1. TTeeoorriiaa sseemmiióóttiiccaa ddoo tteexxttoo –– ppaarrttee 11 Teorias linguísticas do texto e teoria semiótica
2. • Obra apresenta a teoria semiótica de linha greimasiana, reconhecendo as outras linhas teóricas. • Teoria semiótica greimasiana é essencialmente uma teoria do texto. • Estudos linguísticos estiveram por muito tempo circunscritos a questões do âmbito da língua e da dimensão da frase.
3. • Preocupações com a semântica, na década de 1960, tornaram as limitações da Linguística insustentáveis. • Semântica estrutural desenvolveu princípios e métodos para estudar o plano do conteúdo, delimitado por Hjelmslev. • Contribuições da semântica estrutural foram pequenas, mas serviram para indicar a necessidade de romper as barreiras entre a frase e o texto e o enunciado e a enunciação.
4. • Novas concepções estabeleceram o texto como unidade de sentido, e a frase como uma de suas partes. Assim, o sentido da frase depende do sentido do texto como um todo. • Paralelamente, surgiram teorias pragmáticas que estudavam relações entre a enunciação e o texto enunciado, e entre o enunciador e o enunciatário. • Ambas as vertentes contribuíram para o surgimento de uma teoria do texto, na qual estão unificadas.
5. AA nnooççããoo ddee tteexxttoo • Se a Semiótica tem por objeto o texto, dentro do âmbito da comunicação, faz-se necessário definir o que é texto. • Primeira definição de texto: um todo de sentido, objeto da comunicação estabelecida entre um destinador e um destinatário. • Primeira definição coloca o texto como objeto de significação. Para desvendar essa significação, é preciso realizar uma análise interna e estrutural do texto.
6. • Segunda definição: texto é um objeto de comunicação, cultural, inserido numa sociedade e determinado por formações ideológicas. • Segunda definição implica exame das condições sócio-históricas de produção e recepção dos textos, remetendo a uma análise externa de seu conteúdo. • Métodos de análise interno e externo são muitas vezes vistos como limitados, redutores ou corruptores dos textos.
7. • Semiótica tem se esforçado para realizar a análise tanto da organização interna do texto quanto dos mecanismos relacionados a sua enunciação. • Texto estudado pela semiótica pode ser verbal, não verbal ou sincrético. Diferentes possibilidades da manifestação textual tendem a convocar análises especializadas em linguagens específicas, o que faz com que se perca a possibilidade de comparação entre expressões distintas.
8. • Como primeiro passo da análise, semiótica propõe abstração das diferentes manifestações para centrar foco no plano do conteúdo. • Assim, a semiótica é a ciência que procura explicar o sentido dos textos analisando o plano de seu conteúdo.
9. PPeerrccuurrssoo ggeerraattiivvoo ddoo sseennttiiddoo • Semiótica concebe plano do conteúdo como percurso gerativo do sentido. • O percurso gerativo do sentido pode ser resumido em cinco apontamentos: • 1) sua direção é sempre do mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto; • 2) é dividido em três níveis, cada qual com sua própria gramática, mas dependente dos demais;
10. • 3) o nível fundamental ou estrutura fundamental consiste no estabelecimento de uma oposição semântica mínima; • 4) o nível narrativo ou das estruturas narrativas é constituído a partir de um sujeito, e estabelece os actantes narrativos e o desenvolvimento da narrativa; • 5) o nível do discurso é aquele em que a estrutura narrativa é assumida pelo sujeito da enunciação.
11. HHiissttóórriiaa ddee uummaa ggaattaa • Nível fundamental: oposição básica. • Liberdade X dominação. • Às categorias estabelecidas é aplicada a divisão da categoria das forias, ou seja, quais categorias são valorizadas positivamente e quais categorias são valorizadas negativamente. • No caso, a liberdade é um valor eufórico e a dominação é um valor disfórico. • Desenha-se, a partir disso, um percurso, que vai da dominação disfórica à liberdade eufórica. Considera-se a relação dos termos em um quadrado semiótico, em que as oposições recebem termos complementares.
12. • Nível narrativo. • Elementos da oposição fundamental são assumidos por um sujeito de ação. Ele realiza o percurso narrativo: de um estado de dominação para um estado de liberdade. • Dois destinadores influenciam os valores do sujeito: o dono, que quer um contrato de obediência em troca dos bons tratos, e os gatos da rua, que valorizam e cantam a liberdade.
13. • Elementos: • Sujeito da ação: a gata. • Objeto-valor: liberdade. (eufórico) • Antiobjeto-valor: comodidade. (disfórico) • Antidestinador (sujeito da manipulação com valores disfóricos): o dono da gata. • Destinador-manipulador (sujeito da manipulação com valores eufóricos): os outros gatos. • Performance: gata vai cantar com os outros gatos e volta de manhã. Configuração do segredo. Sujeito da ação é o sujeito do retorno. Ainda não houve escolha do objeto-valor. • Antissujeito: quem barra a gata na portaria.
14. • Nível discursivo: • Actantes recebem revestimento figurativo. • Enunciados narrativos são apresentados por instâncias de enunciação: personagens, narradores, pontos de vista. • Narrador é projetado no “eu”: efeito de subjetividade. Indeterminação do sujeito no início. Investimento figurativo de dono de animal doméstico e de gatos de rua.
