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Como SARTORI quer formar a teoria probabilística da politica?

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Lucas Paim

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LR

 

A teoria política de Sartori caminhava entre a normatividade (leis gerais/ regras passiveis de generalização/ pertence ao campo da filosofia) e a empiria (comprovação científica/ administração de provas/ pertence ao campo da ciência): “Mais do que distinguindo entre projeção utópica ou idealizante e análise empírica, Sartori individualiza a diferença entre filosofia política e Ciência política, na falta de operatividade ou aplicabilidade da primeira, pois ‘a filosofia não é um pensar para aplicar, um pensar em função da possibilidade de traduzir a ideia no fato’, enquanto a ciência ‘é a teoria que reenvia à pesquisa, tradução da teoria em prática’, afinal um ‘projetar para intervir’”(BOBBIO, 1993: 164). A priorização feita por Sartori ao campo da ciência, da demonstração da realidade enquanto método empírico, não gerou o abandono completo da possiblidade de projeções utópicas (normativas) estarem presentes em sua teoria. O autor contempla tal relação de coexistência normativa e empírica através das ‘regras de conversão’, que seriam “um meio-termo entre princípios básicos e a realidade, i.e., definem as condições de aplicação dos princípios básicos”  (LETSTER, 2013: 70). Os princípios básicos pertencem ao campo da utopia e da normatividade, e a realidade pertence ao campo da empiria, da comprovação científica: “os princípios básicos ou puros são os ideais que formam a teoria normativa da democracia e, por outro lado, que a realidade ou os dados empíricos formam sua versão empírica, então as regras de conversão são a tradução dos ideais para a realidade, i.e., são um meio de aplicar os ideais ao mundo, considerando, como comentamos no nível da metafísica, que ideais podem ser ‘parcialmente’ realizáveis (ou seja, realizáveis sob condições). Essas regras compõem o plano teórico médio ou intermediário comentado na epistemologia.” (LETSTER, 2013: 70 – 71). Para Bobbio, o que Sartori produz é uma “explicação da "mecânica" dos Sistemas de partido (Sartori, 1968, b), mesmo que o autor tenha buscado em outra parte maneira de chegar a uma explicação genética da configuração dos vários Sistemas de partido, uma explicação que seja também prenunciativa e "manipulativa" (Sartori. 1968, a), ou seja, que permita incidir sobre a própria configuração do Sistema” (BOBBIO, 1993: 1169).

O Princípio básico da Democracia, segundo Sartori, seria “aquele que expressa que todo poder deve ser imputado ao povo, que, na ontologia, havia sido definido como seu detentor titular ou nominal” (LETSTER, 2013: 71). Entretanto, a realidade concreta da sociedade mostra que povo significa um número muito grande de pessoas, o que torna o princípio básico da democracia irrealizável. Assim justifica-se a necessidade da ‘regra de conversão’, que altera a situação pois já que não é possível que todo o povo esteja materialmente no poder, deve-se estar então seus representantes: “o princípio democrático puro, que atribui todo poder ao povo, em “representação”, imputando o poder, originalmente atribuído ao povo, a uma determinada minoria deste” (LETSTER, 2013: 71).

Definido, mediante a regra de conversão, o princípio democrático puro, Sartori parte para uma “tentativa de classificar os vários Sistemas de partido e de explicar seu funcionamento” (BOBBIO, 1993: 1169), e para tal são definidos alguns critérios o aspecto numérico, a competição política, a distância ideologia e o grau de fragmentação. “Sartori pôde presumir a transformação de alguns sistemas partidários de partido predominante em sistemas bipartidários, em sistemas de multipartidarismo limitado e moderado, ou em multipartidarismo extremo e polarizado, bem como mostrar, no progressivo esvaziamento do centro, o maior perigo dos sistemas de multipartidarismo extremo e polarizado. Finalmente, ele pôde sugerir, no uso prudente dos sistemas eleitorais, uma das maneiras teoricamente possíveis, mas não necessária e politicamente realizáveis para reduzir a fragmentação partidária.” (BOBBIO, 1993: 1171).

 

 

Segundo a numeração presente na tabela:

1) PARTIDO ÚNICO:

CRITÉRIO NUMÉRICO à Sistemas Unipartidários

CRITÉRIO DE COMPETITIVIDADE à Sistemas Não-Competitivos

DESCRIÇÃO:  “Sistema de partido único, onde existe um único partido (...). Entre os Sistemas de partido único podemos ainda distinguir o partido único totalitário ou autoritário e partido pragmático, conforme a ideologia e o grau de monopólio político e de controle exercido por eles sobre a sociedade.” (BOBBIO, 1993: 1171).

