O art. 330 do CC trabalha com a regra "surrectio e supressio". A doutrina diz que supressio e a surrectio são verso e reverso da mesma moeda??

“Surrectio/supressio são verso e reverso da mesma moeda”.

Supressio – é a supressão que ocorre em razão da inércia prolongada da parte. Há uma redução do conteúdo obrigatório das partes.

Surrectio – é a ampliação do conteúdo obrigacional da outra parte.

Ex.: Imagine uma situação locatícia, movida pela lei 8245, lei de locação. De um lado tenho o LOCADOR e de outro lado tenho o LOCATÁRIO.

Pelo contrato de locação foi ajustado que o locador deverá receber o aluguel na sua residência, mas todo o mês, sai o locador e se dirige a casa do locatário para lhe receber o aluguel. Todo mês contraria aquilo que foi acordado no contrato.

A regra 330 é claro – o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato.

O que acontece?

Supressio para locador e surrectio para locatário.

Supressio para o locador porque em razão da inércia prolongada dele, há uma redução do conteúdo obrigacional.

Surrectio para o locatário, que em razão da inércia prolongada para executar aquilo que está previsto no contrato, há uma ampliação do objeto contratual para a figura do locatário. Ele passará a ter direito de pagar onde ele está residindo, mesmo que o contrato diga que o locatário deveria ir à casa do locador para pagar aluguel. Está configurado na boa fé objetiva, está configurado na ideia de lealdade.

Supressio: É quando uma possibilidade jurídica deixou de ser exercida durante um certo tempo, ( inércia) agora não podendo mais sê-lo .

Surrectio: É o surgimento de uma possibilidade jurídica em razão da boa fé, que de outra forma não lhe assistiria.

Ex.: O Contador reajusta sempre em janeiro do ano seguinte o valor em salário mínimo dos honorários pela prestação de serviço ao cliente. Porém durante um bom tempo ele ficou enviando o boleto com o valor dos honorários com o valor antigo. Agora para corrigir somente quando ocorrer nova data de renovação, pois durante a vigência daquele ano que ele percebeu o erro, já não mais poderá corrigir. Para o Contador ocorreu a Supressio e para o cliente nasceu a Surrectio.

Na supressio, há uma omissão da parte, que deixa de exercer um direito/obrigação que, sendo exercido depois, repercutirá de forma negativa com as legítimas expectativas até então geradas. Ou seja, com base no princípio da boa-fé objetiva, um direito não realizado durante determinado período, por conta desta omissão, perderia sua eficácia, não podendo mais ser exercido.

Um exemplo citado por doutrinadores é o art. 330 do Código Civil, que diz: “O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato”. Nesse sentido, a omissão do credor, por não constituir em mora o devedor (art. 394 do CC), gera a expectativa neste de que pode proceder aos pagamentos continuamente no lugar em que vem fazendo, perdendo o credor o direito de exigir o pagamento no local pactuado. Extingue-se, desta forma, a cláusula contratual que estabelecera o local de pagamento anterior.

Surrectio é o contrário de supressio, pois define o nascimento de um direito/obrigação a ser exigido através da continuada e sucessiva prática de alguns atos. Como no caso acima, supondo que o credor, aceitando o pagamento do contrato em lugar ou tempo diverso do convencionado, por conta da incidência do instituto da surrectio, poderá o devedor estabelecer que o contrato seja, agora, adimplido no novo lugar ou tempo permitido.