A resposta é não!
A medida da defesa necessária segue padrões objetivos. Estes são examináveis ex ante, segundo um observador sensato.
Exemplo: um indivíduo aponta uma arma para outro. Este, supondo que vai ser agredido, saca o seu revólver e mata aquele. Ocorre que a arma do primeiro indivíduo não estava carregada. Será uma legítima defesa real, pois a avaliação do meio necessário e da existência de agressão será feita ex ante, isto é, antes da agressão ocorrer já era possível enxergar a existência de uma agressão.
Entende-se por meio necessário aquele que é apto a neutralizar a agressão, sendo o menos lesivo dentre outros à disposição, existindo uma parcela de proporcionalidade na legítima defesa, no sentido de demandar sempre a defesa menos lesiva para neutralizar a agressão, ainda que haja alguma desproporção.
Meio necessário, portanto, é a apropriada proteção do bem jurídico mediante o menor dano possível do agressor. Afasta-se a desproporcionalidade extrema entre o bem jurídico violado e a lesão/agressão do ofensor.
O uso moderado do meio necessário significa o uso até repelir a agressão. Pode ocorrer de o meio não ser necessário, afastando a legítima defesa desde o seu início (excesso intensivo). Outra possibilidade é o uso do meio que, em princípio, é necessário, mas, neutralizando a agressão, o sujeito prossegue de forma imoderada (excesso extensivo).
O meio necessário e a questão do uso moderado devem ser analisados em conjunto, pois o meio, inicialmente, pode não ser necessário, mas em razão do uso moderado o meio se torna necessário, afastando o excesso.
Exemplo: se alguém invade a propriedade de outro sujeito para roubar frutas, o uso de arma de fogo para afastá-lo é aparentemente desnecessário. Todavia, se o proprietário usa a arma para efetuar disparos para o alto, como forma de causar sustos, o uso moderado torna o meio necessário.
Paulo Vitor, de acordo com Bittencourt,
“Necessários são os meios suficientes e indispensáveis para o exercício eficaz da defesa. Se não houver outros meios, poderá ser considerado necessário o único meio disponível (ainda que superior aos meios do agressor), mas, nessa hipótese, a análise da moderação do uso deverá ser mais exigente, mais criteriosa, mais ajustada às circunstâncias. Aliás, além de o meio utilizado dever ser o necessário para a repulsa eficaz, exige-se que o seu uso seja moderado, especialmente quando se tratar do único meio disponível e apresentar-se visivelmente superior ao que seria necessário”.
Como afirmei anteriormente, a necessidade dos meios deve ser entendida em sua combinação com a moderação com que a pessoa que se defendeu utilizou-os. Um meio de defesa que, a princípio, é qualitativamente desnecessário pode, quando utilizado de maneira adequada, ser considerado necessário para o caso concreto.
No seu exemplo, se "A" pegasse o seu fuzil ponto 50 (ou mesmo um canhão) e atirasse para o alto, somente para assustar o adolescente, o uso moderado tornou o meio necessário.
Sobre a questão, inclusive, já se manifestou o Supremo Tribunal Federal, em voto que transcreveu as lições de Francisco de Assis Toledo da seguinte maneira:
"(...) o modo de repelir a agressão também pode influir decisivamente na caracterização da necessidade dos meios de defesa. Assim, o emprego de arma, não para matar mas para ferir ou para amedrontar, pode ser considerado, em certas circunstâncias, o meio disponível menos lesivo, eficaz e, portanto, necessário (...) Nessas circunstâncias, um meio inicialmente reputado desnecessário pode, pelo modo de seu emprego, transformar-se em meio necessário, porque moderado, e portanto apto à exclusão da ilicitude da defesa que se tem por indispensável. (RE n. 104.292)".
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