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Questão 7: Leia a charge e a reportagem. Charge publicada na Folha de S. Paulo, 1º set. 2019. Jornada maior que 24 horas e um salário menor que o mínimo, a vida dos ciclistas de aplicativo em SP Estudo inédito traça o perfil dos entregadores e constata que a presença de menores de 18 anos é comum no ramo GIL ALESSI São Paulo - 07 AGO 2019 […] Trabalhar de segunda a domingo sem contrato, em jornadas que podem chegar a mais de 24 horas seguidas, se arriscando entre carros e ônibus, sem garantias ou proteções legais e muitas vezes por menos de um salário mínimo. E mais: em um emprego realizado até por menores de 18 anos. Este cenário - que deixaria de cabelo em pé qualquer fiscal do Trabalho - é o cotidiano de milhares de jovens que trabalham de bicicleta como entregadores de aplicativos. Com a mochila térmica nas costas, eles cruzam a cidade vindos, em sua maioria, das periferias da capital rumo aos principais centros comerciais da cidade. Uma pesquisa da Associação Aliança Bike, criada em 2003 com o objetivo de fortalecer a economia que gira em torno da bicicleta, traçou o perfil desses trabalhadores com base em centenas de entrevistas: 99% são do sexo masculino, 71% se declaram negros, mais de 50% têm entre 18 e 22 anos de idade, 57% trabalham todos os dias da semana, e 75% ficam conectados ao aplicativo por até 12 horas seguidas - sendo que 30% trabalham ainda mais tempo. Tudo isso por um ganho médio mensal de 992 reais (seis reais a menos do que o salário mínimo, fixado em 998 reais). O menor valor mensal recebido encontrado no levantamento foi 375 reais, para entregadores que trabalham três horas diárias, e o maior foi 1.460 reais, para 14 horas trabalhadas. Não existe um balanço preciso de quantos entregadores utilizam bicicletas em São Paulo - os aplicativos se negam a divulgar esses números porque afirmam que são estratégicos. Mas estima-se que a cifra chegue aos milhares. Em um cenário de recessão econômica e com os índices de desemprego atingindo quase 13 milhões de brasileiros, esse tipo de serviço altamente precarizado oferece flexibilidade de horários e uma fonte de renda para os jovens. Prova disso é a justificativa para entrar nesse ramo de trabalho: de acordo com a pesquisa, para 59% dos entrevistados a principal motivação para começar a fazer entregas por aplicativo foi o desemprego. O serviço de entrega com bicicleta é uma espécie de porta de entrada para o mundo do delivery. “Um motoca consegue tirar até 500 reais por dia em um final de semana”, conta Daniel Cesário de Moraes, 18 anos. Morador do Jardim Vaz de Lima, zona sul de São Paulo, ele pedala diariamente pela perigosa marginal do rio Pinheiros para chegar à zona oeste. Mas o boom dos aplicativos e a concorrência de outros ciclistas e motoqueiros já se fazem sentir no bolso. Moraes viu sua renda diária cair de 80 para 40 reais nos últimos meses. Se antes o frete mínimo pago por corrida, um valor que também flutua a cada entrega, era de 6,50 reais, hoje dificilmente se alcança este valor. Para driblar a crise, ele sonha em comprar uma moto para “progredir” no ramo de entregas. De qualquer forma, já conseguiu com o fruto de seu trabalho adquirir uma bike própria: “Custou 700 reais, parcelado em duas vezes”. Quem não tem bicicleta própria usa o sistema de aluguel. As empresas responsáveis pelos aplicativos afirmam que apenas fazem a “ponte” entre as partes, que trabalham de forma autônoma e com liberdade de acordo com sua disposição e necessidades - um argumento frequente em tempos de uberização do trabalho. Mas, para especialistas, não é bem assim. “Este modelo de trabalho se apoia no discurso do empreendedorismo, na ideia de você não ter patrão e poder fazer o seu próprio horário”, afirma Selma Venco socióloga do Trabalho e professora da Unicamp. Segundo ela, este “discurso neoliberal camufla a real situação, que é a de precarização não apenas nas relações de trabalho, mas também nas condições de vida”. Por trás dessa “máscara do empreendedorismo, existe uma situação análoga à escravidão”, diz Venco. “Há uma superexploração do trabalhador, pois ele sabe que terá que trabalhar uma jornada de 14 ou 15 horas para ter um ganho mínimo, irá