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o que é contrato social?

💡 3 Respostas

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Nanny Lill e Valmir Flores Domingues

O Contrato Social, em resumo, é um documento que estabelece normas de relacionamento entre os sócios e a sociedade.

Contrato social (ou contratualismo) indica uma classe de teorias que tentam explicar os caminhos que levam as pessoas a formarem Estados e/ou manterem a ordem social. Essa noção de contrato traz implícito que as pessoas abrem mão de certos direitos para um governo ou outra autoridade a fim de obter as vantagens da ordem social. Nesse prisma, o contrato social seria um acordo entre os membros da sociedade, pelo qual reconhecem a autoridade, igualmente sobre todos, de um conjunto de regras, de um regime político ou de um governante.

O ponto inicial da maior parte dessas teorias é o exame da condição humana na ausência de qualquer ordem social estruturada, normalmente chamada de "estado de natureza". Nesse estado, as ações dos indivíduos estariam limitadas apenas por seu poder e sua consciência. Desse ponto em comum, os proponentes das teorias do contrato social tentam explicar, cada um a seu modo, como foi do interesse racional do indivíduo abdicar da liberdade que possuiria no estado de natureza para obter os benefícios da ordem política.

As teorias sobre o contrato social se difundiram entre os séculos XVI e XVIII[1] como forma de explicar ou postular a origem legítima dos governos e, portanto, das obrigações políticas dos governados ou súditos. Thomas Hobbes (1651), John Locke (1689) e Jean-Jacques Rousseau (1762) são os mais famosos filósofos do contratualismo.

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LR

O Estado como fruto de um pacto entre os homens é um conceito presente no Contratualismo. São três os filósofos do contratualistas mais relevantes: Hobbes, Locke e Rousseau. A partir do que cada um considera ser o estado de natureza do homem, sempre um estado limitado e insustentável, estabelece-se as condições aos quais a sociedade passou a ser possível. A grande questão aqui é o consenso, há entre os homens um consenso, um pacto, feito a fim de garantir uma determinada ordem social benéfica. O contrato que se origina deste pacto entre os homens, é o que estrutura as regras de sociabilidade que torna vida em sociedade possível. Há diferenças entre os filósofos quando a descrição de como é, ou como deveria ser este os ordenamentos sociais, as estruturas, as regras do Estado e da sociabilidade.

Se o surgimento do Estado é objeto de estudo de todos os filósofos contratualistas, assim, não possível indicar um único que melhor explique a questão. Entretanto, é possível indicar o Estado ideal em cada corrente da teoria do contratualismo. Hobbes, por exemplo, era defensor de um Absolutismo não teológico. Já em Locke, o Estado é visto sob a lógica da acumulação e da proteção à propriedade privada, ou seja, é um Estado com características capitalistas/burguesas de cunho liberal. Em Rousseau é possível localizar uma forte defesa de um Estado democrático e participativo.

 

Hobbes, Locke e Rousseau:

I) Sobre HOBBES: “a condição que Hobbes atribuiu ao estado de N. [ler natureza], a guerra de todos contra todos: ‘Enquanto vivem sem um poder comum ao qual estejam sujeitos, os homens encontram-se na condição que chamamos de guerra, e tal guerra é de um homem contra o outro’ (...). Isto acontece porque, sendo iguais por N., os homens também têm os mesmos desejos, e desejando as mesmas coisas procuram preponderar uns sobre os outros (...). A fundação do Estado, de um poder soberano, é o único meio para sair da condição de guerra, própria do estado de N.” (ABBAGNANO, 2007: 816).

 

