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Os argumentos ADI união homoafetiva, configura mutação constitucional?

Os argumentos ADI união homoafetiva, configura mutação constitucional?

💡 2 Respostas

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Cibele Bumbel Baginski

Dá pra se dizer que sim, ou que não.

Nesse caso polêmico em especial, vi bons professores e doutrinadores dizendo de tudo um pouco.

Eu creio ser correta a corrente que entende que não é mutação constitucional, porque em nenhum lugar na CF está dito que o casamento se dá somente entre homem e mulher (como existe na CF de Cuba e outros países da américa latina), mas a CF reconhece os vários tipos de família (mono ou biparental, etc etc) e entende que a união estável pode ser convertida em casamento. Até aí, com a CF, sem problema nenhum.

A questão só é de fato uma torção da legislação infraconstitucional, porque o CCB/2002 prevê que o casamento se dá com pessoas de sexo oposto, então a via de controle de constitucionalidade de certa forma afasta a aplicação do CCB para isso (e caso haja, não lembro, alguma coisa da Lei de Registros Públicos) a fim de garantir preceito constitucional.

Opinião pessoal quanto a esse afastamento da aplicação do CCB é que se tivessem dado ouvidos ao falecido Dep. Clodovil, que tinha um excelente projeto de lei que apenas iria alterar o CCB permitindo a união civil (ou casamento, como queira chamar) ao tornar o CCB neutro em relação a gênero, simplesmente não teríamos sofrido um baque social de ver o Judiciário interferindo direta e ferinamente na vida social das pessoas, coisa a que não estamos acostumados (pessoas leigas acham que só o legislativo legisla).

Espero ter ajudado. Abraço

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Especialistas PD

Sim, inclusive o julgamento da ADPF nº 132 (união homoafetiva) é um dos exemplos de mutação constitucional mais citados na doutrina.

Nesse sentido, Luana Paixão, Rafael Siqueira e Ciro Antônio desenvolveram um artigo sobre o assunto, chamado “Julgamento da ADPF nº 132: análise à luz da hermenêutica fenomenológica e do ativismo judicial”, em que afirmam:

“No discurso decisório da ADPF nº  132 (BRASIL, 2011), houve ativismo judicial na mutação constitucional operada no artigo 226, § 3o – “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar” (BRASIL, 1988) –, para que, por força dos também princípios constitucionais da dignidade e da busca por uma vida plena, entre outros, se reconhecesse a união estável entre casais homoafetivos.”

Na mesma linha, Carolina Bulhões Percegoni:

“Por todo o exposto, conclui-se que o fenômeno da mutação constitucional foi diretamente responsável pela ocorrência da mudança do tradicional conceito de “família”, posto que, por intermédio da mudança de interpretação de regra constitucional, pelo Supremo Tribunal Federal, qualquer casal, seja ele hetero ou homoafetivo, que se unir para compartilhar uma vida a dois e mantiver uma relação sólida, pública e duradoura, será considerado uma entidade familiar.” (Mutação Constitucional e Relações homoafetivas: análise crítica da interpretação evolutiva do conceito de família. pg. 24)

Claudia Telles de Paula segue a mesma orientação:

“O presente artigo pretende abordar um breve estudo sobre mutação constitucional e interpretação conforme, trazendo como base a decisão do Supremo Tribunal Federal que conferiu uma interpretação conforme a constituição ao artigo 226, parágrafo 3º, da CF/88. O notório fenômeno da mutação constitucional permitiu que a norma oriunda da interpretação do enunciado normativo fosse modificada ao longo dos tempos sem que houvesse alteração do texto. Muito embora, no julgamento da ADPF nº 132 e da ADIN nº 4277 não tenham os ministros mencionado o termo mutação constitucional, fundamentando seus votos apenas na interpretação conforme a Constituição; não podemos deixar de mencionar o fenômeno da mutação, que veio como consequência de um comportamento social antes alvo de discriminação agora fazendo valer os direitos fundamentais.” (Mutação Constitucional: Interpretação Constitucional como técnica no processo de mutação constitucional no reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar)

 

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