2) PARTIDO HEGEMÔNICO:

CRITÉRIO NUMÉRICO à Sistemas Unipartidários

CRITÉRIO DE COMPETITIVIDADE à Sistemas Não-Competitivos

DESCRIÇÃO: “Sistema de partido hegemônico, em que sempre e somente um único partido pode vencer as eleições, sendo permitida aos outros a aquisição de uma representação parlamentar e alguma influência administrativa e até governativa (...). Também os Sistemas de partido hegemônico podem ser subdivididos em: partidos hegemônicos ideológicos, hegemônicos autoritários e hegemônicos pragmáticos. É aqui que se traça uma linha divisória que separa os sistemas partidários não-competitivos dos sistemas partidários competitivos.” (BOBBIO, 1993: 1171).

3) PARTIDOS PREDOMINANTES:

CRITÉRIO NUMÉRICO à Sistemas Unipartidários

CRITÉRIO DE COMPETITIVIDADE à Sistemas Competitivos

DESCRIÇÃO: “Sistemas de partido predominante, sistemas multipartidários nos quais, durante um longo período bastante grande, um único partido conquista no congresso um número de cadeiras suficiente para governar sozinho.” (BOBBIO, 1993: 1171).

4) DOIS PARTIDOS

CRITÉRIO NUMÉRICO à Sistemas Bipartidários

CRITÉRIO DE COMPETITIVIDADE à Sistemas Competitivos

DESCRIÇÃO: “sistemas bipartidários, ou seja, todos aqueles sistemas em que, independentemente do número dos partidos, apenas dois têm uma esperança legítima, periodicamente satisfeita, de governarem sozinhos, sem necessidade de recorrer a outros partidos. E fazem-no.” (BOBBIO, 1993: 1171).

5) MULTIPARTIDARISMO LIMITADO

CRITÉRIO NUMÉRICO à Sistemas Multipartidários

CRITÉRIO DE COMPETITIVIDADE à Sistemas Competitivos

DESCRIÇÃO: “Passando aos sistemas multipartidários, Sartori considera oportuno distinguir os sistemas com limitada fragmentação, de três a cinco partidos, que apresentam uma competição centrípeta e uma distância ideológica média entre os vários partidos (multipartidarismo limitado e moderado) ” (BOBBIO, 1993: 1171).

6) MULTIPARTIDARISMO EXTREMADO

CRITÉRIO NUMÉRICO à Sistemas Multipartidários

CRITÉRIO DE COMPETITIVIDADE à Sistemas Competitivos

DESCRIÇÃO:  “sistemas de elevada fragmentação, com mais de cinco partidos, que apresentam uma competição centrífuga, com a máxima distância ideológica entre si (multipartidarismo extremo e polarizado)” (BOBBIO, 1993: 1171).

** Observação adicional: A respeito do alto grau de fragmentação, ou seja, da excessiva presença de frações políticas disputando espaços, Sartori propõe como técnica antifracionista “rever o sistema eleitoral proporcional Interno” (BOBBIO, 1993: 524). Apesar de poder “ser aplicada sem excessivos dramas”, corre-se “o risco de ter apenas efeitos temporários: não atinge a raiz do problema e é facilmente reversível. É verdade que um sistema eleitoral interno de tipo majoritário (quorum e/ou prêmio à maioria pela eleição dos delegados ao congresso e/ou pela eleição dos órgãos centrais do partido) induz as Frações a coligarem-se para obter o galardão da maioria e/ou para não ser excluídas da competição: o quorum encoraja a formação de Frações de médio talhe; o prêmio de maioria, favorecendo os cartéis majoritários, deveria reduzir o número das Frações. Mas as velhas Frações poderiam continuar a agir dentro das novas macrofrações; além disso, é difícil imaginar uma revisão eleitoral que não leve em conta as relações de força entre as mesmas Frações que a deviam levar a efeito, uma revisão que seja, portanto, eficaz e duradoura. A revisão do sistema eleitoral interno continua sendo, em todo o caso, um dos poucos instrumentos facilmente utilizáveis para quem se proponha o problema de modificar o número e a dimensão das frações.” (BOBBIO, 1993: 524).

Referências bibliográficas:

BOBBIO, Norbert; MTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. 1983.

SARTORI, Giovanni. Partidos e sistemas partidários. Brasília: UnB, 1982.

LETSTER, Ana Carolina; CHIAPPIN, José R. N. Teoria da Democracia de Sartori: uma defesa da democracia representativa. In Revista Política Hoje, v. 22, n. 2 Recife: UFPE, 2013.

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