15. • Oposição fundamental, assumida como valores narrativos, é recoberta figurativamente por temas e figuras. • Domesticidade (liberdade selvagem – conforto pela dominação); • Mulher-objeto (mulher livre para se satisfazer – mulher comprada); • Adolescência (submissão – não submissão aos pais); • Marginalização (liberdade da boemia – desvalorização da boemia).
17. PPssiiccaannáálliissee ddoo aaççúúccaarr • Nível fundamental: oposição básica. • Pureza X sujeira. • A oposição é projetada no quadrado semiótico, gerando dois percursos possíveis: • Pureza – não pureza – sujeira • Sujeira – não sujeira – pureza
18. • Nível narrativo: • Sujeito: açúcar. • Destinador: usina (purifica o açúcar). • Antidestinador: tempo (mela o açúcar). • Destinador: banguê (prepara o açúcar, pela mistura com barro, para a depuração).
19. • Nível discursivo: • Discurso é construído em terceira pessoa, gerando o efeito de objetividade (verdade impessoal). • Há citação de autoridade (as pessoas do Recife que conhecem o processo de depuração do açúcar).
20. • Valores de pureza e sujeira assumem revestimentos figurativos. Temas são construídos a partir desses valores e da narratividade do percurso: • Purificação do açúcar; • Censura X educação; • Racismo (brancura, mestiçagem); • Mecanização da agricultura (valorização do banguê); • Política (ordem x rebelião).
21. SSiinnttaaxxee nnaarrrraattiivvaa • Simula o fazer do homem que transforma o mundo. • Semiótica pensa duas possibilidades da narrativa: como mudança de estados e como sucessão de estabelecimentos e rupturas de contratos entre destinadores e destinatários. • Dois actantes do enunciado elementar: sujeito e objeto, em relação transitiva. • Enunciados de estado: sujeito está em junção (conjunção ou disjunção) com o objeto. • Enunciados de fazer: transformação do estado do sujeito em relação ao objeto por meio de alguma ação.
22. • Enunciados de fazer fazem operam a passagem de um estado para outro. Objeto da transformação é sempre um enunciado de estado. • Programa narrativo é a combinação hierárquica de enunciados de estado e enunciados de fazer. • Programas narrativos são marcados por sucessões de conjunções e disjunções. • Estrutura do programa narrativo: • F [ S1 -> (S2 ∩ OV)]
23. • Elementos da estrutura: • F = função (coloca-se o verbo nocional de designa a ação entre parênteses). • S1 = sujeito do fazer. • S2 = sujeito do estado. • -> = transformação • ∩ = conjunção • Ov = objeto-valor
24. • História de uma gata: • PN1 – F (acariciar, alimentar) [ S1 (dono) -> S2 (gata) ∩ Ov (comida, carinho)] • PN2 – F (barrar na portaria) [S1 (dono) -> S2 (gata) ∩ Ov (comida, carinho)] • PN3 – F (sair de casa) [S1 (gata) -> S2 (gata) ∩ Ov (liberdade, identidade)] • PN4 – F (ficar em casa) [S1 (gata) -> S2 (gata) ∩ Ov (liberdade, identidade)]
25. • Psicanálise do açúcar • PN1 – F (purificar) [S1 (usina) -> S2 (açúcar) ∩ Ov (brancura, pureza)] • PN2 – F (melar) [S1 (tempo) -> S2 (açúcar) ∩ Ov (brancura, pureza)] • PN3 – F (purificar) [S1 (banguê) – S2 (açúcar) ∩ Ov (brancura, escuro)]
26. TTiippooss ddee ppoorrggrraammaass nnaarrrraattiivvooss • Resultado da transformação é um estado de conjunção: programa de aquisição. • Resultado da transformação é um estado de disjunção: programa de privação. • Programa narrativo é ação principal: programa de base. • Programa narrativo auxilia a ação principal: programa de uso.
27. • Programas narrativos que atuam sobre objetos-valor representados por categorias da competência do sujeito (querer, dever, saber, poder) são modais. • Programas narrativos que atuam sobre objetos-valor representados por valores materiais ou imateriais são descritivos. • Programas que têm atores diferentes para enunciados de fazer e de estado são transitivos. • Programas que têm o mesmo ator para enunciados de fazer e de estado são reflexivos.
28. • Programas aquisitivos transitivos são programas de doação. • Programas aquisitivos reflexivos são programas de apropriação. • Programas privativos transitivos são programas de espoliação. • Programas privativos reflexivos são programas de renúncia. • Cada programa narrativo pressupõe um outro. A doação de alguns pode ser espoliação de outros.
29. • Se dois sujeitos atuam em relação a um mesmo objeto-valor, e a apropriação de um corresponde à espoliação do outro, e vice-versa, teremos uma relação sujeito – antissujeito. • Essa relação é muito comum nos contos populares e nas histórias de heróis.
30. • Dois tipos fundamentais de programas: competência e performance. • Competência é um programa de uso de aquisição de valores modais. Programa de doação. • Performance é um programa de base de aquisição de valores descritivos. Programa de apropriação.
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