além dos limites físicos para poder sobreviver. E sem nenhuma proteção, nenhum direito associado a isso.” Os resultados da pesquisa endossam a tese da socióloga com relação à precariedade do trabalho neste modelo de aplicativos. Quando indagados sobre o que faria a diferença em seu dia a dia, 35% dos entregadores citaram um “seguro de invalidez temporária”, para os casos em que o ciclista tenha que ficar parado por algum tempo em função de doença ou acidente. Trabalho de menores de idade sobre rodas Mas um dos problemas menos abordados dos serviços de entrega por aplicativo é a utilização de mão de obra de menores de 18 anos - constatada na pesquisa da Aliança Bike e confirmada pela reportagem. Os aplicativos exigem que os entregadores enviem fotos dos documentos ao realizar o cadastro, mas as fraudes são comuns, e a fiscalização deficiente. W. B., 18, começou a trabalhar com entregas com “16 ou 17 anos”. “Usei os documentos de um primo no cadastro porque sou agilizado, não posso ficar parado sem receber, entendeu?”, explica. A presença de menores de 18 anos atuando como entregadores contraria frontalmente o decreto federal 6.481, de 2008, que fala sobre a proibição do trabalho infantil, seguindo disposições da Organização Internacional do Trabalho. A legislação brasileira permite o trabalho de jovens entre 16 a 17 anos apenas em atividades que não sejam “insalubres ou perigosas” - classificadas como “Piores Formas de Trabalho Infantil” no decreto. Entre o que é vetado para essa faixa etária estão os “serviços externos, que impliquem manuseio e porte de valores que coloquem em risco a sua segurança (office boys, mensageiros, contínuos)”. Os riscos vão de “traumatismos; ferimentos; ansiedade e estresse” decorrentes de “acidentes de trânsito”. “Eu sei que, se acontecer alguma coisa, estou por minha conta”, diz W. B., saindo para mais uma entrega no horário do almoço no bairro de Pinheiros. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/06/politica/1565115205_330204.html? fbclid=IwAR0RymnJ8M5eSLnhAPvKav8QVF9J_s3j9tEw_DcZxfNMhJlBNv_Kzy-wC2U. Acesso em: 21 fev. 2020. Adaptado. I. A charge enaltece a possibilidade que o trabalho informal oferece às famílias na busca da subsistência, apesar dos baixos salários e da jornada longa de trabalho. II. O texto aponta a precarização do trabalho, disfarçada sob a máscara do empreendedorismo, mesma crítica que aparece na charge. III. O texto destaca a falta de direitos e garantias a que estão submetidos os entregadores de aplicativos e a superexploração do seu trabalho. IV. De acordo com o texto, 59% dos desempregados fazem entregas por aplicativos. É correto o que se afirma em: A) I, II, III e IV. B) II e III, apenas. C) I e III, apenas. D) I, II e IV, apenas. E) II, III e IV, apenas
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Diego Silva

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Vamos analisar cada uma das afirmações: I. A charge enaltece a possibilidade que o trabalho informal oferece às famílias na busca da subsistência, apesar dos baixos salários e da jornada longa de trabalho. Falso. A charge e o texto criticam a precariedade do trabalho, não enaltecem essa situação. II. O texto aponta a precarização do trabalho, disfarçada sob a máscara do empreendedorismo, mesma crítica que aparece na charge. Verdadeiro. O texto realmente critica a precarização do trabalho e menciona o discurso do empreendedorismo como uma forma de camuflar essa realidade. III. O texto destaca a falta de direitos e garantias a que estão submetidos os entregadores de aplicativos e a superexploração do seu trabalho. Verdadeiro. O texto menciona claramente a falta de direitos e a superexploração dos entregadores. IV. De acordo com o texto, 59% dos desempregados fazem entregas por aplicativos. Falso. O texto diz que 59% dos entregadores entrevistados afirmaram que a principal motivação para começar a trabalhar com entregas por aplicativo foi o desemprego, mas não afirma que 59% dos desempregados fazem entregas. Com base nessa análise, as afirmações verdadeiras são II e III. Portanto, a alternativa correta que contém todos os itens verdadeiros é: B) II e III, apenas.

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