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Uma clássica pergunta de Direito Penal que uma vez ou outra causa um dilema:

É possível a aplicação combinada de leis penais como resposta à prática de um determinado fato delituoso?

Para Nelson Hungria - o juiz, membro do Poder Judiciário, ao conjugar critérios de uma e outra lei, adota condição de legislador criando um terceiro tipo penal (lex tertia), o que acabaria por violar a separação dos Poderes.

O STJ sumulou entendimento neste sentido: "É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11343/2006, desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6368/76, sendo vedada a combinação de leis" (Súmula 501 - é o que prevalece).

Mas existe entendimento minoritário defendido por Basileu Garcia e Celso Delmanto que defendem a conjungação de leis penais. Damásio  de Jesus, partidário deste último entendimento explica que: "Não obstante ser mais comum a tese da impossibilidade da combinação, há razões ponderáveis no sentido de que se apliquem as disposições mais favoráveis das duas leis, pelo menos em casos especiais. Se o Juiz pode aplicar o todo de uma ou de outra lei para favorecer o sujeito, não vemos por que não possa escolher parte de uma e de outra para o mesmo fim, aplicando o preceito constitucional."

Pesquisa: Código Penal para Concursos - Rogério Sanches Cunha - 8ª Ed

 

💡 1 Resposta

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Felipe Silveira Andreani

De proêmio, cumprimento o colega pela discussão pertinente a respeito do tema.

Bem verdade é que a tipificação dos delitos e regras processuais são inúmeras e esparsas na legislação brasileira. Também é verossímil a sustentação de que a aplicação da lei, nos casos de conflito ou concomitância de previsões, em regra, são aplicadas respeitando as condições mais favoráveis ao réu.

Entretanto, na minha opinião, ainda que simplista sobre o tema, é de que a aplicação combinada de lei penal material, em nosso ordenamento jurídico, no mínimo, não recomendada pela intepretação implícita em dois princípios do direito material penal: a tipicidade em sentido estrito (decorrente do princípio da reserva legal ou da legalidade) e a vedação de bis in idem.

Não há prejuízo, entretanto, na aplicação combinada de disposições processuais, haja vista que o ordenamento jurídico brasileiro permite o preenchimento das lacunas procedimentais ou a sobreposição de regras especiais, mantendo as gerais na falta de previsão própria.

A lei penal, de acordo com o princípio da tipicidade, deve ser exata e anterior ao delito praticado, não havendo a possibilidade do preenchimento parcial do tipo para configuração de um delito. Tampouco a incidência de um delito totalmente caracterizado, com circunstância agravante ou atenuante de outro similar, haja vista a necessidade dessa correlação com o tipo principal.

Logo, impossível nesse sentido a combinação de leis penais que disciplinem direito material.

De igual forma, o princípio da vedação de bis in idem, ao meu ver, proíbe expressamente a combinação de regras materiais. O art. 61 bem determina, a título de exemplo, o seguinte: Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime [...].  Nesse sentido, mesmo que constante em textos legais distintos, a circunstância deve ser usada como base, seja para tipificação ou incidência de agravante, ou como qualificadora delitiva, por única vez.

 

O Código não possui previsão expressa proibindo o mesmo no caso de atenuantes. Logo, impossível afirmar com certeza a sua vedação.

O princípio da vedação do bis in idem trata, além da proibição de aplicação de duas penas a um indivíduo pela mesma prática delituosa, também da segurança jurídica inerente à interpretação concisa. Se o mesmo fator puder ser utilizado diversas vezes na mesma circunstância fática a insegurança no julgamento tomaria proporções desastrosas, num cenário já não tão sólido que se encontra o país atualmente, no que diz respeito à interpretação razoável do ordenamento jurídico.

Obviamente, como tudo em direito, cabe discussão, mas desde já apresento um posicionamento particular, que, em hipótese alguma, deve ser encarado como sobreposição de opinião.

 

Este é o meu parecer a respeito do tema.

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