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Teoria Geral do Direito Público- “Os juízes como guardiões da constituição” Neste excerto de “Os Federalistas”, Alexander Hamilton argumenta essencialmente sobre como deve ser a organização adequada do sistema Judiciário no modelo de governo proposto na obra. Aqui, ele não clama a favor da existência ou da importância desse poder, pois parte do pressuposto de que ela já é universalmente reconhecida. Ele divide a organização interna do Judiciário em três aspectos: o processo de nomeação dos juízes para o cargo, o tempo em que permanecerão atuando, e a repartição da autoridade entre as cortes. O primeiro aspecto, já previamente elucidado na obra, não é o foco do capítulo. Para o tempo de permanência do cargo, Hamilton prevê que, enquanto o juiz bem desempenhar sua função, ele deve continuar em seu trabalho. Isso, ele posteriormente explica, se deve ao fato de que é muito difícil para o governo encontrar opções abundantes de juízes capazes, uma vez que pouquíssimas pessoas são plenamente conhecedoras do volume de leis existentes em um governo livre, e, ainda mais, conhecedoras do volume de decisões prévias do judiciário que devem servir como precedentes para a ação do atual juiz. No que tange à autoridade das cortes, e a relação entre elas, é apontado que o Judiciário é o mais fraco de todos os poderes, uma vez que não tem nenhum poder concreto sobre a criação ou execução destas. Por isso, é fundamental que o Judiciário possa se proteger de ataques dos demais poderes, e que possa também não se deixar afetar por desvios de conduta ou interesses dos executivos e legisladores, afinal, os juízes são os “guardiões da constituição”. Nesse sentido, cabe ao juiz alguns protocolos: ao receber leis conflitantes, ele deve sempre fazer valer a mais recente. Além disso, se receber leis de diferentes hierarquias, deve sempre valer o que for previsto na constituição: ela é a lei máxima e se sobrepõe às leis ordinárias. Ele pode, e deve, também, anular ato legislativo que seja contrário ao prescrito na lei máxima. Essas autonomias são necessárias para que o Judiciário seja independente- é crucial que o seja, pois à ele, o mais fraco dos três poderes ,cabe fazer valer sempre a lei do povo (constituição). Além disso, é este poder que não só suaviza a severidade e amplitude de leis já em vigor, mas empecilha a criação de leis em fase de discussão, uma vez que os legisladores mal intencionados serão desestimulados a investir em leis desvirtuadas, pois: “[...] é que, percebendo os obstáculos ao êxito de suas iníquas intenções, que provavelmente serão criados pelas cortes, os maus legisladores ver-se-ão de certa maneira compelidos, pelas próprias razoes da injustiça que premeditavam, a alterar suas tentativas” (HAMILTON, 1840,p.580). Sumariamente, a independência do poder judiciário é condição sine qua non para a manutenção da vontade do povo em um governo livre. Para isso, deve ter sua estabilidade garantida: isso se dá a partir dos mecanismos citados ao longo deste trabalho.