Hobbes parte do pressuposto que o estado de natureza do Homem é a Guerra, “e uma Guerra é de todos os homens contra todos os homens” (HOBBES, 1988: 75). A guerra gera o medo da morte e o desejo de uma vida confortável, e por isso, este estágio da humanidade, sendo o pensador, tende sempre a paz, “As paixões que fazem os homens tender para a paz são o medo da morte, o desejo daquelas coisas que são necessárias para uma vida confortável, e a esperança de consegui-las através do trabalho.” (HOBBES, 1988: 77). A condição do homem, como detentor de todos os seus direitos, diante de outros homens que também detém todos os seus direitos, e cada um assim se autogovernando segundo a própria razão individual, é a condição mesma de guerra do homem contra o homem. A constante ameaça contra a próprio a segurança impossibilita a vida, “não poderá haver para nenhum homem (por mais forte e sabia que seja) a segurança de viver todo o tempo que geralmente a natureza permite aos homens viver” (HOBBES, 1988: 78). Racionalmente o homem deseja se manter vivo, usufruindo os frutos de seu trabalho, assim a “razão sugere adequadas normas de paz, em torno das quais homens podem chegar a acordo.” (HOBBES, 1988: 77). Neste estado de natureza, de guerra do homem contra o homem, onde tende-se a paz afim de garantir a sobrevivência, a lei na natureza, gerada pela razão do homem, determina que “Que todo homem deve esforçar-se pela paz, na medida em que tenha esperança de consegui-la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas as ajudas e vantagens da Guerra. A primeira parte dessa regra encerra a lei primeira e fundamental da natureza, isto é, procurar a paz, e segui-la. A segundo encerra a suma do direito de natureza, isto é, por todos os meios que pudermos, defendermo-nos a nós mesmos.” (HOBBES, 1988: 78). Neste estado de natureza, diante dessa lei da natureza, por acordo/pacto entre os homens, gera-se um contrato social: “Desta lei fundamental de natureza, mediante a qual se ordena a todos os homens que procurem a paz, deriva esta segundo lei: Que um homem concorde, quando outros também o façam, e na medida em que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando-se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que as outros homens permite em relação a si mesmo.” (HOBBES, 1988: 79); “A transferência mútua de direitos é aquilo a que se chama de contrato.” (HOBBES, 1988: 80); “Por outro lado, um dos contratantes pode entregar a coisa contratada por seu lado, permitindo que o outro cumpra a sua parte num momento posterior determinado, confiando nele até lá. Nesse caso, da sua parte o contrato se chama pacto ou convenção. Ambas as partes podem também contratar agora para cumprir mais tarde, e nesse caso, dado que se confia naquele que deverá cumprir sua parte, sua ação se chama observância da promessa, ou fé; e a falta de cumprimento (se for voluntária) chama-se violação da fé.” (HOBBES, 1988: 80). O contrato que firma o pacto entre os homens, trata-se em de uma transferência mútua de direitos, baseada em uma relação (acordada) de confiança, ou seja, de uma promessa a ser obrigatoriamente cumprida, onde cada parte deve abrir mão do direito natural de possuir seu próprio poder natural, “de usar seu próprio poder, de maneira que quiser, para a preservação se sua própria natureza, ou seja, se sua vida; e consequentemente de fazer tudo aquilo que seu próprio julgamento e razão lhe indiquem como meios adequados a esse fim” (HOBBES, 1988: 70), e se por ocasião, uma das partes quebrar este pacto, ela o faz por má fé. Ao abrir mão de seu direito natural, ou seja, de seu próprio poder, espera-se receber em troca a paz, e por paz compreende-se a permanência da existência e a possibilidade de conquistar uma vida confortável mediante o próprio trabalho. Nesta teoria hobbesiana, durante o estado de natureza, que é o de guerra, o conceito de justiça não existe, “Porque sem um pacto anterior não há transferência de direito, e todo homem tem direito a todas as coisas, consequentemente nenhuma ação pode ser injusta. Mas, depois de celebrado um pacto, rompê-lo pe injusto. E a definição de injustiça não é outra senão o não cumprimento de um pacto. E todo que não é injusto é justo.” (HOBBES, 1988: 86). A justiça como conceito apenas surge mediante a busca pela paz, pois para atingi-la leis são necessárias, “Os desejos e outras paixões do homem não são em si mesmos um pecado. Nem tampouco o são as ações que derivam dessas paixões, até ao momento em que se tome conhecimento de uma lei que as proíba; o que será impossível até ao momento em sejam feitas as leis; e nenhuma lei pode ser feita antes de se ter determinado qual a pessoa que deverá faze-la.” (HOBBES, 1988: 79). A noção de justiça não é inaugurada nos pactos, e sim nas leis da natureza. Para tornar a vida possível é necessário buscar a paz. A paz, por outro lado, demanda regras/leis. Com o pacto determina-se em realidade o que é injusto, tornando todo o resto justo “Daquela lei da natureza pela qual somos obrigados a transferir aos outros aqueles direitos que, ao serem conservados, impedem a paz da humanidade, segue-se uma terceira: Que os homens cumpram os pactos que celebram.” (HOBBES, 1988: 86). Havendo a necessidade de estabelecer a lei e a justiça entre os homens, há necessidade de fazê-la cumprir, e isso significa dizer que um poder coercitivo, um poder de controle deve ser estabelecido. Assim surge o Estado, um poder civil dotado da capacidade de coerção,  “Para que as palavras ‘justo’ e ‘injusto’ possam ter lugar, é necessário alguma espécie de poder coercitivo, capaz de obrigar igualmente os homens ao cumprimento de seus pactos, mediante o terror de algum castigo que seja superior ai benefício que esperam tirar do rompimento do pacto, e capaz de fortalecer aquela propriedade que os homens adquirem por contrato mutuo, como recompense do direito universal a que renunciaram. E não pode haver tal poder antes erigir-se um Estado. (…) E onde não foi estabelecido um poder coercitivo, isto é, onde não há Estado, não há propriedade, pois todos os homens tem direito a todas as coisas. Portanto, onde não há Estado nada pode ser injusto. De modo que a natureza da justiça consiste no cumprimento dos pactos válidos, mas a validade dos pactos só começa com a instituição de um poder civil suficiente para obrigar os homens a cumpri-lo, e é também ai que começa a haver propriedade.” (HOBBES, 1988: 86).

