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Qual a diferença entre ação anulatória e ação declaratória?

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Sumaya Alves

AÇÃO DECLARATÓRIA E SUA DISTINÇÃO COM A AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL E AÇÃO RESCISÓRIA EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

O presente estudo científico tem por objetivo tecer considerações acerca da ação declaratória, sua distinção com a ação anulatória de débito fiscal e a ação rescisória em matéria tributária no ordenamento jurídico brasileiro. O tema será abordado em linhas gerais, destacando-se o conceito, a previsão legal, a natureza jurídica e a distinção entre a ação declaratória e a ação anulatória de débito fiscal.

Palavras-chave: Direito Processual Tributário. Processo tributário. Ação declaratória. Ação anulatória. Ação rescisória.

  1. INTRODUÇÃO

 

A ideia de escrever esse artigo surgiu a partir do desejo de verificar os pontos que distinguem a ação declaratória de inexistência de relação tributária com a ação anulatória de débito fiscal. Ademais, verificou-se tambem o desejo de discorrer acerca da ação rescisória utilizada em matéria tributária.

 

Buscamos, com o presente artigo, tratar, mesmo que de forma concisa e direta, acerca dos princípais elementos caracterizadores da ação declaratória de inexistência de relação tributária, a ação anulatória de débito fiscal e a ação rescisória, as quais são muito empregadas tanto por pessoas físicas quanto por pessoas jurídicas no Brasil.

 

  1. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO TRIBUTÁRIA

 

A ação declaratória de inexistência de relação tributária é a ação que tramita sob o rito comum, destinada a obter uma declaração judicial acerca da existência ou inexistência de uma determinada relação jurídico-tributária ou, em outras palavras, é a demanda com o afã de se saber conclusivamente da existência ou inexistência de uma obrigação tributária principal ou acessória. Com a decisão judicial, ficará afastada em definitivo eventual dúvida fiscal.

 

O Código de Processo Civil de 1973 dispunha acerca da ação declaratória em seu artigo 4.º, assim redigido:

 

Art. 4º. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I – da existência ou inexistência de relação jurídica; II – da autenticidade ou falsidade de documento. Parágrafo único. É admissível a ação declaratória ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

 

O mesmo tratamento foi dado à matéria pelo vigente CPC de 2015 em seus arts. 19 e 20, que assim se expressam:

 

Art. 19. O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I) da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica; II) da autenticidade ou da falsidade de documento. Parágrafo único. É admissível a ação declaratória ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

 

Art. 20. E admissível a ação meramente declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.

 

Portanto, quando se deseja a declaração de existência ou inexistência de uma determinada relação jurídica entre o contribuinte e o Fisco é cabível ação declaratória. Não importa se ocorreu ou não violação a direito.

 

Exemplificativamente, pode ocorrer de determinado contribuinte ingressar com ação declaratória visando declarar, no caso concreto, a inconstitucionalidade de lei que institua a cobrança de taxa de coleta de resíduos sólidos. Nesse caso, ele alega imunidade tributária em decorrência de ser entidade religiosa. Se confirmada tal inconstitucionalidade, a decisão judicial será declaratória da inexistência da relação jurídico-tributária. Por outro lado, caso considerada constitucional a exação, a declaração será em sentido contrário e comprovará o acerto da cobrança.

 

A ação declaratória de inexistência de relação jurídico-tributária, como o próprio nome da demanda está a indicar, tem natureza jurídica de ação meramente declaratória.

 

É possível, no entanto, qua haja a cumulação de pedidos com outros de natureza constitutiva ou mesmo condenatória.

 

Em tal ocorrendo, tal demanda poderá ser, simultaneamente, declaratória e condenatória (ação declaratória de inconstitucionalidade da cobrança de imposto cumulada com pedido de restituição do que foi pago indevidamente); declaratória e constitutiva ou mesmo declaratória, constitutiva e condenatória.

 

  1. DISTINÇÃO ENTRE AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA COM A AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL

 

Muito se discute acerca da distinção entre a ação declaratória e a ação anulatória no âmbito tributário.

 

A distinção deve ser aferida ao se verificar se o crédito tributário foi ou não integralmente constituído.

 

Uma vez constituído o crédito, que ocorre com a atividadade de lançamento, a ação cabível é a ação anulatória de débito fiscal, nos termos do art. 38 da Lei n. 6.830/80.

