A dependência pode ser definida, grosso modo, como a necessidade compulsiva da auto-administração de alguma substância. É multideterminada, envolvendo fatores genéticos, desenvolvimentais, experienciais e ambientais. Para os propósitos da sua pergunta, posso restringir o termo dependência como um estado fisiológico neuroadaptativo desencadeado por componentes dessa substância. O sistema dopaminérgico mesocorticolímbico tem uma importante função na motivação de comportamentos compulsivos pelo consumo de drogas de abuso. A substância pode atuar exercendo efeitos no mecanismo de recompensa cerebral ("brain reward system"), responsável pela hedonia (sentimento de prazer). De acordo com Laranjeira (2013 p.1), “este sistema origina-se de neurônios da região tegmentar ventral e se projeta pelo hipotalamo para o núcleo acumbens e a partir daí para o cortex pré-frontal”. Por exemplo, entre os sistemas neuronais envolvidos nos efeitos de recompensa da nicotina estão os opióides, GABAérgico, glutamatérgico, serotonérgico e, um dos principais, o dopaminérgico. O sistema dopaminérgico mesocorticolímbico tem uma importante função na motivação de comportamentos compulsivos pelo consumo de drogas de abuso. As evidências sugerem uma forte relação entre o aumento da neurotransmissão dopaminérgica neste local e o aumento do comportamento motivacional à procura da substância (Goldstein & Volkow, 2002; Chaudhri et al. 2006; Berrendero et. al., 2010). Quando a estimulação desta via é acentuada e crônica, ocorre uma resposta homeostática — fenômeno conhecido como "tolerância" —, ou seja, o sistema de "recompensa" dopaminérgico é regulado no sentido de reduzir a resposta e, consequentemente, necessitar de uma dose maior da substância para produzir efeitos análogos aos obtidos anteriormente. A adaptação produzida pela tolerância evidencia a principal característica da dependência física (fisiológica), pois na ausência da auto-administração da substância ocorrem sintomas de abstiência, tais como anedonia (perda de prazer), irritabilidade, ansiedadem, dificuldade de concentração e aumento do apetite.
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