Comoriência é preseunção de morte simultânea de duas ou mais pessoas que possuem vínculos sucessórios, quando não é possível determinar quem morreu primeiro presume-se que ambos morreram simultaneamente.
Temos do art. 8º do Código Civil:
Art. 8º: "Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos."
Em seu Manual de Direito Civil, Flávio Tartuce fala sobre a comoriência:
"[...]o Código Civil traz um outro caso de presunção legal e relativa, agora quanto ao momento da morte, ou seja, a comoriência conforme o seu art. 8.º: 'Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos'.
O comando em questão não exige que a morte tenha ocorrido no mesmo local, mas ao mesmo
tempo, sendo pertinente tal regra quando os falecidos forem pessoas da mesma família, e com
direitos sucessórios entre si.
Suponha-se a hipótese fática de mortes simultâneas de dois cônjuges (A e B), que não tenham
descendentes nem ascendentes, mas que possuam dois irmãos C e D (colaterais de segundo grau). Pelo instituto da comoriência, a herança de ambos é dividida à razão de 50% para os herdeiros de cada cônjuge, não sendo pertinente, aqui, observar qual era o regime de bens entre os mesmos.
Na concreção de um acidente automobilístico, se um policial presenciar que A morreu segundos
após B, não deve ser considerada a opinião deste que presenciou a morte para fins sucessórios, não havendo laudo médico que ateste tal fato. Caso contrário, a herança de B iria para A e,
automaticamente, tendo em vista a morte deste último, para C, que sequer é de sua família
consanguínea (cunhados são parentes afins).
Consigne-se, nesse sentido, a ordem de sucessão legítima, sem maiores aprofundamentos quanto à concorrência do cônjuge, que consta do art. 1.829 do CC: 1.º) descendentes, 2.º) ascendentes, 3.º) cônjuge, 4.º) colaterais até 4.º grau.
Dessa forma, não havendo laudo médico, deve-se considerar que os dois cônjuges morreram ao
mesmo tempo. Conclusão: a herança de A irá para seu colateral C e a herança de B irá para seu
colateral D. Faz-se justiça, as heranças ficam mantidas nas famílias consanguíneas correspondentes.
Repita-se que essa presunção é relativa (iuris tantum), podendo ser afastada por laudo médico
ou outra prova efetiva e precisa do momento da morte real, conclusão reiteradamente seguida pela jurisprudência (por todos: TJSP, Apelação 9179145-82.2008.8.26.0000, 25.ª Câmara de Direito Privado, Comarca de São Paulo. Rel. Des. Hugo Crepaldi, j. 20.06.2012).
Todavia, em situações de dúvidas, a jurisprudência tem mantido a presunção legal, não sendo
possível provar o contrário. Nesse sentido, para ilustrar e encerrando o tratamento da matéria:
'Comoriência. Acidente de carro. Vítima arremessada a 25 metros de distância do local, encontrada morta pelos peritos 45 minutos depois, enquanto o marido foi conduzido ainda com vida ao hospital falecendo em seguida. Presunção legal não afastada. Sentença de improcedência reformada. Recurso provido' (TJSP, Apelação com Revisão 566.202.4/5, Acórdão 2652772, São João da Boa Vista, 8.ª Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Caetano Lagrasta, j. 11.06.2008, DJESP 27.06.2008)."
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