Receitas acessórias não são receitas irrelevantes
Muito embora seu nome jurídico possa conduzir a uma impressão diversa, denotando uma função secundária na estrutura financeira do contrato de concessão, as receitas acessórias não são irrelevantes. Muito pelo contrário, hodiernamente, em alguns casos, admite-se que o concessionário explore as fontes geradoras dessas receitas com tal desenvoltura e amplitude, que as mesmas acabam por se tornar as receitas mais importantes, dentre todas recebidas pelo concessionário.
É o que testemunha Adriano Murgel Branco:
“Os exemplos de sucesso de empreendimentos associados são muitos, em todo o mundo. Vale lembrar a experiência dos serviços metroferroviários da Ásia desenvolvida, com destaque para os das cidades de Tóquio e Hong Kong. No primeiro caso, uma das operadoras do serviço sobre trilhos para os subúrbios, a Tokyu Corporation (2,5 milhões de passageiros/dia), obtém, do total da sua receita anual, apenas 23% provenientes da arrecadação tarifaria do serviço de transporte. Os restantes 77% são oriundos da exploração dos ramos imobiliário, do comércio, lazer, serviços, hotelaria e construção (...) a holding do Metrô de Hong Kong (...) teve um lucro de US$ 540 milhões em 2002, dos quais quase 90% derivados de atividades de desenvolvimento imobiliário”.10
Há casos, inclusive, como o da concessão de serviços de telecomunicações de radiodifusão (concessão da chamada televisão aberta e emissoras de rádio, reguladas pela Lei 4.117/1962 e pelo Decreto 52.795/1963) em que o concessionário não recebe qualquer receita diretamente do usuário do serviço público ou do poder concedente e sustenta economicamente toda concessão a partir da exploração das fontes supostamente ancilares como a comercialização de publicidade.
É bem verdade que, nesses casos, a receita que em regra seria considerada acessória torna-se principal – ao menos do ponto de vista de sua relevância econômica -, pois o modelo econômico-financeiro da concessão não busca sustentabilidade ou viabilidade somente a partir recebimento de tarifas pagas pelos usuários, ou a partir de contraprestações pecuniárias pagas pelo poder concedente, as quais, como já se viu, são normalmente consideradas como receitas principais em uma concessão.
Mais importante, entretanto, do que o nomen juris ou do que a classificação jurídica da receita é que se recorde sempre que as chamadas receitas ancilares podem ser tanto ou mais significativas para o sucesso de um contrato de concessão, quanto as receitas tradicionalmente entendidas como principais (tarifas, contraprestações, subsídios ou subvenções) e que a identificação da oportunidade de exploração das atividades que são fonte receitas decorre do bom planejamento da concessão, melhor dizendo, depende da qualidade dos estudos prévios de viabilidade do contrato.
A Lei de Concessões e Permissões – Lei 8987/95 – menciona a possibilidade de receitas alternativas em dois momentos. Vejamos:
Art. 11. No atendimento às peculiaridades de cada serviço público, poderá o poder concedente prever, em favor da concessionária, no edital de licitação, a possibilidade de outras fontes provenientes de receitas alternativas, complementares, acessórias ou de projetos associados, com ou sem exclusividade, com vistas a favorecer a modicidade das tarifas, observado o disposto no art. 17 desta Lei.
Art. 18. O edital de licitação será elaborado pelo poder concedente, observados, no que couber, os critérios e as normas gerais da legislação própria sobre licitações e contratos e conterá, especialmente:
VI - as possíveis fontes de receitas alternativas, complementares ou acessórias, bem como as provenientes de projetos associados;
Fontes alternativas de receitas são quaisquer receitas diferentes das tarifas. O Professor Matheus Carvalho cita o seguinte exemplo: “possibilidade de uma empresa de transporte colocar placas de publicidades em seus ônibus, cobrando valores dos empresários que se beneficiam com a propaganda, ou mesmo definir um valor de subsídio feito pelo poder concedente para acrescer ao valor das tarifas cobradas.” (Matheus Carvalho. Manual de Direito Administrativo. 3ª ed. pg. 627)
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