plena	soberania,	radicada	no	Povo	Angolano,	a	
quem	pertence	decidir	das	formas	do	seu	exercício”.	
	
Militar português 
recolhendo a última 
bandeira 
portuguesa, arreada 
na Fortaleza São 
Miguel
1
			INDEPENDÊNCIA	DE	ANGOLA		
PROCLAMAÇÃO	DA	REPUBLICA	
POPULAR	DE	ANGOLA	
Presidente	Agostinho	Neto, 0	horas, Luanda	
 
“Em	nome	do	Povo	angolano,	o	Comité	Central	
do	Movimento	Popular	de	Libertação	de	
Angola	(MPLA),	proclama	solenemente	perante	
a	África	e	o	Mundo	a	Independência	de	
Angola”
2
INDEPENDÊNCIA	DE	ANGOLA		
 	 
• PROCLAMAÇÃO	DA	“REPUBLICA	DEMOCRÁTICA	DE	
ANGOLA”	
• 11 de Novembro – Ambriz, Holden Roberto 
• 11 de Novembro – Nova Lisboa (Huambo) 
Jonas Savimbi
3
INDEPENDÊNCIA	DE	ANGOLA	 	
EMPOSSAMENTO	DOS	GOVERNOS	
• da RPA	– Luanda, 12	de	Novembro, 
tomada de posse do Governo 
• da “RDA”	– Nova Lisboa (Huambo), 3	
de	Dezembro, tomada de posse do 
Governo
4
RECONHECIMENTO DA RPA 
BILATERAL	
 
• 1º Estado – Brasil, 11 de Novembro de 1975	
• 1º País europeu – Itália, 12 de Fevereiro de 1976	
• Em 12 de Fevereiro de 1976 – reconhecimento por 
80	Estados,	40	africanos	
• 23 de Fevereiro de 1976 – reconhecimento por 
Portugal (82º Estado a reconhecer) 
• 19 de Maio de 1993	– reconhecimento pelos 
Estados	Unidos	da	América	
 
NA	OUA	
• 12	de	Fevereiro	de	1976,	tornando-se	46º	
membro	da	Organização	
 
NA	ONU	
• 22 de Novembro de 1976 – Res.397 do Conselho 
de Segurança a recomendar a admissão de Angola 
• 1	de	Dezembro	de	1976	–	A.	Geral:	admissão	da	
RPA	nas	Nações	Unidas
5
JULGAMENTO	DOS	MERCENÁRIOS	
Luanda,	15	a	28	junho	1976	
TRIBUNAL	POPULAR	REVOLUCIONÁRIO	(Lei	7/76,	de	1	de	Maio)	
TRIBUNAL	
 Ernesto Teixeira da Silva, Jurista, 
Presidente 
 Orlando Rodrigues, Jurista 
 Maria Carlos, OMA 
 David Moisés (Ndozi), oficial das FAPLA 
 Eduardo Silva (Bakaloff), oficial das FAPLA 
 Garcia Bires, jurista, juiz substituto 
PROCURADOR	POPULAR	
 Manuel Rui Monteiro, jurista 
ADVOGADOS	DE	DEFESA	
 3 advogados britânicos 
 3 defensores oficiosos angolanos – 
Teresinha Lopes, Aníbal Espírito Santo, Soares Silva 
RÉUS,	MERCENÁRIOS	
 10 britânicos 
 2 norte-americanos 
 1 irlandês
6
JULGAMENTO	DOS	MERCENÁRIOS	
Junho	1976
7
Imprensa	e	livros	sobre	
o	julgamento	de	Luanda	
8
Imprensa	e	livros	sobre	
o	julgamento	de	Luanda	
9
Imprensa	e	livros	sobre	
o	julgamento	de	Luanda	
10
Comité	da	OUA		-	Addis	Abeba	–	
Outubro	1976
11
Naulila	–	1914
12
“O	CASO	NAULILA”	
		
• Confrontos	armados	no	Sul	de	Angola	(Cunene) 
em Outubro/Novembro de 1915 entre tropas 
portuguesas e tropas alemãs que ocupavam o 
Sudoeste Africano (Namíbia)	
• Incidente	de	Naulila, 19 de Outubro, 5	alemães	
mortos	
• Represálias: destruição dos fortes de Naulila e 
Cuangar, postos de Dirico, Bunja, Mucusso, Sambiu	
• Combate	de	Naulila, 18 de Dezembro	
 
- Baixas do lado português 
 
Europeus, 69 mortos, 76 feridos, 
36 prisioneiros 
Tropas indígenas: 180 mortos, quase todos 
enforcados 
 
• Outubro/Dezembro – expulsão das forças 
portuguesas de toda a zona e revolta do 
povo cuanhama	
 
13
Monumento	em	Outjo		-	Namibia	
14
15
		
A	ONU	E	AS	AGRESSÕES	SUL-AFRICANAS	
CONTRA	ANGOLA	
		
DE	OUTUBRO	DE	1975	A	DEZEMBRO	DE	1988	
 
❖ Res.	387,	31	Março,	de	1976, Conselho de Segurança	
 
 - condenação da agressão da África do Sul 
 - condenação da utilização do território da Namibia 
para as agressões 
 - exigência de indemnização a Angola pelos danos 
infligidos 
❖ Sucessivamente, adopção de 63	resoluções	pelo 
Conselho de Segurança 
❖ Todas estas Resoluções não foram adoptadas ao 
abrigo do Cap. VIIda Carta 
❖ 1985: fixação	da	indemnização	devida	pela	África	do	
Sul	a	Angola	em	36	biliões	de	dólares
16
17
		
A	ONU	E	O	CONFLITO	INTERNO	
 
DESDE	1988	(ACORDOS	DE	NOVA	YORK)	
 
❖ Resoluções sobre as missões de manutenção 
da paz em Angola 
 (UNAVEM I, UNAVEM II, UNAVEM III) 
❖ Resoluções sobre a aplicação de sanções	à	
Unita, ao abrigo do cap. VII da Carta 
 
• Res. 1173 – 1998 – embargo	armas	
• Res. 1176 – 1998 – embargo	transações	
diamantes	
• Res. 1221 – 1999 – congelamento	
recursos	financeiros	
• Res. 1295 – 2000 – restrições	
mobilidade	dos	dirigentes	
 
18
19
Convenção	sobre	sucessão	de	Estados	
Viena	de	Áustria,		Agosto	1979
20
Delegação	
angolana
Assinatura,	
Montego	Bay,	10	
de	Dezembro	de	
1982
21
Publicações
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25