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Ação civil pública corresponde a um remédio constitucional?

Gostaria saber se a ação civil pública corresponde sim ou não a um remédio constitucional, pois em alguns sites encontro como que é, e em outros que não.

💡 3 Respostas

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Ricardo Lopes

Boa Noite.

Não é um remédio constitucional Pedro, pois estes são meios postos a disposição do indivíduo contra Estado visando sanar alguma ilegalidade ou abuso de poder; Já a ação civil pública é um instrumento processual, destinado a defesa de interesses difusos e coletivos.

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Caroline Moi

A AÇÃO CIVIL PÚBLICA É REMÉDIO CONSTITUCIONAL

Modernamente, como se sabe, o direito de ação é considerado um direito subjetivo não só público como também autônomo, o que significa, em termos singelos, que pode ser exercitado mesmo que o autor não seja efetivamente o titular do direito material por ele pleiteado no pedido mediato, fato que pode ser facilmente evidenciado quando verificamos os casos em que a ação é julgada improcedente.

Portanto, devemos insistir, a ação é sempre pública. Contudo, não podemos deixar de ressaltar que parte da doutrina (e até mesmo alguns dispositivos normativos) ainda faz distinção entre ação pública e ação privada, afirmando que a diferença entre direito público e direito privado, no campo do direito material, deve projetar-se também na seara do direito processual, em razão do tipo de legitimado para agir que atua no feito.

De fato, para esses doutrinadores, quando o poder de agir for exercitado por um agente público estatal, que age por dever de ofício, independentemente de qualquer provocação de terceiros, estaremos diante de uma ação pública. Seria o caso das ações promovidas pelo Ministério Público, tanto na esfera penal, como na esfera civil. Por outro lado, quando a legitimidade ativa da ação for atribuída exclusivamente ao titular do direito material invocado, aí teremos uma ação privada.

Nesse sentido, por exemplo, é o entendimento de Hugo Nigro Mazzilli, para quem, sob o aspecto doutrinário, a ação civil pública seria exclusivamente a ação de objeto não penal proposta pelo Ministério Público. Para todos os demais legitimados desta espécie de ação constitucional, que nada mais é que uma das modalidades de ação coletiva, o correto seria denominá-la ação coletiva. Eis as palavras do autor sobre o tema:

“Como denominaremos, pois, uma ação que verse a defesa de interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos? Se ela estiver sendo movida pelo Ministério Público, o mais correto, sob o prisma doutrinário, será chamá-la de ação civil pública. Mas se tiver sido proposta por associações civis, mais correto será denominá-la de ação coletiva."

Contudo, como reconhece aquele ilustre doutrinador, a própria Lei nº 7.347/1985 não faz tal distinção, considerando como ação civil pública, desde que destinada à defesa dos bens e interesses por ela tutelados, a demanda proposta por quaisquer dos legitimados nela relacionados, até mesmo por aqueles com personalidade jurídica de direito privado. E, em nosso entender, o legislador agiu bem ao assim proceder, tendo em vista que a ação, como vimos, é sempre pública.

Como já mencionamos em outras oportunidades, a ação civil pública não está expressamente prevista no Título II da Constituição (mais especificamente no artigo 5º), que trata dos direitos e garantias fundamentais. Esta circunstância, contudo, não lhe retira a inequívoca feição de ação constitucional, destinada a tutelar, de maneira semelhante ao que se dá com os demais remédios constitucionais, direitos e garantias constitucionais (fundamentais) que não estejam sendo respeitados, seja pelo Poder Público, seja por particulares.

O primeiro diploma normativo a tratar especificamente da chamada ação civil pública é anterior à Constituição Federal de 1988. Trata-se da já revogada Lei Complementar nº 40, de 14 de dezembro de 1981, a antiga Lei Orgânica do Ministério Público, que dispunha, em seu artigo 3º, inciso III, estar entre as funções institucionais do Ministério Público a promoção da ação civil pública, sem fornecer, contudo, quaisquer esclarecimentos sobre a natureza e o objeto daquele instrumento processual.

