Princípios do direito ambiental que devem ser especialmente observados pela administração:
“O desenvolvimento sustentável, no conceito clássico do Relatório Nosso Futuro Comum (Relatório Brundtland), é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”.
Ele é previsto em diversos princípios da Declaração do Rio (1992), que proclama que os seres humanos constituem o centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável (Princípio 1) e que, para alcançá-lo, a proteção ambiental deve ser considerada parte integrante do desenvolvimento e não pode ser dissociada dele (Princípio 4). Reconhece que o desenvolvimento deve considerar o uso equitativo dos recursos naturais, em atenção às necessidades tanto da presente quanto das futuras gerações (Princípio 3). Ademais, “todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo” (Princípio 5) e, de igual forma, “para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas demográficas adequadas” (Princípio 8).”
“Segundo Michel Prieur, “a prevenção consiste em impedir a superveniência de danos ao meio ambiente por meio de medidas apropriadas, ditas preventivas, antes da elaboração de um plano ou da realização de uma obra ou atividade”.
O princípio da prevenção é aplicável ao risco conhecido.
Entende-se por risco conhecido aquele identificado por meio de pesquisas, dados e informações ambientais ou ainda porque os impactos são conhecidos em decorrência dos resultados de intervenções anteriores, por exemplo, a degradação ambiental causada pela mineração, em que as consequências para o meio ambiente são de conhecimento geral. É a partir do risco ou perigo conhecido que se procura adotar medidas antecipatórias de mitigação dos possíveis impactos ambientais.
São exemplos de aplicação do princípio da prevenção:
Cabe à administração pública valer-se desses institutos para prevenir danos ambientais.
“O princípio da precaução encontra-se previsto no Princípio 15 da Declaração do Rio (1992), que assim postula: “Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.
Esse é um princípio atrelado à incerteza científica.
No princípio da precaução o que se configura é a ausência de informações ou pesquisas científicas conclusivas sobre a potencialidade e os efeitos de determinada intervenção sobre o meio ambiente e a saúde humana. Ele atua como um mecanismo de gerenciamento de riscos ambientais, notadamente para as atividades e empreendimentos marcados pela ausência de estudos e pesquisas objetivas sobre as consequências para o meio ambiente e a saúde humana.”
Portanto, havendo ameaça de danos gravese ausência de certeza científica, a administração pública deve se portar de forma defensiva para prevenir a degradação ambiental.
“É um princípio de natureza econômica, cautelar e preventiva, que compreende a internalização dos custos ambientais, que devem ser suportados pelo empreendedor, afastando-os da coletividade.
Segundo Cristiane Derani, o princípio do poluidor-pagador “visa à internalização dos custos relativos externos da deterioração ambiental (…). Pela aplicação desse princípio, impõe-se ao “sujeito econômico” (produtor, consumidor, transportador), que nesta relação pode causar um problema ambiental, arcar com os custos da diminuição ou afastamento do dano”.
Conforme o Princípio 16 da Declaração do Rio (1992), “as autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais”.
Na legislação infraconstitucional, o princípio está expresso no inciso VII do art. 4º da Lei nº 6.938/1981, ao se afigurar na Política Nacional do Meio Ambiente como objetivo que vise ‘à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados (…)’.
“Trata-se de princípio complementar ao poluidor-pagador, a ponto de alguns doutrinadores o estudarem como um princípio único. Inobstante, a opção é pela abordagem particular de cada um deles.
Está previsto no inciso VII do art. 4º da Lei nº 6.938/1981 como um dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, com a imposição “(…) ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”.
O princípio do usuário pagador é decorrente da necessidade de valoração econômica dos recursos naturais, de quantificá-los economicamente, evitando o que se denomina “custo zero”, que é a ausência de cobrança pela sua utilização. O “custo zero” conduz à hiperexploração de um bem ambiental que, por consequência, leva à sua escassez. Como exemplo, ao não se valorar o custo pela utilização da água, sua exploração e utilização serão inevitavelmente feitas de forma excessiva, com a diminuição da disponibilidade desse bem fundamental para a vida.”
