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jurisprudência do princípio da insignificância furto, dois votos completo. alguém pode ajudar?

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EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - FURTO - CONSIDERÁVEL VALOR DOS OBJETOS DO DELITO - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - INAPLICABILIDADE - ABSOLVIÇÃO - IMPOSSIBILIDADE. Não é aplicável o princípio da insignificância quando o valor dos objetos do crime ultrapassar dez por cento do salário mínimo vigente à época dos fatos. PENA-BASE - ANTECEDENTES CRIMINAIS - EXASPERAÇÃO DA REPRIMENDA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL - POSSIBILIDADE - FUNDAMENTAÇÃO EM DADOS CONCRETOS DO FEITO - AUMENTO EXACERBADO - REDUÇÃO PROPORCIONAL - NECESSIDADE. Uma vez estabelecido o aumento da pena-base de acordo com dados concretos do feito, no que tange à existência de antecedentes criminais, mostra-se correta a elevação da reprimenda por esse motivo, porém, deve ser corrigido o aumento exacerbado dessa exasperação na primeira etapa de aplicação da pena. CONDENAÇÃO - TEMPO DE PRISÃO CAUTELAR SUPERIOR À PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE APLICADA - EXTINÇÃO PELO CUMPRIMENTO - PENA PECUNIÁRIA REMANESCENTE. Quando o tempo de prisão provisória suportado pelo agente ultrapassa o período estabelecido na condenação, a pena privativa de liberdade deve ser extinta pelo seu integral cumprimento, remanescendo, entretanto, a pena pecuniária. 

APELAÇÃO CRIMINAL 1.0024.16.146469-8/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE: A. A. S. I. - APELADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS - VÍTIMA: S. E. 

A C Ó R D Ã O 

Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª CÂMARA CRIMINAL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO E DECLARAR EXTINTA A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE PELO INTEGRAL CUMPRIMENTO. 

DES. ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO 

RELATOR. 





DES. ALEXANDRE VICTOR DE CARVALHO (RELATOR) 



V O T O 

I - RELATÓRIO 



Por meio da denúncia, o Ministério Público narrou os fatos e imputou ao apelante a prática da conduta prevista no art. 155, caput, do Código Penal (f. 01D-01Dv). 

O pedido ministerial foi julgado procedente, com a condenação do apelante à pena privativa de liberdade de dois anos de reclusão, no regime inicialmente fechado, e ao pagamento de cento e vinte e seis dias-multa, na fração mínima legal (f. 125-127). 

A defesa interpôs este recurso, por meio do qual pleiteia a absolvição do apelante pela aplicação do princípio da insignificância ou a redução proporcional dos dias-multa fixados de acordo com a pena privativa de liberdade estabelecida (f. 155-159). 

Contrarrazões pelo conhecimento e não provimento da apelação (f. 161-164). 

Parecer da Procuradoria-Geral de Justiça para se conhecer do apelo e a este dar parcial provimento (f. 170-174/TJ). 

É o relatório. 



II - CONHECIMENTO 



Conheço do recurso, porque atendidos os pressupostos legais para isso. 



III - MÉRITO 



Sobre os fatos, foram assim narrados na denúncia (f. 01D-01Dv): 



O denunciado, no dia 17 de novembro de 2016, por volta das 11h, na Avenida Silviano Brandão, nº 1650, bairro Floresta, desta capital, subtraiu para si seis peças de picanha pertencentes ao Supermercado Epa. 

Na data, hora e local supracitados, o denunciado entrou no supermercado e colocou as peças subtraídas em um carrinho. Em sequência, ele teria se deslocado para um corredor do estabelecimento, transferido os produtos para sua mochila e saído do local sem realizar o devido pagamento. 

Instantes depois, já a bordo de um coletivo, o denunciado foi reconhecido pela testemunha *, fiscal de loja da Drogaria Pacheco estabelecida próximo ao local dos fatos, como responsável por outros furtos na região. Ao descerem do ônibus, a testemunha o abordou e acionou a Polícia Militar que, ao proceder com a abordagem, encontrou a res furtiva. 

