Existe, muitas vezes, confusão entre dois termos muito semelhantes, mas que transmitem patologias distintas: artrite reumatóide e artrose. Assim, artrite reumatóide tende a afectar simetricamente pequenas articulações, essencialmente em mulheres jovens. Já a artrose, afecta grandes articulações de carga (joelho e anca), embora o tornozelo também possa ser afectado. A sua incidência é maior em idosos.
A coxartrose é uma das patologias mais frequentes e incapacitantes do sistema esquelético. É mais vulgar nos ocidentais e quase inexistente entre os asiáticos. A razão para esta diferença está nos hábitos posturais de cada povo. Esta temática tem sido vindo a ser estudada desde 1973, ano em que um grupo de investigadores percebe que o hábito ancestral de se sentarem directamente no chão (as nádegas junto aos calcanhares, utilizando a flexão máxima possível das ancas e joelhos), faz com que os asiáticos não apresentem artroses quer da anca, quer do joelho.
Esta posição era utilizada para todas as actividades de vida diária e até para descansar. Mantinham, desta forma, grande capacidade de mobilidade destas articulações, até idades avançadas. É curioso que esta postura não beneficia apenas as articulações referenciadas. Constatou-se também a ausência de lesões discais lombares e lombalgias (dor na coluna lombar). Na sociedade ocidental, o uso de cadeiras (onde o grau de flexão é apenas de 90º), entre outras posturas erradas, pode levar à perda dessa longevidade articular, favorecendo o processo artrótico. Já em 1953, Harrison Schajowicz e Trueta, em Oxford, tinham constatado que a coxartrose tem o seu início na área menos usada da cartilagem articular da cabeça do fémur.
Clinicamente, a coxartrose apresenta 3 sintomas muito característicos:
1 – Dor
2 – Perda de Mobilidade da Anca
3 – Marcha Claudicante
1 – Dor
Inicialmente é uma dor esbatida, de baixa intensidade, mas que se agrava com o progresso da artrose. Sente-se na virilha e irradia pela coxa, sendo que muitas vezes se fixa no joelho. É uma dor que tem o seu grau máximo quando se inicia a marcha (ao levantar de uma cadeira, por exemplo), embora possa aparecer durante o repouso, o que muitas vezes perturba o sono.
2 – Perda de Mobilidade da Anca
Esta perda de mobilidade está relacionada com a formação de osteófitos (pequenas formações ósseas) nas superfícies articulares, o que leva à alteração da sua forma e relação.
A perda de qualidade de vida é uma realidade, já que movimentos como calçar uma meia (implica flexão da anca), um sapato ou mesmo cortar as unhas ficam limitados e muitas vezes deixam mesmo de poder ser executados.
O acto sexual é também afectado, pois esta perda de mobilidade não deixa que o indivíduo execute a abdução (afastamento) dos membros inferiores.
Á medida que a doença vai progredindo, a deformidade (associada à imobilidade) é irredutível e acontece em flexão, adução e rotação externa:
a) Flexão: a dificuldade na flexão leva a que o indivíduo, muitas vezes, desenvolva patologias de coluna;
b) Adução: o individuo perda capacidade de abdução (movimento contrário ao movimento de adução), o que leva a que o membro sofra um encurtamento,
c) Rotação Externa: as duas alterações anteriores levam a que o indivíduo, no sentido de compensar essencialmente a dificuldade na abdução, caminhe mantendo o pé “virado para fora”.
3 – Marcha Claudicante
Vulgo “mancar” e advém da perda de mobilidade da anca, associada a uma posição anti-álgica, ou seja, que diminua a dor.
O diagnóstico faz-se através da associação entre o exame clínico e as imagens radiográficas.
O exame clínico debruça-se sobre a análise do historial do doente, colocação de questões a respeito da presença de sintomas e a execução de alguns movimentos específicos para determinar quais as suas reais limitações.
Radiologicamente, o médico vai procurar a presença de osteófitos, entre outras possíveis alterações articulares.
