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12- Sabe-se que, na análise e caracterização dos regimes políticos, a ciência política tem dado ênfase a critérios

12- Sabe-se que, na análise e caracterização dos regimes políticos, a ciência política tem dado ênfase a critérios relativamente distintos daqueles apontados por Aristóteles e por Montesquieu. Nesses termos, pode-se dizer que se entende por regime político: a) a distribuição dos três poderes no estado e o número dos que exercem esses poderes; b)o padrão e a prática do ordenamento jurídico institucional, e normativo, das relações entre estado e sociedade civil, independente da base de legitimidade; c) as formas de governo, a saber: democracia, autocracia e república; d) a dinâmica do poder dos grupos hegemônicos; e) a dinâmica do parlamentarismo e do presidencialismo.

💡 4 Respostas

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Murilo Miguel

obrigado
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LR

Resposta: A alternativa que mais compreende o conceito te Regime Político é a b) o padrão e a prática do ordenamento jurídico institucional, e normativo, das relações entre Estado e sociedade civil, independentemente da base de legitimidade.

Justificativa:  Primeiramente, vamos justificar porque estão INCORRETAS as (a), (c), (d) e (e) (I). Em seguida iremos esclarecer os seguintes conceitos: Sistema de Governo; Forma de Governo; Sistema Político; Regime Político (II). Por fim apresentaremos a justificativa a alternativa correta ser a (b) o padrão e a prática do ordenamento jurídico institucional, e normativo, das relações entre Estado e sociedade civil, independentemente da base de legitimidade (III).

I) Alternativas INCORRETAS

a) a distribuição dos três poderes no Estado e o número dos que exercem esses poderes, essa descrição NÃO pode ser considerada como Regime Político, pois trata-se em realidade de um Sistema de governo. Por Sistema de Governo, compreendemos ser “as estruturas que ele [o governo] exprime” (BOBBIO, 1993: 677), e isso inclui a forma com o Governo tem seu poder estatal dividido em três outros poderes, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

c) as formas de governo, a saber: democracia, autocracia e república, essa descrição NÃO pode ser considerada como Regime Político. Primeiro pois não deve-se confundir ‘formas de governo’ com ‘regime político’. Democracia e Autocracia são Regimes políticos, pois determinam como irá funcionar a disputa pelo poder do Estado, assim como a ideológica que orientará  práxis: “o conjunto das instituições que regulam a luta pelo poder e o seu exercício, bem como a prática dos valores que animam tais instituições” (BOBBIO, 1993: 1081). Uma Monarquia pode ser tanto uma Autocracia, como é o caso das Monarquias Absolutistas, como pode ser uma Democracia, como é o caso das Monarquias Constitucionais. Uma República pode ser tanto Democrática quando não-Democrática, O Brasil pós Golpe Militar de 1964 não deixou de ser uma República, apenas passou a ser uma República Autocrática. A Monarquia e a República são Formas de governo.

d) a dinâmica do poder dos grupos hegemônicos, NÃO pode ser considerado como descrição do conceito de Regime Político, entretanto, as forças da sociedade buscam sempre estabelecer a hegemonia de seus interesses, a hegemonia é justamente o que garante que certos grupos se mantenham no poder. Entretanto, na história do mundo essa hegemonia já foi rompida diversas vezes, isso significa dizer que diversos grupos já foram capazes de se consolidar no poder, como também já não possuem essa mesma situação de preponderância dominadora. Por exemplo, em um dado momento o Sistema Político capitalista foi capaz de superar a lógica feudal e instaurar uma sociedade diferente da que se tinha até então. Assim como na União das Republicas Socialistas Soviéticas foi possível quebrar com a lógica hegemônica do Sistema Capitalista e instaurar o Sistema Comunista. O debate de hegemonia paira no campo do Sistema Político, mas gera efeitos diretos no campo do Regime Político, pois é sempre o jogo de forças dentro de uma sociedade que decide qual será o Regime Político do país, uma Ditatura (autocrática), por exemplo, é resultado de um jogo de forças que torna política possível sua instauração.