Os policiais se dirigiram, então, juntamente com o denunciado, para o Supermercado EPA. Lá, pediram para ver as filmagens de segurança, em que foi possível a visualização de toda a ação delitiva do denunciado. 



Absolvição pela aplicação do princípio da insignificância 



A defesa pleiteia a absolvição do apelante, por meio do reconhecimento do princípio da insignificância, sob a alegação de que as peças de picanha subtraídas não foram avaliadas e por isso o valor delas deve ser considerado irrisório, além de haverem sido restituídas à vítima, que não sofreu qualquer prejuízo. 

Sem razão o argumento defensivo. 

Primeiramente, nesta oportunidade reafirmo meu entendimento de que o princípio da insignificância, como instrumento corretivo da larga abrangência formal dos tipos penais, é aplicável no ordenamento jurídico brasileiro, decorrendo a possibilidade de sua incidência do arcabouço constitucional, em especial da vertente político-criminal traçada na Constituição da República, acolhedora de um Direito Penal que intervenha na medida do necessário e que maximize as garantias, com efetivação dos princípios constantes do art. 5.º, da Constituição da República. 

Assim, perfeitamente possível o emprego da insignificância, que decorre, inclusive, do princípio da lesividade ou da ofensividade, contido implicitamente no art. 5.º, XXXIX, da Lei Suprema, e no art. 13, do Código Penal

O princípio da insignificância é aquele aplicável aos chamados crimes de bagatela e, na estrutura do conceito analítico de crime, afeta a tipicidade, afastando-a, em razão da ausência de lesividade ao bem jurídico penalmente tutelado. 

Portanto, inexistente o conteúdo material revelador da tipicidade penal, o fato será atípico, e não haverá hipótese de análise dos demais requisitos do delito, quais sejam: a antijuridicidade e a culpabilidade. 

O exame da danosidade gerada pela conduta formal descrita no tipo ao bem jurídico protegido prescinde, como bem decidiu o Supremo Tribunal Federal, da análise de eventual reincidência ou maus antecedentes do autor do fato, porquanto o passado judicial não é circunstância a ser objeto de apreciação para a configuração ou não da tipicidade penal. 

Então, independentemente de o agente possuir ou não antecedentes judiciais, caso inexista a ofensividade ao interesse jurídico-penalmente tutelado, inexistirá tipicidade penal. 

Ora, entende-se por fato criminoso aquele que, ao menos indiciariamente, seja típico, antijurídico e culpável, acolhendo-se a posição tripartite majoritária na doutrina pátria e alienígena sobre o conceito dogmático de crime. 

Ao meu entender, a insignificância se configura quando o valor da res furtiva for inferior a dez por cento do salário mínimo vigente à época do fato. Somente diante de tal circunstância, é que se poderá denominar um delito de crime bagatelar. 

Entretanto, no presente caso, ainda que ausente o laudo de avaliação, é do conhecimento comum de todos que os bens subtraídos, seis peças de picanha, possuem valor que ultrapassa dez por cento do salário-mínimo vigente à época dos fatos (17/11/2016), o que exclui a hipótese de crime bagatelar, independentemente de haver restituição à vítima. 

Dessa forma, a materialidade do crime foi comprovada pela lavratura do Auto de Prisão em Flagrante Delito (f. 02-05), pelo Auto de Apreensão (f. 13), pelo Termo de Restituição (f. 14), e pelo Boletim de Ocorrência (f. 17-18v). 

A prova da autoria, por sua vez, consistiu no depoimento judicial de duas testemunhas e na confissão do apelante (mídia - f. 112). 

Logo, a certeza necessária à condenação do recorrente foi alcançada, motivo pelo qual não há falar em absolvição com base no princípio da insignificância. 



Redução da pena-base aplicada 



Embora a defesa busque apenas a redução da pena de multa, a ampla devolutividade do recurso de apelação permite ao julgador a análise completa da matéria de fato e de direito envolvida no caso, motivo pelo qual passo a examinar a possibilidade de reduzir toda a pena-base aplicada, por haver sido estabelecida em patamar exacerbado para o caso concreto. 

Para tanto, conquanto não haja sido empregada a melhor técnica redacional, verifico que a única circunstância judicial desfavorável reconhecida na sentença foi aquela relativa aos antecedentes criminais e por isso a reprimenda não poderia ter sido estabelecida em dois anos, valor que representa o dobro do patamar mínimo previsto para o tipo penal, que é de um ano. 

