Conforme o artigo 50 do CC/02: Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do MP quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.
De acordo com o artigo 134 do CPC: o incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentenças e na execução fundada em título executivo extrajudicial.
Inicio com alguns esclarecimentos: a pessoa jurídica e a pessoa natural que a instituiu possuem esferas jurídico-patrimoniais distintas, sendo certo que, por ficção, se cria a separação entre o patrimônio da pessoa jurídica e seus sócios.
Desconsideração da personalidade jurídica é o rompimento, pontual, temporário e excepcional, desta blindagem patrimonial, visando ao alcance do patrimônio do sócio para atendimento de débito da pessoa jurídica ou, contrariamente, buscando o patrimônio da pessoa jurídica para satisfazer crédito possuído em face do sócio.
O momento processual adequado para instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica é qualquer fase do processo de conhecimento, cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial (quando é proposta ação executiva autônoma) (art. 134, do CPC).
Já as situações em que pode ser alegada a desconsideração estão previstas no direito material.
Importante, neste ponto, tratarmos de duas teorias: teoria maior e teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica.
Pela teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica, adotada pelo Código Civil (art. 50), são os requisitos:
1) Insolvência da pessoa jurídica: demonstração de que a pessoa jurídica não possui meios para adimplir obrigações assumidas.
2) Desvio de finalidade ou confusão patrimonial:
2.1) Desvio de finalidade: utilização dolosa da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza.
"Art. 50. [...]
§ 1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização dolosa da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza."
2.1) Confusão patrimonial: ausência da separação entre os patrimônios do sócio e da pessoa jurídica. É o desrespeito dado entre sócio e pessoa jurídica à blindagem patrimonial que seria conferida por lei. Se eles não respeitam, então deveriam os demais respeitar? E a lei responde que não, dando exemplos:
"Art. 50. [...]
§ 2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por:
I - cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa;
II - transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o de valor proporcionalmente insignificante; e
III - outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial."
Já a teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica é adotada pelo direito do trabalho, direito do consumidor e direito ambiental.
Essa teoria exige a mera insolvência da pessoa jurídica ou o descumprimento da obrigação contraída. Observemos o dispositivo do CDC que traz com clareza a temática:
“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração."
Existe, ainda a chamada desconsideração da personalidade jurídica inversa, quando se está diante dos requisitos citados, mas o sócio utiliza a pessoa jurídica para ocultar seu patrimônio ou cometer fraude a credores. Daí se buscará o rompimento da blindagem patrimonial para atingir a esfera jurídica da pessoa jurídica, com intuito de satisfazer o crédito do credor do sócio (teoria muito utilizada no âmbito do direito de família, em que um dos cônjuges utiliza a pessoa jurídica para ocultar bens conquistados na constância do casamento, com intuito de fraudar a partilha de bens).
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