 

II) Sobre Locke: “Opondo-se a Hobbes, Locke já havia considerado o estado de N. como um estado de perfeição: é ‘um estado de perfeita liberdade, em que cada um regulamenta suas próprias ações e dispõe de suas posses e de si mesmo como bem lhe aprouver, dentro dos limites da lei da N., sem pedir permissão a ninguém, nem depender da vontade de ninguém.’ (...).” (ABBAGNANO, 2007: 817).

A questão da propriedade em Locke é o que torna sua teoria tão ferramental para o incessante processo de aprofundamento do capitalismo, mediante uma logica liberal. A relação de Locke com as ideias do liberalismo, em especial o liberalismo dos modernos, relaciona-se com o conceito do filosofo de propriedade. O século XX, marcado pelo capitalismo industrial (ou industrialismo), e o século XX, marcado pelo capitalismo financeiro (ou monopolista), representam respectivamente, a fase inicial do modo de produção capitalista, fruto da superação do sistema feudal, e a fase mais recente onde o presença dos bancos e das grandes corporações no controle da economia são marcantes. O eixo que orienta o capitalismo são os ideais do liberalismo (mesmo que tais ideais não tenham sido de antemão reconhecíveis e profetizáveis). A compatibilidade com o capitalismo, e o empréstimo que o liberalismo faz das ideias de Locke, estão presentes nos seguintes pontos: 1) A acumulação: A defesa da acumulação como compatível com o direito natural, no capítulo 5 do Segundo Tratado, é uma forma de legitimar a desigualdade.” (KUNTZ, 1997: 2); 2) A propriedade e o direito de governar: “rejeição da doutrina do direito divino dos reis” - “não há por que supor uma hierarquia natural entre os homens, nem pela paternidade, que só diferencia os indivíduos transitoriamente, na relação familiar, nem por qualquer outro título”; “não há por que afirmar um vínculo entre a propriedade e o direito de governar’, isto é, deve-se “fixar a distinção entre domínio privado e poder político, isto é, público” (KUNTZ, 1997: 3); 3) A igualdade: “Como proprietários, argumenta Locke no capítulo 7 do Primeiro Tratado, Abel e Caim não tinham por que interferir no patrimônio do outro. Se esse direito existisse, um deles não teria de fato domínio privado. Em outras palavras, a condição de ambos, como detentores de direitos particulares, era de igualdade.” (KUNTZ, 1997: 3). Em resumo, a ligação entre Locke e o liberalismo pode ser vista a partir da seguinte confusão:Em parte, a divergência entre os liberais ocorre na interpretação dessa regra. Trata-se de saber, no fundo, em que altura se deve traçar a linha do mínimo compatível com a dignidade humana, ou mesmo se alguma linha deve ser traçada. Mas essa é, talvez, a diferença menos importante. No fundo, a grande questão é saber se o atendimento dos direitos mínimos é uma responsabilidade coletiva. Desta perspectiva, o grande problema não é se o poder público deve ou não intervir em certos assuntos, mas, ao contrário, se a omissão seria legítima. Este é o ponto fundamental perdido em boa parte da discussão contemporânea. A grande questão não é se o mercado pode ou não fornecer certos bens e serviços, como assistência médica, educação e previdência, mas se esses temas devem ser tratados apenas como negócios ou, pelo menos dentro de certos limites, como responsabilidades públicas. Não se trata apenas de um problema financeiro, mas, antes de mais nada, de um tema ético e político. Locke abriu caminho para este debate ao perguntar, no último dos ensaios sobre a lei de natureza, se o interesse privado é a base dessa lei. Sua resposta, negativa, ainda vale alguma reflexão, a menos que se acredite que a responsabilidade coletiva, se houver alguma, deve ser deixada para uma suposta mão invisível do mercado.” (KUNTZ, 1997: 26).