“O protetor-recebedor foi positivado com a Lei nº 12.305/2010, que o cristalizou como um dos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Enquanto o princípio do usuário-pagador estabelece o pagamento pelo uso dos recursos naturais com fins econômicos, o princípio do protetor-recebedor concede aos agentes que optam por medidas de proteção ao meio ambiente benefícios econômicos, fiscais ou tributários.
(...)
Podemos enumerar alguns exemplos de aplicação do princípio do protetor-recebedor:
“O direito de acesso à informação é uma das principais prerrogativas para a efetivação do Estado Democrático de Direito. No direito ambiental, a informação é essencial para a proteção do meio ambiente e por zelar pela saúde da coletividade.
O Princípio 10 da Declaração do Rio (1992) aduz que, “(…) no nível nacional, cada indivíduo terá acesso adequado às informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações acerca de materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar dos processos decisórios. Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos (…)”.
A Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981), no inciso V do art. 4º, igualmente relaciona a informação ambiental como um de seus objetivos, que visa “(…) à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico”.
Além disso, o governo federal criou o Sistema Nacional de Informações Ambientais (Sinima), visando articular as informações dos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama).
A fim de garantir a efetivação desse princípio editou-se a Lei nº 10.650/2003, que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações ambientais existentes nos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama). Para tanto, qualquer indivíduo, independentemente da comprovação de interesse específico, terá acesso às informações ambientais, mediante requerimento escrito, sobre os seguintes aspectos: a) qualidade do meio ambiente; b) políticas, planos e programas potencialmente causadores de impacto ambiental; c) resultados de monitoramento e auditoria nos sistemas de controle de poluição e de atividades potencialmente poluidoras, assim como planos e ações de recuperação de áreas degradadas; d) acidentes, situações de risco ou de emergência ambientais; e) emissões de efluentes líquidos e gasosos, e produção de resíduos sólidos; f) substâncias tóxicas e perigosas; g) diversidade biológica; h) organismos geneticamente modificados (art. 2º). Devemos ressaltar que o indivíduo que acessar esses dados assume a obrigação de não utilizá-los para fins comerciais, sob as penas da lei civil, penal, de direito autoral e de propriedade industrial, assim como é obrigado a citar as fontes, na eventualidade de divulgar os dados obtidos (art. 2º, § 1º).”
“Com o acesso às informações ambientais, faz-se necessário franquear instrumentos de participação comunitária no processo de formulação das políticas públicas ambientais. Em vez da submissão às decisões prontas, é preciso que o cidadão participe do debate, da formulação, da execução e da fiscalização das políticas públicas ambientais, em contribuição à democracia participativa.
Dispõe a Declaração do Rio (1992) em seu Princípio 10: “(…) Os Estados irão facilitar e estimular a conscientização e a participação popular, colocando as informações à disposição de todos. Será proporcionado o acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que se refere à compensação e reparação de danos”.
(...)
Em termos gerais, a participação comunitária se desdobra em três aspectos:
Na esfera administrativa, o princípio se manifesta por meio de audiências e consultas públicas; com a participação em órgãos colegiados (conselhos de meio ambiente); e no exercício do direito de petição aos órgãos públicos ambientais.
Na esfera legislativa, aplicam-se os instrumentos clássicos elencados no art. 14 da Constituição Federal, a saber: plebiscito, referendo e iniciativa popular de projeto de lei.
A participação na esfera judicial, observada a legitimidade para a propositura, ocorre por meio das ações constitucionais, tais como mandado de segurança individual ou coletivo, a ação popular, o mandado de injunção.”
“É obrigação do Poder Público “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (art. 225, § 1º, VI).
Trata-se de instrumento fundamental para que se alcance a compreensão da importância de um meio ambiente ecologicamente equilibrado.
A Lei nº 9.795/1999 disciplinou o tema e definiu que se entendem por educação ambiental “os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
Ainda segundo esse diploma legal, a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, presente em todos os níveis, formais e não formais. Por essa relevância, garantiu a educação ambiental como um direito de todos, com incumbências ao Poder Público, às entidades educacionais, aos meios de comunicação e à sociedade em geral.