e) a dinânima do parlamento e do presidencialismo, NÃO pode ser considerado como descrição do conceito de Regime Político pois trata-se em realidade de um Sistema de governo. Por Sistema de Governo, compreendemos ser “as estruturas que ele [o governo] exprime” (BOBBIO, 1993: 677), e isso inclui a decisão de como o Governo irá se organizar. Tanto uma República quanto uma Monarquia, como já vimos, podem ser uma Democracia. Uma República pode ser tanto parlamentarista quando presidencialista, entretanto, uma Monarquia  não pode ser presidencialista pois há nela a figura do Rei impossibilitando a existência da figura do Presidente, mas pode ser parlamentarista, onde a figura do Presidente é substituída pela figura do Primeiro ministro. O parlamentarismo e o presidencialismo representam uma Sistema de Governo, assim como a divisão dos três poderes do Governo (executivo, legislativo e judiciário), também fazem parte da mesma estrutura de institucional, ou seja, do mesmo Sistema de Governo.

II) Definir os conceitos:

Ao justificar as alternativas incorretas destacamos diversos termos que podem gerar confusão. São eles: 1) Sistema de Governo; 2) Forma de Governo; 3) Sistema Político; 4) Regime Político.

1) Por Sistema de Governo, compreendemos ser “as estruturas que ele [o governo] exprime” (BOBBIO, 1993: 677), isto é, um Governo possui diversas estruturas e diversas dimensões a serem estruturadas, a decisão entre Parlamentarismo e Presidencialismo é uma dessas estruturas, assim como a estruturação do governo em três poderes também fazem parte do mesmo conjunto de estruturas que juntas formas um Sistema de Governo.

2) As Formas de Governo podem ser caracterizadas com diferenças dependendo da literatura que irá se ter como referência. Optamos aqui por considerar como Formas de Governo exemplo de formas de Monarquia e a República. As Formas de Governo influenciam diretamente os Sistemas de Governo, pois produzem os contornos aos quais os Sistemas precisaram de moldar. Uma Monarquia possui a figura do Rei, por exemplo, assim a escolha de um Sistema de Governo deve compreende-lo como um instituição a ser estruturada.

3) Genericamente, Sistema Político “refere-se a qualquer conjunto de instituições, grupos ou processos políticos caracterizados por um certo grau de interdependência recíproca.” (BOBBIO, 1993: 1163). “Assim, mesmo no que diz respeito à vida política, podemos observar, de um lado, cada um dos protagonistas e cada uma das instituições de um dado regime (análise ‘parcialmente abrangente’); mas, se desejarmos saber, por outro lado, como e por que tais protagonistas e instituições se influenciam reciprocamente, conseguindo dar origem a vários tipos de regimes políticos, devemos olhar para o conjunto das relações que ligam entre si as várias ‘partes’ do agrupamento em questão (análise sistêmica).” (BOBBIO, 1993: 1163). Essas descrições feitas aqui demonstram que por Sistema Político devemos compreender ser um conjunto de forças que existem, mediados simultaneamente por consensos e antagonismos, imersos em uma complexidade de relações protagonizadas por atores e instituições. Os Sistemas político “capitalista-burguês ou comunista-revisionista” (BOBBIO, 1993: 850). Hegemonias não podem ser consideradas como sinônimo de Sistema Político, pois a hegemonia é apenas a forma visível desse sistema, mas completa seu todo. Por exemplo, a Ideologia Burguesa é o pensamento hegemônico do Sistema Político Capitalista, entretanto, há no jogo de forças de uma sociedade pensamentos antagônicos que ainda não foram capazes de se tornar hegemônicos, assim como quando no Sistema Feudal, a ideologia burguesa demorou séculos para se tornar hegemônica, e nem por isso, nem quando não era um pensamento generalizado, tinha sua força política descartada. Outro exemplo que podemos citar são os casos em que a hegemonia busca nos Sistemas de Governo, formas de excluir forças antagônicas do jogo de forças da sociedade. Um desses casos é o Paternalismo, onde através de uma político social promete-se o bem estar do povo, entretanto a forma com que esse bem estar é ofertado gera na população sua alienação e exclusão da disputa por poder, impedindo que o povo tome consciência do Sistema Político ao qual estão imerso, gerando assim a institucionalização da alienação e da exclusão social: “Na linguagem vulgar, Paternalismo indica uma política social orientada ao bem-estar dos cidadãos e do povo, mas que exclui a sua direta participação: é uma política autoritária e benévola, uma atividade assistencial em favor do povo, exercida desde o alto, com métodos meramente administrativos. Para expressar tal política, nos referimos então, usando de uma analogia, à atitude benevolente do pai para com seus filhos "menores." (BOBBIO, 1993: 908). “As três definições, embora diversas por haverem sido escritas em tempos históricos diferentes, apresentam certos elementos comuns: a defesa da liberdade política, que conduz à valorização do pluralismo político e social, e a recusa da solução dos problemas individuais e sociais com métodos administrativos e burocráticos, que alienam o indivíduo do sistema político.” (BOBBIO, 1993: 909).