III) Sobre Rousseau: Rousseau quem mais exaltou a perfeição do estado de N., argumentando que nessa condição o homem obedece apenas ao instinto, que é infalível (...). ‘Tudo que sai das mais do Criador é perfeito, tudo degenera nas mais do homem’ (...). No próprio Rousseau, porém, essa exaltação do estado de N. contrasta com o valor atribuída do estado civilizado, com base no contrato social; na realidade, em Rousseau a noção de estado de N. constitui o critério ou a norma de julgar a sociedade presente e delinear um ideal de progresso.” (ABBAGNANO, 2007: 817).

Em Rousseau, o contrato social estabelece clausulas, mesmo que nunca enunciadas, que fazem surgir o Estado. O pacto é anterior no sentido que as famílias e a união entre famílias são comunidades políticas anteriores ao Estado. As famílias, em se tratando da “mais antiga de todas as sociedades e a única natural” apenas permanece unida quando por convenção: “Os filhos, isentos da obediência que devem ao pai, isento este dos cuidados dos filhos [apenas obrigados aos cuidados até certa idade], entram todos igualmente em independência. Se continuam unidos, não é natural, senão voluntariamente, é a própria família não se sustém senão por convenção.” (ROUSSEAU, 2016: 19). O contrato social chega quando os homens, já reunidos em famílias, não são capazes de superar determinados obstáculos por eles mesmos criados: “Rousseau quem mais exaltou a perfeição do estado de N., argumentando que nessa condição o homem obedece apenas ao instinto, que é infalível (...). ‘Tudo que sai das mais do Criador é perfeito, tudo degenera nas mais do homem’ (...). No próprio Rousseau, porém, essa exaltação do estado de N. contrasta com o valor atribuída do estado civilizado, com base no contrato social; na realidade, em Rousseau a noção de estado de N. constitui o critério ou a norma de julgar a sociedade presente e delinear um ideal de progresso.” (ABBAGNANO, 2007: 817). Se reunindo em família, estabelecendo as primeiras relações de propriedade privada, saindo assim do estado natural, onde as mãos dos homens geram sua própria instabilidade, o pacto social não se quebra, e sim é dado um passo além através do contrato social: “Pois bem, como os homens não podem engendrar novas forças, senão somente unir e dirigir as existentes, não tem outro recurso para sua conservação além de formas por agregação de uma soma de forças que possa sobrepujar a resistência, pô-las em jogo para um só móvel e fazê-las agir conjuntamente.” (ROUSSEAU, 2016: 27 – 28). Dessa forma, trata-se os termos de um contrato de transferência mútua de direitos, firmada através da reafirmação de um pacto de confiança, ou seja, de uma promessa a ser obrigatoriamente cumprida onde cada parte deve abrir mão do direito natural de possuir sua liberdade natural: “Naquele instante, no lugar da pessoa particular de cada contratante este ato de associação produz um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros como a assembleia de votantes, o qual recebe deste mesmo ato sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. Essa pessoa pública que se forma assim pela união de todas as outras pessoas, recebeu antes o nome de cidade e agora recebe o de república ou de corpo político, chamado por seus membros Estado, quando é passivo; soberano, quanto é ativo, poder, comparando-o com seus semelhantes. Porém estes termos se confundem frequentemente e tomam-se uns pelos outros. Basta saber distinguir quando são empregados em sua verdadeira acepção.” (ROUSSEUAU, 2016: 29)

Referências bibliográficas:

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

HOBBES, Thomas. Leviatã: Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988. (Volumes I e II).

KUNTZ, Rolf. Locke, Liberdade, Igualdade e Propriedade. In Coleção Documentos (Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo), 1997.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

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Henrique Barrozo

O Contrato é um consenso entre os componentes da sociedade e não como um documento firmado em cartório.

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