Por que há proibição do incesto pelo Código Civil e não há sanção para ele no Código Penal?

Prezado Lucas, 

muito embora o Código Penal e o Estatuto da Criança e Adolescente não contenham normas que tipificam o crime de incesto, esses diplomas normativos possuem normas que protegem, de maneira ampla, a liberdade sexual do menor. A Lei 12.015 modificou, em parte, o tratamento dos crimes sexuais no Código Penal, introduzindo um capítulo só para os crimes contra os vulneráveis. Como disse, repita-se, não há tipo penal que configure como crime a relação incestuosa. Porém, esta relação pode ser enquadrada em qualquer dos tipos penais previstos no Código Penal ou no Estatuto da Criança e Adolescente. Vale lembrar que o Código Penal prevê no seu art. 226, que haverá aumento de pena, na metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre o menor.

Por fim, os tribunais superiores, ao aplicarem essas normas, são rigorosos em não admitir o argumento de que o menor já possuia experiência sexual (não era virgem, por exemplo), afirmando que o menor "abusado" deve ser protegido porque sua personalidade ainda se encontra em formação, não possuindo discernimento necessário para saber lidar com questões sexuais, principalmente em ambiente familiar. 

Sob análise do Código Civil, há uma curiosidade que é intrigante e, de certa forma, conflita com o tratamento penal da relação incestuosa. O Código Civil reduziu a idade nubil para dezesseis anos e permite o casamento em caso de gravidez indesejada. Mesmo com isso, a jurisprudência tem entendido que o crime sexual contra menor não fica afastado em razão da vulnerabilidade.

Nesses casos, acredito que deverá o juiz analisar a situação concreta para identificar se a relação incestuosa é punível criminalmente ou se há condições de resolver a questão civilmente. 

Abraço.

Márcio