Dessa forma, o aumento foi demasiadamente exacerbado em razão de apenas existir uma circunstância judicial negativa, o que implica a necessidade de se reduzir a pena-base a uma quantidade proporcional, que não se afaste tanto assim do valor mínimo, o que farei em seguida. 



Reestruturação das penas impostas 



Examinados todos os pedidos formulados pela defesa, passo a reaplicar as penas do apelante pelo crime previsto no art. 155, caput, do Código Penal

Na primeira fase, pelos motivos já expostos, considero como negativa apenas a circunstância judicial referente aos antecedentes criminais do apelante, motivo pelo qual aumento em um oitavo as penas mínimas cominadas ao delito, o que resulta em um ano, um mês e quinze dias de reclusão e onze dias-multa. 

Na segunda fase, embora a magistrada a quo tenha discorrido sobre a impossibilidade de compensar a atenuante da confissão com a agravante da reincidência, assim não procedeu, pois, manteve a pena concretizada no valor estabelecido para a pena-base, razão pela qual a pena na etapa intermediária permanecerá no patamar de um ano, um mês e quinze dias de reclusão e onze dias-multa. 

Na terceira fase, ausentes causas gerais e/ou especiais de diminuição e/ou de aumento, a pena definitiva fica estabelecida em um ano, um mês e quinze dias de reclusão e onze dias-multa. 

Confirmo o valor do dia-multa estabelecido na sentença. 

Com base no art. 33§ 2.º, b, e § 3.º, do Código Penal, a quantidade de pena aplicada e a condição de reincidente do apelante, permitem a fixação do regime inicialmente semiaberto. 

Não preenchidos os requisitos legais do art. 44 e do art. 77, ambos do Código Penal, também incabível a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos ou a concessão de sursis. 

Constato que com a redefinição da reprimenda para um ano, um mês e quinze dias de reclusão, ocorreu o seu cumprimento integral pelo recorrente motivo pelo qual deve ser extinta. 

Isso porque, o apelante se encontra preso cautelarmente por este processo desde 17/11/2016, conforme registra o Auto de Prisão em Flagrante Delito (f. 02-05), o despacho ratificador (f. 06-06v) e a decisão judicial de conversão da prisão em preventiva (apenso 01 - f. 40-40v). 

Não houve qualquer ordem de soltura no decorrer do feito, o que pode ser comprovado pelo conteúdo da própria sentença, quando a MMª. Juíza de Direito decidiu que o apelante não poderia recorrer em liberdade (f. 127). 

Destarte, o recorrente já permaneceu segregado por tempo superior ao da condenação, motivo pelo qual a pena privativa de liberdade deve ser extinta pelo seu cumprimento integral. 

No mais, esclareço que remanesce a pena pecuniária de onze dias-multa. 



IV - CONCLUSÃO 



Portanto, não há falar em absolvição pelo princípio da insignificância, porquanto é do conhecimento geral que os objetos do furto ultrapassaram dez por cento do salário mínimo vigente à época dos fatos, o que exclui a hipótese de crime bagatelar, ainda que a restituição à vítima tenha ocorrido. 

Observada a ampla devolutividade do recurso de apelação toda a pena-base foi reduzida, pois a exasperação em decorrência da negativação apenas dos antecedentes criminais foi exacerbada. 

Consequentemente, foi reestruturada a pena imposta ao apelante, agora condenado a um ano, um mês e quinze dias de reclusão, no regime inicialmente semiaberto, e ao pagamento de onze dias-multa, nos termos deste voto. 

Constatado o cumprimento integral, a pena privativa de liberdade foi extinta, remanescendo, porém, a pena pecuniária de onze dias-multa. 



V - DISPOSITIVO 



Com essas considerações, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, para reduzir a pena imposta ao recorrente para um ano, um mês e quinze dias de reclusão, no regime inicialmente semiaberto, e ao pagamento de onze dias-multa, nos termos deste voto. 

