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O ___________ reflete sempre uma noção estereotipada e em geral negativa sobre um indivíduo ou grupo. O termo que melhor preenche a lacuna é

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Monkaa Oliveira

preconceito

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Resposta: O PRECONCEITO reflete sempre uma noção estereotipada e em geral negativa sobre um indivíduo ou um grupo.

Do debate sobre PRECONCEITO e SEGREGAÇÃO:

O conceito de segregação pode ser compreendido, de forma ampla, nos seguintes termos:

1. “ato ou processo de isolar ou ser isolado de outros ou de um corpo principal ou grupo; discriminação”; “toda gama de práticas discriminatórias” (HOUAISS, 2009: 1721)

2. “modalidade subjetiva de separação em que a minoria racial julgada inferior é apartada do convício da maioria; discriminação racial” (HOUAISS, 2009: 1721)

3. “tratamento pior ou injusto dado a alguém por causa de características pessoais; intolerância, preconceito”; “ato que quebra o princípio da igualdade, como distinção, exclusão, restrição ou preferências, motivado por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso ou convicções políticas” (HOUAISS, 2009: 693)

Sendo então segregação “toda gama de práticas discriminatórias”, e discriminação todo forma de “tratamento pior ou injusto dado a alguém por cauda de características pessoais”, nas ciências sociais o debate surge em diversos autores no sentido de compreender as formas de tratamento baseadas em preconceitos surgidos a partir características individuais, enquanto ação coletiva e por isso socialmente estruturante. Citaremos dois:

1. Norbert Elias, em Os Estabelecidos e os Outsiders (2000), tem como objeto de estudo dois bairros de Winston Parva, uma pequena cidade industrial britânica. Os habitantes de ambos os bairros possuem as mesmas características étnicas e econômicas, a diferença entre os bairros é que um deles aglutina os moradores mais antigos, e outro moradores recentes.

“Atualmente há uma tendência a discutir o problema da estigmatização social como se ele fosse uma simples questão de pessoas que demonstram, individualmente, um desapreço acentuado por outras pessoas como indivíduos. Um modo conhecido de conceituar esse tipo de observação é classificá-la como preconceito. Entretanto, isso equivale discernir apenas no plano individual algo que não pode ser entendido sem que se o perceba, ao mesmo tempo, no nível do grupo. Na atualidade, é comum não se distinguir a estigmatização grupal e o preconceito individual e não relacioná-los entre si. Em Winston Parva, como em outros lugares, viam-se membros de um grupo estigmatizando os outros, não por suas qualidades individuais como pessoas, mas por eles perceberem a um grupo coletivamente considerados diferentes e inferior ao próprio grupo.” (ELIAS, 2000: 23)

“Um grupo só pode estigmatizar outro com eficácia quando está bem instalado em posições de poder das quais o grupo estigmatizado é excluído. Enquanto isso acontece, o estigma de desonra coletiva impugnado aos outsiders pode fazer-se prevalecer. O desprezo absoluto e a estigmatização unilateral e irremediável dos outsiders, tal como a estigmatização dos intocáveis pelas castas superiores da Índia ou a dos escravos africanos ou seus descendentes na América, apontam para um equilíbrio de poder muito instável. Afixar o rótulo de ‘valor humano inferior’ a outro grupo é uma das armas usadas pelos grupos superiores nas disputas de poder, como meio de mantes sua superioridade social. Nessa situação, o estigma social imposto pelo grupo mais poderoso ao menos poderoso costuma penetrar na auto-imagem deste último e, com isso, enfraquece-lo e desarmá-lo.” (ELIAS, 2000: 24).

2. Michelle Alexander, em A nova segregação: racismo e encarceramento em massa (2017), ao trazer o debate do encarceramento em massa da população negra nos EUA como sendo uma atualização do processo histórico de segregação racial, retoma os mecanismos de segregação do passado (a lei Jim Crow, por exemplo) para demonstrar o quando o presente ainda mantém viva essas raízes, e o faz mediante a uma complexa e recente forma de efetivar a segregação entre classes/raça.