 

Caso tenhamos apenas a obrigação tributária ilíquida, ou seja, antes do lançamento tributário, a ação pertinente é a declaratória de existência ou inexistência de relação jurídico-tributária, de acordo com o previsto no art. 4º do CPC, acima transcrito.

 

O Superior Tribunal de Justiça já elucidou essa dúvida em decisão assim divulgada:

 

EMENTA: TRIBUTÁRIO E PROCESSO CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA VISANDO CRÉDITO FISCAL CONSTITUÍDO (CTN, ART. 142. CPC, ART. 4º). 1. A ação declaratória pressupõe um crédito fiscal ainda não constituído. Após a sua constituição formal, a hipótese será de ação anulatória. 2. Recurso provido”. (STJ, 1ª. Turma, REsp. 125.205-SP, Relator Min. Luiz Pereira, votação unânime, j. 06.02.2001 e DJU de 03.09.2001, p. 146).

 

Por sua vez, outro elemento que distingue as duas demandas é o atinente ao prazo para o ajuizamento da demanda.

 

Com efeito, predomina o entendimento segundo o qual a ação meramente declaratória é imprescritível, porque visa tão-somente demonstrar o acertamento sobre a existência ou não de determinada relação jurídica. Ela pode, pois, ser promovida a qualquer tempo. Já a ação anulatória de débito fiscal é prescrtível, eis que de cunho desconstitutivo e condenatório.

 

  1. AÇÃO RESCISÓRIA EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA E DISTINÇÃO COM A AÇÃO ANULATÓRIA DE DÉBITO FISCAL

 

É cabível a ação rescisória em matéria tributária nos casos elencados no art. 966 do Código de Processo Civil de 2015, a saber:

 

Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:

  1. I) se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
  2. II) for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente;

III) resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei;

  1. IV) ofender a coisa julgada;
  2. V) violar manifestamente norma jurídica;
  3. VI) for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória;

VII) obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável;

VIII) for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos.

 

O CPC de 1973 mencionava ser cabível a rescisão de sentença de mérito, o fazia de forma equivocada, eis que, na realidade, não seria apenas sentenças que poderiam ser rescindidas.

 

O atual CPC, corretamente, menciona decisão de mérito. Assim, tanto as sentenças quanto os acórdãos de mérito poderão ser rescindidos se ocorrer alguma das hipóteses acima elencadas.

 

O rol apresentado no art. 966 do CPC é taxativo («numerus clausus»). Não se admite ampliação seja por interpretação extensiva ou mesmo analógica.

 

O procedimento da rescisória está disposto nos arts. 968 a 974 do Código de Processo Civil, o que remetemos o leitor.

 

Por sua vez, a ação rescisória não é recurso, pois não está elencada no rol das espécies recursais.

 

A ação rescisória tem natureza jurídica constitutiva negativa ou desconstitutiva, porque visa desconstituir a decisão judicial de mérito transitada em julgado e eivada de um dos vícios capitulados no art. 966 do NCPC.

 

Estão legitimados a ingressar com ação rescisória: a) quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou singular; b) o terceiro juridicamente interessado; c) o Ministério Público: i) quando não foi ouvido no processo (nos casos de intervenção obrigatória); ou ii) quando a decisão rescindenda decorre de conluio ou simulação entre as partes, a fim de fraudar a lei; ou d) quem não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção.

 

Todo aquele que foi parte no processo tem legitimidade para ingressar com ação rescisória, independentemente de ter permanecido ou excluído da relação processual.

 

Terceiro que ingressar com rescisória deverá comprovar o seu interesse na demanda alheia.

 

A ação rescisória deve ser proposta em face de todos os que integraram a relação processual original. Exemplificando, suponhamos que a ação original foi promovida por Tício em face de Mévio e que ambos usaram um conluio para fraudar a lei. O Ministério Público ingressa com a rescisória e no polo passivo deverão figurar obrigatoriamente Tício e Mévio.

 

No que conerne à competência, a ação rescisória deve sempre ser processada e julgada originariamente perante tribunal. Em nenhuma hipótese haverá apreciação de tal demanda por juízo de primeiro grau.

 

Com efeito, o julgamento de ação rescisória incumbe: i) ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, na forma dos seus regimentos internos; e b) nos Estados, conforme dispuser a norma de Organização Judiciária.

