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Para Karl Marx, o Estado é uma entidade que representa os interesses da classe ?

💡 2 Respostas

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Vinícius Scherch

Segundo Lenin em O Estado e a Revolução:

"Como o Estado nasceu da necessidade de refrear os antagonismos de classes, no próprio conflito dessas classes, resulta, em princípio, que o Estado é sempre o Estado da classe mais poderosa, da classe economicamente dominante que, também graças a ele, se toma a classe politicamente dominante e adquire, assim, novos meios de oprimir e explorar a classe dominada.

Não só o Estado antigo e o Estado feudal eram órgãos de exploração dos escravos e dos servos, como também:

O Estado representativo moderno é um instrumento de exploração do trabalho assalariado pelo capital. Há, no entanto, períodos excepcionais em que as classes em luta atingem tal equilíbrio de forças, que o poder público adquire momentaneamente certa independência em relação às mesmas e se torna uma espécie de árbitro entre elas."

E Marx em O Capital:

"Todos eles [métodos capitalistas], porém, lançaram mão do poder do Estado, da violência concentrada e organizada da sociedade, para impulsionar artificialmente o processo de transformação do modo de produção feudal em capitalista e abreviar a transição de um para o outro."

Portanto, pode-se dizer que para Marx, o Estado é uma entidade que representa os interesses da classe dominante, no sentido de utilizar-se, esse grupo, de toda a estrutura estatal para estabelecer sua hegemonia.

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LR

Sim, segundo Marx o Estado capitaneia os interesses de uma classe específica, a classe dominante, o que significa dizer que o Estado age em defesa dos valores burgueses.

Sobre os valores burgueses, nas palavras de Marx: “As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a forma material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe também dos meios de produção espiritual, e de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daquelas aos quais faltam os meios de produção espiritual. As ideias dominantes não são nada mais do que a expressão ideal [compreender ‘ideal’ por ‘ideologia’] das relações materiais dominantes, são as relações materiais dominantes apreendidas como ideias; portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominantes, são as ideias de sua dominação. Os indivíduos que compõem a classe dominantes possuem, entre outras coisas, também a consciência e, por isso, pensam; na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que eles o fazem em toda a sua extensão, portanto, entre outras coisas, que eles dominam também como pensadores, como produtores de ideias, que regulam a produção e a distribuição das ideias de seu tempo; e, por conseguinte, que num país em que o poder monárquico, a aristocracia e a burguesia lutam entre si pela dominação, onde portanto a dominação está dividida, aparece como ideia dominante a doutrina da separação dos poderes, enunciada então como ‘lei eterna’.” (MARX, 2007: 47). “A divisão do trabalho, (que já encontramos acima (p. [34-35]) como uma das forças principais da história que se deu até aqui, se expressa também na classe dominante como divisão do trabalho espiritual e trabalho material, de maneira que, no interior dessa classe, uma parte aparece como os pensadores dessa classe, como seus ideólogos ativos, criadores de conceitos, que fazem da atividade de formação da ilusão dessa classe sobre si mesma o seu meio principal de subsistência, enquanto os outros se comportam diante dessas ideias e ilusões de forma mais passiva e receptiva, pois são, na realidade, os membros ativos dessa classe e têm menos tempo para formas ilusões e ideias sobre si próprios. No interior dessa classe, essa cisão pode evoluir para uma certa oposição e hostilidade entre as duas partes, a qual, no entanto, desaparece por si mesma a cada colisão prática em que a própria classe se vê ameaçada, momento no qual se desfaz a aparência de que as ideias dominantes são seriam as ideias dominantes da classe dominante e que elas teriam uma força distinta da força dessa classe. A existência de ideias revolucionárias numa determinada época pressupõe desde já a existência de uma classe revolucionária, sobre cujos pressupostos já foi dito anteriormente o necessário.” (MARX, 2007: 47 – 48).

