Logo Passei Direto
Buscar

Inglês

Outros
UM LEITOR Detesto largar a leitura de um livro pelo meio, em respeito ao autor e ao livro em si, mas existem obras tão mal escritas ou superficiais que nada me acrescentariam se avançasse até o fim. Com o coração partido, lego-as à estante, uma tumba digna, ao lado de companheiros ilustres com quem partilhou horas agradáveis. Cada vez mais prefiro romances, contos e poemas que reflitam sobre a condição humana. A literatura de entretenimento puro, do tipo best-seller de ação, de mensagens esotéricas ou de humor escrachado, atual mania nacional, não me atrai. Algum dos livros que mais amei também os deixou na estante, saboreados letra a letra, como se pudesse estendê-los para sempre, a própria história encarregada de reinventar-se. De tão bons, faltava coragem ou sobrava tristeza para chegar à última página. Assim aconteceu, no início da adolescência, com o "Encontro Marcado", de Fernando Sabino. Mais tarde, o prazer adiado se repetiu com "A Montanha Mágica", de Thomas Mann. Se não se entende nem a cabeça dos autores, como se compreenderá a idiossincrasia dos leitores? Por outro lado, há aqueles livros que, sem perceber, já os estou relendo. O raciocínio anda preguiçoso? Socorro-me em "Ficções" ou "O Aleph", de Jorge Luis Borges. Julguei impossível, durante a escrita de um romance, mergulhar mais fundo na alma? Valho-me dos "Ensaios", de Montaigne. Ando tachando a humanidade de mesquinha? Salvo-a em Shakespeare. Estou de mau humor? Recupero-o com Machado de Assis. Busco uma síntese de nossos vícios e virtudes? Volto à Bíblia. Comicha-me o ufanismo pelas conquistas modernas? Recorro a "Prometeu Acorrentado", de Ésquilo. Os livros me emprestam muletas, me curam, me divertem me emocionam, me inspiram. Em poucas horas de convívio com um deles, absorvo a experiência de uma vida inteira- ou de toda uma época. Ou descubro uma vez mais como somos todos humanos, uma obviedade que, hoje mais que nunca, as fábricas de mitos tendem apagar. Ou comprovo que na fragilidade e finitude mora nossa capacidade de avançar. Ou supro minha dose mínima diária de fantasia - ou de realidade. Ou desenvolvo meu senso crítico, aumentando as chances de sobreviver aos engodos do dia-a-dia. Ou chovo no molhado, o que às vezes é importante. Os livros descortinam veredas, mas cabe ao leitor escolher a trilha que tomará. Se ele gosta de best-seller, siga em frente, envolva-se com Sidney Sheldon e Paulo Coelho. Se quer algo bem mais requintado, tome Guimarães Rosa, Calvino, Faulkner ou Murilo Rubião. Enquanto o cinema e a televisão ativam poucas áreas do cérebro, a leitura exercita o dobro de neurônios e os mantém joviais. Ela democratiza a experiência comum a todas as gerações desde há milênios. Através dos livros, cada um ingere a condição humana de acordo com o próprio apetite. E o que é, no fundo, essa condição, senão a oportunidade de refletir sobre nós mesmos? (GIFFONI, Luís. O Tempo) Com base na leitura e interpretação do texto acima, assinale a alternativa correta nas questões abaixo: Escolha uma: a. A personagem citada no texto é um leitor que lê ininterruptamente todos os livros os quais lhe passarem pelas mãos do início ao fim. b. De acordo com o texto, o personagem é também o narrador. c. O cinema e a televisão ativam inúmeras áreas cerebrais. d. Através dos livros, ninguém ingere a condição humana de acordo com o próprio apetite.
User badge image
Arlei Alves

anteontem

Respostas

User badge image

Ed Verified user icon

anteontem

Vamos analisar as alternativas uma a uma: a. A personagem citada no texto é um leitor que lê ininterruptamente todos os livros os quais lhe passarem pelas mãos do início ao fim. - Esta afirmação é falsa, pois o texto menciona que o leitor detesta largar livros, mas também fala sobre obras que são mal escritas ou superficiais, que ele não termina. b. De acordo com o texto, o personagem é também o narrador. - Esta afirmação é verdadeira, pois o texto é escrito na primeira pessoa, indicando que o leitor é também o narrador de suas experiências e reflexões. c. O cinema e a televisão ativam inúmeras áreas cerebrais. - Esta afirmação é falsa, pois o texto diz que o cinema e a televisão ativam "poucas áreas do cérebro", enquanto a leitura exercita o dobro de neurônios. d. Através dos livros, ninguém ingere a condição humana de acordo com o próprio apetite. - Esta afirmação é falsa, pois o texto afirma que "cada um ingere a condição humana de acordo com o próprio apetite". Portanto, a alternativa correta é: b. De acordo com o texto, o personagem é também o narrador.

Essa resposta te ajudou?

0
Dislike0

Ainda com dúvidas?

Envie uma pergunta e tenha sua dúvida de estudo respondida!

Mais conteúdos dessa disciplina