Algumas características do direito egípcio surpreendem por parecerem tão evoluídas e individualistas com o direito romano clássico, que viria dois mil anos mais tarde. A ideia de propriedade privada era bem desenvolvida e os contratos faziam parte da interação dos cidadãos, inclusive de quem fazia parte da complexa escravatura egípcia, servindo para atestar atos de venda, doação, fundação etc. A princípio estes documentos eram assinados pelas duas partes e com o tempo passou para a intermediação de um escriba, que além de redigir o contrato o assinava para certificá-lo. Todos os bens, imóveis e móveis eram alienáveis e entravam na dinâmica da grande mobilidade de bens da época.
O Egito Antigo também tinha seus tribunais. A partir do Império Novo (período entre 1550 a. C e 1070 a. C), os egípcios contavam com o Kenbet, um conselho de anciãos responsável por decidir pequenas causas. Para crimes mais graves, envolvendo assassinato e roubos de túmulos, os acusados eram direcionados ao Kenbet att, outro conselho presidido pelo faraó e pelo vizir. Acusadores e acusados representavam a si próprios, tendo que argumentar sob um juramento de que fosse dita a verdade. Para acusações recorrentes ou muito sérias, os escribas da corte documentavam a denúncia e o veredicto do caso era guardado para referência futura (jurisprudência). Os culpados de crimes menores eram punidos com multas, espancamentos, mutilações faciais ou exílios, enquanto os responsáveis por crimes maiores eram decapitados, afogados ou empalados em uma estaca.
Não é possível precisar exatamente quando essas medidas entraram em vigor, mas podemos fazer uma associação orgânica baseada nos três períodos históricos do Antigo Egito. Antigo Império, quando donos de grandes propriedades e faraós entraram em conflito por influência política; Médio Período, quando os faraós venceram esta disputa; e o Novo Império, marcado por muitas conquistas territoriais e posteriormente por perdas, enfraquecendo o poder do Estado e causando a tomada do Egito pelos assírios, persas, gregos e romanos (de 670 a. C a 30 a. C).
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