Sobre o Estado Capitalista (ditadura burguesa), o Estado Socialista (ditadura do proletariado) e o Estado comunista (Estado sem Estado):

Não é possível dissociar o homem de sua história (temporalidade), tampouco é possível pensar no homem nada fora ou independente da sociedade da qual pertence (espacialidade). “Dependência da personalidade humana em relação à sociedade historicamente determinada a que pertence, dependência em virtude da qual ela nada é fora dessa sociedade e independente dela” (ABBAGNANO, 2007: 193).

Marx não nega a importância da burguesia no processo histórico e material que constitui as sociedades, o que significa apenas que Marx não faz uma critica necessariamente moral a burguesia. Segundo Marx foi de caráter revolucionário o feito burguês que tornou possível a superação da sociedade pré-burguesa (feudal). É este mesmo caráter que faz a burguesia uma classe capaz de seguir transformando ininterruptamente formas tradicionais presentes na sociedade humana para garantir sua sobrevivência imediata.  As relações de produção e de trabalho são produtos do tempo de uma sociedade (história/passado). As relações de produção e de trabalho constituídas historicamente em uma dada sociedade, determinam também todas as manifestações humanas (socialmente reconhecidas, aceitáveis, normais, comuns), como os aspectos de moralidade, religião, filosofia e política. “Dependência da estrutura de uma sociedade historicamente determinada das relações de produção e de trabalho que são próprios de tal sociedade e que determinam todas as suas manifestações: moralidade, religião, filosofia etc., além das formas da sua organização política.” (ABBAGNANO, 2007: 193).

A burguesia na condição o agente da transformação constante dos meios de produção, constitui um elemento socialmente transformador, pois “enquanto a condução da existência das classes pré-burguesas era a imutável conservação do antigo modo de produção, a burguesia, ao invés, não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produção; e por consequência as relações de produção e, também, todo o conjunto de relações sociais. Esta ação incessante dissolve, quer as estáveis e enferrujadas condições de vida, quer as opiniões e ideias tradicionais, enquanto as novas envelhecem antes de terem conseguido formas os ossos.” (BOBBIO, 1993: 208).

A teoria marxista prevê uma crise inevitável. A burguesia está fadada ao fracasso. As formas de acumulação do capitalismo capitaneadas pela burguesia tornam as crises do capitalismo cíclicas e inevitáveis. Quando “as forças produtivas se tornam potentes demais e as relações burguesas demasiadamente estreitas para consumir as riquezas produzidas” (BOBBIO, 1993: 209) o mundo capitalista entra em crise. A burguesia reage aos ciclos de crise “de um lado, destruindo à força uma grande quantidade de forças produtivas e, por outro lado, conquistando novos mercados e explorando mais intensamente os mercados já existentes.” (BOBBIO, 1993: 209). Entretanto tal reação em realidade apenas posterga os problemas inerentes às contradições do capitalismo, pois apenas “prepara crises [outras] mais extensas e mais violentas e reduz os meios para prevenir as crises futuras” (BOBBIO, 1993: 209). A burguesia assim se auto sabota pois as mesmas “armas com que ela derrubou o feudalismo [que] agora estão voltadas contra ela e a levam inexoravelmente para a decadência e a morte.” (BOBBIO, 1993: 209).