4) Por Regime Político, compreendemos ser “o conjunto das instituições que regulam a luta pelo poder e o seu exercício, bem como a prática dos valores que animam tais instituições” (BOBBIO, 1993: 1081). “As instituições constituem, por um lado, a estrutura orgânica do poder político, que escolhe a classe dirigente e atribui a cada um dos indivíduos empenhados na luta política um papel peculiar. Por outro, são normas e procedimentos que garantem a repetição constante de determinados comportamentos e tornam assim possível o desenvolvimento regular e ordenado da luta pelo poder, do exercício deste e das atividades sociais a ele vinculadas.” (BOBBIO, 1993: 1081). Uma Democracia é um Regime Político, pois determina que a disputa pelo poder deve ser mediante a participação povo. Há diversas tipos de Democracia, todos eles são considerados Regimes Políticos, sendo assim, é Regime Político a Democracia Direta onde todos os homens, ou seja, o povo deve poder opinar sobre todos os assuntos públicos, também é Regime Político a Democracia Representativa, onde todos os homens, ou seja, o povo, deve escolher indivíduos que o representem e esses indivíduos, comprometidos em representar a opinião dos que o elegeram, devem opinar sobre todos os assuntos públicos. A Democracia então, regula a luta de classes, mas não apenas isso, ela instaura que deve haver em todos os campos da sociedade o respeito aos princípios democráticos, e isso significa dizer que quando um indivíduo ou um grupo de indivíduo decidem romper com os princípios democráticos e tomar o poder mediante ações autoritárias, esses indivíduos estão praticando um Golpe contra a Democracia, contra o Estado e o povo enquanto elementos constituinte desse Estado, e assim, quebrando com a lógica dos valores Democráticos.

III) Alternativa CORRETA:

A alternativa (b) o padrão e a prática do ordenamento jurídico institucional, e normativo, das relações entre Estado e sociedade civil, independentemente da base de legitimidade, está então CORRETA, pois descreve o que hoje reconhecemos ser um Regime Político. Por ‘ordenamento jurídico institucional e normativo das relações entre Estado e sociedade civil’, quer se referir a como será regulada a disputa pelo Poder. Em uma Democracia, compreende-se que o poder pertence a maioria do povo, e através do voto direto ou o voto representativo é possível mensurar esta maioria. Em uma Autocracia o poder é centralizado em um único indivíduo um grupo minoritário, não havendo formas onde povo possa expressar sua opinião. A legitimidade é uma outra via do debate. O Regime Político não deve apenas regular a disputa pelo poder, deve também regular os valores da sociedade. Lembrando que por definição, o Regime Político é “o conjunto das instituições que regulam a luta pelo poder e o seu exercício, bem como a prática dos valores que animam tais instituições” (BOBBIO, 1993: 1081). Há diversas formas de garantir a legitimidade de um regime “Num primeiro enfoque aproximado, podemos definir Legitimidade como sendo um atributo do Estado, que consiste na presença, em uma parcela significativa da população, de um grau de consenso capaz de assegurar a obediência sem a necessidade de recorrer ao uso da força, a não ser em casos esporádicos. É por esta razão que todo poder busca alcançar consenso, de maneira que seja reconhecido como legítimo, transformando a obediência em adesão. A crença na Legitimidade é, pois, o elemento integrador na relação de poder que se verifica no âmbito do Estado. (BOBBIO, 1993: 675). Dessa forma, um Regime Político para se manter precisa garantir que a sociedade reproduza seus valores. Não podemos afirmar, por exemplo, que o Regime Nazista foi ilegítimo, pois havia na sociedade um grau tamanho de consenso que o tornou possível. A base da legitimidade do Regime Nazista, o consenso que o manteve no poder, foi mediado por sentimentos fascistas, onde vigorava o nacionalismo extrapolado, o racismo, o xenofobismo, a homofobia, e diversas outras formas de violência. Mas não podemos considerar ilegítimo, pois pelo menos em um dado momento, esses sentimentos era emanados não apenas por quem ocupava a liderança do Estado, como também pela maioria da população, vale lembrar que Hitler foi eleito democraticamente. Atrela-se a Duverge (1979) a máxima que diz que para se governar é necessário que as mentes estejam colonizadas. Ainda sobre legitimidade, vale apontar aqui que segundo o materialismo histórico, o Estado do Sistema Político Capitalista, Democrático ou não, possui por excelência o monopólio legitimo da força, ou seja, é por essência um aparelho repressivo, e utiliza-se disso para manter estável o pensamento hegemônico da sociedade, ou seja, os interesses do grupo dominante, isto é, da Elite Capitalista-burguesa. O Estado está condicionado ao Sistema Político, que se constrói através das bases hegemônicas, o Regime Político do Estado, deve estruturar a disputa pelo poder e os valores da sociedade, e não o faz quebrando com o pensamento hegemônico capitalista-burguês. Gera-se assim, um Sistema Político onde a exploração do homem pelo homem, que se torna legítimo através de um Regime Político cujas atribuições são as de colonizar as mentes da maioria e de estruturação da luta de classes. E por possuir o monopólio legítimo da força, o faz mesmo mediante a necessidade de coerção física. São exemplos disso o Nazismo, que apesar da confusão gerada pela desinformação do senso comum, em momento algum foi um governo de esquerda pois sempre pregou ideias individualistas e capitalistas, e a situação do encarceramento em massa da população preta e pobre, fenômeno presente em todos os países cujo do Sistema Capitalista, e é descrito no livro de Michelle Alexander, intitulado A Nova Segregação, que faz uma análise político-sociológica e histórica da situação nos EUA, reconhecidamente a sede do pensamento hegemônico capitalista. Sobre o Estado burguês como domínio de classe, Bobbio esclarece: “O condicionamento da superestrutura política por parte da estrutura econômica, isto é, a dependência do Estado da sociedade civil, se manifesta nisto: que a sociedade civil é o lugar onde se formam as classes sociais e se revelam seus antagonismos, e o Estado é o aparelho ou conjunto de aparelhos dos quais o determinante é o aparelho repressivo (o uso da força monopolizada), cuja função principal é, pelo menos em geral e feitas algumas exceções, de impedir que o antagonismo degenere em luta perpétua (o que seria uma volta pura e simples ao estado de natureza), não tanto mediando os interesses das classes opostas mas reforçando e contribuindo para manter o domínio da classe dominante sobre a classe dominada. No Manifesto do partido comunista, o ‘poder político’ é definido com uma fórmula que já se tornou clássica: ‘o poder organizado de uma classe para oprimir uma outra’. Marx não desconheceu as formas de poder político existentes em outros tipos de sociedade diferentes da sociedade burguesa, mas concentrou sua atenção e a