Suponha que alguém, que está a dias de terminar o cumprimento de uma longa pena por homicídio, se insurja contra um programa jornalístico que pretende rememorar o crime cometido há 25 anos, anunciado para ser transmitido, no dia do término do cumprimento da pena, por uma estação de televisão que costuma ter alta audiência. Que argumentos, centrados na teoria dos direitos fundamentais, você poderia desenvolver em favor desse presidiário na sua pretensão de evitar que o programa venha ao ar?
O programa não poderá rememorar o crime, pois estará indo contra um direito fundamental que é a dignidade da pessoa humana.Dessa forma, também irá ferir os direitos da personalidade que nos diz que todo indivíduo tem direito de controlar o uso de seu corpo, nome, imagem, aparência ou quaisquer outros aspectos constitutivos de sua identidade. O cidadão cometeu o crime, mas já pagou pelo que cometeu, sendo assim não merece ser julgado outra vez pela sociedade, que ao relembrar o crime poderá ter um tipo de preconceito contra o mesmo, impedindo-o que tenha uma vida digna ao sair da cadeia. Sendo assim, para evitar danos à vida pessoal do presidiário o programa não deve ir ao ar, para assim não ferir os direitos fundamentais e da personalidade do presidiário que não deseja ter o crime rememorado em rede de alta audiência e até mesmo para evitar danos a emissora que terá que responder judicialmente por desrespeitar a um direito essencial para vida em sociedade de qualquer cidadão, que é a sua dignidade.
Trata-se de um polêmico conflito entre a liberdade de expressão e a proteção a intimidade, privacidade e honra da pessoa humana.
Nestes casos, pode ser alegado o chamado direito ao esquecimento.
Segundo Flávia Ortega, "o direito ao esquecimento é o direito que uma pessoa possui de não permitir que um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento ou transtornos."
"No Brasil, o direito ao esquecimento possui assento constitucional e legal, considerando que é uma consequência do direito à vida privada (privacidade), intimidade e honra, assegurados pela CF/88 (art. 5º, X) e pelo CC/02 (art. 21).
Alguns autores também afirmam que o direito ao esquecimento é uma decorrência da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CRFB)."
Em 2013, na VI Jornada de Direito Civil do CJF/STJ, foi aprovado enunciado defendendo a existência do direito ao esquecimento como uma expressão da dignidade da pessoa humana.
"Enunciado 531: A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade da informação inclui o direito ao esquecimento."
A 4ª Turma do STJ, em dois julgados recentes, afirmou que o sistema jurídico brasileiro protege o direito ao esquecimento (REsp 1.335.153-RJ e REsp 1.334.097-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgados em 28/5/2013).
Fonte:
https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/319988819/o-que-consiste-o-direito-ao-esquecimento
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