Luta de classes e a ditadura do proletariado. Marx aposta que o sentido do capitalismo culmina na aguda polarização entra as classes, ou seja, na inexistência de uma classe intermediária. De uma lado, a burguesia constituída por uma minoria detentora dos meios de produção. Do outro lado, o proletariado constituída por uma maioria operária. Esse é o limite do capitalismo, uma minoria que promoveu a aniquilação de uma classe intermediária, e relegou a maioria da população a uma condição de vida de desumanidade: “a classe burguesa se distingue de todas as precedentes classes dominantes, porque não está em condições de assegurar aos seus escravos nem a existência dentro dos limites da escravidão, já que é obrigada a deixa-los cais em condições tais de modo a ter de alimenta-los em vez de ser por eles alimentada” (BOBBIO, 1993: 209). O ciclo das crises inevitáveis se findará quando o capitalismo atingir seu limite, ou seja, quando o nivelamento da sociedade chegar em um ponto onde as classes intermediárias deixarão de existir, e quando o processo de acumulação de riquezas nas mãos da classe dominante culminar no padecimento (na miséria extrema, na fome e na morte) da classe operária. Quando não houver mais por onde o capitalismo se expandir, ou seja, quando a burguesia não possuir mais as armas necessárias para postergar a crise final, a maioria criada pela própria burguesia aniquilar as classes intermediárias e nivelar a população em uma única classe de operários, tomará inevitavelmente o poder. Marx aponta que a sociedade sairá de uma espécie de ditatura burguesa para se tornar uma ditadura do proletariado: “Este caráter largamente majoritário do movimento proletário assegura, segundo Marx, que a revolução socialista e a fase da ‘ditadura do proletariado’, que a ele se seguirá, embora caracterizadas por medidas violentas e coercitivas (em primeiro ligar da destruição da máquina estatal burguesa, instrumento da ditadura da burguesia), serão sustentadas pela grande maioria da população; e que as próprias medidas coercitivas terão uma área de aplicação, restrita em termos gerais, e serão, portanto, temporárias.” (BOBBIO, 1993: 209). “para ele [Marx] a revolução proletária pode realizar uma transformação comunista da sociedade somente quando a evolução capitalista tiver atingido seu cume; qualquer tentativa de apressar arbitrariamente os tempos da revolução levaria somente ao insucesso ou à adoção de medidas terroristas, que descaracterizariam a própria revolução.” (BOBBIO, 1993: 209);

Marx coloca então como ponto central um materialismo histórico, cujos elementos são: a) “Caráter permanente e necessário da luta de classes em toda e qualquer sociedade capitalista, ou seja, em toda sociedade na qual os meios de produção sejam propriedade privada.” (ABBAGNANO, 2007: 193); b) “A necessária e inevitável passagem da sociedade capitalista, depois que ela atinja o seu ponto máximo de concentração da riqueza em poucas mãos e de empobrecimento e nivelamento de todos os trabalhadores, para a sociedade socialista, que possui e emprega diretamente os meios de produção, sendo por isso sem classe.” (ABBAGNANO, 2007: 193); c) “Existência de um período de superação entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista, durante o qual o proletariado tomará o poder do Estado e o exercerá, como fizera o capitalismo, em seu próprio interesse. Esse será o período da ditadura do proletariado.” (ABBAGNANO, 2007: 193);

No marxismo gramsciano o termo “comunismo” é substituído pelo termo “sociedade regulada”. Uma sociedade regulada, ou seja, comunista, cuja a característica mais marcante é a não existência do Estado, é também aquela que sucede a sociedade socialista. A sociedade socialista, segundo a teoria marxista, trata-se de uma sociedade de transição. Em resumo, o ponto final da teoria marxista é o comunismo, marcado por uma sociedade regulada o bastante para não necessitar do Estado. O ponto intermediário da teoria marxista é o socialismo, marcado por um período onde a sociedade deixa de viver uma ditadura da burguesia e passa a viver uma ditadura do proletariado. Ou seja, onde o poder coercitivo do Estado deixa de estar nas mais da burguesia, composta de uma parcela minoritária na sociedade, e passa a estar nas mais da classe operária, que em virtude do progressivo nivelamento da sociedade, ou seja, do aniquilamento das classes intermediária, passam a compor a parcela majoritária da sociedade. O Estado gerido pela maioria é o que marca o socialismo. O processo evolutivo que culmina na extinção do Estado, representa uma fase onde a sociedade encontra-se regulada, é apenas neste momento que é possível afirmar a existência em uma sociedade, de fato, comunista.

“G. [ler Gramsci] utiliza o termo ‘socialismo’ para designar a ‘cidade futura’, inicialmente concebida como ‘possibilidade de atuação integral da personalidade humana concedida a todos os cidadãos’, de modo que haja ‘o máximo de liberdade com o mínimo de coerção’ (...). Não é o ‘Estado profissional’ dos sindicalistas, nem o Estado monopolista de produção e distribuição a que aspiram os reformistas, mas a ‘organização da liberdade de todos e para todos’ (...), ‘um desenvolvimento infinito em regime de liberdade organizada e controlada pela maioria dos cidadãos, ou seja, pelo proletariado’ (...). Rejeitando a ontiestatismo precedente, G. sustenta a necessidade de ‘um Estado tipicamente proletário’ (...) que, a diferença do Estado burguês, ‘pede participação ativa e permanente dos companheiros na vida das suas instituições’ (...)” (LINGUORI, VOZA; 2017: 729).