“ ‘Lá atrás, antes do Jim Crow, antes da invenção do Negro ou do homem branco ou das palavras e dos conceitos para descrevê-los, a população consistia majoritariamente em uma grande massa de escravos brancos e negros, que ocupavam a mesma categoria econômica embrutecida e eram tratados com igual desprezo pelos senhores das plantations e das legislaturas. Curiosamente, despreocupados com a sua cor, essas pessoas trabalhavam e descansavam juntas.’ Lerone Bennett Jr.” (ALEXANDER, 2017: 62).

“Como sabemos, as leis do Jim Crow determinavam a segregação residencial, os negros eram relegados às piores partes da cidade. As estradas literalmente terminavam na fronteira de muitos bairros negros, mudando do asfalto para a terra batida. Água, sistemas de esgoto e outros serviços públicos disponíveis nas áreas brancas da cidade frequentemente não se estendiam às áreas negras. A extrema pobreza que atormentava os negros devido a seu status de inferioridade legalmente sancionado era em grande parte invisível aos brancos – desde que os brancos permanecessem em seus próprios bairros, o que eles estavam inclinados a fazer. A segregação racial tornou a experiência negra em grande medida invisível aos brancos, que passavam a ter maior facilidade para mantes estereótipos raciais a respeito dos valores e da cultura dos negros. Isso também tornava mais fácil negar ou ignorar seu sofrimento.” (ALEXANDER, 2017: 277).

“O encarceramento em massa funciona de modo semelhante. Ele consegue a segregação racial ao separar da sociedade os prisioneiros – a maioria dos quais são pretos e pardos. Eles são mantidos atrás das grades, normalmente a mais de 150 km de casa. Mesmo as prisões – seus edifícios – raramente são vistos por muitos estadunidenses, já que costumam estar localizados longe dos centros populacionais. Embora os municípios rurais contenham apenas 20% da população estadunidense, 60% das construções de novas prisões se situam neles. Os prisioneiros estão, portanto, escondidos da visão do público – fora do campo de visão, fora da mente. Em certo sentido, o encarceramento é uma forma muito extrema de segregação física e residencial do que a promovida pelo Jim Crow. Em vez de simplesmente remover os negros para o outro lado da cidade ou encurralá-los em guetos, o encarceramento em massa os deixa trancados em jaulas. Grades e paredes mantêm centenas de milhares de pessoas pretas e pardas longe da sociedade – uma forma de apartheid diferente das que o mundo já viu.” (ALEXANDER, 2017: 277 – 278).

“O encarceramento em massa, assim, perpetua e aprofunda padrões preexistentes de segregação e isolamento racial, não apenas removendo pessoas não brancas da sociedade e pondo-as em prisões, mas jogando-as de volta em guetos após sua libertação. Se tivessem recebido uma chance na vida e não disso rotulados como bandidos, jovens não brancos poderiam ter escapado de suas comunidades no gueto – ou ajudado a transformá-las –, em vez disso se encontram presos num circuito fechado de marginalidade perpétua, circulando entre o gueto e a prisão.” (ALEXANDER, 2017: 279 – 280).

“Os guetos racialmente segregados e atingidos pela pobreza presente nas áreas centrais das grandes cidades em todo o país não existiriam hoje se não fossem as políticas governamentais racialmente preconceituosas nunca de fato reparadas. Assim, todos os anos, centenas de milhares de pessoas pobres não brancas que foram alvo da Guerra às Drogas são forçadas a voltar a essas comunidades racialmente segregadas – bairros ainda mutilados pelo legado de um sistema de controle anterior. Do ponto de vista prático, elas não têm outra escolha. Dessa forma, o encarceramento em massa, assim como fazia seu predecessor, o Jim Crow, cria e mantém a segregação racial.” (ALEXANDER, 2017: 280).

 

Referências bibliográficas:

HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Messo. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

ALEXANDER, Michelle. A nova segregação: racismo e encarceramento em massa. São Paulo: Boitempo, 2017.

ELIAS, Norbert. Os Estabelecidos e os Outsider: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2000.

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