Primeiro passo: definir o problema e encontrar a solução.
O cliente te procurou e ele tem um problema. Como você descobriu a solução para o problema dele? Talvez você sabia a solução porque conhece bem o assunto, ou já estudou e pesquisou o problema e encontrou a solução.
O que eu quero saber é: como você sabe que precisa de um modelo de petição inicial? E de um modelo de petição inicial específico? Você descobriu de alguma maneira.
O que é “ter uma solução”? O cliente te contou os fatos. Ele te mostrou as provas que possui. E você já sabia ou descobriu o direito que precisa ser aplicado. Aplicar esse direito através de uma ação judicial é a solução.
Olhe o modelo lá em cima. Ele tem três capítulos: FATOS, DIREITO e PEDIDOS. A que correspondem cada um desses capítulos?
“Mas isso é óbvio”. Sim. É óbvio. E por que complicar?
Quando não existiam computadores ou máquinas de escrever, as petições eram escritas à mão. Você acha que elas se estendiam por páginas e páginas? Não. Os advogados mantinham as coisas simples, curtas e claras. Então, mantenha as coisas simples, curtas e claras.
Você sabe quais são os fatos e as provas? Qual é o direito a ser aplicado e qual a solução final?
A seguir, eu vou conduzir você passo a passo na elaboração de uma petição inicial.
FATOS
Antes de começar a escrever os fatos, pense o seguinte. Você chegou em casa depois de um dia de trabalho. Teve a reunião com o novo cliente. Agora vai trabalhar na petição inicial do caso. É uma história interessante e você decide contar para a sua esposa ou para o seu marido.
Como você contaria essa história? Você consegue fazer isso?
Talvez você já faça isso…E é exatamente disso que se trata. De contar por escrito o que você consegue contar falando.
Alguns advogados dificultam a narrativa dos fatos porque tentam escrever “com estilo”. Lembre-se que você não está escrevendo uma peça de teatro. Você só quer passar uma mensagem para o juiz.
Agora vá aos fatos. Escreva a história do seu cliente. Não complique. Siga uma ordem simples, respondendo essas cinco perguntas:
Onde tudo começou?
Tudo começa introduzindo o juiz na história.
Se é um divórcio, tudo começou no casamento. “Desde o ano tal, autor e réu são casados.”
Se é um habeas corpus, tudo começou na prisão. “No dia tal, o autor foi preso.”
Se é uma ação de indenização, tudo começou no início da relação entre autor e réu. “Desde o ano tal, o autor contratou os serviços da ré”.
Então o que aconteceu?
Depois, conclua a história. Tudo começou e algo aconteceu.
Ele foi preso. Mas a prisão é ilegal.
Ele se inscreveu no concurso. Então foi eliminado de forma ilegal.
Ele contratou os serviços da empresa. Porém a empresa praticou um ato ilegal…
Isso é o resumo do processo. Havia uma relação entre o autor e a ré, então aconteceu algo ilegal.
Quais são as provas?
Você já tem uma história. Mas de onde saiu essa história? É preciso provas. Reúna todos os documentos, e-mails, elabore uma declaração.
Qual o contexto?
Essa história está muito pobre. Está faltando um meio. Está faltando um contexto. Existem outras coisas que o juiz precisa saber.
Os porquês vão enriquecer sua história. Mas lembre-se de ser simples, curto e claro.
Para te ajudar a verificar se sua história traz todos os detalhes, veja se foram respondidas todas as perguntas do famoso Hexâmetro de Quintiliano, lembrado por João Mendes de Almeida Júnior:
O que você quer?
Você tem uma história. Tem provas dessa história. E o que você quer? Esse é o final dos seus fatos.
DIREITO
Vá ao direito. Essa parte pode ser simples. Ou pode ser muito complicada.
O segredo aqui é explicar:
Normalmente, esses porquês são um ou dois dispositivos legais. Mas o direito pode ficar realmente complicado. Se sua tese é inovadora, você pode querer fundamentar melhor o seu direito, citando doutrina e jurisprudência.
O importante é responder aquelas duas perguntas. Se você já encontrou uma solução para o problema do seu cliente, você sabe respondê-las.
Se for possível manter as coisas simples, mantenha. Lembre-se sempre que o seu processo não será o único do planeta. O juiz e seus assessores leem muitas petições por dia. Facilite o trabalho deles. Seja simples, curto e claro.
Mas se for preciso entrar em detalhes, entre em detalhes. Às vezes, não é possível ser simples. O direito é complexo. Nesses casos, normalmente a petição tem que ser “menos curta” para ser “mais clara
Em todas peças processuais devemos ter como base o artigo 282 do Código de Processo Civil, que deixa bem claro quais são os requisitos essenciais de uma petição inicial.
Art. 282. A petição inicial indicará:
I - o juiz ou tribunal, a que é dirigida;
II - os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu;
III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido;
IV - o pedido, com as suas especificações;
V - o valor da causa;
VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados;
VII - o requerimento para a citação do réu.
Após observarmos todos os requisitos, vamos a peça, e para sua produção indico este vídeo muito simples e objetivo ensinando passo a passo, como montar sua petição.
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