“a concepção de uma sociedade socialista como processo de transição – numa completa dialética entre Estado e sociedade civil – de uma fase inicial econômico-corporativa, em que os elementos de base ainda são escassos (...), para aquela em que a iniciativa econômico-política será ‘passada nitidamente às forças que visam à construção sendo um plano, de pacífica e solidária divisão do trabalho’ (...), processo que ‘provavelmente durará alguns séculos, isto é, até o desaparecimento da Sociedade política e o advento da sociedade regulada’ (...) [ou seja, da sociedade comunista]. O Estado, ‘condução prelimitar de toda atividade econômica coletiva’ (...), é ‘o instrumento para adequar a sociedade civil à estrutura econômica’ (...), desde que quem dirija sejam os representantes do proletariado, que devem trabalhar pelo desenvolvimento de ‘novas formas de vida estatal, em que a iniciativa dos indivíduos e dos grupos seja ‘estatal’, ainda que não se deva ao ‘governo dos funcionários’ (fazer co que a vida estatal se torne ‘espontânea’)’ (...), de modo que se pode ‘imaginar o elemento Estado-coerção em processo de esgotamento à medida que se afirma elementos cada vez mais conspícuos de sociedade regulada’ (...). Mas para isso são necessárias ao mesmo tempo – o que é difícil – tanto a elaboração de uma alta cultura e de grupos dirigentes adequados à gigantesca tarefa de transição socialista, quanto a educação e a participação ativa das grandes massas no ‘processo molecular de afirmação de uma nova civilização’, um Resnascimento e uma Reforma juntos (...).” (LINGUORI, VOZA; 2017: 729 – 730).

 “Precisa G.: ‘Enquanto existir o Estado-classe não pode existir a sociedade regulada, a não ser por metáfora isto é, apenas no sentido de que também o Estado-classe é uma sociedade regulada. Os utopistas, na medida em que exprimiam uma critica da sociedade existente em seu tempo, compreendiam muito bem que o Estado-classe não podia ser a sociedade regulada, tanto é verdade que nos tipos de sociedade pensadas pelas diversas utopias introduz-se a igualdade econômica como base necessária da reforma projetada: nisto os utopistas não eram utopistas, mas cientistas concretos da política e críticos coerentes. O caráter utópico de alguns deles era dado pelo fato de que consideravam possível introduzir a igualdade econômica com leis arbitrárias, com um ato de vontade etc. Mas permanece exato o conceito [...] de que não pode existir igualdade política completa e perfeita sem igualdade econômica’ (...).” (LINGUORI, VOZA: 736). “à sociedade de transição: ‘Nesta sociedade, o partido dominante não se confunde organicamente com o governo, mas é instrumento para a passagem da sociedade civil à ‘sociedade regulada’ na medida em que absorve ambas em si, para superá-las (e não para perpetuar sua contradição) etc.’. (...) a concepção marxista de Estado se torna a ‘doutrina do Estado que conceba este como tendencialmente capaz de esgotamento e de dissolução na sociedade regulada’.” (LINGUORI, VOZA; 2017: 736). “A sociedade regulada é, pois, Estado sem Estado: se (...) o Estado é ‘sociedade política + sociedade civil’ (Estado ‘integral’), a sociedade regulada é aquela ‘sociedade civil-política’ em que perece o Estado tradicionalmente entendido, o Estado como aparelho repressivo (...). A expansão dos elementos de autogoverno, no âmbito da sociedade socialista, levará, segundo G., a uma redução gradual dos elementos de estatismo propriamente dito, diminuindo a necessidade de momentos repressivos e coercitivos.” (LINGUORI, VOZA; 2017: 736).

Referências Bibliográficas:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

MARX, Karl. A ideologia alemã: Crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stiner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845 – 1846). São Paulo: Boitempo, 2007.

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

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