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Para Claparède, os conceitos de necessidade e de interesse aparecem relacionados no contexto da prática pedagógica. Defi na

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Edouard Claparède (1873 – 1940) foi um estudioso do campo da psicologia e da pedagogia, mais especificamente preocupado com o estudo da psicologia infantil. Foi um dos fundadores do instituto Jean-Jarcques Rousseau, que tinha como missão “formar educadores, realizar pesquisas nas áreas de Psicologia e Pedagogia e incentivar as reformas educativas baseadas no movimento da Escola Nova (Éducation Nouvelle)” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 92).

Entre a compreensão que o indivíduo faz do que lhe é externo e a própria externalidade, o próprio mundo real, concreto, há mecanismos funcionais que tornam a vida possível, Claparède defende que a psicologia humana deve ser verificada enquanto adaptação funcional da realidade. “O mundo exterior não se reflete em nosso espírito como um espelho. Absolutamente! As nossas próprias percepções são modificadas por nossos interesses e paixões.” (CLAPARÈDE, 1940: 311), o que significa dizer que não simplesmente somos mediados pelas “impressões sensoriais” do externo, mas em realidade pela nossas necessidades de adaptação ao externo, “É que não são as impressões sensoriais, e sim antes nossas necessidades, nossos interesses, nossos sentimentos, que recortam no mundo exterior as peças com que serão construídos nossos universos.” (CLAPARÈDE, 1940: p. 311).

I) A necessidade segundo Claparède:

Toda ação humana deve ser lida na chave da necessidade, o que significa que toda ação tem um motivo como plano de fundo. Havendo a necessidade, o motivo, haverá um forma tal que a satisfará, e essa forma tal pode ser tanto movimento, quanto pensamento ou sentimento. A necessidade perturba um equilíbrio e por isso deve ser sanada. Fisiologicamente devemos respirar, respondemos automaticamente a esta necessidade inspirando e expirando, nos mediados pelo instinto ou pelo hábito sanamos automaticamente as demandas e assim conseguimos nos manter adaptados ao ambiente. Mas as necessidades psicológicas não respondem ao hábito ou ao instinto, e sim ao exercício mental, ao exercício intelectual, “a inteligência é um instrumento de adaptação, que entra em jogo quando falham os outros instrumentos de adaptação, que são o instinto e o hábito” (CLAPARÈDE, 1940: 137). Outro aspecto da necessidade é a de que ela não necessariamente busca um fim em si, na medida em que por vezes só é possível sanar uma necessidade substituindo-a por outra, tornando a necessidade, mais do que um objetivo, algo que nos conduz.

Claparède propõe 10 leis de Conduta, entre elas 6 relacionam-se com o conceito de necessidade: 1) Lei da necessidade –  “ ‘toda necessidade tende a provocar as reações próprias a satisfazê-la’” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 94); 2) Lei da extensão da vida mental – “ ‘o desenvolvimento da vida mental é proporcional à diferença existente entre as necessidades e os meios de satisfazê-las”’ (NASSIF; CAMPOS, 2005: 94); 3) Lei da antecipação –  “ ‘toda necessidade que, por sua natureza, corre o risco de não poder ser imediatamente satisfeita, aparece com antecedência, isto é, antes que a vida esteja em perigo’” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 94); 4) Lei da reprodução do semelhante – “ ‘toda necessidade tende a produzir as reações ou situações que lhe foram anteriormente favoráveis, a repetir a conduta que, anteriormente, foi bem sucedida em circunstâncias semelhantes’” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 94); 5) Lei do tatear – ‘ “quando uma situação é tão nova que não evoca nenhuma associação de similitude ou quando a repetição do semelhante é ineficaz, a necessidade desencadeia uma série de reações de pesquisa, de ensaio, de tateamento’” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 94); 6) Lei da autonomia funcional – “ ‘em cada momento do seu desenvolvimento um ser animal constitui uma unidade funcional, isto é, suas capacidades de reação são ajustadas às suas necessidades’” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 94).

II) O interesse segundo Claparède:

Há entre as necessidades orgânicas do sujeito e o meio objetivo uma relação causal, trata-se de uma de uma “síntese causal que damos o nome de interesse” (CLAPARÈDE, 1940: 76). Transpondo o fisiologismo, a necessidade de natureza psicológica é mediada pelo interesse que um objeto pode vir a despertar, ou não. Diante das necessidades do momento, apenas o objeto capaz de nos despertar excitação é aquele capaz de gerar reação. Essa energia, essa excitação é a chave da reação de interesse e o interesse é então um sintoma da necessidade. São extensões do interesse e do objeto: 1) “interesse-objeto (a psicologia interessa muito a Maria)” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 94); 2) “interesse-psicológico (Maria sente grande interesse pela psicologia); interesse atributo (a psicologia está cheia de interesse)” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 94); 3) “interesse-prático ou biológico (Maria tem interesse em estudar psicologia) que denota um sentido útil do ponto de vista da conservação do organismo e do desenvolvimento da personalidade.” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 94).

O interesse por um objeto ou por outro muda de acordo com a idade do sujeito. São três as fases de interesse descritas por Claparède:

1) Estágio de aquisição ou de experimentação: a. 1 ano de vida, Interesses perceptivos, “percebemos as coisas como nos convém percebê-las no momento. Nesse período o interesse volta-se para o objeto na sua totalidade, considerando suas configurações exteriores, através dos movimentos do braço e da cabeça” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 95); b. 2 anos de vida, Interesses Glóssicos, “diante da necessidade de aprender a falar o nome das coisas, ocorre o interesse pela linguagem, pelas palavras” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 95); c. 3 a 7 anos de vida, Interesses Intelectuais Gerais, “surgem os interesses em relação aos objetos que possam por em ação a ideação, a fantasia imaginativa, que darão origem, logo em seguida aos interesses intelectuais propriamente ditos. A criança preocupa-se, então, com a relação das coisas, com suas origens e sua constituição. É a idade das perguntas.” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 95); d. 7 a 12 anos de vida, Interesses Especiais e Objetivos, “o interesse se especializa, concentrando-se em problemas mais bem definidos, tornando-se a fonte dos jogos infantis. Tendo a consciência da relação que liga o meio empregado ao objetivo que se deseja obter, a criança não age mais somente pelo prazer de agir, mas interessa-se pelo fim concreto da sua ação, pelo êxito do seu esforço” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 95).

 2) Estágio de organização ou de apreciação: 12 a 18 anos de vida (ou mais), Interesses Sociais ou Éticos “com o despertar da consciência social, sabendo-se membro de uma sociedade e tomando consciência da sua própria personalidade, há uma mudança de orientação dos interesses do indivíduo, que passa a apresentar o sentimento de responsabilidade, de dever. Ocorrem os interesses éticos e sociais, religiosos e sexuais” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 95).

3) Estágio de produção: Fase adulta, Período do trabalho, “os vários interesses encontram-se subordinados a um interesse superior, seja um ideal ou, simplesmente, o interesse de conservação pessoal” (NASSIF; CAMPOS, 2005: 95).

Referências bibliográficas:

Nassif, L.E. & Campos, R.H.F. (2005). Édouard Claparède (1873-1940): interesse, afetividade e inteligência na concepção da psicologia funcional. In Memorandum, v. 9, pp. 91-104.

Claparède, É. A educação funcional. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.  [1931]

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