grande maioria de suas reflexões sobre o Estado burguês. Quando ele fala do Estado como ‘domínio’ ou ‘despotismo’ de classe, ou como ‘ditadura’ de uma classe sobre a outra, o objeto histórico é quase sempre o Estado burguês. Desde um de seus primeiros artigos, comentando os Debates sobre a lei contra os furtos de lenha '1842). notara que o interesse do proprietário de florestas era ‘o princípio determinante de toda a sociedade’, tendo como conseqüência que: ‘Todos os órgãos do Estado se tornam ouvidos, olhos, braços, pernas com que o interesse do proprietário escuta, observa, avalia, provê, pega, anda’. Portanto, contra as interpretações deformantes e — a meu ver — banalizantes que insistem mais sobre a independência do que sobre a dependência do Estado da sociedade, com uma frase que merece ser sublinhada, concluíra: ‘Esta lógica, que transforma o dependente do proprietário florestal numa autoridade estatal, transforma a autoridade estatal num dependente do proprietário’ (Escritos políticos juvenis, p. 203). Especialmente em relação ao Estado burguês, isto é, àquela fase de desenvolvimento da sociedade civil em que as categorias se transformaram em classes e a propriedade, sendo privada, se emancipou totalmente do Estado, Marx afirma, em A ideologia alemã, que o Estado ‘nada mais é do que a forma de organização que os burgueses se dão por necessidade, tanto interna como externamente, a fim de garantir reciprocamente sua propriedade e seus interesses’. Após ter precisado mais uma vez que ‘a independência do Estado hoje não se encontra mais que naqueles países onde as categorias ainda não se transformaram em classes’, e, portanto, na Alemanha mas não nos Estados Unidos, formula a sua tese nos seguintes termos, gerais e inequívocos: ‘O Estado é a forma em que os indivíduos de uma classe dominante fazer prevalecer seus interesses comuns e em que se resume toda a sociedade civil de uma época’ (-4 ideologia alemã, p. 40). O fato de que em certos períodos de crise, em que o conflito de classe se torna mais agudo, a classe dominante fazem prevalecer seus interesses próprio poder político direto, que ela exerce através do Parlamento (que nada mais é do que um ‘comitê de negócios’ da burguesia), a um personagem que surge acima das partes, como aconteceu na França após o golpe de Estado de 2 de dezembro de 1851 que deu o poder supremo a Luís Napoleão, não significa absolutamente que o Estado mude sua natureza: o que acontece neste caso (trata-se do ‘bonapartisrno’ que Engels, considerando-o uma categoria histórica, estenderá ao regime instaurado por Bismarck na Alemanha) (Correspondência Marx-Engels, IV, p. 406) é pura e simplesmente a passagem das prerrogativas soberanas, no interior do mesmo Estado burguês, do poder legislativo para o poder executivo, representado por aquele que dirige a administração pública; trata-se, em outros termos, da passagem dessas prerrogativas do Parlamento para a burocracia que, aliás, preexiste ao Parlamento, já que ela se formou durante a monarquia absoluta e constitui um ‘terrível corpo parasitário que envolve, como um invólucro, o corpo da sociedade francesa obstruindo todos os seus poros’ (O 18 de brumário, in K. Marx e F. Engels, Obras, p. 575). Esta substituição de um poder por outro pode dar a impressão de que o Estado tenha-se tornado independente da sociedade civil: mas também esta forma extraordinária de ‘despotismo individual’ não pode se sustentar, se não se apoiar numa determinada classe social, que, no caso específico de Luís Napoleão, foi, segundo Marx, a classe dos pequenos proprietários camponeses; fundamentalmente a função do poder político, esteja este nas mãos de uma assembléia como o Parlamento ou nas mãos de um homem como o ditador, não muda: Bonaparte sente, observa Marx, que ‘a sua missão consiste em garantir a ordem burguesa’ (Ibid., p. 584), mesmo se depois, envolvido nas contradições de seu papel de mediador acima das partes e impossibilitado de exercê-lo com sucesso, devido às contradições objetivas da sociedade de classes, não consegue o intento (ou pelo menos Marx julga que, ao invés de trazer a ordem prometida, o suposto salvador acabe por deixar o país no caos de uma nova anarquia). Na realidade, se a burguesia renuncia ao próprio poder direto, isto é, ao regime parlamentar para se entregar ao ditador, isto acontece porque ela julga (embora erroneamente, porque baseando-se num cálculo que não dará certo) que num momento difícil o ditador assegura o seu domínio sobre a sociedade civil, que esse domínio vale mais do que o Parlamento, ou, como diz Marx, a burguesia ‘reconhece que, para manter intato o seu poder social, precisa quebrar o seu poder político’, ou em termos mais vulgares, ‘que para salvar a própria bolsa ela tem que perder a própria coroa’ (Ibid., p. 530).” (BOBBIO, 1993: 741).

Referências bibliográficas

BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 5. ed. Brasília: Edunb, 1993.

DUVERGER, Maurice. Ciência Política, Teoria e Método. Rio de Janeiro: Editora Zatar, 1976.

ALEXANDER, Michelle. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. São Paulo: Boitempo, 2017.

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