O tratamento pode ser de dois tipos: conservador ou cirúrgico.
1 – Tratamento Conservador.
Deve ser sempre equacionado, antes de se tomar a decisão de se avançar para uma cirurgia. Este consiste em:
a) esquema terapêutico com medicamentos anti-inflamatórios;
b) redução do peso (a obesidade não afecta a incidência, mas torna estes doentes mais sintomáticos pela carga que o peso exerce na articulação);
c) apoios de marcha (bengala ou 1 canadiana) no lado oposto;
d) elevação do sapato para compensar o encurtamento real e funcional do membro.
2 – Tratamento Cirúrgico
Actualmente, este tratamento passa pela substituição protésica total da anca, numa cirurgia que toma a designação de artroplastia total da anca. Com a cirurgia há uma melhoria sobretudo da dor e, em menor grau, na mobilidade.
Existem dois tipos de artroplastias de anca – Artroplastia Total e a Artroplastia Parcial.
1 – Prótese Parcial de Anca: substituição do colo e cabeça do fémur por uma prótese metálica. O acetábulo permanece intacto.
2 – Prótese Total de Anca: Substituição do colo e cabeça do fémur por um componente metálico e substituição do acetábulo por um componente acetabular:
- Cimentada: colocação de uma substância de fixação (“cimento”) – polimetilmetracrilato – no acetábulo e em torno da haste da componente metálica que atravessa o canal medular do fémur;
- Não Cimentada: a prótese é colocada sem recorrer ao auxílio do cimento;
- Híbrida: recorre-se a dois métodos de fixação diferentes. A parte femural é cimentada e a acetabular aparafusada ao osso.
Como resolução para a problemática da coxartrose, costuma ser elegida a Artroplastia Total e ser cimentada ou não depende da condição física do doente, do estado do osso e da própria decisão do ortopedista.
A primeira prótese criada com sucesso deve-se a John Charnley, nos finais dos anos 60.
A operação consiste na substituição de toda a articulação. A cabeça do fémur é retirada e substituída por uma metálica, sendo esta a parte superior de uma haste metálica que penetra no canal medular (interior) do fémur, a fim de fazer a fixação. O segundo componente é a cúpula artificial (acetábulo) colocada ao nível do osso da bacia. Desta forma, a articulação fica completa novamente.
Imagem radiológica de uma prótese total de anca
Trata-se de uma cirurgia de grande porte, onde a perda de sangue é considerável. Exige à equipa de saúde uma vigilância apertada do doente, mas também exige colaboração por parte do último para melhorar a sua recuperação. Assim no pós-operatório deve:
- permanecer no leito durante 48h;
- cumprir exercícios ensinados pela equipa de saúde;
- manter o decúbito dorsal (deitado de costas) com almofada entre os membros inferiores para promover o afastamento das pernas e assim evitar a luxação da prótese;
- manter penso limpo e seco;
- remover pontos ao 12º dia.
Embora a cirurgia tenha o intuito de melhorar a vida do doente, existem uma série de recomendações que têm de ser seguidas. Assim:
- dormir com uma almofada entre os membros inferiores, durante 1 mês, a fim de promover o afastamento (abdução);
- não se sentar em locais baixos (sofá, cama) durante 1 mês, devido ao risco de luxação da prótese;
- deambular com 1 par de canadianas durante 2 meses, depois passar para apenas uma canadiana durante 1 mês e só depois passar para uma bengala. Só após este treino pode passar a caminhar livremente;
- evitar carregar pesos excessivos;
- voltar a conduzir dois meses após a cirurgia;
- o retorno à vida sexual activa pode ser feito após 3 meses no caso das mulheres e 2 meses no caso do homem;
- praticar desporto 2 meses após a cirurgia, mas devem ser exercícios de baixo impacto articular e que não exijam movimentos bruscos dos membros inferiores – Ex. natação e hidroginástica.
Em todo o caso, estas indicações devem ser discutidas com o médico pois o tempo de durabilidade de algumas restrições podem ser diferentes, já que dependem da conduta médica usada.
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