DECLARO EXTINTA A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE IMPOSTA AO APELANTE, EM RAZÃO DO SEU CUMPRIMENTO INTEGRAL, REMANESCENDO A PENA PECUNIÁRIA DE ONZE DIAS-MULTA. 

Isenção de custas concedida na primeira instância (f. 127). 





EXPEÇA-SE, IMEDIATAMENTE, ALVARÁ DE SOLTURA EM FAVOR DO APELANTE, SE POR OUTRO MOTIVO NÃO ESTIVER PRESO. 





DES. PEDRO COELHO VERGARA (REVISOR) - De acordo com o Relator. 





DES. EDUARDO MACHADO 





Coloco-me de acordo com o voto proferido pelo e. Desembargador Relator, em todos os seus termos, pedindo-lhe vênia, no entanto, para ressaltar meu posicionamento acerca do Princípio da Insignificância. 

A meu ver, o famigerado "Princípio da Insignificância" não encontra assento no Direito Penal Brasileiro, tratando-se de recurso interpretativo à margem da lei, que se confronta com o próprio tipo penal do art. 155 do Código Penal, que, para as situações de ofensa mínima, prevê a figura do privilégio. 

Dessa forma, forçoso convir que a aplicação desse princípio por parte do Poder Judiciário, para fins de afastamento da tipicidade material, implica em ofensa aos princípios constitucionais da reserva legal e da independência dos poderes. 

Sobre o tema, leciona o festejado Bitencourt: 



[...] a seleção dos bens jurídicos tuteláveis pelo Direito Penal e os critérios a serem utilizados nessa seleção constituem função do Poder Legislativo, sendo vedada aos intérpretes e aplicadores do direito essa função, privativa daquele Poder Institucional. Agir diferentemente constituirá violação dos sagrados princípios constitucionais da reserva legal e da independência dos Poderes. O fato de determinada conduta tipificar uma infração penal de menor potencial ofensivo não quer dizer que tal conduta configure, por si só, o Princípio da Insignificância. (...) Os limites do desvalor da ação, do desvalor do resultado e as sanções correspondentes já foram valoradas pelo legislador. As ações que lesarem tais bens, embora menos importantes se comparados a outros bens como a vida e a liberdade sexual, são social e penalmente relevantes. (Bitencourt, César Roberto. Manual de Direito Penal, parte geral, volume 1, p. 19 Editora Saraiva) 



Nesse mesmo sentido, eis a jurisprudência: 



O fato de as coisas furtadas terem valor irrisório não significa que o fato seja tão insignificante para permanecer no limbo da criminalidade, visto que no direito brasileiro o Princípio da Insignificância ainda não adquiriu foros de cidadania, de molde a excluir tal evento de moldura da tipicidade penal (TACRIM - SP - AC Rel. Juiz Emeric Levai - BMJ 84/6). 

O nosso ordenamento jurídico ainda não acatou a teoria da bagatela ou da insignificância, não tendo, por isso, o ínfimo valor do bem ou do prejuízo qualquer influência na configuração do crime (TACRIM - SP. RJDTACRIM 27/66). 



Além do mais, não se pode perder de vista que o crime deve ser apreciado em sua inteireza, não devendo a condenação nortear-se pelo valor do bem jurídico afetado, mas sim, pelo comportamento do agente em desconformidade com a lei. Insignificância, não deve ser confundida com impunidade. 





SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO E DECLARARAM EXTINTA A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE PELO INTEGRAL CUMPRIMENTO."

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Edson Souza dos Santos

Questão 09 Sobre o tema, de acordo com a jurisprudência majoritária e atual dos Tribunais Superiores, é correto afirmar que:

Escolha uma opção:

 a.

No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu;

 b.

O princípio da motivação das decisões traz como consequência a nulidade da decisão fundamentada de maneira sucinta e daquelas que se utilizem, ainda que em parte, da motivação per relationem;

 c.

O Código de Processo Penal prevê o princípio da identidade física do juiz, estabelecendo que o juiz responsável pelo recebimento da denúncia deverá proferir sentença, ainda que outro seja o que presida a instrução;

 d.

O princípio da inexigibilidade de autoincriminação permite que o acusado apresente, em sede policial ou em juízo, nome e dados qualificativos falsos sem que isso constitua crime;

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