Estou estudando para o TCC, e o meu tema é voltado para a questão da linguagem poética e o seu funcionamento.
Poeticidade está ligado a vários fatores: ritmo, sonoridade, figuras de linguagem, imagens sígnicas. Quando dizemos que um texto possui poeticidade é porque ele evoca uma série de imagens signicas próprias da linguagem poética. Imagens abstratas que evocam imagens concretas, relacionadas a subjetividade. A literariedade pode usar de elementos poéticos, no entanto sua linguagem é muito mais abrangente, engloba o denotativo e conotativo, o que é subjetivo com o objetivo.
Podemos distinguir poeticidade e literalidade focando primeiramente no segundo termo. Até meados do século XIX, pode se dizer que a literatura produzida na Europa era chamada de “escritos” ou mesmo “saber livresco”, ou seja, não havia ainda uma preocupação precisa voltada para a natureza dessas produções. Com a instituição da crítica literária e o estudo formal da literatura começou-se a indagar o que seria, precisamente, o objeto de tais estudos.
Nesse sentido, o movimento conhecido como “formalismo russo”, formado por jovens linguistas e poetas em Moscou e Leningrado no século XX procurou delimitar tal objeto. Um de seus representantes, Roman Jakobson, postulou que a literatura seria aquilo que transforma e intensifica a linguagem cotidiana e a ciência literária deveria voltar-se para o estudo “não da literatura, mas da ‘literariedade’ (literaturnost), ou seja, o que faz de uma dada obra uma obra literária”. A literariedade seria, portanto, nas palavras de José Luis Jobim, “aquela propriedade, caracteristicamente "universal" do literário, que se manifestaria no "particular", em cada obra literária.”.
Desde então discute-se quais aspectos caracterizariam a literariedade de uma obra. Uma vez que a linguagem é um dos aspectos mais complexos da vida humana e não-humana, pode-se imaginar a dificuldade em tal caracterização. Se focarmos nas proposições de Jakobson, de onde derivam desdobramentos fundamentais para a teoria literária até hoje, podemos apreender que a literariedade atrela-se antes ao emprego peculiar da linguagem, afastando-se de uma instrumentalidade, do que ao fato de ser ficcional ou imaginativa. É possível, assim, elencar algumas características que podem ser atribuídas a uma obra literária, tais como: complexidade (semântica e regras da gramática podem ser subvertidas), multissignificação ou ambiguidade (múltiplas interpretações possíveis a partir do repertório do leitor) e conotação (ideias e sentidos que extrapolam o sentido da palavra).
Uma das preocupações a que volta-se o formalismo russo é o processo linguístico e os fatores que o compõem e determinam as funções da linguagem. Partindo do modelo de Buhler, que postulava as funções da linguagem como a) referencial (centrada no emissor), b) emotiva ou expressiva (centrada no remetente) e c) conativa (orientação para o destinatário), Jakobson propõe mais três funções: poética (foco na mensagem), fática (foco no contato) e metalinguística (foco no código). A função poética da linguagem, segundo o autor, deveria ser investigada pela linguística em toda a sua amplitude, ou seja, aquilo que chama de arte verbal da “poeticidade” ((JAKOBSON, 1969, p. 161 apud MARIANI, 2015). A poeticidade é, então, tomada enquanto transformação que acontece por meio da palavra. É, assim, uma função da linguagem que não precisa estar restrita ao domínio da poesia. Poeticidade, nesse sentido, pode ser resumida enquanto “ palavra é experimentada como palavra e não como simples substituto do objeto nomeado, nem como explosão de emoção” (Ribeiro, 2006, p.50).
Portanto, vimos que tanto o conceito de literariedade quanto de poeticidade podem ser atrelados ao movimento formalista russo de meados do século XX, que passa a se preocupar com as estruturas e funções da obra literária, buscando tomá-la enquanto ciência. A literariedade é conceitualizada, assim, enquanto objeto dos estudos literários e a poeticidade uma das funções da linguagem, que extrapola o gênero da poesia e está ligada a transformação dos signos por meio da palavra.
Referências
FIORIN, J., Linguagem e interdisciplinaridade. In: Alea vol.10 no.1 Rio de Janeiro Jan./June 2008.
JOBIM, J., Literariedade. In: Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia.