 

Agregue-se, por oportuno, que compete aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar, originariamente, nos termos da alínea “b” do inc. I do art. 108 da Constituição Federal, as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região.

 

O prazo para propositura da ação rescisória é decadencial e de dois anos a contar do trânsito em julgado da decisão rescindenda (NCPC, art. 975, caput).

 

Acerca da contagem do prazo para o ajuizamento de ação rescisória, foi editada a Súmula n.º 401, pelo Superior Tribunal de Justiça, assim redigida: “o prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial”.

 

Não é necessário, contudo, o esgotamento de instância ou da já utilização de todos os recursos cabíveis. Nesse sentido, o seguinte julgado:

 

EMENTA. AÇÃO RESCISÓRIA. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. CRITÉRIO DE APURAÇÃO DO VALOR PATRIMONIAL DE AÇÃO. DESNECESSÁRIO ESGOTAMENTO DE INSTÂNCIA. PEDIDO DE NOVO JULGAMENTO. PRESCINDIBILIDADE. COISA JULGADA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO.  

  1. Na esteira da Súmula 514/STF112, o Superior Tribunal de Justiça firmou seu entendimento no sentido de que, para a propositura de rescisória, não é necessário o esgotamento de todos os recursos cabíveis.
  2. Na hipótese de ação rescisória proposta com fulcro no art. 485, IV, do CPC, não é imprescindível o pedido de novo julgamento.
  3. A decisão rescindenda, ao julgar o recurso especial interposto, estabeleceu o critério de apuração do valor patrimonial da ação, que ainda não havia sido definido pelas instâncias ordinárias. E o fez, portanto, sem qualquer violação à coisa julgada.
  4. Ação rescisória julgada improcedente (STJ – AR: 4848 RS 2011/0270009-0, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 25/09/2013, S2 – SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 10/12/2013). 

 

No que concerne à possibilidade ou não do manejo de ação rescisória de ação rescisória, reinava uma certa divergência legal.

 

O Decreto-lei n.º 1.608, de 18 de setembro de 1939 (Código de Processo Civil de 1939) previa expressamente sobre a possibilidade de se ajuizar ação rescisória de decisão emanada de anterior ação rescisória. Com efeito, assim vaticinava o art. 799 do aludido diploma legal: “Admitir-se-á, ainda, ação rescisória de sentença proferida em outra ação rescisória, quando se verificar qualquer das hipóteses previstas…”.

 

Com o advento da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil de 1973), a questão ficou em aberto, pois a matéria não foi disciplinada. O mesmo se deu com a edição do Novo CPC, ou seja, com a Lei n.º 13.105, de 16 de março de 2015.

 

Não obstante, a doutrina continuou a admitir a rescisória da rescisória.

 

Destarte, em tese, é possível o ingresso de ação rescisória contra decisão proferida em ação rescisória. Ao ser rescindida, pois, uma decisão judicial transitada em julgado por uma decisão tomada no bojo de uma ação rescisória e, comprovando-se que essa segunda decisão adveio de alguma das hipóteses do art. 966 do NCPC, permite-se a propositura de uma nova ação rescisória.

 

Por fim, a distinção básica entre ação rescisória e a ação anulatória é que caberá esta e não aquela quando se pretender rescindir os atos processuais praticados pelas partes e as sentenças judiciais homologatórias.

 

Nessa linha de pensar, reza o art. 966, § 4.º do NCPC: “Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei».

 

  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A análise, o estudo e o debate acerca do correto manejo das ações declaratória e ação rescisória em matéria tributária tem gerado vários questionamentos no âmbito forense e para os estudiosos do direito,

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Andre Smaira

A ação anulatória objetiva a desconstituição do débito fiscal. Porém, não impede a Fazenda Pública de distribuir judicialmente as ações de execução fiscal e credito tributário, desde que a titularidade seja do sujeito. É considerada uma forma de anular decisões administrativas que impeça a restituição, através de um prazo prescricional de dois anos.

A ação declaratória, como o próprio nome diz, tem como objetivo efeitos declaratórios, ou seja, verificar certeza jurídica sobre a existência ou não da obrigação tributária. Outro objetivo é a autenticidade ou falsidade de um documento.

Existem três espécies de ação declaratória:


  • Declaração de imunidade do sujeito ou isenção fiscal;
  • Declarar importe a ser pago o título de tributação;
  • Declaração a inexistência da relação fiscal.

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