CASO CLÍNICO No 6 Fonte: Clement A, Raney JJ, Wasserman GS, Lowry J. Chronic amitriptyline overdose in a child. Clinical Toxicology (2012), 50 (5): 431-434. IDENTIFICAÇÃO: paciente 6 anos, sexo feminino, cor branca, 19 Kg. QUEIXA PRINCIPAL: convulsões tônico-clônicas generalizadas. ANTECEDENTES PESSOAIS E PATOLÓGICOS: TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) USO DE MEDICAMENTOS: guanfacine: duas vezes ao dia (1mg antes do café da manhã e 0,5mg após o almoço); amitriptilina: 30 mg (1,5 mg/Kg) à noite, este último fármaco foi prescrito na última consulta médica, há aproximadamente um mês. HISTÓRIA DA MOLÉSTIA ATUAL: a paciente foi encontrada pela mãe, na cama, apresentando convulsões tônico-clônicas generalizadas. Durante o atendimento pela equipe de resgate, a criança teve novo episódio convulsivo, sem retorno ao baseline do estado mental. Foi transferida para o hospital mais próximo, onde foi medicada com lorazepam (0,25mg - IV) e, posteriormente, com levetiracetam (20mg/Kg). EXAME FÍSICO: na admissão apresentava os seguintes sinais vitais: Temperatura = 36,6oC; FC = 150 bpm com ritmo regular; FR = 18 irpm; PA = 105 x 71 mmHg; Sat.O2 = 97% em ar ambiente; pupilas midriáticas, minimamente reativa à luz. Encontrava-se em estado pós-ictal, sedada (dificultando a avaliação neurológica completa), porém, responsiva a estímulo doloroso, sem novas crises convulsivas. No segmento abdominal, observou-se a presença de uma massa suprapúbica grande e firme. A tomografia axial computadorizada (TAC) mostrou-se sem particularidades, mas, o ECG apresentou alterações importantes (Fig. 1). Exames complementares foram realizados e estão relacionados em anexo. A mãe da paciente referiu estar preocupada com a filha há um mês, notando alteração de comportamento, principalmente à noite, com recorrência da enurese, a qual não se manifestava há vários anos. Além disso, a criança queixava-se, com frequência, de visão borrada, e apresentava períodos de fraqueza inexplicável. Quarenta e oito horas antes do episódio convulsivo, a mãe a encontrou emitindo gemidos e sons incompreensíveis, arrastando-se e debatendo-se no chão. De acordo com o histórico médico, a criança havia iniciado o uso de amitriptilina para tratamento de distúrbios do sono, sendo prescrito uma dose de 30 mg à noite. Entretanto, observou-se que o frasco do medicamento continha comprimidos de 100mg ao invés de 10mg e, as instruções recomendavam a ingestão de três comprimidos, totalizando 300mg. Ao contar os comprimidos restantes, havia 18 remanescentes de um total de 120. CONDUTA REALIZADA: a partir dessas informações, solicitou-se acompanhamento de um serviço de Toxicologia. Foi introduzido um cateter de Foley para alívio da retenção urinária aguda (200 mL). Em função das alterações eletrocardiográficas, administrou-se 2 mEq/Kg de bicarbonato de sódio, seguido de 0,25 mEq/Kg/h. Após 5 horas do início da infusão de bicarbonato, novo ECG foi realizado, mostrando melhora, mas, sem normalização. Por esta razão, o uso de bicarbonato foi mantido até a resolução completa das alterações observadas (5o dia – Fig. 2). Os níveis de antidepressivos tricíclicos foram monitorados na admissão e durante o período de hospitalização (Fig. 3). Como a criança evoluiu hemodinamicamente estável, nenhum outro fármaco foi utilizado. Recebeu alta hospitalar no 7o dia.
DISCUTIR: • O mecanismo de toxicidade do fármaco envolvido e as manifestações clínicas decorrentes desse mecanismo. • A evolução clínica da paciente, os resultados dos exames complementares e o tratamento farmacológico utilizado. • Justificativa para a sobrevida da paciente em vista da ingestão potencialmente fatal. • O risco-benefício da prescrição do medicamento neste caso. EXAMES LABORATORIAIS
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