Com a educação ambiental, estimula-se a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.” (Direito Ambiental. 2ªed. e-book. pgs. 87)
“Cooperar significa agir em conjunto e, para o direito ambiental, a cooperação ocorre tanto na esfera internacional quanto nacional.
A importância da cooperação internacional é objeto de vários princípios da Declaração do Rio (1992), que assim prescreve: “(…) todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa essencial de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo” (Princípio 5). Além disso, “(…) os Estados irão cooperar, em espírito de parceria global, para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre” (Princípio 7), e cooperar “(…) na promoção de um sistema econômico internacional aberto e favorável, propício ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável em todos os países, de forma a possibilitar o tratamento mais adequado dos problemas da degradação ambiental” (Princípio 12); e, mais, “(…) os Estados irão desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e à indenização das vítimas de poluição e de outros danos ambientais. Os Estados irão também cooperar, de maneira expedita e mais determinada, no desenvolvimento do direito internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização por efeitos adversos dos danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle” (Princípio 13). Conclui nos seguintes termos: “Os Estados e os povos irão cooperar de boa-fé e imbuídos de um espírito de parceria para a realização dos princípios consubstanciados nesta Declaração, e para o desenvolvimento progressivo do direito internacional no campo do desenvolvimento sustentável” (Princípio 27).
A cooperação internacional para a preservação do meio ambiente é um dos capítulos da Lei nº 9.605/1998, com prescrições em seus arts. 77 e 78.
No plano interno, as distribuições das competências constitucionais (arts. 21, 22, 23, 24, 25 e 30 da CF) no modelo do federalismo cooperativo permite que todos os entes atuem na proteção ambiental, visando ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Além disso, o caput do art. 225 coloca como dever do Poder Público e da coletividade a proteção ao meio ambiente, como obrigação comum e obrigatória.”
“O meio ambiente é, segundo o art. 225 da Constituição de 1988, bem de uso comum do povo, indisponível e insuscetível de apropriação. O meio ambiente é considerado como valor a ser necessariamente assegurado e protegido para uso de todos, já que é um bem de fruição humana coletiva.
Nesse sentido, ‘(…) a natureza pública que qualifica o interesse na tutela do ambiente, bem de uso comum do povo, torna-o indisponível. Não é dado, assim, ao Poder Público – menos ainda aos particulares – transigir em matéria ambiental, apelando para uma disponibilidade impossível’.”
“Também denominado de princípio “da vedação de retrocesso ambiental” ou “princípio da proibição de retrogradação socioambiental”. Reveste-se de princípio implícito.
O STJ possui julgado reconhecendo o princípio da proibição de retrocesso, a saber (grifos nossos):
‘O exercício do ius variandi, para flexibilizar restrições urbanístico-ambientais contratuais, haverá de respeitar o ato jurídico perfeito e o licenciamento do empreendimento, pressuposto geral que, no Direito Urbanístico, como no Direito Ambiental, é decorrência da crescente escassez de espaços verdes e dilapidação da qualidade de vida nas cidades. Por isso mesmo, submete-se ao princípio da não regressão (ou, por outra terminologia, princípio da proibição de retrocesso), garantia de que os avanços urbanístico-ambientais conquistados no passado não serão diluídos, destruídos ou negados pela geração atual ou pelas seguintes’ (REsp nº 302.906, DJe 01.12.2010).”
“Enquanto o princípio da proibição de retrocesso ecológico pretende a proteção contra as retrogradações, como forma de impedir níveis de proteção inferiores, o princípio do progresso ecológico impõe ao Estado a obrigatoriedade de rever e aprimorar a legislação e os mecanismos de proteção ao meio ambiente.
Conforme Alexandra Aragão, o princípio identifica-se com a ideia de não estagnação, com o dever de o Estado aprimorar a legislação existente. Afinal, a proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado não é somente para o presente, mas igualmente para as gerações futuras, e, portanto, faz-se inescusável a adoção de medidas legislativas e administrativas para a melhoria da qualidade ambiental.”
Fonte: Fabiano Melo. Direito Ambiental. 2ªed. e-book. pgs. 87 e 142-160.
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