Como explicar que Cortez liderando algumas centenas de homens tenha conseguido tomar o reino Montezumao

Segundo Raminelli, não foram os cavalos, armas, doenças ou fome que possibilitaram o domínio espanhol na América. Para ele, as estratégicas alianças firmadas entre Cortez e as lideranças nativas, aproveitando-se da estrutura administrativa existente no conflituoso e diverso território mexicano é que calçaram a estrada para a colonização e expansão do poder do conquistador. Antes de quaisquer outros meios, os acordos firmados com a elite presente naquele território, garantindo seus privilégios pré-existentes, em troca de legitimar a conquista. Esta troca de favores entre nobreza local e conquistadores, deu a possibilidade de Cortez fomentar antigas rixas entre poderosos da região, que viram nos espanhóis a chance de livrar-se de antigos desafetos e exploradores. Desde que, mantivessem seus privilégios como leais vassalos do rei da Espanha, ajudando na administração colonial em troca de favores reais. A manutenção do caráter burocrático da sociedade e poder hereditário não foram mexidos, dando a impressão de que nada havia mudado. Esta relação iria mudar com o decorrer da colonização. Também foi através desta comunicação com os nativos, que Cortez ficou mais inteirado das culturas, riquezas, fraquezas que poderia explorar e adaptar dos povos nativos.

A certa paz e amizade, entre os povos circunvizinhos e os espanhóis, deixavam inquieto Montezuma, que percebeu as intenções de uma conquista iminente. Montezuma evitava um encontro com Cortez: oferecia apoio à jornada, mas desconversava sobre um encontro pessoal. Cortez, no entanto, não desistiu de seu intento e foi forjando alianças, com a ajuda de intérpretes locais. A comunicação com os povos locais foi uma grande preocupação de Cortez. O conhecimento destes povos dominados pelos mexicas e contato com inimigos ferrenhos, foi um verdadeiro estratagema militar, mostrando que poderia ser um dominador melhor para eles, seja pela liberação do domínio asteca ou pela intimidação através de suas armas e cavalos numa dominação intelectual pelo uso de signos e representações do imaginário indígena. Vale destacar a importância deste aspecto, pois penso que foi a partir deste imaginário que Cortez conseguiu subjugar estes poderosos locais. Os povos dominados, insatisfeitos que estavam com os astecas, procuraram o primeiro libertador que lhes apareceu. Era “pegar ou pegar”, sem opção de recusa.

Nesses acordos incondicionais, Cortez foi construindo sua armadilha para Montezuma. Seria de se supor uma aliança até mesmo com os mais próximos de Montezuma, confundindo-o ainda mais. É interessante verificar o aspecto pacifista de Montezuma que oferece presentes a Cortez. Seus conselheiros podem ter sido persuadidos pelos espanhóis a aconselhar o acesso de Cortez. Isto se demonstra pela indecisão de Montezuma em vários momentos. Cortez passando a conhecer as crenças dos mexicas que criam ser os espanhóis deuses destinados a retomar o império, valeu-se disto para impressionar os nativos, seja pelas roupas brilhantes, pelos cavalos que pareciam se unir ao homem, seja pelos mosquetes e armas de fogo, encurralando física e psicologicamente os astecas. Sem dúvida a informação foi sua maior arma, condicionando-o a conquistar com astúcia e construir um novo espaço para o Rei da Espanha e para a Igreja expandirem seus negócios.

RAMINELLI, Ronald. “Nobreza indígena da Nova Espanha. Alianças e conquistas”. Tempo, n° 27, Volume 14, Dezembro 2009, p. 83-96. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/tem/v14n27/a06v1427.pdf>. Acesso em: 19/09/2017