MARIANI, B. Por que ler Roman Jakobson na atualidade. In: Polifonia, Cuiabá, MT, v. 22, n. 31, p. 407-430, janeiro-junho, 2015.
ROSA, R., A literariedade como objeto da Teoria Literaria. 2013. Disponível em https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4581486
Podemos distinguir poeticidade e literalidade focando primeiramente no segundo termo. Até meados do século XIX, pode se dizer que a literatura produzida na Europa era chamada de “escritos” ou mesmo “saber livresco”, ou seja, não havia ainda uma preocupação precisa voltada para a natureza dessas produções. Com a instituição da crítica literária e o estudo formal da literatura começou-se a indagar o que seria, precisamente, o objeto de tais estudos.
Nesse sentido, o movimento conhecido como “formalismo russo”, formado por jovens linguistas e poetas em Moscou e Leningrado no século XX procurou delimitar tal objeto. Um de seus representantes, Roman Jakobson, postulou que a literatura seria aquilo que transforma e intensifica a linguagem cotidiana e a ciência literária deveria voltar-se para o estudo “não da literatura, mas da ‘literariedade’ (literaturnost), ou seja, o que faz de uma dada obra uma obra literária”. A literariedade seria, portanto, nas palavras de José Luis Jobim, “aquela propriedade, caracteristicamente "universal" do literário, que se manifestaria no "particular", em cada obra literária.”.
Desde então discute-se quais aspectos caracterizariam a literariedade de uma obra. Uma vez que a linguagem é um dos aspectos mais complexos da vida humana e não-humana, pode-se imaginar a dificuldade em tal caracterização. Se focarmos nas proposições de Jakobson, de onde derivam desdobramentos fundamentais para a teoria literária até hoje, podemos apreender que a literariedade atrela-se antes ao emprego peculiar da linguagem, afastando-se de uma instrumentalidade, do que ao fato de ser ficcional ou imaginativa. É possível, assim, elencar algumas características que podem ser atribuídas a uma obra literária, tais como: complexidade (semântica e regras da gramática podem ser subvertidas), multissignificação ou ambiguidade (múltiplas interpretações possíveis a partir do repertório do leitor) e conotação (ideias e sentidos que extrapolam o sentido da palavra).
Uma das preocupações a que volta-se o formalismo russo é o processo linguístico e os fatores que o compõem e determinam as funções da linguagem. Partindo do modelo de Buhler, que postulava as funções da linguagem como a) referencial (centrada no emissor), b) emotiva ou expressiva (centrada no remetente) e c) conativa (orientação para o destinatário), Jakobson propõe mais três funções: poética (foco na mensagem), fática (foco no contato) e metalinguística (foco no código). A função poética da linguagem, segundo o autor, deveria ser investigada pela linguística em toda a sua amplitude, ou seja, aquilo que chama de arte verbal da “poeticidade” ((JAKOBSON, 1969, p. 161 apud MARIANI, 2015). A poeticidade é, então, tomada enquanto transformação que acontece por meio da palavra. É, assim, uma função da linguagem que não precisa estar restrita ao domínio da poesia. Poeticidade, nesse sentido, pode ser resumida enquanto “ palavra é experimentada como palavra e não como simples substituto do objeto nomeado, nem como explosão de emoção” (Ribeiro, 2006, p.50).
Portanto, vimos que tanto o conceito de literariedade quanto de poeticidade podem ser atrelados ao movimento formalista russo de meados do século XX, que passa a se preocupar com as estruturas e funções da obra literária, buscando tomá-la enquanto ciência. A literariedade é conceitualizada, assim, enquanto objeto dos estudos literários e a poeticidade uma das funções da linguagem, que extrapola o gênero da poesia e está ligada a transformação dos signos por meio da palavra.
Referências
FIORIN, J., Linguagem e interdisciplinaridade. In: Alea vol.10 no.1 Rio de Janeiro Jan./June 2008.
JOBIM, J., Literariedade. In: Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia.
MARIANI, B. Por que ler Roman Jakobson na atualidade. In: Polifonia, Cuiabá, MT, v. 22, n. 31, p. 407-430, janeiro-junho, 2015.
ROSA, R., A literariedade como objeto da Teoria Literaria. 2013. Disponível em https://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4581486
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