As leis complementares apresentam processo legislativo próprio, mais dificultoso que o das leis ordinárias, porém mais fácil que o de reforma à Constituição. Isso porque o legislador constituinte entendeu que certas matérias, embora de extrema relevância, não deviam ser regulamentadas pela própria Constituição Federal, mas também não poderiam se sujeitar à possibilidade de constantes alterações pelo processo legislativo ordinário.
Diante disso, tem-se que as leis complementares se diferenciam das ordinárias em dois aspectos: o material e o formal.
A diferença do ponto de vista material consiste no fato de que os assuntos tratados por lei complementar estão expressamente previstos na Constituição, o que não acontece com as leis ordinárias. Estas têm campo material residual.
Já a diferença do ponto de vista formal diz respeito ao processo legislativo. Enquanto o quórum para a aprovação da lei ordinária é de maioria simples (art. 47, CF), o da lei complementar é de maioria absoluta (art. 69), ou seja, o primeiro número inteiro subsequente à metade dos membros da Casa Legislativa. As demais fases do procedimento de elaboração da lei complementar seguem o processo ordinário.
As leis ordinárias não podem tratar de tema reservado às leis complementares. Caso isso ocorra, estaremos diante de um caso de inconstitucionalidade formal.
As leis complementares, no entanto, podem tratar de tema reservado às leis ordinárias. Esse entendimento deriva da ótica do “quem pode mais, pode menos”. Ora, se a CF/88 exige lei ordinária (cuja aprovação é mais simples) para tratar de determinado assunto, não há óbice a que uma lei complementar regule o tema. No entanto, caso isso ocorra, a lei complementar será considerada materialmente ordinária; essa lei complementar poderá, então, ser revogada ou modificada por simples lei ordinária. Diz-se que, nesse caso, a lei complementar irá subsumir-se ao regime constitucional da lei ordinária.
"Contribuição social (CF, art. 195, 1): legitimidade da revogação pela L. 9.430/96 da isenção concedida às sociedades civis de profissão regulamentada pela Lei Complementar 70/91, dado que essa lei, formalmente complementar, é, com relação aos dispositivos concernentes à contribuição social por ela instituída, materialmente ordinária; ausência de violação ao princípio da hierarquia das leis, cujo respeito exige seja observado o âmbito material reservado às espécies normativas previstas na Constituição Federal. Precedente: ADC l, Moreira Alves, RTJ l56n21'' (RE 457.884-AgR, Rel. Min.Sepúlveda Pertence, j. 21.02.2006, DJ de 17.03.2006). No mesmo sentido: RE 419.629, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 23.05.2006, DJ de 30.06.2006; AI 637.299-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, j. 18.09.2007, DJ de 05.10.2007. Cf., também, lnf 459/STF.
Dyego, via de regra, a lei ordinária não pode mesmo revogar uma lei complementar. No entanto, se a lei complementar vier a tratar de alguma matéria reservada às leis ordinárias, essa lei complementar será considerada materialmente uma lei ordinária, podendo, neste caso, ser revogada ou modificada por simples lei ordinária.
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Direito Constitucional I
•CUMIH
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