A insigne Maria Sylvia Zanella di Pietro nos lembra, contudo, que o primeiro diploma a tratar dessa ação, muito embora sem denominá-la explicitamente de ação civil pública, foi a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, a qual definiu a política nacional do meio ambiente e concedeu expressamente, em seu artigo 14, § 1º, legitimação ao Ministério Público para propor ação de responsabilidade civil por danos ao meio ambiente.

Com a promulgação da Carta Magna de 1988, contudo, referida ação conquistou foro constitucional, passando a ser expressamente prevista no artigo 129, que trata das funções institucionais do Ministério Público. O inciso III daquele dispositivo da Constituição é claro e inequívoco em conferir ao Ministério Público a competência para promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.

Da simples leitura do dispositivo constitucional suprarreferido, percebe-se que a ação civil pública tem por principal objetivo a proteção do patrimônio público e social e também dos chamados direitos metaindividuais ou transindividuais, também denominados de interesses ou direitos coletivos em sentido lato, gênero do qual são espécies os direitos difusos, os coletivos em sentido estrito e os individuais homogêneos.

Por outro lado, quando estudamos os direitos e garantias fundamentais vimos que aqueles direitos coletivos em sentido amplo, que estão definidos pelo artigo 81, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor, são considerados direitos fundamentais de terceira geração. Inequívoco, portanto, que a ação civil pública também é uma ação constitucional, ou uma garantia instrumental, que tem por fim precípuo não só proteger o patrimônio público e social, como também dar efetividade a direitos e garantias fundamentais, quando estes estiverem sendo desrespeitados, seja pelo Poder Público, seja por particulares no exercício de atribuições do Estado.

Esse entendimento, também já o mencionamos, é expressamente defendido por doutrinadores de escol. Podemos citar, a título de exemplo, Manoel Gonçalves Ferreira Filho, que trata da ação civil pública ao lado dos demais remédios constitucionais. Nas palavras deste autor, “a ação civil pública, embora não prevista no Título II da Constituição – ‘Dos direitos e garantias fundamentais’, alinha-se às demais garantias instrumentais dos direitos constitucionalmente deferidos”.

No mesmo sentido é a lição de Gregório Assagra de Almeida, para quem “a Constituição da República Federativa do Brasil, confirmando a sua preocupação com a tutela dos direitos de massa, deu dignidade constitucional à denominada ação civil pública, e esse instrumento processual passou a ser também um verdadeiro remédio constitucional de tutela dos interesses e direitos massificados”.

Portanto, devemos insistir, a ação civil pública é efetivamente uma das espécies de remédios constitucionais albergados pela Carta Magna de 1988. Contudo, ao contrário do habeas corpus, do mandado de segurança individual, do mandado de injunção individual e do habeas data, os quais têm por escopo a tutela de direitos e garantias individuais, referida ação de índole constitucional tem por objeto, além da proteção do patrimônio público e social, a tutela dos chamados direitos coletivos em sentido amplo.

(Texto extraído do meu "Direito Processual Constitucional", 4ª edição, Editora Atlas)

 
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DLRV Advogados

Sim.

Os remédios constitucionais são institutos que garantem aos cidadãos os direitos fundamentais previstos na Constituição quando o Estado não cumpre seu dever, seja por despreparo, ilegalidade ou abuso de poder. 

Desta forma, a Ação Civil Pública deve ser considerada um remédio constitucional.

"Art. 1º da Lei 7.347/85.  Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: 

l - ao meio-ambiente;

ll - ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.  

V - por infração da ordem econômica;   

VI - à ordem urbanística.  

VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos.   

VIII – ao patrimônio público e social.

[...]" 

Os remédios constitucionais previstos na Constituição são: 

  • Habeas Corpus (artigo 5º, LXVIII);
  • Habeas Data (artigo 5º, LXXII e lei 9.507/1997);
  • Mandado de Segurança (artigo 5º, LXIX e lei 12.016/2009);
  • Mandado de Injunção (artigo 5º, LXXI e lei 13.300/2016);
  • Ação Popular (artigo 5º, LXXIII e lei 4.717/1965); e
  • Ação Civil Pública (artigo 129, III e lei 7.347/85).
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